Ocorre que, num domingão daqueles de almanaque, me pirulitei para o Circo Voador para assistir a uma seletiva de bandas para o festival Porão do Rock, que acontece todo ano em Brasília, dessa vez em setembro. Fazia muito tempo que não ia a um
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evento como público, ou seja, sem ter a obrigação de apurar informações, ficar o tempo todo anotando tudo o que acontece e tendo que ter uma opinião formada sobre tudo – como frisa o cancioneiro popular. No que gostei um bocado de poder olhar sem muita atenção, conversar com os outros, não ter que ver tudo, e assim por diante. Havia lá um corpo de jurados para selecionar uma banda, mas eu não estava nessa. Então: rock! Como nos bons tempos.
Acontece que, entre as bandas concorrentes, estavam as veteranas Gangrena Gasosa e Jason, no que eu me questionei: o que esses caras estão fazendo numa seletiva? Eles têm que ser é convidados para tocar em festivais - no mínimo - pelo conjunto da obra. Soube pelo incansável (porém cansado) Leonardo Panço, que o Jason, que está voltando a tocar com a formação clássica agora, foi chamado de última hora, e todo mundo topou, mesmo porque show no Circo não se rejeita. Soube pela dupla Gustavo Sá e Marcos Pinheiro, produtores do Porão do Rock, que eles e outras pessoas ouviram muitas bandas até chegarem aos concorrentes que iriam tocar no domingão, dia 23 de maio, que, além do Jason e da Gangrena, incluíam Filhos da Judith, Glass & Glue, Lê Almeida, Mauk & Os Cadillacs Malditos e Rockz, e ainda os não concorrentes Rodrigo Santos, Trampa, Autoramas e Raimundos. Mas – ele admitiu – foi tudo muito rápido. Disse que não ia apurar nada, mas fiquei sabendo de um monte de coisa. Na adianta, é a vocação nata. Tá no sangue.
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E olha que os integrantes o Jason estão longe de estar na ponta dos cascos; os caras não tocam juntos há um tempão. Mesmo assim, foi só a banda subir no palco pra tudo mudar. O público – claro - sacou isso logo de cara e se acabou. Não é preciso ser muito esperto para perceber que o Autoramas com violões é uma lástima; que os covers dos anos 80 de Rodrigo Santos é pra Festa Ploc; e que o Trampa não é assim tão conhecido no Rio para ser incluído num evento desse tipo. O resultado foi uma festa das boas, que iria atingir o momento máximo com a chegada do Gangrena Gasosa. É inadmissível que a produção do Porão do Rock não tenha convidado o grupo para uma apresentação especial, seja pelo som, pela indumentária caprichada ou, como já disse, pelo conjunto da obra. Com o Gangrena o bicho pegou de verdade, e o Circo teve o maior e mais participativo público de toda a noite, incluindo o Raimundos, tido como principal atração.
O resultado não poderia ser outro: os jurados, que não são cegos, escolheram o Gangrena como a banda da noite. O público – claro – também ficou com criadores do saravá metal, numa unanimidade ampla poucas vezes atingida. O público, mais esperto, colocou o Jason no segundo lugar, mas valeu o peso dos jurados que escolheram o bom Filhos da Judith para ir junto com o Gangrena para Brasília em setembro. Eu sei, era pra ser uma banda só, mas mudaram a regra do jogo no meio do jogo e colocaram duas. Bom, né? Mas deixar o Jason de fora foi uma injustiça daquelas. Isso sem falar que, no fim das contas, a produção acabou dando as costas para o público. Coisa feia. Se fosse eu, a essa altura, dava um jeito e convidava o Jason também. Mas como fui condenado justamente por gostar de rock, então tenho mais é que cumprir pena. Uma pena mesmo.
Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!
Marcos Bragatto
REG
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