sexta-feira, 31 de agosto de 2012

plastique noir em nova formação

Este parece ser o ano da queda dos guitarristas! Depois da dupla da Vendo 147 e de Morotó da Retrofoguetes, é a vez de Marcio Mazela, agora ex-guitarrista da plastique noir, uma de minhas bandas favoritas do rock independente nacional contemporâneo. Eles acabaram de anunciar o substituto. Abaixo, os comunicados oficiais extraídos do Facebook da banda. Clicando AQUI, você lê (ou relê, ou não lê, fica a seu critério) a entrevista que fiz com eles ano passado.

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Dêem as boas-vindas ao DEIVYSON. A partir de hoje ele é oficialmente o baixista do Plastique Noir e já estréia ao vivo no dia 15 de setembro, no Brom's Partyhouse em Fortaleza. Danyel assume então as guitarras (seu instrumento de origem há mais de 15 anos), o violão e eventualmente os synths de estúdio.

O Deivy já tem estrada: integrou as bandas Psico Indie, Silenzio e Red Run, tendo tocado pelo Brasil com esta última no ano de 2009. Mas seu principal trabalho anterior foi com o Marie Poppins, clássica formação pós-punk que fez sucesso na cena de Fortaleza na década passada, tendo lançado com a mesma o álbum "Autopilot Supersale" em 2006.

Uma curiosidade: Danyel e Deivyson são irmãos!

A família Plastique Noir recebe com muita satisfação seu mais novo membro. Os trabalhos em estúdio já começaram há várias semanas e, no decorrer do resto deste ano, as viagens e sessões de composição prosseguirão com força total.

Bem-vindo, Deivy!

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Hoje, 29 de julho, é uma data meio chata pra todo mundo: Márcio Mäzela deixa o Plastique Noir.

Ontem em Fortaleza, no Brom's Partyhouse, durante a XXIII edição do Dança das Sombras (festa que lançou a banda em 2006), rolou o último show dele como nosso guitarrista.

Na verdade já estava previamente acordado entre os quatro integrantes (Airton - voz/progs, Márcio - guitarra, Danyel - baixo e Rafael Babuê - produtor da banda) que ele faria essa última apresentação, mas sem que a anunciássemos como tal. A gente queria evitar manifestações desnecessárias, talvez dramáticas, ou de repúdio da parte de quem quer que seja, enfim, qualquer coisa extraordinária que provocasse constrangimento, tanto por parte da gente que estava no palco quanto por parte da galera que estava lá curtindo. Preferimos tentar sermos profissa e rolar o show normal, afinal vocês esperam por isso: vocês, que tiveram uma semana dura de trabalho, estudos, compromissos e, quando finalmente chega o fim de semana, telefonam pros amigos, trocam mensagens, poem uma roupa, pagam pelo ingresso do show, pedem sua bebida no bar, fazem a social, dançam, se divertem etc.

O ideal é que tudo pudesse ter se resolvido (no palco e fora dele) de maneira madura e, repetimos, preservando a diversão dos fãs, que afinal são a peça-chave da parada toda e a quem devemos e agradecemos por tudo o que temos conquistado, mas infelizmente ontem não correu tudo como esperávamos. Havia algo estranho no jeito com que o cara tocava (tocava?) guitarra e sobretudo na forma como ele olhava pra nós, até então seus bandmates. Bem, como esperar profissionalismo e respeito da parte de quem não teve quase nenhum durante 6 anos. Mas vocês não têm culpa disso e só podemos pedir sinceras desculpas. Pela milionésima vez.

Essas coisas nunca são simples. Nunca é do tipo "vamos fingir que tá tudo bem", porque não está. Talvez fique um dia. Alguns se esforçarão mais que outros. Normal, cada um reage da sua forma. Mas só o tempo dirá se vai ficar tudo bem de novo. E já que estamos falando em tempo, é sempre bom dar os créditos e salientar que o cara ajudou a fundar a banda ao lado do Airton e nela ficou nestes últimos 6, quase 7 anos. Compôs muita coisa, executou e gravou, embora nem tudo que você ouve nos discos, é verdade, e frequentemente por inaptidão ou mesmo boa vontade dele. Mas garantimos que seus direitos estão resguardados. Os membros da banda tem seus percentuais autorais cadastrados nas entidades competentes.

Com certeza vocês querem motivos. Obviamente tem coisas da intimidade dos envolvidos que não vão poder ser ditas aqui. Basta saber (ou talvez não baste, mas é o que dá pra dizer) que a banda já não tinha um clima legal de amizade há mais de um ano, talvez dois. Dezenas ou centenas de erros foram cometidos na questão disciplinar, técnica e às vezes até na questão de respeito pessoal mútuo e com os fãs, e daí começou a rolar uma situação de guerra fria entre dois blocos. Antes que descambasse pra algo mais sério, resolvemos assumir os papéis de 4 adultos com mais de 30 anos de idade cada, e sentamos pra conversar. Airton e Danyel propuseram sua saída, Márcio teve que aceitar e ao Babuê coube dar sua opinião, já que sempre fazemos questão de ouví-lo, mas no fim só ratificou o consenso. Até aí rolou hombridade. Depois disso (leia-se: nos dois últimos shows), não.

Não sabemos se o Márcio vai prosseguir na música, perguntem a ele. Da nossa parte, nós remanescentes, podemos dizer que ele talvez devesse, porque, apesar dos pesares, é um cara criativo.

O Plastique Noir não vai selecionar substituto. Temos umas idéias pra rearranjar a formação, mas não sabemos direito ainda o que vai acontecer. Talvez colocar o Danyel na guitarra (ele que é guitarrista há mais de década e meia e só aprendeu baixo pra entrar no Plastique) e daí selecionarmos um baixista; ou manter o Danyel no baixo e correr atrás de outro guitarrista; ou o Airton assume um dos dois instrumentos de cordas; ou virarmos um duo de synthpop (rs). Enfim. As possibilidades são muitas. Nos próximos shows é possível que sejamos acompanhados de um ou outro amigo, mas certeza mesmo pra efetivar alguém no lugar, é algo a se decidir lá pra setembro, talvez outubro. Ao menos não queremos que passe muito disso.

Vamos dar uma pausa nas atividades (exceto ensaios). Mas uma coisa a gente garante: o Plastique Noir não vai parar e muito menos acabar. Somos fidelíssimos a vocês que curtem nosso trabalho, podem botar a maior fé nisso! Muitas datas permanecem fechadas, algumas fora de Fortal e vamos cumprí-las, todas! Temos ainda alguns projetos grandes pro ano que vem e até mesmo material inédito que já começou a ser criado. O Márcio ajudou a compor uma pequena parte desse material. Como sempre, ele será creditado e remunerado.

É isso. Sabemos que vocês o amavam. Inclusive a forma como vocês recebem esta notícia é uma grande preocupação nossa. Esperamos que não tenhamos decepcionado ninguém. Só queremos que acreditem: não tinha outro jeito, foi necessário. A gente não queria continuar trabalhando infelizes.

Os membros do Plastique Noir estão disponíveis em seus perfis pessoais pra conversar.

Até mais.

- Plastique Noir

# 238 - 25/08/2012

Era uma vez uma província outrora chamada Sergipe Del Rey que era governada em revezamento por duas oligarquias: a do cimento, comandada por João Alves Filho, e a da cana-de-açúcar, incorporada na figura da família Franco - ambas amparadas na ditadura militar. Augusto Franco foi governador e João Alves prefeito biônico da capital e, posteriormente, também governador, e por 3 mandatos! Foi no colo de João e apoiado por Jackson Barreto, prefeito dito "progressita" de Aracaju, que Antonio Carlos Valadares se elegeu governador, pelo PFL, em 1986. Marcelo Déda, um dos fundadores do PT no estado, apanhou da polícia na época, defendendo os mesmos professores da rede pública estadual com os quais hoje, governador, está "em guerra". Então Valadares entrou pro PSB e virou "socialista" e aliado do PT, mas teve uma "recaída" em 2000, quando Déda ganhou a prefeitura de Aracaju contra o mesmo Valadares, apoiado pelo mesmo João. Jackson Barreto, que já havia sido aliado de João contra os Franco, concorreu ao senado apoiado por Albano, filho de Augusto, em 1998. Jackson perdeu, Albano ganhou e se reelegeu governador - agora pelo PSDB. Já Almeida Lima, que se tornou prefeito da capital por ser vice de Jackson e este ter renunciado ao cargo em 1994 para concorrer ao governo (foi derrotado por seu futuro aliado Albano), jamais teria sido eleito senador se não tivesse sido apoiado pelo mesmo João que ele hoje denuncia com tanta veemencia. João, por sua vez, já foi amigo e inimigo de Albano que, como dito acima, já havia trocado farpas e abraços (não ao mesmo tempo, claro) com Jackson Barreto, que foi afastado da prefeitura nos anos 80 com o voto do então deputado Marcelo Déda, do mesmo PT contra o qual concorreu na eleição em que Gama, seu apadrinhado, venceu, e Ismael (lembram dele?) perdeu. Agora Valadares, na pessoa de seu filho, está de novo com Déda, que até dia desses era aliadíssimo dos irmãos Amorim - que agora, segundo ele, são "traíras" e estão do lado de João, favorito das pesquisas na eleição deste ano para a prefeitura de Aracaju. Nuvens negras pairam sobre o futuro político/administrativo de nossa cidade ...

Por conta das eleições municipais, os intervalos do programa de rock estão sendo invadidos por estes simpáticos senhores, sob o patrocínio (informal) do òleo de peroba. A radio é obrigada a veicular, já que o sinal é aberto. Semana passada o sistema no qual a programação é montada me pregou um susto: anunciei o intervalo comercial e entrou a primeira música do bloco seguinte. O intervalo havia sumido! E agora? Vão pensar que eu estou deletando a propaganda política! Só que aí a pane foi geral, sumiu tudo e a radio ficou fora do ar. Quando retornou, o estrago já estava feito - certamente boa parte dos já poucos (imagino) ouvintes já havia desligado o radio ou mudado de estação. Improvisei o restante do programa para garantir o rock no ar até as 21:00H - meu compromisso sagrado. Por sorte, a propaganda política voltou e foi devidamente veiculada, como manda a lei.

Amanhã , espero, tudo tanscorrerá normalmente.

Conto com a sua adiência.

Obrigado.

A.

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The Baggios - Em outras
The Baggios & Camarones Orquestra guitarrística - Baggiones

Safari Hamburgers - Completely Blind
Black Flag - Nervous Breakdown
Suicidal Tendencies - Suicyco Mania
The Distillers - City of Angels
Bambix - Cry-O-Surgery
The (International) Noise Conspiracy - I wanna know about u

Suede - Moving

Echo & The Bunnymen - Lips like sugar (single version)
The smiths - please, please, please, let me get what I want
A Certain Ratio - Flight
The Durutti Column - Sketch for summer
Felt - A preacher in New England

:::::::: PANE ::::::::

Devotos - Nosso ninho
Devotos - o rock vai voltar

The Exploited - Fuck the System
Extreme Noise Terror - Bullshit propaganda
The Clash - Clash city rockers
Nine Inch Nails - March of the pigs
The Who - The kids are allright
The Rolling Stones - She´s a raimbow
VU - Heroin

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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Eh Coda ...

               Para além do aparentemente eterno rosário de lamentações de artistas que não aceitam críticas honestas, caso estas lhes sejam desfavoráveis, e do ego inflado de críticos que dedicam sua verve a tentar derrubar auto-intitulados ícones de seus pedestais de barro muitas vezes de forma gratuita, apenas para testar seu poder como “formador de opinião” – ou que simplesmente sucumbem à “brodagem” e apresentam-se como aquele novo partido que se diz sem ideologia, incolor, inodoro e sem gosto – quero aqui deixar registradas minhas impressões sobre o disco e o show da última sexta feira de Vicente Coda e a Paraphernalia - com um desde já manifesto desejo de ser honesto sem ser injusto. Endurecer, pero sin perder La ternura ...

               Conheci Vicente Coda em algum momento da década de noventa do século passado num show na extinta Organtecc, loja de skate situada na Avenida Barão de Maruim que eventualmente abria sua pista para apresentações de artistas alternativos locais. Já no primeiro encontro me pareceu uma figura, no mínimo, excêntrica -vestia uma touca e um colar com um CD pendurado no pescoço, um figurino “exótico” mesmo para aqueles tempos de “funk metal”. A primeira impressão se confirmava a cada novo encontro, nos quais ele estava sempre com um novo projeto em mente e meio que “atirando para todos os lados”, ora no campo da musica, ora das artes plásticas, ora na literatura – esta última, que eu saiba, ficou apenas na intenção.

               Coda é, com orgulho (ele sempre frisa), pioneiro do cenário “roqueiro” local, que nasceu (ou renasceu, não sei, não conheço nada do rock sergipano pré-anos 80) na onda “new wave” que sacudiu o Brasil com a redemocratização, na metade da década de oitenta. Foi um dos fundadores da Karne Krua, pioneira banda punk sergipana que é, atualmente, a mais antiga em atuação ininterrupta (nunca parou) no nordeste. Sempre inquieto, logo cedo abandonou os limites do rock baseado nos três acordes básicos em prol de algo mais suingado e experimental, fundando bandas como Fome Africana, Blow up, Sopro da Arte, orelha de Van Gogh (nome emprestado de um antigo grupo baiano)e, agora, a “paraphernalia”.

               Com o tempo e a convivência – nem sempre tranqüila, vez por outra nos estranhamos - aprendi a, no mínimo, respeitar a perseverança e a força de vontade de Vicente Coda. Acho que nunca conheci, em toda a minha vida, alguém que acreditasse tanto em seu próprio trabalho. Gostando ou não do que ele faz, é preciso reconhecer que ele é “gente que faz”. E isso já é muito, neste cenário cultural desértico em que vivemos. Não foi diferente com seu novo projeto, cuja gênese acompanhei e posso testemunhar que já nasceu sob o signo do experimentalismo hermético, com um espírito de “foda-se”. “É para poucos mesmo”, ele não cansava de repetir.

               Não sei se é para mim. Em termos de cultura “Beatnik”, sou quase um neófito. Ouço falar desde que me conheço como gente, mas só fui conhecer com alguma profundidade recentemente, quando finalmente li “on the Road”, a Bíblia beat escrita por Jack Kerouac. Gostei muito, mas talvez fique só nisto mesmo. Eu reconheço: sou limitado e tenho dificuldade em ler poesia, o que certamente me manterá afastado de boa parte da produção desta turma – e taalvez, por tabela, da inteira compreensão da obra de Vicente Coda.

               Devo dizer, no entanto, que me surpreendi com o resultado final de seu ousado (ou pretensioso, dependendo do ponto de vista) CD duplo, “A Viagem de Christine ao Universo da Beat Gemeration”. Para além do título pomposo e da mistura aparentemente sem pé nem cabeça da História de Alice no país das maravilhas com a daqueles intelectuais drogados e largados, “siderados” e sexualmente liberados, certamente muito à frente do seu tempo, há uma boa produção, com bons arranjos emoldurando faixas que geralmente são, não sei se propositalmente ou fruto da personalidade ansiosa e inquieta de seu autor, apenas esboços de músicas e/ou poemas musicados.

               Se eu dissesse que já ouvi o disco inteiro, na sequencia e de cabo a rabo, de uma vez só, como Vicente me recomendou, estaria mentindo. Mas no que ouvi, encontrei bons momentos, principalmente na percussão eletrônica pesada mesclada a fraseados de violão e bons riffs de guitarra de algumas faixas – não me perguntem qual, por favor, é complicado! Não me confundam!  Já a voz continua sendo um problema, como também o são algumas letras demasiadamente carregadas de clichês ...       

               Ou não! Vicente Coda acha que pode cantar, e porque não poderia? Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei. Ele quis, correu atrás e fez! Fez inclusive um, com o perdão do linguajar chulo, “puta show”, sexta-feira passada, no Teatro Atheneu. “Whit a little help” from many friends, é preciso frisar, mas fez! Acreditou e fez. Eu, que tenho o costume de valorizar aqueles que vivem aquilo em que acreditam, fiz questão de prestigiar. Fui lá, comprei meu ingresso, sentei na minha confortável cadeira (uma delícia o teatro depois de reformado, poltronas fofinhas e ar condicionado geladinho) e me diverti entre amigos, dentro e fora do palco.

               Achei a primeira parte do show, em alguns momentos, bem chata, mas aos poucos, à medida que o espetáculo evoluía rumo a passagens menos “herméticas” e mais musicais/teatrais, fui me deixando envolver pelo clima de celebração valorizado pela boa produção e, mais uma vez, pelo evidente talento de todos os que contribuíram para a empreitada. Viajei nos solos de guitarra de Cleo, nas batidas disparadas pelo DJ Leo Levi, na percussão de Ton-Toy, nas levadas de baixo de João Valiatti, nas cordas de Constantino (em dueto com Silvio Campos), nos sopros envenenados de José Gentil, nos backing vocais oníricos da musa Alice Nou, nas intervenções de atores espalhados pela platéia e no belo dueto entre dois dos fundadores do rock sergipano, Luiz Eduardo, da Crove (Horrorshow) e Silvio “suburbano”, “Imperador do Hard Core” e membro fundador da Karne Krua, da Maquina Blues, Words Guerrilla, Sartana, Logorreia, Casca Grossa, Cruz da Donzela e ET Cetera ...

               Viajei porque é uma viagem. Embarquei porque quis embarcar. Quem não quiser, não precisa. Ninguém é forçado a nada – ou, pelo menos, não deveria.

               Achei o disco interessante.

               Gostei do show.

               É isso.

               A.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

# 237 - 18/08/2012

Luciana Andrade Santos é uma de minhas ouvintes mais queridas e fiéis. Ela está sempre se manifestando sobre o programa de rock, e é isso que me dá animo para continuar produzindo. Faz tempo que ela enrola dizendo que ia mandar um Bloco do ouvinte mas nunca fazia. Fez, e foi bem legal - até porque colocou coisas que eu nunca toquei, como o Dance of Days e o Maldita minoria, bandas capitaneadas por Nenê Altro, figura histórica do punk rock nacional, amado e odiado na mesma medida - e isso é bom! "Toda unanimidade é burra", já dizia o centenário Nelson Rodrigues. Ou "Também é possível se medir o caráter de uma pessoa pela quantidade de inimigos que ela faz ao longo da vida" - essa é de Marcelo Nova. Enfim, confesso que nunca dei muita bola para os projetos do Nenê, mas gostei das músicas que Luciana mandou. É pra isso que serve o quadro "Bloco do ouvinte": para que o programa fique mais colaborativo, menos amarrado ao meu gosto pessoal como produtor. //// Patti Smith está viva e ativa, protestando contra a prisão das Pussy Riot e lançando disco novo. /// Semana passada fez 35 anos da morte de Elvis, The pelvis - mas ele na verdade continua vivo (ou melhor, morto-vivo) por aí, encarnado no holandês que se apresenta como "Dead Elvis and his one man grave" (foto abaixo). //// Screamin´ Jay Hawkins (foto abaixo) foi um dos pioneiros das perfomances teatrais macabras em shows de rock - o chamado "shock rock". Sua gravação de maior sucesso, "I Put a Spell on You", é de 1956. Nesta edição do programa ele comparece ao vivo entoando uma canção natalina ao lado dos Fuzztones, "revival garage rock band" fundada em Nova York em 1980. /// "Girls and boys" é um dos maiores sucessos dos anos 90, um marco da explosão do chamado "Brit pop", que depois atingiria níveis nunca antes imaginados com o Oasis. Aqui ela aparece abrindo o que talvez seja o último show do Blur, no Hyde Park de Londres, no dia do encerramento das olimpíadas. Da pra ouvir o imenso coro da multidão acompanhando o refrão. Arrepiante. //// A versão de "pale blue eyes" que tocamos foi tirada do célebre "bootleg" "Live at Maxs Kansas City", de 1972, que registra, numa gravação caseira, o último show do Velvet Underground - depois, BEM depois, eles voltariam para mais uma turnê registrada em vídeo e disco, mas esta é outra história. //// Simulei um silencio sepulcral no estúdio com minha chocante revelação de que eu sou fã do Abba ao apresentar a cover do Vaccines para "the winner takes it all". Na verdade o estudio está sempre em silencio. Desde que Fabinho deixou o programa e eu aprendi a operar a mesa de som, apresentar o programa de rock tem sido uma atividade solitária. /// The Power of the Bira era uma banda punk experimental de Santa Catarina, ativa nos anos 90. A musica-tema que tocamos foi extraída de sua célebre demo "Moisés toca teclado". //// Pinheads é uma das pioneiras do hard Core melódico no Brasil. Eram de Curitiba, Paraná. //// "suicídio" foi a primeira demo de estúdio da karne Krua. As gravações foram feitas originalmente, em Recife, para uma coletânea chamada "Cooperativa do caos" que sairia em vinil e teria também Delinquentes, Devotos do òdio e Discarga Violenta, dentre outros. Como dá para notar pelo título, seria uma cooperativa, mas como algumas bandas não cooperaram, o preojeto desandou. A banda sergipana aproveitou suas gravações na demo e a Discarga Violenta (então baseada em Natal, RN), no clássico EP "Cosmopolita", uma obra-prima punk minimalista. /// O programa de rock vai ao ar todo sábado a partir das 19:00H pela 104,9 FM de Aracaju.Não é uma web radio, é uma radio mesmo. De verdade. Faz parte da Fundação Aperipê, gerida e mantida pelo governo do Estado de Sergipe. www.aperipe.com.br

Adelvan.

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Patti Smith - Amerigo

* Bloco do ouvinte, por Luciana Andrade Santos
Agridoce - Beethoven Blues
Queens of the stone age - No one knows
The Strokes - You only live once
Dance of Days - Mova
Dance of Days - E livrasse a todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão pelo resto da vida
Maldita Minoria:
# 777 picas no seu cu
# Consuma até morrer
# Maldita Minoria
# Some da minha vida

Dead Elvis - Fifty gallon drunk

MC5 - (Ao Vivo) Borderline
Screamin´ Jay Hawkins and The Fuzztones - (Ao Vivo) It´s that time again
Blur - (Ao Vivo) Girls and boys  
Morrissey - (Ao Vivo) How soon is now
The Velvet Underground - (Ao Vivo) Pale blue eyes

Supercordas - Mumbai

The Vaccines - The Winner takes it all
Soundgarden - Come together
Stiv Bators - Poison Heart
The Sonics - Roll over Beethoven
The Jam - Stand by me

Vicente Coda & a paraphernalia - Pé na estrada (on the road)

Os Cascavelletes - Me sinto bem (I feel good)
The Power of the Bira
Jason - A viagem
Pinheads - Friendly song
Karne Krua - Suicídio
Chico Science & Loustal - Manguetown (Demo 1992)

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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Ozzy.

Ozzy Osbourne – publicado no Brasil na edição nº 71 (agosto)  da revista Piauí e reproduzido pelo portal Edtadão.com

Cresci em Aston, um bairro de Birmingham, bem na linha da pobreza. Sempre me achei um bosta e o mundo me intimidava. Daí comecei a bancar o maluco e fazer as pessoas rirem para elas não esculhambarem comigo.

Meu problema é que quando eu comecei a entender um pouco da vida eu já estava descendo ladeira abaixo.

Antigamente se dizia: “Se for a São Francisco, não se esqueça da flor no cabelo.” Mas onde é que ficava essa maldita São Francisco? E lá em Aston, flor, só se fosse decorando o caixão, a caminho do cemitério.

Quando ouvi She Loves You, dos Beatles, meu coração disparou.Foi uma experiência divina. Eu sonhava que o Paul McCartney ia se casar com a minha irmã.

Desculpa, galera, é John, Paul, Geor-ge e Ringo. E não Paul, John, George e Ringo.

Como meu pai encarou meu sucesso no Black Sabbath? Como se ele tivesse ganhado na loteria. Aquilo abalou a estrutura da família, todo mundo passou a querer uma ajudinha.

Se você decide fazer o cover de uma música que tem uma bela melodia, não destrua a melodia, pelo amor de Deus.

Fui casado com outra mulher antes da Sharon, eu era um viciado alucinado, alcoólatra, eu não valia nada. Meu pai agredia minha mãe e eu batia na minha primeira mulher porque eu achava que era isso que todo homem devia fazer.

Não consigo fazer nada com moderação. Quando eu fumava, fumava trinta Cohibas por dia.


Sou disléxico, tenho transtorno de déficit de atenção e sofro de uma espécie de tremor hereditário. Em Beverly Hills, se tem alguma coisa errada com você e você não sabe o que é, e você se chama Ozzy Osbourne, está na cara que você vai gastar uma fortuna para resolver o problema. Da última vez, só em um ano eu morri em uns 700 mil dólares.

Sempre me perguntam: “Você se arrepende de alguma coisa?” É claro, eu tenho arrependimentos terríveis. Mas, se eu não tivesse levado minha vida como eu levei, eu estaria de sacanagem com o cara lá de cima.

O pai da Sharon era gerente de um gângster e por isso ela é uma excelente mulher de negócios. Me lembro de ter dito para ela uma vez: “É incrível como você passou quase a vida inteira no ramo da música, mas quando tenta cantar parece um animal sendo esgoelado.” E ela respondeu: “E é incrível como você passou quase a vida inteira no ramo da música e ainda não entende a porra de um contrato.”

Não há ninguém nesse mundo que faça um som irado como o meu.

Tentei fazer com meu filho o que o meu pai não conseguiu fazer comigo e ensinei a ele umas coisinhas básicas. Mesmo assim, ele acabou nas drogas. Fui a uma reunião de grupo com ele. Eram todos garotos, e eu disse a eles: “Caramba, vocês são um milagre. Nessa idade, reconhecer o problema e tomar uma atitude é simplesmente incrível.” Quando eu tinha a idade deles, nem parava para pensar.

Para ser mentiroso, você precisa ter uma excelente memória, e eu não tenho memória.

Se uma família está disposta a ter uma equipe de filmagem morando dentro de casa 24 horas por dia, sete dias por semana, registrando tudo o que vê, qualquer família pode render uma boa história. Só depende de os editores apertarem os botões certos.

Somos formigas num enorme formigueiro. E estando na tevê, todas as outras formigas assistem você.

Depois do primeiro ano de Os Osbournes, eu saí para a turnê Ozzfest, e me perguntavam na rua: “O que você faz por aqui?” Eu dizia: “Estou fazendo um show.” “Como assim, um show?”, “Ué, um show de rock.” E elas diziam: “Ah, então você faz shows?”

Uns anos atrás, pedi a Penelope Spheeris que filmasse a plateia durante um show. Eu não tinha ideia do que acontecia durante os meus shows até ver esse filme. É indescritível.

Sexo com as fãs? É como entrar numa confeitaria. Primeiro você pensa: “Não vou tocar em nada para não estragar o almoço.” Mas ninguém resiste a um bom chocolatinho.

Usei heroína uma ou duas vezes, mas sempre tive medo de comprar na rua. Era mais fácil achar um médico doidão para me aplicar uma dose de morfina.

Você não se torna um babaca por acidente. É preciso um certo esforço.

Eu sei o que vai estar escrito na minha lápide, não tem jeito: “Aqui jaz Ozzy Osbourne, o cantor do Black Sabbath que arrancou a cabeça de um morcego com uma só dentada.”

É meu destino ser quem eu sou e o que me tornei. Só tenho sido eu mesmo. E tenho uma ótima empresária.


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

# 236 - 11/08/2012


Napalm Death é incansável: os pioneiros do grindcore de Birmingham acabam de lançar um split/7 EP com os norteamericanos do Converge. A arte da capa, retratada ao lado, é assinada pelo vocalista do Converge, Jacob Bannon. Deles, tocamos um cover dos suecos do Entombed, “Wolverine Blues”. //// Também pioneiros, só que do Harcore melódico, é o NOFX. “Ronnie & Maggs” é o segundo single de seu novo álbum, “self entitled”, que tem data de lançamento marcada para 11 de setembro – uma data pra lá de cabalística ... /// Já Rob Zombie comparece com uma faixa de seu novo CD de remixes, “Mondo sex head”. /// De Tom Zé temos a faixa-título do novo CD, “Tropicália lixo lógico”. Caetano disse que é o melhor disco dele, ou coisa do tipo. Foda-se o Caetano. É o Tom Zé de sempre, e é bom. /// Vicente Coda é obcecado pelos Beatniks. Lançou recentemente um CD Duplo conceitual sobre o tema. Ou não. Vai tocar dia 24 próximo no Teatro Atheneu, num espetáculo ousado dividido em dois atos com diversas participações especiais. Compareçam. /// “Amônia” é um clássico do rock gaúcho composta por Plato Divorák, que já esteve em Aracaju – não pra tocar, infelizmente. Hospedou-se na casa dos snoozers Fabinho e Rafael jr. Deve ter rendido boas histórias ... /// Júpiter Maçã também é maluco, assim como Plato Divorak. /// Rebenque é “um grupo que ama o nosso Rio Grande”, segundo consta na descrição do Blog deles. Nada contra, também gosto muito do Rio Grande do Sul, embora nunca tenha pisado os pés lá. /// Astronauta Pingüim iniciou sua carreira em Porto Alegre no ano 2000 fazendo “easy listening” em sintetizadores MOOG. “Fazê um bolo” é uma música do Taranatiriça, também gaúcho. Música de churrascaria de primeira. /// Sonic Youth é 100% /// “Cop Killer”, do Body Count, faz referência aos distúrbios raciais de 1992 em Los Angeles. Tudo começou quando policiais brancos que foram flagrados espancando o negro Rodney King foram absolvidos pela justiça. Ao todo, 53 pessoas morreram, muitas delas em frente às câmeras de televisão. King morreu dia 12 de junho passado. /// Body Count era (é?) a banda de rock de Ice T, mais conhecido no mundo do “gangsta” rap. /// Suede é um dos grandes expoentes do “Brit pop” – termo que, pra variar, eles odeiam. “Metal Mickey” é de seu disco de estréia, homônimo, lançado em 1993. Tocarão no Brasil dia 20 de outubro como parte do cast do festival “Planeta Terra”. Brasil, no caso, é São Paulo – e só. /// Portishead é foda! /// Faith No More é foda! /// Celso Blues Boy é foda, e nos deixou semana passada. Para compensar o fato de que eu NUNCA havia tocado nada dele no programa de rock, coloquei no ar o primeiro disco, de 1984, na íntegra, num bloco dedicado a Silvio Campos e Isabela Raposo (RIP Encruzilhada), que me fizeram perceber, antes tarde do que nunca, o quanto ele era bom.

Só.

A.

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Tom Zé – Tropicália lixo lógico

Converge – Wolverine Blues
Napalm Death – Will by mouth
NOFX – Ronnie & Maggs
Rob Zombie – Lords of Salem (Das Kapital remix)

Vicente Coda e a Paraphernália – Eu, Jack Kerouac

Lovecraft – Amônia
Júpiter Maçã – Hey girl, what you´re gonna do
Grupo Rebenque – Adeus, meu Chiripá
Astronauta Pingüim – Fazê um bolo

Sonic Youth – 100%
Body Count – Cop Killer
Suede – Metal Mickey
Portishead – Glory Box
Faith No More – The real thing

Celso Blues Boy – Sempre brilhará

Celso Blues Boy – “Som na guitarra”
# Aumenta que isso aí é rock and roll
# Fumando na escuridão
# Tempos difíceis
# Brilho da noite
# Amor vazio
# Rock fora da lei
# Filhos da bomba
# Blues Motel

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terça-feira, 14 de agosto de 2012

The Baggios, Ao Vivo, perto de você ...

A dupla sergipana de Blues/rock que tem embalado, dentre outras coisas, as noites de segunda na TV Bandeirantes como BG de matérias do CQC está fazendo sua mais extensa turnê até o momento. Começou ontem, em Belo Horizonte, segue hoje, ainda na capital mineira, e se estenderá por 45 dias com 29 pautas em 20 cidades e 3 regiões do país. Abaixo, o cartaz da tour, para que você confira se eles passarão perto de onde você está(rá):



terça-feira, 7 de agosto de 2012

# 235 - 04/08/2012

Quando cheguei aos estúdios da Aperipê FM no sábado passado havia uma entrevista interessantíssima em curso conduzida por Marcelo Larrosa. Henrique Teles, da Maria Scombona, discorria sobre suas influencias musicais e o cenário cultural e artístico local. Para o bem de todos e felicidade geral da nação, decidi que aquele papo não poderia ser interrompido, o que gerou uma inusitada fusão entre o Lado C e o Programa de rock. Instigados por Larrosa, um gaúcho criado no Rio de Janeiro e estabelecido em Aracaju, discutimos longamente sobre sotaques regionais, bairrismos, identidades e complexos de inferioridade, dentre outros assuntos. Foi bom pra mim, acho que pra eles também. Espero que tenha sido bom também para meus poucos porém valorosos ouvintes ...

Prosseguindo o programa, faixas dos discos solo dos caras do Pink floyd – “Barret”, 1971, de Syd Barret; “On an island”, 2006, de David Gilmour; “Wet Dream”, 1978, de Richard Wright; e “The pros and cons of hitch hicking”, 1984, de Roger Waters. Este último, com o auxilio luxuoso da guitarra de ninguém menos que Eric Clapton. Na sequencia, uma viagem aos primórdios do rock nacional com, dentre outros, a primeira manifestação da Beatlemania no Brasil, a banda Brazilian Bitles, uma impressionante ode ao cabelo cometida por The Bubbles, a primeira formação do que posteriormente seria conhecida como A Bolha, e Renato e seus Blue Caps castigando os ouvidos com uma guitarra fuzz pra lá de garageira.

Eu assino uma página do Facebook dedicada à mais bela viúva negra do rock and roll, “For The Love of Ivy”. A belíssima foto de Poison abaixo, postada por eles, me fez decidir de última hora que haveria uma musica do Cramps no programa – porque qualquer motivo é motivo para tocar Cramps, sempre. Daí a uma nova do Mastodon, que está cotadíssimo para vir ao Brasil ainda este ano, e à clássica “Miss Misery”, do igualmente clássico álbum “Hair of the dog”, lançado pelos escoceses do Nazareth em 1975 – esta última a pedido de Henrique Teles.

E então tivemos Joy Division, The sisters of mercy, Nick Cave e The Cure.

E duas homenagens: a Tony Sly, vocalista do No Use For a Name, falecido semana passada aos 41 anos, e às Pussy Riots, presas na Rússia por executar uma canção de protesto contra Vladimir Putin numa das principais igrejas ortodoxas do país.

E gore/death/grind produzido por Fúria Astayanax, pra fechar o cardápio.

E sábado que vem tem mais.

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Entrevista com Henrique Teles (Maria Scombona)
por Marcelo Larrosa e Adelvan k.

Syd Barret – Dominoes
David Gilmour – Castellorizon
Richard Wright – Summer Ellegy
Roger Waters – 5,06 AM (every stranger eyes)

The Brazilian Bitles – Dedicado a quem amei
The Bubbles – Não vou cortar o cabelo
The Jungle Cats – vai
The Out Casts – Weird ties, wide belts and ...
Renato & seus Blue caps – só faço com você

The Cramps – Jailhouse rock
Mastodon – Black Tongue
Nazareth – Miss Misey

Joy Division – Shadowplay
The Sisters of Mercy – Dominion (short version)
Nick Cave & The Bad Seeds – Into my arms
The Cure – A Forest (acoustic version)

No Use for a name – Sarah Fisher
Pussy Riot – Mother of God, Putin put!

Flesh Grinde – Tissue injury caused by an apparent imunologic reaction
Putrid Pile – Gallery of horror
The County Medical Examiners – Morgagnic anatomics
Visceral Bleeding – Fury unleashed
por Fúria Astaianax

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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Celso Blues Boy sempre brilhará ...


Chorar eu não vou. Festejar sua partida também não. Falei com ele que não queria que ele nos deixasse. Sei que o buraco que ele deixa no meu peito é maior do que o tempo que ele me deu de vida e alegria. Sei também que está fazendo uma boa viagem porque me falou que Deus o trouxe sem ele saber como e que Deus o levaria sem ele também saber como. Por isso ele sempre esteve nas mãos de Deus. Era assim o Celso Blues Boy – ranzinza e delicado, incrédulo e fiel às suas  vontades. Sei que sua guitarra era como ele : linda, amorosa, transparente e única. Nada como a de ninguém. Celso Blues Boy, simplesmente o MAGO DA GUITARRA como sempre me referi a ele desde os releases de 1982 do Rock Voador. Foi  um tempo longo  que voou e nunca ficou velho. Nem ele.  Voa Celso ! Voa !

Maria Juçá, no Blog do Circo Voador

O músico Celso Blues Boy, de 56 anos, morreu por volta das 8h50m desta segunda-feira em sua casa, em Joinville, Santa Cantarina, onde vivia há mais de uma década. Cantor, compositor e guitarrista, Celso sofria de câncer na garganta há cerca de um ano. De acordo com o Serviço de Verificação de Óbito de Joinville, Celso mantinha a existência da doença em segredo e se recusou a fazer os tratamentos necessários. A pedido do próprio Celso, seu corpo não será velado e já foi encaminhado para um crematório em Blumenau.

Nascido Celso Ricardo Furtado de Carvalho, o músico começou a tocar profissionalmente na década de 1970 e, aos 17 anos, já atuava como apoio a grandes nomes da música como Raul Seixas, com quem gravou "O diabo é o pai do rock". Considerado um dos maiores guitarristas do Brasil, tocou ainda com Sá & Guarabyra, Renato e Seus Blue Caps, Luiz Melodia e Cazuza - com quem gravou a faixa "Marginal" -, além de fazer parte das bandas Legião Estrangeira e Aero blues.

O reconhecimento de seu trabalho solo veio com a ascensão do rock brasileiro na década de 1980, apoiado pelo surgimento da rádio Fluminense FM, das Noites Cariocas, de Nelson Motta, e do Circo Voador. É dele o recorde de shows da casa da Lapa: em 30 anos de história, Celso Blues Boy subiu ao palco do Circo 104 vezes. A 105ª seria no dia 23 de outubro, em comemoração ao aniversário do Circo. (Aliás, uma curiosidade: o outro campeão de apresentações na casa, Severino Araújo - da Orquestra Tabajara -, morreu no último dia 3).

Seu primeiro disco, "Som na guitarra", foi lançado em 1984, com seu maior sucesso, "Aumenta que isso aí é rock'n roll", e outros hits como "Blues motel" e "Rock fora da lei" . Celso ainda participou da trilha sonora de filmes clássicos do período, como "Rock Estrela" e "Bete Balanço".

Na década de 1990, passou a se apresentar regularmente na Europa, quando estreitou laços com B. B. King, seu maior ídolo, que participou da faixa "Mississipi", em homenagem ao lendário Robert Johnson, do disco "Indiana blues", de 1996. Em 2011, lançou o bem humorado "Por um monte de cerveja", seu derradeiro trabalho. Nos últimos tempos, Celso vinha excursionando pelo Brasil quando, em julho deste ano, sofreu uma paralisia facial, que o impediu de fazer algumas apresentações agendadas. O músico subiu ao palco pela última vez no dia 7 de julho, no SESC Santo Amaro, em São Paulo.

O Globo

EM – Desde então não fez outra coisa na vida?
CBB –
Nem poderia. Se guitarra eu já não sei, imagina o resto (risos).

EM - Antes de se bandear para o blues, você havia trabalhado com o Raul Seixas e Renato e seus Blue Caps. Já era ligado na cena roqueira. Morar no Rio é muito mais fácil, não é verdade?
CBB –
Sou carioca, mas morava em Blumenau. Eu tocava e gostava de escutar. Depois vim para o Rio e o Sá e o Guarabira me chamaram. Fazia baile antes e estava tocando no conjunto Legião Estrangeira, 72, 73, por aí.

EM – Quem te deu o apelido de Celso Blues Boy foi o Sá. Porque, você atazanava a vidas dos caras ouvindo blues o dia inteiro?
CBB –
O Sá e o Guarabira foram verdadeiros pais pra mim. Um dia o Sá falou: “Pô, se você for fazer um xote vai ficar parecido com blues” (risos).
EM – Já tinha uma pegada blueseira?
CBB –
Já, eu conhecia sem saber. Porque um tio avô que não tinha filhos mandava uns discos pra mim dos Estados Unidos. Eu escutava o dia inteiro, mas não sabia nada, não conhecia nada. Quando retornei ao Rio muitos anos depois, não me lembro com que idade, acho que 16, tinha um pessoal que tinha voltado de morar nos Estados Unidos e me chamaram pra uma festa na casa deles. Então tinha bateria, contrabaixo, aquelas festas dos anos 70. Aí eles me mandaram tocar. Comecei a tocar, o outro também e um outro disse: “Ué, vocês do Brasil já conhecem blues?”. Eu disse que não conhecia e ele me disse que o que eu estava tocando era blues. Eu disse que era de um disco que tinha lá em casa. Um dia eu mostrei o disco para um dos caras e ele disse: “Isso é B.B. King, rapaz”.

EM – Você viajou muito para o exterior pra tocar?
CBB –
Sim, mas faz muito tempo que não vou. Parei porque não pode fumar no avião.

EM – Então você está nessa de blues antes do Aero Blues?
CBB –
No meio dos anos 70 abriu o primeiro pub de blues, era o Appaloosa. Aí eu fiz o Aero Blues que tinha um monte de música minha e que depois até cheguei a lançar na carreira solo. A gente tocava lá de terça a domingo com a banda residente que era o Aero Blues. A gente tinha um público muito grande e nos finais de semana fazíamos três, quatro shows. O Brilho da Noite já era uma música muito cantada, mesmo antes de ser gravada era muito conhecida. Começou a chegar gente de fora, os músicos queriam tocar com a gente, o Azimuth, o Sérgio Batista... Foi uma época boa porque juntava muita gente. Justamente pela novidade do blues.

EM – Havia uma demanda reprimida ali e foi só alguém chutar a porta?
CBB –
E a gente nem sabia o que estava acontecendo.
EM – Fale sobre a emoção de dividir o palco com o mestre B.B. King.
CBB –
Toquei em vários shows com ele durante muito tempo. Aqui no Brasil e fora. Na verdade ele queria que eu fizesse uma carreira fora que ele bancaria. Só que eu estava em meu segundo LP, fazendo muito sucesso e não tinha como. Mas ficamos amigos. Ele veio gravar no meu disco, é uma pessoa muito generosa.

EM – Você acompanha a cena brasileira de blues?
CBB –
Eu moro em uma chacarazinha há 16 anos. Só saio de casa para o aeroporto, vou tocar e volto pra casa.

EM – E em casa, você toca?
CBB –
Todos os dias. Mas eu toco no Brasil inteiro. Vou faço o show e volto. Pouco acompanho. Só os caras que eu já conhecia.

EM – Como é a história do convite da banda Commitments?
CBB –
Era o último show do guitarrista deles. E o Cezar Castanho estava fazendo esse evento. Os caras não entenderam nada. Eu fui me encontrar com o B.B. King no salão do hotel onde estava hospedado, mas sem ele saber. Os caras estavam lá e eu vi o empresário do B.B. King conversando com eles. Nessa passa o próprio B.B. King e o lobby do hotel era grande, ele olhou para o lado, me viu e veio me abraçar. Foi aí que os caras não entenderam nada: “Pô, quem é esse cara que o B.B. King para no meio do caminho e vai abraçar”. Aí o empresário falou para eles que a gente já se conhecia há muito tempo. Os caras me convidaram para tocar com eles no dia seguinte. Aí eu fui, toquei e eles me convidaram pra entrar na banda. Eu disse que não tinha condições porque tinha uma carreira sólida.
EM – Você ganhou dinheiro tocando o blues no Brasil?
CBB –
Na realidade eu nunca fiz parte do cenário do blues. Eu apareci no rock Brasil (nos anos 80) com Aumenta Que Isso Aí é Rock and Roll, e porque no meu repertório tem rock e blues, a grande massa começou a conhecer o blues. Qual é mesmo a tua pergunta?

EM – Se você ganhou dinheiro com o Blues?
CBB –
Saí de casa aos 16 anos e tudo o que eu tenho, e sempre tive uma vida boa, quem me deu foi a música. Pra tirar teve muita gente, mas para dar só mesmo a música (risos).

EM – 1989 foi um ano chave. Houve um grande festival de blues em Ribeirão Preto e dois lançamentos importantes, um do Blues Etílicos e outro do André Christovam, ambos cantados em português. Naquela época você estava no auge. Como você se sentiu quando viu tudo isso? Como se tivesse comprido bem sua tarefa?
CBB –
O filho do Erasmo tocava nessa banda (um dos fundadores do Blues Etílicos foi o baterista Gil Eduardo), e o Erasmo e a Narinha me encontraram e pediram pra eu dar uma força. Aí eu levei pra televisão, pra jornal, aparecia pra dar muita canja. Foi isso.

CBB – Você é de onde, Eugênio?
EM –
Sou de Santos, cidade com cena roqueira forte, mas não de blues ou blues rock.

CBB – É verdade, mas eu nunca mais voltei lá. Quem sabe alguém lendo o teu blog não me convida pra tocar lá. Quero ver se eu vejo um jogo do Neymar.

Eugênio Martins Júnior
Manish Blog

domingo, 5 de agosto de 2012

pussy riot, uma entrevista

Pussy Riot é uma banda punk feminista anônima russa com letras abertamente anti-Putin que se recusa a tocar em casas de show normais e tenta derrubar o governo. A banda foi formada setembro passado, depois que Putin anunciou que ia se candidatar novamente à presidência em março de 2012 — uma perspectiva assustadora já que pobreza, ataques terroristas, corrupção e perda de direitos civis têm sido as principais características do seu reinado no Kremlin.

Desde sua formação, o Pussy Riot virou manchete com uma série de shows ilegais num esquema de guerrilha, incluindo tocar “Revolt in Russia” na simbólica Praça Vermelha em janeiro deste ano. No final desse show elas foram presas por quebrar as rígidas leis russas a respeito de protestos ilegais, mas daquela vez todas as oito colegas de banda foram libertadas.

Infelizmente isso não durou muito. No dia 21 de fevereiro a banda fez um show na Catedral do Cristo Salvador em Moscou e foram presas por acusações do show anterior, logo antes da eleição de 3 de março na qual Putin retornou ao poder. Dessa vez nem todas foram liberadas: duas delas, Nadezhda Tolokonnikova e Maria Alyokhin continuam sob custódia e deram início a uma greve de fome, afirmando que só vão parar quando retornarem para seus filhos. Todas elas podem pegar sete anos de prisão se forem consideradas culpadas.

Abaixo, uma entrevista concedida a Henry Langston no meio de fevereiro, dias antes da prisão, e publicada na revista eletrônica "Vice" (postagem original aqui).

VICE: O que inspirou vocês a começarem a banda?
Kot: A Pussy Riot entrou em ação no final de setembro de 2011, logo depois do Putin anunciar que planejava ser presidente novamente e governar a Rússia brutalmente por pelo menos mais 12 anos.
Serafima: Certo, foi aí que percebemos que esse país precisava de uma banda militante de street punk feminista que pudesse tocar nas ruas e praças de Moscou e mobilizar a energia pública contra os bandidos da junta Putinista, enriquecendo a oposição cultural e política com temas que são importantes para nós: gênero e direitos LGBT, problemas da conformidade masculina e a dominância dos machos em todas as áreas do discurso político.
VICE: Por que “Pussy Riot”?
Garadzha: Um órgão sexual feminino, que deveria apenas receber, de repente começa uma rebelião radical contra a ordem cultural que tenta constantemente defini-lo e mostrar qual é o seu lugar. Os sexistas têm certas ideias de como as mulheres devem se comportar, e Putin também tem alguns pensamentos sobre como os russos devem viver. Lutar contra tudo isso — isso é a Pussy Riot.
Kot: Você não devia ter respondido essa pergunta, Garadzha, porque geralmente não fazemos isso. Quando os policiais e os agentes da FSB nos interrogam e perguntam: “O que essas letras em inglês no seu banner significam” (colocamos um banner durante alguns dos nossos shows ilegais e dificilmente qualquer um desses babacas sabe falar qualquer língua estrangeira) — então a gente geralmente responde “Bom, senhor policial, não é nada de especial, essas palavras significam 'Pussycat rebellion'”. Mas, claro, é uma mentira brutal. Na Rússia você nunca deve dizer a verdade para um policial ou agente do regime Putinista.
Quais são suas influências musicais?
Kot: Algumas de nós se inspiram nas bandas clássicas de punk oi! do começo dos anos 80; The Angelic Upstarts, Cockney Rejects, Sham 69 e outras — todas essas bandas tem uma energia musical e social incrível, seu som rompeu a atmosfera de sua década, espalhando confusão por toda parte. A vibração deles realmente capta a essência do punk, que é o protesto agressivo.
Garadzha: Muito do crédito vai para o Bikini Kill e as bandas da cena Riot Grrrl — de certa maneira nós desenvolvemos o que elas fizeram nos anos 90, embora o contexto seja absolutamente diferente, e com uma postura exageradamente política, o que leva todos os nossos shows a serem ilegais — nunca fizemos um show num clube ou em qualquer espaço especial para música. Esse é um princípio importante para nós.
Quais são suas principais influências feministas?
Serafima: Em teoria feminista seria De Beauvoir com O Segundo Sexo, Dvorkin, Pankhurst com suas corajosas ações sufragistas, Firestone com suas teorias de reprodução loucas, Millett, o pensamento nômade de Braidotti e Judith Butler.
Garadzha: E como foi dito antes, em termos de cenas musicais feministas, ativismo e construção de comunidade, nós damos o crédito ao movimento Riot Grrrl.
A Pussy Riot está procurando de novos membros?
Garadzha :Sempre! A Pussy Riot precisa continuar se expandindo. Essa é uma das razões porque escolhemos usar sempre balaclavas — novos membros podem se juntar ao grupo e realmente não importa quem vai fazer parte do próximo show — podem ser três de nós ou oito, como nosso último show na Praça Vermelha, ou até 15. A Pussy Riot é um corpo pulsante em crescimento.
Tyurya: Você conhece alguém que queira vir para Moscou, tocar em concertos ilegais e nos ajudar a lutar contra Putin e os russos chauvinistas? Ou talvez as pessoas possam começar suas Pussy Riots locais, se acharem que a Rússia é muito distante e muito gelada.
Melhor eu arranjar uma balaclava neon pra mim também. Vocês se preocupam com a perseguição da polícia ou do Estado conforme vocês ficam mais e mais conhecidas?
Kot: Não temos nada com que nos preocupar, porque se os bandidos repressivos Putinistas jogarem uma de nós na cadeia, cinco, dez, 15 garotas mais vão colocar balaclavas coloridas e continuar a luta contra seus símbolos de poder.
Serafima: E hoje, com dezenas de milhares de pessoas tomando as ruas rotineiramente, o estado vai pensar duas vezes antes de tentar fabricar um caso criminal para nos tirar de circulação. Temos muitos fãs nas massas de protesto russas.
Quais são as razões por trás da decisão de se manter anônimas?
Serafima: Nosso objetivo é nos afastar das personalidades em direção aos símbolos de protesto puro.
Tyurya:Trocamos frequentemente de nomes, balaclavas, vestido e papéis dentro do grupo. Alguém sai, um novo membro se junta ao grupo e a escalação em cada apresentação de guerrilha da Pussy Riot pode ser inteiramente diferente.
Como vocês vêm a Rússia sob um novo governo liderado por Putin?
Serafima: Como você via a Líbia sob o governo de Gaddafi? Como você vê a Coreia do Norte sob o governo de Kim Jong-un, o “brilhante camarada” de 28 anos? Para nós, a Rússia sob o governo de Putin, aka “o Líder Nacional”, não é diferente.
Tyurya: Como uma ditadura de Terceiro Mundo com todas as suas características divertidas e cheias de classe: uma horrível economia baseada em recursos naturais, níveis inacreditáveis de corrupção, ausência de tribunais independentes e um sistema político disfuncional. E sob o governo de Putin é bom se preparar para mais uma década de sexismo brutal e conformismo com as políticas oficiais do governo.
O que vocês acham sobre os outros grupos antigovernamentais, como o Voina e o Femen da Ucrânia?
Tyurya: O Voina é legal, acompanhamos eles de perto, gostamos mais do seu período de 2007-2008, quando eles fizeram ações simbólicas muito loucas como o "Fuck for the heir Puppy Bear" na véspera das eleições presidenciais de 2008. Eles desenharam uma caveira com os ossos cruzados com laser verde no parlamento russo e fizeram um enforcamento cerimonial de homossexuais e imigrantes ilegais como um presente para o prefeito de Moscou, foram coisas poderosas.
Serafima: Nossa opinião sobre o Femen é uma história complicada. Por um lado elas exploram uma retórica muito masculina e sexista em seus protestos — os homens querem ver garotas nuas agressivas sendo atacadas por policiais. Por outro lado, sua energia e capacidade de continuar em frente não importa o que aconteça é incrível e inspiradora: um dia elas estão na Suíça escalando a cerca do Fórum Econômico Mundial e no outro já estão em Moscou atacando o quartel general da maior produtora de gás natural russa. E mesmo depois de terem sido torturadas e humilhadas pelos agentes da KGB na Bielorrússia, elas prometeram continuar lutando ainda mais. Energia é uma coisa muito importante nos dias de hoje; grupos de rua na Europa e na América frequentemente carecem de força, mas essas garotas realmente têm isso.
Qual foi o show favorito de vocês?
Garadzha: Fora o da Praça Vermelha, todas nós realmente gostamos do nosso show no telhado de um dos prédios do Centro de Detenção de Moscou, onde as pessoas foram presas depois dos protestos pós-eleição do dia 5 de dezembro. Os presos políticos podiam nos ver de dentro das celas e gritavam e aplaudiam enquanto a gente tocava “Death to Prisons — Freedom to Protest”. Os guardas e os funcionários da prisão ficaram correndo de um lado pro outro porque não sabiam como tirar a gente imediatamente daquele telhado. Eles ficaram tão assustados que ordenaram um trancamento total imediato — acho que eles pensaram que ia começar um cerco ao Centro de Detenção depois que a gente terminasse de tocar. Foi muito legal.
Vocês têm planos de armar shows nas aparições públicas do Medyved ou do Putin?
Tyurya: Putin tem muito medo de fazer qualquer aparição realmente pública — todas as suas “reuniões públicas” são fortemente vigiadas, com partidários do Kremlin gritando e mandando beijos. Mas um dia vamos pegá-lo desprevenido, com certeza.
Serafima: Então é melhor ele dar o fora antes da gente conseguir por as mãos nele. Que o Putin nunca queira encontrar a Pussy Riot cara a cara!

O correspondente Henry Langston esteve presente também em protestos que ocorreram em frente à embaixada russa em Londres e colheu os seguintes depoimentos:


VICE: E aí, gente? Tudo bem com vocês hoje?
Mineka: Pessoalmente, estou aqui hoje porque estou cansada dessa merda toda que tenho ouvido sobre a Rússia ultimamente, como a legislação contra os gays. Isso é simplesmente inaceitável hoje em dia. Odeio a Rússia com paixão. Eu mesma sou de um país pós-soviético e minha bisavó foi mandada para o gulag por esses filhos da puta. Eles são meus inimigos históricos e não vou deixar eles saírem dessa facilmente.
E vocês dois? Eles também mandaram seus parentes para o gulag?
Jason: Estou aqui pra expressar minha solidariedade para com as minhas irmãs do punk rock.
Angela: Estou aqui porque sou contra a censura, especialmente ligada à religião, sexo e violência. Tem que haver liberdade de expressão.
Que mensagem de apoio vocês gostariam de mandar para as meninas do Pussy Riot?
Mineka: Não parem nunca, seja lá o que acontecer. Elas vão sair da cadeia em breve, e espero que em 2012 não saia nenhuma sentença de prisão perpétua na Rússia com relação a isso. Os garotos e garotas russos precisam sair às ruas com suas balaclavas. Não deixem esses desgraçados calarem vocês!
Angela: Não peguem leve!
Jason: O mundo está vendo e estamos do lado de vocês! Foda-se o Putin!
Esse julgamento é o fim do Pussy Riot?
Mineka: É só o começo. Todo mundo vai ter uma balaclava no armário de agora em diante. Isso vai ser parte de uma revolução na moda, vocês vão ver o Galliano usando uma dessas nas passarelas muito em breve.
Jason: Elas são como a Hidra — você corta uma cabeça e surgem outras duas. Tudo o que precisa é uma pessoa cortando dois buracos numa touca e outra Pussy Riot nasce.
Vocês acham que as balaclavas são uma boa declaração de moda? Parece que não dá mais para usar uma dessas sem fazer algum tipo de declaração política, o que é meio que uma pena, porque quando eu era criança elas eram apenas outro aliado valioso e inócuo na batalha contra os elementos.
Mineka: Sim, acho que as balaclavas neon são um símbolo incrível, muito melhor que as máscaras do V de Vingança. Isso ficou muito batido, precisamos de um novo uniforme.
Depois de 30 minutos de conversa furiosa, que inadvertidamente atraiu olhares curiosos dos pedestres (uma boa porcentagem deles acharam que alguém estava distribuindo “Free Pussy”), um produtor chamado Mike Lerner apareceu diretamente de Moscou, onde esteve filmando o julgamento.
Como foi lá no tribunal, Mike?
Mike Lerner: Antes do julgamento, cerca de 30 manifestantes que foram até lá mostrar apoio ao Pussy Riot acabaram presos, juntamente com manifestantes cristãos que foram até lá jogar ovos no marido de uma das meninas. Eles não tiveram nem a chance de gritar ou dançar, a polícia foi pra cima deles logo de cara, foi uma coisa chocante. Eles prenderam até um cara que estava simplesmente do lado de fora do tribunal segurando um balão. Eu nunca tinha estado numa corte russa antes, mas é uma coisa brutal — eles têm uma jaula no meio da sala e as rés foram trazidas por uns oito guardas armados. Parecia que eles estava trazendo o Osama bin Laden — foi um exagero.
Alguns dias depois disso, Mike e sua equipe filmaram um comício pró-cristão na Catedral do Cristo Salvador, onde a banda tocou seu Punk Prayer. Cerca de 10 mil pessoas compareceram para ouvir o discurso do Patriarca Kirill sobre “o ataque generalizado à igreja”.
O que o Patriarca Kirill disse no comício?
Mike: Ele não falou diretamente sobre o Pussy Riot, mas se referiu a distúrbios recentes e à mácula na igreja. Algumas pessoas trouxeram imagens avariadas de outras igrejas, como se isso tivesse alguma relação. É verdade que muitas igrejas foram vandalizadas recentemente, mas provavelmente umas 10 igrejas são vandalizadas toda semana, só que agora as pessoas estão prestando atenção. Eles querem fazer parecer que a igreja está sob um ataque mais vasto, mas não tenho muita certeza disso.
As Pussy Riot não foram formalmente acusadas nesse comparecimento recente ao tribunal. Quando elas finalmente ficarão frente a frente com um juiz?
Elas irão a julgamento em junho, então podem já ser sentenciadas ou ter que esperar mais dois meses — isso pode se arrastar por anos. A equipe jurídica delas está pessimista; o juiz disse que a banda incita o ódio à religião, e por isso elas não podem sair sob fiança. E pior, acontece que o juiz é um dos favoritos do Putin.
Mas vocês vão continuar lutando?
Claro que sim!


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