sexta-feira, 29 de julho de 2011

BANANADA 2011

Mugo, Black Drawing Chalks, Hellbenders, Johnny Suxxx, Space Monkeys, Bang Bang Babies, Dom Casamata, Kamura, Ultra Vespa, Girlie Hell, Grupo Sincrosone, Banda Uó, Gloom, Diego e O Sindicato, Barfly, Folk Heart, Solicitude, River Breeze, Trivoltz, Black Queen e mais um cartaz sensacional com a impressionante arte do Coletivo Bicicleta Sem Freio (veja ao lado).

28 de agosto
Martim Cererê
Goiânia

sábado, 23 de julho de 2011

Falha nossa ...

Como meus 4 (ou seriam 5?) ouvintes devem ter notado, o programa de ontem não teve nada a ver com o que foi divulgado previamente nas redes sociais. Tivemos problemas internos que me impediram de acessar o servidor da rádio. Nem a banda que foi entrevistada, One Last Sunset, rolou - mas aí foram eles que não levaram o Cd, tiveram problemas também. A bruxa estava solta! Por conta disso, tive que chafurdar no pantanal dos arquivos do programa de rock. Tudo improvisado, na hora, na tora! Foi divertido de fazer, em todo o caso, e o rock não deixou de ir ao ar, como é nosso compromisso desde a primeira edição, há cerca de 4 anos e meio. Não anotei o que tocou, mas que eu me lembre, rolou MC5, Slayer, Tricky, Procol Harum, Nuclear Assault, Karne Krua, Ira!, Camisa de Vênus, Titãs, The Cult, Queens of the Stone Age, Câmbio Negro HC, Chuck Berry, Dusty Springfield, Nine Inch Nails, SOH, Inrisório, Nucleador, Camboja, Dead Kennedys, Ramones ...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

loudQUIETloud

"Kim vive num mundinho em separado. É o mundo da Kim e da Kelley", fala Charles (Black Francis/Frank Black) numa determinada altura do filme. Não dá pra saber se em tom de crítica ou apenas a título de informação, já que havia sido perguntado a respeito do relacionamento entre ele e a baixista numa entrevista. E é assim durante toda a projeção: longos silêncios intercalados por alguma conversa jogada fora entre uma brincadeira e outra. Os eventuais problemas (e eles devem existir, já que a banda se separou no auge criativo e, mesmo com esta volta, não conseguiu produzir nada inédito até agora) são, claramente, varridos para baixo do tapete. Não espere obter alguma resposta definitiva para a grande pergunta. Há versões, no entanto: uma resposta vaga, dada por Black Francis em outra entrevista (apenas ele responde às entrevistas, ao que parece), e uma mais direta, saída da boca de alguém que também estava lá. Para Joey Santiago, foi uma resposta do ego do líder ao fato de que a popularidade de Kim aumentava a cada dia. Há ainda a versão dos fãs quando, num dos momentos mais divertidos, Kelley sai pela fila da entrada de um show perguntando ao público por que, na opinião deles, a banda acabou, e por que voltou. A resposta mais recorrente é "porque eles são bons demais", para ambas as perguntas. Explicando a presença de Kelley: a irmã gêmea de Kim acompanhou a banda durante a turnê. É dela, aliás, a sentença que define tudo: “Vocês são os piores comunicadores do mundo”. Os quatro parecem concordar, resignados.

A resposta mais provável, no entanto, é mesmo a financeira. Frank Black nunca se esquivou dela, muito pelo contrário: declarou, certa vez, que eles já tinham feito música suficiente com os Pixies, agora era a hora de fazer dinheiro. E fizeram, pelo que se vê no filme: shows totalmente "sold out" por onde passaram - claro que num nível infinitamente distante de um U2 ou de um Guns and Roses, mas provavelmente suficiente para aliviar a situação de David, que conseguia trocados fazendo mágica e vivia de favor na casa de amigos; de Joey, que sustentava a família fazendo trilhas e tocando para meia dúzia de pessoas ao lado da mulher; de Kim, cujo Breders fez relativo sucesso mas que entrou numa roda-viva de abuso de álcool e drogas e estava em recuperação durante a tour; e do próprio Frank Black, cuja carreira solo, convenhamos, seguia (e segue) ladeira abaixo, em termos de popularidade.

No palco há a música, e a música, todos sabemos, é a forma de comunicação mais perfeita que existe, porque dispensa a palavra, esta maravilhosa porém limitada invenção humana. Mas o foco é mesmo nos bastidores, o que leva à pergunta: vale a pena assitir a este filme? A resposta é sim, caso você seja fã da banda. Eu sou. Mas para mim, particularmente, valeria a pena apenas pelo prazer de passar 1 hora e alguns minutos vendo o sorriso de Kim Deal, o mais bonito do universo. Por isso e pela sucessão de momentos antológicos, como quando eles recebem uma homenagem por ter feito o show com os ingressos esgotados mais rapidamente da história da Bixton Academy, lendária casa de shows inglesa. Ou pelo registro da ida do pai do baterista David Lovering, então doente terminal, com câncer, a Londres, para ver o filho se apresentar (como baterista E mágico/ilusionista). Por Kelley ajudando Kim na composição do então novo disco das Breeders ("Montain Battles", imagino). Ou pelo emocionante registro da presença de uma fã cuja vida foi mudada depois dela encontrar, por acaso, um livro no qual a personagem principal era fanática pelos Pixies. Há um rápido encontro dela com Kim no final do show em que a moça, visivelmente emocionada, lhe dá o livro de presente. Na sequencia seguinte é registrada a reação de Kim ao folheá-lo. Sem palavras (literalmente). No final do filme, entre os créditos, imagens de um ensaio da banda cover da fã são intercalados com uma execução de "Monkey gone to heaven" pelos Pixies.

A banda também tocou pela primeira vez no Brasil neste ano de 2004, mas o documentário, infelizmente, não registra isso. A única referência ao nosso país é uma touca usada pelo guitarrista Joey Santiago durante uma conversa via internet com sua família. Uma pena: pelo visto o "Bananão" continua sendo encarado por muitos, lá fora, como uma terra inóspita e distante, indigna de um enfoque mais detalhado.

O Filme foi lançado em edição nacional recentemente, pela Coqueiro Verde. Você pode adquirir uma cópia aqui.

Ou BAIXE AQUI, em AVI c/ legendas.

por Adelvan

Não sei se já aconteceu com você, mas comigo, várias vezes: você passa um tempo danado sem falar com uma pessoa (as coisas talvez não tenham terminado bem da última vez ou algo assim), e acha que tudo bem, a vida segue, mas chega um determinado momento em que você a reencontra, e todas as coisas se encaixam – como se o tempo não tivesse passado.

Acredite, acontece. Particularmente, sou um cara super estranho com as amizades. O motivo, olhando para mim mesmo, talvez seja porque eu necessite muito da solidão (ou eu necessito, ou eu acho que necessito), e as amizades existem exatamente para impedir que você fique sozinho. Lógico, para muitas outras coisas, mas fazemos amigos essencialmente para termos alguém com quem conversar e trocar idéias.

Risos. Engraçado como falar de uma banda que a gente ama pode entregar mais do que aquilo que a gente imagina. Ok, tenho meus amigos, mais até que do mereço, e eles são uma parte especial da vida. Existem aqueles que estão vivendo o aqui agora, aqueles que já viveram e vira e mexe aparecem para uma cerveja ou para um email carinhoso bissexto, e, alguns, que por algum motivo ficaram pelo caminho.

Existem também os amigos invisíveis, como diria Edgard Scandurra. As bandas, as músicas que sempre nos acompanharam, mas que por algum motivo desaparecem de nossas vidas. Não me lembro o motivo, mas eu tinha brigado com o Pixies. Eles continuaram na minha vida, não tinha como esquecê-los (imagina: toda vez que não ouço algo lembro que fiquei quase surdo por causa de “Doolittle”), mas algo nos distanciava.

Tentei ir vê-los quando eles tocaram em Curitiba, mas não rolou. Quando o Danilo e o Ricardo, da Mojo Books, me pediram uma história sobre um disco, não pensei duas vezes: Pixies (acho que o livro ainda está esgotado aqui). As músicas iam e vinham, mas a volta da banda me deixou com um pé atrás, não sei o motivo. Os vi, depois, no Primavera Sound, e também no SWU, e algo em mim esperava mais, não sei o que.

Hoje assisti “loudQUIETloud: a film about the Pixies”, e parece que tudo se encaixou. As estranhezas das letras do Frank Black, os sorrisos chapados de cerveja sem álcool da Kim Deal, o olhar suspeito de Joey Santiago, a alegria nonsense de David Lovering, quatro pessoas que por algum motivo estiveram na mesma banda, fizeram grandes discos, brigaram e não tinham percebido o valor do que fizeram.

“loudQUIETloud: a film about the Pixies” mostra por a+b que ter uma banda é praticamente como viver em família, você cercado por pessoas estranhas cuja união é o sobrenome e o sangue – e muitos gens que fazem você reproduzir gestos e parecer com seus familiares. Tire os gens e você tem uma banda: pessoas estranhas que se juntam para fazer música.

A juventude preenche as lacunas dos espaços vazios quando você é jovem, mas quando se passa dos 30 e acumula tristezas (lembre-se: viver é acumular tristezas), as pessoas tendem a ficarem mais frias, cínicas e receosas sobre o mundo. Daí o silêncio. “loudQUIETloud: a film about the Pixies” é lotado de SILÊNCIOS, mas abre importantes clareiras para se entender uma banda tão estranha e genial como o Pixies.

E, por que não, nós mesmos?

por Marcelo Costa

Scream & Yeall

segunda-feira, 18 de julho de 2011

No Fio da navalha.

Uma aula de rock and roll - Tudo já começa "na cara", de sopetão: são os Mamutes e sua "Dama de branco" dizendo sem rodeios ou firulas a que vieram, "no fio da navalha". Grande som, velha conhecida, já lançada no single do ano passado. A segunda faixa, "Eu e minha guitarra", começa apenas com um riff cru e cadenciado - uma cadência que acompanha a música até o final, quando ela engata um ritmo mais rápido e culmina num "Foda-se" gritado por Kal em Alto e Bom som. "Cabeça de Mamute" já é mais forte, com um refrão marcante. "Vinha eu pela 13 a mais de 100", declama Kal na letra de "Eletrokarma". A "13", imagino, é a praia 13 de julho, bairro de Aracaju. É bom ver nossas bandas de rock cantando nossas coisas, o dia-a-dia na cidade. Assim como precisamos nos ver mais nos cinemas, precisamos também nos reconhecer nas letras de nossas canções. O riff da música, pra variar, é ótimo, sinuoso e marcante. A marcação de Odara e Morcego segue precisa. Chamo aqui a atenção para a mixagem do disco, que nesta faixa em especial se mostra perfeita. "Noturna", a faixa seguinte, é outra velha conhecida do single lançado ano passado, e é perfeita em sua melodia poderosa conduzida pelo vocal a cada dia melhor lapidado de Kal Di Leon. Brilhante trabalho de guitarra de Rick Maia, com harmonias nitidamente influenciadas por mestres como o Thin Lizzy. A musica já seria perfeita assim mesmo, seca, mas não: os caras tiveram a manha de incluir sopros e castanholas no arranjo, o que deixou tudo ainda mais exuberante. Contrariando um das máximas do rock and roll, neste caso, menos não foi mais.

"Olho azul" tem, em sua introdução, um daqueles gritos rasgados típicos do hard rock "glam" dos anos 80 - estariam os mamutes "farofando" o som ? Nada disso, o "rasgo" ficou ok, sem afetação, eu estava apenas brincando. A musica segue numa cadencia legal e tem uma ótima melodia que culmina em um excelente refrão. Redondinha, perfeita, e com mais guitarras dobradas a la Thin Lizzy/NWOBHM. Os ecos do Heavy metal se tornam explícitos na faixa seguinte, "olhos de cobra", que começa num clima meio opressivo e segue com a guitarra acompanhando o vocal numa melodia que lembra os bons tempos do Black Sabbath com Ozzy. A (ótima) influência do Sabbath segue até o final, com a musica mudando de andamento e passando por um trecho instumental "viajante" para então voltar ao ritmo inicial, numa dinâmica típica do supergrupo de Toni Iommy. Tudo sem sinal de plágio, já que a musica em si não lembra nenhuma do Sabbath em especial. É apenas a boa, velha e sadia fonte de inspiração da qual, afinal, todos bebem - e ela nunca se esgota.

Aí vem o que se anunciava, pelo menos para mim, como o momento mais perigoso do disco: "Fora de controle", um verdadeiro hino dos Mamutes, em novo andamento. Ficou boa e, como eles bem disseram numa entrevista no programa de rock, perfeitamente integrada ao clima do disco. Nada traumático, claro, os caras não estragaram, como eu cheguei a temer, uma de suas melhores composições, nem de longe. Mas mesmo assim, na primeira ouvida, ainda prefiro a versão do EP. Velhos hábitos são difíceis de mudar.

Na reta final do percurso, "te deixando o meu bye bye", um "rockão", também previamente lançado via single. Poderia inclusive ter finalizado o disco com aquele eco no fim, mas tem mais: gemidos e mais sopros introduzem "tudo no seu tempo", a "saideira". Letra lasciva, Vocal malicioso de Kal, uma bela levada de baixo e um andamento mais suingado. Fechou com chave de ouro.

Certamente um dos melhores petardos já lançados por estas plagas. Um atestado de maturidade e, ao mesmo tempo, fidelidade às origens da cena rock sergipana.

ROCK AND ROLL ! Na veia e na artéria!

Baixe o disco aqui.

por Adelvan

sábado, 16 de julho de 2011

# 192 - 15/07/2011

Jello Biafra & The Guantanamo School of Medicine - The Cells that will not die
Plástico Lunar - Mar de leite azedo
Eskimo - Bipolar

This Mortal Coil - Song to the siren
Air - Space Maker
Portishead - Biscuit
Massive Attack - Angel

Los Mentas - Sopa Seco Jugo
Rock Rocket - Pérola da noite
(Drop Loaded)

Da Boca Ao Reto - Martírio político
Gee-O-Die - Motoqueiro véio de guerra
Rótulo - produto da soma
Holidays - Are you free?

Joan Jett And the Blackhearts - I love rock and roll
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Yes - Roundabout
Rush - Circunstances
Pink Floyd - What do you want from me ?
(porJoelâne Silveira Alves

Entrevista com Karne Krua
Karne Krua:
# Do sol latente ao cinza das ruas
# No cinza da cidade eu morrerei
# Navalha no pescoço

quinta-feira, 14 de julho de 2011

LANÇAMENTO ABORTADO

Silvio Campos, via Facebook: Não é por nada não, mas tenho que admitir somos um pouco da versão do ANVIL no hardcore, no nordeste. Nossos discos (NOTA: "inanição", da Karne Krua) vieram todos com defeito de prensagem, inacreditavel, mas é real, já falamos com a gravadora e vão prensar o cd de novo, MAS TÁ VALENDO A FORÇA DE TODOS AI, NOS VOLTAREMOS EM BREVE.

É isso aí, a novela continua ...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

LONG LIVE ROCK!

Aumente o som, saia pulando, fale palavrões: o rock’n’roll tem mais de 50 anos, mas ainda faz a cabeça dos jovens e chacoalha a sociedade.

Super Interessante # 205, outubro de 2004

por André Barcinski

Foram mais de cinco décadas bem vividas. 50 e poucos anos regados a sexo, a drogas e a ele próprio. Não pensem que foi uma vida fácil: entre tapas e beijos, o rock viveu um romance conturbado com a sociedade. Numa hora, era o queridinho de todos, para logo depois ser chutado e escorraçado como um cão sem dono.

Nesse meio século, o rock’n’roll foi celebrado por multidões, massacrado pela Igreja, explorado por publicitários, dissecado por historiadores, cooptado pela moda, malhado por puristas, dignificado pelos Beatles e maltratado por Bon Jovi e Simply Red. Passou por bons e maus bocados, e chegou a ser dado por morto algumas vezes. Mas, como fênix, sempre deu um jeito de reaparecer, resgatado das trevas por algum adolescente talentoso e entediado. É uma história e tanto.

Segundo historiadores, o marco zero do rock teria acontecido em julho de 1954, quando um caminhoneiro chamado Elvis Presley entrou no Sun Studios, em Memphis, e gravou “That’s Allright Mamma”.

Vamos deixar uma coisa bem clara: Elvis não inventou o rock. Antes dele, gente como Chuck Berry e Bill Halley já tocavam rock. Desde o fim dos anos 40, “rock’n’roll” era usado em letras de música como sinônimo de “dançar” ou “fazer amor”. Em 1952, o radialista Alan Freed – que depois viria a reivindicar a criação do termo – batizou seu programa de Moondog’s Rock and Roll Party.

Se não criou o rock’n’roll, Elvis ao menos pode ser considerado o mensageiro que apresentou o rock ao mundo. Era o homem certo no momento certo: bonito, talentoso e carismático. Mais importante: era branco e, por isso, aceitável para a América dos anos 50. “Eu agradeço a Deus por Elvis Presley”, disse o negro Little Richard, um dos grandes pioneiros do rock. “Ele abriu as portas para muitos de nós.”

A tarefa de Elvis não foi fácil: a sociedade norte-americana demorou bastante para aceitar aquele branco que cantava e dançava como um negro. Em uma de suas primeiras apresentações na TV, as câmeras o filmaram apenas da cintura para cima, sem mostrar aquele quadril que teimava em rebolar. Elvis, ao contrário de vários outros ídolos da época (como Pat Boone, por exemplo), nunca renegou a origem de sua música. “O que eu faço não é novidade”, disse. “Os negros vêm cantando e dançando dessa forma há muito tempo.”

Se a vida nos anos 50 não era moleza para um roqueiro branco como ele, o que dizer de artistas negros como Little Richard, Chuck Berry, Bo Diddley e Fats Domino? Num país de escolas segregadas, que ainda via negros serem linchados, o simples fato de um artista negro viajar para mostrar sua música assumia proporções épicas de heroísmo e bravura.

Uma história emblemática do período é a de Shelley “The Playboy” Stewart, um radialista negro que apresentava um programa de rock na estação WEDR, no Alabama. O programa de Stewart atraía um público predominantemente branco, que aprendera a gostar dos artistas “de cor” que o DJ tocava.

No dia 14 de julho de 1960, Stewart estava apresentando um show na cidade de Bessemer, quando recebeu um aviso do dono do clube: a Ku Klux Klan, temida organização racista, havia mandado 80 homens para atacá-lo. Os encapuzados cercavam o clube e ameaçavam invadir o local. Sem perder a calma, Stewart avisou à platéia – formada por 800 brancos – que teria de parar o show. Foi aí que o inesperado aconteceu. “Os jovens que estavam no clube se rebelaram”, disse Stewart, anos depois. “Eles saíram correndo do local e atacaram a Klan, lutando por mim.” A simbologia do fato é forte demais: brancos lutando contra brancos, pelo direito de ouvir música negra.

Sim, o rock’n’roll é música negra. Como o blues, o samba e o hip hop, o rock nasceu da escravidão e tem suas origens na migração forçada de milhões de africanos, que foram tirados de suas aldeias e jogados em terras estranhas. Todos esses gêneros musicais têm duas características comuns, herdadas da África: a primeira é a predominância de uma base rítmica constante e repetitiva; a segunda é a utilização da música de uma forma emocional e espiritual. Nas colheitas de algodão dos Estados Unidos, os escravos cantavam para celebrar sua espiritualidade e seus ancestrais. Também cantavam sobre as mazelas da escravidão, estabelecendo assim uma relação direta entre sua música e a realidade social. O rock herdou essa capacidade de radiografar o presente.

Na época, a sociedade americana começava a abandonar preconceitos seculares. De uma certa forma, a explosão do rock simbolizou uma América nova, mais liberal, próspera e livre das dificuldades econômicas do pós-guerra. Adolescentes brancos começaram a curtir uma música antes relegada a salões de baile nos bairros negros e pobres.

Em 1956, “Blue Suede Shoes”, de Carl Perkins, tornou-se a primeira música a chegar ao topo das paradas de pop, rhythm’n’blues e country. O fato representou um marco não só para a música, mas para toda a sociedade americana. Pela primeira vez, brancos e negros estavam gostando da mesma coisa. Em 1959, outra canção, “The Twist”, de Chubby Checker, também uniu o país. O ativista e autor Eldridge Cleaver, fundador do grupo radical Panteras Negras, escreveu: “A canção conseguiu, de uma forma que a política, a religião e a lei nunca haviam sido capazes, escrever na alma e no coração o que a Suprema Corte só havia conseguido escrever em livros”.

O rock’n’roll não mudou a sociedade, mas serviu como espelho de mudanças e tendências. Claro que ninguém deixou de ser racista ao ouvir Elvis Presley cantando música “de negros”, mas o simples fato de Elvis aparecer em cadeia nacional, rebolando os quadris e celebrando uma cultura marginal, mostrava que o país estava mudando.

Paralelamente ao surgimento do rock, a sociedade norte-americana via o aparecimento de outro fenômeno, que se tornaria vital para a explosão do rock’n’roll: o adolescente.

Até meados do século 20, adolescentes tiveram uma vida dura nos Estados Unidos. O país havia passado por duas guerras mundiais e pela Grande Depressão; ser jovem por lá significava trabalhar duro e ajudar os pais a sustentar a casa.

Para a sociedade de consumo, o adolescente não existia. Não havia música ou filmes feitos especialmente para eles. Pais e filhos eram obrigados a gostar das mesmas coisas: as big bands de Tommy Dorsey e Benny Goodman, as baladas de Nat King Cole e Frank Sinatra, a cafonice de Pat Boone e Perry Como.

Depois da Segunda Guerra, tudo mudou: os Estados Unidos entraram numa fase de prosperidade, a economia cresceu e os adolescentes, que antes davam duro ajudando os pais, passaram a receber mesada. Isso criou um novo mercado, voltado unicamente para o jovem.

Hollywood logo entrou na onda, lançando filmes direcionados aos adolescentes. Dois deles, O Selvagem (1954) e Rebelde sem Causa (1955), revelaram Marlon Brando e James Dean interpretando jovens em conflito com a geração de seus pais. A rebeldia estava na moda. Daí surgiu Elvis Presley, dando voz a uma geração cansada da caretice dos pais.

A sociedade de consumo não demorou para perceber o potencial do filão jovem. Foi só aí que o rock explodiu na América. E tome filmes, revistas, livros, badulaques, calendários e todo tipo de bugiganga direcionada aos novos consumidores. Elvis, o rebelde, tornou-se uma figura tão familiar aos lares americanos quanto o presidente Eisenhower.

As gravadoras, que nunca gostaram de arriscar, trataram de diluir o rock em fórmulas açucaradas, bem ao gosto do público branco médio. O canastrão Pat Boone, por exemplo, gravou Tutti Frutti, mudando a letra (escrita por Little Richard, negro, homossexual e orgulhoso), para não chocar as boas moças da América. Foi um estouro. Era a tal coisa: “rock sim, mas limpinho, por favor”.

Apesar do sucesso, muita gente previa um fim rápido para o rock. O gênero era visto como uma moda passageira, a exemplo do calipso ou de tantas outras que tiveram seus 15 minutos de fama na América.

Para piorar, os roqueiros passavam por maus bocados no fim dos anos 50: Elvis Presley foi para o Exército, Chuck Berry ficou preso dois anos por ter atravessado uma fronteira estadual com uma prostituta menor de idade, Little Richard abandonou o rock e virou pastor depois de “ouvir o chamado de Deus” durante um vôo turbulento, Jerry Lee Lewis arruinou a carreira ao casar com uma prima de 13 anos, Buddy Holly morreu em um acidente de avião, que matou também Ritchie Valens (La Bamba) e Big Bopper (Chantilly Lace), e Eddie Cochran morreu em um acidente de carro. Quando o futuro do rock’n’roll parecia negro, surgiram os Beatles.

A influência dos Beatles é incalculável. Musicalmente, eles elevaram o rock a um nível até hoje inigualado, estabelecendo parâmetros e modelos para toda a música pop. Suas experimentações abriram novas possibilidades sonoras e ampliaram os horizontes musicais das gerações posteriores. Culturalmente, eles foram igualmente importantes: carismáticos, irreverentes e cheios de sex-appeal, eles surgiram no mundo como um sopro renovador, obliterando a caretice da década de 50 e inaugurando uma era mais livre e esperançosa – os anos 60.

O surgimento do rock e de seus primeiros ídolos – Elvis, Beatles, Rolling Stones – mudou a relação entre a música e o público. Até o rock aparecer, o “músico” – fosse produtor, instrumentista ou compositor – era visto como um profissional muito qualificado. Compositores de “música popular” eram sofisticados como Cole Porter e Irving Berlin; cantores eram Frank Sinatra e Bing Crosby.

O rock democratizou a música pop. Subitamente, qualquer um podia subir em um palco e cantar. Elvis, um caipira ignorante, passou a freqüentar as paradas de sucesso ao lado de Sinatra e Nat King Cole (dá até para entender por que Sinatra, acostumado a trabalhar com músicos experientes, não aceitou o novo estilo: “rock’n’roll é a coisa mais brutal, feia e degenerada que eu já tive o desprazer de ouvir”, disse o “olhos azuis”).

Essa “democracia” do rock teve um efeito imediato: os artistas ficaram cada vez mais parecidos com seu público, tanto em idade quanto em classe social. Os jovens passaram a se identificar mais com seus ídolos, estabelecendo uma relação mais próxima com a música. O rock também passou a buscar na sociedade – especialmente nos jovens – os temas de suas canções. Essa troca fez do rock a música mais popular e culturalmente impactante do século 20.

Para muitos, esse estreitamento entre artista e público também causa um declínio gradual na qualidade da música. A cada ano, um número maior de pessoas sem treinamento musical tem acesso a tecnologias de composição e gravação. Hoje, aparelhos como samplers e placas de som permitem a qualquer um gravar um disco em casa. E popularização raramente é sinônimo de qualidade.

O fato é que nenhuma outra música esteve tão sintonizada com a realidade de seu tempo quanto o rock. Desde os anos 50, ele passou a ser um espelho da sociedade, refletindo a moda, o comportamento e as atitudes dos jovens. Isso fez do rock uma música com prazo de validade, ou seja, tão ligada no “hoje” que corre o risco de sair de moda rapidamente, junto com os temas abordados (para confirmar, basta assistir a qualquer videoclipe de dez anos atrás).

Isso cria situações interessantes: o que é “bacana” e “moderno” para uma geração torna-se ultrapassado para a próxima. Sendo um gênero que se alimenta sempre do novo, o rock’n’roll gera conflito entre seus fãs. Um movimento surge como resposta ao anterior e assim por diante, numa renovação incansável.

Esses conflitos, mais que interessantes, são necessários: sem eles, estaríamos condenados à eterna repetição. Foi a partir desses “rachas” que nasceram alguns dos movimentos mais influentes do rock, como o punk, basicamente uma reação ao comercialismo e à pompa do rock dos anos 70, que havia perdido a identificação com as gerações mais novas. Ao contrário do que ocorria antes do rock’n’roll, agora ficou fora de moda curtir a mesma música que os pais. Mas isso é cíclico, claro: com o passar dos anos, a indústria descobriu o potencial do saudosismo. Hoje, temos canais de televisão que vivem de reembalar artistas velhos como se fossem a última novidade. E veteranos – como o Aerosmith, por exemplo – que, graças a seus clipes na MTV, reinventam-se para um público que nem era nascido quando eles faziam sua melhor música.

Os Beatles são um bom exemplo da capacidade do rock de se adaptar a cada época. Para entender as mudanças ocorridas nos anos 60, basta olhar as fotos do grupo durante o período. Nos primeiros anos, vestidos com terninhos idênticos e cabelos bem penteados, os quatro eram a imagem perfeita do otimismo da era Kennedy. Depois, como todos, abandonaram a inocência: os cabelos cresceram e os sorrisos deram lugar ao cinismo, enquanto Kennedy era morto e a guerra começava no Vietnã. No fim da década, quando jovens faziam passeatas na Europa, Martin Luther King era assassinado e o conflito do Vietnã piorava, os Beatles buscaram consolo espiritual na Índia, renegando o comercialismo ocidental. A banda acabou melancolicamente, junto com uma década que começara cheia de promessas e que terminava em guerra e decepção.

Não foram os únicos roqueiros que se tornaram símbolos de uma era: Bob Dylan, Jimi Hendrix e Jim Morrison também viraram ícones dos anos 60, tanto quanto o símbolo da paz ou o rosto de Che Guevara. Sid Vicious é, até hoje, a imagem mais reconhecível da rebeldia punk. E basta um passeio por qualquer grande cidade para ver, a qualquer hora, jovens usando camisetas com o semblante triste de Kurt Cobain.

Esses rostos passaram a representar mais que a simples paixão por uma banda ou artista: tornaram-se símbolos de um estado de espírito e de um jeito de ser. A iconografia, claro, reduz tudo a seu nível mais rasteiro – e um artista como Kurt Cobain, autor de dezenas de músicas, acabou reduzido a garoto-propaganda do suicídio e da alienação adolescente. John Lennon foi assassinado e virou “marca”, transformado, como Gandhi, em símbolo de paz e amor. Logo ele, que nunca escondeu ter sido um pai ausente e que tratou Paul McCartney como um cachorro sarnento depois do fim dos Beatles. O rock simplifica tudo.

Talvez seja essa a razão de seu sucesso. Como bem disse Gene Simmons, do Kiss: “Eu não sou Shakespeare. Mas ganhei muita grana e transei com mais de 4 mil mulheres. Tenho certeza de que Shakespeare trocaria de lugar comigo a qualquer hora”. Quem duvida?

Os 50 discos que fizeram o rock·n·roll

Quer você goste, quer não, essas sãoas obras que romperam barreiras, criaram estilos e marcaram a história do rock

1. The King of Rock and Roll – The Complete 50s Masters - Elvis Presley, 1992

Elvis em sua melhor fase, antes de entrar para o Exército e voltar mansinho

2. Chuck Berry – Anthology - Chuck Berry, 2000

O verdadeiro criador do rock’n’roll e melhor compositor entre os pioneiros do gênero

3. The Essential Little Richard - Little Richard, 1985

O intérprete mais explosivo do início do rock revolucionou a música com seus gritos e sua vibração

4. The Classic Years - Motown, 2000

Uma das gravadoras mais influentes dos anos 60, meca da soul music norte-americana

5. Please Please Me - Beatles, 1963

Eles chegaram como um sopro renovador e fizeram a trilha sonora perfeita para o otimismo do início dos anos 60

6. The Freewheelin’ Bob Dylan - Bob Dylan, 1963

O rock amadurece: pela primeira vez, as letras valem tanto quanto a música

7. Live at the Apollo - James Brown, 1963

O grito primal do funk, por seu maior intérprete

8. The Who Sings My Generation - The Who, 1965

Até então, ninguém havia feito um rock tão radical e barulhento; para muitos, o nascimento do punk

9. Blonde on Blonde - Bob Dylan, 1966

O atestado de maioridade de Dylan; depois disso, o rock não tinha mais desculpa para a ingenuidade

10. Pet Sounds - Beach Boys, 1966

Um sonho adolescente, embalado pelo pop mais perfeito e cristalino. “O maior disco da história”, segundo Paul McCartney

11. Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band - Beatles, 1967

Auge do experimentalismo do rock. Definiu sua geração e criou novos horizontes para o pop

12. Between the Buttons - Rolling Stones, 1967

Os rebeldes mostram que também têm coração

13. Are You Experienced? - Jimi Hendrix, 1967

Hendrix desfila todo seu arsenal: microfonia, psicodelia, distorção e um pé fincado na tradição do blues

14. The Velvet Underground and Nico - Velvet Underground, 1967

Inaugurou a melancolia no pop. Fez contraponto ao otimismo hippie

15. The Doors - The Doors, 1967

Pessimista e dark, embalado pela angústia existencial de Jim Morrison, na contramão do sonho hippie

16. We’re Only In It For the Money - Frank Zappa and the Mothers of Invention, 1968

Satiriza o hippismo e antecipa o fim do sonho

17. The Village Green Preservation Society - The Kinks, 1969

Os Kinks enxergam além de guitarras barulhentas e fazem o seu Sargent Pepper’s

18. Kick out the Jams - MC5, 1969

Que paz e amor nada! Neste explosivo disco ao vivo, o MC5 pregava revolução, guitarras e amor livre

19. Live Dead - Grateful Dead, 1970

Longas explorações psicodélicas, no melhor momento de uma verdadeira instituição californiana

20. Black Sabbath - Black Sabbath, 1970

Para muitos, uma brincadeira de mau gosto. Para os fãs, um disco que sepultou a inocência dos anos 60 e inaugurou o heavy metal

21. Funhouse - Iggy Pop and the Stooges, 1970

Blues, John Coltrane e punk: a fórmula de Iggy Pop neste verdadeiro clássico do niilismo

22. Greatest Hits - Sly and the Family Stone, 1970

A música negra como arma de guerra: segundo Sly Stone, a revolução só se daria com o povo dançando nas ruas

23. Led ZepPelin IV - Led Zeppelin, 1971

Jimmy Page e sua gangue se escondem por trás do ocultismo e fazem um clássico do hard rock

24. Exile on Main Street - Rolling Stones, 1972

Os Stones esquecem a pose de maus e concentram-se no que sabem fazer melhor: música sublime

25. Ziggy Stardust - David Bowie, 1972

Uma ópera-rock sobre androginia e extraterrestres. Bowie cria um mundo de fantasia e sonho, que inspirou o punk e a new wave

26. Harvest - Neil Young, 1972

Obra-prima do country rock em uma época de cantores “sensíveis”, como James Taylor e Carole King

27. Transformer - Lou Reed , 1972

O subterrâneo nova-iorquino, com prostitutas, traficantes e bêbados, pela imaginação mórbida de Lou Reed

28. New York Dolls - New York Dolls, 1973

Guitarras altas, batom e roupas de mulher: os New York Dolls confrontavam com bom humor a macheza do rock da época

29. The Dark Side of The Moon - Pink Floyd, 1973

Questionamentos sobre loucura e solidão, embalados pela música mais triste a chegar ao topo das paradas

30. Ramones - Ramones, 1976

Em contraponto ao rock “sério”, quatro desajustados cometem este pecado sonoro, sem solos nem pretensão. Nascia o punk

31. Never Mind the Bollocks - Sex Pistols, 1977

O conflito de gerações em forma de disco: “Somos feios, sujos e não gostamos do que está acontecendo”

32. Talking Heads: 77 - Talking Heads, 1977

O punk cresce e amadurece; o funk de branco do Talking Heads prova que há cabeças pensantes na geração 77

33. Parallel Lines - Blondie, 1978

O dia em que o punk e a new wave fizeram as pazes com o pop. Som comercial sem abdicar de seus ideais

34. Unknown Pleasures - Joy Division, 1979

Velvet Underground para as novas gerações: sombrio e mórbido, vê um mundo mais sem futuro que o do Sex Pistols

35. The Specials - The Specials, 1979

O punk inglês se mistura ao ska jamaicano, que havia anos habitava os bairros mais pobres da Inglaterra

36. Double Fantasy - John Lennon e Yoko Ono, 1980

Depois de passar anos fazendo discos políticos, Lennon e Yoko assumem a maturidade e gravam pelo simples prazer de criar

37. London Calling - The Clash, 1980

Está tudo aqui: rockabilly, reggae, ska, jazz. O grande disco que define o fim da adolescência no punk

38. Heaven Up Here - Echo and the Bunnymen, 1981

Grandioso demais para se encaixar em algum movimento musical, marca o amadurecimento do pós-punk

39. Power, Corruption and Lies - New Order, 1983

O rock abraça a música eletrônica e prova que música “de computador” também pode ter coração

40. The Head on the Door - The Cure, 1985

O Cure embala a morbidez no pop mais acessível e leva a melancolia às massas

41. The Queen is Dead - The Smiths, 1986

O rock esquece os vencedores, celebrando os desajustados, tímidos e fracassados

42. Licensed to Ill - Beastie Boys, 1986

Três espertalhões juntam rap e heavy metal e criam música negra para jovens brancos

43. The Joshua Tree - U2, 1987

O U2 ressuscita o rock político – e os fãs, apolíticos, compram sem perceber a intenção

44. Daydream Nation - Sonic Youth, 1988

Os intelectuais da guitarra fazem uma perfeita radiografia de uma geração sonada pela MTV e pelo rock comercial

45. It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back - Public Enemy, 1988

Um libelo contra a manipulação da mídia, o “embranquecimento” da América de Reagan e o racismo

46. Out of Time - R.E.M., 1991

Rock de gente grande, com ambição e propósito, apesar do lustro pop e do imenso sucesso comercial

47. Metallica - Metallica, 1991

Representou, para a geração MTV, o que Black Sabbath foi para os jovens em 1970: a celebração da negação

48. Nevermind - Nirvana, 1991

O dia em que o punk encontrou a MTV: um disco que destruiu barreiras e que tornou obsoleto todo o rock vagabundo do fim dos anos 80

49. BloodSugarSexMagik - Red Hot Chili Peppers, 1991

Fãs de Korn e Limp Bizkit vão chiar, mas a verdade é que todo o funk metal e o nu metal começaram aqui

50. OK Computer - Radiohead, 1997

Um disco gélido, cerebral e triste, sobre a dificuldade de comunicação no fim do século. Paradoxalmente, foi um sucesso

Frases

"Por que jovens gostam de rock? Ora, porque os pais não gostam, é claro!"

Chuck Berry

"Se você se lembra dos anos 60, é porque não estava lá."

Robin Willians

"Eu odeio o Pink Floyd."

Frase escrita na camisa de Johnny Rotten, dos Sex Pistols

"Eu sou uma garota material, vivendo num mundo material."

Madonna

"Meu sonho e viver num mundo onde Lenny Kavitz nõ seja chamado de ·rock·"

Mark Arm, Mudhoney

O berço do rock

O rock’n’roll nasceu da misturade cinco gêneros distintos da música americana. São eles

Northern Band Rock’n’Roll

Espécie de versão com guitarra e baixo do som das big bands de Kansas City. O maior nome do estilo era Bill Halley (Rock Around the Clock)

New Orleans Dance Blues

Gênero em que predominavam baladas, tendo o piano como instrumento principal. Little Richard e Fats Domino se destacavam

Memphis Country Rock

Também chamado de rockabilly, era basicamente música caipira branca, tocada com guitarra elétrica. A gravadora Sun, descobridora de Elvis, era a meca desse ritmo

Chicago Rhythm and Blues

Versão negra do rockabilly, que teve em Chuck Berry e Bo Diddley seus mestres

Grupos Vocais

Sem instrumentos, usavam somente o gogó, em arranjos lindos. Frankie Lymon and the Teenagers era o grande sucesso

Fonte: The Sound of the City, de Charlie Gillett (Souvenir Press, EUA, 1971)

Os revolucionários

Dez nomes que mudaram o rock·n·roll

Chuck Berry

O primeiro grande compositor do rock criou riffs copiados até hoje (“Roll Over Beethoven”, “Maybellene”). Compôs rocks, blues e baladas e foi também o primeiro grande “fora-da-lei” do rock’n’roll, tendo sido preso várias vezes quando adolescente (e outras várias vezes depois)

Beatles

Lançaram, entre 1965 e 67, três álbuns – Rubber Soul, Revolver e Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band – que elevaram o rock a um nível artístico nunca visto. Daí experimentaram de tudo: música indiana, fitas rodadas de trás para a frente, sons de pássaros, LSD... E o rock nunca mais foi o mesmo

Bob Dylan

O primeiro grande letrista do rock. Cantor folk, chocou a platéia ao subir no palco com uma banda de rock, em 1965. Muitos previram um fracasso quando lançou Like a Rolling Stone: a música tinha seis minutos de duração, o triplo da média das canções do rádio. Foi seu primeiro grande sucesso

Brian Wilson

Mesmo surdo de um ouvido e abalado para sempre por causa dos socos que levava do pai, o líder dos Beach Boys compôs alguns dos momentos mais sublimes da música pop. Queria superar os Beatles, que considerava os únicos capazes de rivalizar com seu talento

Rolling Stones

Eram o contraponto mal comportado à simpatia dos Beatles. Foram os primeiros a subir no palco com as roupas que usavam no dia-a-dia, sem os “uniformes” usados pelas bandas – um choque na época. Resgataram o blues de Muddy Waters e Willie Dixon e exploraram a psicodelia e a música soul

Phil Spector

O mais influente produtor musical dos EUA nos anos 60. Aos 18 anos já tinha uma música no Top 10. Revolucionou as gravações com sua técnica de gravar vários instrumentos na mesma faixa, para criar uma sonoridade densa e poderosa

Jimi Hendrix

Revolucionou a guitarra e tornou-se o músico mais influente e inovador de sua geração. Seu estilo único unia o blues a distorção e microfonia. Quão bom ele era? Eric Clapton responde: “Uma vez, Jimi subiu conosco no palco e tocou Killing Floor, de Howlin’ Wolf, que eu nunca consegui tocar direito. Todo mundo ficou de boca aberta”

David Bowie

O “camaleão” do rock fez de tudo: foi menestrel hippie (anos 60), inventou o glam rock, influenciou o punk e a new wave e embrenhou-se por sons eletrônicos (anos 70). Fez dance music e trilhas para o cinema (80). Sua capacidade de se reinventar não tem paralelo no pop

Sex Pistols

Em 1976, o rock vivia uma fase tediosa, com artistas milionários tocando em estádios. Em oposição a eles, grupos como Sex Pistols, Ramones e The Clash criaram o punk, uma música crua e direta. Estouraram na Inglaterra e provaram que não era preciso ser bonito e comportado para chegar ao topo das paradas

Kurt Cobain

Conseguiu, como ninguém, capturar em música o espírito da geração MTV, marcada pelo tédio e pela paralisia em face do domínio corporativo. O Nirvana foi um caso raro de banda alternativa que fez imenso sucesso comercial e abriu caminho para dezenas de outras

10 grandes momentos do rock

Benjamin Franklin “descobre” a eletricidade (junho de 1752)

O velho Ben soltou uma pipa no meio de uma tempestade e mudou o mundo

Elvis grava um disco para a mãe (4 de janeiro de 1954)

Um caminhoneiro pobre entra nos estúdios da gravadora Sun, em Memphis, e grava um acetato para dar de presente à mãe. Meses depois, quando precisou de um cantor para gravar um compacto, o dono da Sun, Sam Phillips, lembrou-se do rapaz, Elvis. Nascia o rock’n’roll

Morte de Buddy Holly (3 de fevereiro de 1959)

Buddy Holly, Ritchie Valens e Big Bopper morrem num desastre de avião, depois de um show. Foi a primeira grande tragédia do rock, um evento que ficou marcado como “o dia em que a música morreu”

Beatles aparecem no programa de Ed Sullivan (9 de fevereiro de 1964)

Mais de 50 mil fãs brigaram pelos 703 ingressos disponíveis no estúdio da CBS. Os Beatles cantaram cinco músicas e foram vistos por 73 milhões de americanos. Nascia a Beatlemania

Beatles encontram Bob Dylan (28 de agosto de 1964)

Num hotel de Nova York, o quarteto de Liverpool foi apresentado ao maior bardo do rock e, pela primeira vez, fumaram maconha. O encontro motivou o grupo a abandonar as canções adolescentes. Ali começou a fase psicodélica dos Beatles

Woodstock: lama e paz (15 a 17 de agosto de 1969)

O auge do sonho hippie: meio milhão de pessoas se reuniram para celebrar a paz e o amor, sem policiais ou chuveiros para atrapalhar. Foram três dias de lama, drogas e muito rock’n’roll, ao som de The Who, Jimi Hendrix, Santana, Joe Cocker, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin, Grateful Dead e muitos outros

Altamont: violência e morte (6 de dezembro de 1969)

O fim do sonho hippie: concebido pelos Rolling Stones, o festival de Altamont terminou em tragédia quando uma gangue de motoqueiros da facção Hell’s Angels, contratada para fazer a segurança do evento, matou a pauladas um jovem negro. Outras três pessoas morreram na noite: duas atropeladas enquanto dormiam e uma terceira afogada

Sex Pistols xingam a Rainha DA INGLATERRA (maio de 1977)

Em uma esperta jogada de marketing, os Pistols lançaram o compacto “God Save the Queen” a tempo de esculhambar as comemorações do Jubileu da Rainha. O disco foi banido das rádios do país, mas tornou-se o segundo mais vendido

Estréia da MTV (1 de agosto de 1981)

Antes da MTV, o principal meio de divulgação para artistas era o rádio. Logo as gravadoras perceberam o potencial do novo canal e passaram a investir mais em clipes. A imagem de uma banda passou a ser tão importante quanto sua música. Surge a “geração MTV” com estrelas como Madonna, Duran Duran, Prince e Michael Jackson

Michael Jackson compra o catálogo dos Beatles e Elvis Presley (setembro de 1985)

Hoje, ninguém pode usar uma música dos Beatles ou de Elvis sem pedir licença a um homem que pendura o próprio filho de uma janela e que admite ter feito vodu contra Steven Spielberg

Da Fúria à melancolia ...

O livro “Da Fúria à Melancolia” (Editora UFS, 2010, 377 páginas) é uma publicação de teor acadêmico (uma tese de doutorado) realizada pelo professor e músico sergipano Hugo Leonardo Ribeiro. Apesar do enfoque, tangencia do lugar comum por abordar um gênero musical – Metal – mantendo o caráter didático e cultural, numa linguagem acessível. Hugo é músico, professor universitário na UnB com doutorado em Etnomusicologia. Foi guitarrista do Warlord, conhecida banda sergipana de heavy metal dos anos 90. Sua tese livro é sobre o gênero Metal, apresentando três casos de subgêneros surgidas na cena underground de Aracaju (CRUA) – as bandas The Warlord, Sign of Hate e Scarlet Peace. É um estudo de cunho universal, pois serve de referência para outros cenários de mesma linguagem. O livro apresenta detalhes técnicos sobre composições, estudos de comportamento, além do contexto histórico com registros fotográficos e até partituras de músicas. Um trabalho precioso de pesquisa, bem produzido e recomendável para pesquisadores, músicos e demais interessados pelo Metal. Conversei com o autor sobre a importância desse trabalho:

A tese deu origem ao livro ou essa publicação estava projetada assim mesmo?

Hugo: Sim, o livro é uma reprodução da tese. Com pequenas modificações somente.

Era pensamento seu registrar algo histórico como a cena rock em Aracaju?

Hugo: Após ter feito, durante o mestrado, uma pesquisa sobre os chamados grupos “folclóricos” (também publicado em livro sob o título “As Taieiras”), me ensinando bastante sobre o necessário distanciamento para uma visão científica do objeto de estudo, resolvi que, para o doutorado, gostaria de trabalhar com um repertório musical que me agradasse mais. Que fosse mais próximo do meu gosto pessoal. Escrevi um pequeno texto sobre a cena underground em Aracaju, que apresentei num congresso em 2003 e daí veio a idéia. A intenção sempre foi a de identificar essas fronteiras estilísticas que os insiders conhecem tão bem, mas que os outsiders desconhecem. E o pior é que eu pensei que conhecia até começar a fazer a pesquisa. Até então, nunca tinha ouvido Death ou Black Metal. Fiquei encantado. Logo, como iria trabalhar com essa cena, uma perspectiva histórica seria necessário. Sei que ainda está longe do ideal, mas já é alguma informação sobre como foi à cena há algumas décadas atrás. Logo depois de ter escrito a tese, minha intenção foi a de organizar um livro coletivo sobre a história da CRUA, sob a perspectiva dos participantes de cada época. Seria um livro com mais ou menos dezesseis capítulos organizados em décadas: 1970, 1980, 1990, 2000. Daí eu convidaria quatro pessoas que participaram ativamente em cada uma dessas décadas para escrever sobre suas experiências e fatos interessantes. A idéia continua viva, só estou muito ocupado no momento para pô-la em prática…

Você concorda que somos carentes em publicações à respeito da música underground em todo país?

Hugo: Sim, mas isso está mudando aos poucos. O problema é que, só temos revistas que fornecem informações sobre o que acontece no Rio e São Paulo. Outras cenas ficam sem voz. O que é muito interessante, pois viramos o underground do underground, hehehe. Isso muda um pouco se levarmos em consideração os fanzines locais ou regionais, mas que têm pouca projeção nacional, o que não agrega legitimação ao seu conteúdo. No entanto, os metaleiros de ontem estão se tornando os pós-graduados de hoje, e nada mais natural que eles procurem fazer pesquisa nessa área obscura por natureza (ou por ideologia). Logo, algumas áreas chave já estão produzindo diversos textos sobre as mais diversas cenas underground no Brasil: Comunicação, Literatura, Sociologia e Antropologia. Tem até um trabalho em Geografia sobre a cena punk em Londrina-PR. Só recentemente que a música tem aberto espaço para esse tipo de pesquisa. O mundo acadêmico da música é muito conservador. A minha foi a primeira tese de doutorado (quiçá de pós-graduação) em música a abordar Metal. Logo em seguida veio a da Cláudia Azevedo, sobre o Black Metal, da qual tive a honra de ser convidado para a banca. E o mais legal é que aos poucos esse material vai sendo publicado.

Qual a tiragem do livro e de que forma você está comercializando?

Hugo: O livro teve tiragem inicial de 500 cópias e foi publicado pela Editora da Universidade Federal de Sergipe. Eles me deram 100 cópias, que já foram quase todas distribuídas entre colegas, participantes da cena e outros. O livro pode ser adquirido diretamente pela Editora da UFS no site <> ou pelo email <>. Também está sendo vendido pela livraria e editora Musimed através do site <>.

Como você se sente em ter realizado esse trabalho?

Hugo: Gostei muito do resultado. Aprendi muito conversando com todos os envolvidos na pesquisa, e abri muito mais minha cabeça para sons que eu não ouvia/entendia. Hoje ouço muito metal extremo como Carcass, Napalm Death e Dying Fetus. Espero que, os poucos que se aventurem a ler esse texto, mesmo que pulem as partes muito técnicas da análise musical, consigam ter uma visão mais abrangente do que é uma cena metal. Creio que esse deva ser o objetivo de toda pesquisa científica, mudar o estado das coisas. Estou feliz

Quais os comentários que tem recebido sobre ele?

Hugo: Na verdade, poucas pessoas tiveram a oportunidade de ler com calma e na íntegra o livro. É um lançamento recente e, como disse anteriormente, existe uma parte muito específica de análise musical que afasta os leigos. Mas os poucos que me deram um retorno disseram que gostaram muito do livro. Principalmente porque a escrita é leve e fácil de ser entendida. Em 2009 fui até Colônia, na Alemanha, apresentar uma comunicação num congresso sobre Metal e Gênero. Foi um pequeno resumo das análises musicais da tese. E a turma lá gostou muito do trabalho, e das bandas. Principalmente da Scarlet Peace. A Deena Weistein, autora do livro “Heavy Metal: its music and its culture”, publicado em 1991, uma das primeiras pessoas a escrever sobre Metal no mundo, gostou muito da banda The Warlord. Ela disse que seria natural, já que adora o Manowar e que ambas têm muito em comum. Logo, ao tempo que estou disseminando um pouco mais de informação sobre a cultura metal em geral, estou levando um pouco das bandas sergipanas para um público maior. E isso em si já é gratificante. São bandas sérias que estão em constante melhora, e merecem serem conhecidas.

Você vivenciou esse cenário underground tocando numa banda de metal. Poderia fazer uma abordagem do que é ter uma banda e ser músico no meio independente?

Hugo: É ter amor à música. Só tem banda nessa cena, e que permanece ativa por anos ou décadas (como as estudadas) é quem toca por prazer. Obviamente existem aqueles que fazem bandas ou entram em bandas somente para obter algum tipo de reconhecimento local ou factual. Mas esses rapidamente desistem, pois essa noção de sucesso é efêmera nesse contexto. Uma banda como a Scarlet Peace, por exemplo, não faz música para ganhar dinheiro. Muito ao contrário. O gasto pessoal e financeiro que é exigido para manter uma banda com um nível de qualidade razoável é muito alto. Logo, pagamos para tocar. Essa é a verdade. Mas fazemos com prazer. Quando o prazer acaba, fica insustentável manter uma banda desse tipo. Foi o que aconteceu com a The Warlord. Boa parte dos músicos perdeu o prazer de tocar como diversão, como o hobby do final de semana. E por isso a banda não conseguiu se manter. Nessas horas, é sempre possível trocar os integrantes, mas é muito desgastante para um membro, como Otávio, segurar a onda toda nas costas. Ter banda é dividir responsabilidade. É diferente de projetos solos. E nós vemos muito poucos projetos solos na cena underground. É caro manter e muito desgastante. Tenho vivido com músicos profissionais (de música Pop ou de orquestras) e são os piores para se fazer uma banda, pois são muito mercenários. Só querem formar uma banda ou tocar em algum evento se houver retorno financeiro. Muitos deles se esqueceram de fazer boa música (seja lá o que isso for) somente pelo prazer de fazer e se sentir capaz de fazê-la. Sei que o músico precisa comer. (ver poesia de André Agui em: http://andreagui-livros.blogspot.com/2009_12_01_archive.html). Mas e a diversão, onde fica? Fico triste de não conseguir voltar a tocar o que quero e gosto. Seja por que os bons músicos só querem tocar por dinheiro, ou não tem tempo. Seja por que quem quer tocar por diversão é muito novo, sem qualidade técnica ou responsabilidade. Hoje me sinto deslocado. Terei que me adaptar para fazer música de alguma forma. Ou então, fazer como um amigo e excelente guitarrista: ficar tocando com playback no quarto.

O gênero Metal vem mantendo uma linha sonora ao longo dessas décadas sem perder a essência, apesar de incrementos adicionados durante esse tempo. Existe algo especifico que possa definir essa verdade?

Hugo: Como descrevo no livro, o Metal vem se transformando muito durante todo esse tempo e, atualmente, existem pouquíssimas coisas que você reconheça como comum a todos os estilos. Por exemplo, não é velocidade (vide o Doom Metal), nem virtuosismo. Não é a presença ou ausência de um instrumento como o teclado. Nem a qualidade vocal agressiva (vide bandas de Metal com vocais femininos líricos, ou o próprio Helloween na fase do Michael Kiske). Diria que, o único elemento que caracteriza uma banda de metal é o fato da maioria das músicas serem baseadas em riffs de guitarra distorcida. Digo maioria, pois ainda assim, existem as baladas a la Scorpions, que são importantíssimas na cena.

Contato: hugoleo75@gmail.com

Fonte: Yellow Domain

por Jesuino André

terça-feira, 12 de julho de 2011

Do Sol Latente Ao Cinza das Ruas

"Inanição", o terceiro disco da Karne Krua, saiu, finalmente. Encontra-se à venda a partir de hoje, 13 de julho de 2011 ( Dia Internacional do rock ) na loja Freedom, que fica na Rua Santa Luzia, 151, no centro de Aracaju, próximo à catedral Metropolitana. Na próxima sexta-feira os caras da banda estarão ao vivo nos estúdios da Aperipê FM para contar como foi esta saga no programa de rock.

Abaixo, um texto de Alexandre Gandhi, o guitarrista da banda, sobre o disco:

Voltando um pouco no tempo acho que dá para se localizar melhor. Lembro claramente que quando eu tocava na Gee-o-Die eu andava muito na Freedom quando a loja era na Galeria Cortês, na Rua São Cristovão, em frente ao Edifício Futuro. Tudo nessa cidade, para quem vive nela, é tão parte de si, que acaba por se lembrar de muitos momentos em certos lugares da cidade, para não dizer em quase todos. Anos depois tive uma experiência artística fora do comum, já cursando Artes Visuais pela UFS, naquele edifício. Aquela área da cidade já era muito comum para mim, mesmo antes de andar na galeria com Thiago Stress, fumando Malboro vermelho e trocando idéias com Silvio sobre Rock. Era o tempo todo ali, sentado na escadaria, fumando cigarro e ouvindo rock. O Rock-SE já havia passado e quem tinha ido, principalmente os mais iniciantes no mundo do rock, se sentiam mais rockeiros depois daquele evento. Sim, havia visto a Karne Krua lá no Batistão e não tinha gostado tanto assim. Mas as idéias estavam mudando, o hardcore estava tomando conta da cabeça quando antes só era ocupada pelo metal e algumas outras bandas, as coisas estavam mudando. Sim, estavam mudando tanto que a minha banda tinha saído dos tempos de covers e começava a tocar musicas próprias, o que era bastante legal. Meio que lá, meio que cá do hardcore melódico, mais puxado pra o HC Oldschool, os sons saiam e a banda ia tomando forma. Silvio gostava bastante da Gee-O-Die e começou a distribuir fitinhas de "Fúria, Revolta e Dor" para o Braisl inteiro junto com suas correspondências. Virava e mexia eu recebia uma carta de alguém de algum recanto escondido nos submundos anarcopunks querendo saber do som da Gee-O-Die. E eu mandava mais fitas para fora, muito mais fitas...

E foi assim que minha amizade com Silvio começou. Foi ali na Galeria Cortês que eu conheci quase tudo da Karne Krua. Acho que o trabalho mais fresco era o "Máscaras para o Caos", mas me lembro de ter gostado bastante de "Instantes Irreversíveis". Musica visceral naquela fita K7. E eu me borrava todo quando ouvia "As Crianças da Usina Nuclear", assim como me borrava quando ouvia "Animal Boy" dos Ramones. Interessante, não havia gostado do Ramones de primeira, nem tão pouco da Karne... agora me borrava todo ouvindo. E foi assim que virei um aficcionado por ambas. Muito mais pela Karne Krua. E em pouco tempo eu já tinha o maior número possível de material e já sabia quase tudo de trás pra frente e de frente pra trás. E minha amizade com Silvio crescia e a minha estadia no rock sergipano parecia duradoura.

E no passar do tempo a Gee-O-Die acabou. Os motivos: não sei se dá para listá-los. Acho que o gosto já não era comum, cada um da banda estava gostando de uma coisa, e naquela imaturidade onde Tennage Fan Club ou Belle e Sebastian nunca rimará com Agathocles a banda acabou. Mas eu tinha entrado pra a Merda di Mendigo e aquilo sim me manteria no rock - na verdade ali foi uma grande escola pra mim... não é a toa que a parada foi parar na Da Boca Ao Reto, pra mim, o som perfeito, nada a dever a meio mundo de banda que pago pau. Enfim, aqui o assunto é Karne Krua...

Quando comprei minha primeira guitarra, a qual toco até hoje, Wendell foi quem deu uma tocada nela antes que eu a levasse. Eu era um pivete que não sabia tocar nada e Wendell estava na loja. Pegou a guitarra e começou a tirar um som. Senti que a guitarra tinha timbre, tinha potencial, só faltava eu saber tocar. Ele confirmou que era uma boa guitarra e realmente hoje acho ela uma ótima guitarra, está comigo até hoje. E muito tempo passou até eu sacar que Wendell tocava na Karne Krua naquela época... parece coisa de destino traçado, viagem... e muitas formações passaram pela Karne e naquele Rock-SE a formação era Dejair no baixo, Valdeleno na bateria e Wendell na guitarra, e mesmo naquele show eu ainda não sabia que era Wendell que tinha tocado na minha guitarra quando eu a comprei... isso não importava, a banda não tinha me agradado mesmo.

Mas o tempo passou e como eu havia dito fiquei fã da banda, um pouco depois do Rock-SE, quando conheci Silvio. E Valdeleno saiu da bateria. Rony entrou rapidamente e a Karne Krua não era mais a mesma. Tinha algo de errado. Senti vergonha de um show que eles fizeram no antigo Tequila Café. Um show horrível. Sendo amigo de Silvio, acabei comentando sobre o show e a opinião foi igual. Show horrível. Algum tempo depois, Max Alberto, que estava participando da Karne como uma espécie de ajudante ideológico (a Karne Krua, com Instantes Irreversíveis, se aprofundou no tema do êxodo rural, seca nordestina e miséria do homem do campo), começou a cantar junto com Silvio. "Máscaras para o Caos" foi lançada e, provavelmente, já havia sido lançado o embrião para o disco Em Carne Viva. A banda tava sem baterista... e agora?

Eu: Silvio, porque você não chama Thiago Babalu pra tocar na Karne?

Porra, ele é um bom baterista, será que ele toparia tocar?

Vou falar com ele, se ele aceitar eu já passo algumas músicas pra ele. Gravo em K7 das fitas que tenho e passo pra ele, ok?

Tranqüilo, depois você me diz o que ele disse.

E Babalu aceitou tocar na Karne Krua. Passei uma fitinha de 90 minutos com meio mundo de som da Karne. Nem sei se foi fita de noventa minutos, só sei que a fita tinha som pra burro, a Karne Krua tem bem mais que 70 composições, tirem por ai... e Babalu caiu direto em estúdio pra gravar o "Em Carne Viva". Tava lá acompanhando as gravações de perto.

Eu: Babalu, a bateria é assim, pára no prato de ataque, trá tun tun tum. Sacou?

E o fi-da-peste pegou tudo certinho e gravou o disco. Esgotado por sinal... e ficou tocando na Karne por um bom tempo... e fez show de lançamento do cd e meio mundo de show por ai...

Certa vez, na antiga Casa Laranja, me encontrei com Max Alberto. Nos víamos direto nos shows e começávamos a conversar. E sempre o assunto era a Karne Krua, era o lirismo, era a força do hardcore da Karne. Eu, entrão todo, disse: cara, queria ver um ensaio da Karne, quem sabe tirar um som com vocês. Max disse: apareça no estúdio tal do Augusto Franco. Nesse tempo a Karne era Mazinho na guitarra (que havia gravado baixo no Em Carne Viva), Jamesson no baixo, Silvio, Max e Babalu. E Lá fui eu, para o ensaio, com minha guitarra. E como já era muito amigo de todos, fui incorporado ao ensaio tranquilamente. E como já sabia as músicas todas, tocar algumas delas não foi problema, e como o entrosamento com Sílvio já era grande, nasceu a partir de uma idéia dele "Infinitivos", um dos primeiros sons do pretenso "Do Sol Latente Ao Cinza das Ruas".

Esse era o nome do disco: Do Sol Latente Ao Cinza das Ruas. A formação seria: eu estabelecido na guitarra da Karne Krua, Mazinho na outra guitarra, Jamesson no baixo, Silvio e Max cantando e Babalu na bateria. Essa formação tava mais afiada que punhal de cangaceiro, mais amolado que espada de samurai. Fizemos muitos shows com essa formação, cada um mais destruidor que o outro. Até o dia em que fomos tocar com Marcelo Nova no Mercado Central. Evento bacana, inusitado, como foi inusitada uma mega discussão entre alguns integrantes da banda e produtores do evento (que eram envolvidos com a banda) em pleno palco, durante o show. Coisa de doido! "Vá se fuder!", "Vá tomar no cu" e outras frases delicadas foram trocadas. E essa formação da Karne começou a passar.

Max já saiu do palco desse show sem ser integrante da banda. Mazinho saiu logo depois, por motivo de trabalho. Restaram eu, Silvio, Jamessom e Babalu e algumas músicas do disco que iria ser feito.

Fizemos muitos shows. A banda continuava afiada e cada vez mais pesada. Cada show era uma porradaria só. Parece que as dificuldades estavam deixando a Karne mais revoltada. E vários show foram feitos com essa formação. Já não sabia ao certo quanto tempo estava na Karne Krua. É como se entrasse num lapso temporário que não importava, só a força dos fatos.

Eu e Babalu estávamos tocando na Da Boca Ao Reto e estávamos esbagaçando por lá. Arregaçando caixa de bateria e cubos de guitarra. Uma gritaria dos infernos. Uma doidera literalmente. E isso veio parar na Karne Krua. Musicas mais complexas, mais trabalhadas e mais destruidoras.

Estávamos com quase tudo pronto para o novo disco quando nas carreiras Babalu teve que ir pra São Paulo. E Jamesson também. Um corre corre danado para deixar registradas as baterias do novo disco. Babalu gravou e poucos dias depois partiu para a cidade grande para iniciar o ciclo do êxodo rural. Para Jamesson nem deu tempo de gravar os baixos, algumas músicas não estavam realmente acabadas.

E a Karne Krua secou. Secou como rio intermitente. E sobrou eu e Silvio e uma gravação de bateria.

"Meu irmão, o que vamos fazer?", indagou Silvio.

É Silvio. Vamos gravar o disco. Nem que eu banque essa gravação, vamos terminar esse disco, temos a bateria gravada. Vamos chamar outras pessoas pra tocar na banda, mas essa gravação é da nossa obrigação acabar, vamos acabar nós dois.

E foi desse jeito que "Do Sol Latente Ao Cinza Das Ruas" foi gravado. Eu acabei gravando baixos, guitarras e backing vocals. E de tão seco que foi gravar, acabou por virar "Inanição", música que quando gravada se destacou dentre as outras, pois sintetizava tudo que o disco queria dizer. Inanição. E desde que a bateria foi gravada até a ultima etapa do disco passou-se tempo suficiente para maturar uma nova formação, novas composições surgiram, mas um foco lá atrás, naquele disco que ainda não estava nas ruas, aquele disco que nasceu ideologicamente em outro tempo, juntamente com outras pessoas, que não mais participam do grupo, mas emanaram as suas energias para as composições e o fundamento teórico. "Inanição" é um disco que a Karne Krua não mais lançará, não mais conseguirá compor. É um disco que já nasce velho, mas como todo velho é cheio de sabedoria, cheio de história para contar. Sem sombra de dúvidas é um disco que considero um dos melhores do rock sergipano (falo como fã, antes mesmo de ser integrante da banda, e antes mesmo de ter gravado o disco, porque o disco não me pertence, ele pertence a uma banda que tem quase a minha idade, e não consideraria uma pessoa dois anos mais nova inferior a mim).

Lembro das palavras de Walter Benjamin sobre a autonomia da obra de arte. Ele dizia que a peça, quando finalizada, adquire a aura da obra de arte. E é essa aura que faz com que saibamos, mesmo sem saber ao certo, que ali está uma obra de arte. Esqueçam as abordagens sobre reprodução do teórico da Escola de Frankfurt. Disco é isso, é reprodução, mas a música tem o poder da mais perfeita das manifestações artísticas: o poder de seduzir por sons, algo perfeitamente abstrato. E eu nunca imaginaria naquele dia, naquela loja localizada lá na Praça da Catedral, que aquela guitarra um dia ia gravar um disco da mesma banda do cara que testou a guitarra pra mim, quando eu arranhava meus primeiros acordes...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

(*) Celebrate good times, c´mon ...

Não poderia deixar de fazer aqui o registro da verdadeira celebração que foi a noite de lançamento do primeiro CD da The Baggios sexta-feira passada na Rua da Cultura. Quem não foi, perdeu uma das melhores noitadas “rock” que esta cidade já viu ...

Cheguei por volta das 23:00H (o show estava marcado para as 21) e tive dificuldade para estacionar o carro. De longe já via a multidão na praça Camerino, até pensei que por algum motivo o show havia sido transferido para o meio da praça, o que seria uma espécie de reedição dos festivais “clandestinos”, que aconteciam no final dos anos 80, mas ledo engano: ainda não havia começado, como suspeitava. Ok, normal, esta cultura de atrasos vai ser mesmo difícil de mudar, já que entramos, há bastante tempo, num círculo vicioso: as bandas atrasam o início do show porque o público demora a chegar, e o público demora a chegar porque os shows sempre demoram pra começar.

Me parece que já estava rolando a peça de teatro que abriria a noite, “cabaret dos insensatos”, mas eu não vi porque acabei me distraindo com o bom e velho bate-papo de porta de show, desta vez “turbinado” pelo fato de que o evento tirou de suas tocas inúmeras almas avessas ao feijão com arroz da noite “roqueira” aracajuana. Como eu também sou um recluso assumido e incorrigível, tenho que aproveitar estes momentos para colocar o papo em dia.

Enfim, entramos. Bem legal o espaço da Casa Rua da Cultura, muito bem estruturado, e nem tão pequeno a ponto de causar desconforto nem grande o suficiente para provocar a dispersão do público, que compareceu em massa. O local em que aconteceu a apresentação em si, um galpão onde são encenadas as peças de teatro da Stultifera Navis, também é bem legal – um pouco quente, mas nada absurdo. A acústica é ok, com um pouco de eco, mas que não chega a provocar grandes problemas.

Na primeira parte do show a dupla tocou todas as musicas do disco. Foi lindo. Julico e Perninha, como era de se esperar, estavam com o diabo no corpo, e a resposta do publico apenas contibuía para que o espírito travesso que fez aquele bendito (sic) pacto com Robert Johnson se apossasse de todos. Bateria devidamente espancada e guitarras no talo, como deve ser, com riffs matadores penetrando deliciosamente em nossos ouvidos masoquistas em alto e bom som. Destaque para as participações especiais das teclas sempre ácidas de Leo Airplane; dos metais, que deram um “mojo” e um balanço soul em “quanto mais eu rezo” (e algumas outras), e de Arthur, da Nantes, que subiu ao palco para uma belíssima versão de uma música do disco “Harvest”, de Neil Young (obrigado a Fabinho por informar este pobre herege de que se tratava). A noite teve direito, inclusive, a um solo de bateria de nosso camarada Perninha – muito bom, enxuto, sem excessos. Legal também a forma como a bateria foi armada no palco, na frente, do lado, no mesmo nível de onde estava Julico. Baterias geralmente ficam atrás, supõe-se, para economizar espaço no palco, algo desnecessário quando se trata de uma dupla.

Após cerca de 40/50 minutos de show Julico agradece a todos, especialmente a sua família e a seus amigos de São Cristóvão, que estavam presentes, e anuncia um pequeno intervalo ao fim do qual eles voltariam para uma segunda parte da apresentação, tirando o foco do disco em si. Legal, mais tempo pra colocar a conversa em dia e relembrar as memoráveis noites de rock que aconteciam no antigo DCE da praça camerino. Fomos e voltamos – e tome mais blues/rock na cachola. Um dos únicos pontos negativos, fora o atraso (que no meu caso nem foi assim tão negativo, já que era dia de pdrock e eu só saio da rádio às 22:00H mesmo), foi o abastecimento precário do bar. Acho que eles não contavam com um publico tão grande e a cerveja acabou várias vezes. Acabava mas chegava em novas remessas e as pessoas se reabasteciam e todos continuavam felizes. Foi tanto rock que deu tempo de levar uns amigos num ponto de taxi lotação do centro, voltar e ainda pegar o finalzinho de tudo, com os já tradicionais covers de Ramones e Raul Seixas executados em doses maciças para tentar saciar o apetite dos que se recusavam a dar a noite por encerrada.

Foi praticamente perfeito. Tenho até pena de quem não pôde comparecer ...

Fotos por Snapic e Marcelinho Hora

* yeah! Kool & The Gang!

por Adelvan