terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

NEM TODOS ESQUECEM


por Gessy Kelly
“Clandestino” é um projeto itinerante no qual uma juventude que vive à margem do calendário cultural “oficial” e/ou “comercial” ousa tomar o espaço público e produzir, de forma absolutamente independente e alternativa, sua própria música. Divulgam a data e o local das apresentações via facebook e geralmente aproveitam a passagem pela cidade de alguma turnê “subterrânea” de grupos amigos ou com os quais tenham alguma afinidade. É capitaneado pelo pessoal da “The Renegades of punk” e contou em sua décima edição, ocorrida no última dia 11 de janeiro, um domingo, com apresentações, além dos anfitriões, da Karne Krua, veterana banda punk Hard Core local – completando 30 anos de atividades ininterruptas! – e da NTE (Nem Todos Esquecem), do Rio Grande do Norte.

por Gessy Kelly
Os potiguares surpreenderam positivamente com um show visceral onde se destacou a presença de palco de seu vocalista que, não por acaso, se apresenta sob a alcunha de “Falante”. Ele falou, muito, e com uma convicção assombrosa, que se via estampada em sua face. Algo raro de se ver nos dias de hoje, dominados pelo cinismo e pela apatia. Falou e pintou e bordou, numa perfomance impressionante – e espontânea, o que é muito importante. Tudo o que é dito nas letras das músicas é interpretado com gestos teatrais – reverenciar uma bicicleta, por exemplo – e expressões faciais que dão uma nova dimensão ao som da banda, um punk rock bastante básico, simplório, até. O que não é, em absoluto, um demérito: menos é mais, já ensinaram os Ramones em pleno auge dos excessos do rock progressivo. O punk rock não morreu, nem morrerá, enquanto existirem bandas com esse tipo de atitude – percorrer cerca de 800 km para tocar na praça, na raça, não é pra qualquer um! E, de quebra, na passagem pela Paraíba ainda trouxeram a tira-colo a dupla dinâmica Adriano e Olga, responsável pelo programa de rádio Jardim Elétrico e pelo jornal/sêlo Microfonia. Grandes figuras ,,,

por Gessy Kelly
Em tempo: “presença de palco” é força de expressão, já que não há palco no clandestino. É tudo feito no mesmo nível, em perfeita simbiose com o publico – que compareceu em bom numero, especialmente para um domingo. E foi bastante participativo, principalmente durante a apresentação da Karne Krua. Que foi, como sempre, sensacional, transbordando energia e, acima de tudo, VERDADE. Muito bom ver gerações de “rockers” permanecerem unidas em torno do bom e velho lema do “faça você mesmo” - e na rua, ao ar livre. Vida real! Sem porta, sem muros e com a presença de várias crianças. E de cachorros.

Tudo isso aconteceu há mais de um mês, o que desencoraja a publicação. Resenhas tão tardias, nestes tempos de velocidade supersônica e informação instantânea, correm o sério risco de parecerem textos datados discorrendo sobre assuntos agora irrelevantes, porque “já passou” e a grande maioria já esqueceu – e pior, ninguém tem mais interesse em lembrar.

FODA-SE! NEM TODOS ESQUECEM!

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Mais tempo ainda tem a última Festa da Antevéspera, que aconteceu no apagar das luzes do ano passado. Trata-se de um evento criado por fãs “auto-exilados” – leia-se “que moram fora” - da banda Snooze com o intuito de aproveitar a presença da maioria deles na cidade para as festas de fim de ano e promover um encontro para matar a saudade. Esta última edição contou com as participações especiais de Arthur Matos, Dani “renegades” – fazendo uma apresentação recheada de clássicos alternativos acompanhada pelos “snoozers” – Julio, da The Baggios, e Patrícia Polayne, que acabou de vez com qualquer dúvida que porventura existisse de que ela é uma grande cantora ao interpretar a belíssima “Ivo”, do Cocteau Twins. Inesquecível!

Muito bom, também, ter assistido à volta do rock ao palco do Cultart, espaço cultural mantido no centro de Aracaju pela Universidade Federal de Sergipe que já abrigou noites insanas e antológicas, como os show da Mundo Livre S/A, do No Rest e do Jason – com direito a tiros de bacamarteiros! – além, é claro, da inesquecível Boate do porão. Tinha esperança de que tivesse sido uma volta “pra ficar”, mas a julgar pelo estresse que rolou no final da noite, com a apresentação da snooze tendo que ser encurtada por conta das restrições de horário, não vai rolar ...

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Vale o registro, também, de mais uma passagem do grande bardo “punk brega” Wander Wildner pela terra dos cajueiros e dos papagaios(sqn). Foi de surpresa, aproveitando uma visita dele à cidade acompanhando a namorada, cuja irmã mora aqui. Foi acompanhado por uma excelente banda formada por músicos locais que, ao final, nos brindaram com uma sensacional sessão de covers de rocks clássicos, tipo Beatles, Bowie, Led Zeppelin, Deep Puble, Black Sabbath, The Jam e The Kinks.

O show de Wander foi muito bom, metade acústico, metade elétrico. Altos clássicos cantados a plenos pulmões pelos empolgadíssimos fãs locais. O local, também, ajudou – apesar de, por ser pequeno, ter deixado a mesma quantidade de gente que entrou do lado de fora. Foi na simpática Dogueria do Artista, no Inácio Barbosa.

A.

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