segunda-feira, 31 de outubro de 2011

# 203 - 29/10/2011

Sublevação é uma das bandas de Hardcore mais antigas de Aracaju. Foi fundada em 1992. Esteve parada por 5 ou 6 anos, aproximadamente, e voltou aos palcos no último sábado, durante o Primeiro Rock Underground de Socorro, realizado no Conjunto João Alves Filho, no municipio de Nossa Senhora do Socorro, que fica na região metropolitana de Aracaju. Periferia, meus caros. É sempre legal ver o rock ocupando espaços ainda não explorados, e o clima da noite me lembrou os tempos heróicos dos anos 80 e inicio da década de 90, quando as coisas eram mais difíceis e, talvez por isso mesmo, as pessoas pareciam menos acomodadas.

Fui lá especialmente para ver o show de retorno dos veteranos - sem querer desmerecer os demais participantes, evidentemente: é que eu estava meio "dopado" por uns remedios que tive de tomar por causa de uma crise de asma pela manhã e por isso indisposto para seguir no rock madugada adentro. Foi bem legal.
Silvio, da Karne krua, que está na nova formação, tem um estilo bem caracteristico de tocar guitarra e deu um um "mojo" diferente ao som dos caras. Gostei muito das musicas novas, com uma estrutura ritmica melhor trabalhada e letras mais "maduras". E a resposta do publico também foi ótima, com a molecada agitando muito ao lado dos veteranos resistentes remanescentes. Destaque para o "camarote" de Cana Brava (o maluco sentou numa cadeira no meio do pogo!) e pra um figura lá que estava dando chineladas na galera que agitava. "Doidjera".

Já o programa de rock foi aberto com a faixa título do mais novo disco do Lock UP e mais algumas extraídas da trilha sonora do já clássco deocumentário "Metal, e Headbangers Joruney", de Sam Dunn. Seguimos comemorando os 10 anos do primeiro EP dos Strokes, "The Modern Age", e mais: Los Porongas, do Acre, em uma edição especial do Drop Loaded, e uma entrevista ao vivo com Alapada, banda local que está lançando seu terceiro disco. Depois de duas novidades vindas diretamente do Recife, rolamos uma faixa de um compacto que o John Spencer Blues Explosion lançou em "split" com o Melvins. O disquinho, lançado pela lendária gravadora Anphetamine reptile, traz dois covers para a mesma musica, "Black Betty", de Leadbelly. Está fora de catálogo, mas você pode fazer o download dele aqui, no Blog "Canço! I Hate rock and roll, de nosso camarada Maicon "Stooge".

Finalizando, mais um "Bloco do ouvinte".

# # #

Lock up - Necropolis Transparent
Arch Enemy - Silent Wars
Cannibal Corpse - Decency Defied
Children of Bodon - Needled
Enslaved - Havenless

The Strokes, 10 anos do EP "The Modern Age"
# The Modern Age
# last nite
# Barely legal

Drop Loaded Edição Especial
# Los Porongas

Alapada - Zidane
+ Entrevista

Mundo Livre S/A - A Fumaça do pajé Miti Subitxxiii
Z-Man.NE - Caminho das cores

The John Spencer Blues Explosion - Black Betty

Porcas Borboletas - Menos
Instiga - Sabiá
Nomads & Skaetera - Kangourou nomade
Stevie Ray Vaughan - Testify
Superchunk - untied
- por
Alan Bidu Silva

"Bonus" Tracks:
# Sublevação
# Logorreia

terça-feira, 25 de outubro de 2011

(*) Leonardo Panço, testemunha ocular da escória

A primeira coisa que eu tenho para falar sobre o novo/velho (porque na verdade foi o primeiro que ele escreveu, apenas demorou “um pouco” – mais de uma década! – para lançar) livro de Leonardo Panço é que ele é cheiroso. Sim, cheiroso! Pra quem gosta de cheiro de tinta impressa em papel, claro. Eu gosto. Muito. Especialmente se o impresso for novo – e este é, está lá, na abertura: 1ª. Edição, outubro de 2011.

Gosto de sentir o cheiro dos livros, sempre gostei. Porque ? Não sei. Só sei que é assim, e na internet não é assim, embora imagine que qualquer dia inventam, também, a internet com cheiro. Deve ser amor, pois sempre cheirei os livros que lia, às vezes em público, para a surpresa dos desavisados, como Adolfo Sá no dia do lançamento do “Esporro” aqui em Aracaju. Dito isto, digo mais: o livro é bonito. Não sei se é gostoso, porque não como livros. Não com a boca, pelo menos. Com os olhos, talvez. A capa é ótima, a encadernação é boa e as páginas, ricamente ilustradas com inúmeras fotos e reproduções de cartazes de shows, fluem com facilidade ao serem manuseadas.

Agora o conteúdo: é divertido. Muito divertido. O que esperar, afinal, de um livro que se propõe a contar historias do underground carioca da primeira metade dos anos 90, principalmente, quando algumas das mais insanas formações do rock brazuca, como Gangrena Gasosa, Zumbi do Mato, Piu Piu e sua banda e chatos e chatolins estavam em plena atividade e com seus membros na fina flor da juventude descompromissada ? Loucura total, claro!

Temos encontros inusitados, por exemplo: você sabia que o Fugazi, uma das mais sérias (sério mesmo) e respeitadas bandas de rock alternativo do mundo, já tocou com a Gangrena Gasosa num pico suburbano tosco da baixada fluminense? E se eu te disser que houve um encontro pra lá de bizarro entre membros das duas “agremiações” no banheiro do local do show? Pois aconteceu, e está lá, contado em detalhes. Assim como estão inúmeros outros episódios curiosos e pitorescos, como a quase prisão dos membros do zumbi do mato por estarem cheirando balas garoto, os bastidores da entrevista da Gangrena (campeões de insanidade) no programa do Jô Soares, as tentativas de estupro e de shows pirotécnicos dos Chatos e Chatolins e as loucuras de Piu Piu, famoso por tocar fogo no próprio corpo e broxar recebendo um boquete em pleno palco – tudo isso e mais os perrengues comuns pelos quais todos, sem exceção, já passaram, e com os quais qualquer pessoa que já tenha se aventurado por um momento que seja no mundo do rock independente e alternativo vai se identificar.

Porque nem tudo é loucura total, claro – há algumas passagens bem ingênuas até. Mas tudo junto forma um impressionante mosaico e acaba ajudando, e muito, a contar uma história: a história de uma cena que fez história, para além dos que se projetaram na mídia, como o Planet Hemp, principalmente. Os que ficaram pelo caminho, como Poindexter, Soutien Xiita, Anarchy Solid Sound e Sex Noise, deixaram também um legado valioso que merece ser resgatado, e este livro o faz com louvor. Isto pra não mencionar os que continuam por aí, existindo e insistindo, como a Gangrena, o Zumbi e o próprio Jason, banda posterior do autor, que segue firme em nova formação preparando um novo disco.

O painel é, inclusive, bem mais amplo do que Panço deixa entender nas entrevistas, com suas compreensíveis ressalvas de que seu relato é incompleto. Está quase tudo lá – o que de mais relevante aconteceu no cenário da época está, senão esmiuçado, pelo menos citado, sempre. E satisfatoriamente retratadas estão as carreiras de inúmeras bandas, produtores, personalidades e casas de espetáculo: além das já citadas, temos pequenas biografias dos Beach Lizards, do Dash, de Simone e do Formigão, do Funk Fuckers, do B. Negão, de Skunk e Marcelo D2, do Cabeça, da coletânea paredão, lançada pela “major” EMI, do Garage, o “templo” de todos, e de Fabio, dono do Garage, de quem são, apropriadamente, algumas das últimas palavras escritas no livro.

Missão cumprida, Leonardo Panço. Pode descansar.

Sei que não ...

por Adelvan

Foto: Mauro Pimentel

* Expressão “ixpierta” cunhada por Adolfo Sá em seu blog, de onde surrupiei também a entrevista abaixo:

VLB - Quando eu te conheci vc tinha uma banda e dois zines. O que veio primeiro, a roqueiragem ou o zinismo?

LP - O rock, sempre. Sempre tive um único sonho, que foi o de ser guitarrista de uma banda de rock. Todas as outras coisas vieram depois, ao acaso, com o passar do tempo eu fui viajando em outras paradas, desenvolvendo novas ideias, e daí vieram os zines, os livros, a gravadora, as turnês de banda e livro, e tudo mais.

VLB - Pra quem não conheceu, poderíamos dizer que se a Soutien Xiita fosse uma pizza seria uma grande 3 sabores: Anthrax, Pantera e Faith No More?

LP - Acho que o Cabelada diria que faltou um Red Hot aí e eu diria que faltou Cólera, Replicantes e Garotos Podres em alguns momentos. Mas principalmente FNM e Pantera total. Anthrax também, mas acho que menos.

VLB - Vc trampava na EMI qdo nos conhecemos, tava no projeto PAREDÃO. Continuou lá depois que a coletânea saiu?

LP - Enquanto o PAREDÃO foi divulgado, eu estava lá sim, inclusive a festa de Curitiba eu ajudei com toques, a do Rio também, eles me consultavam para saber o que seria melhor, etc. Fui estagiário da EMI por pouco mais de um ano e hoje vejo que não deveria ter saído. Eu ficava ouvindo fitas demo o dia todo, de tudo que é estilo, e tentava indicar ao pai do Rafael o que eu gostava. Mas não sei identificar um pagode bom, um axé bom, e achava chato ficar lá fazendo aquilo. Saí da EMI porque me achava meio inútil lá.

VLB - Foi daí que vc e o Rafael começaram a Tamborete?

LP - Comecei a Tamborete com o Rafael nessa época e acho que teria dado para conciliar as duas coisas por um tempo, principalmente por causa do dinheiro que eu recebia e fazia muita falta.

VLB - Falando no Rafael, quando vcs e os 2 do Poindexter montaram o Jason, foi tipo uma superbanda do underground carioca né? Só figura carimbada... Vcs tinham essa idéia qdo começaram a tocar juntos?

LP - A ideia era fazer uma coisa que a gente não vinha conseguindo fazer nas nossas três bandas (apesar de que eu acho que o Soutien já tinha acabado), que era não se aborrecer, não ter pessoas que faltassem aos ensaios, que não fossem aos shows, e acima de tudo, fazer músicas de maneira mais rápida, sem muita firula. Então criamos uma regra de cada um levar as músicas prontas e o Flock levou o caderninho com letras, tanto que 'Marra de Cão' é 100% igual agora a primeira vez em que ela foi tocada. Tudo muito simples e rápido. Mas não tínhamos ideia de ser uma superbanda não. Essa é o Superheavy de Jagger, Marley, Stone...

VLB - O Soutien durou quase 10 anos, mas viajou pouco, tocou em poucos festivais e só lançou 1 disco, depois de muitas demos. Já c/ o Jason foi o contrário, as coisas sempre aconteceram mais rápido: discos, viagens e sei lá, festivais?! Além de vcs estarem mais experientes e espertos, a banda nova tinha um esquema mais redondinho que funcionava melhor?

LP - Se a gente pensar direitinho, o Soutien praticamente só durou 2 anos, que foram 92 e 93. Nesses anos a gente compôs acho que 99% das músicas que entraram no CD, foi quando não mudamos de formação, conseguimos tocar mais, etc. Depois o que eu considero foi o ano que tivemos com Pedro e Melvin na bateria e baixo. Tocamos em SP, interior, PR, SC, na Expo Alternative em 96. Em 99 a gente voltou com a formação das antigas para uns 4 ensaios e a gravação do disco, e encerramos para sempre no show de lançamento. Já realmente com o Jason foi ao contrário, porque as coisas eram mais diretas, cada um tinha uma área de atuação mais clara, Rafael na produção, eu nos shows, Flock com a arte, e toda semana tinha ensaio, a gente criava em casa, levava coisas prontas, era tudo mais interessante e produtivo. Depois coloquei pilha para começarmos a viajar e por aí foi.

VLB - O disco de estréia do Jason, ODEIA EU, é puro hardcore e só tem hit! Depois a banda seguiu numa direção mais... new metal? C/ umas letras mais... abstratas? Se bem que o REGRESSÃO tem uns HC nervosão...
LP - Eu ainda acho que o segundo é parecido com o disco de estreia de certo modo. Ele ainda é bem direto, as letras são mais diretas. Mas o terceiro realmente é bem mais viajante, rolou uma outra época na vida de todo mundo, é normal. E mais viagem ainda é a leva que gerou um CD split lá na Europa, com o Glerm (ex-Boi Mamão) no vocal. Capaz que nestas músicas estão minhas melhores guitarras, que inclusive gravei no nordeste, com a produção de Marcelo Gomão (Vamoz), na minha modesta opinião, um dos três melhores guitarristas do Brasil, sendo que diria o de melhor gosto.

VLB - Vcs fizeram mais alguma tour européia além da que tá no livro JASON 2001?

LP - Fizemos sim. Em 2003 foram 26 shows em 4 países. Tivemos um problema com o Glerm, ele teve que voltar para o Brasil, e perdemos uns 3 ou 4 shows e fizemos 19 como um trio. Em 2006 voltamos para 38 concertos em uns 6 países, eu acho.

VLB - Tocaram pela América do Sul tb?

LP - A gente esteve prestes a ir duas vezes, mas não aconteceu. Hoje eu vejo que foi melhor, seria muito mambembe e traria complicações muito maiores que os êxitos.

VLB - Esse livro que eu citei já tem 10 anos. Qdo vc tocou pela 1ª vez na Europa, uma coisa que te chamou atenção foi o esquema profissa c/ que os squats funcionam lá e a infra que as bandas têm, tipo vans, amps delas mesmas. Vc disse que ainda faltava muito pro Brasil chegar nesse nível. E agora, falta quanto?

LP - Agora a gente está diferente de uma maneira muito melhor, mas acho que nunca vamos ser como eles, porque nós somos nós, não eles. Acho que nunca vamos ter tantos squats como eles, nem tantos centros culturais, nem vans, etc. Seria legal que as bandas tivessem seus próprios amps, isso ainda acho que é viável, e que vamos ter ainda. Mas estamos melhorando.

VLB - Quais foram os shows mais memoráveis da sua vida? Quais as bandas c/ quem vc mais gostou de tocar junto na mesma noite?

LP - Pô, são quase 500 shows, difícil lembrar de tudo. Poderia falar de um monte, mas vou falar do mais emocionante na minha opinião. Provavelmente os outros têm outras opiniões. A gente passou por dificuldades gigantes, muito complexas mesmo, na tour de 2003 na Europa, coisas que o próprio Glerm explicou no blog dele na época. E numa segunda-feira tivemos que viajar uns 600km pra ir levar ele ao aeroporto de Frankfurt para ele voltar ao Brasil, foi tudo muito difícil. Tínhamos show nesse dia na Alemanha e ligamos para o promotor para dizer que a gente tava longe para caralho e não daria para chegar, uma segunda, já era tarde, etc. Isso com a gente já na estrada. Daí o cara falou 'mete bronca, vem para cá, que ninguém vai embora enquanto vocês não chegarem'. Marcelo meteu 190 na van e chegamos lá quase 11 da noite. Tinha umas 50 pessoas esperando, a gente fez o show como trio, sem saber nem quais músicas tocar, o que fazer, e foi fuderoso. As pessoas gritaram, deram muita força, pediram bis, mosh, pogo. Para mim é o meu dia mais emocionante.

VLB - Qdo vcs vieram tocar em Aracaju em 98, numa festa que eu tava ajudando a organizar, tu colecionava credenciais e o Flock cartões telefônicos [!!!]... Continuam as coleções?

LP - Eu não, Flock também não creio. Na verdade não sei se era uma coleção exatamente, mas eu guardava todas as credenciais. Na verdade guardo até hoje, mas agora não tenho mais credenciais. Era uma época em que eu estava muito mais envolvido com o show business, eu acho. Ia nas festas, recebia convites para festivais, ganhava camisetas, discos, as pessoas queriam que eu estivesse por lá por causa de reflexos da EMI, do começo da Tamborete, etc. Em algum momento da minha vida eu fiquei de saco cheio disso e me afastei um pouco, comecei a achar tudo chato, e na real, hoje acho que ainda acho, pouco apareço nos shows, eventos, a não ser que tenha bebida e comida liberada, aí dependendo do que for, eu até vou. Então não ganho mais muitas credenciais, ainda mais agora sem tocar no Jason, né.

VLB - Por que vc saiu do Jason e aposentou a guitarra?

LP - São mil motivos, mil razões, etc, mas acho que dá para resumir no último ensaio que eu fui. Não sei o que toquei, estava achando um saco estar ali, não via a hora de ir embora fazer o que eu tinha marcado para logo depois, não queria estar lá, simples assim. Acho que foi aos poucos, mas fui me enchendo de tocar, de pegar ônibus para ensaiar, uma outra fase na vida mesmo. Mas a guitarra eu sigo tocando em casa todos os dias de brincadeira, como deveria ser na verdade, sem obrigação. Quem sabe sai alguma música ali e eu dou para alguém gravar...

VLB - Vc manteve todas as suas guitarras?

LP - Eu sou, guardadas algumas proporções, como Tony Iommi do Black Sabbath. Um marshall, uma palheta, uma correia, um cabo e uma Gibson SG. Ele tem a vantagem de ter um dedo de metal e tocar mais pesado que eu. :) Mas é o que digo acima, toco todos os dias um pouquinho. Mas só tenho essa guitarra agora. A Finch Les Paul vendi quando estava sem emprego e a Washburn que usei para gravar o ODEIA EU, dei de presente para o filho da minha prima, o Matheus. Ele tinha três anos, agora cinco, e eu vi o talento dele com duas colheres de pau num tamborete, incrível mesmo. Daí minha prima disse que ele ficava brincando de raquete de tênis como se fosse uma guitarra e peguei a minha e dei de presente para ele. Ele surtou: 'Minha guirrata, minha guirrata!'... Acho que foi bem feito e espero que ele aproveite bastante.

VLB - Mesmo assim vc e os caras continuam parceirões né. O Flock fez a arte do livro novo e os cartazes da tour...

LP - Olha, para ser sincero, minha relação com o Marcelo sempre foi 100% ligada ao Jason, é possível contar nos dedos de uma única mão as vezes que nos vimos fora de algo relacionado à banda. Acho que temos uma relação boa, mas distante. Capaz que a gente é meio parecido, de ficar muito em casa, fazendo suas coisas, etc. O Vital não vejo desde janeiro e nem falei mais. Acredito que não haja nenhum problema, mas também a vida acaba levando cada um para lados diferentes. É uma cidade muito grande, temos empregos que já nos colocam muito ocupados e geograficamente distantes. Para ser sincero, acho que vejo poucas pessoas, sem ser as que trabalham comigo no dia-a-dia. Flock realmente eu encontrei agora para as coisas do ESPORRO e nos falamos bastante para resolver tudo da edição do livro, tomar milhões de decisões juntos. As fotos de divulgação foram feitas na minha casa. Aquela parede grafitada é a minha sala, que ele pintou na festa do meu aniversário de 2009. Não pude ir na exposição dele porque saio 22h do trabalho e não era compatível com os horários do café onde ele estava expondo.

VLB - Panço, essa sua tour de lançamento do ESPORRO é um negócio meio inédito no Brasil, mas nem tanto. Vc mesmo já tinha feito coisa parecida em 2009 qdo lançou o CARAS DESSA IDADE NÃO LÊEM MANUAIS...

LP - Tenho para mim que não é inédito porque eu mesmo inventei de fazer uma outra do segundo livro em 2008/2009, isso é mais comum nos EUA, acho que até na Europa não se faz muito, para ser honesto não sei. Sei que na 'América' é comum.

VLB - E agora, já passou por quantas cidades?
LP - Já lancei em Curitiba, Joinville, São José, Florianópolis, Porto Alegre, Campo Bom, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa e Natal. Agora tenho dois eventos em SP, Bauru, São Carlos, Bragança Paulista e Campinas. Daí volto para casa e estou fechando Rio, Nova Iguaçu, Resende e Volta Redonda, todas cidades no RJ. Espero que novos convites cheguem.

VLB - Quais as noitadas mais legais da tour até agora?

LP - Tenho uma noite preferida, mas não falaria qual é, soaria deselegante com as outras.

VLB - O livro tem vendido bem? Vale a pena esse esquema de pegar a estrada p/ lançar livro?

LP - Se vale a pena ou não, é sempre uma discussão grande. Se você vende 15 livros em uma cidade do outro lado do Brasil, pode achar que não foi grande coisa, e eu particularmente, acho pouco, mas as pessoas com quem eu converso dizem que foi bom. Eu sigo achando que poderia ser melhor, mas já é claramente melhor que a tour anterior.

VLB - Cara, as histórias do Gangrena Gasosa são as mais insanas do ESPORRO, terrorismo total. Ficou alguma coisa de fora, tipo impublicável?

LP - Ficou sim. Eu achei que hoje em dia algumas coisas não valem mais a pena, o povo tem filhos, empregos, casamentos. Não exatamente da Gangrena, mas no geral, espero ter tirado o que não cabia ali. Só se eu tivesse uma editora grande, que assumisse possíveis processos.

VLB - Por que o Fumê, vocalista mais louco do Zumbi do Mato, passa meio batido no livro? Não descolou nenhuma foto dele?

LP - Nunca vi um show do Zumbi com o Fumê, de repente pode ter sido um erro meu, mas não cogitei entrevistar ele, nem nunca falei com ele na verdade. Acho a gravação da demo com ele absolutamente genial, um espetáculo do mundo moderno, mas no final das contas não falei com ele.

VLB - Eu conheci ele em 96, de moicano e jaqueta de couro distribuindo sopa pros mendigos no centro. Só gosto do Zumbi do Mato c/ o Fumê, c/ o Löis é mais cabeça, o cara é músico, universitário, e o Fumê era mais demente, quando ele cantava “vai chupar cocô pra ver disco voador” vc sentia que o negócio era mais ameaçador... e engraçado! A última notícia que eu tive foi de um cartaz anarco-punk que é a foto dele beijando um cara, essa poderia entrar no livro hahah...

LP - Ele beijando um cara? Seria só mais um cara beijando outro cara, não há nada demais nisso.

VLB - Adelvan me falou que uma vez levou o Jason inteiro pra um puteiro aqui de Aracaju depois de um show de vcs...

LP - Já fui em puteiro com Adelvan umas duas vezes, eu acho, e essa noite a que ele se refere foi muito divertida. Um senhor, que era professor de uma Universidade do SE, ficou pelado e brochou. Foram horas divertidas e de cerveja barata, mas nada de conjunção carnal.

VLB - Vc é autêntico carioca suburbano... As zonas norte e oeste são tipo um outro Rio, comparadas à zona sul e Barra né. Como se fosse outra cidade. Eu nunca fui na sua casa, então diz aí: a Vila da Penha é legal de se morar? É sossegada ou rola aquelas fitas de tiroteio e tals?
LP - Eu acho tranquilaço de morar na Vila da Penha, é onde eu nasci e cresci e onde morei a vida inteira. Tem tiroteios de vez em quando, já caiu bala no meu quintal, mas eu sigo lá e gosto no geral. A parte ruim é ser tão longe do trabalho, na Barra da Tijuca. São quatro ônibus por dia, 90km ida e volta, 3h perdidas. Mas para eu sair de lá, numa casa com meus cachorros, árvores, etc, e ir morar mais perto, teria que morar num quitinete apertado, pagar aluguel, jogar meus cachorros nas ruas, de onde eles vieram, não faz muito meu estilo.

VLB - Vc trabalhou um tempo no globoesporte.com e agora tá na globo.com. Qual sua função e como vc começou a trabalhar lá?
LP - Fiquei 7 meses no globoesporte.com como TR, que é o mocambo que narra os jogos de futebol escrevendo, uma tortura chinesa. Além disso era redator quando não tinha jogos. Me demiti e fui para a Europa de bobeira por três meses. Longa história. Depois voltei para um contrato de quatro meses para o amador, ou seja, todos os esportes que não futebol. Era só um apoio para as Olimpíadas. Agora já estou há 3 anos como um dos editores da home, do portal da globo.com. Agora sim eu gosto, acho mais divertido, não precisa ver jogos de futebol o tempo todo. Apesar de entender, mais ou menos gostar, ter um time (Vasco), não gosto de ver jogos de futebol, muito menos por obrigação.

VLB - A Tamborete é um selo que começou como gravadora mas hj tb funciona como editora. Qual o futuro que vc vê pro mercado de música?

LP - Acho que a tendência é cada vez ser tudo mais gratuito do que já é agora, não creio que os CDs resistam por muito mais tempo. Ainda tem amantes do formato físico, pessoas que gostam de vinis também, mas as novas gerações não dão a mínima no geral.

VLB - E a cena do RJ, como tá hoje?

LP - Acho que está como sempre esteve, mas para ser sincero eu mal frequento shows, não conheço as bandas novas, não apareço muito nos lugares. Nova geração, seja bem-vinda.

VLB - A pergunta que não quer calar: O que é o 'meneghetti'?

LP - Essa só o Claudio do Soutien Xiita pode responder, já que ele é o criador.

por Adolfo Sá

Viva la brasa

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

# 202 - 22/10/2011

Rock “pauleira” com vocais femininos - foi assim que começamos o programa de rock do último sábado. 3 bandas com riffs pesados e 3 musas ocupando o front: Madame Saatan, de Belém do Pará, e Shadowside e No Sense, ambas de Santos, São Paulo. E já que estávamos por lá, pela baixada, fizemos um passeio pelos projetos do também santista Hansenharryebm, um pioneiro da mistura do rock com a eletrônica no Brasil. Dele, tocamos Harry, Bad Cock e H. A. R. R. Y. And the Addict.

Na segunda parte do programa, Lou Reed em dois tempos: “Pale blue eyes”, do Velvet Underground (valeu a lembrança, Priscila), e “Iced Honey”, uma das faixas mais “redondas”, quase pop, de “Lulu”, seu disco experimental com os veteranos do thrash metal do Metallica. Na sequencia, rock sergipano: "pare e repare", mais uma do celebrado disco da The Baggios; “sem grana” (com participação de Silvio, da Karne Krua), espécie de “hit” do rock alternativo sergipano dos anos 80 resgatado pela Crove Horrorshow em uma faixa inédita e exclusiva de um disco que já está gravado, dá uma geral na carreira da banda e tem previsão de lançamento para o ano que vem. Fechando o bloco, “100km com 1 sapato”, faixa-título da célebre primeira demo da banda lagartense lacertae, em nova versão do Cinemerne, projeto de Paulinho, o primeiro vocalista da banda, que eu reencontrei recentemente em Lagarto fazendo uma apresentação minimalista numa edição do “Ajuntatudo”, uma espécie de reunião cultural onde a juventude da cidade aproveita para beber, recitar poesias, tocar e ouvir musica.

Fechando o programa, um blocão “tapa-buraco” (a Reffer desmarcou uma entrevista) retirado a fórceps de nossos arquivos, com destaque para a Sublevação, banda histórica de hardcore que está para renascer das cinzas – vão tocar no próximo sábado em Nossa Senhora do Socorro depois de aproximadamente 5 anos parados. Estarei lá.

por Adelvan

Abaixo, uma belíssima resenha do disco do Cinemerne cometida por Patativa Moog no blog de sua banda, Madalena Moog.

HOJE, NO CIRCO: O FIM DO MUNDO!

Uma audição falada para o EP “Coisas belas e sujas”, do projeto Cinemerne

É um domingo, 13:20, e eu estou ouvindo, pela primeira vez – e praticamente em primeira-mão –, o EP “Coisas belas e sujas”, do projeto Cinemerne, encabeçado (e quase todo tocado e produzido) pelo sergipano (da cidade de Lagarto) e multi-instrumentista Paulo Henrique, ex-Lacertae (que ainda está na ativa). Nele, também Léo Airplane (tecladista da Plástico Lunar) põe sua assinatura, tocando vários instrumentos, fazendo arranjos e coproduzindo. Os dois são os culpados pelo resultado final. Cinemerne é o nome que, na língua dos utopianos (leia A Utopia, de Thomas Moore), significa “festa inicial”, celebrada nos primeiros e últimos dias dos meses lunares no ano revolucionário-solar.

É um domingo de ressaca, depois de uma sexta de estradas cruzadas e um sábado alcoolizado, e um resfriado mal vindo.

É um domingo e eu penso que, para falar sobre este trabalho incrivelmente bom do Paulinho, como os amigos mais próximos o chamam, eu precisava estar com a cabeça no lugar, e corpo também. Mas caio em mim e, “não!”, penso, “é justamente o contrário!” Por isso, continuo. Mas, antes, tenho que falar do sábado, que foi quando o amigo Jesuíno André me presenteou com um exemplar do referido EP.

“Pata, o Paulinho é um artista maravilhoso; e depois de muito tempo sem gravar alguma coisa voltou àtiva com este trabalho. Dá uma sacada e diz o que você achou.” Ele dizia, enquanto a gente deixava a tarde passar pela orla de Cabo Branco, entre uma cerveja, um ensopado de camarão e umas doses generosas de cachaça Serra Limpa.

E eis aqui o que eu acho:

As 5 canções de “Coisas belas e sujas” – nome de uma delas e também de um filme do diretor britânico Stephen Frears, lançado em 2010 – soam monocromáticas, monocórdicas e, por incrível que pareça, não deixam “a peteca cair”, mas mantêm-se como um enorme discurso poético-gritado, psicodélico-pirado, às vezes raivoso, às vezes delicioso, como no começo da música que dá nome ao projeto: “Uma flor se espreguiça ao sol, / Uma formiga carrega um grão. / Uma pobre mulher se sente só. / Um doente novamente se sente são. / E esses dias são tão tristes.” Trata-se, para quem sabe ouvir, de uma cadência experimental que, no que é possível, foge aos modelos estabelecidos, como fórmula para... Ouça-o inteiro, Helena; ouça-o inteiro.

Quem conhece P.H., sabe que que ele também já esteve assim: como a flor, a formiga, a mulher solitária, e o doente que fica bom. “Paulinho esteve ausente muito tempo, Pata; meio perdido em [...], e ele diz que foi a música que o salvou, lhe mantendo são...” São palavras de Jesuíno, falando de um amigo a outro amigo, sem juízos e sem clichês impressionantes, e a música aí, no meio da gente, no meio das conversas. Sim! Um bom delírio, às vezes, pode nos salvar da piração absoluta! E elas são muitas, e manifestam-se de muitas maneiras. E é por isso que, observando músicas e letras, começo a perceber que, sim – e somente o autor poderá dizer o contrário –, há muito da história de vida deste artista incrível, desse cara incrivelmente talentoso, mostrando seu mundo, suas referências, sua pródiga imaginação que voa mundo afora (China, Rússia, Atlântida, Índia, Alexandria, etc...), seus gostos pelo surrealismo multicolorido de Van Gogh, pela tensão imagética de Stephen Frears, que parece plastificar e amarrar todas as demais referências, como se, a não ser pela imaginação, não fosse coisa boa sair lá fora, onde está, o tempo todo “chovendo querosene”, e onde há “um idiota cantando na chuva... [e] esse aí sou eu...”, e que, por isso, e para ele, “hoje, no Circo, [poderá ser] o fim do mundo”. Quase todas as letras têm esse tom hora melancólico, hora sombrio, descrevendo imagens cinzentas (como o céu enegrecido pelos corvos que, na capa, desabam sobre o dourado trigal das/nas cores de Van Gogh), como quando se diz de “uma alma que sente suja”, ou “esse vazio que tanto insiste, como a solidão na vida deu um monge”, e, não por fim, quando é mencionada “uma criança que nunca sorriu”...

Não, não; melhor não! Melhor voltar atrás, fantasiar outros campos, pensar que “hoje não estou demente / [pensar que] a luz brilha no quarto / Vermelho sol poente / [pensar que] a tristeza tem fim / [pensar que] o dia sorri pra mim”. Sim, apesar de tudo, e por ser uma via catártica, a música, mesmo a mais triste e dolorosa, pode expurgar medos e raivas, desencantos e frustrações. A arte é, sim – e a música é sua mais acabada manifestação –, a grande saída contra o trágico que impera no mundo. E P. H. sabe disso, e sabe bem; e faz coro com os poetas gregos, e com Schopenhauer, e com Nietzsche, e com tantos outros que souberam ver o céu encarvoado de corvos famintos e, acima deles, um sol solitário... e sua luz. A arte é um escape do trágico!

Hoje é domingo, e agora são 14:20, e esta é a terceira vez que coloco o EP para tocar enquanto escrevo sobre ele, e estou resfriado, e sem almoço... e a fome vem me dizer que é hora de comer.

Talvez eu pudesse, noutra hora, reescrever tudo o que disse aqui, de modo mais cuidadoso e criterioso. Seja como for, e até aqui, esta foi uma fiel tentativa de descrever a minha primeira impressão sobre o “Coisas belas...”, e ela foi boa, e eu não costumo ouvir algo tantas vezes seguidamente, e gostar do mesmo jeito, seguidamente. Enfim... é apenas uma crítica, e bem pessoal. Bom mesmo é que você, Helena, ouça e tenha as suas próprias impressões. Por hora, vou ali no Hiper da Lagoa comprar algo que sirva de almoço, antes que chegue “a tempestade [que] está perto”, e enquanto “o dia sorri pra mim”. Talvez, depois, como disse, eu mude tudo o que escrevi aqui; talvez não – que é o mais provável.

E lá me vou, assim, cantarolando com voz gutural e simulando uma roda de pogo com os meus outros Eus: “Uma jaula dentro da cabeça! Todos têm medo que escureça! / E gira. E gira o mundo. Nobre vagabundo. / Hoje no circo! O fim do mundo!...”

(P.M.)

www.myspace.com/CINEMERNE

www.soundcloud.com/cinemerne

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e por falar em Velvet Underground ...

Se você perguntar a um crítico musical qual o grupo que mais influenciou o rock pós-1970, prepare-se para uma surpresa. Não são os Beatles, nem os Rolling Stones, nem qualquer outro figurão. Nove entre dez especialistas responderão instantaneamente: Velvet Underground.

Fruto do encontro entre o instinto “rocker” suburbano de Lou Reed e a formação erudita do galês John Cale em 1965, o VU é um dos poucos nomes do rock que realmente merece o pomposo status de “lenda”. A primeira razão para isso é a sua música – parte folk, parte atonal, parte barulho e extremamente intensa – e as letras de Reed, crônicas que passeiam pelo cotidiano da perversão e pela perversão do cotidiano.

Entre os temas prediletos, drogas pesadas (como em Heroin, Waiting for my Man, White Light/White Heat e Sister Ray), devassidão (Venus in Furs) e qualquer outra coisa que horrorizasse simultaneamente o establishment e a contracultura paz-e-amor.

A combinação de letra e música foi descrita na época como “o resultado do casamento secreto entre Bob Dylan e o marquês de Sade”. Faltou citar Lautreamont e as experiências eruditas de John Cage, de quem John Cale se considerava discípulo.

Outra razão para o mito: o Velvet foi o primeiro grupo de rock da história que encanou de fazer “grande arte” – e fez. Teve um papel fundamental na Exploding Plastic Inevitable, trupe multimídia chefiada pelo papa pop e mentor do grupo, Andy Warhol. Além do Velvet tocando ao vivo (e extremamente alto), os shows do E.P.I. incluíam apresentação de filmes, projeção de slides, iluminação psicodélica e dançarinos – e tudo acontecia ao mesmo tempo.

Um ataque aos sentidos sem nenhum precedente, cujo objetivo era, segundo Warhol, “não deixar nada para a imaginação”. Finalmente, há a imagem da banda. Reed, Cale, a diva germânica Nico (que só participou do primeiro disco), o guitarrista Sterling Morrison e a baterista unissex Maureen “Mo” Tucker fundaram um modelito imortal. Até hoje tem garoto por aí afetando o look roupa-preta-óculos-escuros-eternos-botinha-bico-fino-atitude-arrogante.

Se você é fã de artistas dos anos 80 como Nick Cave, Cure e Jesus and Mary Chain, conhecer o Velvet é indispensável. Os vinis básicos são os dois primeiros: The Velvet Underground and Nico (o “disco da banana”, absolutamente clássico) e White Light/White Heat. Eles fizeram outros LPs muito bons, mas a mágica se desfez em 1968, quando John Cale deixou o grupo. Vinte anos se passariam até que Cale e Reed trabalharem juntos novamente, em “Songs for Drella”, LP em homenagem a Andy Warhol.

***

Este texto foi publicado no mês do Rock in Rio 2, em janeiro de 1991. Songs for Drella, o último grande disco de Lou Reed, já tem duas décadas, portanto. Coroca, ele agora se dedica a um trabalho conjunto com o Metallica. Seu professor Andy Warhol felizmente morreu sem ver sua profecia hiper-realizada em pesadelo: todo mundo famoso por quinze segundos.

Este Rock in Rio de 2011, como todos os outros, escalou muitos dinossauros e umas poucas novidades, a maior parte das quais serão esquecidas. Como nenhuma outra edição, apostou no seguro, no entretenimento puro, no produto formatadinho para toda a família e sem risco para os patrocinadores. Rock, o conceito, exige algum elemento de perigo, e mais, de fascínio com o perigo - o que o Velvet Underground intuiu e encapsulou brilhantemente.

Tivemos um Pop in Rio. Boa festa para quem festejou, boa música ocasionalmente, bons negócios para todos. Este texto foi originalmente publicado na revista Playboy, que na época encomendou a diversos jornalistas artigos apresentando as bandas mais importantes do rock.

Escolhi o Velvet, porque acreditava que entretenimento e arte têm utilidades diversas, e que minha função fundamental era separar o fácil do difícil, o automático do refletido, e o bom do ótimo. De preferência, sem soar pomposo; sem medo de dar a cara para bater; e com ambiguidade. Os resultados do meu esforço são públicos e diminutos. Mas vinte anos depois, sigo a mesma estrela...

por André Forastieri
no Blog

# # #

No Sense - Vendetta
Shadowside - Gag Order
Madame Saatan - Até o fim

Bad Cock - The Chosen
H.A.R.R.Y. And The Addict - Genebra
Harry - Lycantropia

Catarse - Certezas
The Sorry Chops - About kings and queens II
( Drop Loaded )

Atari Teenage Riot - Deustchland has got to die
Radiohead - Paranoid Android
The Smashing Pumpkins - zero
The Smiths - There´s a light that never goes out
- por Augusto Andrade

The Velvet Undergound - Pale Blue eyes ( Closet mix )
Metallica & Lou Reed - Iced Honey

The Baggios - Pare e repare
Crove Horrorshow - Sem grana
Cinemerne - 100km com 1 sapato

Rótulo – compre aqui o seu
Reffer – Shift

Sublevação – Tempo sinistro
Motorhead – Loui loui
Decomposed God – Decomposed God
Anti-Nowhere League – I Hate people
Soundgarden – Fell on Black days

terça-feira, 18 de outubro de 2011

No Sense, uma entrevista

No Sense é uma das bandas pioneiras do grindcore no Brasil. Foi formada em 1990 na cidade de Santos, São Paulo, e gravou uma demotape, "confused mind", um EP 7 polegadas chamado "out of reality" pela Fucker records, de São Paulo, e um LP em vinil, "cerebral cacophony", pela Cogumelo, de Belo Horizonte. Pararam em 1993 e voltaram em 2008 a todo vapor, tendo lançado, já, um novo EP, "obey", que além de ser uma prévia do novo disco traz, como bonus, o primeiro EP, fora de catálogo e nunca antes lançado em CD.

Abaixo, uma entrevista com Marly, a vocalista:

programa de rock – Por quanto tempo vocês ficaram separados ? Vocês conseguiriam lembrar, exatamente, quais e quando foram as últimas atividades (show, ensaio, reunião) que tiveram enquanto banda antes de se separar e depois, na reunião?

No Sense – Ficamos separados exatamente 15 anos…só lembro do último show, que foi em Santo André, e eu estava com um barrigão de 7 meses…já pra volta rolou um “telefone sem fio”….um encontrava o outro e ficávamos mandando recados porquê nunca calhava de encontrarmos os 4 de uma vez….até que calhou de combinarmos tudo por telefone e o reencontro se deu já no ensaio…dia 20 de julho de 2008, no dia do meu aniversário. Presentão!!!!!!

pdr – Como aconteceu esta volta da banda ? Foi algo planejado, amadurecido, ou simplesmente aconteceu, sem nenhum planejamento, tipo um “Big Bang” ?

ns – Então, como falei a vontade sempre esteve em algum lugar adormecida…

pdr – O que vocês fizeram no tempo em que estavam separados ? Se envolveram com algum projeto de cunho “artístico” ou simplesmente tocaram suas vidas pessoais ?

ns – Eu tive a minha adorada e amada Chesed Geburah, banda estilo black metal (não temática!) com muitos teclados, muito clima, vocais diferentes…algo também pioneiro pra época….mas fiquei só um ano na banda, depois parei com tudo e fui me dedicar aos estudos…os meninos se envolveram em vários projetos como:

Angelo: Abuso Sonoro e o selo Elephant Rec. que lançou várias bandas;

Morto: Abuso Sonoro, Toxic Freak, Leucopenia, Bones Erosion;

Paulinho: Violent Vision, Wrinkled Witch, Empire of Souls.

pdr – Como tem sido esta retomada, em termos de retorno do publico e satisfação pessoal de vocês como membros da banda – está tudo ocorrendo de acordo com o previsto (se é que previam algo) ou têm se surpreendido? Têm sentido algum tipo de retorno da galera mais jovem ? E os velhos “fãs”, como receberam a volta do No Sense ?

ns – Isso é muito louco! Porquê só depois da volta passamos a ter a real dimensão do que fomos e representamos diante da receptividade!!! Não tínhamos expectativa alguma, nem sabíamos se íamos um aguentar a cara do outro rsrs…mas foi melhor do que imaginamos……

Os “fãs” são os “olds”, um mais maluco que o outro!

pdr – Me falem dos shows que têm feito, como tem sido o clima em geral ?

ns – Fizemos poucos, mas foram muito bons! É que não demos muita sorte ainda de tocarmos com bandas só do gênero então o público fica meio sem reação…rsrs

pdr – Não tenho nada contra bandas que voltam apenas para matar a saudade e fazer shows tocando somente as mesmas musicas, mas respeito mais as que se preocupam em produzir algo novo, compor novos sons, portanto saúdo o No Sense por isso. Como surgiram essas novas composições ? Já tinham planos de lançar um disco novo ou aconteceu como consequencia ?

ns – Nos primeiros ensaios já saiu a “No More Hope”, de lá pra cá temos quase 30 músicas novas….é meio automático…parece que esses anos todos a inspiração ficou “encubada”….você não têm noção de como está o cd…já está quase todo gravado…músicas maravilhosas!!!!!!

pdr – Me falem do processo de gravação do novo EP e das diferenças que vocês sentiram em relação à experiência da primeira fase da banda, quando gravaram 1 demo, 1 compacto e 1 LP.

ns – Naquela fase não tinhamos experiência alguma….eu continuo sem..rsrs….os meninos já gravaram várias coisas com suas respectivas bandas….eu apanhei nesse cd da volta….se não fosse o aparato técnico de pessoas como o Claudio, nosso produtor (que agora é o baixista) e meu amigo Josh do Bode Preto, que mesmo de longe me ajudou pra caramba, eu não sei como teria finalizado!

pdr – Algum plano para o relançamento do LP “Cerebral cacophony” em CD ?

ns – Nenhum!!!! No máximo tocar as músicas ao vivo! A Cogumelo não se pronuncia, nem nós!

pdr – Como vocês vêem a “cena” hoje em comparação àquela na qual nasceram e foram gestados, no início dos anos 90? – o que melhorou, o que piorou, o que continua na mesma …

ns – Fraquinha né???? Mas os que restaram valem por 100 daquela época!

pdr – Já que entramos no tópico “recordar é viver”, façam uma retrospectiva da carreira da banda: como começou, quais os melhores shows, viagens, melhores (e piores, porque não?) momentos, enfim.

* MORTO: Bom, o inicio de tudo deu-se com a ideia de fazer alguma coisa que envolvesse barulho, com influências do que mais ouvíamos na época, Napalm, Terrorizer, Repulsion….a ideia de ter um mina como vocal surgiu do nosso grande amigo Angelo,e também a loucura de trocarmos de função pois na época eu tocava guitarra e ele baixo dai se já sabe , bom os shows sou meio lesado pra lembrar mas posso dizer q tivemos muitos bons e também muitas roubadas, em questão a viagens não fomos muito longe dos nosso estado um ou outro que não me recordo,mas dizer pior não dá pra dizer porque sempre tiramos proveito de tudo pois cada lugar uma experiência nova.

pdr – Porque parou ?

ns – Porquê engravidei..tivemos que dar um tempo..embora tenhamos feito shows até meus 7 meses de gestação. Nessa de “dar um tempo” foi cada um pro seu lado.

pdr – Me falem sobre a relação de vocês com as gravadoras que lançaram seus discos, antes e agora – alguma diferença significativa ?

ns – A Fücker não existe mais, mas a nossa relação é de extrema gratidão….o seu dono, Leandro, era uma pessoa espetacular e apostou na banda de forma surpreendente!

A Cogumelo deixou a desejar…péssimo estúdio, péssima produção, péssima divulgação, não tivemos muita voz ativa e sentimos que “queimamos” 20 músicas maravilhosas com isso.

Atualmente a Violent é nossa parceira, mas não 100%, o trabalho que estamos realizando agora, que só estará completo com o cd, pois na verdade Obey é uma promo comemorativa dos 20 anos do 7′ ep, é uma produção indepente de um grande fã nosso que prefere ficar no anonimato. É uma história curiosa. Ele se propôs a bancar tudo desde que ficasse no anonimato e que todas as fitas masters lhe fossem enviadas, sem quaisquer edições.

pdr – Marly, você foi meio que pioneira nessa história de garotas na formação de bandas com um som tão extremo. Como foi este processo, as pessoas estranhavam muito? Sua presença foi bem aceita ou você sofreu algum tipo de manifestação machista/sexista pelo fato de ser uma mulher “cantando” grindcore? Para situar um pouco o contexto da época, nos fale um pouco das outras bandas que tinham membros do sexo feminino, como o Purulence – como era, enfim, a participação feminina na cena da época e o que, na sua opinião, mudou (ou não), de lá pra cá.

ns – Na verdade quem sofreu preconceito foi a banda…cansei de ouvir de uns caras da região que tinham banda de thrash e afins que éramos uns retardados, que o som era um bosta….teve um cara que teve as manhas de chegar pra mim e dizer “Marly, sai disso, isso é ridículo”….ahahaha mas o castigo veio a cavalo….em poucos meses um dos selos mais legais nos contratou e gravamos o ep e deixamos todo mundo se remoendo de ódio….até hoje tem gente que nos odeia….por isso temos um pacto: Nunca tocaremos em Santos….aproveitando o espaço, posso dar um recado pra esse povo que está entalado em minha garganta esses anos todos???

PAU NO CU DE VOCÊS SEUS MERDAS!!!! VOCÊS SABEM QUEM VOCÊS SÃO!!!

Quanto à mim eu nunca recebi ou percebi manifestações machistas/sexistas…talvez pela minha postura…meio de moleque, bem maloqueira também…visual camiseta/calça/tênis….isso não dava mesmo muita margem à esse tipo de reação….só vim descobrir que causei uma espécie de “espanto”, digamos assim, e o que pensavam de mim com o advento da internet…pois li muitos comentários que eu nunca imaginei!!! Coisas surreais!!! Hoje eu dou risada, naquela época daria porrada!!!! De meu conhecimento, aqui no Brasil, de som extremo mesmo só o Purulence mesmo, que veio um pouco depois, e aquelas meninas eram demais!!!! SE eu abri alguma porta pra mulherada, foi o Purulence quem passou por ela primeiro, e elas são meu maior orgulho por ter aberto tal porta. Tinha outras bandas na época como Volkanas, Flammea, mas eram outro estilo, outra proposta…Hoje em dia tem o Necrose com minha amiga Angela que representa muito bem a cena!

pdr – Grindcore não é apenas “música” (há quem ache que nem isso é), o aspecto ideológico sempre foi forte no desenvolvimento do estilo. Como vocês se situam neste campo? Pensam o mundo, em geral, da mesma forma, com a mesma matriz ideológica, ou algo mudou ?

ns – Realmente tem grind que é uma corrida de velocistas que você não entende nada e nenhuma música te marca….Só que nós não fazemos esse grind….nossa linha é a linha Napalm, a linha que você escuta a música, sente o riff e tem vontade de chorar de tanto que te toca….essa é a minha relação com o grind….acho que é uma questão de alma mesmo…tem gente que ouve Sabbath e acha uma barulheira também…vou falar o quê? Só posso dizer que colocamos nossa alma quando estou “cantando” qualquer música do No Sense…se soa dissonante para a maioria…talvez nossa alma seja dissonante e não podemos fazer nada quanto à isso. Vejo os “meninos” comporem e vejo admirada todo o processo de criação…rola uma sinergia impressionante! E fazemos isso porquê gostamos, pois, orgulhosamente, admito que todos eles tocam muito e poderiam tocar outros estilos, como o fazem!

No passado tivemos uma postura mais ideológica..hoje queremos apenas falar o que sentimos em determinada situação que se apresente…sem dogmas…como em “Spilling the holly shit” em que eu canto como se fosse um cristão suplicando ao seu pastor (e ele respondendo), Vendetta, que fala de vingança pura e simples, ou da Guided, que é uma honemagem ao Dexter…rsrs..como pode ver….bem variado….

Eu nunca vou subir no palco e ficar pregando meu ideais!!!! Eu quero é subir no palco e me divertir!!! Eu quero é rock!!!!

pdr – Pra finalizar: “Haverá futuro”?

ns – Pra nós enquanto o Napalm Death e o Terrorizer tocarem em nossos corações, sim!

Adelvan perguntou

Marly respondeu

Exceto em *

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# 201 - 15/10/2011

Leonardo Panço, escritor carioca ex-guitarrista do Jason, Sountien Xiita, Cabeça e mais um monte de bandas, esteve em Aracaju sábado passado lançando seu novo livro, “Esporro”, que conta histórias de “uma certa cena” underground que aflorou no Rio de Janeiro na primeira metade da década de 90 gravitando em torno do Garage Arte Cult, um pardieiro que serviu de casa para os roqueiros mais “casca-grossa”, no estilo CBGB´s. O lançamento se deu no Capitão Cook, em mais uma “Noite Fora do eixo”, a segunda se uma série que o Virote coletivo pretende promover com uma banda ainda com pouca projeção na cena local mais uma convidada de fora do estado.

E foi o de sempre: quase ninguém lá dentro e uma pequena multidão do lado de fora, bebendo e se divertindo no meio do nada – porque na frente do cook não tem nada, apenas um terreno baldio entre o bar e o mar. A aglomeração é tamanha que já se formou um pequeno comercio informal por lá, com barraquinhas de cerveja, cachorro quente e quitutes. Aos que se arriscam em organizar algo, resta a tarefa inglória de contar os trocadas pra ver se dá pra pagar pelo menos o som. Não por acaso um figura de uma banda de Salvador me falou recentemente que pra tocar no Cook ele não vem mais a Aracaju nem a pau. "Porque ninguém entra". Certo ele.

Mas enfim, quem não entrou perdeu um belo show da Casa Forte, um esquete teatral interessante do Grupo de Teatro A Tua Lona que constava de duas garotas “torturando” um rapaz com perguntas de conhecimento geral ao som de “geração coca-cola”, da Legião Urbana, e Você me Excita, de Salvador, que merece um parágrafo a parte ...

Os baianos surpreenderam com um show animadíssimo, apesar do aparente desânimo dos presentes (e pode me incluir nesse meio, apesar de eu estar animado, apenas não sou uma pessoa expansiva). Fazem um rock básico e nervoso, na linha do que também fazem Strokes e Libertines lá fora e Vivendo do Ócio em sua cidade natal. O vocalista/guitarrista, em especial, se esforçou bastante para despertar o público (e pode me incluir de novo, apesar de eu estar animado, juro). Têm uma pegada muito boa, especialmente o baterista, que segura muito bem o ritmo. O trabalho das guitarras também é muito criativo e as composições são simples porém eficientes, como o bom rock geralmente é. Uma boa banda, enfim.

Antes do Cook, Panço esteve no programa de rock conversando ao vivo sobre seu novo rebento – que tá bonito, diga-se de passagem, bem impresso, ricamente ilustrado e com uma excelente diagramação. Contou, entre outras coisas, que teve a idéia depois de ler uma entrevista com o jornalista André Barcinsky em que ele falava que não tinha nada que prestasse no rock brasileiro, onde até mesmo no underground a chatice imperava. Resolveu que, já que ele fez um livro chamado “Barulho”, um dia faria um chamado “Esporro” pra mostrar que ele estava errado. O resultado pode ser conferido nas melhores livrarias ou aqui.

Esta edição do programa de rock foi praticamente um “talk show”, já que pela segunda metade do programa também passaram, dando seu recado, a Tody´s Trouble band, nova promessa da cena local, e a Plástico Lunar, a caminho de um show histórico no SESC Pompéia “do começo do fim do mundo” em São Paulo. Hoje (terça-feira, 18/10/2011).

Na parte musical, além do Drop Loaded e do Bloco do ouvinte produzido pelo nosso camarada Gabriel “perninha”, baterista da Baggios, algumas das bandas que foram retratadas no livro do Panço, com destaque para a genial Gangrena Gasosa, cuja letra de “traxangô” (precedida de um ponto de macumba) reproduzo abaixo, depois de uma excelente entrevista com Panço surrupiada do site “O Inimigo”.

Muitos consideram os anos 80 como os primordiais para o rock no Brasil. Ok, tem lá sua relevância e começam a surgir escritos e documentários que registram essa época. Mas foi uma época em que poucos ganharam muito. E alguns ainda surfam na crista dessa onda enganando muitos tocando as mesmas músicas há 30 anos e novas composições que se viessem embrulhadas em saco de lixo não seria exagero. Do outro lado da moeda os anos 90 passaram despercebidos por muita gente. Mesmo sendo nessa época que dezenas de bandas, conseguiram seu lugar ao sol com muito pouco. Pra citar algumas: Raimundos, Skank, Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Planet Hemp. Isso para ficar apenas em cinco, que tiveram mais destaque. Outras tantas país afora fizeram shows, turnês, gravaram discos, deram origem a tantas outras. E foi nos anos 90 que os festivais, que sempre existiram, ganharam a força para se manter até hoje. Um pedaço dessa história, do Rio de Janeiro mais precisamente, foi contada por Leonardo Panço no seu mais recente livro: Esporro. Estão nele bandas como Soutien Xiita, Gangrena Gasosa e Piu Piu e Sua Banda. Um livro que na verdade foi escrito há mais de dez anos e só agora chega ao público.

Confira abaixo a entrevista com Panço:

Hugo Morais – Este é o terceiro livro que você escreve, todos calcados na temática da música, do rock. O do Jason é como um diário de bordo, algo que Mozine e Quique também fizeram. Já o Caras dessa idade leva em consideração outra visão da sua viagem pela Europa. Qual a diferença de Esporro para os outros dois?

No final das contas é isso que eu sou, né? Um roqueiro. Por acaso escrevo e tive a ambição de lançar livros, então no final das contas cá estou eu lançando o terceiro rebento, todos sobre música. Mas de certo modo, o segundo é um livro de crônicas, de um cara na estrada, morando fora do Brasil, mas eu não vejo ele como um livro de música não. Tem alguns momentos que fala de música, que cita partes de música, mas talvez, sei lá, 10% seja sobre música. O Esporro é mais ou menos o seguinte: é um livro escrito há uns 12, 13 anos atrás, antes dos outros dois, mas somente vai sair agora porque sempre foi muito difícil terminar ele. Ontem mesmo eu falei com o Flock, que fez toda a incrível e marcante arte, que não seríamos capazes de ter feito ele há 10 anos atrás, pelas limitações técnicas, principalmente. É um livro que conta histórias loucas que toda cidade do mundo teve com as bandas locais. Eu conto as aqui do Rio, mais ou menos no período de 92 e 93, e com um número limitado de bandas. No geral bandas de amigos, que eu gostava, que eu acho relevantes. Outras pessoas fariam de outra maneira, mas isso aí foi o que eu fiquei com vontade de contar.

Alexis Peixoto – Você já começa a se sentir mais escritor do que músico ou as duas atividades estão em pé de igualdade?

Diria que agora as duas coisas estão mais ou menos paradas. Preciso primeiro terminar uma coisa pra começar outra, é tão mais fácil mentalmente. Então agora a prioridade total é de lançar o Esporro, marcar a tour, divulgar, dar entrevistas, lançar, fazer festas no Rio pra recuperar o dinheiro investido. É muita coisa pra fazer, né? Algumas coisas só existem porque alguns amigos abraçaram a ideia: Danubio criou Facebook do livro, vimeo, youtube, twitter. O Flock diagramou, o Sno fez o teaser. Se fosse só eu, ficaria difícil porque só sei ligar o computador, o word e ver e-mail. Não sei fazer muito do mundo moderno, apesar de gostar da facilidade de baixar filmes, discos, etc. Desde que saí do Jason em janeiro, parei de tocar uns dois, três meses e agora recentemente estranhamente voltei a criar e tenho algumas músicas em andamento, mas em marchamegasuperlentasempressaalguma. Podem até nunca ficarem prontas. Na verdade eu queria dar os riffs que eu faço pra outras pessoas usarem, assim não se perderia o que eu crio e nem teria que me dedicar de uma maneira que não posso no momento. Quem sabe depois da tour do livro terminar, né? Minha ideia é fazer essa primeira parte que vai de 01/10 até 06/11 direto e depois fazer poucas coisas ainda esse ano porque tenho que fazer uma artroscopia no joelho. Artroscopia no joelho é um pleonasmo? Então faço o lançamento no Rio dia 19/11 aqui em casa mesmo, nada de livrarias na Zona Sul. Zona Norte, subúrbio. Vai ser ótimo, tenho cá pra mim. Mas já tenho convite pra ir a Volta Redonda, aqui no interior e espero ir a Resende no dia anterior, sempre foi assim com o Jason. Quero muito ir a São José dos Campos também. Daí depois acho que só depois do verão e do carnaval. Quero ficar de bobeira um pouco porque esse livro foi muito desgaste, pergunta ao Flock. E aí espero depois da praia, lá por março retomar. Tenho novos roteiros na cabeça e espero fazer algumas coisas.

Hugo Morais – Como você vê no Brasil as publicações voltadas para a música?

De revista? Em papel só leio a Rolling Stone porque um amigo compra e me empresta. Mas passo sem ela, né. Gosto mais de ler entrevistas. Hoje tem muita entrevista em vídeo que é legal também. No mais eu leio em sites, blogs, etc. Agora se é em livro, ainda é muito fraco, né. Tem muito pouco livro de música no Brasil. No rock tem muito pouco, no underground então. Esse ano no Rio, que saiu o meu, do Pedro de Luna e do Larry, uma coisa atípica, três ao mesmo tempo praticamente. Mas ainda falta muito.

Alexis Peixoto – Essa também é a segunda vez que você faz uma turnê para lançar o livro. O que é mais prazeroso, cair na estrada para divulgar um livro ou com uma banda? Em que uma coisa é diferente da outra?

Acho muito diferente. Pra começar uma é em coletivo e outra individual. Gostava muito mesmo de tocar com o Jason, principalmente quando tudo dá certo, o que não é muito comum. Quando acontece de o som estar ótimo, as pessoas felizes, o lugar cheio, os quatro se ouvindo, o astral alto, é uma experiência pra mim acima de tudo em termos artísticos. Mas não vou dizer nunca porque nunca é muito tempo, mas minha vida em coletivo está terminada. Sou muito difícil, as pessoas não me aturam mais, eu não aturo as pessoas muito tempo, ir ensaiar toda semana, pegar ônibus, acordar cedo, viajar de acordo com a vontade e o gosto de outras três pessoas é difícil. Mas tour do livro é muito legal também. A primeira teve um monte de coisas que poderiam ter sido melhores, tanto da minha parte, quanto das pessoas. De vários eventos, só um fez filipeta em papel, os outros só virtual. E acho que ainda faz falta. Fora que tour de livro, no meu caso, que não tenho um nome forte, não pode cobrar ingresso, dar lucro, então fica difícil exigir uma dedicação grande de quem faz. Em JP e Campina Grande fiz shows com a juventude do ELMO tocando Jason e aí dava pra cobrar, mas no geral é mais difícil. De qualquer modo essa agora vai ter coisas diferentes da outra, não vou tocar guitarra nos eventos como fiz da outra vez, vou a galerias de arte, livrarias, vários lugares. Novas experiências com certeza. Fora que vou a cidades onde nunca fui como Esteio, Sapucaia do Sul, Sapiranga, Joinville, São Leopoldo, Novo Hamburgo. E espero que os convites pra ir a novas cidades onde nunca fui surjam bastante.

Alexis peixoto – Você sempre cita como influência Jello Biafra e Henry Rollins, que são músicos escritores e costumam fazer turnês literárias. Mas o trabalho deles é mais voltado para a política, enquanto você prefere abordar cultura pop e suas próprias experiências com essa cultura. Já pensou em escrever algo mais “engajado”?

Não. Sendo sincero e direto, não. Não é meu jeito, me dá sono, não é meu estilo, e não vou contra isso. Gosto de ler livro de rock, não de política. De qualquer modo quando eu estava na Alemanha, vi um DVD do Rollins ao vivo na Austrália. Leva umas 3 horas e não vi uma frase política, era praticamente um show de humor. Muito engraçado mesmo. Ele fala de uma viajem dele para a Sibéria, de um taxista que queria ficar com ele em Nova York, vários lances divertidos. Acho que a minha política está nas entrelinhas, quando eu lanço minhas coisas sozinho, quando eu toco nos squats, durmo onde for preciso, lanço bandas, livros, saio por aí e mostro na prática que tudo é possível, parte aí e faz o teu.

Hugo Morais – Tendo participado dos anos 90 ativamente, dentro da construção da cena, como você avalia ela hoje?

Eu me sinto um pouco fora da cena hoje em dia se comparado com a minha atuação nos anos 90 quando eu vivi 100% da minha vida para o rock, bandas, escrever, compor, viajar, divulgar, fanzines, gravadora, lançamentos, etc. Então o que eu gosto agora é da modernidade. Fico imaginando na época da gente em 92, 93, algumas performances muito loucas da Gangrena, do Piu Piu, estariam com certeza com 100, 200 mil views fácil. Tudo seria mais fácil e interessante. Acho a maior parte das bandas uma merda hoje em dia, mas tem das duas, né? Ou são mesmo ou estou velho. São outros tempos e gosto de poucas coisas ainda. Ratos de Porão, Eu serei a hiena, Gigante Animal, Emicida, Nação Zumbi, sei lá, não são tantas.

Alexis Peixoto – Lá fora, os 90′s foram os anos em que o “alternativo” estava na ordem do dia. E no Brasil? Havia essa pretensão de criar um mercado ou se fazia música apenas por inquietação?

Ih, não sei. Acho que uma coisa acaba levando à outra, né? A gente faz as coisas por inquietação, movidos por uma vontade interna, por gostar do que se faz. De repente no meio do processo todo natural, de jovem, você percebe que pode fazer mais, se mover mais, articular mais. Aí as coisas vão andando para outro lado. A inquietação se junta com a pretensão de criar um mercado, o que acho que aconteceu comigo, né. Comecei um fanzine, passei a colaborar com outros zines, depois revistas, depois jornais, e um dia tinha virado jornalista oficialmente. Montei uma banda com 15 anos e um dia estava lançando a banda dos amigos, de outras pessoas, estava viajando pra Europa, pra vários lugares do Brasil. Acho que uma coisa leva à outra de forma natural pra quem segue na insistência.

Alexis peixoto – E hoje, esse mercado existe? Se sim, isso coloca o Brasil num delay de dez anos com o resto do mundo?

Eu sempre achei que a gente estava dez anos atrás de todo o mundo, assim, Europa e Estados Unidos. Hoje não tenho mais essa certeza e pra ser sincero não me importa mais. A gente tem o nosso tempo. A Alemanha tem cervejas mais velhas que o Descobrimento do Brasil, então vamos com calma, que o tempo vai acertando umas coisas. Falta muitão ainda, mas a gente já faz coisas com muitíssima qualidade. Você ouve o disco novo do Paura e não tem nada a dever aos discos gringos, é hostil, bem tocado, bem gravado, eu acho muito no nível de todo mundo lá fora.

De uns tempos pra cá, a crítica americana vem concordando que os anos 90 foram a última década em que surgiu algo de realmente original na música. O livro novo do Simon Reynolds, aliás, bate muito nessa tecla. Você concorda?

Sempre vai soar como papo de velho, né. “Ah não, minha época era melhor”. Sei não. Flock me passou outro dia o Warpaint, quatro minas que vão tocar aqui no Rio. Não sei de onde é, mas achei excelente. Vou estar em tour, mas se estivesse aqui, gostaria de ver. Então não acho não. Antes eu falei que tem muita banda merda, mas nos anos 80 tinha, nos 90, e agora vai ter e na próxima década também. Eu quero sempre que não tenha pra eu poder colocar coisas diferentes no iPod todo dia já que são 90km ida e volta pro trabalho e preciso variar muito.

Hugo Morais – Ficou algum legado dos anos 90 para as bandas de hoje?

De certo modo ainda tem muito para melhorar, claro, mas algumas coisas hoje são tão melhores que deve ter algum reflexo do que veio para trás. Os punks dos anos 80 apanharam da polícia para os dos 90 não apanharem. A gente tocou em [amplificadores] Staner, Gope, Jazz Chorus, várias tranqueiras, pra agora geral poder ver um Marshall sem se espantar. Mas ainda falta muito.

Hugo Morais – Se existisse a internet naquela época alguma banda teria tido mais “chance”? Se sim, qual ou quais?

Aqui no RJ, acho que Piu (Piu e Sua Banda) e Gangrena (Gasosa) seriam maiores, o Sex Noise também. Eram ótimas performances ao vivo.

# # #

Ponto:

As portas do inferno estremeceram

Todos correram para ver quem é

Eu dei uma gargalhada na encruzilhada

É a pomba gira e o compadre Lúcifer

Traxangô

Gangrena Gasosa

Tem um pôster da Gangrena
E uma estátua de Satã
Só curte sexo anal
E bate punheta para Iansã
Sua jaqueta vermelha
Feita de couro de bode
Tem pregado nas costas
Um patche com a imagem de São Jorge

Odeia Black Sabbath
Rush & Led Zeppelin
E a fivela do seu cinto
É a cabeça da Janis Joplin

Cavaleiro Black
Ele é o Knight do Mal
Empunha a sua espada
Pelo Saravá Metal!

Não usa tatuagem
Ele se risca com pemba
Que rouba Sexta-feira
Na roça de mãe Jurema
Não usa spike ou bottom
Ele odeia tudo isso
Usa fita da Bahia
E patuá contra feitiço

Não trabalha, é feio
E nunca teve namorada
Come despacho de macumba
E dorme nas encruzilhadas

Cavaleiro Black
Ele é o Knight do Mal
Inverte a sua cruz
Pelo Saravá Metal!

# # #

Venus Volts - Sex is Blind
The Salad Maker - Between Dreams
(Drop Loaded)

Frank Black - Calistan
Johnn Frusciante - wednesday´s song
Buffalo Killers - Circle day
Supergrass - She´s so loose
Graveyard - Evil ways
- por Gabriel "Perninha"

Soutien Xiita - My song
The Funk Fuckers - Inthahouse
Sex Noise - Franzino costela
Poindexter - Terrô!
ponto.
Gangrena Gasosa - Traxangô

Entrevista com Leonardo Panço

Tody´s Trouble Band - o Murro blues
+ Entrevista

Plástico Lunar:

# Mar de leite azedo
# Quase desisto
+ Entrevista



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Rock in Rio São Francisco

Cheguei ao Clube Altemar Dutra, em Canindé do São Francisco, sertão sergipano, num sábado, 08 de outubro de 2011, por volta das 20:00H. Era o Terceiro Alternativo Rock Canindé e a Urublues estava no palco, fazendo o de sempre: mais e melhores blues. Na verdade não haveriam muitas surpresas no quesito musical naquela noite, já que a escalação constava apenas de bandas já bastante vistas e com apresentações devidamente resenhadas por mim aqui mesmo neste espaço que nos cabe deste grande latifúndio que é a internet. A novidade, no caso, era o local onde a Festival estava acontecendo e o público, em bom número e, o mais importante, animado.

O Clube Altemar Dutra, me parece, é um espaço público, já que ostenta uma gigantesca marca da prefeitura municipal em sua entrada. um espaço amplo, com os shows acontecendo em um salão fechado porém arejado ladeado por um grande hall ao ar livre. Na parte de baixo, um bar e uma piscina – interditada, infelizmente. Ia ser legal ver se repetir ali o banho redentor que foi a marca do encerramento do Rock-se, no longiquo ano da graça de 1998 do século passado. “Um lugar do caralho”, enfim.

Já o público foi surpreendentemente jovem, empolgado, ativo e participativo. A galera estava com uma sede de rock como há tempos eu não via por estas bandas. Falo de Aracaju, claro, cuja cena está morgadíssima, com um público apático e desinteressado que geralmente prefere ficar na porta dos shows bebendo e jogando conversa fora. Foi bonito (re)ver as boas e velhas rodinhas punk, os moshs com “caminha” e as pilhas humanas que se formavam sempre que alguém caía. Tudo isto, inclusive, com uma ampla participação feminina, e em todos os shows, fossem eles de blues, hard rock, hard core ou heavy metal.

A banda que mais incendiou a galera foi a Mamutes, que entrou logo depois da Urublues desfalcada de sua baterista, prontamente substituída à altura por Tony Karpa, da One Last sunset. Foi jogo ganho, com a galera cantando junto as letras das musicas, as meninas dançando e os garotos se “esbagaçando”. Com direito, inclusive, a um quase explícito “assédio sexual” em pleno palco protagonizado por uma garota que subiu ao mesmo e ficou lá um tempão, se esfregando lascivamente principalmente em Kal e Rick, respectivamente o vocalista e o guitarrista (atenção senhoras patroas dos caras, eles não têm culpa, foi uma manifestação totalmente espontânea e, a princípio, sem grandes conseqüências, pelo menos que eu saiba). “É isso aí, rock and roll é libertação”, falou Kal com propriedade entre um urro e outro do camarada Cachorrão e antes de chamar Silvio da Karne krua para o grand finale, uma versão turbinada de “No fun”, dos stooges. Divertidíssimo.

Karne Krua entrou na sequencia e fez um show esporrento, com alguns clássicos do cancioneiro Hard core local cantadas em uníssono pela platéia, ainda com todo o gás e pogando muito. Bonito de ver, principalmente as garotas, que em Sergipe geralmente são muito tímidas (sim, estávamos em Sergipe, mas numa região fronteiriça, e muitos dos presentes não eram sergipanos). A karne fez, inclusive, uma bonita homenagem a Redson, do Cólera, falecido recentemente (e homenageado também no crachá de identificação do evento), com um cover de “passeatas”, e encerrou sua apresentação com uma sequencia matadora tocada no talo e sem intervalo entre uma musica e outra. Excelente.

A banda seguinte, Hatend, de Paulo Afonso, demorou muito a se arrumar e eu, cansado daquele bate bate chato de passagem de som de bateria, saí para tomar um ar e dar uma voltinha na simpática praça que fica em frente ao clube. Acabei apenas ouvindo os shows seguintes de fora mesmo, portanto vou me abster de maiores comentários. Entrei apenas para ajudar Luiz Oliva numa entrevista com Adalberto Feitosa, o mentor e organizador da “parada” (com a inestimável ajuda do incansável Luiz Humberto, agitador cultural “underground” da vizinha Poço Redondo), e foi surpreendente: o cara tem muita história pra contar. Ele tem 50 anos e é paulista. Conheceu Redson na Estação São Bento do metrô ainda no final dos anos 70 e costumava freqüentar clubes paulistanos célebres, como o “Fofinho rock clube”, que eu conheci em minha primeira visita à cidade, em 1991. Foi neste mesmo 1991 que Adalberto se mudou para Canindé para trabalhar na Usina Hidrelétrica de Xingó e se apaixonou pelo local, ainda mais depois de descobrir que por aqui também havia uma cultura “subterrânea” roqueira. Esta é a terceira edição que ele produz do Festival Alternativo rock, sempre com muito esforço e algum prejuízo, mas muita satisfação e nenhuma sombra de arrependimento. Para o ano que vem diz contar com um apoio prometido de uma das facções políticas locais (será ano de eleição e nessa época os recursos públicos costumam ser mais generosos, para o bem ou para o mal), o que viabilizaria uma espera menor por uma nova edição (a última foi há 3 anos). Convidei-o para aparecer qualquer sábado destes nos estúdios da Aperipê FM para contar sua história no ar no ao vivo programa de rock. Espero que role.

Voltei pra casa na mesma noite, apesar da viabilíssima opção de dormir por lá mesmo numa pousada que encontrei cuja diária custava a bagatela de R$ 15,00! A viagem de volta foi tranqüila, no tapetão da “Rota do Sertão”. Não fosse pelo excesso de quebra-molas, por alguns animais na pista e por uma súbita neblina na altura de Itabaiana, teria tirado o percurso, de cerca de 200km, em menos de 2 horas e meia (foram quase 3). Foi o fim de um dia divertido que começou às 11 da manhã e teve sua primeira parada em Itabaiana, onde almoçamos num simpático e aconchegante restaurante a quilo chamado Garfil, que recomendo muito. É na entrada da cidade, já no fim da avenida, próximo ao Cemitério, à sede do INSS (que ficam, oh! Ironia, um em frente ao outro) e à Associação Atlética. Fica a dica.

Chegando em Canindé, uma outra dica é uma visita ao MAX, o Museu de Arqueologia de Xingó, um prediozinho elegante e aconchegante que abriga num ambiente climatizado alguns dos achados arqueológicos da região, dentre eles utensílios domésticos e fósseis dos habitantes locais de 9.000 anos atrás. Para chegar lá, você deve virar à esquerda no trevo que desemboca numa das praias do Rio São Francisco que ficam de frente para a majestosa Usina Hidrelétrica de Xingó.

Virando à direita, você chega em Piranhas, cidade alagoana histórica encravada entre as montanhas e o velho Chico. Vale muito a pena a visita. É uma cidadezinha muito simpática, cheia de ladeiras e casinhas coloridas, que abriga um museu dedicado às coisas do sertão e do cangaço. Foi lá, em Piranhas, que ficaram expostas, pela primeira vez, as cabeças decepadas de Lampião, Maria Bonita e demais membros de seu bando. Destaque para um charmoso e aconchegante café que fica no alto de uma torre histórica que abriga um relógio, a Torre da estação. Recomendo. Recomendo também ver o sol se por entre as montanhas às margens do rio. Muito bonito. Teria sido tudo perfeito, não fosse por uma alma sebosa que cismou de abrir o potentíssimo som de mala do seu carro e espalhar pelo ambiente uma pra lá de desagradável cacofonia de ruídos que alguns chamam de “musica” – uma daquelas “quebradeiras” baianas, pagode diluído para as massas, o que nos fez desistir de bater uma macaxeira com carne de bode pela qual vínhamos salivando há temos – ah, esses gordinhos …

Na volta para Canindé passamos por um Mirante da Chesf que estava fechado mas que já tinha visitado em minha última passagem por lá. É outra boa dica de passeio, já que lá você encontra diversos souvenirs à venda e pode agendar uma visita à usina, que eu não fiz mas deve ser interessante. Assim como interessante deve ser (certamente é) o passeio de barco pelo rio que te leva a um banho entre os cânios e/ou à rota do cangaço, numa caminhada pela caatinga que termina na gruta de Angicos, em Poço Redondo, o lugar onde o bando de Lampião foi emboscado e chacinado. Que eu saiba, há duas opções: pelo catamarã, que você pode pegar já a partir de Aracaju, indo de van até lá, ou lá mesmo em Piranhas: vimos um local que vende passagens a R$ 40,00.

Voltarei lá e farei isso o mais breve possível.

por Adelvan