terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Gangrena Gasosa reloaded

Não, eles não são uma lenda urbana. Eles existem. E não, não acabou. A Gangrena Gasosa, primeira e única banda de Saravá Metal do universo, está viva e ativa, e acaba de lançar seu terceiro disco. Aproveitamos o ensejo pra conversar, via internet, com o vocalista Angelo, que dá uma geral no que tem acontecido nos domínios do Zé Pilintra.

programa de rock - Finalmente foi lançado o terceiro disco “cheio” e “oficial” da Gangrena Gasosa. Conte-nos como foi todo o processo de concepção e gravação do mesmo – o repertório já estava pronto ou vocês compuseram músicas novas que nunca haviam sido antes gravadas, além das que já constavam do EP 666 ?

gangrena gasosa - “Se Deus é 10 SATANÁS é 666” é o primeiro disco que nos deixou realmente satisfeitos com o resultado. Pra mim esse disco foi premiado pelo nível dos profissionais que colaboraram. Tuta e Diogo Macedo do EME Studios, do Rio. Dupla foda de Barra Mansa que tinha gravado muita banda underground com resultados sensacionais e coisas diferentes como o grupo Strike e a Banda Revelação. Participaram das nossas percussões Elijan Rodrigues e Anjo Caldas, percussionista da Elba Ramalho e da Catapulta. A mixagem e masterização ficaram a cargo de Rodrigão Duarte. No final das contas ainda recebemos uma ajuda inacreditável do Frejat. Mixamos e masterizamos no estúdio dele, o DuBrou’. O disco começou a ser produzido em 2004 quando eu, o Vladimir e depois o Chorão fomos apresentados pelo Rodrigão Duarte ao Anjo. Ele é um cara que agregou muito aos conceitos rítmicos e percussivos da banda. Seu entusiasmo em relação ao projeto nos fez acreditar novamente que o conceito funcionava, aí decidimos retomar as atividades. De cara nasceram músicas como “Chuta que é Macumba” e “Quem gosta de Iron Meiden também gosta de KLB”. Também já tínhamos uns esboços como a música-título, que tinha sido feita sob influência da turnê, com uma pegada muito rítmica e pesada. Depois de lançarmos o EP 6|6|6 no dia 6/6/06 com vendas somente pela internet, começamos a trabalhar músicas como “A SuperVia deseja a todos uma boa viagem” e “Black Velho”. Algumas ficaram pelo caminho como “Engodo We Trust”, “Você analisa muito (no sentido ANAL da palavra)” e “Trabalho pra 20 comer”. Entraram também músicas que não tinham registro oficial como “Artimanhas do Catiço” e “Cambonos from Hell”, que mudaram muito com a pegada atual. Esse disco ao mesmo tempo em que fecha um ciclo inicia outro que retoma as origens da Gangrena com uma pegada que nessa formação conseguimos alcançar. Tem muita raiva e muita vontade nele. É tipo uma madeirada na palhaça.

pdrock - E pra lançar o disco, muita dificuldade? Como foi o processo de escolha da gravadora, e qual foi o selo, afinal, escolhido ?

Gg - Tenho até que fazer uma força pra não ficar chorando pitangas, mas foi foda sim.
Não tem gravadora, foi produção independente. Tivemos muita dificuldade com prazos nesse disco por termos contado com a ajuda de vários amigos que nos ajudaram no tempo que foi possível e não no que seria ideal. Isso causou certa demora no lançamento da bagaça. Íamos até lançar por uma gravadora, mas acabou não dando certo e tratamos de tudo por nós mesmos. A distribuição é da TAMBORETE ENTERTAINMENT no Brasil, e KARASU KILLER no Japão.

pdrock - Ficaram satisfeitos com o resultado final do disco? Como pretendem divulgá-lo e distribuí-lo – isso fica por conta da gravadora ou a banda pretende “colocar a mão na massa”?

Gg - E como! Mesmo sabendo que podia demorar mais, fazermos o disco com os melhores recursos que tivemos acesso foi importante pro resultado final. É uma proposta musical muito filha da puta pra qualquer técnico acertar a percussão com a porrada comendo entre 2 guitarras, 2 vocalistas mais bateria e baixo. Imagine pra gravar? Percussão pra nós não pode ser figura decorativa. Pela primeira vez na história desse país, a Gangrena conseguiu gravar um disco exatamente do jeito que queria. Tudo aparecendo como queríamos. Quem ouvir o disco pode saber que é isso que os espera ao vivo. A distribuição fica a nosso cargo e dos selos. É parceria, na verdade.

pdrock - Ainda vale a pena, financeiramente falando, lançar um disco “físico”? Caso a resposta seja não, porque lançar, então? O resultado artístico, o prazer em ver as idéias literalmente postas no papel, como nos velhos tempos, compensa eventuais prejuízos?

Gg - Financeiramente falando não, tudo mudou nesse lance de música. Mas vale muito pelo lado de dar um material de qualidade pro fã ouvir, ver, tocar. Pode ser muito mais prático você baixar uma música, mas nada substitui a sensação de ter um material físico da banda que você curte. Vale muito mais a pena pelo lado artístico mesmo.

pdrock - Chorão 3, membro-fundador, deixou a banda mais uma vez. É definitivo? Foi tudo numa boa ou foi um processo “traumático”?

Gg - É definitivo sim. Tudo numa boa, sem estresse. Ele continua como colaborador, assim como muitos outros que passaram pela banda. É nosso amigo e eu falo com ele sempre. O peso das dificuldades de se tocar uma banda independente infelizmente não era mais compatível com seus compromissos pessoais.

pdrock - Existe ainda algum membro da formação original da banda ou vocês são nosso “Napalm Death tupiniquim”? (nenhuma conotação depreciativa na pergunta, já que gosto de todas as fases do Napalm Death)

Gg - O Vladimir (Exu Caveira) é da formação que gravou o Welcome to Terreiro, mas não gravou a 1ª demo, por exemplo. O Napalm deve ser diferente nesse aspecto porque mesmo quem não está mais tocando conosco é colaborador. O próprio Vladimir retornou depois de sair num período pós EP. Somos mais um coletivo de esporro do subúrbio do Rio que uma banda comum de Metal ou Hardcore. Temos ex-integrantes que por vezes ‘tocam’ como roadies, técnicos de som, letristas, compositores, desenhistas etc. Pra nós, o Anjo Caldas é da Gangrena, assim como o Rodrigão Duarte, o Elijan, o Wagner (baixista da turnê europeia), o Magrão (que ajuda na concepção gráfica, tocou bateria várias vezes na banda e é um puta letrista), o Adelson (ex-The Endoparasites) que tocou bateria com a gente depois do EP, o Léo Dias (artista plástico sensacional que fez a HQ do disco, que acabou não entrando nele por motivos técnicos) e mais uma porrada de gente. Todos eles são integrantes da Gangrena Gasosa.

pdrock - Qual é a formação atual da banda? – quem são os membros, quais os mais antigos, quem chegou depois, de onde vieram...

Gg - O Exu Caveira (Vladimir) é da formação do Welcome to Terreiro e sempre foi guitarrista da banda. Eu (Zé Pelintra) sou da formação da demo “Cambonos From Hell”, toquei numa banda de Splatter chamada Erosive Exhumation, entrei pra Gangrena tocando baixo, toquei na Dorsal Atlântica e depois voltei pra casa como vocalista. O Exu Mirim (Renzo) entrou logo após o EP e foi baterista do DFC e do Zumbi do Mato. O Exu Tranca Rua (Moreno) compôs boa parte do baixo do Smells, tocou no Allegro e voltou pra banda junto com o Exu Mirim. O Exu Capa Preta (Minoru) entrou pouco depois e tinha tocado no Violator e no Allegro. Omulú (Cristiano) entrou no lugar do Chorão³ logo depois da gravação do disco e pegou tudo muito rápido, entrando num rabo-de-foguete danado, pois tínhamos alguns compromissos pendentes e ele assumiu de boa. Ele tocou na banda The true Blend e na banda Spell. A Pomba-Gira (Gê) entrou depois da gravação também e tocava no projeto Musikfabrik. O Mutley estava tocando de freelance com a gente até arrumarmos um integrante definitivo, coisa muito difícil de achar. Percussionista normalmente toca em esquemas diferentes do esquema rock independente. Posso ter me enganado no nome de uma ou duas bandas, mas acho que é isso. Essa é a formação atual. Gente pra caralho, né? E nem é o ideal. A percussão merecia mais uns 2 ou 4 braços.

pdrock - Os membros mais novos estão se adaptando bem ao ritmo da banda? Tem dado certo?

Gg - Tudo em paz no reino de Satanás.

pdrock - Como está o ritmo de atividade de vocês? Fale-nos dos últimos e mais marcantes shows e acontecimentos em geral na vida da banda.

Gg - O ritmo está bom, mas vai melhorar. Tocamos regularmente no Rio, mas esperamos que com o lançamento possamos tocar mais pelo Brasil. Recentemente tocamos no Porão do Rock e foi muito bom, evento bem organizado que respeita o músico e dá condições técnicas de se fazer um bom show, coisa rara no underground. Quando se trata de 7 músicos, mais ainda. O Goiânia Noise Fest foi há mais tempo, mas foi muito importante também, pelos mesmos motivos. Mas o que recentemente me deixou bolado mesmo foi quando tocamos em Curitiba e quase sofremos um acidente na Van, o motorista chegou a sair da estrada. Depois que percebi que o traçado da van estava meio estranho, passei a ficar de olho na estrada. Dito e feito! Quando ele cochilou e começou a sair da estrada eu dei um grito de desespero tão alto nos tímpanos dele que ele deve estar dormindo mal até hoje. Geral trancadinho o resto da viagem toda, com os olhos arregalados, prontos pra gritar no ouvido do motorista, foi tenso.

pdrock - Planos para o futuro ?

Gg - Tocarmos esse disco o máximo possível no maior numero de locais que pudermos. Estamos iniciando um projeto de vídeo ao vivo com o Fernando Rick, que fez o ‘Guidable’ do Ratos de Porão e só posso adiantar que eu não ouvi falar de nada parecido até hoje. E começamos a alimentar o projeto de fazer outra turnê europeia e uma sul-americana, mas isso é mais pra frente. Nesse ano pretendemos arriar o despacho desse disco em todos os lugares possíveis. Se não for ao vivo, que pelo menos seja destilando o puro suco da maldade no fone de ouvido ou nas caixas de som desse povo metaleiro sofrido que tem aturado umas coisas que vou te contar.

pdrock - Espaço aberto para considerações finais.

Gg - Saravá, mizinfio... fica de olho nas novidades da Gangrena, vem muita coisa por aí e o ritmo vai ficar frenético.

Visite o Terreiro Virtual da Gangrena Gasosa.
Contato: despachos@gangrenagasosa.com.br
(21)9184-2972 c/ Lana Ramôa
Foto: Divulgação
Arte: Leo Dias

Adelvan k. perguntou
Angelo respondeu

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