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Já em Vida, alentada autobiografia escrita com James Fox, o guitarrista, que completou 67 anos no dia 18 de dezembro, se mostrou mais comedido. Na orelha do livro, vem impresso, pelo menos na edição americana, seu autógrafo com a mensagem: "Esta é a vida. Acredite ou não, eu não esqueci nada dela". O que já conta ponto. A maioria de seus pares, em termos de sexo, drogas e rock'n'roll, invoca crises de amnésia se o assunto fica espinhoso. E como estamos cansados de saber, Keith é louco, mas não é bobo. Salta aos olhos a importância que "Catarina" dá à amizade - o apelido surgiu não se sabe quando e é contraponto para "Brenda", codinome de Jagger. Quando
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Amigos aos montes. Keith lamenta muito a morte de dois deles. Ian Stewart, o pianista da formação original que não pertencia ao grupo por ser feio, e Gram Parsons, o americano que levou o country para a música dos Stones. O saxofonista Bobby Keys, o baterista Steve Jordan, da banda paralela de Keith, The X-pensive Winos, são declarados amigos eternos. Nem todos os caminhos levam a Jagger.
"Brenda" e "Catarina" se conheceram ainda novos. Eram vizinhos, crianças, mas já gostavam de rock e blues. Até o meio do livro, as citações são frequentes, mas formais, quase burocráticas. "Éramos praticamente irmãos." "Tínhamos exatamente o mesmo gosto musical." "Sabíamos o que tocar e o que não tocar", não mais que isso. Quando La Pallenberg filma Performance (1970) com Jagger, e acaba tendo um caso com o bocudo, a coisa muda. Keith revê o que fez com Brian e gasta páginas analisando seu amigo de infância. O mesmo acontece quando Gram Parsons volta aos Estados Unidos, aparentemente humilhado por Jagger, que chegou a cantar sua mulher. Logo em seguida, Parsons morreu de overdose, teve o corpo sequestrado por amigos que
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Ah sim, e tem as mulheres. Desde Haleema Mohamed, a paixão adolescente, até Patti Hansen, sua mulher há 28 anos, mãe de Alexandra e Theodora - com Anita, Keith teve Marlon e Angela, e o casal perdeu o terceiro filho, Tara. Há outras mulheres, muitas histórias. Tipo, os Stones no início eram muito próximos dos negros americanos que tinham invadido a Inglaterra. De Muddy Waters ao trio pop feminino Ronettes, as negras de quem Amy Winehouse roubou o penteado. Keith caiu de amores por Ronnie Bennet, a líder. E foi correspondido. Ocorre que Ronnie logo assumiu o nome de casada, Spector. Virou mulher do lendário produtor Phil Spector, sim, aquele cara que vivia dando tiro na sombra e atualmente cumpre pena por homicídio. Keith confessa que temeu pela vida, mas é amigo dela até hoje.
É muito curioso o relacionamento de Keith, filho único, com os pais. Bert e Doris eram muito divertidos, viviam plantando bananeira, pulando sela e fazendo polichinelos mesmo depois de adultos. Mas quando Keith era pequeno, Doris arrumou outro marido, Bill. E Bert foi morar
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Ah, sim, outra vez. Antes que alguém pergunte, Keith fala sobre trocar o sangue e cheirar as cinzas do pai. Verdade? Mentira? Aí, tem de comprar o livro para saber. Fica mais divertido.
» Vida, Keith Richards (com organização de James Fox), Editora Globo, 640 páginas
por Luiz Chadas
Brasileiros
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