domingo, 27 de julho de 2014

DON´T MAKE MUSIC, MAKE NOISE !!!!!!!!

“Isso não é coisa de Deus não”, foi o que me veio à cabeça quando a cabecinha vermelha do braço do meu pick up repousou sobre a bolachinha de vinil também vermelha que me foi enviada por minha amiga de longa data Marli, do No Sense. Os sulcos transmitiram aos alto-falantes o monstruoso som de uma banda cearense da qual já tinha ouvido falar, mas nunca ouvido o som: Obskure. “Uterus and grave”, sua primeira demo-tape, de 1990, foi relançada em vinil num belíssimo split com o “debut” dos pioneiros do grind core de Santos, “Confused Mind”.

As capas e encartes reproduzem fielmente o design original xerocado – com uma ligeira adptação ao novo formato, evidentemente – obra do gigante George Frizzo! Como a do Obskure ficou na frente, consideirei-a o lado A e ouvi primeiro. Me impressionei: trata-se de uma musica sombria e extremamente barulhenta, com três faixa relativamente longas – para o padrão do “grind” – que combinam um instrumental poderoso a letras opressivas vociferadas por um vocal pra lá de gutural.


Já a do No Sense, do mesmo ano, é uma velha conhecida, mas que tomou uma nova dimensão ao ser ouvida assim, em pleno século XXI e em glorioso vinil colorido. Tem 20 faixas(!!!!), sendo as 10 primeiras barulhinhos “from hell” intitulados “noise song”. A primeira coisa mais parecida com uma musica é a faixa título, “confused mind”, na qual já podemos sentir o vocal de Marly ainda “verde” – se comparado aos dias de hoje e mesmo ao que foi gravado na época, posteriormente – e com uma pronuncia em inglês pra lá de tosca, beirando o risível – “Devastation and massacre”, em suas palavras, virou “devastation and massêicre”! Normal, ela tinha apenas 13 anos quando gravou esta pérola! Era, aliás, uma das peculiaridades que mais contribuíram para chamar a atenção para a banda, na época. Isso e o fato de que eram REALMENTE bons, com um som que fugia do barulho óbvio e monocórdico, como pode ser constatado na própria faixa citada, um pequeno clássico que se destacava do conjunto por ter um ritmo mais cadenciado e uma melodia mais reconhecível.

Grande resgate de uma página gloriosa – e obscura! – de nossa música feita à margem dos padrões pré-estabelecidos pela ditadura do “bom gosto” – ênfase nas aspas. Por obra e graça de um selo alemão, “Winter productions”, sediado em Hamburgo.

DON´T MAKE MUSIC, MAKE NOISE !!!!!!!!


A.


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EVACUEM ESSA ÁREA !!!!!!!!!!!!!!!

Câmbio Negro HC., pioneira banda punk/Hard Core recifense, já tinha 7 anos de formada quando conseguiu, finalmente, gravar e lançar, em 1990, seu primeiro LP, "O Espelho dos deuses". Que foi, também, o primeiro disco (EM VINIL) de Hard Core lançado por uma banda nordestina ... 

Eram outros tempos, claro. Tecnicamente, ainda estávamos na década de oitenta do século passado. Nada de internet e todas as facilidades de gravação e comunicação que temos hoje em dia. Tudo era feito na raça, na base da força de vontade pura e simples. O disco, lançado de forma independente pela banda, sem nenhum suporte de gravadora, foi totalmente produzido no Recife e é uma verdadeira pedrada! A potencia de sua sonoridade permanece, mesmo quando ouvido hoje, tanto tempo depois. É um clássico, portanto. Não fosse um produto de "fora do eixo" - de um tempo em que o termo ainda não havia sido apropriado por entidades de procedência e finalidade duvidosa - constaria, sempre, de todas as listas, ao lado de outros clássicos do cancioneiro punk nacional, como os discos do Cólera, coletâneas como "Sub" e "crucificados pelo sistema", do Ratos de Porão.

Ratos de Porão é, aliás, a influência mais óbvia, até mesmo pela presença do vocalista "Pesado", que não tinha esse apelido por acaso. Seu som era, no entanto, bem mais elaborado - do que o do Ratos dos primórdios. Graças, principalmente, à excelência de seus músicos, o guitarrista Pedrito, o baixista Ricardo "Paredes", e Nino, na bateria. Pesado tinha um vocal bastante característico, potente sem ser gutural ou excessivamente gritado. E o mais importante: eles sabiam COMPOR! As músicas são todas ótimas, com refrões fortes e um excelente senso de ritmo e melodia. Nas letras, o de sempre: críticas às principais instituições que regem o destino dos homens, como a igreja, o exército, a polícia e a política. Mas feitas de forma pensada, inteligente, sem o panfletarismo pueril presente em muitos de seus pares.

O disco tem pelo menos dois clássicos absolutos do Hard Core nordestino, as músicas "Meu Filho" e "A Ordem". Dois verdadeiros "hits" subterrâneos - quem viveu a época e teve a oportunidade de vê-los ao vivo sabe a catarse que a frase "Evacuem essa área", berrada a plenos pulmões por Pesado depois da abertura com um riff básico porém pra lá de eficiente, provocava na audiência. Mas TODAS as faixas, sem excessão, são muito boas. Da "pancada" que abre o disco, "programados pra morrer", até o final, com "consciência inválida", passando por momentos antológicos e de forte apelo imagético, como na letra de "vaticano", que sentencia: "o vaticano late e o povo levanta as mãos pro céu". Ou em "O ecologista morto", um belíssimo libelo em memória de Chico Mendes - chega a ser arrepiante a intensidade com que seu nome é pronunciado na música, em tom de lamento e, ao mesmo tempo, exaltação.

A Câmbio Negro gravou um segundo disco - "Terror nas ruas" - mais bem produzido - por Redson, do Cólera - porém mais fraco, irregular, dois anos depois. Depois, só mais uma demo-tape, "De volta às ruas", de 1997, que parecia prenunciar bons ventos para o futuro. Prognóstico que, infelizmente, não se confirmou. A banda acabou pouco tempo depois. De vez em quando ensaiam uma volta, mas nada de concreto até o momento. Uma pena. Deixaram, no entanto, uma herança poderosa que segue viva na memória de todos, personificada, principalmente, nas 14 músicas que integram seu primeiro álbum.

por Adelvan

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The Enduring saga of The Smiths

RIO - Trinta anos depois do lançamento de seu primeiro álbum (e quase 27 desde sua separação), os Smiths continuam a ser um dos assuntos mais discutidos do mundo do rock. No ano passado, a autobiografia do vocalista Morrissey chegou ao primeiro lugar na lista dos livros mais vendidos do Reino Unido. Especulações sobre a volta do grupo são constantes, embora as perspectivas sejam cada vez mais remotas ("Li a autobiografia e fiquei pensando: não tenho certeza se essa é uma situação que pode ser resolvida", disse recentemente, ao jornal "New Musical Express", Stephen Street, produtor de álbuns dos Smiths).

E aí chega ao Brasil, pela editora Best Seller, "A light that never goes out", a mais recente biografia do grupo (originalmente lançada em 2012), escrita pelo jornalista inglês Tony Fletcher. Ela oferece uma visão mais reflexiva e apurada da história e do legado dessa banda, tida como a responsável pela criação do mito do rock independente.

- Quando os Smiths acabaram, ainda me parecia muito cedo para escrever o livro - conta Fletcher, por telefone, de Nova York. - Em 1992, saiu a obra do (escritor inglês) Johnny Rogan ("The severed alliance"), que é boa. Então fui escrever sobre outros assuntos. Só há uns cinco anos é que o editor e eu falamos de um novo livro sobre os Smiths. Eu achava que havia lugar para uma boa biografia, não só sobre Morrissey e (Johnny) Marr (guitarrista dos Smiths, parceiro do vocalista nas canções), mas sobre a banda em si. Um livro que desse outra ideia sobre eles, tanto tempo depois.
Para Fletcher, o culto aos Smiths só cresceu com os anos.

- Houve um tempo, logo após eles se separarem, especialmente na época das raves, em que eles foram vistos como ultrapassados. Só lá pelo meio dos anos 1990, quando o Oasis apareceu, que a coisa mudou. As pessoas se perguntaram: "Caramba, eles não eram uma banda impressionante?" - diz o autor, rebatendo a imagem depressiva que muitos têm do grupo, por causa das letras de Morrissey. - "Heaven knows I'm miserable now" é uma das canções mais engraçadas já escritas. Sempre achei que os Smiths tinham um maravilhoso equilíbrio entre letras muito sinceras e um incrível otimismo na música. Quem quer que tenha visto um show deles sabe que se tratava de uma das bandas mais empolgantes.

Se algo diferenciou os Smiths de outros artistas de sua época, segundo o escritor, foi sua postura frente à indústria.

- Mesmo quando tinham sucessos e vendiam montes de discos, eles faziam questão de não se dar muito ao mainstream. Logo no começo, nos programas de TV, você podia ver como Morrissey estava desconfortável. Eles foram muito cuidadosos em não se misturar, e acho que essa é uma das razões pelas quais ainda falamos deles. Porque eles se mantiveram fiéis aos seus valores.

Tony Fletcher tem lá suas reservas em relação à autobiografia de Morrissey, lançada um ano depois do seu livro.

- A primeira parte, em que ele escreve sobre Manchester, é absolutamente soberba e fala muito sobre tudo o que viemos a amar sobre Morrissey, o letrista - diz. - Infelizmente, logo depois ele fica muito amargo. Morrissey é muito talentoso e adorável quando quer, mas ali é muito descortês com quem provavelmente não merecia tal carga de críticas. Você acaba ficando exausto com aquilo.
Já Johnny Marr (que colaborou com o seu livro, ao contrário do vocalista) ressurge para Fletcher com melhor imagem.

- Nos últimos dez anos, provavelmente houve um melhor entendimento sobre Marr. Ele veio a aceitar os erros dos Smiths e quer seguir com a sua vida. Infelizmente, Morrissey ainda está se consumindo com muita raiva em relação a pessoas como Mike Joyce (baterista do grupo, que processou a dupla de compositores por direitos não pagos). Johnny teve que pagar tanto dinheiro quanto Morrissey, mas isso não é algo que o consuma.

Autor também de livros sobre o R.E.M. e Keith Moon (baterista do The Who), o inglês teme que a era de grandes nomes do rock, como os Smiths, tenha chegado ao fim.

- Há grandes talentos novos, como (o cantor inglês) Jake Bugg... Mas eu me pergunto se essa parte da música popular já não encerrou seu ciclo, com todo esse pop eletrônico, a internet e as pessoas não comprando mais álbuns.

por Silvio Essinger

O GLOBO

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segunda-feira, 21 de julho de 2014

A Farra do Circo

A farra continua ...
A imagem ao lado é recente e retrata uma típica noite de rock no Circo Voador, lendária casa de espetáculos carioca cravada ao lado dos arcos da lapa. Tem muita história. Está em cartaz, nos cinemas – em Aracaju no Cine Vitória, simpática sala com uma programação diferenciada, alternativa, localizada na Rua do turista, no centro da cidade – um precioso resgate do início, revolucionário, dessa história ...

“A Farra do Circo”, documentário dirigido e magnificamente montado por Pedro Bronz e Roberto Berliner inteiramente a partir de fotos e imagens em VHS da época – 1982 a 1986 –, nos dá a perfeita dimensão do que foi aquela verdadeira versão brasileira do “verão do amor”, quando uma trupe de malucos resolveu montar um circo cultural libertário e anárquico em plena praia do arpoador. Foram expulsos, mas se transferiram para o bairro boêmio da Lapa e estão lá, até hoje.

Foi importantíssimo para o surgimento e fortalecimento da geração anos 80 do rock nacional, mas sua proposta ia muito além. Sempre teve de tudo, no circo, e o filme deixa isso muito claro, com trechos de apresentações de Alceu Valença, Paralamas do Sucesso – tocando “Veraneio Vascaína”, do Aborto elétrico, depois gravada em disco pelo Capital Inicial -, Dercy Gonçalves, Barão Vermelho, Caetano Veloso, Sergei, Orquestra Tabajara, Blitz, Eduardo Dusek, Claudio Zoli e João Penca e seus Miquinhos Amestrados (com Leo Jaime na formação). Registra também a colaboração dos hoje consagrados Gringo Cardia e Deborah Colker, além da realização de recitais de poesia com Chacal e Paulo Leminsky e apresentações de diversos grupos de dança e teatro, dentre eles, e principalmente, o Asdrúbal trouxe o trombone, mítica trupe que revelou Evandro Mesquita, Luiz Fernando Guimarães e Regina Casé – que aparece, inclusive, numa das cenas, com deliciosos e durinhos peitinhos à mostra, em cima do palco ...

Ratos no circo ...
A nudez é freqüente e tratada com naturalidade – muito embora, em determinados momentos, a platéia se mostre surpresa, como quando Andréa Beltrão anuncia um streap tease e, para supresa de todos, rola mesmo, um streap tease. Não dela. Interessante também notar como os tempos eram outros, em termos de exigências quanto à segurança nos espetáculos: em vários momentos o circo é mostrado nitidamente superlotado, como num show de Gilberto Gil que parte do publico assiste perigosamente empoleirado nos diversos andaimes que sustentam o teto. Impossível não traçar um paralelo com os dias atuais, até mesmo porque um dos trechos mais interessantes é justamente o que mostra o conflito que se instaurou entre a trupe, convidada para a Copa do México de 1986, e algumas das instituições patrocinadoras do evento – a coca-cola e a prefeitura da Cidade de Guadalajara. Elas prontamente retiraram o patrocínio ao se chocar com o caos criativo porém anárquico e desorganizado protagonizado por Perfeito Fortuna e seus asseclas. Seu depoimento sobre o episódio é emblemático e merece ser reproduzido:

“Esse lance da gente com as empresas, multinacionais, toda a coisa de patrocinador, a gente nunca se entendeu direito, a gente nunca combina, pois são ideologias muito diferentes. É verdade. A gente não está atrás da grana. A gente é mais um risco no papel, não sabe direito o que vai acontecer no fim. Então é evidente que a gente não dá o resultado esperado, tudo certinho no papel. A gente tem prazer, e as organizações não têm a volta desse prazer. Então elas não estão erradas: a gente quer uma coisa, tem um objetivo, e elas têm outro. Estou totalmente de acordo que elas tenham saído fora. De verdade, acho mesmo, acho certo. A gente não vai dar aquilo que elas querem. O Circo Voador é uma energia que está no ar. Por mais que tirem nosso tapete, a gente nunca cai, porque a gente voa, ou a gente cai na nossa mãe, que é a Terra, que está voando, num salto no vazio, um salto pro desconhecido, que é o que nos interessa, não interessa fazer o que a gente já sabe.”

O filme não tem narração. Não precisa. A história é bastante conhecida. Só faltava mesmo o que está lá: ver, finalmente, as imagens – toscas, em termos de qualidade técnica, é verdade, mas bem filmadas, de forma dinâmica e com enquadramentos inventivos, por Roberto Berliner. De todo aquele povo criativo e feliz fazendo arte sem amarras, sem barreiras estéticas, culturais ou morais.

Ao final, Perfeito Fortuna anuncia para o domingo seguinte a presença de Agnaldo Timótio, não sem antes lembrar a todos que no dia seguinte Raul Seixas se faria presente.

Antológico!

Clique AQUI para ler meu relato sobre a primeira e, por enquanto, única vez em que estive no Circo Voador ...


Informações Técnicas
2014 | 01:34:00
Créditos:
Direção Pedro Bronz e Roberto Berliner
produção executiva Rodrigo Letier
montagem Pedro Bronz, edt
coordenação de produção Lorena Bondarovsky e Leo Ribeiro
pós-produção Anna Julia Werneck
imagens Roberto Berliner
pesquisa Patricia Pamplona
finalização de imagem Hebert Marmo
edição de som e mixagem Denilson Campos

co-produção Canal Brasil
patrocínio SEC/RJ e Riofilme
apoio Pavê

A.

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domingo, 20 de julho de 2014

"My Bloody roots", de Max Cavalera

“Desde a música “kaiowas”, em “Chaos AD”, em 1993, eu vinha me perguntando se seria possível entrar na selva e conhecer os índios. Eles possuem uma história riquíssima e nenhuma banda de rock tinha tentado fazer algo parecido antes. Mas seria uma empreitada perigosa: eles matam os brancos e estão sempre em guerra com os fazendeiros da região.”

O trecho acima ilustra bem o conteúdo de “My Bloody Roots”, autobiografia de Max Cavalera lançada recentemente no Brasil e disponível nas melhores livrarias: impreciso, exagerado, mas sempre intenso e apaixonado. Ao ler o livro você se imagina sentado na mesa de um bar ouvindo as histórias de vida do vocalista e guitarrista do Soulfly e do Cavalera Conspiracy, ex-Sepultura e Nailbomb. A linguagem é absolutamente informal e não existe nem mesmo uma preocupação maior com a precisão das informações no processo de revisão. Outro exemplo: ao comentar o documentário “Ruído das Minas”, no qual o Sepultura é acusado por alguns de seus pares de boicotar a cena local, Max nem se dá ao trabalho de dizer o nome correto do filme, referindo-se ao mesmo como “Metal de Belô nos primórdios” ou algo do tipo.


Não é grande literatura, evidentemente, portanto é recomendado apenas aos fãs e demais aficcionados pelo estilo. Mas mesmo estes sentirão falta de um maior aprofundamento nos detalhes de determinados fatos e acontecimentos. Tudo soa meio apressado, atropelado. Sentirão falta, também, da versão do “outro lado” em passagens como a que fala sobre o assassinato do filho de Gloria e a separação do Sepultura em 1996 - neste caso não há muito a ser feito, já que se trata de uma autobiografia. Na verdade muita coisa já foi dita sobre o assunto, mas ninguém, que eu saiba, rebateu a acusação - grave, a meu ver - de que alguém teria ligado da parte da produção da banda se passando por uma das filhas de Gloria e irmã de Dana para o necrotério onde seu corpo esperava pelo reconhecimento da mãe para que o mesmo agilizasse os procedimentos, dando a impressão de que o resto da banda gostaria, nas palavras de Gloria, esposa de Max e empresária do Sepultura na época, que eles jogassem seu filho às pressas num buraco e retornassem imediatamente aos palcos. Talvez porque ninguém nunca tenha assumido a autoria do tal telefonema. A principal suspeita, da parte de Max, recai sobre Monika Bass Cavalera, então esposa de Iggor, pela qual o autor nutre um ódio manifesto, ao ponto de chama-la de “piranha” e “acusá-la” de ter dado em cima dele – quando eu li sobre isso na imprensa entendi que tinha acontecido enquanto ela ainda estava com Iggor, mas no livro ele deixa claro que foi antes. Sendo assim, a “acusação” perde totalmente o sentido e na verdade denuncia o rancor nela embutido - além de um ranço machista lamentável, evidentemente. O fato é que, segundo Max, ela sempre invejou Gloria e, não por acaso, assumiu seu lugar logo após a separação ...

Picuinhas e exageros à parte, é deliciosa a leitura – para os fãs, repito. Muito bom conhecer finalmente os detalhes da infância dos dois – Iggor é presença constante na narrativa, como não poderia deixar de ser. O impacto da morte do pai sobre seu comportamento – Max se afundou nas drogas e Iggor se tornou tímido e introspectivo – e a mudança para a capital mineira – que nem sequer é mencionada, você está lendo sobre eles em São Paulo e de repente já está em Belo Horizonte, ou “Belô”, como é carinhosamente chamada. Lá, acompanhamos o envolvimento cada vez maior com o universo do metal - com o apoio da mãe, que havia desistido de tentar disciplina-los para ir à escola regularmente. Mãe que é, também, uma grande influência para Max, principalmente no campo espiritual. Dela, ele herdou o interesse e admiração pelos cultos africanos do candombé e da umbanda. Especialmente saborosos são, também, os depoimentos de diversos personagens citados na história, estrategicamente incluídos na narrativa: David Vincent (do Morbid Angel), David Ellefson (do Megadeth), Mille Petrozza (Kreator), Corey Taylor (Slipknot), Dino Cazares, Sean Lennon, Sharon Osbourne, Jairo Guedes, Marc Rizzo (guitarrista do SOULFLY e amigo de longa data), Michael Whelan (o artista que criou as capas de 'Beneath the Remains', 'Arise', 'Chaos A.D.' e 'Roots'), Monte Conner (da Roadrunner Records), e João Eduardo (Cogumelo records), dentre outros.

Os primórdios do Sepultura são contados em detalhes mas naquela mesma linguagem de eterno moleque “metaleiro” interessado porém ligeiramente desinformado – ok, não dá pra exigir erudição de quem passava os dias inteiros bebendo, “zoando” e ouvindo Celtic Frost, Venom e Slayer no volume máximo. Mas engana-se quem tomar isso como burrice: Max é daqueles que demonstram ter uma inteligência intuitiva extremamente aguçada, o que se reflete na excelente produção musical que segue acumulando em sua carreira. É dono, também, de uma integridade inabalável: os desafetos de antes continuam os mesmos e ele não tem papas na língua ao dizer o que acha deles. Wagner Lamounier, da formação original do Sepultura e posteriormente fundador também do Sarcófago, outra banda seminal do metal mineiro, é descrito como desonesto e acusado literalmente de roubo – segundo Max, num determinado momento o pouco material que eles tinham começou a sumir, até que Wagner também sumiu. Max foi até sua casa perguntar o que estava acontecendo e os cabos roubados estavam lá! O "cleptomaníaco" tentou se justificar mas não teve perdão, foi expulso da banda. SHOW NO MERCY! Paulo, o baixista, é outro que é desancado impiedosamente ao longo da narrativa, descrito como “um babaca” preguiçoso que tinha medo de tudo e não conseguia aprender a tocar. Ao mesmo tempo ele é só elogios e compreensão com relação ao irmão, à esposa e a amigos de longa data como Jairo, o guitarrista que substituiu Wagner e precedeu Andreas. Andreas parece ser, por sua vez, uma das únicas exceções nesses extremos de amor e ódio: ao mesmo tempo em que ele credita ao seu veto a impossibilidade de uma volta da formação clássica do Sepultura, reconhece seu enorme talento e o companheirismo em alguns momentos difíceis, como na ocasião em que ele cantou e tocou no enterro de seu enteado Dana.

Para além dos detalhes importantes – e curiosos – de sua vida pessoal, Max nos brinda, também, com relatos saborosos sobre os processos de composição e gravação de todos os discos dos quais participou – e foram muitos! Está despertando em mim, inclusive, o desejo de dar uma nova chance ao Soulfly, banda que eu desisti de acompanhar por achar um tanto quanto “porralouca” – sempre achei que tinha muito ritmo tribal e palavras “exóticas” e sem sentido em português apenas para deslumbrar os gringos – e derivativa demais – tudo que eu ouço do Soufly me lembra algo que já havia sido feito antes, principalmente em “Roots”, do Sepultura. A sinceridade e a intensidade de Max está aos poucos me fazendo rever esta avaliação. Me fazendo enxergar a verdade que existe por trás de todo aquele exagero, que ele mesmo reconhece: num determinado momento diz que deveria estar sob o efeito de alguma droga pesada quando resolveu enterrar as masters do primeiro disco do Soulfly antes de entrega-las à gravadora. Por sorte, o material não se perdeu e a atitude pra lá de inusitada só resultou numa exclamação de interrogação assustada de Andy Wallace, responsável pela mixagem, ao receber as fitas empoeiradas ...

por Adelvan




domingo, 13 de julho de 2014

SEU MONTANHA – demo independente/06 sons.

Não sei, mas o nome da banda jamais me faria pensar em uma sonoridade dessas. Que som meu irmão, que som!!! Timbragem perfeita, som pesadão e retrô pra porra!!! Algo que se mistura em meio ao que se chama de rock stoner, ou "setentista", como queiram - o stoner pra mim só atualiza mas é aquilo que todos já sabem: rock que se define como sabático e pronto. Seu Montanha vem com algo de rock pesado Brasileiro produzido nos anos setenta, eu particularmente achei algo assim neles. Excelente! A influência de bandas como Wichtcraft e Monster Magnetic no som da banda é evidente, além, é claro, do Black Sabbath, a nave mãe dessa viagem. Um lance muito massa é como a coisa fluiu com a banda tendo seus temas cantados em português - que me desculpe o excelente Levi Marques (Nucleador), convidado a fazer a terceira faixa da demo, em inglês, ”Contention”, a qual não supera nenhuma das faixas em português. Essa faixa inclusive toma um rumo mais americano, estilo grunge, na linha do que poderíamos citar de Soundgarden no inicio, que convenhamos é uma ótima referencia. Enfim, acho que uma banda que sabe fazer muito bem o rock em português deve seguir assim. No que diz respeito a parte gráfica pra mim ficou só interessante, porém longe da qualidade do conteúdo ali inserido.

Pra resumir, uma das melhores coisas que escutei nos últimos tempos. Todas as musicas das seis lançadas na demo são muito boas, mas devo dizer que o conjunto da obra nas faixas “Tentei”, “Tempo” e “O surto” são demais. Parabéns à banda e que isso dure um bom tempo. Parabéns também a Fabricio Rossini pelo trabalho junto à banda, o qual ajudou em muito esse magnetismo sabático setentão, nota dez!!!

http://seumontanha.flavors.me/

(Silvio Campos)

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sábado, 12 de julho de 2014

RIP Tommy Ramone

O baterista e produtor musical Tommy Ramone, um dos fundadores do grupo de punk rock Ramones, morreu aos 65 anos nesta sexta-feira (11) em Nova York, nos Estados Unidos, informou o perfil oficial da banda no Twitter. De acordo com o site da revista "Variety", ele estava "sob cuidados paliativos após tratamento de câncer no ducto biliar".
A imagem do perfil oficial do Ramones no Facebook, em homenagem a Tommy, informa que sua data de nascimento é 29 de janeiro de 1949. Ele nasceu em Budapeste, na Hungria, e era o último sobrevivente da formação original dos Ramones. Tocou nos três primeiros álbuns do grupo: "Ramones" (1976), "Leave home" (1977) e "Rocket to Russia" (1977). Após sua saída, Marky Ramone o substituiu.

"É com tristeza que anunciamos a morte de Tommy Ramone (nome de nascimento: Erdélyi), o baterista original dos Ramones, nesta sexta-feira, 11 de julho de 2014", diz a nota divulgada pela banda.

O texto reproduz ainda uma frase de 1978 atribuída ao músico. "O Ramones não era apenas música: era uma ideia. Era o ato de trazer de volta para o rock todo o sentimento que estava faltando – foi uma explosão para dizer algo novo e diferente. Originalmente, era apenas uma coisa artística; depois, finalmente senti que era bom o suficiente para todo mundo."
O lendário grupo de punk rock foi formado em Nova York, em 1974, pelo vocalista Joey Ramone, que morreu de um linfoma em 2001, e seus amigos, o guitarrista John Cummings (Johnny Ramone), falecido em 2004 também por decorrência do câncer, o baixista Douglas Colvin (Dee Dee Ramone), morto por uma overdose em 2002, e Tommy.
A banda acabou em 1996 após a turnê do Lollapalooza, mas o legado que deixaram com sucessos como "I wanna be sedated" os transformou em um dos nomes mais míticos do punk rock.
EFE
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sábado, 5 de julho de 2014

40 Anos de "Lóki?"

Lóki? Mas, que nada. Lucky, bicho. Arnaldo Baptista completa 66 anos neste domingo. Com seu jeito de menino grande, faz troça até mesmo do álbum que marcou o fim e o início de tudo. 'Lóki?', o maior clássico do músico que esteve à frente da mais genial banda brasileira, chegou aos 40 anos. Primeiro disco solo de Arnaldo Baptista, foi concebido em meio a seu então maior revés pessoal e profissional. Em 1974, seu casamento com Rita Lee acabou. Também não havia mais os Mutantes tais como foram criados na década anterior.

“Tinha um envolvimento com a vida que havia acabado: Mutantes, Rita Lee, Sérgio (Dias). Entrei em lóki, que virou lucky (sortudo). Fiquei contente por ter levado adiante a maneira como eu sentia a música, embora o Liminha (baixista, ex-Mutante, que gravou algumas faixas do álbum) achasse que o disco deveria ser meio Sergio Mendes, bossa nova. (O disco) traz, em casa música, um retrato diferente da minha vida na época”, afirma Arnaldo.

Álbum concebido, de acordo com ele, entre uma temporada na casa do artista plástico Antonio Peticov, em Milão (“ele fala de brincadeira que foi feito lá, mas só estudei na casa dele”), e um sítio na Cantareira, onde o então diretor artístico da gravadora Philips, Roberto Menescal, o encontrou arrasado, 'Lóki?' é fruto do abuso das drogas, da desilusão, da tristeza, do desapontamento. A despeito (ou talvez por causa) disso, expressa o artista em seu auge. Sozinho, a bordo de um piano (com um baixo aqui e uma bateria ali, mas sem nenhuma guitarra), Arnaldo fez deste seu maior legado.

São 10 faixas que falam direto do artista em crise: “Venho me apegando ao passado/ E em ter você ao meu lado” ('Será que eu vou virar bolor?'); “A gente andou/ A gente queimou/ Muita coisa por aí” ('Cê tá pensando que eu sou lóki?'); “Até quando eu não sei/ sinto o barato de ser ser humano” ('Desculpe'); “Ontem me disseram que um dia eu vou morrer/ Mas até lá eu não vou me esconder” ('Não estou nem aí'). A bordo de seu piano, Arnaldo passeia, ora com raiva, ora com tristeza, mas sempre de maneira personalíssima, pelo samba, MPB, funk. “Muito do que aconteceu naquele momento foi em função do improviso, tanto que o LP foi gravado relativamente depressa”, acrescenta ele sobre o álbum registrado em 16 canais nos estúdios Eldorado, em São Paulo.

No entanto, não é 'Lóki?' o álbum preferido de Arnaldo. Para ele, seu melhor registro é o que ocorreu oito anos mais tarde. “Mesmo que 'Lóki?' tenha uma grande comunicação, 'Singin’ alone' foi minha aventura pessoal, pois toquei todos os instrumentos. Foi nele que me encontrei na bateria e no contrabaixo”, acrescenta. Ambidestro – “fumo com a mão esquerda, escrevo com a direita, tenho uma bateria com dois bumbos e dois timbaus, então cada hora uso um lado” – o Arnaldo de hoje olha para o Arnaldo de ontem de maneira carinhosa. “Quando era criança, fingia que estava fazendo um show sozinho quando estava ensaiando no piano. É assim quando estou fazendo show. Ambiento-me com o público e faço o que vem na minha cabeça.” Malandro velho, não se mete no enguiço.

Diretor artístico da Philips (hoje Universal), Roberto Menescal admite que naquele 1974 havia uma dúvida na gravadora quanto a lançar um álbum solo de Arnaldo Baptista. “O pessoal dizia que ele estava numa fase difícil, não iria valer a pena. Na intuição, eu disse: ‘Quero fazer esse disco’.” Menescal saiu do Rio e foi encontrar Arnaldo num sítio na Cantareira. “Era uma casinha simpática. O Arnaldo realmente estava com um problema grande. Tinha hora que não aguentava, chorava de saudade da Rita. Era impressionante, e eu fiquei muito comovido com aquilo. Como ele estava numa deprê, houve hora que não conseguiu tocar. Liminha, se não me engano, foi quem tocou baixo em algumas músicas.” Para Menescal, 'Lóki?' foi meio que “arrancado a fórceps”. Na ficha técnica de 'Lóki?' Menescal divide a direção de produção com Marco Mazzola, então técnico de gravação em alta no meio graças a 'Krig-Ha Bandolo' (1973), de Raul Seixas. “O que me chamou a atenção naquele momento eram os sons diferentes que ele fazia. Como é que aquele cara conseguia fazer aquilo?”, comenta hoje Mazzola, que acrescenta não ter feito interferência alguma no álbum. “O Arnaldo era muito maluco, mas ele tinha pré-concebido o disco todo na cabeça. O que fizemos foi dar amparo artístico.” (*)

Menescal conta que o universo musical particular registrado no álbum foi principalmente concebido pelo próprio Arnaldo Baptista, que acabou contando com a participação dos... Mutantes. Além do cantor, estão no disco Liminha (baixo), Dinho (bateria) e até Rita Lee (vocais). O tropicalismo também se fez presente na participação de Rogério Duprat (1932-2006), que assina arranjos dos mais interessantes em “Uma Pessoa Só” – canção feita ainda com Os Mutantes – e na bossa “Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?”. Com esta formação básica, o álbum ainda percorre baladas de rock, um tema instrumental, algo de folk.
“Eu estava tentando coordenar um modo de rock-and-roll na terra do samba. No sentido em que lá fora era evoluidíssimo, com bandas como Yes, e aqui ainda não. Desde a época em que o rock-and-roll era uma imitação do rock italiano eu estava bem distante do que estava acontecendo”, lembra Baptista, referindo-se à revolução do estilo no Brasil que promoveu com os Mutantes.

Loki? foi uma amostra da evolução destas invenções, mas também se tornaria emblemático ao prenunciar um período crítico para Baptista, que formaria o grupo Patrulha do Espaço em 1976 e gravaria trabalhos como o Singin’ Alone (1982) antes de um acidente que o marcaria para o resto da vida em 1982. Ele andava esquecido e sofrendo com problemas que causaram internações em clínicas psiquiátricas. Naquele ano, em São Paulo, ele acabaria se jogando pela janela e se ferindo gravemente. Foi quando começou sua fase ao lado de Lucinha, com quem vive até hoje em Juiz de Fora (MG), onde se divide entre criações musicais e a pintura. “Hoje sou um pouco mais feliz que na época que fiz o Loki?”, conta Baptista. “No sentido total: de estar pesquisando o que eu queria, me aventurando por onde eu queria.” (**)

(***) A jornalista e produtora Sônia Maia, que há quatro anos trabalha com Arnaldo, deu detalhes dos planos do músico e da dificuldade que ela vem enfrentando para agendar shows do ex-Mutante. Aqui, a íntegra do papo: 

- Haverá alguma show ou turnê em celebração aos 40 anos de Lóki?
- Não. Além das dificuldades em conseguir patrocínio, que falo mais adiante, tem o fato concreto de Arnaldo não gostar de se prender a nenhum script – ter que tocar um set específico. Ele coloca uma lista de 70 músicas à frente do piano e, de acordo com o que sente da plateia, faz ali na hora sua própria seleção. Cada show é diferente do outro. Estou falando do concerto que está em turnê desde 2011, o “Sarau o Benedito?”, que é Arnaldo solo, tocando ao piano de cauda, flores ao redor do piano e videocenário de suas obras como artista plástico projetadas ao fundo do palco. Simples e arrebatador! O profundo silêncio da audiência durante as músicas é algo a ser experienciado! E 90% do público que tem lotado esses shows está entre 17 e 34 anos, o mesmo perfil dos seguidores da fanpage de Arnaldo no Facebook, que viralizou de janeiro para cá, subindo de 25 mil para 76 mil seguidores, chegando, em alguns momentos, a mil curtidas a mais por dia. Então, Arnaldo é também sinônimo de sucesso, atinge um público jovem, esperto, inteligente e formador de opinião. E recebe generosos espaços na imprensa em geral.

Vale também lembrar que o álbum “Loki?” pertence à Universal. Apesar de termos escrito para a gravadora, dando várias ideias de celebrações – clips, lançamento em vinil, etc – eles não se interessaram. 

- Como Arnaldo vê o disco, hoje? Ele fala de temas que são dolorosos para ele. Cantar músicas do disco trazem de volta alguma lembrança, boa ou ruim, para Arnaldo?
- Essa eu deixo para o próprio Arnaldo responder:

“Uma aventura lucky? Infeliz, quem; nunca foi infeliz. Compartilhar, do não; é, esperar, um: sim (lembranças....)”. 

- Você disse que tinha dificuldades em agendar shows de Arnaldo. Pode elaborar, por favor?
- O circuito cultural brasileiro, como um todo, ainda sofre das mesmas dificuldades de décadas atrás - os produtores e patrocinadores só apostam em nomes de sucesso, o que se traduz em artistas que tocam nas rádios, que aparecem em programas de TV, com vários clips etc. Apesar de todo o peso e importância do nome de Arnaldo Baptista, os produtores locais e possíveis patrocinadores não o vêm como um nome que dê ‘retorno’.

Isso não acontece só com Arnaldo, mas na cultura como um todo. Veja no cinema – temos agora três filmes brasileiros de altíssima qualidade, o de Ana Carolina, o de Sergio Bianchi e o de Paulo Sacramento, para ficar em apenas três cineastas, e é triste ver que atingiram, no máximo, 1.200 espectadores nas salas em todo o Brasil. Muito estranho que o melhor de nossa cultura fique sempre relegado a um nicho ou simplesmente não aconteça. Tem algo muito errado aí. É um cenário, me parece, muito viciado no aqui e agora, que insiste em enterrar o ontem, enterrar nossa história. Somos um país sem memória, porque não cultivamos nossa memória cultural. Isso acontece também, por exemplo, com o artesanato brasileiro – muitas técnicas estão e serão totalmente esquecidas porque não há registro delas. 

- Vocês liberaram a discografia completa dele, para download gratuito. Mesmo assim, é difícil ouvir músicas de Arnaldo em rádios. Por quê?
- Bem, não “liberamos”, porque os álbuns não estavam todos sob propriedade de Arnaldo. Foi um trabalho de fôlego e independente do time em torno dele e de vários voluntários. Uma luta que se arrastou por mais de 30 anos. Quando comecei a trabalhar com Arnaldo e Lucinha, em 2010, disse que não sossegaria enquanto não entregasse essa discografia a eles e ao acervo da cultura brasileira.

Estas obras foram todas remasterizadas pela Classic Master, ganharam novas capas, aplicativo exclusivo na Deezer, com comentários de artistas de peso como Tom Zé, Arnaldo Antunes, Lobão, Fernanda Takai, Lulina e Fernado Catatau. Estão disponíveis nas maiores lojas digitais e serviços de streaming do mundo.
E é engraçado, porque mandamos links para download de toda a obra solo para várias rádios de várias cidades brasileiras e, até onde sei, não está tocando. Mandamos, ligamos, conversamos com as rádios. Disseram “que iam ver a possibilidade”. Esta pergunta deveria ser feita às rádios – não sei qual o critério. Adoraria saber, ouvir deles mesmos uma explicação. Fica algo ali não dito, falta transparência. E não é porque “não se encaixa na programação”. Imagina! As músicas são ainda muito muito atuais e há pelo menos uma dúzia de hits na discografia, que cairia facilmente no gosto do ouvinte. Arnaldo é um hitmaker! De qualquer forma, se alguma rádio se interessar em tocar essas pérolas, é só nos contatar que disponibilizaremos. 

- E em relação a editais e concursos, poderia elaborar aquilo que me disse, que tem havido muita dificuldade em conseguir fechar algo pro Arnaldo?
- Novamente, não sei qual o critério dos editais. No primeiro e segundo ano trabalhando com Arnaldo (2011-2012), inscrevi em três editais para lançamento do novo álbum “Esphera” e não fomos contemplados. Então, desistimos de ficar batendo o martelo ali. Recentemente, tentei inscrever em um edital bem conhecido, mas as regras não se encaixavam no perfil de Arnaldo – ou seja, ele teria que sair em turnê com o novo álbum e o show não poderia ser o mesmo que ele vem fazendo. Arnaldo não faz show com banda. Vai levar até o fim a bandeira de só tocar com instrumentos como guitarra, baixo e bateria se tiver um PA valvulado, o que não existe, apesar de ser possível construir. Então, há uma exclusão dentro da própria cena cultural para artistas que não se encaixam nas regras estabelecidas.

Na minha opinião, os patrocinadores deveriam criar verbas específicas para o fomento e continuidade do trabalho e produção de artistas como Arnaldo, que já estão pra lá dos 18 anos e merecem não apenas um tratamento diferenciado, mas um olhar para a importância cultural desses artistas e suas obras, de hoje e de ontem. Pensar no retorno institucional e de imagem que essas iniciativas dariam. E no compromisso como empresário e cidadão para a manutenção dessas obras e sua disseminação entre o público em geral, atitude tão comum nos países europeus e nos EUA, por exemplo. Já está mais do que na hora de amadurecerem por aqui! 

- Você me falou de um show em BH. Quando será? Pode dar mais detalhes?
- Belo Horizonte estava órfã desse concerto, já que é uma das cidades onde Arnaldo tem mais fãs e também capital do Estado no qual reside há mais de 30 anos. Resolvi, então, bancar o show, arriscar na bilheteria. Até mesmo para provar aos produtores de outros estados que esse show é possível. Será no dia 3 de agosto, domingo, 19hs, no Theatro Cine Brasil. Os ingressos estão à venda pelo sistema www.ingresso.com  e também na bilheteria do Cine Brasil. Chamamos todos a lotar o espaço, de 900 lugares!

* http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/musica/2014/07/03/noticia_musica,156911/arnaldo-baptista-comemora-66-anos-no-domingo-e-40-anos-de-loki.shtml

** http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1471187

*** http://entretenimento.r7.com/blogs/andre-barcinski/novidades-do-loki-20140704/

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