quarta-feira, 30 de abril de 2014

Necro, "Dark Redemption"

A Necronomicon, excelente banda de Maceió, Alagoas, acaba de lançar um novo single, "Dark Redemption". Com um novo nome: eles agora são apenas "Necro". Uma paulada, como sempre: riffs foda, bem "sabbathicos", som "setentão", pesado e cheio de variações de andamentos. Com uma novidade: desta vez os vocais estão por conta da guitarrista, Lillian Lessa. Ficou muito bom. A arte da capa, reproduzida abaixo, é de Cristiano Suarez.

Clique AQUI para ouvir a música e AQUI para reler a entrevista que fizemos com eles no ano passado ...


OUÇA ALTO !!!!



terça-feira, 29 de abril de 2014

Slayer´s "Implode"

O Slayer apresentou a faixa Implode, sua primeira inédita em cinco anos, durante apresentação no Revolver Golden Gods Awards, que aconteceu no Nokia Theatre em Los Angeles. A música, gravada no Henson Studios, foi produzida por Terry Date e co-produzia por Greg Fieldman. Implode está disponível para download gratuito como forma de agradecimento da banda aos fãs por seu contínuo apoio. Os registrados ao fã-clube oficial receberam um e-mail e puderam ouvir a música antes que esta se tornasse pública. A banda começará as gravações de seu novo álbum, que deve ser lançado em 2015, ainda este ano. O disco será lançado via Nuclear Blast por um selo da própria banda, encerrando um relacionamento de 28 anos com Rick Rubin e American Recordings. O selo do Slayer ainda não tem nome.

"Implode" está programada para a próxima edição do programa de rock.

O download pode ser feito aqui.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

pixies is not dead ...

O Pixies está ativo em turnê desde a reunião, em 2004, tocando músicas dos primeiros quatro discos da banda, que serviram de influência para grupos como o Nirvana e o Radiohead. Ano passado, a baixista e vocalista Kim Deal deixou o grupo para se concentrar em sua outra banda, o Breeders, mas o Pixies seguiu em frente, e no dia 19 de abril lançarou Indie Cindy, o primeiro disco em 23 anos. O vocalista e guitarrista Black Francis, o baterista David Lovering e o guitarrista Joey Santiago conversaram com a Rolling Stone EUA sobre ser uma banda com músicas inéditas novamente.

Ter músicas novas faz muita diferença para a banda?
Black Francis: Pessoalmente, sim. O álbum está saindo agora, então não sei o que isso significa na coisa como um todo, mas certamente nos sentimos bem fazendo algo diferente em vez de fazer “Monkey Gone To Heaven” novamente. 

Foto por Samantha Saturday
Ter um novo disco coloca o Pixies em uma situação diferente agora?
Joey Santiago: Somos uma banda agora. Bandas fazem turnês e fazem música. E havia um barulho nas redes sociais dizendo que eles queriam um novo disco. Tivemos que tirar um tempo para isso. Havia algo para provar? Só queríamos fazer nossa música. Continuamos criativos.

Fãs normalmente querem músicas, mesmo que eles as odeiem quando elas ficam prontas, não é verdade?
Francis: Não acho que nós analisamos isso muito. Não lançamos uma música nova nos últimos 10 anos porque, basicamente, não tínhamos um acordo para ir ao estúdio, mesmo tendo havido algumas tentativas de fazer isso acontecer. Não conseguíamos realmente entrar em concordância até uns dois anos atrás. Sim, queremos fazer sucesso, não queremos ser criticados, não queremos ter uma crítica dando uma de 10 estrelas ou qualquer coisa do tipo [risos]. Não queremos nada disso, mas nós estamos perfeitamente dispostos a aceitar isso tudo. No fim das contas, o que importa é que só queremos fazer música. É uma banda de rock. Vivemos na realidade a maior parte do tempo, até que tomemos alguns drinques. Somos bem experientes. Fomos ao Brasil e encontramos um dos nossos velhos roadies, o George, o cara que " sabe todos os acordes”. Estávamos passeando pelo saguão e ele disse, “Caras, é tão bacana ver vocês na estrada”, e ele estava tipo, “Vocês fizeram um disco e agora estão de volta – podem agora tocar essas músicas durante cinco anos”. Aquele foi o conselho dele. Em certo ponto, eu percebi que ele estava certo.

É mais difícil compor agora do que era antes de terminarem?
Francis: Demorou um tempo para descobrir como funcionaríamos. Ajudou o fato de que a banda estava esperando por algo ansiosamente. Não posso simplesmente dar a eles a primeira música que vem à minha mente. Trouxemos [o produtor] Gil Norton e ele foi bem importante nesse papel de dizer: “Isso sim, aquilo não”. 

Terminar o disco serviu para encorajar vocês?
Francis: Tivemos todo esse problema quando a Kim [Deal] saiu quando o disco estava na metade, então foi um desafio interessante. Não acho que vamos querer esse tipo de desafio da próxima vez que entrarmos em estúdio.

Se o show do Imagine Dragons, no primeiro dia de Lollapalooza, exaltou a felicidade pop e fácil, o Pixies, em sua terceira passagem pelo Brasil, provou que continua seco e introspectivo, apesar da variedade de novas canções e da baixista recém-chegada Paz Lenchantin. É possível dizer que a banda vai de encontro a qualquer tipo de definição de “rockstar” ou celebridade, tendo tocado 22 músicas em pouco mais de uma hora (um dos setlists mais gordos do festival), sem trocar sequer uma palavra com a plateia.

Black Francis (aniversariante do dia, completando 49 anos que, obviamente, não foram comemorados no palco), Joey Santiago, David Lovering e Paz Lenchantin chegaram sem alarde ao palco Skol, às 17h35, para encontrar com uma multidão à sua espera. Sem “olá”, “boa noite” ou “obrigado”, as canções foram “cuspidas” a partir dali, em máxima velocidade, uma atrás da outra, a começar por “Bone Machine”, sendo que essa foi a primeira oportunidade que os brasileiros tiveram de dar boas-vindas à baixista argentina Paz Lenchantin (assumindo os graves após a saída de Kim Deal e, posteriormente, de Kim Shattuck). Ela demonstrou personalidade, dando seu toque às linhas de baixo da banda, e, é claro, fazendo os backing vocals obrigatórios no som do Pixies – ainda que o volume, tanto do baixo quanto do microfone, estivesse mais baixo do que na época de Kim Deal.

O jeito de agir e se vestir dos integrantes, assim como a configuração do palco (nem mesmo o nome da banda é colocado no telão) revelam o mote do Pixies ao vivo: fazer música para eles mesmos, e se o público gostar, objetivo conquistado. Canções antigas como “Gouge Away”, “Cactus” e “Broken Face”, tocadas no começo da apresentação, provaram que não seria difícil para o grupo ter o público ao lado. Entretanto, muitas músicas novas (do disco Indie Cindy, compilação que sai em 29 de abril e reúne os três EPs lançados desde o segundo semestre do ano passado) levaram quem assistia ao show a uma certa apatia. “Blue Eyed Hexe”, “Bagoboy” e “Indie Cindy” cresceram ao vivo, dando a entender que se tivessem mais tempo de “digestão” pelo público brasileiro, poderiam ser mais apreciadas.

Entretanto, e como não poderia deixar de ser, foi com os hits “Monkey Gone To Heaven”, “Where Is My Mind”, “Here Comes Your Man” e “Hey” – esta, especialmente, funciona muito bem ao vivo – que a banda entrou em comunhão com a plateia. “La La Love You”, com o baterista David Lovering cantando firme e grave, soou cômica, e contrapôs à seriedade que prevaleceu no rosto de Black Francis e Joey Santiago – eles mal sorriram enquanto estiveram no palco. É possível dizer que, sem frescuras, o Pixies promove o show da espontaneidade no festival.

Devido às músicas novas e a certa "antipatia" dos integrantes no palco, o show do Pixies no Lollapalooza 2014 pode ter sido o menos interessante da banda no Brasil (eles tocaram por aqui no SWU de 2010, e em Curitiba, em 2004). Porém, com uma baixista de personalidade – que parece se firmar na formação – e o fato de as músicas novas terem soaram bem ao vivo, o Pixies pode pensar em um futuro pelo menos digno do seu passado, ainda capaz de agradar multidões, como a que viram Black Francis e companhia no Lollapalooza Brasil.

por Steve Appleford - entrevista
e Lucas Brêda - resenha

rs Brasil

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Paulo André, uma entrevista ...

Enquanto não me sobra tempo - e disposição, já que é bastante cansativa a viagem daqui ao Recife de carro por uma BR 101 eternamente em obras pra ver uma infinidade de bandas tocando numa mesma noite - para fazer minha tradicional resenha do Festival Abril pro rock, deixo-os com a reprodução de uma entrevista com Paulo André, o produtor, conduzida por Diego Albuquerque e publicada originalmente no Altnewspaper ...

O que mudou no “Fazer” o Abril Pro Rock na década de 90 e neste novo século?

Paulo Andre: Mais fácil dizer o que não mudou. Os gargalos são os mesmos, comunicação pública mofada, atrasada, não apoia o surgimento de novos artistas, promovendo-os, tocando. Ausência de um circuito forte e organizado de clubes, que ainda são restritos ao sul/sudeste. Estou falando da nossa realidade, da nossa região. Há tempos não faz sentido trazer grandes bandas dos 80 e 90 pro APR, salvo alguns casos. Tivemos elas em outros tempos, outro contexto. Nem queremos ficar refém de bandas grandes que podem dar prejuízo. O Motorhead so não foi prejuízo porque tínhamos os patrocinadores, tomamos a decisão de não mais ficar refém de uma única banda, mas dividir o bolo e compor uma noite.

A comunicação mudou, ficou mais interativo com o público, mas a realidade do cenário, a dificuldade pra novos artistas na região, parece até ter encolhido, nos 90/00 tinha a Mtv aberta, mais revistas, mais selos. Mudou do cassete pro Soundcloud, já nem é mais MySpace, mas não mudou nossa proposta, de apostar no novo.

Temos cinco bandas internacionais que nunca tocaram na região, três delas inéditas no Brasil, não tenho certeza se o Obituary tocou no MOA. Só Autoramas (1 vez), Tulipa Ruiz (1 vez), Mukeka (2 vezes), e Desalma (1 vez), tocaram em 21 edições (do Abril Pro Rock). Além de novos nomes como Daniel Groove, Bárbara Eugênia, Felipe Cordeiro, Joanatan Richard, Trummer SSA, a galera da Cena Beto, Krow, Johnny Hooker tocou, mas agora é solo. 

A curadoria do Abril Pro Rock nos últimos anos sempre tomou cuidado em trazer bandas que funcionem ao vivo. Ou seja, que o show seja legal. Essa premissa se mantém?! Qual das atrações fez o show mais legal ao vivo, que garantiu eles no APR?

PA: Sim, eu fiz turnê com o Felipe Cordeiro, em Roskilde, ele colocou uma tenda com 4/5 mil pessoas pra dançar, ninguém entendia uma palavra do que ele cantava, mas reagia muito bem a música. Não queríamos mais um show do Autoramas no APR, encontrei eles e fiz a proposta, de convidarem o Renato pra fazer algo juntos. José Teles há tempos me dizia que deveríamos trazê-lo, como já fizemos com Tom Zé, Paulo Diniz, Lula Côrtes, Jacinto Silva, os clássicos.

Acompanhei de perto a Cena beto, sempre fui nos Desbunde Elétrico, acompanhei tão de perto, como acompanhei nos 90 a cena daqui. Acredito muito no potencial deles e na contribuição a cena musical da cidade. Gostamos muito do disco da Trummer SSA, será a estréia deles na cidade. Sebadoh é nossa aposta gringa da sexta. Tulipa tem um bom show, vi em Berlin, ano passado, ela não toca aqui desde o Rec Beat 2013. Barbara eu já queria ter trazido, acredito no potencial dela.

Antes mesmo de saber que a banda continuaria, nem o nome deles, eu liguei para o produtor de Reginaldo (Rossi), aí ele disse que os caras iam fazer o primeiro show sem Reginaldo Rossi e que se chamariam The Rossi, aí eles toparam reproduzir o tributo ao vivo, com convidados não só do cd, mas com novos nomes, afinal é nossa aposta é sempre no novo.

A maioria dos pernambucanos nem sabe quem é Johnny Hooker, mas essa situação mudará rapidamente em um mês, quando estréia a novela que ela protagoniza. Acreditamos nele há tempos, mas depois de Tatuagem, da música “Volta”, desse momento além música dele, tínhamos que convidá-lo, dar um horário melhor pra ele, que abriu em 2009, quando tocou como vencedor do Microfonia, com o Candeias Rock City.

Quando você começou o APR, pensava em durar tanto tempo?! E o que o festival precisa fazer para continuar existindo em alto estilo daqui pra frente?

PA: Cara, no início, não me interessava saber o que aconteceria no futuro, eu queria fazer algo pela cidade, pelas bandas, eu acompanhava tudo de perto e, achava que caberia juntar 12 bandas em um dia. Fui movido pelo incômodo, me incomodava a quantidade de bandas boas, tocando pra 200 pessoas no máximo, nos inferninhos, festas, Soparia e Galeria Joana D’Arc.

Mas, sou muito agradecido ao cantor de axé Ricardo Chaves, ele me fez testemunhar uma cena que me deu todo o gás pra querer fazer algo pela cidade e sua cena musical, eu explico: nos anos 90, havia um pré Carnaval na Av. Boa Viagem, 20 trios elétricos desfilavam na Avenida, de Pernambuco tinha Banda Pinguim, Versão Brasileira, André Rio e o axé chegando com tudo na cidade. Ricardo Chaves, não tinha carisma nenhum, cara de almofadinha, mas tinha um hit “vou te devorar crocodilo eu sou…”. Quando a porra do trio dele passava, eu via uma avenida inteira, bater os dois braços imitando a boca do jacaré e aquele som Tcha, tcha, me fodia! Eu achava deprimente, ver gente de todas as idades numa coreografia coletiva infantil. Até hoje, eu agradeço ter visto e vivido aquilo, me provocou. Eu pensei, não pode ser só isso.

Em mais de 2 décadas vimos muita coisa mudar, do cassete ao Soundcloud e Youtube, seguiremos antenados com o que rola no mundo, mas depositamos a esperança de um dia ter uma rádio pública, sintonizada com o tempo e o espaço em que vivemos, que possa tocar as bandas antes do Festival, pra que mais gente possa ouvir, conhecer, não pra vender mais ingressos, mas pra marcar melhor essa ignorada nova música brasileira. Nunca gozamos disso, enquanto outras cidades tem uma boa rádio, mas não tem um festival, que tenha repercussão nacional como o APR.

Ano passado, fui pro El Mapa de Todos, e publiquei um comentário, que pra mim, festival bom é quando a gente não conhece a maioria das bandas, ou conhece, mas nunca viu o show ao vivo. É isso que nos move, trazer bandas que de outra forma não viriam pra cá, como tantas que já passaram pelo APR, de pequeno, médio e grande porte, e que nunca mais voltaram na região nordeste.

O dia do rock pesado do APR, foi se desenhando ao longo dos anos, e ficou muito forte nos últimos anos. Mesclamos punk, metal, hardcore, com bandas novas, e nomes clássicos desses gêneros. São quatro bandas gringas inéditas no sábado, sendo duas inéditas no Brasil, só Obituary e Conquest for Death tocaram antes. A Krow de Minas Gerais já faz turnês internacionais, é uma promessa do metal brasileiro com carreira internacional. A Mukeka di Rato é uma instituição underground brasileira, assim como o RDP (Ratos de Porão), enquanto existir, os traremos. Há tempos queríamos o Olho Seco, antes tarde do que nunca.

Tentamos outra clássica, a Dorsal Atlântica, mas não rolou, quem sabe um dia. Chakal é uma banda clássica, da geração do Sepultura, conheço Wladimir Korg há tempos, também sou um grande fã da outra banda dele, The Mist. Chakal tocaram aqui nos anos 80, nunca voltaram, vai ser foda, o Korg é uma lenda do metal nacional. Hibria nunca veio pro Nordeste, e tem as apostas Dune Hill e Monster Coyote. Além da experiência Desalma com Bongar, o Bongar ao vivo é tão pesado percussivamente, quanto qualquer banda desse dia, uma porrada, merecem muito.

Eu acho que 30 a 40% do público do dia pesado, é de outras cidades do Nordeste. Já contabilizamos caravanas de 10 cidades diferentes, incluindo as distantes Aracaju e Paulo Afonso. 

Qual show você ta ansioso/curioso pra ver na sexta e no sábado? Quem bandas as pessoas precisam ver ao vivo?

PA: Pra mim, todos valem a pena, mas festival é isso, as pessoas se identificam mais com umas, menos com outras bandas, e é sempre uma boa oportunidade de fazer um bom show e ganhar público. Festival não é lugar pra lançar disco, nem pra experimentar, é pra fazer um show bom e deixar o gostinho de quero mais. Afinal, o que fizemos sempre foi apostar, e agente nunca pode dizer quando vai rolar um show histórico no APR, pra saber tem que apostar. 

E no sábado, quem você acha que pode surpreender o público?

PA: as bandas gringas do sábado devem fazer shows foda, porque todo mundo quer tocar no Brasil, Obituary é clássico, as outras três são relativamente novas, duas inéditas no Brasil. Das bandas do sábado, só vi ao vivo, Mukeka e Desalma. 

Tem mais alguma banda que vocês tentaram pra esse ano e bateu na trave? Quem sabe na próxima?

PA: Death, eu queria muito trazer, mas não rolou, continuarei tentando. Queria muito trazer esse show da Karina cantando Secos & Molhados. Tentei a Nação Zumbi, mas eles iam fazer carnaval aberto ao público e depois do carnaval já tinham um show fechado pro Recife. 

Valeu pela disponibilidade e pelo papo Paulo. Tem alguma coisa que tu quer dizer e eu não perguntei?

PA: Só se eu fiquei rico, mas é melhor deixar pra lá pra não frustrar o sonho de jovens produtores.

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

CLANDESTINO #7

Foto por Pedro Medeiros
Rolou de novo: A sétima edição do projeto “Clandestino” aconteceu hoje, feriado de Tiradentes, no principal ponto de referência histórico da cidade de Aracaju, a ponte do Imperador – na verdade um atracadouro construído para a chegada de Dom Pedro II às antigas terras do Cacique Serigy. Infelizmente, mais uma vez, abandonado pelo poder público: está sujo, sem iluminação e quase em ruínas ...

Houve um pequeno atraso porque demorou pro gerador funcionar, mas eis que fez-se a luz – e o som! A auto-denominada banda de “crust universitário” Robot Wars abriu a noite com um show energético e minimalista que se adapta muito bem às limitações naturais da empreitada – notadamente o ronco do gerador, que desta vez não pôde ser posicionado de forma mais adequada e dominou o ambiente. Mas não ao ponto de estragar a festa, muito pelo contrário: faz parte, até ...



Atrapalhou mais “O Cúmplice”, cuja formação não é tão “enxuta”: são duas guitarras, baixo, bateria e vocal. Fazem um som pesado que intercala passagens mais rápidas com momentos climáticos, numa dinâmica envolvente e, muitas vezes, soturna. Foi meio difícil equalizar tudo isso, ficou meio confuso, embolado com o ruído do gerador ao fundo, mas sem problema: rolou! Os caras são de São Paulo e estavam visivelmente satisfeitos em tocar na rua, sem palco, tão longe de casa e num visual tão legal – a tal “ponte” que não é ponte fica no centro da cidade e de lá temos uma vista privilegiada da “rua da frente”, de um lado, e da Barra dos coqueiros, do outro. É realmente bonito – e agradável, já que estávamos sobre o rio e agraciados com uma deliciosa brisa marítima vinda da praia da costa.

Belo fim de feriadão! Que venha o próximo ...

FAÇA VOCÊ MESMO!!!!

A

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domingo, 20 de abril de 2014

Nirvana: os bastidores da reunião

A ideia de ingressar no Hall da Fama do Rock and Roll pelo trabalho realizado no Nirvana mal havia passado pela cabeça de Dave Grohl quando ele deixou o palco da cerimônia do ano passado, em Los Angeles, depois de anunciar a entrada do Rush e ter tocado com eles em uma versão de “2112”. “Eu fiz uma entrevista rápida e alguém disse: ‘Está animado por ser elegível no ano que vem?’”, diz Grohl. “Eu simplesmente não tinha feito as contas. E então aquilo me pegou. Mas eu não poderia imaginar que entraríamos no nosso primeiro ano como elegíveis.”

Artistas e bandas podem entrar no Hall da Fama 25 anos depois de lançarem o primeiro disco ou single. E o primeiro lançamento do Nirvana, uma cover de “Love Buzz”, do Shocking Blue, chegou às prateleiras nas últimas semanas de 1988. “Eu descobri que estávamos disputando na mesma época que fomos indicados ao Grammy [por “Cut Me Some Slack” colaboração com Paul McCartney]”, diz Krist Novoselic, baixista do Nirvana. “Eu só fiquei: ‘wow!’ Mas era um sentimento agridoce porque a cerimônia estava agendada justamente na semana marcada pelos 20 anos da morte de Kurt. Fiquei angustiado com isso, mas então pensei: ‘Bom, por que não fazemos um grande tributo a ele?”

A maioria dos grupos que entram no Hall da Fama fazem uma performance, mas os integrantes do grupo não tocavam uma música do Nirvana em público desde a morte de Cobain. “Nós não falamos sobre nos apresentar até oito semanas atrás”, disse Grohl. “Parecia praticamente impossível. Era muito difícil de imaginar nós subindo ao palco para tocar aquelas músicas. Precisa de um pouco de preparação musical e muita preparação emocional."

Uma vez decidido que iriam tentar, o óbvio problema seguinte era encontrar os cantores convidados. “Tinha o problema de achar pessoas que respeitávamos e que dividiam a mesma estética que o Nirvana”, diz Grohl. “Seja musical ou outra forma.” O grupo chegou a uma lista de vocalistas de rock de primeiro nível, mas nenhum quis aceitar o desafio. “Alguns deles ficaram apreensivos”, diz Grohl. “Acho que alguns deles ficaram mais preocupados em quão pesada era a coisa toda.”

A primeira pessoa que aceitou foi Joan Jett. “Ela aceitou como se fosse uma escolha dela”, diz o baterista. “Ela realmente ficou animada e me mandou vários e-mails. Aprendeu todas as músicas de Nevermind. Ela é tudo o que o Nirvana defendeu. Ela é poderosa, rebelde, uma força musical da natureza. Não conseguiríamos pensar em ninguém melhor para se juntar a nós."

Depois que Joan embarcou na ideia, eles chegaram a PJ Harvey. “Kurt amava PJ Harvey”, diz Grohl. “Nós sempre imaginamos tocar ‘Milk It’, do In Utero, com ela. É uma canção quase parecida com algo que estaria no disco dela Rid of Me, também produzido pelo Steve Albini. Parecia se alinhar muito bem. Infelizmente, ela não pode ir.”

Mas a conversa deu a Grohl uma ideia incrível. “Pensamos: ‘Espere aí, e se todas fossem mulheres?’”, diz ele. “Nem pergunte a mais ninguém. Se nós conseguirmos preencher a performance do Hall da Fama com essas mulheres incríveis cantando músicas do Nirvana, então teremos cumprido a nossa própria revolução’. Isso também acrescentou uma nova dimensão para a apresentação. Deu substância e profundidade, para que não se tornasse uma louvação ao passado. Era mais sobre o futuro.”

As coisas seguiram rapidamente a partir disso. “Dave começou a selecionar nomes”, diz Novoselic. “Ele falava: ‘Nós deveríamos chamar a Kim Gordon! Então alguém que estava em ascensão... Annie Clark, do St. Vincent!’ Eu não sabia quem ela era, mas agora sou o maior fã. Então, chamamos a Lorde.”

A meta era apresentar as cantoras convidadas em ordem cronológica. “Joan Jett, que formou o Runaways e mudou o rock and roll para as mulheres”, explica Grohl. “Kim Gordon, do Sonic Youth, que foi luz no escuridão de uma cena de punk undergound predominantemente machista. St. Vincent, que é esta artista que atravessa as barreiras. E Lorde tem um futuro incrível pela frente, uma compositora, performer e vocalista.”

O grupo se juntou ao antigo guitarrista de turnê (e atual integrante do Foo Fighteres) Pat Smear no espaço de ensaio da marca de guitarras Gibson, na cidade de Nova York, alguns dias antes da cerimônia de indução. “Nós dissemos ‘oi’ para todo mundo e começamos a tocar ‘Lithium’”, conta Novoselic. “Peguei um livro de tablaturas do Nirvana para reaprender as minhas partes, mas não queríamos ir rápido no começo. Então as coisas começaram a fluir e ficamos cada vez melhores. E então isso me atingiu e eu fiquei melancólico. ‘Meu Deus, estou tocando essas músicas de novo’.”

Foi igualmente intenso para Grohl. “A primeira vez que tocamos juntos foi como ver um fantasma”, disse ele. “A segunda vez foi um pouco mais tranquila. E a última foi como aquela merda de cena da Demi Moore e do Patrick Swayze fazendo cerâmica em Ghost. Normalmente nós chegávamos no ponto na terceira vez. Começou a soar como o Nirvana. Nossa equipe e alguns amigos estavam na sala quando tocamos ‘Scentless Apprentice’ pela primeira vez. E eles ficaram com os queixos caídos."

“Eu não tocava com a banda em 20 anos”, continua o baterista. “Ouvir como soamos quando tocamos ‘Scentless Apprentice’ legitimou tudo para mim. Tinha quase esquecido como era estar em uma sala repleta de Nirvana. O primeiro dia realmente legitimou tudo. Era como: ‘Isso está certo! Nós soamos assim, e é por isso que as pessoas prestaram atenção na gente. E não era um livro, um filme ou um programa de TV mostrando isso. Era o som dentro daquele lugar, fazendo as pessoas pensarem: ‘Que porra é essa?’ Foi muito foda. Nós começamos com Krist e Pat. Fui acertando as coisas. Então, vieram Kim e Joan.”

As coisas ficaram melhores quando Novoselic percebeu que havia um barril cheio de cerveja para o grupo. “Aquela cerveja era tão boa”, diz ele. “Nós realmente fomos nos soltando depois de algumas horas, como uma máquina azeitada.”

Os ensaios duraram dois dias bem longos. “Não tocava esses trechos de bateria desde que tinha 25 anos”, brinca Grohl. “Tenho 45 agora. Nós tocamos 10 horas por dia. Depois da primeira noite de ensaio, eu fui pra casa mancando, tomei duas taças de vinho, três comprimidos de Advil, tomei um banho quente e dormi por 10 horas seguidas. Era como um coma para mim, porque eu nunca durmo.”

Em um momento durante os ensaios, o grupo teve a ideia de tocar em algum lugar de surpresa no Brooklyn depois da cerimônia. “Dave ficou tão animado com a música”, diz Novoselic. “Nós quase precisamos acalmá-lo. Ele ficava: ‘Nós deveríamos fazer um show!’ Eu respondia: ‘Vamos fazer depois da cerimônia!’ Ele queria trazer J Mascis, do Dinosaur Jr., e John McCauley, do Deer Tick. Ele é tão fã que tem uma banda de tributo ao Nirvana chamada Deervana.”

Não era segredo que Grohl e Courtney Love não mantinham um bom relacionamento ao longo dos últimos 20 anos e a cerimônia de indução marcou a primeira vez que eles estiveram no mesmo lugar em muito tempo. “No começo da noite, eu toquei o ombro dela”, disse Grohl. “Ela virou e eu disse ‘hey’. Ela respondeu: ‘Hey’. Então nos demos um grande abraço. Disse: ‘Como você está?’ E ela respondeu: ‘Bem, e você?’. Eu digo: ‘Tudo bem’. E então, ela fala: ‘Vamos fazer isso. Vamos arrasar esta noite’. E eu disse: ‘Sim’. Foi assim.”

Quando chegou a hora dela fazer o discurso no lugar de Kurt, Courtney abandonou as notas já preparadas e falou rapidamente sobre o fato de que todos no palco formavam uma grande família. Ela deu mais um grande abraço em Grohl. “Ela está certa”, diz ele. “Nós somos uma família, não importa o que aconteça. E nós nos amamos, também não importa o que aconteça. Tudo é muito maior do que um parágrafo ou do que uma foto. É real. Então, foi uma reunião, e estávamos lá por Kurt. Foi uma noite linda. Foi bom.”

A apresentação de quatro músicas do grupo, que contou com “Smells Like Teen Spirit”, com Joan Jett, “Aneurysm”, com Kim Gordon, “Lithium”, com St. Vincent, e “All Apologies”, com Lorde, foi claramente o momento mais importante da noite. “Toda a minha apreensão era infundada”, diz Novoselic. “Eu só tentava tocar o meu baixo o mais forte que conseguia.”

Grohl diz que a lembrança da performance para ele ainda é um borrão. “Eu fiz o meu discurso emocionado”, diz ele. “E então corri para o backstage para colocar uma bermuda porque não consigo tocar vestindo calça. Estou lá mexendo no troféu e tentando chegar ao banquinho da bateria. Sabia que todos estavam esperando por mim. Eu não lembro muito daquilo, mas eu lembro de ter espancado aquela bateria. Tudo foi como eu esperava que fosse. Quero dizer, foi mais do que uma apresentação em uma cerimônia de premiação e um troféu. Era algo grande para a gente, pessoal e emocionalmente.”

O plano original era terminar a noite com uma jam de “Highway To Hell”, do AC/DC, mas os integrantes da E Street Band tomaram muito tempo com seus discursos e o toque de recolher da noite começou a soar. “Eles esperavam que o Nirvana aprendesse aquela música”, diz Grohl. “Mas já é difícil o bastante para o Nirvana aprender a porra de uma música do Nirvana”.

Para Novoselic, não ter que tocar “Highway To Hell” depois do set do Nirvana foi um grande alívio. “Eu não queria”, diz ele. “Eu amo AC/DC e amo Bruce Springsteen. Cresci ouvindo eles. Mas nós ficávamos falando: ‘Nós temos o grande final. Nós temos o nosso final!’”

A noite acabou com uma maravilhosa versão de “All Apologies”, com a Lorde, mas para o Nirvana tudo estava apenas começando. Assim que a cerimônia chegou ao fim, eles dirigiram oito quilômetros até o Saint Vitus Bar, no Brooklyn, para uma das mais incríveis after-parties da história da cidade de Nova York. Alguns poucos sortudos que estiveram no bar assistiram ao Nirvana tocando 19 músicas com Joan Jett, J Mascis, St. Vincent, John McCauley e Kim Gordon – Lorde não pôde ir, porque pegou um voo para Califórnia por causa da apresentação no Coachella.

O show foi exatamente aquilo que os fãs do Nirvana sempre sonharam, trazendo desde “Smells Like Teen Spirit” a “Very Ape” ou “Moist Vagina”, a faixa de In Utero nunca tocada ao vivo. “Antes de abrirem a área do show, a parte do bar estava tão cheia que você não conseguia pegar uma bebida”, contou John McCauley, do Deer Tick, à Rolling Stone EUA. “Eu não conseguia ir ao banheiro. E o show começou e a área do bar ficou completamente deserta. Todos estavam lá assistindo. Isso foi legal.”

Eles tocaram quase até o amanhecer. “Eu me senti quando se é uma criança e você vai dormir na casa de um amigo. Você se torna parte da família dele naquela noite”, diz McCauley. “Mesmo que eles não tenham sido uma banda em 20 anos, eles pareciam uma banda para mim.”

Câmeras filmaram tudo o tempo tudo, mas o grupo se recusa a revelar o que será feito daquelas imagens. “Eu sequer vi as câmeras”, diz Novoselic. “Eu não sei o que o Dave irá fazer com isso. Mas ele é um cara do cinema. Ele vai pensarem algo e transformar em uma coisa boa.”

Então, aquilo foi algo de uma noite, ou o Nirvana pode ressurgir em algum momento do futuro? “Essa é uma boa pergunta”, diz Novoselic. “Quero dizer, ainda tem o Foo Fighters e Dave tem outros projetos acontecendo. Eu tenho alguns compromissos. Mas nunca se deve dizer nunca. Nós fizemos. Eu não negaria. Talvez, um dia, a gente possa fazer alguma música nova.”

Grohl não tem certeza. “Nós sequer falamos sobre isso”, diz ele. “Nós encaramos aquela noite como se ela pudesse nunca mais acontecer. Foi isso que a deixou tão poderosa, bonita e significativa. E pode nunca acontecer de novo, então aproveitamos o máximo. E foi incrível.”

por Andy Green

rs Brasil

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sexta-feira, 11 de abril de 2014

jesus is coming ...

O grupo escocês Jesus & Mary Chain é a grande atração da 18ª edição do Cultura Inglesa Festival, no dia 25 de maio, no Memorial da América Latina. Detalhe: é FREE! DE GRAÇA! A última vez que o Jesus & Mary Chain esteve no Brasil foi em 2008, para o Planeta Terra Festival. Volta agora na turnê que comemora seus 30 anos de carreira.

Liderado pelos irmãos Jim e William Reid, o Jesus and Mary Chain é considerado uma das bandas fundamentais do indie rock de todos os tempos, disseminadora das mais sublimes abstrações de guitarras. O grupo surgiu em Glasgow, em 1984, numa formação que tinha o baixista Douglas Hart e o baterista Murray Dalglish (trocado depois por Bobby Gillespie, que sairia mais tarde para fundar o Primal Scream).

Sua influência é como um bumerangue: sempre retorna para alimentar o som de grupos como Black Rebel Motorcycle Club, The Horrors, The Foals, The Kills, Warlocks, entre inúmeros outros. O seu disco Psychocandy é referência de gerações - está sendo relançado em uma caixa com mais dois discos e lados B de suas gravações. "Ouvíamos muito Velvet Underground, Dusty Springfield e 13th Floor Elevators. Assim nasceu Psychocandy", contou Jim Reid da última vez que veio ao País.

O culto é realimentado continuamente - a história mais recente foi quando a cineasta Sofia Coppola pôs uma música deles, Just Like Honey, no encerramento do seu cult movie Encontros e Desencontros.

Em 1º de julho de 1990, eles tocaram pela primeira vez em São Paulo. O ingresso custava Cr$ 1 mil e Collor tinha acabado de confiscar a poupança da plateia, tava duro até de comprar cerveja. Os irmãos Reid tocaram de costas para a platéia, erravam barbaramente os riffs e as entradas e terminaram com uma versão de 12 minutos de Sidewalking, segundo contou um leitor de qualidade que esteve lá.

por Jotabê Medeiros

Estadão

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quarta-feira, 9 de abril de 2014

#EUNOLOLLABR2014

“Uma sequência de canções como Ceremony, Bizarre Love Triangle, True Faith, The Perfect Kiss e Blue Monday, para quem aprecia o artesanato pop, traz um sentimento de se estar diante de uma obra clássica, algo como apreciar o Davi de Michelangelo.” Esta frase de Jotabê Medeiros, no Estadão, ilustra bem o meu sentimento por ter estado diante do palco da clássica e lendária banda de Manchester na noite de encerramento do Festival Lollapalooza Brasil 2014, ocorrido no último final de semana no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Foi uma celebração.

Que começou em clima de expectativa entre os que escolheram ignorar o “hypado” Arcade Fire, se apresentando num palco ao lado – o maior - no mesmo horário. Eu havia desistido de tentar ver de perto o Soundgarden, que tocou antes, ao ver a impressionante multidão que se direcionava ao palco ônix depois do show do Pixies. Tracei, então, uma nova estratégia: vi os heróis do grunge de Seattle sossegadamente, de longe, sentado na grama do alto de uma das colinas que circundavam o local da apresentação, aproveitando para descansar e ver, finalmente, um show completo, de perto, de forma decente. Do New Order.

pixies
Infelizmente o tempo entre o fim de um e o começo do outro era de apenas cinco minutos, o que tornaria impossível ver os dois na íntegra, já que a distancia entre os palcos era muito grande. Tive que sair, portanto, antes do fim do show do Soundgarden, pois estava decidido a ver a apresentação do New Order por inteiro. Cheguei a tempo: os técnicos ainda davam os últimos retoques na estrutura, com uma tela preta ao fundo onde o nome da banda aparecia ocasionalmente ...

E então eles entraram, foram ovacionados pelo público e começaram com “Crystal”, uma boa faixa mais recente, do álbum “get ready”, de 2001 – note: “mais recente”, no caso, já significa 13 anos de lançada! Pra “compensar”, mandaram uma nova mesmo, inédita, chamada “singlularity” – anunciada com uma verdadeira obsessão por Bernard Summer, o vocalista. Que parecia estar um pouco “alto” – não por acaso disse que amava as “caipirinhas”.

SAVAGES!
“Singularity” é muito boa e cumpriu com louvor a função de provar que eles ainda podem ter balas guardadas na agulha, mas vamos ao que realmente interessa: os hits! Show de banda clássica em megafestival não é lugar para novidades, já que muita gente – eu, por exemplo – tem ali uma rara oportunidade de ver pela primeira vez ao vivo as músicas que embalaram sua vida. O “bailão” começa pra valer com “Transmission”, do Joy Division, e a partir daí foi só alegria, com os grandes sucessos se sucedendo enquanto o telão mostrava imagens artísticas sofisticadas, algumas extraídas dos clipes, outras que parecem ter sido feitas especialmente para serem exibidas ao vivo, como o belíssimo filme que ilustra “your silent face”, de “Power, corruption and lies”. A platéia ia à loucura assim que reconhecia as introduções dos clássicos, como “The perfect Kiss” e “Bizarre Love triangle”. Em “Blue Monday” Bernard toma o lugar de Gillian Gilbert e improvisa um solo nos teclados, conseguindo, ao final, extrair um sorriso da sempre séria e compenetrada tecladista/programadora. Entre uma musica e outra o “frontman” fala muito com o público - algumas besteiras, inclusive, e pelo menos uma "gafe": agradeceu com um "Muchas gracias" - e, quando não está empunhando a guitarra, arrisca alguns passos de dança desengonçados. A banda, como um todo, parecia animada e estava bem afiada, com destaque para Stephen Morris, já "coroa" – todos eles estão, com excessão do baixista – competente – que substituiu Peter Hook e do outro guitarrista – destruindo lá atrás, na bateria “turbinada” com instrumentos de percussão eletrônica.

NIN
O Bis foi magistral: começa com o telão mostrando as imagens dos encapuzados carregando os quadros do Joy Division na praia enquanto a banda toca “Atmosphere” e termina, como não poderia deixar de ser, com “Love Will tear us apart”, enquanto uma apresentação de fogos de artifícios anunciava o fim daquela edição do festival. No telão, a sentença: JOY DIVISION FOREVER. Fui às lágrimas. Foi bem mais fácil encarar a maratona da volta – uma longa caminhada até a estação de trem para viajar em pé em vagões lotados – assim, de alma lavada.

Uma maratona insana que começou na noite anterior. Como só o Nine Inch Nails, praticamente, me interessava, cheguei tarde, depois de uma verdadeira via crucis para conseguir trocar meus ingressos comprados pela internet. Tudo era muito organizado e bem sinalizado, mas também muito, MUITO longe - e grande. Uma falha aqui e ali, passagens estreitas para o fluxo de pessoas que causavam aglomeração, mas nada de muito sério. Por conta das distâncias, principalmente, já cheguei acabado e fui logo aproveitando uma tenda montada para que as pessoas descansassem em frente ao palco em que Lorde cantava “Royal”.

pixies
O tempo vai passando e eu de repente me toco que não sabia exatamente quando nem onde o Nine Inch Nails iria tocar. Vou à loja de merchandising e peço pelo folheto com o roteiro dos shows, que eles não tinham. Mas uma moça simpática tinha e me mostra que já estava na hora do show. Onde? No palco ônix, lá atrás, depois da roda gigante. “QUE RODA GIGANTE????!!!”. “Pois é, daqui não dá nem pra ver a roda gigante, mas se você for por ali – e me mostra uma passarela interminável lotada de gente – depois da curva você vê, lá longe. É lá.”

PÂNICO! Disparei pelo local indicado até ver, finalmente, a tal roda gigante – que ficava MUITO longe. E, no caminho, havia um tumulto, muita gente indo e vindo, tava tudo parado, com os monitores desesperados tentando organizar a circulação das pessoas. Eu não estava só: um carioca e dois pernambucanos, desconhecidos, me acompanharam na tarefa de vencer a multidão e a enorme distancia até finalmente ouvir, ao longe, “March of the pigs”, uma de minhas favoritas. Chegamos, finalmente, a tempo de ver, ainda, cerca de 45 minutos de show. Bom, pesado e com uma iluminação criativa, apesar de um tanto quanto anticlimático no meio, com algumas canções hipnóticas e experimentais não muito apropriadas para um festival. Os fãs ficaram em transe, o resto foi se posicionar para ver o Muse. Ao final, no bis, uma emocionante interpretação de “Hurt”, uma das melhores músicas “pop” (ênfase nas aspas) já feitas. Um daqueles momentos que fazem você perceber que valeu a pena o sacrifício – e olha que o saldo daquela noite, numa análise fria, foi pra lá de negativo: tanto esforço pra ver tão pouco tempo de uma banda que eu já tinha visto ao vivo antes, no Claro que é rock de 2005! Bom, pelo menos eu já sabia me localizar e tratei de me preparar melhor para a noite seguinte. Aproveitei o resto do sábado para explorar as atrações paralelas, como uma simpática loja de discos de vinil montada num espaço da Skol onde encontrei algumas pérolas: além dos discos das bandas que se apresentariam no festival haviam bolachas do Fugazi, Bikini Kill, Eddie – “original Olinda Style” – e até um raro exemplar da coletânea “Cult” “Another kind of noise”. Só biscoito fino, tudo estalando de novo, lacrado – menos a coletânea, que saiu nos anos 1990 e, que eu saiba, nunca foi relançada.

Johnny Marr
No domingo cheguei cedo porque queria ver Johnny Marr. Mas não tão cedo ao ponto de não pegar o show começado: era no distante palco ônix, também. Frustrado, já começava a considerar aquele um verdadeiro “festival de coitos interrompidos”, mas tratei de relaxar e curtir a apresentação. Que foi muito boa, mesmo acontecendo sob um sol escaldante. E surpreendente: num dado momento ele chama ao palco ninguém menos que Andy Rourke, o baixista dos Smiths, e juntos eles tocam “How Soon is now”. Lágrimas. E mais lágrimas na sequencia, com “There´s a light that never goes out” cantada a plenos pulmões pela platéia emocionada. Além dessas, dos Smiths, ele tocou também "Bigmouth Strikes again" e “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before”, num set recheado de boas canções extaídas do primeiro álbum solo, recém-lançado.

De lá fui para o primeiro palco, “Interlagos”, para ver o Savages. No caminho, uma inglesinha bonitinha mas ordinária da qual eu nunca tinha ouvido falar cantava umas musiquinhas pop sem vergonha no gigantesco palco “Skol”. Cheguei exausto, claro – as distancias eram inacreditáveis, não se contavam em metros não, é coisa de quilômetros rodados mesmo – então vi a  primeira parte do show de longe, da tenda “relax”. Savages é uma banda inglesa relativamente nova, formada só por mulheres, que faz um som bastante derivativo do chamado “post punk” dos anos 80, com forte influencia de Siouxsie and the Banshees, especialmente nos vocais – o que está muito longe de ser um demérito, muito pelo contrário. Muito bom show. Já mais descansado, me aproximei e cheguei quase à beira do palco, pois a área estava semivazia – para os padrões de um grande festival, que fique claro. E pude, finalmente, ver um show do Lollapalooza completo e, pelo menos em parte, de perto, quase sentindo o suor da vocalista – estilosíssima, toda de preto com um sapato de salto alto vermelho.  

Johnny Marr
E então rumo ao palco maior, “Skol”, para esperar pelos Pixies. Já cansado de novo – ah, meus vinte e poucos anos e vários quilinhos a menos que não voltam mais – por isso vi de longe. Mas foi um show foda, muito bom. Entraram todos juntos, saudaram a platéia e sentaram o pau numa saraivada de canções pop ácidas e barulhentas, já tão conhecidas que nem soam mais tão deliciosamente estranhas como quando ouvi pela primeira vez, em vinil, na extinta loja “akydiscos” – a primeira vez que seus ouvidos tomam contato com “Debaser” você nunca esquece.

Assim como no New order, faltava alguém no comando das 4 cordas, mas a baixista que cumpria a ingrata tarefa de substituir Kim Deal, a  argentina - criada nos Estados Unidos - Paz Lenchantin, se saiu muito bem. Não falou nada, e poderia ter se comunicado bem, já que é fluente no espanhol, mas exibiu o tempo inteiro um belo sorriso, o que era, também, uma das marcas da musa. Era não, é: Kim seguem em frente, preparando uma carreira solo.

New Order
Comunicação zero com a platéia – sério, nem uma palavra. A não ser pelo que realmente importa: a música. Algumas novas, e boas, inclusive. Comunicação não é exatamente o forte dos Pixies, como pode ser comprovado no documentário "loudQUIETloud", e é provavelmente isso que dá às suas apresentações um clima estranho, meio distante, que só não é "frio" porque a entrega na execução das canções é palpável, visível e audível, especialmente quando Frank Black - ou seria Black Francis? - se esgoela no microfone.

5 minutos para o Soudgarden e me parece que vacilaram, pois tinha mais gente para ver Cornell e Cia. que os pixies, num palco menor e distante. Desisti: ia pegar começado mesmo e jamais conseguiria chegar perto do palco, a julgar pela multidão inacreditável se dirigia ao “Ônix”. Fiz mais um pit stop estratégico em outra tenda “relax” e aproveitei pra comer um sanduíche ruim e caro, claro. Não fosse assim, não seria um “mega” festival. Só então fui lá, ver uma das bandas mais aguardadas de todo o evento - primeira vez deles no Brasil! Vi, mas de longe, de MUITO longe. De cima de uma das várias colinas que circundavam o palco ônix. Até que o visual era bonito, parecia Woodstock. Mas o som, dali, estava sofrível. No entanto, não tinha jeito: era muita gente e muito cansaço, de minha parte. Foi aí que tomei a decisão de repensar a estratégia final, bem sucedida, como vocês puderam ver no início deste relato.

pixies
Saldo pra lá de positivo, apesar dos  pesares. Cheguei no hotel em que estava hospedado, no centro de São Paulo, destruído. Mas feliz. Que venha a próxima edição.

Ou não. Nâo sei se tenho pique pra outra não ...

A

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