segunda-feira, 5 de julho de 2010

# 151 - 02/07/2010

O programa de rock da última sexta foi aberto por uma música instrumental do Mastodon, uma das mais conceituadas bandas de metal contemporâneo, que faz parte da trilha sonora do filme "Jonah Hex", baseado nas aventuras de um "Anti-herói" dos quadrinhos, pouco conhecido do grande público porém cultuado por uma legião de fãs (nos quais me incluo). A princípio fiquei bastane surpreso ao saber que Hex seria adaptado para o cinema, justamente por ser um personagem mais "cult" da megaeditora norte-americana, mas botei fé quando vi o treiler, parece ser um filme no mínimo decente, e se não for, pelo menos poderemos nos deliciar com a presença sempre estonteante da deusa Megan Fox. Infelizmente a estréia nos Estados Unidos foi considerada péssima em termos de bilheteria, o que indica que deve sair no Brasil direto para o mercado de vídeo/DVD. Fico na torcida de que a fita tenha melhor sorte por aqui, gostaria muito de ver um de meus personagens favoritos da DC na tela grande. Dando sequencia ao programa, destaque para nossos vizinhos baianos, sempre com uma cena muito rica, apesar de pouco conhecida. Tivemos Nancy Viegas em dois momentos, com os Grazzers e com o Crac, mais Tara Code, duo trip-hop que anda meio sumido mas chamou a atenção da cena no meio da primeira década dos anos 2000, e Messias, um dos "favoritos da casa", com mais uma música retirada de seu sensacional primeiro disco solo. Continuamos no Brasil porém voltando às origens, tocando bandas brasileiras obscuras dos anos 50/60, para em seguir resgatar mais preciosidades, só que desta vez na seara do hard-rock internacional - bandas filipinas, argentinas, alemãs e inglesas, cortesia do nosso amigo e ouvinte Idalício. Visitamos a new wave com Gang of four, Magazine e PIL para em seguida cair na pancadaria desenfreada com o maior clássicos dos mestres do thrash metal, "Reign in blood", do Slayer, tocado na íntegra.

Espero que tenham gostado. Mantenham contato, por favor.

See you later.

A.

Mastodon – Clayton Boys (Alternate version)

Nancyta e os grazzers – Esse coqueiro
Crac – pesadelo (patife band cover)
Tara Code – amanhã nem sei
Messias – Avenida Contorno

O Seis – suicida
Os Aranhas – Gloria
Os Santos – três garotas
Os Baobas – Bye Bye my Darling
Analfabitles – shake

Juan De La Cruz – I wanna say yeah
Pappos Blues – Caras em El parque
Killing Floor – Out of Uranus
Jeronimo – Ice Dream
(produzido por Idalício)

Gang of Four – I Love a man in uniform
Magazine – A song from under the floorboards
PIL – This is not a Love song

Discoteca Básica: Slayer – “Reign in Blood”

• Postmorten
• Raining Blood

• Angel of Death
• Piece by piece
• Necrophobic
• Altar of sacrifice
• Jesus Saves
• Criminally Insane
• Reborn
• Epidemic

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Se o seriado Profissão Perigo tivesse estreado em épocas atuais, Nancy Viegas seria uma grande ameaça para o protagonista McGyver. Assim como o personagem que marcou os anos 80, Nancyta (como também é conhecida) é de mil e uma utilidades: é cantora, educadora, produtora, pesquisadora, compositora, mãe, estilista e o que mais for possível, desde, é claro, que envolva música.

Seguidora dos ensinamentos do mestre Walter Smetak, Nancy consegue tirar sons dos mais variados e estranhos objetos que são chamados de “cretinos”. Com mais essa arma na mão, cria diversas sonoridades com o que chamam de microtons e tem com resultado uma música bastante criativa que funde o rústico com o rock e MPB.

A artista paulista radicada em Salvador produziu todos os discos da banda instrumental Retrofoguetes e faz parte da banda da gravadora Plataforma de Lançamento, a Radiola, que recentemente se apresentou na Espanha.

Por conta desse monte de recursos, Nancyta é uma artista ímpar e que merece se observada (e ouvida) com muita atenção, uma boa oportunidade é conferir o clipe de “O beijo amargo” e o disco do projeto "Sessões de Açúcar". Coisa fina.



O rock sempre foi uma música de contestação e você não foge da fórmula. O que mais te aborrece e costuma colocar em suas letras?

O rock atual me parece tão conservador pra ser um modelo de contestação... Pra escrever, normalmente eu parto de uma ideia melódica e um tema, a letra vem pintando, me inspiro basicamente na cidade que vivo e por onde ando. A ênfase é que depende de cada projeto e cada proposta. Crac! era urbana e irônica, os Grazzers falavam loucuras, tem muita coisa ali que o Tiago Aziz [multi-instrumentista, compositor e baixista das bandas Cascadura e Magallanes Muertos] escreveu, já o Mezzodelirante é um disco mais profundo. Se existe um elo nisso tudo é Salvador.... Sobre aborrecimentos, existem várias coisas que nos fazem aborrecidos, eu, você, todo mundo, mas de que adianta ficar reclamando? Li uma vez num livro que a crise deve se transformar em impulso criativo e eu acho que isso não deve se aplicar apenas na arte. No momento estou me inspirando na vida simples e em imagens, do caos urbano à poesia das ondas do mar e as cores do céu.


RP - Você participou da co-produção dos discos dos Retrofoguetes. Já se sente um membro da banda?

Retrofoguetes é uma banda que tem referências e músicos incríveis. Eu e andré t [com quem divide a produção] vimos a banda nascer, trabalhamos na produção dos discos, nos divertimos com eles. No estúdio foi como uma equipe e sempre discutimos juntos timbragens, dinâmicas, execução, soluções, tudo! Era engraçado, às vezes a gente dizia que já tava tudo pronto ali e eles não acreditavam. Mas como eu poderia ser membro de um trio instrumental? Eu sou uma cantora!

RP - Os membros do Retrofoguetes já disseram que você é muito chata quando está produzindo. Isso é verdade?

Esses rapazes dos Retrofoguetes já deviam ter parado de dizer insanidades para pessoas que têm câmeras e microfones nas mãos, nisso eles são muito chatos! Acho que eles quiseram dizer que sou criteriosa, cuidadosa... Alguém tem que fazer esse papel, né?

RP - O que podemos ver de Nancy Viegas nos discos em que produz para outras bandas? Qual é a característica sua que faz questão de colocar em suas produções?

Sou bem intuitiva e procuro entender o conceito do trabalho, buscando as referencias ou mesmo fugindo delas. Cada caso é um caso, mas dedicação é imprescindível e também bom senso. Eu gosto de trabalhar com pessoas diferentes, e de trocar idéia com músicos, produtores e tambem de ouvir discos clássicos, temos muito a aprender com eles...

RP - Uma de suas inúmeras atuações é a de arte educadora. Fale um pouco desse trabalho e como é possível aliar esses dois campos.

Comecei a dar aulas em 1998 para adolescentes, fui professora da Pracatum, Escola Profissionalizante de Músicos de Rua, quando ainda era lá no Candeal. Desenvolvi e apliquei projetos de iniciação musical pra alunos da educação infantil e ensino fundamental em várias escolas particulares e públicas, na periferia, no Circo Picolino e também ONGs. Hoje meu trabalho se concentra em aulas de técnica vocal, preparação e direção de voz em estúdio em parceria com produtores e isso não se distancia do trabalho de produção. Já tive aluno de tudo o que é estilo, de anarco punk e death metal a forró calcinhapreta e tive o privilégio de ser professora de Ramiro Mussotto [percussionista, programador de bases eletrônicas e produziu artistas como Zeca Baleiro, Lucas Santtana e a banda Scambo e gravou e tocou com Paralamas, Martinho da Vila, Lulu Santos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Marisa Monte, Jorge Drexler, entre outros. Musotto morreu precocemente neste ano].

RP - Um tempo atrás, mulher em banda de rock era algo muito difícil de se achar. Hoje isso já é mais comum. Como você analisa esse crescimento das mulheres nesse meio?

Já na música popular as mulheres estão presentes em qualquer época, pode ver... Eu acho legal ver mulheres detonando no rock, que é um ambiente masculino mas, sinceramente, se eu gosto de PJ Harvey, Kim Gordon [Sonic Youth], Poison Ivy [The Cramps], Imani Coppola, Imelda May é porque tem personalidade, não seguem fórmulas e são fantásticas. Acho que é isso que importa e não se a música é feita por mulheres, homens, brancos, negros, maiorias ou minorias, entendeu?

RP - Nós, pais, nos esforçamos para oferecer o melhor para os nossos filhos, principalmente em questões musicais. Porém, eles sempre acham um caminho sonoro aquém do que queremos. Como foi (ou é) isso com você e sua filha?

Eu não tinha babá, então tinha que levá-la ao estúdio de gravação, levava colchão, brinquedos, lençóis...Em casa tinha mic com efeitos, baixo e a guitarra, amplis, sax, flautas e “cretinos” [instrumentos fora do convencional], só não tinha bateria. Rolava som na cozinha, sala, quarto... Muita coisa do disco dos Grazzers e também com os grupos de microtons rolaram assim. Lana tinha 4 anos quando resolveu “ter uma banda”, “Besouro São Juilius”, fazia as músicas e arranjos, dirigia e nós executávamos. O repertório era sensacional! Quando ela fez 5 anos, pediu um show na festinha da escola, que era onde eu dava aula. Tocamos pra crianças de 2 a 6 anos, ela na platéia (risos). Essa banda durou uns dois anos, mas só teve esse show. Nessa época ela adorava os Beastie Boys e era louca pelo Lenine, e como eu trabalhava com crianças, tinha um vasto material de musica infantil. Ela tem um bom conhecimento musical, mas sempre ouviu as coisas "da idade" e eu nunca interferi. Já teve fases engraçadas e agora já passou a pré-adolescência, o playlist é bem mais legal com Mutantes, Caetano e Nine Inch Nails e mesmo sem querer já está graduada em Faith no More e Tom Waits.

RP - Algo que é marca o seu trabalho é o visual, e no videoclipe de “O beijo amargo”, algo que chama muito a atenção é o figurino que você usa. Quem produz suas roupas e como você trabalha o visual?

No clipe a Carol Ribeiro, Lu Japa e Zezé Monteiro tiveram uma equipe de figurinista e maquiadoras que trabalharam em cima de uma direção de arte, e isso partiu de referências nas reuniões que tivemos. Gostei muito do resultado. No geral faço tudo eu mesma, escolha de figurinos, maquiagem, cabelo.

RP - Ouvindo as músicas de seus projetos, é possível perceber experimentalismo, que permitem você transitar por várias vertentes musicais. É fácil passear por esses vários universos? Em qual você se sente melhor?

É como cozinhar, você tem que conhecer os ingredientes, alguns são incríveis, mas juntos ficam terríveis e na música é a mesma coisa. Havia passado os anos anteriores estudando vozes femininas e estilos de épocas. Eu sentia falta de transitar em determinados ambientes musicais até que resolvi estar em projetos diferentes e então conheci a Radiola, que é a banda que me acompanha.

RP - Sua produção musical passa obrigatoriamente pela obra Walter Smetak. Fale um pouco desse mestre e de que forma ele aparece em sua música?

Smetak foi um suíço que veio pra Bahia na década de 50. Foi professor da Escola de Música, era um violoncelista virtuoso, tinha formação em lutheria [construção e invenção de instrumentos], e na década de 60 ele abandonou os instrumentos e a música tradicional pra se dedicar a um extenso trabalho de construção de instrumentos e na pesquisa dos microtons. Escreveu um monte de livros e construiu mais de 150 instrumentos e esse material não tem ainda um destino fixo. Infelizmente. Conheço a sua obra e tenho um contato intenso desde 91, mas acho que só consegui entender melhor há 3 anos, quando comecei a estudar teosofia e ler sobre a Eubiose [uma espécie de “ciência da vida”]. Sobre os “Cretinos”, são instrumentos de tubo PVC e canos. Andre Borges foi o primeiro que apareceu com um descendente de Smetak, o “Saxcretino”. Edbrass apareceu com sua “Corneta de Corpo” e então o Neio Mustafa recriou os “Boreus” e eu o “Cretino Privada”, que é um instrumento que eu uso até hoje. tivemos 2 grupos, o “Conjunto de Cretinos” e mais tarde o “Broco de Microtons” com Tiago Aziz e Caveira, da Lisergia, no lugar de Neio. Toquei instrumentos de Smetak em diversos concertos em homenagem a ele e é incrível fazer esse tipo de música, trabalhar com o silêncio. Na música pop, no rock é ilimitado o que se pode fazer com isso. “Falar de música é uma bobagem, executá-la, uma loucura”, já dizia o velho Smetak.

RP - O disco que você lançou com seu projeto Crac!, o “móBRABA”, talvez seja o mais experimental e que contém mais referências de Smetak e Hermeto Paschoal, de sua carreira. Me parece que esse disco foi realizado por intermédio do Instituto Goethe, é isso? Fale um pouquinho sobre esse projeto que arrisco em dizer que é o mais interessante (pra não dizer o melhor!) que você já produziu...

Até hoje as pessoas comentam sobre o MóBRABA (escreve junto, mas lê separado). Ele foi resultado do Prêmio Copene de Cultura em 1997. Foi um disco corajoso até na escolha do volume de voz, e a ideia era essa mesmo, guitarras e timbres pirados, acordes de sax, vozes distorcidas e instrumentos de cano PVC fazendo papel de surdo no meio de loops de timbau ou como texturas entre um jazz e um hardcore atonal. Na época era tudo diferente, foi gravado em ADAT, mixado em DAT. Julio Moreno, André Borges e eu estavámos inspiradíssimos nessas sessões e André T também participou com os loops e samplers. Mas você se confundiu, o disco do Goethe é recente, chama "Sessões de Açúcar", saiu em dezembro. Foi um projeto que reuniu a dupla de produtores alemães Schneider TM, eu, Ronei Jorge, Cassio Nobre, DJ Gug e Eduardo Motta através de um edital da Funceb [Fundação Cultural do Estado da Bahia]. Passamos duas semanas compondo e gravando no estúdio Casa das Maquinas com Tadeu Mascarenhas e o material está muito bom.

RP - Você esteve recentemente com a Radiola na Espanha. Fale um pouco dessa banda e como foi essa experiência...

Sim, em setembro estivemos em Barcelona, tocamos no Parc de La Trinidad de La Vella num festival chamado Dia de Brasil e no Harlen Jazz, que é um clube de jazz. Também falamos sobre música independente brasileira em uma rádio e foi tudo registrado. Foi decente ver que lá tem espaço pra nosso trabalho autoral, os shows foram ótimos e a Secult/Funceb nos deu essa força nas passagens... Na volta tocamos no projeto Pelo de Vanguarda ao lado de Jards Macalé e Arrigo Barnabé e encerramos a primeira noite do Festival Big Bands. Esse ano realizamos o trio CARBIVALHA, trazendo a Pitty como convidada no circuito oficial do carnaval de Salvador. A [banda] Radiola faz música brasileira e rock num formato bem livre, temos influências e ideias em comum, falamos da mesma cidade, foi natural que nos aproximássemos nesse momento. Essa parceria tem nos dado um retorno muito legal, estamos contentes com isso e temos muitas ideias por dia, você nem imagina! Nos shows tá rolando músicas de todas as minhas fases, nas músicas deles faço vozes, cretinos, back vocal e eles fazem base e back pra mim, brincávamos com o nome Back Banda, inspirado nas bandas de base jamaicanas. Claro, já estamos compondo e registrando músicas novas, videos, ideias.

RP - Como pesquisadora e uma das figuras mais importantes do rock baiano, o que você tem observado de bacana aí em termos de bandas, compositores e produtores?

Vou citar o Ministério Público Sistema de Som Perambulante, Dão e a Caravana Black, Lucas Santanna, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, Russo Passapusso, Glauco Neves e a Orquestra Elegante, Cissa Guimarães [não é a moça do Vídeoshow e sim uma banda de hardcore], Dois em Um, Pessoas Invisiveis, a cantora Mariella Santiago, Retrofoguetes, Cascadura, Teclas Pretas e também uma grande movimentação de novas bandas. No ano passado participei de uma gravação do Tiago Aziz com produção de Apu Tude, tambem do disco de estréia da banda Irmãos das Bailarina, do disco da "Sua Mãe" (banda de Wagner Moura) ambos produzidos pelo andré t e de uma gravação recente da Carpe Beer, por Tadeu Mascarenhas. Morotó Slim, Julio Moreno, Beto Barreto (Baiana System) tem revivido a guitarra baiana. A Orkestra Rumpilezz é sensacional, sem comentários, e o que Ramiro Mussotto deixou é muito bonito. Tadeu me mostrou um material dos mestres de samba chula do Recôncavo Baiano, ele produziu dois lançamentos recentemente, é uma cultura musical incrível, presente em todo interior do estado da Bahia. Em termos de produtores, tenho sorte de trabalhar com profissionais e pessoas que admiro: Tadeu Mascarenhas, andré t, Jorge Solovera e Jera Cravo, a música produzida por aqui recentemente não seria a mesma sem esses caras.

RP - As revistas de fofoca continuam sendo mais legais que os intelectuais?

Acho que não sei brincar de twitter...

+ CLIQUE AQUI para baixar o disco Sessões de Açúcar.

Nancy Viégas

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Radiola

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CARNIVALHA
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Entrevista a Márcio Sno

Rock Press

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Paulo Barnabé, o Patife Band do rock brasileiro, é um sujeito inteligente, muito acima do normal e que gosta de falar muito sobre suas idéias, o grupo e do que pensa. Ao pedir uma entrevista a ele, não pensei que responderia tão rapidamente, ainda mais dando respostas longas e esclarecedoras. Uma urgência perceptível nas músicas do Patife e no rápido contato com ele, via e-mail. Assim sendo, só me restou editar essa entrevista igualmente de maneira rápida.

Pergunta: - Gostaria que falasse um pouco de seu background, já que é irmão de Arrigo. Vocês tiveram uma formação cultural em casa? Como se iniciou o interesse pela música?
Paulo Barnabé: - A formação que tivemos foi igual a de muitas outras familias de classe média da época (década de 60), que era colocarem seus filhos em conservatórios musicais da cidade. Então, estudei piano e teoria músical no Conservatório Municipal de Londrina, mas por pouco tempo, uns três anos e parei. Aí fui estudar violão com professor particular, etc. Depois me interessei por percussão e misturei tudo com o tempo. Quando vim pra São Paulo ainda não tinha um processo de composição e me dedicava mais aos instrumentos, mas nunca fui um bom instrumentista. Eu já fuçava muito a parte em que toca a criação: músical, roteiros de cinema, poesia, contos etc.
Só mais tarde - meados da década de 80 - após ter participado do primeiro disco do Arrigo é que começei a me preparar pra um trabalho própio.

Pergunta: - O Patife Band foi um dos mais interessantes grupos dos anos 80. Como você começou a banda?
Paulo Barnabé: - Eu tinha algumas músicas e frases músicais ou partes de outras músicas minhas e com parceria com o Arrigo. Comecei a trabalhar essas partes e desenvolver as letras. Eu já havia participado como letrista e compositor em 2 músicas do trabalho do Arrigo, "Acapulco Drive'In" e "Neide Manicure" e gostava muito de escrever letras. A primeira que saiu foi "Tô Tenso", que é meio história em quadrinhos; depois veio "Pesadelo", que era um texto que fazia parte de uma ópera que íamos montar no começo da década de 80 e se chamava João Bobo e as Bonecas Infláveis.
A próxima foi "Pregador Maldito", que também fazia parte dessa ópera tanto que o nome é de um personagem da ópera e não tem muito sentido se você for pensar esse nome só dentro do contexto da letra (ou até pode ter, depende da interpretação).
Tive uma idéia na época, através de minhas andanças com os punks de periferia (nada a ver com a música do Gilberto Gil, he he), de musicar o "Noite Feliz" colocando dentro desse contexto e fui montando o repertório do primeiro EP, intitulado Patife Band.
Já com tudo na mão, comecei a trabalhar os temas com os músicos e gravamos em 85. Esse foi o primeiro registro de meu trabalho.

Pergunta: - Vocês conseguiram fazer uma mistura de música dodecafônica com punk, pós-punk, além de outros ritmos. A música de vocês é nervosa, seus vocais eram quase espasmódicos. Um dos nomes que me vem a mente em alguns elementos é o grupo norte-americano Pere Ubu. Como você definiria a Patife?
Paulo Barnabé: - Patife é meu alter-ego, é a minha visão músical, minhas frustrações físicas emocionais e também a do próximo, do outrém, daqueles que perambulam, tropeçam, se enganam caem no ridículo pisam na merda...
é uma maneira de fazer som muito particular. Eu não conheço especificamente nomes de grupos da época; o que eu fiz foi me inspirar também entre as outras sonoridades que fui infuenciado com o que estava rolando de mais radical que era o punk. A minha música já era agressiva e percussiva e o contato com o punk ajudou um pouco a definir tudo o que rolava na minha cabeça.

Pergunta: - Várias bandas contemporâneas foram influenciadas por vocês. Penso que os Titãs copiaram muito o estilo de vocês, concorda com isso?
Paulo Barnabé: - Sim, acho que uma parte teve a ver. Pode ser, eu já havia gravado o primeiro EP e havia participado da trilha sonora do filme Cidade Oculta com o "Poema em Linha Reta" e novamente o "Pregador Maldito".


Pergunta: - Gosto muito do EP de vocês. Uma música particularmente interessante é Peiote e gosto muito da versão de "Noite Feliz". Foi um disco muito bem produzido sendo um lançamento independente. Fale um pouco das gravações.
Paulo Barnabé: - "Peiote" é um música composta em meados de 70, eu era bem novo e a música saiu quase inteira, de uma vez, não tive que trabalhar muito como sempre faço. Eu queria ter um espaço pra improvisação vocal lisérgica. Na época, era bem mais experimental que a gravação no disco, mas valeu. O disco foi gravado no estúdio que era do Rogério Duprat, muito bom, e os músicos também eram muito bons: André Fonseca na guitarra, James Müller bateria, Sidney Giovenazzi, que nesse participou de uma faixa ("Pregador Maldito") e convidados. Ainda não era uma banda fixa.


Pergunta: - Vocês trabalharam também no filme Cidade Oculta estrelado por seu irmão e Carla Carmuratti. Você tem alguma trilha-sonora que te marcou muito? Gosta de cinema?
Paulo Barnabé: - Como disse acima, há duas músicas na trilha, o "Pregador" e a novíssima - na época - "Poema em Linha Reta" feito em parceria com o Arrigo e arranjada por mim. Gosto de Nino Rota e outros que agora não me lembro, mas há alguns americanos mais na linha comercial como o que fez Guerra nas Estrela, Indiana Jones etc...


Pergunta: - Corredor Polonês é um belíssimo disco e bem avançado para a época. Como foi a repercussão dele? Por que o grupo não seguiu em frente?
Paulo Barnabé: - A repercussão foi melhor que a venda. O fato de ser gravado por uma multinacional impediu, creio eu, de se ter um tratamento mais específico para cada artista, fica tudo em cima do mercado, de vendas, não há direcionamento específicos, então ficamos meio entrincheirados dentro desse esquema na gravadora. Mas houve também um problema muito sério com um dos músicos e tive que mexer na formação logo após o lançamento no Rio de Janeiro, em 87, e continuamos até início de 90. Aí parei, porque estava precisando compôr novas músicas e também por não estarmos fazendo muito shows e voltei com outra formação em 2002, creio eu.

Pergunta: - Entre ele e o CD ao vivo foram mais de 15 anos. O que você fez nesse tempo?
Paulo Barnabé: - Fiquei um tempo (cinco anos) fazendo curadoria de um projeto Rock Contemporâneo, no Sesc Ipiranga, fiz alguns shows com meu irmão, participei de duas óperas compostas por ele, fizemos turnês, chegamos a ficar uma temporada em Buenos Aires e também temporadas no Rio aqui em São Paulo e turnês pelo interior de São Paulo. Fiz uma ou duas trilhas para longa-metragem e sempre compondo e arranjando repertório para o próximo trabalho.

Pergunta: -Assisti um show de vocês na década de 80 e me lembro que saí exausto só de ver você se mexer no palco. Os shows continuam fortes ou o tempo diminuiu a intensidade?
Paulo Barnabé: - Ah!Ah!... Só vendo agora... atualmente esou mais parado, tocando bateria e cantando, mas o fato de ficar parado não quer dizer nada, porque tocar bateria é muito exaustivo.

Pergunta: - Quais são seus cinco discos favoritos e seus cinco artistas? E o que você costuma ouvir atualmente?
Paulo Barnabé: - Estou ouvindo Gershiw, Rhapsody in blue e Um Americano em Paris e escuto a radio Cultura sempre que dá. Outro dia revi um dos discos tardios que fizeram minha cabeça, Clube da Esquina com todo esse pessoal de Minas Gerais e Milton Nascimento. De rock não estou escutando nada, por enquanto, estou bem desiludido desse gênero e acredito que o que faço não é rock e, sim, uma obra autoral contemporânea.

Pergunta: - Corredor Polonês foi relançado em CD em 2002, mas hoje é uma raridade de se achar. Há alguma chance de um novo relançamento dele? E do primeiro EP?
Paulo Barnabé: - Estive um dia com o Charles Gavin numa entrevista para o seu programa, no Canal Brasil, e ele me disse que essa possibilidade era quase nula. Não há interesse por enquanto, só se o meu próximo trabalho tiver uma repercussão bem grande poderá ser um motivo para um nova reedição.

Pergunta: - Quais são seus planos futuros? Escreveu novas canções? Há planos de um novo CD?
Paulo Barnabé: - Sim, tá tudo dito aí em cima... quero gravar sem preocupações... uma música por vez quando for dando e ir assim, até completar as 11 músicas prontas pra esse novo álbum. Acho que vai demorar um pouco, mas pretendo no meio do caminho lançar um single antes de terminar o álbum com uma ou duas músicas novas.

Pergunta: - O que pensa do mp3 e a da internet?
Paulo Barnabé: - Prefiro os CDs e prefiro mais os vinis, não domino bem internet, mas acho que é o meio revolucionário de divulgação e de escuta, consumo.

Pergunta: - Você se sente antenado com a cena rock atual do Brasil ou não? Sua afinidade é maior com os artistas da sua geração ou se sente próximo aos mais jovens?
Paulo Barnabé: - Nem com artistas de minha geração eu era antenado. Como disse, em algum momento tive contato com os punks: Inocentes, Ratos, Cólera, Olho Seco, Excomungados etc, por um período e o que acontecia no cenário na época eu não acompanhava, ou se acompanhava, era através da mídia. Não é uma atitude ególatra minha, é que realmente não havia semelhanças ou afinidades, o meu som era muito pessoal, não combinava com nada na época. Os caras que se aproximaram de mim, ou que eu também me aproximei, dentro do rock, foram os punks mais radicais.

Pergunta: - Deixe uma mensagem aos fãs, por favor. Obrigado pela chance.
Paulo Barnabé: - Fãs? Por favor, não virem fãs, virar fã é parasitar, he!he!
Grande abraço a todos!!!

Fonte: Mofo
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SLAYER - REIGN IN BLOOD (1986) - Embaixadores do demo

Fonte – CD-ROM Revista Bizz 20 Anos

Seja bem-vindo ao mundo dos pesadelos patrocinados pelo quarteto californiano Slayer, povoado por anjos da morte, assassinos sádicos, sacrifícios e chuvas de sangue. Os temas, hoje banalizados e esgotados, causaram furor na época em que todos queriam levar o heavy metal ao extremo no binômio velocidade/agressividade.

Reign In Blood, lançado em 1986, traz o Slayer na sua melhor forma com os diabólicos guitarristas Kerry King e Jeff Hanneman, o chileno Tom Araya no baixo e vocal e o tremendo baterista cubano Dave Lombardo (hoje no grupo thrash Grip Inc. e no Fantômas, do ex-cantor do Faith No More Mike Patton), impecável na técnica e rapidez. Lombardo comentou certa vez sobre a predileção de todos por hardcore - não o de Green Day ou Rancid, que receberam essa nomenclatura recentemente, mas o punk rock seco e cru dos anos 70 e 80, de gente como o Circle Jerks e o GBH - o que foi confirmado anos depois com o álbum de covers Undisputed Attitude, de 1996, um protesto contra o mau uso do nome. Em Reign In Blood a veia core se misturou ao sangue sujo de speed metal e deu no que deu: um disco de raro impacto nos ouvidos, que fez com que outras bandas à época consideradas ferozes soassem inofensivas como o Abba. Fora a maldade natural dos integrantes, outro fator que contribuiu para tamanho peso foi a produção do barbudão Rick Rubin, o descobridor do Slayer. Rick manteve toda a sujeira e ainda conseguiu dar definição a todos os instrumentos, coisa rara no gênero.

"Angel Of Death" (com alusões ao infame carrasco nazista Joseph Mengele) e "Raining Blood" garantem uma fratura exposta na cervical de tanto sacudir a cabeça.

"Necrophobic", "Jesus Saves" e "Crimi-nally Insane" consagram o estilo slayeriano que causou tanto estrago. As letras gritadas por Araya são típicas de adolescentes que querem chocar os avós e, ouvidas hoje em dia, podem parecer meio bobas. Mas isso não importa. O Slayer é um dos poucos que, até hoje, se mantêm irredutíveis na maneira de sonorizar o apocalipse, mandando às favas toda e qualquer concessão musical. Reign In Blood prestou um serviço ao rock pesado ampliando seus limites até a periferia do inferno.

Frase - "Em Reign In Blood o guitarrista Kerry King introduz um novo conceito de solo, mais livre, improvisado, que me inspirou muito para ter confiança em meus próprios solos" - Digão, guitarrista dos Raimundos

Ficha técnica

Ano de lançamento: 1986
Produção: Rick Rubin

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SLAYER SOBRE O METALLICA - Kerry: "Eu admirava o Metallica e não quero vê-los indo pra uma porra de uma terapia. Quer dizer, resolvam isso dentro da banda, cara".
Dave: "É, isso é coisa pessoal. Tem coisa que você não deveria ficar mostrando pra todo mundo".
Kerry: "Não vou assistir aquele filme ['Metallica: Some Kind of Monster'] porque não é essa a impressão que eu quero ter deles. Eu quero lembrar de 'Battery' e 'Damage Inc.' e 'Ride the Lightning'. Não quero ver esses porras desses velhotes 'frágeis' que não podem tomar mais seu coquetel porque tem medo do que podem se tornar. Que se foda isso!"

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Tim Henderson, do BW&BK, recentemente teve uma conversa com Tom Araya, vocalista da banda secular Slayer, sobre diversos assuntos, incluindo sua espiritualidade.
BW&BK: Você é o mais espiritual da banda?
Araya: "Eu acho que eu sou o único que se aproxima disso".
BW&BK: O que faz você levar a vida dessa maneira? Cultura chilena, pais, seu passado?
Araya: "Meus pais, eles me fizeram católico, então eu cresci com a religião em minha vida. Eu penso que este é o motivo. Isso realmente me fez uma pessoa melhor. Eu tento ensinar meus filhos para que acreditem ou não. Acreditar e ter fé - fé cega. Jeff (Hanneman - guitarrista) me perguntou uma vez, 'Você pode explicar isso? Como você você acredita em alguma coisa que você não pode ver?' Eu olhei para ele e disse 'apenas faça.' Você tem que acreditar. Você simplesmente acredita. Eu não sei como isso foi inserido em mim. Porque ninguém me disse isso. É como eu sou e como me sinto. É o que eu acredito. Alguém me ensinou a acreditar - eu aprendi de alguma maneira. Mas meus pais nunca me disseram para acreditar em Deus. Eles nunca disseram 'você tem que acreditar em Deus', somente queriam me ensinar sobre Deus, sobre Cristo e todas essas coisas. Eu estou tentando ensinar isso a eles (meus filhos), porque para mim, tem ajudado muito em minha vida. Me deixado fazer o que eu quero. Ser bem sucedido no que eu faço. Fé cega".

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ARTISTdirect: Você nunca se intimidou em atacar a religião organizada em suas músicas - diretamente e sem desculpas - e a coisa foi ainda mais forte em "Christ Illusion". Mas freqüentemente isso parece uma louvação a Satanás, o que parece um pouco estranho.

Kerry: Na verdade, em 'Cult' ["Beware the cult of purity / Infectious imbecility / I've made my choice / 666" - "Cuidado com o culto da pureza / Imbecilidade infectante / eu fiz minha escolha / 666"] o verso "666" era pra ser "Atheist" (Ateu) para mostrar o que eu realmente sinto. Mas não resultaria em uma boa música. Garotos adoram gritar "666" [risos].

ARTISTdirect: O SLAYER viajou por todo o planeta e conheceu fãs através do mundo. O que faz a América mais suscetível à religião organizada?

Kerry: Poder. Não há pensamento livre; em qualquer outro lugar no mundo as pessoas têm suas próprias opiniões. Há religião em todo lugar, mas você vai a qualquer lugar no mundo e as pessoas dizem "Vocês americanos são realmente controlados pela sua religião”. Hey, eu não! [risadas] Eu estou tentando deixar isso claro.

ARTISTdirect: E a América é tão vasta que é fácil ver um grupo e perder visão de quão extremamente diferentes outros grupos podem ser. Los Angeles, por exemplo, é provavelmente uma cidade menos religiosa que Topeka.

Kerry: Sim, mas logo que você chega a 60-75 milhas fora de L.A., como onde eu vivo, é como se estivesse num mini-cinturão da Bíblia. Todos têm seus adesivos "Not of This World" e "Jesus Freak" (N.T.: Ambos são grupos cristãos americanos). De onde essas pessoas vêm? Isso é de certo modo de onde "Cult" veio, de observar tudo isso. Quando você chega ao limite e diz "Eu sou um Satanista e eu vou pintar 666 em minha janela ou 'Satan Freak' em minha janela”, um punhado de cristãos vai riscar seu carro e rasgar seus adesivos. Isso mostra o quão obcecados eles são. Isso é o que me incomoda. Mas eu não posso arrancar os adesivos deles por causa da vizinhança - eles acabariam comigo

ARTISTdirect: Você escreve músicas em reação a coisas que você vê e experimenta?

Kerry: O que eu faço é, se eu vejo uma frase religiosa, se eu a puder inverter, eu a usarei. Isso é bem como eu consegui a letra de "God Hates Us All" (Deus odeia todos nós). Eu vi um outdoor enquanto dirigia, dizia algo como "Lembre-se, Deus ama todos nós”. Eu disse, "Não, ele não ama. Ele me odeia pra caralho. Eu estou preso no trânsito”. Instantaneamente virou "Deus odeia todos nós" e eu guardei a frase até que eu tivesse onde usá-la.

ARTISTdirect: Então as sessões de composição vêm depois?

Kerry: Sim, e nós normalmente fazemos a música primeiro. Eu diria que em 95% das vezes as músicas são feitas antes de nós ainda considerarmos escrever letras para elas. Então eu me trancarei em um quarto e pensarei em brutalidade até chegar onde eu preciso estar. Quando eu conseguir o título ou o verso que me dê o incentivo para ir a alguma direção, então eu partirei daí.

ARTISTdirect: A música pesada oferece um tipo de exorcismo ou algo parecido?

Kerry: Bem, eu sou apenas um cara normal - a única coisa que me separa dos garotos que me assistem é que eu achei três caras que gostavam da mesma coisa que eu gostava musicalmente e nós nos tornamos melhores juntos. Eu ainda vou aos shows quando eu estou em casa. Eu vou ao House of Blues - eu provavelmente poderia apenas entrar e não estar na lista de convidados, como "Ei caras, estou de volta” [risadas].

ARTISTdirect: Há alguém que ainda faria você voltar à juventude e ser apenas um fã?

Kerry: Sim, até recentemente. Nós estávamos na Holanda fazendo um festival e o HEAVEN AND HELL estava lá conosco - eles estavam na nossa frente, na verdade, o que me deixou louco. Tony Iommi - eu não conseguia falar com o cara. Dessa vez, eu estou no vestiário sozinho e ele bate em minha porta e eu me sinto como "Tony, não bata na merda de minha porta - entre sem bater!" Eu entendo a coisa do respeito, mas, ei, você pode fazer o que quiser!

ARTISTdirect: Os fãs do SLAYER são muito leais e depois de todos esses anos e álbuns e turnês e filmagens dos bastidores, alguns deles chegam a se identificar com vocês em um nível muito pessoal. Quanto da imagem que eles vêem é real?

Kerry: Eu tenho certeza que há um punhado de bosta, mas há também acesso a muita informação. No meio disso tudo, há algo que é pura bobagem e totalmente falso - mas você lê noventa por cento disso e é "Como diabos eles sabem disso?" É lisonjeiro - e perturbador - quando você conhece o tipo de cara que é obcecado por você. Mas eles estão em contato com o que eles gostam; eu não tive acesso a isso quando era garoto. Eu tinha de achar revistas que eram poucas e raras e ir a shows e ver por mim mesmo.

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A Revista semanal inglesa KERRANG!, em sua edição 1237, de novembro passado, intermediou perguntas entre os fãs e leitores da revista com TOM ARAYA e KERRY KING, baixista/ vocalista e guitarrista, respectivamente, do Slayer. Os fãs tiveram liberdade total para elaborar o conteúdo das perguntas, e as questões foram escolhidas via sorteio. O que segue é a tradução da matéria na íntegra.
Há algo estranhamente normal nos dois homens presentemente ocupando um quarto dentro de um dos hotéis mais badalados do lado Oeste de Londres. Em apenas algumas horas, estes mesmo indivíduos irão apresentar-se num palco do Hammersmith Apollo em frente de 4 mil pessoas, mandando canções sobre tudo desde os perigos da guerra até as escuras entranhas da religião. Mas agora, enquanto eles bebem chá e assistem enormes telas de televisão adornando as paredes, esses dois homens de meia-idade quase que poderiam ser qualquer pessoa no mundo.
“Isso não é muito Metal, né?”, ri o frontman do Slayer Tom Araya, sentado sozinho num sofá próximo enquanto o guitarrista Kerry King gasta o piso. “Eu vou tentar parecer um pouco mais assustador na entrevista. Eu não iria querer que as pessoas pensassem que não há absolutamente nenhuma chance de eu assassina-las!”
Por um quarto de século, a dupla liderou uma das bandas de Metal mais controversas e amadas do mundo. Mas enquanto eles têm encarado e superado desafios que iriam descarrilar muitas bandas – de inúmeros protestos contra shows até o banimento do último disco “Christ Illusion” na Índia – hoje eles estão prontos para enfrentar sua tarefa mais difícil até hoje: responder questões de vocês.
“Eu aposto que há muitas questões sobre a merda que eu me envolvi ao longo dos anos, certo?” pergunta King com um sorriso cínico. “Pra ser honesto, eu ficaria meio que desapontado se não houvesse.”
Só há uma maneira de saber, cavalheiro...
QUANDO VOCÊS COMEÇARAM, VOCÊS POR ALGUMA VEZ PENSARAM QUE APÓS TANTOS ANOS VOCÊS TERIAM SE TORNADO UMA DAS BANDAS MAIS ADORADAS DO MUNDO?
Kerry King: “Não exatamente. No começo a gente só queria passar de show em show, de disco pra disco e de turnê pra turnê. A gente tem lançado discos por 25 anos já, mas eu ainda não nos considero nem próximos do patamar de bandas com o BLACK SABBATH, Iron Maiden ou JUDAS PRIEST”.
Tom Araya: “Eu nunca nem achei que a gente chegaria a 25 anos. Tudo que eu sempre sonhei era lançar um compacto!”
O KERRY PLANEJA PARAR DE SE TATUAR UM DIA?
Kerry: “Ainda tenho muito espaço! Na verdade eu tenho minha própria cadeira de tatuagem em minha casa, então quando tatuadores amigos meus vão lá eu tento pensar em algo que eu gostaria que eles fizessem. Eu já estou planejando minha próxima, que vai ser o Anjo da Morte do filme Hellboy 2.”
KERRY, QUAL FOI A DA SUA TRETA COM ROB FLYNN (MACHINE HEAD)?
Kerry: “A gente caiu numa guerra verbal, e eu não sou de pedir arrego. Eu não sei o que eu disse pra ele se irritar, porque eu sempre considerei o MACHINE HEAD muito bem. A gente levou eles na primeira porra de turnê deles, pelo amor de Deus! Tá tudo bem agora, entretanto. Tão logo possamos alinhar nossas programações, tenho certeza que excursionaremos juntos de novo”.
TOM, DIZEM QUE VOCÊ É MEIO CHEGADO NUMA ERVA. VOCÊ FUMA TANTO QUANTO O KERRY BEBE?
Tom: “De jeito nenhum! Kerry bebe muito então se eu quisesse acompanhar ele no fumo eu não estaria fazendo essa entrevista agora, eu estaria dormindo em algum canto perdendo tudo quanto é compromisso que eu tenho!”
É VERDADE QUE DEPOIS DO PRÓXIMO DISCO O Slayer VAI PENDURAR AS CHUTEIRAS?
Kerry: "Acho que não. Muitas pessoas podem presumir isso porque a gente não fez muita coisa no último ano, mas desde que começamos a nos apresentar de novo, eu tô curtindo muito. Estamos planejando lançar um disco em 2009, e eu posso facilmente nos ver lançando um ou dois depois disso”.
Tom: “Nós sempre fomos uma banda que vive dia após dia, e eu acho que vamos continuar até que alguém diga que eles não curtem mais isso”.
EU SOU UM FÃ DO DVD AO VIVO ONDE LITERALMENTE CHOVE SANGUE DURANTE O BIS. QUAL O GOSTO DE SANGUE FALSO?
Kerry: “Xarope de milho! È basicamente isso. Sinto muito, mas não é lá grande coisa!”
Tom: “A parte triste é que mesmo que quiséssemos fazer isso de novo, nós não conseguiríamos. Nosso antigo lugar de ensaio foi arrombado alguns anos atrás e eles roubaram tudo, inclusive o mecanismo de chuva”.
SE VOCÊ PUDESSE SER DEUS POR UM DIA, O QUE VOCÊ FARIA PARA TORNAR O MUNDO UM LUGAR MELHOR (...OU PIOR)?
Tom: “Eu mijaria em tudo! Eu acho que isso realmente tornaria o lugar melhor”.
Kerry: “Essa é uma pergunta difícil de responder porque eu não acredito em Deus! Uma vez que eu não existo seria muito difícil que as pessoas ouvissem o que eu tenho a dizer”.
TOM TEM SIDO VISTO VESTINDO UMA CAMISETA DO BOB ESPONJA. QUAL È SEU PERSONAGEM DE DESENHO ANIMADO FAVORITO DE TODOS OS TEMPOS?
Tom: “Eu teria que dizer que o Tom & Jerry original. Qualquer coisa até os anos 60 é muito legal. A maioria das coisas depois disso é pura merda!”
A TRETA DO KERRY COM O DAVE LOMBARDO É UNIVERSALMENTE CONHECIDA ENTRE OS FÃS. COM AS IDAS E VINDAS DE PAUL BOSTAPH, O QUE ACONTECEU PARA FAZER DAVE LOMBARDO VOLTAR AO TRONO?
Kerry: “Isso na verdade foi idéia do nosso guitarrista Jeff Hanneman. O Paul me ligou e disse que ele ia sair de novo, o que eu ainda não entendo, e de cara o Jeff disse que a gente tinha que ligar pro Lombardo. Ele sentiu que o Dave era a única pessoa que poderia dar conta do recado. Então a gente ligou pra ele, fez uma penca de shows com ele e todo mundo decidiu que seria melhor que ele ficasse de vez. Eu não acho que ninguém pode argumentar que não foi a melhor coisa que poderíamos ter feito, sejam os membros da banda, sejam os fãs".
SE VOCÊ DESCOBRISSE QUE TINHA APENAS MAIS UM DIA DE VIDA, COMO VOCÊ O PASSARIA?
Kerry: “Comendo minha mulher e bebendo um monte, provavelmente!”
Tom: “Eu o passaria com minha família. Eu sei que não é muito Metal, mas é a honesta verdade.”
SE VOCÊS FOSSEM CHAMADOS PRA FAZER UMA TURNÊ MUNDIAL COM O Metallica, ANTHRAX E MEGADETH COMO PARTE DE UMA TURNÊ DE NOSTALGIA DOS QUATRO GRANDES DO THRASH METAL, VOCÊS FARIAM?
Kerry: “A gente teria que estabelecer algumas coisas, mas pra ser honesto eu não acho que o Metallica entraria nessa. Eles não precisam de bandas como nós. Eles precisam de bandas pelas quais não precisam pagar muito dinheiro. Eles estão acostumados a ficar com todo o lucro sem precisar dividi-lo”.
Tom: “O Metallica tem que fazer um disco melhor! Se eles fizerem isso, então talvez saiamos em turnê com eles.”
COMO CRISTÃO, O TOM AINDA SE SENTE À VONTADE CANTANDO MÚSICAS SOBRE SATÃ?
Tom: “Sim, porque a maioria é realmente bem escrita! Algumas dessas canções são uma merda, mas muitas delas são realmente boas. Eu não vou parar de tocá-las apenas por causa de alguns versos com os quais eu possa não concordar inteiramente.”
HÁ ALGUMA CHANCE DO Slayer VOLTAR A USAR MAQUIAGEM?
Tom: “Acho que não. A gente só fazia isso porque era o que parecia certo na época. A gente provavelmente pareceria bobo se começássemos a fazer isso de novo.”
Kerry: “A gente ia parecer uns otários. Não que não parecêssemos otários antes!”
QUAL A COISA MAIS INCRÍVEL DE ESTAR NO SLAYER?
Kerry: “Ter credibilidade. Isso é algo que nós tivemos que conquistar, e eu acho que o fato de que nós mantivemos isso depois de mais de 20 anos excursionando pelo mundo é algo do qual podemos nos orgulhar.”

Traduzido por Nacho Belgrande
Em 19/02/09
Kerrang!
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( Wikipedia ) Magazine foi uma banda pós-punk inglesa, uma das pioneiras do gênero. Foi formada por Howard Devoto após sua saída dos Buzzcocks em 1976. Em abril de 1977 ele conheceu o guitarrista John McGeoch e eles começaram a escrever as músicas que viriam a ser o primeiro material da banda. Recrutaram Barry Adamson, Bob Dickinson e Martin Jackson para formar o primeiro line-up, que assinou com a Virgin Records. Bob Dickinson deixou a banda pouco depois do lançamento do single "Shot By Both Sides" e foi substituído por Dave Formula. "Shot By Both Sides" alcançou o top 50 na lista de singles da Inglaterra.
Após a turnê de promoção do primeiro álbum, Real Life, Martin Jackson saiu da banda e foi substituído por Paul Spencer, e depois John Doyle. Em 1979 o segundo álbum, Secondhand Daylight foi lançado. Devoto deixou a banda em 1981, e depois de uma rápida carreira solo e dois álbuns com a banda Luxuria, desistiu da carreira musical e se tornou um arquivista de fotos.
( O Globo, 1988 – por Tom Leão) RIO - Antes de Kid Vinil batizar uma banda com esse nome no Brasil, existiu uma Magazine na Inglaterra. E é esta banda que vai voltar à estrada no ano que vem para uma série de shows.
Será a primeira vez que a Magazine se apresentará ao vivo desde 1980. A banda, formada por Howard Devoto logo que este deixou os Buzzcocks, recebeu uma proposta irrecusável para voltar a tocar.
Devoto disse que o empresário que fez a generosa oferta (ele não diz números) o convenceu quando, além do dinheiro oferecido, disse que esta será a última chance de ele ser venerado em vida.
Da formação original, apenas o guitarrista John McGeoch (que já foi do Siouxsie & The Banshees) estará de fora, porque faleceu em 2004. Ele será substituido por um músico chamado apenas de Noko.
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( Wikipédia ) Gang of Four é uma banda pós-punk de Leeds, Inglaterra. Faziam parte da formação original o cantor Jon King, o guitarrista Andy Gill, o baixista Dave Allen e o baterista Hugo Burnham. Estiveram totalmente ativos entre os anos de 1977 e 1984, reapareceram durante a década de 1990 por duas vezes com King e Gill. Em 2005 reuniram a formação inicial.
Entertainment!, de 1979, é seu principal álbum.
O grupo teve um single no Top 40 britânico com "At Home He's a Tourist" em 1979.
Por volta do ano de 2004, a popularidade da banda ressurgiu com o sucesso de novas bandas influenciadas pelo pós-punk como The Rapture, Liars e Radio 4, e depois, o fama de Franz Ferdinand e Bloc Party, gerando um interesse renovado da revista NME. A formação original com Burnham/Allen/Gill/King se reuniu novamente em novembro de 2004. Em outubro do ano seguinte o Gang of Four lançou um novo álbum com regravações das músicas dos álbuns Entertainment!, Solid Gold e Songs of the Free, com o nome de Return the Gift, além de um álbum de remixes.

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( Wiplash – por André Gustavo Nicoluzzi Vieira ): A banda britânica formada em Leeds (Inglaterra) no final dos anos 70 trouxe enormes influências para outras bandas que fazem sucesso hoje, quase 30 anos depois. A cena inglesa da época apresentava o início da decadência do ápice do punk rock criado pelas bandas como Sex Pistols e The Clash, entre outras. Porém, surgiam nos pequenos grupos acadêmicos grandes músicos inspirados pelo som cru apresentado pelo punk-rock ao mundo! The Fall, Joy Division, Wire, Magazine, Public Image Ltd (este último do próprio John Lyndon, formador e líder dos Sex Pistols) apareceram na cena musical da época como grandes surpresas, um som tão cru quanto o punk rock porém menos agressivo e muito mais melódico, não menos politizado.
O nome da banda surge então de um artigo de jornal, onde era anunciada a história da prisão do quarteto de radicais em Pequim, seguindo ordens das lideranças chinesas da época (1976). Em uma viagem com a faculdade para Nova York, Gill e King, os amigos que eram responsáveis pelas idéias revolucionárias da banda, tiveram a oportunidade de ir à casa noturna CBGB, e conferir shows dos Ramones e Television! A idéia para a banda fora iniciada!
O som do Gang of Four é diferente de seus sucessores e antecessores. É definitivamente algo único, algo inovador, e que infelizmente nenhum outro grupo fará algo igual. O GOF soube como ser polêmico, sem ser banal ou carregar uma imagem esdrúxula e idiota. Apesar da banda não ter recebido o seu devido reconhecimento, é uma das maiores bandas da história do rock!
O grupo foi formado precisamente em 1977, na Universidade de Leeds. Quatro rapazes de vinte e poucos anos, cheios de energia: O vocalista era John King, o lendário guitarrista Andy Gill esbanjando distorções e rifs criativos, Dave Allen foi o responsável pelas incríveis linhas de baixo que caracterizaram a banda e Hugo Burnham a completava com a bateria.
O primeiro disco da banda é a maior obra-prima da história do pós-punk, um dos maiores discos da história do rock. A grande influência pode ser claramente observada nas bandas que se criaram ao redor do mundo inteiro no começo dos anos 80: U2, PIL, Chameleons, New Model Army, entre outras. O som pesado do baixo parecia ser o responsável pelos principais rifs da música, e a guitarra aparecia como um item secundário. Como acontece em Twilight, Jerusalém, Rejoice e New Year’s Day do U2; Notice Me, Running in the Rain, The Price do New Model Army; e o que dizer das exaustivas introduções nos baixos da Legião Urbana em Perdidos no Espaço e Ainda é Cedo?

Em meados de 1978, o grupo consegue lançar o seu primeiro single, em parceria com o selo Edinburgh’s Fast Product. Nas paradas do rock independente inglês, o disco com apenas três músicas (Damaged Goods, Anthrax e Armalite Rifle) aparecia então no primeiro lugar, encabeçando a lista da época. O single era tocado constantemente por John Peel, em seu famoso programa de rádio. Partindo desta grande reprodução em seu programa, John Peel, que costumeiramente trazia as suas bandas favoritas para uma performance ao vivo, permitiu ao Gang of Four não apenas um, mas dois pequenos concertos ao vivo na radio. Com o sucesso do programa, partiram para shows quase que sempre esgotados por diversos lugares na Europa e Estados Unidos! O primeiro contrato então já foi firmado com uma gravadora grande, a EMI.
Com a EMI, a banda lança o single At Home He’s a Tourist, no ano de 1979. A banda mostrou seus sinais políticos ao negar uma participação no programa Top of the Pops, da BBC! Na ocasião, a televisão exigiu a troca de algumas palavras da música At Home He’s a Tourist, alegando teor subversivo para um programa daquele tipo. Com esta atitude, a gravadora começou a deixar o Gang of Four em segundo plano, atirando todas as suas atenções para outra banda que iniciava nesta mesma época: Duran Duran.
O primeiro disco do Gang of Four é amplamente elogiado em todos os segmentos do rock que o tratam. A banda trazia em sua formação: Dave Allen (baixo), Hugo Burnham (bateria), Andy Gill (guitarra) e o vocalista Jon King.
A música mais discreta do disco talvez seja a própria primeira: Ether, onde o ritmo é mais lento, porém é possível perceber tudo o que virá pelo disco: Puramente guitarra, baixo (e que baixo!), bateria e a voz! A letra trata da decisão do secretário do Estado da Irlanda do Norte de posicionar os prisioneiros acusados de crimes terroristas (IRA) em categoria de status especial. Natural's Not In It é a segunda música, e sua composição trata sobre a teoria marxista de alienação. No som é possível já observar grandes expressões e rasgos dos instrumentos de corda. A terceira faixa é Not Great Man, que fala sobre a Teoria do Grande homem! Mais uma canção com a levada funk, misturada com o indie rock da época. O tema sexo (“Às vezes penso que estou te amando, mas eu sei que é só sexo”) entra em cena, talvez com o maior hino do pós-punk: Damaged Goods! A música começa com uma introdução de baixo, alternada por uma guitarra e explode com a inclusão das baterias! Em mais uma canção politizada, Return the Gift trata a teoria do comodismo da vida social, também desenvolvida por Marx. A música apresenta um refrão energético, dançante, mais rápida, também uma das melhores músicas do disco! Em mais uma música agitada e speed do disco, Guns before Butter inicia-se lenta, mas logo é acompanhada de distorções de guitarra e o baixo gravado com uma freqüência acima do normal. É um aperitivo para I Found That Essence Rare, que já começa com a velocidade e agressividade de suas antecessoras! O tema tratado nesta letra também é sexo! As duas seguintes são as mais curtas do disco, mas não fogem ao propósito da banda e aos estilos de música apresentados: Glass e Contract; esta última que fala de amor, tradicionalmente. Com a introdução de At Home He’s a Tourist, já cheguei a perder um copo de whisky! Deixei por engano, em cima da caixa de som, enquanto escutava o disco... no último volume, é bem verdade! Porém, a introdução de At Home He’s a Tourist é feita pelo baixo ensurdecedor de Dave Allen, em uma cavalada envolvente. Apenas alguns bons segundos depois é que se tem início de um som de algumas guitarras distorcidas, até que os vocais entrem na música. Quando percebi, o copo espatifara no chão, e eu quase nem ouço o som deste impacto. A gaita faz parte dos arranjos de 5.45, mais uma ótima música do disco, que trata as guerrilhas da América Central que atuavam na cena política daquela época. O amor volta à tona em Anthrax, e as composições lançadas originalmente terminam nesta décima segunda faixa.
O curioso é que, em relançamentos do álbum, muitas músicas boas aparecem como He’d sent to Army, Armalite Rifle e It’s Her Factory (esta última, apenas tocada com bateria, baixo e gaita – além da voz).
A capa do disco também traz aspectos políticos, como pequenos quadros de um índio apertando as mãos de um cowboy, e a narração: “O índio sorri, ele pensa que o cowboy é seu amigo. O cowboy sorri, ele está satisfeito por ter enganado o índio! Agora ele pode explorá-lo!”. Considerando o conteúdo lírico do disco, o tema Cowboy e Índio pode significar uma porção dos diversos conflitos sociais retratados.
O single Damaged Goods atingiu o número 39 nas paradas das mais tocadas da Billboard, e At Home He’s a Tourist atingiu o número 58 em vendas no Reino Unido. Em uma matéria da revista Rolling Stone, o álbum foi rankeado em 490 na lista dos 500 maiores discos de todos os tempos! Em outro ranking, a revista Q magazine posicionou a música At home He’s a Tourist em qüinquagésima segunda, em uma lista das cem melhores músicas com guitarra!
Ainda tratado como melhor que seu antecessor por alguns fãs antigos do grupo, Solid Gold (Warner Bros.), o segundo álbum da banda, foi lançado em 1981, depois do sucesso de Entretainment! O estilo musical do disco é praticamente o mesmo, e para quem é fã da alta inclusão dos baixos nas músicas, este álbum ainda será mais apreciado do que o primeiro. Porém, o sucesso alcançado pelo segundo disco não se compara ao primeiro. O single What We All Want, atingiu o trigésimo posto das mais tocadas da Billboard, enquanto que no âmbito “álbuns pop” (álbuns pop?) da mesma Billboard, a banda atingiu a posição de 190 com o lançamento do álbum.
Claro que nenhum som produzido pelo Gang of Four seria pop, nem aqui nem na Europa ou Estados Unidos. Quanto aos temas deste segundo disco, continuam sendo tratados os paradoxos da guerra, do trabalho e do lazer! O disco contém dez faixas em sua versão original, contendo mais cinco no relançamento em formato CD, inerentes ao EP Another Day/Another Dollar. Como já dito antes, com a mesma formação, o GOF não perde em qualidade, e produz mais um disco memorável! Uma alternância nos vocais é perceptível entre John King e Andy Gill, assim como no primeiro disco! A primeira faixa, Paralysed, envolve os instrumentos de maneira mais cadenciada, como uma das músicas mais lentas do disco, porém cria um clima sombrio e nostálgico (Jon King quase não canta, ele apenas recita os trechos da letra). Um dos grandes sucessos da banda é What We All Want, a única a ser lançada em single antes do lançamento do disco! Mais uma vez a habilidade de Dave Allen e seu baixo será venerada, além de seu dom em todo o disco! A gaita aparece novamente em Why Theory, que tem um ritmo mais cadenciado e rifs bem definidos.
A primeira baixa da banda ocorreu após a turnê americana deste segundo álbum, quando o excelente baixista Dave Allen resolve deixar a banda para juntar-se ao grupo mais pop/dançante Shriekback, em Londres, 1982. A perda de Allen significava também uma perda de química entre os membros da banda. A reposição, em termos de habilidade com o instrumento, foi quase que à altura! Quem se juntou à banda neste ano foi a primeira peça feminina do grupo, Sara Lee. Lee, que era secretária na gravadora Polydor, conseguiu uma chance de tocar com Robyn Hitchcock, e pelo jeito, se deu muito bem. Lee se juntou ao League of Gentlemen, liderados pelo ex-King Crimson Robert Fripp, antes de aparecer ao Gang of Four.
Desta forma, segundo opiniões daquele pós punk cru que nascera uma vez na Inglaterra, no final dos anos 70, o Gang of Four terminava logo ali a sua saga de influências e discos, no mínimo, maravilhosos! Na minha opinião, e na opinião ainda de muitos fãs da banda, o GOF ainda trouxe muito para a música! Realmente, nada como nesta primeira fase da banda!
Um exemplo claro disto é que, para as gravações do terceiro disco, Songs of the Free (Warner Bros.), não apenas Sara Lee foi adicionada à banda, mas junto dela, mais duas backing vocals! É isso mesmo, duas backing vocals! A banda aderiu ainda características extras de estúdio, sintetizadores, teclados, eletrônica, essas coisas. Não mais fazia parte da banda apenas a guitarra, o baixo e a bateria (e às vezes aquela gaita)! A música acompanhava a evolução dos anos 80. Em contra partida, aqueles fãs que pulavam sem parar ao ouvir Damaged Goods, agora, deveriam dançar. A banda colocava um pé no mundo pop da música! Para os bons admiradores dos sons produzidos pelo baixo, o disco ainda é um prato cheio! Diversas introduções são feitas com o instrumento, que ainda era tratado como frente da banda! A inclusão das frases do baixo são ainda maravilhosas, na grande maioria das músicas do disco!
De maneira irônica, o disco atingiu o número de 175 nas mesmas paradas de álbuns pop da Billboard (repare que em uma colocação melhor do que Solid Gold). Porém, mais ironias aparecerão! Do ponto de vista lírico, as letras produzidas trazem os temas já famigerados pela crítica. A banda critica a mentalidade consumista na primeira faixa, Call Me Up, a nostalgia vivida naquela época com It is Not Enough e o machismo militar em I Love A Man In Uniform. Assim como muitas bandas da época, o GOF também deixou sua crítica para a guerra que ocorria naquele momento, entre os ingleses e argentinos, nas ilhas Falklands. New Model Army e Clash também foram alguns dos quais apresentaram críticas ao movimento militar inglês na América do Sul. A música I Love a Man in Uniform foi logo banida das rádios, exatamente pelo cunho crítico à política militar.
Sobre a sonoridade, como dito anteriormente, o álbum já não é unanimidade! Muitos adoram, muitos desgostam! A verdade é que esta nova conquista do GOF com um novo público surtiu um certo efeito! A música mais famosa da banda torna-se então I Love a Man in Uniform, tocada a exaustão pelas discotecas inglesas que emergiam em número nos anos 80. No ranking das mais tocadas da Billboard (Club play singles), aparecia entre as 30 mais executadas! E no ranking de vendagem, o número de 65. A grande verdade é que, com qualidade ou não, o disco não aponta para a mesma direção de seus dois antecessores.
Logo após as gravações do disco, a segunda baixa veio por parte do baterista Hugo Burnham. Agora, sem o baterista original, a banda entraria em um novo universo, porém, nada com um impacto tão enorme após Songs of the Free.
Desta forma, a banda entrou no estúdio pela última vez sob o comando da Warner, no ano de 1983. Necessito a atenção do leitor para o ano de 1983. A New Wave era o ritmo do momento na época, e as maiores bandas atuantes lançavam seus discos de acordo com a sonoridade: Alphaville colocava no forno o Forever Young; David Bowie lançava China Girl e Let’s Dance; Jimmy Sommerville aparecia com seu Bronski Beat e sua Smalltown Boy; o Culture Club já lançara o seu Kissing to be Clever; o Cure estava com o seu Japanese Whispers; Dead or Alive com o seu Sophisticated Boom Boom; o Duran Duran lançava Rio; os Romantics e seu Talking in your Sleep; Major Tom de Peter Schiling; sem falar de bandas como Ultravox, Spandau Ballet, Icehouse, Flock of Seagulls, Tears for Fears, etc. O quarto disco da banda, Hard, é uma soma de tudo isso!
Mais uma vez, é possível encontrar em lojas virtuais, fóruns de música e artigos de revistas críticas negativas pesadas para o rumo no qual a banda tomou. Realmente, o quarto disco não tem nada a ver com o primeiro e/ou o segundo, parece um pouco mais com o terceiro, mas é algo único e diferente.
Em uma opinião particular, Hard é um dos melhores discos do Gang of Four. A explicação é simples: gosto pelas bandas supracitadas. Este disco do Gang of Four trouxe ao público um ambiente completamente triste, melancólico, de fazer frente a bandas como Joy Division. Desta vez as virtudes da baixista Sara Lee estão ao extremo, é perfeitamente exaltado o som produzido pelas linhas de baixo (é possível encontrar na internet formações que gravaram este disco com dois baixistas). As canções, conforme dito anteriormente, tem um clima triste e sombrio, e as letras tratam de tons amorosos, em sua maioria. A percussão utilizada é eletrônica, o que dá o ar mais oitentista às canções!

A primeira faixa é característica do disco: Is it Love, que o nome fala por si só. Uma das melhores (quiçá a melhor) música do disco é I Fled, onde os vocais femininos responsáveis pelo refrão transmitem um sentimento triste, pelo timbre da voz ecoada. Em Silver Lining, mais uma vez à frente as linhas de baixo de Sara Lee, com a cara dos anos 80. Woman Town tem um ritmo dub, e apesar de tudo, de muito boa qualidade, com um refrão cantado também por vozes femininas marcantes! Em A Man With a Good Car, o estilo segue recheado de toques de New Wave. Uma breve bateria acompanhada de um baixo nostálgico iniciam It Don’t Matter, completada com vocais femininos e de Andy Gill e Jon King. Arabic também é um dos pontos altos do disco, com a melodia muito bem elaborada. As últimas duas canções trazem um cenário mais feliz, por sua sonoridade: A Piece of My Heart e Independence. Talvez as duas piores do disco, mas sempre é bom salientar que o disco em si é muito bom.
A banda então resolve dar um bom tempo depois das gravações de Hard, em 1983. Apenas alguns poucos shows se seguiram pelos anos 80, Jon King e Sara Lee apareceram em projetos paralelos até o fim da década, mas nada que chamasse a atenção! Foi esta a última gravação dos anos 80 da banda!
No começo do ano de 1991, a banda (Jon King e Andrew Gill) se reúne novamente para tentar mais uma tacada: “Mall”, lançado em maio de 1991. O álbum ainda traz algum legado de Hard, porém parece entrar de cabeça no college rock que aparecia aos montes na cena musical do rock nesta época. A composição lírica retorna às críticas políticas, retornando a banda no cenário politizado da música. As faixas são mais previsíveis do que nos outros discos, os temas são “adivinháveis”, o Gang of Four talvez tenha gravado o seu pior álbum até então! A faixa F.M.U.S.A, por exemplo, critica abertamente a guerra do Vietnã. Cadillac, a primeira faixa, tem a levada mais punk rock, porém adaptada ao cenário atual da banda. Motel, que vem em seguida, é romântica à lá REM, e muito bem executada. Satellite também traz os estilos college rock da época, com um ar de romantismo teen, assim como grande parte do disco. Também cabe uma versão cover de Soul Rebel, de Bob Marley, comprovando o gosto da banda pelo reggae e dubs anteriormente apresentados. O sucesso do disco foi bastante limitado, assim como os agrados aos fãs também. A segunda parada da banda é anunciada, e os rapazes restantes junto de Sarah Lee e as vocalistas, resolvem dar um tempo com o Gang of Four.
A penúltima re-reunião da banda conta agora apenas com os dois membros mais dispostos a levar o rock do Gang of Four para frente: John King e Andy Gill. Mas agora o Gang of Four contava com mais integrantes, como baixistas e bateristas, que alternadamente completavam a banda para a gravação de algumas músicas. Estas músicas viriam compor o sexto disco da banda, intitulado Shrinkwrapped, lançado pela gravadora Castle Records, no final do ano de 1995. O álbum é tido como um pouco melhor do que Mall, de quatro anos antes. A banda parece não se preocupar mais em retomar as grandes gravações que os consagraram no começo dos anos 80!
A formação original da banda retornou aos palcos em 2004, fazendo turnês internacionais. Nesta época, a banda resolve lançar em 2005 Return the Gift, uma coletânea com os maiores clássicos da banda no seu auge. O interessante é que trata-se de uma regravação das músicas que fizeram sucesso no final de década de setenta e começo da década de oitenta. Sendo assim, para os grandes fãs da banda, é uma ótima pedida para matar a curiosidade. A esmagadora maioria das músicas faz parte dos dois primeiros discos da banda. Desta forma, pude conferir com meus próprios olhos a turnê deste disco, na casa de shows Via Funchal, em setembro de 2006. A banda viria tocar junto dos Cardigans, banda sueca, em um festival para uma empresa de bebida. O curioso é que os Cardigans abriram o show, e após o show destes, alguns grupos de pessoas foram embora sem ver o quarteto inglês. Nesta ocasião, o membro original Hugo Burnham foi reposicionado por Mark Heaney. O show foi incrível, o som perfeito! Um dos melhores que eu já pude ir aqui no Brasil (considerando a dificuldade inexplicável que nós temos de adequar uma boa passagem de som para certos shows aqui).
Assim foi até maio de 2008, quando novamente Allen deixou a banda. Hoje em dia, sempre com Jon King e Andy Gill como presença garantida, o Gang of Four continua a sua aparição em público participando dos maiores festivais europeus, sempre com outros músicos de apoio.
Ao longo da sua história, alguns fatos curiosos cercaram a banda em relação a sua produção de sons! O primeiro disco, como já disto antes, é uma das maiores, senão a maior, obra prima do pós-punk! Porém, ao longo do tempo a banda destoou desta sua característica marcante! Em 1984, por exemplo, o GOF apareceu ao lado de artistas como o Survivor, Commuter, Joe Espósito e Broken Edge na produção da trilha sonora do famosíssimo filme (pelo menos em terras tupiniquins) Karate Kid (The Karate Kid), com a música Desire.
Outra questão é que, nos anos 80, era bastante comum as gravadoras lançar no mercado coletâneas de diversas bandas do mesmo gênero. Por exemplo: em 2000, a banda participou da coletânea Doublé Shot, Punk!, ao lado de bandas como Vandals, Bad Religion, Black Flag, entre outras. Em 1994, a banda participou de uma coletânea chamada Just Can’t Get Enough (Talvez uma referência para a música do Depeche Mode): New wave hits of the 80’s, com os artistas Tommy Tutone, Soft Cell e Japan! Em mais uma destas contradições da indústria da música, uma grande coleção chamada No Thanks! The 70’s Punk Rebellion trazia, além do Gang of Four, Ramones, Clash, Buzzcocks, Television, Stooges, X Ray Spex, Wire, NY Dolls e Dead Kennedys. Em outra, com estranho nome de Hit That Perfect Beat (a tradução de algo parecido com “Toque a batida perfeita”), o GOF aparecia ao lado de Erasure, Yazoo, New Order e Trans X.
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( MOFO - por Rubens Leme da Costa ) - por Você sabe qual era a banda favorita de Renato Russo e do pessoal da Plebe Rude? Gang of Four. Esse grupo inglês, da mesma geração de Clash e Jam, chamado de marxista pelo conteúdo altamente político de suas letras, foi um dos grupos mais importantes de sua época e uma verdadeira referência para as bandas atuais. A maior marca do Gang of Four era a guitarra sincopada e cheia de efeitos de Andy Gill, que influenciou quase todo mundo depois dele, sendo The Edge um dos seus mais famosos discípulos. Em outra empreitada cara-de-pau minha, consegui uma entrevista com a lenda. Em um primeiro momento, mandei as perguntas por e-mail. Como achou que eram demasiadas e muito amplas, preferiu que eu fizesse por telefone. Depois de controlar o nervosismo e o intestino, liguei no dia combinado. As três primeiras vezes ele pediu para que ligasse "daqui a meia hora, estou com um probleminha de última hora". Finalmente, as 15h30 de sábado, consegui pegá-lo na curva. Imaginei que fosse um cara meio fechado, sério, já que o Gang of Four carregava uma certa aura de pouco humor. Que nada! Andy mostrou ser um cavalheiro e perdeu apenas uma vez a paciência quando me enrolei inteiro em uma pergunta. Mesmo assim, apenas disse say it again! e tudo bem.

Durante 30 minutos, falou sobre a possível volta do Gang of Four, comentou, com algumas ressalvas, contemporâneos como Clash e Jam, quis saber sobre o nosso presidente Lula e prometeu me mandar uns cds autografados e ainda pediu que eu enviasse alguns do Legião e da Plebe, entusiasmado com minhas palavras.

Se eu vou mandar? Bem, eu já os comprei! O papo está todo aí.

Gang of Four é uma daquelas bandas que começam a ser melhor analisadas e compreendidas após anos e anos. Um grupo que mesclava o funk, o reggae, e eventualmente até a disco com seu rock bruto, letras engajadas e músicos espetaculares. O nome foi tirado de um grupo que existiu na China durante os anos de liderança de Mao Tse-tung. A “camarilha dos quatro” original era formada por Jiang Qing, Zhang Chungiao, Yao Wenyuan e Wang Hongwen. Ele subiram ao poder durante a Revolução Cultural no país em 1966, e tendo a bênção de Mao até sua morte, em 1976, controlavam as áreas de educação, tecnologia e perseguição aos intelectuais opositores.

capa de entertainment!Inspirados nessa idéia Dave Allen, baixista Hugo Burnham, baterista e vocalista, Andy Gill, guitarra e voz ("Anthrax," "Paralysed") e Jon King, vocais - começaram a tocar no verão de 1977. Os primeiros shows foram realizados em Leeds, já que Burnham, Gill e King eram alunos da Universidade local. O grupo queria casar sua paixão por Monet, Godard e George Clinton com os acontecimentos políticos que agitavam a Europa naquele momento. Um dos protestos que mais marcou os integrantes foi uma passeata de neo-nazistas nas ruas de Leeds, que acabou no maior quebra pau. Determinados a combater toda forma de repressão, violência e perseguição, faziam letras que criticavam o governo conservador, a falta de oportunidade para os mais pobres e até propaganda comunista. Seus três primeiros discos - Entertainment!, Solid Gold e Songs Of The Free (já com Sara Lee no baixo) são exemplos ímpares de sua marca. Guitarras faiscando, baixo funkeado, casamento com ritmos negros e muita politização. Gill era o mestre por trás de toda essa parafernália e um dos guitarrista mais criativos e inteligentes de sua geração. Amante da música americana, especialmente de Velvet Underground, Jimi Hendrix e Bob Dylan, sentiu uma atração imediata com os grupos nova-iorquinos como Television e Talking Heads. Apesar de todo esse passado sério, mostrou-se ser um cara bem acessível e simpático e bem falante, passando até uma imagem de tímido, o tipo da pessoa que fala de olhos fechados ou olhando para o infinito enquanto dispara pensamentos e no começo me fez mais perguntas do que eu a ele. O único problema foi seu pesado sotaque londrino, que me obrigou a ouvir a fita umas 30 vezes, fita essa que já está guardada em meus arquivos secretos. Agora deixo vocês com a íntegra do bate-papo.

Pergunta: - Olá Andy, muito obrigado pela chance de falar com você. Sou fã da banda há anos.
Andy Gill: - Olá Rubens, é um prazer falar com alguém de seu país. Achei muito interessante conversar com um jornalista brasileiro quando me requisitou a entrevista.

Pergunta: - Bom, deixe eu começar falando uma coisa que você talvez não saiba. Duas das melhores bandas brasileiras de rock, Legião Urbana e Plebe Rude, tiveram uma grande influência do Gang of Four. O que acha disso?
Andy Gill: - Olhe, eu me lembro que alguém já tinha comentado que o Gang tinha uma certa fama na América do Sul, e algumas pessoas ligadas aos grupos brasileiros até pensaram em me convidar para produzir alguns discos em seus país. Achei a idéia fantástica porque o Brasil tem uma cultura complexa e muito fascinante. Poderia me dizer como essas bandas soam?

Pergunta: - A Plebe tem uma sonoridade e postura mais próximas de vocês, é um grupo um pouco mais punk. O Legião tinha como grande fã o falecido vocalista Renato Russo, que dizia ser apaixonado por Gang e P.I.L desde adolescente.
Andy Gill: - Que legal! Me fale mais como eles soam?

Pergunta: - Bem, alguns fãs vão me bater, mas a Plebe soa como se fosse meio Gang, meio Pistols, principalmente ao vivo. Já o Legião seria um casamento diferente, meio Gang, meio Dylan, se isso for possível...
Andy Gill: - Dylan misturado conosco? Deve ser muito bom! Poderia me mandar alguns cds deles? Fiquei curioso.

Pergunta: - Claro que sim. Se você me mandar uns do grupo com seu autógrafo (risos).
Andy Gill: - Combinado. Terei imenso prazer.

Pergunta: - Legal. Me diga, o que você conhece do Brasil? Sabia que temos um presidente de origem humilde, um ex-operário e que foi eleito com expressiva votação?
Andy Gill: - Fiquei sabendo, mas infelizmente as notícias que chegam aqui são poucas, as pessoas se preocupam muito pouco com a América do Sul, Latina e África. Me fale um pouco dele, é um bom homem?

Pergunta: - É uma excelente pessoa que está disposto a ajudar os mais necessitados e tentando uma integração maior com os países vizinhos. Sua eleição foi um grande acontecimento histórico para o Brasil, já que é um homem de esquerda e respeitado.
Andy Gill: - São ótimas notícias. Espero que ele ajude muito a população. Vocês votou nele?

Pergunta: - Votei sim.
Andy Gill: - Bom, muito bom.

Pergunta: - Bom, Andy, eu gostaria de falar um pouco agora contigo sobre música. É possível? (risos)
Andy Gill: - Claro que sim. Vamos lá! (risos)

Pergunta: - Para começar, vocês estão voltando ou não?
Andy Gill: - É uma possibilidade. Estou pensando nos próximos seis meses, já que a EMI está querendo uma compilação de nossos discos para o começo do ano que vem, em comemoração aos 25 anos do nosso álbum de estréia. Existe uma grande chance real de nos reunirmos.

Pergunta: - O Gang of Four era comparado ao Clash, Jam e Specials por suas letras altamente politizadas e até pela mistura de música negra com o rock. Como era o relacionamento de vocês com eles?
Andy Gill: - É difícil de dizer isso. Nossos éramos considerados um grupo marxista e éramos muito diferentes de todos eles. Em alguns níveis éramos mais complexos, tínhamos uma hierarquia interna meio rígida. O Clash era uma banda que dizia “ei, vamos derrubar barreiras e provocar o sistema.” Nós fizemos alguns shows com o Jam, mas Paul Weller tinha um pouco de mágoa, porque eles nunca fizeram sucesso na América e nós sim. Ele vivia me perguntando o que tinha que fazer para que isso acontecesse (risos). Voltando ao Clash, eu senti muito a morte de Joe (Strummer), mesmo vendo-o pouca vezes nesses últimos anos. Aliás a última vez que nos encotramos foi em um estúdio quando ele estava tocando com o Michael Hutchence (ex-vocalista do INXS, que se enforcou). O Clash era fantástico, eles tinham algumas idéias um pouco diferentes das nossas, mas eram grandes.

Pergunta: - Me fale de seu trabalho de produtor... Você trabalhou com o Red Hot Chili Peppers. Como é você em estúdio?
Andy Gill: - Eu produzi o primeiro disco deles. Cada banda tem sua própria maneira de trabalhar. Eu tento encontrar um “approach” com cada um deles, saber o que pensam e como posso ajudá-los. Alguns artistas já têm uma idéia pronta e precisam apenas de alguém para viabilizá-la. Outras bandas entram meio perdidas e necessitam de uma maior orientação.

Pergunta: - E como foi seu trabalho com o Red Hot?
Andy Gill: - Foi bem divertido, adorei trabalhar com eles. É um grupo extremamente talentoso e que me surpreenderam em estúdio.

Pergunta: - Você é um guitarrista estupendo e influenciou vários outros músicos. Quem são seus melhores seguidores?
Andy Gill: - Bem, Edge do U2 já me disse que copiou muito minha maneira de tocar. Eu consegui criar uma linguagem no instrumento que agradou várias pessoas e que tentaram segui-la. Peter Buck, do R.E.M. é outro que já me disse se inspirar em mim também, assim como o Red Hot.

Pergunta: - Qual foi o impacto que a música americana causou em você?
Andy Gill: - Bem, eu adoro Velvet Underground, Jimi Hendrix e Bob Dylan, entre outras coisas. É uma música muito rica, complexa, assim como a brasileira. Eu sempre gostei de ouvir um pouco de cada estilo: blues, jazz, soul e claro, o rock que era produzido nos anos 60.

Pergunta: - Mas você era ligado muito nas bandas do CBGB (clube nova-iorquino onde começaram a se apresentar Patti Smith, Television, Ramones, Blondie, Talking Heads, Richard Hell, entre outros, nos primeiros anos da década de 70).
Andy Gill: - Sim, adorava esses grupos porque eram inovadores com uma nova linguagem e você podia conversar com o Joey (Ramone) ou mesmo John (Cale) pelos corredores do clube. Era muito excitante por causa disso, embora não tenham me influenciado tanto pelo som como aconteceu com o Velvet, Dylan e Hendrix.

Pergunta: - O que mais te influenciou?
Andy Gill: - Reggae, nós gostávamos muito de reggae, dub, as tonalidades de guitarra e o som da bateria e tentamos incorporar essas influências em nossa música, a maneira como a bateria carregava a canção, as paradas na guitarra.

capa de Solid GoldPergunta: - Por que é tão difícil achar os discos do grupo em CD hoje em dia?
Andy Gill: - Bem, estamos voltando a discutir com a EMI sobre nossos discos serem relançados. Em 95, nossos três primeiros discos saíram pela Infinite Zero (antiga gravadora que pertencia a Henry Rollins, do Rollins Band).

Pergunta: - Aliás, esses discos vinham com faixas bônus, incluindo alguns EPs. O que achou dessa idéia da Infinite?
Andy Gill: - Foi excelente. Eles tiveram um grande cuidado com o encarte, as letras e com o som. Pena que não durou muito tempo.

Pergunta: - Qual sua opinião sobre mp3? Você é contra ou a favor? Acha que esses arquivos prejudicam as vendagens?
Andy Gill: - Eu acho uma idéia genial. Pode não ter uma grande qualidade de som, mas é uma ótima maneira das pessoas poderem conhecer músicas e grupos que não tinham acesso, e se gostarem, procurarem os discos originais. Eu não estou certo que prejudiquem as vendas como falam, mas para grupos não tão famosos é uma ótima oportunidade de ter seu trabalho divulgado, e até ajudar a vender CDs, se quer saber!

capa de Songs Of the FreePergunta: - Gostaria que você falasse um pouco dos três primeiros álbuns. Songs of The Free é um pouco mais dançante e leve do que os anteriores. Foi por causa da entrada de Sara Lee?
Andy Gill: - Não acho que teve muita mudança no nosso som com ela para falar a verdade. Naquele período nós queríamos testar novas possibilidades do que tínhamos conseguindo com Entertainment! e Solid Gold, e começamos a usar bateria eletrônica, um pouco mais acessível. Alguns preferem mais os dois primeiros discos, mas eu gosto de todos eles.

Pergunta: - Qual seu disco preferido do Gang of Four?
Andy Gill: - Eu gosto muito do nosso primeiro álbum, porque o disco de estréia é sempre muito especial em todas as maneiras. Você toma mais cuidado com as letras, com a produção, é sempre uma expectativa muito grande.

Pergunta: - E sua canção favorita?
Andy Gill: - Eu gosto de “Not Great Men”.

Pergunta: - A minha favorita é "Paralysed" (de Solid Gold).
Andy Gill: - Mesmo? Bem, eu canto nessa canção. Obrigado pela escolha.

Pergunta: - Obrigado pelo seu tempo, Andy e desculpe pelo meu inglês.
Andy Gill: - Eu que agradeço e não se preocupe, você se saiu bem (risos).

Discografia

Compactos

Damaged Goods / Love Like Anthrax / Armalite Rifle (1978)
At Home He's A Tourist / It's Her Factory (1979)
Outside The Trains Don't Run On Time / He'd Send In The Army (1980)
Yellow EP (1980)
What We All Want (1981)
Cheeseburger / Paralysed (1981)
To Hell With Poverty! (1981)
Another Day / Another Dollar (1982)
I Love A Man In Uniform (1982)
Call Me Up (1982)
Is it Love? (1983)
The Peel Sessions (1986)
Don't Fix What Ain't Broke (1991)
Satellite (1991)
Tattoo (1995)

Discos

Entertainment! (1979)
Solid Gold (1981)
Songs Of The Free (1982)
Hard (1983)
A Brief History of the Twentieth Century (1990)
Peel Sessions (1990)
Mall (1991)
Shrinkwrapped (1995)
100 Flowers Bloom (1998)
Return the Gift (2005)

Alguns artistas e discos que Gill produziu.

Grupo e título do disco

The Balancing Art - Curtains
The Red Hot Chili Peppers - The Red Hot Chili Peppers
Downey Mildew - Cool Nights
Mad Cow Disease - Tantric Disco
Designer Disco Dollies
Buster Jones - Hands Are Shaking
The Morgans - Tell Me What You Taste
Intastella - Waht Y’Gonna Do
The Stranglers - Written in Red
The Armageddon Dildos - Speed
The Jesus Lizard - Cold Water e Blue
Bis - Social Dancing
Boss Hog - Whiteout
Hal from Apollo 69 - 666
Michael Hutchence - Michael Hutchence
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(Wikipédia) Johnny Rotten, pseudônimo de John Joseph Lydon (Londres, 31 de janeiro de 1956) tornou-se mundialmente conhecido como vocalista da banda Sex Pistols conhecida como uma das principais bandas precursoras do Punk.
Posteriormente foi vocalista da banda PIL. Johnny Rotten também é o autor do livro Rotten: No Irish, No Blacks, No Dogs. Rotten foi a primeira pessoa a falar "fuck off" (foda-se) em frente às câmeras na história da televisão, em uma entrevista para Bill Grundy. O fato fez com que o punk começasse a ficar mundialmente famoso, graças à repercussão negativa que os Sex Pistols tiveram.
(Wikipedia) Public Image Ltd, também referida como P.I.L. ou PIL, foi a banda de Johnny Rotten após o término dos Sex Pistols, pioneira dos primeiros tempos do punk rock.
John Lydon (ex-Johnny Rotten) formou o PIL juntamente com o guitarrista Keith Levenne (ex-Clash), o baixista Jah Wooble e o baterista David Crowe. Em 1978 lançaram o compacto "Public Image" e logo depois o LP também chamado de Public Image. Então David Crowe saiu da banda e começou um rodízio de bateristas durante as gravações do próximo disco.
Em 1979 foi lançado o disco divisor de águas, Metal Box, disco triplo vendido numa caixa de metal de filmes. Após conflitos internos (a banda era extremamente preguiçosa e não ensaiava nem fazia shows regularmente), o baixista Jah Wooble saiu e deixou um vácuo para a banda. Após sua saída foi lançado em 1981 o disco Flowers of Romance, disco ácido e experimental. Então Keith Levenne também saiu da banda por conflitos com John.
Em 1984, gravaram This is What you Want... This is What you Get, apresentando um som mais comercial indo em direção à pop music e a dance music.
Em 1986, John reformulou o PIL e lançou o disco Album, Compact Disc ou Cassete dependendo do formato da mídia, do qual saiu seu maior sucesso, a canção "Rise".
O último álbum da banda That What is Not de 1992, incliu um sample da música do Sex Pistols "God Save the Queen" na qual a voz do então jovem Lydon canta as palavras, "No future, no future...". Lydon terminou com o grupo um ano depois, após a Virgin Records se recusar a financiar a turnê do álbum, que foi financiada pelo próprio Lydon.
A banda é precursora do pós-punk e mistura diferentes estilos como punk rock, new wave, música experimental, hip-hop entre outros.
(Omelete) Com o dinheiro arrecadado em shows nos Estados Unidos, o Public Image Limited deve gravar um novo álbum, o primeiro da banda desde That What Is Not, de 1992.
A informação foi dada pelo líder do PIL, John Lydon, que também foi vocalista da banda punk britânica Sex Pistols.
A ideia, segundo Lydon, é gravar o disco no estúdio que ele tem em Los Angeles. Em entrevista à Billboard, o cantor explicou por que o trabalho só poderá ser gravado depois da turnê pelos Estados Unidos: "Não temos suporte algum - gravadoras, patrocinadores, nada disso - e a única maneira de juntar grana é excursionando. É como nos velhos tempos do PIL... Quando o Sex Pistols acabou, tive que tirar dinheiro do meu próprio bolso para bancar o PIL".
Lydon também contou que dificilmente usa a própria música para compor, citando como fontes de inspiração bons livros, uma caminhada, poemas, filmes e Shakespeare.


A primeira apresentação do PIL nos Estados Unidos foi no festival Coachella, no dia 16 de abril.
( http://discografiananet.blogspot.com ) Como continuar a carreira mantendo o nível depois de anunciar o fim de uma das mais importantes bandas da história? Muitos tentaram, mas poucos conseguiram. Um deles foi John Lydon. Em sua primeira mutação, foi Johnny Rotten, o líder dos Sex Pistols, o grupo que mais arrepiou o mundo nos final da década de 70.

A história da banda já é famosa. Mas o que ninguém esperava é que o líder, Rotten, fosse capaz de criar um grupo tão inovador e importante depois dos Pistols. E Rotten conseguiu: com o nome de John Lydon formou o Public Image Ltd. ou simplesmente PiL para os mais chegados.

O PiL foi criado em 1978, em algum ponto entre Nova York e Jamaica. Já sem Pistols, Lydon queria criar um novo conceito sonoro, com baixos dissonantes, bateria tribal e muitos overdubs nas guitarras.

Para montar a banda, ele recrutou o baixista Jah Wobble, chamado por ele de "melhor mau baixista do mundo", o guitarrista Keith Levene e na bateria o desconhecido Jim Walker, um músico de Vancouver.

Wobble conta que apesar de ser amigo de Lydon desde 1971, não ficou impressionado com o convite para formar o PiL. "Eu pensei que John fosse fã do Led. Ele não era um cara muito simpático, e costumava me comprar bebidas para ficar meu amigo, porque ninguém gostava dele. Só depois que ele se rastejou para perto de mim que deixei ele ser meu companheiro."

O grupo começou a trabalhar inicialmente com duas canções, Public Image e Religion. O início foi confuso. Segundo um crítico da New Musical Express, Neil Spencer, as músicas pareciam mais serem de Electric Ladyland (disco de Jimi Hendrix) do que ter alguma semelhança com canções punks.

Alguns acharam que a banda tinha forte influência de reggae. Wobble explicou: "Rock é obsoleto, mas é nossa música, faz parte da nossa cultura. Pessoas acham que nós estamos tocando reggae, mas não queremos parecer com nenhuma banda de reggae. É apenas uma de nossas influências, da mesma maneira que toco pesado no baixo."

Uma das idéias básicas do PiL (e que nunca funcionou bem) é que todos os integrantes tinham o mesmo poder de decisão: "a música é de nós quatro; os lucros também. Tudo dentro do PiL funcionará dessa maneira", garantiu John.

Foi a jornalista Caroline Coon a primeira sugerir o nome da nova banda de Lydon, ao escrever uma matéria chamada Public Image. Ao descrever o som do grupo para Coon, Lydon disse que era "totalmente pop, com significados profundos".
(Rolling Stone Brasil) John Lydon carrega há mais de três décadas um peso na consciência: ter trazido ao Sex Pistols o infame baixista Sid Vicious. "Me perdoe, Deus, pelo dia em que incluí Sid na banda", disse ao jornal britânico The Independent o frontman do Sex Pistols, Lydon, mais conhecido como Johnny Rotten.

Fã devotado e amigo de Lydon, Sid Vicious, codinome de John Simon Ritchie, se juntou ao grupo de punk em fevereiro de 1977, com a saída do baixista Glen Matlock. Oito meses depois, a banda lançou seu primeiro e último álbum de estúdio, o icônico Never Mind the Bullocks, Here's the Sex Pistols.

Sid Vicious morreu em fevereiro de 1979, de overdose, cinco meses depois da violenta morte de sua namorada, Nancy Spungen, esfaqueada. Choveram suspeitas de que Sid, em delírio provocado por narcóticos, teria sido o autor do assassinato.

Lá pelo meio da longa matéria do Independent, Lydon reflete sobre a passagem de Sid Vicious no Sex Pistols. "Ele se sentiu tão isolado, o pobre coitado do Sid, porque ele não era a faca mais afiada do bloco", afirma, depois de lamentar a imersão do baixista no mundo das drogas, em especial a heroína. "O melhor aspecto de sua personalidade, que era seu humor, apenas evaporou no dia em que ele chegou no Sex Pistols."

Dos anos 90 para cá, os Sex Pistols originais (com Matlock de volta ao posto de baixista) se reuniram para shows esporádicos. Atualmente, Lydon engaja-se com a reunião de outra banda: a Public Image Ltd, que montou logo após a ruptura do Sex Pistols e que fará miniturnê a partir desta quarta, 15, no Reino Unido.

Em matéria publicada na Rolling Stone Brasil em 2007, lembra-se que Sid costumava caçoar de John. "Você vai passar o resto da vida com gente chegando e perguntando se você não tinha sido o Johnny Rotten", ele dizia. O que o Lydon dos anos 00 relata: "Já teve gente que chegou para mim e perguntou se eu não era aquele que tinha morrido. E a minha resposta é sempre sim".

Na mesma entrevista do Independent, Lydon se diz irritado com novas bandas. A matéria, por exemplo, cita Red Hot Chili Peppers, Massive Attack e Prodigy como herdeiros do som punk da banda. "Ainda escuto lançamentos que imitam nosso estilo, mas eles não nos dão crédito."

Se ele se sente orgulhoso de ter inspirado toda uma geração de músicos? Não exatamente, o que Lydon deixa claro num comentário particularmente crítico a Liam Gallagher. "Não! Fico um pouco irritado, porque nunca fiz nada na vida para ser parecido com alguém. Oasis me irrita, sabe? A voz me irrita. Ele poderia ter inventado sua própria coisa."
( 1987 – CD-Rom Bizz 20 Anos ) O INCENDIÁRIO - Anhembi (SP) 17,18 e 19/08/87
John Lydon - ex-Podre, o "traidor do movimento punk", a "imagem pública". enfim, uma das personalidades pop mais importantes dos últimos dez anos - pisou finalmente os palcos brasileiros. Mas não foi o "irreverente mito do rock" como anunciava a desinformada propaganda do jornal. Nem o punk enfurecido, como esperavam os desorientados cuspidores que insistiram na sua prática desagradável, apesar dos enojados (e inúteis) apelos de Lydon para que as pessoas parassem de cuspir. Joãozinho Podre já era. Lydon é, isso sim, a mais perfeita caricatura de si mesmo e de sua trajetória: trejeitos arrogantes de popstar, expressões comicamente iradas, dreadlocks de lã cor de Fanta e terno amarelo patinho. As quatro primeiras músicas, entre elas "Rise" ("I could he wrong/I could be right") e a inédita "Hard Times" compensaram o atraso de mais de meia hora.
Depois da desajeitada versão ao vivo de "World Destruction", uma enxurrada de canções do Album fizeram a temperatura inicial baixar um pouco. Os quase solos juase heavies de John McGeoch e as pesadas e recortadas linhas da guitarra de Lu Edmunds seguravam a atenção, enquanto o animador de auditório (e baixista apenas correto) Allan Dias chamava a uma animação que não exista. Na platéia, mais perplexidade do que vibração. Os pontos altos foram "Holidays in the Sun", dos Pistols - ecos do punk, dez anos atrasados -, a paulada minimalista e despojada de "Annalisa" e mais duas inéditas. E, claro, as gracinhas de Lydon, andando na beira do palco com cara de professor severo, fazendo reverências exageradas às dancinhas com McGeoch e Edmunds e provocando o público com frases do tipo: "Se vocês conseguem dançar aquela estupidez do samba, quero ver se vocês dançam essa!"
Faltaram as caóticas composições do Second Edition, faltou a fase esquizo-funky do This Is What You Want... This Is What Yhu Get, Mas Lydon, o duende irlandês, fechou o show com três das suas mais ferozes canções: "Public Image Limited", a reiterativa "This is Not a Love Sone" e a herética "Religion" - um inflamado discurso anti-Igreja com um baixo circular de pano de fundo. Com altos e baixos, o arlequim ensandecido deu uma demonstração cabal do seu refrão/slogan/palavra de ordem: "Anger is a energ". Raiva do que mesmo, Não interessa. Aliás, essa era uma pergunta para Rotten. A única pergunta possível para Lydon é: para onde vai o PIL agora?
( 1993 – CD-Rom Bizz 20 Anos ) MEMÓRIAS DA ANARQUIA - Em sua primeira entrevista conjunta em quinze anos, dois ex-Sex Pistols - John Lydon e Paul Cook - fazem um balanço do punk rock, falam dos rumores sobre a volta do grupo e da récem-lançada compilação Kiss This, supervisionada por eles
Há uns quinze anos mais ou menos, os cavalheiros sentados do outro lado da mesa, em algum canto do hotel Kensington, em Londres, ajudaram bem ou mal a fazer história. Sendo metade dos Sex Pistols, Johnny Rotten, nascido John Lydon (vocais) e Paul Cook (baterista) encontraram-se no centro, mesmo que involuntariamente, do último grito de guerra do rock´n´roll: foram os músicos principais do glorioso fracasso que a posteridade lembrou como punk.
O rock´n´roll continuou sua marcha, alegre e despreocupado. Mas, agora, com exceção de algumas poucas aberrações que tiram o sono dos pais - Ice T, Sinéad O´Connor, Guns N´Roses -, é um prazer indulgente.

Alguns já tentaram claro. Mas foram os Sex Pistols que nos legaram, entre outras pérolas, a noção da subversão na música pop, a idéia ilusória de que existem batalhas a serem vencidas no terreno árido dos índices de sucesso. Que o grande público podia ser forçado a escolher melhor.
Esta é a razão que torna a primeira entrevista dos Sex Pistols em quinze anos algo pelo qual vale a pena ficar ouriçado. Foram eles que fizeram a última tempestade no mundo do rock.
"Tenho muito orgulho mesmo." Lydon está novamente interpretando seu tipo preferido para entrevistas, o de caixa-de-surpresas com aquele olhar arregalado, escolhendo os assuntos desordenadamente. "Curti demais o que eu fiz naquela parte da minha vida. Me acalmei e amadureci em relação ao medo do passado. Agora eu o vejo como realmente foi, maravilhoso e brilhante, mexendo com o mundo da música. Mudamos o curso de rios inteiros de pensamento."
Nada disso te envergonhava? "Não, por que deveria? ´Silly Thing´ me envergonha, mas também nem fui eu que escrevi, não é? Brincadeira, Paul. Não! Não! Tudo continua tão relevante agora quanto naquela época. Dá uma olhada na letra de ´Anarchy In The U.K.´, é mais relevante agora do que na época. ´Prety Vacant´ acho que descreve boa parte da moçada de hoje..."
É difícil não gostar muito de Lydon, quando ele o encara com aqueles olhos azuis intensos que não piscam. "Vejo tudo isto como uma retribuição. Porque, fora dos Sex Pistols, nos transformamos todos em porcaria. E todos esses livros, contrabandos, filmes e documentários sobre nós, nenhum deles se preocupou em tratar aquilo como de fato ocorreu. Quando a Virgin resolveu reeditar tudo, topei no ato. Decidi fazer direitinho. E, como título, acho Kiss This demais."
Você consegue lembrar de algum momento especial que os fez perceber que faziam parte de algo maior do que uma banda de rock?
Lydon faz uma pausa e Cook vê sua chance e investe: "Quando as pessoas começaram a querer nos proibir, acho que percebemos que de alguma forma estávamos acertando."
Lydon encontra o fio da meada: "Foi tudo muito esquisito e aconteceu sob muita, muita pressão. Nós desistíamos toda noite nos ensaios. Nós não tínhamos noção de como éramos bons. Que pena."
Era mais excitante assim, ou dava mais medo?
"Dava muito medo", John responde sem hesitar. "Nenhum de nós podia andar pelas ruas e não tínhamos dinheiro para ficar andando de táxi. Então, tomávamos metrô, ônibus e era uma batalha constante. Alguém sempre queria meter a mão na tua cara."
"Especialmente", lembra Paul, com um leve sorriso, "depois daquela história do Bill Grundy."
John me aponta uma cicatriz no punho. "Fui estraçalhado uma noite por um grupo que dizia ´Amamos a nossa Rainha´. Está vendo aqui? Comprometeu dois tendões. Nunca mais vou poder tocar guitarra, cara, ha, ha, ha.
Os Pistols lutaram, lutaram muito, até conquistaram território. Mas, embora a fumaça já tenha se dissipado há tempos, a mística continua.
Você fez o maior auê sobre Sid And Nancy na nossa última conversa. "Fiz." Mas agora, não.
"Não. Acompanhei a onda. O filme não causou o estrago que eu achei que fosse capaz. Foi um filme muito maldoso. Eu, o Steve e Paul fomos mal-interpretados. Malcolm McLaren também. O filme reduziu trabalhos importantes à trivialidade. Tirou o valor das canções, do que significaram para as pessoas."
Eles concordam plenamente, entretanto, com a performance que Gary Oldman fez do ídolo Vicious, condenado a ser idiota. Eles a consideram "superboa, assustadoramente boa."
"E..." Lydon dá uma risadinha, "a menina que fez o papel de Nancy foi arrepiante, terrivelmente real. Mas a verdadeira era mais terrível. O pior ser humano que eu encontrei em toda a minha vida. Tão autodestrutiva, rancorosa, vingativa, ressentida, infantil, amarga, hmmm..."
"Só estou pensando em algo para adicionar", Paul ri.
"Tudo o que ela queria", declara Lydon, resumindo, "era se matar e levar com ela o máximo de pessoas possível. Daí toda aquela babaquice sobre heroísmo."
O que vocês acham do aliciador England´s Dreaming, de John Savage?
"Um não-livro, não faz sentido."
Mais um para a linha de fogo: Lipstick Traces, de Greil Marcus.
"Ah, isso foi um absurdo, sinto muito. Foi como o Ulysses de James Joyce, esse blablablá sobre nada específico. Esse livro foi aquele que disse que Michael Jackson era um oportunista! E que eu fazia parte de um movimento secreto, como os maçons, ha-ha-ha..."
John vai lançar o seu próprio livro no início do ano que vem. A banda, que no momento se entende razoavelmente bem, aparentemente - também trabalha com Julien Temple num filme definitivo sobre o agito todo, baseado num arranjo cronológico dos dados arquivados. (Lydon está determinado a não aceitar "nenhum falatório, obrigado").
Lydon: "Trabalhamos quinze anos com essas informações. Fomos uma banda muito ativa, muito entrosada. Com a exceção de Sid, é claro."
Você às vezes pensa o que ele diria de tudo isso?
"Não faz diferença. Ele nunca contribuiu com músicas, gravando, ou qualquer coisa. Sid foi criado por Malcolm McLaren, depois que nós acontecemos."
"Ele foi trazido para a banda porq...", diz Paul continuando a história.
"Nós não podíamos trabalhar com Glen Matlock", diz Lydon fingindo sussurrar dramaticamente.
"Porque", Paul continua sem perder o pique, "Sid era perfeito naquele momento. Estava super a fim de aprender a tocar baixo e estar na banda. Mas tudo isso lhe subiu à cabeça e ele ficou babaca".
Vocês se lembram dele basicamente com carinho? Você, John, já andou malhando ele bastante.
"É claro", diz John indignado. "Ele era meu amigo. Mas se apaixonou por toda aquela ideologia de Lou Reed sobre Nova York, sabe... todo mundo usando drogas e jaquetas de couro ficando na rua até tarde. Ele acreditou..."
Incomoda o fato dele ter sido elevado à categoria de ícone deste século?
"É fácil quando alguém está morto, é fácil manipular as imagens, o enfoque."
"Eu sei", Paul diz. "É algo do tipo ´Velho Sid, foi até o fim, este foi um Sex Pistol verdadeiro´. Mas ele está morto."
"E qualquer um que compartilha desta filosofia deveria acompanhá-lo", John enfatiza. "Quanto menos indivíduos agindo assim nós tivermos no nosso planeta, melhor."
O que nos deixa na mesma, eu suponho. Você vê algum apelo na idéia de tocar juntos novamente?
"Porque, quanto você tem?"
Comportem-se!
"Olha, sem brincadeira", diz Paul. "Todos esses rumores e ninguém nunca veio até nós oferecer nada do tipo, ´Olha, eis a grana, vocês vão fazer?´ Nunca!"
Vocês têm um valor decidido?
John: "Não."
Paul: "Sim."
"Está legal", John rosna. "Um milhão limpo. Cada. Mas corremos um risco muito sério, de acharem que nós somos profundamente cínicos e só fazemos coisas por dinheiro. Eu não seguro essa. E qualquer conversa aqui, teria que passar pelo dinheiro. Eu não vou discutir isso. Não é da sua conta. Não seria simplesmente por isso porque eu não fiz nada só por dinheiro em toda a minha vida. Já tentei ser o homem de negócios corrupto e não deu certo, sou um zero à esquerda nisso."
Então o que vocês acham, leitores, isso foi um sim, ou um não? Suponho que é aqui onde nós entramos.
Vocês se lembram da última apresentação que deram juntos?
John toma um gole de sua cerveja e dá de ombros: "Bem, você já se sentiu enganado: Foi o que aconteceu. Eu só vocalizei o que todo mundo estava sentindo. O único que não se sentia assim era o Sid, porque só ficava fora do ar".
E quando tudo acabou, alívio?
"Não, para mim, não. Uma tristeza terrível, terrível... e muita confusão. Isso me tomou por um ano. Não conseguia... absorver, não conseguia entender porque coisas que não deveriam acontecer, aconteciam. Mas o tempo... cura."
Murmuro uma coisa superficial qualquer, dizendo que não, o que é trágico para qualquer um com algum senso de justiça estética, se apagar o epitáfio e a ética punk, o credo "anyone-can-do-it" (de que "todo mundo pode tocar").
"Infelizmente", John responde, "nós não expandimos essa questão, que qualquer um consegue fazer isso, quando se faz alguma espécie de esforço."
"E", Paul acrescenta, "quando se tem um pouco de talento."
Kiss This é um bom memorial, um pedaço de fúria cega visionária, que apresenta dois ou três dos melhores singles já feitos, um pedaço razoável de besteira desnecessária e uma excitação louca de desafeto. Lydon e Cook mantêm - corretamente e erroneamente, na minha opinião - que não houve nada parecido desde então. E ficam satisfeitos com a esperança - que será frustrada, na minha opinião - que este jeito de ser e esta questão, podem inspirar gerações futuras.

29 disparos das pistolas sexuais

þ A loja de Malcolm McLaren, onde a banda foi formada, existia desde 71 com o nome de Let It Rock, depois mudando para Too Fast To Live, Too Young Too Die e, finalmente, para Sex.
þ Lá se reuniram os colegas Steve Jones (guitarra) e Paul Cook (bateria), que chamaram um amigo, Wally Nightingale, para formar uma banda.
þ Em 74, o grupo chamava-se The Swankers e tocava covers dos anos 60 e os primeiros trabalhos próprios.
þ Em meados de 75, Malcolm McLaren voltou de uma temporada de seis meses pelos EUA, onde trabalhou com os New York Dolls e conviveu com a emergente cena musical nova-iorquina.
þ Glen Matlock, que trabalhava na loja de McLaren, começou a tocar baixo com Jones Cook. O passo seguinte foi pôr alguém adequado para cantar.
þ A primeira sugestão de McLaren para vocalista da banda, já rebatizada como Sex Pistols, foi Richard Hell (considerado o inventor do visual punk e que havia acabado de deixar o Television).
þ O teste, para John Lydon virar Johnny Rotten nos Sex Pistols, foi feito com ele cantando "School´s Out", junto com a gravação original de Alice Cooper, tocada na jukebox da loja de McLaren.
þ Em outubro de 76, assinaram um contrato de quarenta mil libras esterlinas (cerca de oitenta mil dólares) com a EMI, após serem sondados pela Polydor, pela Chrysalis e por outras gravadoras.
þ O single "Anarchy In The U.K." foi lançado em 26/11/76.
þ Depois de terem usado a palavra "fuck" em entrevista ao apresentador Bill Grundy, na TV inglesa, tiveram o contrato rescindido pela EMI e a maioria de suas apresentações canceladas (inclusive algumas da Anarchy In The U.K.Tour, que faziam com The Clash, The Damned e The Heartbreakers).
þ O baixista Glen Matlock (o único com alguma formação musical), foi convidado a se retirar da banda por "gostar dos Beatles". Sid Vicious (que mal sabia empunhar o baixo) o substituiu.
þ O nome verdadeiro de Sid Vicious era John Simon Ritchie (algumas fontes o citam como John Beverly).
þ Em maio de 77, o grupo assinou com a gravadora Virgin.
þ Durante o mês de setembro, em questão de dois dias, Steve Jones (junto com o produtor Chris Thomas e o engenheiro de som Bill Price) e Paul Cook foram atacados com navalhas e facas por gangues nas ruas de Londres.
þ Devido ao boicote promovido aos shows dos Sex Pistols, o grupo começou a tocar sob pseudônimos como SPOTS (Sex Pistols On Tour Secretly), The Tax Exiles, Special Guest e Acne Rabble.
þ No começo de novembro, o álbum Never Mind The Bollocks...Here´s The Sex Pistols entrou em primeiro lugar na parada britânica, apesar de ter suas músicas banidas das rádios e TVs.
þ Ao ser lançado Never Mind The Bollocks..., "Anarchy In The U.K." e mais três faixas já circulavam como singles e outras em coletâneas piratas.
þ A edição americana do álbum trazia as músicas em outra seqüência, uma faixa a mais e a capa em cor diferente.
þ Sua primeira turnê pelos EUA durou exatos nove dias (de 5/1 a 14/1/78), terminando com o último show dado pelos Sex Pistols, no Winterland, de San Francisco. Em seguida, a gravadora anunciou o "fim oficial do grupo".
þ A banda durou catorze meses (de novembro 76 a janeiro de 78).
þ Em fevereiro de 78, Jones e Cook vieram ao Brasil, sendo hospedados pelo notório "ladrão do trem pagador" Ronald Biggs. Gravaram com ele a canção "No One Is Innocent".
þ Sid Vicious foi preso em Nova York em 11/11/78, acusado de ter matado sua namorada, Nancy Spungen, a facadas.
þ Sid morreria por overdose de heroína, também em Nova York, em 2/2/79.
þ Começaria então a batalha judicial entre o grupo, McLaren e a Virgin, pelo espólio dos Sex Pistols. A disputa terminaria em 86, com Lydon, Jones, Cook e a família de Sid Vicious ganhando os direitos sobre os trabalhos da banda.
þ John Lydon encabeçaria o Public Image Ltd. (qua havia formado em 78). O grupo, no início, parecia ser um passo adiante na iconoclastia pregada pelos Sex Pistols (com novas possibilidades musicais), mas foi se esvaziando aos poucos e se perdeu na repetição das fórmulas que criou.
þ Steve Jones formo o efêmero The Professionals (com Paul Cook), tocou com o Chequered Past, gravou um par de álbuns solo no fim dos anos 80 e colaborou em discos de Andy Taylor (Duran Duran) e Iggy Pop. Atualmente, vive em Los Angeles, onde pratica futebol, produz eventualmente algumas bandas de metal e participa de reuniões para recuperação de ex-drogados.
þ Paul Cook, após a banda com Jones, formou os Chiefs Of Relief (com o guitarrista Matthew Ashman, ex-Bow Wow Wow). Hoje em dia é o mais preocupado com os produtos ligados aos Sex Pistols, à frente da companhia Glitterbest, que fundou com Lydon e Jones.
þ Glen Matlock saiu do grupo para montar os Rich Kids, de curta duração. Passou por várias bandas menores. Em 90, lançou sua autobiografia: I Was A Teenage Sex Pistol. Atualmente, toca com um grupo chamado The Mavericks.
þ Malcolm McLaren continuou sua carreira de agitador musical, produzindo o Bow Wow Wow e fazendo discos solo (onde fuincionava mais como agregador de tendências do que como participante). Se aventurou pela world music (Duck Rock) e em bizarras misturas de hip hop/ ópera (Fans) ou funk/música clássica (Waltz Darling)

( 1986- CD-ROM Bizz 20 Anos ) Esta entrevista é uma coisa muito séria. Ela reflete pelas suas ênfases, silêncios e ausências - a história de uma guerra. Dois olhos azuis como duas bolas de fogo delimitam o campo de batalha. O guerreiro tem um olhar letal, ao qual todas as. Interrogações se submetem. John Lydon, 30 anos, londrino, ícone, face pública e imagem Idem, tem o estofo de que são feitos os Átilas e Alexandres. Junto com o ladino camaleão Davld Bowie, pode ser considerado como o mais crucial artista pop desta época. Ele é cool, cáustico e nada concede. Bowie maneja cálculos Lydon é um espadachim de fúrias.
Como Johnny Rotten, líder dos avassaladores Sex Pistols, Lydon esguichou o anárquico sêmen punk na sebosa, auto-suficiente e multlbilionária indústria do disco. O maquiavéllco pirata Malcolm McLaren teve o gênio de descobri-lo, e de forjar a cosmovisão e a soundscape punk. Lydon adicionou explosões com o virtuosismo de um terrorista do IRA. Entre 20 e 21 anos, em 76 e 77, pisou na passarela do planeta como o ícone máximo da Raiva e da Negação. O Satã da Anarqúla, com slogans e alfinetes nos lóbulos. O totem descarnado da geração no future. O niilista ativo que detonou um renascimento o da cultura pop Internacional.
Esgotada a vertigem, iniciado um novo ciclo, John Lydon partiu para uma nova vida pública. Em sentido inverso, ou seja, perpetrando uma série de fugas. Lydon livrou-se de todas as etiquetas que público e crítica grudaram em sua persona. Deu um nó na Influência ubícua do ubícuo Malcolm McLaren-o Lênin do punk. Controlou sua Imagem pública para não ser encaixado como um previsível e desnecessário "rebelde". Adotou sua "verdadeira" Identidade-John Lydon-e fundou sua antítese, o Public Image Ltd. (PIL), em 78: uma banda/conceito em constante mutação de músicos e estilos. Em dez compactos e sete LPs, Lydon, com uma paciência zen, reconstituiu todos os fragmentos espalhados pela bomba nuclear punk. Fez a primeira fusão punk/funk (depois retomada e estilizada com Afrika Bambaataa), experimentou com metalismos inaudíveis, chupou do serialismo, delirou com alucinações e meditações orientalizantes, Incorporou bits de eletrônica, fundiu a cabeça no Japão (também em disco e em vídeo) e chegou a um aperfeiçoamento heavy metal Intelectual com soretons de dub esquizo-urbano.
Esse nome, Imagem Pública Limitada, já é um acinte proposital. O fantástico é que Lydon pegou a sua Imagem pública um punk anárquico e raivoso e a deixou em aberto. Como se dissesse: façam dessa imagem o que quiserem, porque nunca vão decifrar o que ela oculta. Lydon transformou-se em uma empresa Impessoal, que está vendendo um produto como qualquer outra no supermercado. O conceito fico "explícito na campanha de lançamento do último LP (o primeiro a ser lançado no Brasil): tudo está embalado em branco, com rótulos genéricos em azul: "Album", "Cassette", "Excursão", "Anúncio", "Camiseta"... É a mordida de tubarão de Lydon nas solertes técnicas de marketing e propaganda. A mídia também não escapa do seu ácido nítrico: exímio jogador, ele não perde oportunidade de lhe devolver seu próprio vazio e espetacularização barata. Quando a mídia fala com Lydon, é como se falasse com um espelho: recebe de volta o que Jogou.
Por essas e outras esta entrevista é uma coisa séria. É Brasil, é uma coisa longínqua para seu universo de referência, por isso Lydon foi capaz de tirar máscaras. O retrato é emocionante. Vemos uma figura de lucidez absoluta, que surpreende por não se adaptar a nenhuma classificação - ou seja, como qualquer ser humano brilhante. Lydon agora carrega um certo ar de playboy e milionário - depois que ganhou seu cheque de um milhão de dólares, vencendo Malcolm McLaren na corte pelos direitos do nome Sex Pistols. Mesmo assim, continua um outsider. A mediocridade é o seu maior Inimigo. A amargura, suavizada pelo sarcasmo, é uma companheira recorrente. O senso de humor é um amigo do peito. Lydon bebe como uma esponja, e chega a se classificar de cervejaria. Essa conversa anfetamínica publicada em compacto em O Estado de S.Paulo e mixada em versão original para Bizz só poderia ter transcorrido em um decrépito pub de esquina.

BIZZ - Dez anos depois, você, Malcolm McLaren e Billy Idol estão vivendo em Los Angeles, símbolo de tudo que o punk odiava.
Lydon - Não, eu estou vivendo em Londres e na América. E em diversos outros lugares. Eu não paro de andar pelo mundo inteiro. Malcolm é que está em Los Angeles, parece que agora ele quer virar cineasta...

BIZZ - De onde vem o seu fascínio pela América?
Lydon - É uma terra completamente louca. Não tem história. Lá tudo com mais de vinte ou trinta anos é pré-histórico. Tudo é cultura. É muito divertido. Não tem nada a ver com a estagnação da Europa. Aqui está tudo acabado. Tem gente que ainda pensa como na época feudal. A América não pára de evoluir.

BIZZ - Você consegue viver em paz em Los Angeles?
Lydon - Claro. É um lugar louco mas civilizado. As pessoas têm o que fazer e não ficam se importando com o passado. Isso é coisa da Inglaterra.

BIZZ - Você foi o símbolo da geração no future. Agora parece mais preocupado em romper com o passado. Você tem esperança no futuro?
Lydon - Não acredito em ficar por aí espalhando mal-estar e desespero. A América, por mais calhorda que seja o seu governo, tem chance de um grande futuro. As pessoas estão olhando para a frente. Aqui (na Inglaterra) não tem jeito. É uma ilha. Todo mundo só olha para o seu umbigo ou para trás. Ninguém sabe nem quer saber o que acontece no resto do mundo. Sofrem... Como sofrem esses pobres coitados... E ainda por cima têm complexo de superioridade.

BIZZ - Mas a garotada aqui te idolatra. Eles te escutam, quando você fala o que pensa da Inglaterra?
Lydon - Aqui as pessoas confundem tudo. Acham que o relógio parou em 76. Todo show tem uns cretinos jogando garrafas, taco de bilhar, pedaço de pau, cerveja, cuspindo no palco. Sempre tem uns satãzinhos na platéia.

BIZZ - De quem é a culpa? Da mídia, que vive escavando o passado com nostalgia?
Lydon - É coisa do New Musical Express (semanário musical londrino "radical"). Eles não entendem nada. Vivem reclamando de tudo. Acham que são revolucionários. Muitos queriam ser eu. Não são, e vivem frustrados Quanto mais eles vão para a esquerda, mais eu vou para a direita, só para irritá-los.

BIZZ - Então você se incomoda com as provocações da imprensa...
Lydon - Não. É para irritar. Gente como a do NME se acha superior a todo mundo. Eles acham que podem ser a polícia secreta de Khomeini. É por causa de gente assim que esse país está no fundo do poço.

BIZZ - Eles acham que você traiu o espirito do punk, ou coisa do gênero. O que é que os americanos acham dessa história?
Lydon - Não se incomodam. Eles estão certos. O punk aconteceu há dez anos. É uma coisa do passado. Eu mesmo, quando aparecí, falava nisso. Ir para a frente, progresso, nunca regredir.

BIZZ - Você diria que a garotada e as bandas que restaram daquela época, continuam vivendo de memórias?
Lydon - É um bando de estéreis. Tem gente que vai gravar e se sub-produz de propósito, pará ficar com um som igual a 76. É ridículo.

BIZZ - Album é um disco ultra bem produzido.
Lydon - Tem que ser. Usei os melhores músicos de estúdio. A minha banda em L.A.não tinha experiência de gravação, então fui atrás dos melhores músicos do mercado. Eu já tinha trabalhado muito bem com Bill (Laswell, o baixista e produtor dos melhores experimentos avant-funk dos últimos anos, pelo selo novaiorquino Cellulloid).

BIZZ - Nos únicos créditos de Album, vocês constam como produtores.
Lydon - É, mas eu dei a última palavra. Bill entrou com os "efeitos especiais" .

BIZZ - Como é que Ginger Baker, notório hippie, foi parar na bateria? Você foi buscá-lo na sua fazenda lá na Itália?
Lydon - É uma piada que eu fiz há muito tempo. Eu dizia que um dia ele ia tocar comigo. Depois deixou de ser piada. Ele é um excelente baterista perfeito para a batida forte que eu queria no disco.

BIZZ - Você é sempre uma ameaça aos preceitos da indústria do disco. Como conseguiu convencer sua gravadora a fazer essa campanha promocional de Album, onde tudo é genérico, não há nenhuma imagem sua e o impacto depende de quem reconhece a sigla PiL?
Lydon - Não convenci. Eles soltaram a campanha porque fui irredutível. Sem a campanha não tinha disco. Não me ajudaram nessa excursão. Estou pagando quase tudo do meu bolso. Faço porque gosto, porque gosto do disco...

BIZZ - Que por sinal está sendo o maior sucesso do PiL. É o primeiro LP da banda a ser lançado no Brasil.
Lydon - É uma nova ameaça em cima de mim. Estão querendo me tornar popular.

BIZZ - O que você faria se de repente virasse um grande sucesso internacional?
Lydon - Ficaria envergonhado.

BIZZ - Em Album há uma série de referências a dinheiro. É uma obsessão ou um problema?
Lydon - Sempre foi um problema.

BIZZ - Esse cheque de um milhão de dólares é uma mudança radical na sua vida?
Lydon - É o fim de um problema.

BIZZ - É verdade que Malcolm McLaren pagava uma miséria a vocês no tempo dos Pistols?
Lydon - Malcolm parecia um banco judeu. Eu ganhava acho que 20 libras por semana. Vivia pedindo para ele me pagar cerveja.

BIZZ - Como é que vocês dois foram parar na justiça?
Lydon - Pergunte a ele. É óbvio para qualquer um que os royalties de uma banda pertencem apenas à banda. Ele disse que tinha inventado o nome Sex Pistols, a banda, tudo.

BIZZ - É verdade?
Lydon - Claro que não. Nós Steve, Paul, Sid e eu inventamos o nome.

BIZZ - A pergunta é meio incômoda, mas todo mundo quer saber: quem inventou o punk?
Lydon - Malcolm, os Sex Pistols, Vivienne Westwood. Foi tudo muito rápido.

BIZZ - A letra de "Anarchy in The U. K." tem vários slogans situacionistas de maio de 68. É uma coisa de Malcolm McLaren, não?
Lydon - Ele mexia nas letras, claro. Mas tudo era basicamente nosso. Dos Sex Pistols. "Anarchy" é uma coisa do passado. Eu não quero saber de nostalgia.

BIZZ - Você ainda canta alguma música dos Pistols, ao vivo?
Lydon - "Pretty Vacant" mas porque a música é muito boa. Não tem nada a ver com nostalgia.

BIZZ - Você acha que é possível se conceber e agir com anarquia, hoje? Você cresceu, deu a volta ao mundo, ficou muito mais sábio e experiente, conhece todas as armadilhas da indústria, mas continua tendo uma força anárquica que perturba tremendamente...
Lydon - Anarquia é um jeito de ter esperança no futuro. Mas hoje não passa de um joguinho na cabeça de gente acomodada. Acham que podem fazer uma revolução sentados na poltrona da sala de frente para a TV. Se a anarquia fosse mais do que isso...

BIZZ - Você acha que com os Pistols conseguiu anarquizar uma indústria clnica, que corrompe e engole todo mundo?
Lydon - Nós demos um chute no saco do rock´n´roll. Depois tudo ficou tão trágico quanto era antes. Ou pior.

BIZZ - Para você, o que é que se salva, hoje?
Lydon - Não sei nem quero saber.

BIZZ - O que, na sua opinião, a garotada mais aprecia em você, depois de todos esses anos?
Lydon - Integridade. Outros preferem ficar cuspindo e posando.

BIZZ - E por que você acha que a mídia continua lhe pregando essa imagem de satã?
Lydon - É a fantasia deles. Para mim tanto faz.

BIZZ - Os Pistols e McLaren, manipularam todas as técnicas de marketing possíveis para conseguir visibilidade.
Lydon - Fomos tão cínicos quanto eles.

BIZZ - Sim, mas o que você acha dessas bandas hoje que estão fazendo a mesma coisa, desde Frankie Goes to Hollywood a Sigue Sigue Sputinik... ?
Lydon - É uma piada. E não são eles que vão rir por último.

BIZZ - Esse ritual de entrevistas, falar com a mídia, fazer clip, isso deve te encher o saco. Qual é a sua atitude?
Lydon - Minto o tempo todo.

BIZZ - Inclusive agora?
Lydon - Quem sabe.

BIZZ - Você viu Sid and Nancy, O filme de Alex Cox?
Lydon - Não. Presta? Não sei se pode prestar...

BIZZ - Alex Cox, no Festival de Cannes, disse que vocês dois se encontraram e reescreveram a maior parte de suas falas.
Lydon - Um dia, em Nova York, mas os dois estávamos bêbados. Não sei o que aconteceu. Não vi o filme, mas não sei se fala a verdade.

BIZZ - Você acha esse filme importante como um documento pelo menos do espírito do punk? O que você acha de virar uma figura histórica?
Lydon - Ninguém pediu minha autorização. Acho uma grande falta de respeito.

BIZZ - Você acha que a sua imagem pública, para a maioria absoluta das pessoas, continua sendo a do Johnny Rotten nosposters de 77?
Lydon - Isso é coisa de gente apática que não tem a menor energia para enfrentar o futuro, avançar. E patético, me dá raiva, mas não adianta se incomodar .

BIZZ - Você acha que um dia pode soltar um livro, ou um filme, contando a sua versão dos fatos? Todo mundo, no mundo inteiro, quer saber o que realmente aconteceu, como o nascimento, ascensão e morte do punk.
Lydon - Será que querem? As pessoas gostam é de escândalo, de Daily Mirror (um tablóide sensacionalista londrino). Vou terminar fazendo alguma coisa, mas não sei quando. Esperem ansiosamente.

BIZZ - Em Round, você fala de "cogumelos no horizonte" e holocausto nuclear. Parece uma profecia, algo que vai acontecer daqui a pouco.
Lydon - Prefiro que seja uma profecia e ficar discutindo, em vez de sentar pateticamente e pensar como era bom viver no passado, lendo esses jornais idiotas, vendo televisão, engolindo todo esse lixo. Pode ser que eu esteja errado, mas esses putos desses militares podem mandar todo mundo para a fogueira.

BIZZ - Em Rise, que é uma admirável canção anti-racista, você fala que "pode estar certo ou pode estar errado", e "podia ser negro como podia ser branco". Tudo é relativo. E acaba com uma profissão de fé na raiva: "a raiva é uma energia". É quase um resumo de sua filosofia devida, não é?
Lydon - Tudo é relativo porque cada um vê o que quer, e o que pode. E sem raiva não dá para mudar nada desta merda que virou o mundo.

BIZZ - Você acha que tenta tudo o que pode?
Lydon - Faço uns discos de vez em quando.

BIZZ - Algum recado para a garotada que acompanha e respeita o teu trabalho?
Lydon - Continuem com raiva e nada de nostalgia.

BIZZ - E para os que te acusam de "traidor do punk", "playboy americano" e coisas do gênero?
Lydon - O mesmo de sempre: comam merda e morram.

(1987 – CD-Rom Bizz 20 Anos) JOHN LYDON - O AVESSO DO AVESSO VEM AÍ - Com uma curta passagem pelo Rio e São Paulo no final do nosso inverno, o PIL e cumprirá a etapa sul americana de sua turnê mundial. São apenas alguns dias, que certamente deixarão muitos grilos e minhocas o em nossas cabecinhas. Primeiro, com os Pistols e depois com o PIL, o infernal John Lydon sempre fez cair nossos queixos. Sua dinâmica de trabalho é simples mas tão diferente do que fazem os outros! Criar destruir, enfrentar os cassetetes dos bobbies, os vetos da BBC, a caretice dos programas de entrevistas e as cusparadas dos fãs. Lançar discos totalmente diferentes um do outro, não dar bola para as criticas ou paradas de sucesso, moda ou qualquer padronização de atitudes.
As coisas por aqui não serão as mesmas. Ainda assim, que a nossa índole deslumbrada nos impeça de tratá-lo como um bicho de outro planeta! O arquiinimigo do sol não vai a praia, mas esta interessado no samba e quer poder passear pelas ruas. Tentando redesenhar seu bizarro percurso, Thomas Pappon ligou para o estúdio em Londres, no qual Lydon esteve gravando o novo LP do PIL.

- Alô.
- Alô? Eu gostaria de falar com
- Mr.Lydon.
- Sou eu.
- OH! Como vai você?
- Bloody awful as usual!

Bizz - O que você está achando de vir ao Brasil?
John - Bem, espero que não sejamos recebido como uma gigantesca superbanda Estaremos tocando apenas em lugares pequenos.Acho isso legal. Li coisas horríveis de grupo como o Cure dizendo que nos shows na América do Sul haviam multidões causando distúrbios. Espero que não aconteça nada disso. Acho que eles estavam falando da Argentina. Me pareceu terrível. Acho que o público estava enfrentando a polícia.

BIZZ - Mas acho que a expectativa é de que muita gente vá ver o PIL.
John - Mesmo? Nos disseram que o público será pequeno. Me falaram que eu mal sou conhecido por aí.

BIZZ - Por que você não veio ao Brasil para as filmagens do Great Rock´n´roll Swindle (filme feito em 78 com os Pistols, por Julian Temple)?
John - Porque os Sex Pistols tinham acabado. Quando Malcolm (McLaren) levou o resto da banda até aí, ele não se incomodou em me avisar que eles estavam indo para o Brasil. Não sabia nada disso.

BIZZ - Então você nunca esteve no Brasil?
John - Nunca. Não celebro a glória de ex-ladrões de banco. Pessoas como Ronald Biggs não estão na lista das pessoas que visitaria aí. (N. da R.: Ronald Biggs faz uma aparição com os Pistols em Great Rock´ n´ Rol! Swindle).

BIZZ - Você sabia que ele possuía um clube noturno no Rio de Janeiro (o Crepúsculo de Cubatão)?
John - Não, não sabia. Tudo o que sei é que no grande assalto do trem, em que esteve envolvido, o condutor foi transformado em um vegetal porque eles esmagaram o cérebro dele de tanta porrada. É desse lado que eu vejo as coisas; penso no condutor, e não no vigarista.

BIZZ - Você conhece a musica brasileira?
John - Muito pouco. Sei que aquele medonho Julio Iglesias é popular aí em baixo. O que me pareceu das declarações do Cure é que os mais jovens aí devem achar que eu estaria agindo como turista se mostrasse interesse pelo samba, o que, evidente-mente, vai acontecer. E engraçado que as pessoas nunca apreciam muito a cultura própria, elas sempre querem algo diferente.

BIZZ - Mas a música popular brasileira não tem muito acesso às rádios. Os mais jovens preferem ouvir o Cure ou o Simple Minds.
John - Havia uma época, aliás, ainda há, em que pessoas como eu não tinham acesso às maiores estações de rádio na Inglaterra. Na verdade eles se recusaram a tocar meus discos, porque sou o inimigo. Eu mudei a sociedade. Não me dou bem com o que é normal. Considero um cumprimento brilhante não ser tocado nas rádios. Se o que você está fazendo é inaceitável para as massas, perdão, pelo poder, pelo governo, isto é um sinal de que você está fazendo a coisa certa.

BIZZ - Como é que se vendem discos sem as rádios?
John - Até que eu fui bem-sucedido nisso, você não acha? A pobreza está comigo, é de onde eu venho. Não sou rico e nunca serei, nunca estive nisso por dinheiro. Não me incomodo com dinheiro; adoraria ter um monte, mas só se for nos meus termos.

BIZZ - Mas você não é milionário? Ouvimos dizer que você se mudou para os EUA e que vive numa mansão...
John - Isso é lorota! Eu me mudei para os EUA por causa da violência policial (na Inglaterra). Me cansei deles destruírem minha casa semanalmente, é por isso que fui para a América.

BIZZ - E o que você está fazendo em Londres neste momento?
John - Eu me mudei de volta.

BIZZ - Por quê?
John - Porque as coisas não estão mais tão difíceis para mim agora. Apesar da polícia não gostar muito de mim, eles têm que me tolerar. Ninguém me tira de qualquer lugar por muito tempo. E, sendo irlandês, não consigo pensar em um lugar melhor para ficar do que em Londres.

BIZZ - Você é irlandês?
John - Sim. Parece que eles nunca mencionam esses pequenos detalhes importantes, não?! Você sabe, essas coisas que realmente importam...

BIZZ - Quantos anos você tem?
John - O suficiente... Sou um homem muito velho.

BIZZ - Aqui está para sair o primeiro LP do PIL, o First Issue. Fale - nos sobre a gravação deste disco.
John - Na primeira vez que eu apresentei o disco, o público europeu o odiou, porque ele era chocante e saiu logo em seguida ao final dos Pistols (os Pistols continuaram alguns meses sem Johnny Rotten). Mas, desde esse momento, a sua forma tem sido copiada por muitas bandas. O estilo de guitarra que eu introduzi, o jeito de tocar as coisas, tudo isso foi copiado massivamente. Grupos como os Banshees, Simple Minds e o Cure, nenhum deles poderia ter seguido carreira sem esta influência. Isso eu afirmo com tranqüilidade, Fui copiado várias vezes, mas nunca melhorado.

BIZZ - Você ainda tem contato com Jah Wobble e Keith Levene (respectivamente o baixista e o guitarrista da formação original do PIL)?
John - Wobble ainda é meu amigo. Não sei o que Keith anda fazendo agora. Ele casou com uma rica garota americana, e essa foi a última vez que o vi. Good riddance to bad rubbish (boa saída para uma vida dura), é como eu diria... (pausa). Estaremos tocando algumas músicas dos Pistols no Brasil. Acho que isso é uma boa.

BIZZ - Quem está vindo com você?
John - Minha banda, com John McGeogh (guitarra), que tocava com os Banshees e escreveu as melhores composições deles. Lu Edmonds (guitarra), que tocava no Damned. Bruce Smith, ex-baterista do Pop Group, e o baixista Alan Diaz.

BIZZ - Outro disco do PIL já lançado no Brasil é o Álbum. Fale um pouco da gravação deste LP. Como que você entrou em contato com Bill Laswell (o produtor)?
John - Conheci Laswell quando trabalhei com Afrika Bambaataa. Fiz um disco com Bambaataa (o single World Destruction), produzido por Bill Laswell. Ele disse "vamos fazer um álbum juntos", e foi exatamente isso que aconteceu.

BIZZ - Você compõe no estúdio?
John - A maioria das coisas são feitas fora do estúdio e já estão prontas mesmo antes de começarmos a gravar. Uma das poucas músicas que fizemos no estúdio foi "Rise". Fizemos ela numa sessão ao vivo, e ela acabou sendo a melhor. Gosto de improvisar em estúdios, quando tenho oitenta por cento do material quase pronto, o que te possibilita vinte por cento de diversão... e isso é importante. Não posso fazer isso de outra forma porque não tenho dinheiro para tanto. Não posso me dar ao luxo de entrar em estúdio sem idéias definidas. Não conheço muita gente que pode fazer isso, exceto grupos como os Rolling Stones - e ouça o lixo que eles estão fazendo.

BIZZ - Você escolheu os músicos que tocam no Álbum?
John - Sim.

BIZZ - Como foi a relação com Ginger Baker?
John - Perfeita.Para esse disco eu queria o baterista mais barulhento e alto do mundo, e esse era Ginger Baker. Ele é um animal. Na primeira gravação ele conseguiu destruir metade do kit de bateria. Ele simples-mente furava uma pele atrás da outra... isso me impressionou bastante.

BIZZ - É verdade que Jaki Liebezeit (baterista do extinto grupo alemão Can) é um dos teus bateristas prediletos?
John - Sim, é bem verdade.

BIZZ - Que tipo de música você gosta de ouvir atualmente?
John - Reggae... reggae, tudo o que é renascentista, todos os tipos de música folclórica, todos os tipos de mad-jazz, um monte de rock, muito soul, disco, hip-pop... tudo. Gosto de ouvir de tudo. Não ouço discos por uma questão de atitude. Ouço porque eles me soam bem. Não ligo para quem está tocando ou para a feiúra do intérprete. Se soa bem, então eu gosto. Não importa se é um som prostituído ou algo assim; se for resoluto, deliberado, tudo bem.

BIZZ - O que você acha da atual música pop inglesa?
John - Desprezível.Realmente terrível. Ela está cheia de homossexuais. Fraca. Insípida. São todos covardes. Eles não querem se envolver com nada, eles fogem de brigas e confrontos. Eles querem que todos os amem, o que é uma atitude sem sentido. As pessoas me odeiam -tudo bem -, mas pelo menos o que faço é honesto e claro. Eu considero isso importante e é isso que está sempre por trás do que faço.

BIZZ - Você ouviu os novos LPs de David Bowie e 199y Pop? O que achou desses discos?
John - Não muito inspiradores.

BIZZ - Você está gravando um novo disco?
John - Sim, estamos no estúdio neste exato momento. Vai ser um disco bem pesado. Se você achou que Álbum não tem um momento de descanso, então espere até ouvir este novo. É bem resoluto, pesado. Não gosto muito do termo "rock´n´roll", mas se ele fosse usado corretamente então caberia para definir nosso trabalho.

BIZZ - Quem está produzindo o disco?
John - Nós e Gary Langham.

BIZZ - Quais são seus planos para o Brasil? Você pretende visitar lugares ou pessoas?
John - Não vou ter tempo suficiente para isso, é uma viagem curta. Se as coisas forem bem eu voltarei outra vez. Você tem que compreender, ouvi muitas histórias de horror sobre o Brasil. Ouvi dizer que os promotores têm uma tendência de não pagar as pessoas, equipamento é roubado e coisas do tipo.

BIZZ - Quem te falou isso?
John - Bem, as coisas vão chegando... Histórias de terror vindas dos empresários de Nina Hagen. Realmente não sei, estou indo com a mente aberta... como sempre.

BIZZ - Acho que você vai gostar muito daqui.
John - Gostaria de ter uma chance de andar pelas ruas, o problema é que meu visual é bem peculiar. Sou extremamente branco. O sol nunca tocou minha cara há anos, estarei parecendo o Drácula.

BIZZ - Você poderia visitar umas praias belíssimas aqui...
John - Mas eu estaria frito em trinta segundos, porque sou branco demais. Não posso tomar sol. Lembre-se que estamos na Europa e está chovendo bem neste instante.

BIZZ - Você planeja tocar na Argentina?
John - Estivemos tentando isso, mas eles não deixaram. Aparente-mente o governo disse "não". Parece que a situação está estranha lá, como sempre. Alguns anos atrás, você se lembra das Falklands, Malvinas, tanto faz como eles querem chamar aquelas estúpidas ilhas que os levaram à guerra? Eu tentei excursionar ali quando aquilo aconteceu. Quis fazer uma turnê pela Argentina, porque nunca aprovei a conduta do governo britânico. Mas os argentinos não nos deixaram entrar.

BIZZ - Quais são seus planos para depois da turnê brasileira?
John - Estarei excursionando por uns bons nove meses, é uma turnê mundial. Começaremos pela Escandinávia.

BIZZ - Espero que a turnê seja um sucesso.
John - E eu também. Se não for, vou te responsabilizar pessoalmente por isso (ameaçador). Se você publicar um monte de mentiras...

( 1994 – CD-ROM Bizz 20 Anos ) JOHN LYDON - CONFISSÕES DE UM PUNK QUANDO JOVEM - John Lydon (ex-Johnny Rotten, vocalista do Sex Pistols) nasceu, cresceu e provavelmente vai morrer punk. Seu tom sarcástico e suas posições extremamente críticas não foram amenizadas pelo tempo: o John com quem conversei é o mesmo que, há quinze anos, tornou-se ícone de uma geração insatisfeita com o marasmo musical "progressivo".
Polêmico, John finalmente resolveu colocar um ponto final nas mentiras, lendas e incorreções a respeito de seus tempos de Sex Pistols. Agora, tudo o que (segundo ele) realmente aconteceu no período que foi da criação à dissolução da banda pode ser conhecido em detalhes em Rotten: No Irish, No Blacks, No Dogs. O livro traz uma seqüência de entrevistas com artistas que participaram do movimento punk, entre eles Steve Jones e Paul Cook (respectivamente guitarrista e baterista do Sex Pistols), Billy Idol (que, acreditem, começou no punk como vocalista do Generation X) e Chrissie Hynde (The Pretenders). Além do próprio Lydon, claro.
O livro parece um filme-documentário. Fala do estilo "anti-fashion" do punk, das divergências com o empresário Malcolm McLaren, das aventuras e desventuras de Sid Vicious - o baixista dos Pistols, que morreu de overdose de hero1 ma logo após sair da prisão -, das gravações e shows da banda, além de trazer fotos inéditas do acervo pessoal de John Rotten... tem até um mea culpa do autor em relação à morte de seu amigo de escola Sid Vicious: "Eu poderia tê-lo ajudado. Se não fosse tão preguiçoso e não tivesse lavado as mãos... Vou carregar essa culpa comigo até o túmulo." O livro também perdoa Malcolm McLaren, que afirma ser o "criador" do punk. Apesar de Lydon haver lutado contra ele na Justiça por direitos autorais, o livro afirma: "Acreditem: não existe animosidade entre mim e Malcolm."
Por causa de todo esse caldo grosso que recheia a obra, John conseguiu mais uma vez: o livro foi lançado com estardalhaço nos Estados Unidos, de onde ele falou com exclusividade para a BIZZ.

Por que escrever este livro depois de tanto tempo?
Só resolvi escrevê-lo porque um monte de asneiras foram ditas e escritas sobre os Pistols durante esses anos, principalmente pelos jornalistas. Disseram tanta mentira sobre mim que quis contar tudo o que realmente aconteceu.

Por que você escolheu como subtítulo No Irish, No Blacks, No Dogs?
Por causa do preconceito. Os ingleses discriminam qualquer um que não faça parte de sua casta. O título se refere às placas encontradas na porta dos banheiros de estabelecimentos ingleses.

Qual foi a participação real de Keith e Ken Zimmerman, os co-autores?
Eles são meus amigos. Me ajudaram nas entrevistas com pessoas ligadas ao punk.

Ao buscar depoimentos de pessoas que participaram dos acontecimentos, você quis provocar debate?
Não só isso. Quis mostrar os fatos de forma precisa. De outra maneira, seria apenas mais um ponto de vista - o meu.

Você planeja continuar escrevendo?
Devo escrever sobre os dias do PIL (a banda que John fundou ao sair dos PistoLs). Mas não agora. Só quando o PIL acabar. Afinal, tudo chega ao fim um dia...

E quanto a um novo disco da banda?
Não há previsão. Estou trabalhando em um disco solo que sairá em setembro.

No livro, tem-se uma impressão de nostalgia. Parece que você gostaria que o Sex Pistola tivesse continuado.
O livro não tem nada a ver com nostalgia ou autobiografia. Eu simplesmente quis mostrar como as coisas aconteceram.

Você é contra a religião. No livro, chega a dizer que religião é lavagem cerebral. Qual é sua relação com Deus?
Ele está lá, eu estou aqui. Um dia eu me aproximo de Deus. Talvez quando eu tiver aprendido mais... Eu chego lá.

Você diz, no livro, que não se importava com política durante os dias dos Pistola, mas que agora acompanha.
Não me envolvi com política naqueles tempos porque era muito jovem, não tinha conhecimentos. Atualmente participo, envio reclamações, acompanho projetos, cobro dos políticos.
John Gray, seu amigo de infância, falou de sua "vocação" para a pintura. Você tem trabalhos nessa área?
Não gosto do mundo da arte. Nunca quis participar dele. Tenho meus trabalhos, pinto quadros, faço esculturas, mas é uma coisa particular, para meu prazer.

Na sua opinião, há alguma semelhança entre as mortes de Kurt Cobain (Nirvana) e Sid Vicious?
De maneira alguma. A de Sid foi um acidente, a de Kurt foi intencional.
Joãozinho Podre não perdoa
þ "Encontrei Sid (Vicious) na escola. Ele era uma vitima da moda - a pior que conheci. Ele comprava revistas ridículas, tipo Vague, só para estudá-las e copiá-las. Ele usava sandália sem meia, na neve, só para mostrar as unhas pintadas..."
þ "Escrevi ´God Save The Queen´ na cozinha da casa dos meus pais. Escrevi pela manhã, enquanto esperava o feijão cozinhar. Fui direto pano estúdio, mostrei para os outros caras. Glen não gostou nem um pouco: ´Não podemos fazer isso, seremos mortos.´ Mas valia a pena. Ninguém havia abertamente condenado a família real na história da nossa ridícula Grã-Bretanha."
þ "Uma vez, os McCartneys me convidaram para ir na casa deles. Não me senda capaz de ter uma conversa normal com eles. Eles queriam gravar comigo! A coisa toda era tão irreal e falsa, eu não podia acreditar! Um dia, minha mulher (Nora) e eu estávamos em um táxi e, de repente, os McCartneys nos viram e começaram a correr atrás do carro. Tranquei a porta para que eles não pudessem pular para dentro. O motorista fez a curva e disse: "Jesus, eu vi tudo! Me lembro quando as pessoas o perseguiam. Agora, ele é que te persegue."
þ "Acho que a idéia de cuspir no palco foi minha. Por causa da sinusite, vivo cuspindo no pako - mas nunca na platéia. A imprensa pegou aquilo e, na semana seguinte, a platéia pensava que também tinha que cuspir. Ninguém percebeu que estava copiando um mal físico, não uma posição política."
( 1996 – CD-Rom Bizz 20 Anos ) Por que os Sex Pistols estão de volta?
Nós ainda discordamos de muitas coisas, mas encontramos uma causa em comum: o dinheiro!

E quanto vocês vão ganhar para fazer esta turnê?
Por favor, não seja mal-educado.

O que você acha do Green Day...?
Eu acho uma merda... Na cena musical dos últimos anos, nada que vale a pena foi produzido e os Sex Pistols estão retornando para nos poupar de todo este lixo que são os popstars...

E o Oasis, o que você diz do Oasis, suposta maior banda inglesa do momento?
A cena musical britânica está cheia de imitadores dos Beatles, soul vazio e outras porcarias. É tudo muito raso. Eu prefiro os originais dos Beatles. O Oasis é apenas ruim, tem coisas piores.

Não seria contra os princípios punk morar em Beverly Hills?
O dinheiro faz parte de tudo isto, e o fato de eu morar lá, na Califórnia não faz de mim um hipócrita...

A anarquia está de volta à Inglaterra?
Arôut!

Os Sex Pistols agora usam em seu material promocional uma figura de Lady Di com uma faixa na cabeça onde se lê "rainha dos pastéis". Por quê?
Antigamente, usávamos a figura da rainha Elisabeth. Mas agora a babaca da década é Diana.

É verdade que vocês se ofereceram pra fazer um show em benefício da Lady Di?
Era tudo sacanagem. Eu gostaria mesmo é de fazer um ménage à trois com ela. Mas sem a Sarah Fergie como terceira. Aquela baranga sim é que está arruinando a realeza.

O que você tem a dizer sobre Sid Vicious?
As cinzas dele estão espalhadas no Aeroporto de Heathrow, nós precisaríamos de um aspirador de pó...

Além do dinheiro, algum outro fator motivou esta volta dos Sex Pistols?
Os Sex Pistols nunca acabaram, nós estávamos apenas congelados. Eu não me importo se os fãs se emocionam ou não. Estou fazendo isso para o meu benefício e para nós dizermos adeus com dignidade.

Alguma mensagem para os velhos e fiéis fãs dos Sex Pistols?
Eu quero que todos venham ao Finsbury Park (em Londres, onde os Sex Pistols se apresentam no dia 23 de junho). Espero que chova bastante e que suas cadeiras de rodas fiquem atoladas na lama.

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