sexta-feira, 9 de julho de 2010

Rock and roll entre aspas


Na próxima segunda-feira, a turma liderada pelo diretor de teatro Lindemberg Monteiro volta a ocupar a praça de eventos do mercado Thales Ferraz com as atividades da Rua da Cultura. O retorno, puro e simples, seria suficiente para capturar a atenção destas mal traçadas, mas ocorre que os responsáveis pelo projeto aproveitaram a proximidade com o Dia Mundial do Rock – comemorado no dia 13 de julho, numa referência à realização do Live AID, em 1985 – para fazer uma gracinha. Os caras fizeram tudo certo. Providenciaram o bolo, chamaram a turma para bater os parabéns, mas esqueceram do homenageado. Na programação, as lamentáveis presenças das bandas Ludi e Sibbéria, que poderiam cativar um público extenso, vender milhões de discos, conquistar todos os prêmios do mundo, mas continuariam à margem do universo denso e criativo desse tal de roquenrol.

Há algumas semanas, eu dispensei mais atenção do que a banda Ludi merecia, explicando por A mais B porque o quarteto de marmanjos chorões está longe de honrar as premissas do rock. Não cometerei equívoco semelhante com a Sibbéria. Ao invés disso, fui a campo para recolher o depoimento dos personagens que fazem de Sergipe Del Rey uma das cenas musicais mais interessantes do país, na esperança de que a experiência deles seja mais esclarecedora.

Julico, por exemplo, faz mais barulho sozinho do que as bandas supracitadas juntas. Guitarrista da Plástico Lunar e frontman da banda The Baggios, ele explica que tudo começou de maneira despretensiosa. “A primeira vez que eu realmente ouvi um Rock foi quando um vizinho me emprestou uma fita do Nirvana, em 1999. Eu me amarrei naquela música barulhenta e por vezes dançante. Fui pesquisando as influências do Nirvana, e cheguei ao Sonic Youth e ao Pixies, pelos quais tenho bastante admiração até hoje. Mas acho que minha relação com o rock se tornou mais séria quando me apresentaram o Eletric Ladyland de Jimi Hendrix e o Remasters do Led Zeppelin. Ali despertou a minha vontade de aprender a tocar guitarra. Demorei um pouco para entender o Eletric Ladyland, mas quando isso aconteceu me deparei com uma obra prima. Conhecer esses grupos foi muito importante porque eu me senti empolgado para tocar numa banda e levar o instrumento a sério. Ainda hoje tento tirar riffs de Page e Hendrix, e me arrepio como na primeira vez em que os ouvi”.

Para Daniela Rodrigues, vocalista da banda The Renegades of Punk, a vivência familiar foi fundamental. “Eu era uma pré-adolescente e estava passando da fase de ouvir os discos que tínhamos em casa, ou as músicas que meu pai tocava. Eu começava a buscar algo novo, quando meu tio se transformou numa espécie de guia, por assim dizer. Depois de me fazer ouvir uma fita k7 do Never mind the bollocks do Sex Pistols – uma tentativa de me salvar do Dookie do Green Day – ele passou e gravar outras tantas fitas pra mim. Eu queria fazer parte daquilo de alguma forma! Nunca mais parei de procurar sons novos, bandas novas, e de querer e fazer efetivamente parte disso”.

A importância do rock é tão grande que extrapola os seus domínios. Allen Alencar, guitarrista da Elvis Boamorte, explica que o gênero é uma pedra fundamental na história de grande parte dos músicos contemporâneos, mesmo aqueles que não se dedicam especificamente ao rock. “Na minha formação como músico/instrumentista acho que o rock foi essencial. Foi com ele que experimentei meus primeiros acordes na guitarra – e as primeiras trastejadas! Jimi Hendrix é fundamental pra mim. Como não poderia deixar de ser, minha trajetória como músico e aquilo que eu escuto vai se confundido ao longo do tempo. Hoje já não procuro ouvir tanto rock, mas a pegada rock não pode faltar”.

Para Adelvan Kenobi, apresentador do Programa de Rock da Aperipê FM, o rock é mais do que um gênero musical. Para ele, o rock é um estilo de vida. “Minha vida mudou. Eu era um jovem reprimido e introspectivo, pseudo-moralista, extremamente religioso (por puro medo do castigo, da punição). O rock, com seu espírito libertário e contestador, me fez desatar essas amarras e me transformar, na medida do possível, num espírito livre. Nos anos 90 me envolvi completamente com esse universo, e graças a ele pude fazer amigos e viajar por quase todo o Brasil. Acompanhei de perto o nascimento, crescimento, recrudescimento, renascimento, o vai-e-vem, enfim, da pequena, porém consistente, cena local, produzindo ou ajudando a produzir shows e divulgado as bandas sergipanas através do meu fanzine. Cheguei até a integrar uma banda, a 120 Dias de Sodoma, como vocalista que não sabia cantar de uma banda que não sabia tocar. Foi divertido. Está sendo divertido. Hoje não sou mais fanzineiro, mas procuro ajudar no que posso através do programa de rádio que produzo, que vai ao ar toda sexta-feira, às 20 horas, pela 104,9 FM. Uma coisa que tenho notado é que hoje em dia ouço mais rock do que quando era mais jovem. Tem jeito não, quanto mais o tempo passa, mais “roqueiro” eu fico. Acho que vou morrer roqueiro. Aproveito então para fazer um apelo público à minha família: para que troquem o tradicional crucifixo por uma guitarra elétrica como ornamento do meu túmulo”.

Roqueiro de verdade é assim.

Fonte: Spleen & Chariutos

por Rian Santos

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