Semana passada, mais especificamente no dia 13, foi comemorado o “Dia Mundial do rock”, e a Aperipê TV surpreendeu a todos com uma programação pra lá de especial dedicada ao gênero, com destaque para a cena local. É certo que toda a programação da fundação, TV e rádios, tem o mérito do ecletismo, de dar espaço para as mais variadas manifestações artísticas, e já havia, em anos anteriores, colocado no ar programas especiais relativos ao Dia do rock, mas nunca na proporção do que foi este ano.
Uma das maiores surpresas foi o resgate de uma apresentação da banda sergipana Snooze em Goiânia, num show gravado Ao Vivo em 2002 que eu sequer sabia (ou lembrava) da existência. Foi ao ar na terça, dia 13, às 19:30, e reprisado na sexta, no mesmo horário. Muito bom, com a banda afiada e em uma de suas melhores formações, contando com Clínio Jr. e Mauro “Spaceboy” nas guitarras ao lado dos irmãos Rafael Jr. e Fabinho. Infelizmente não pude ver na TV, mas acompanhei pelo menos uma parte pela net (apesar da tela reduzida, estava com uma imagem razoável, “assistível”, digamos assim) e pude presenciar a bela execução de alguns dos clássicos da banda, com os músicos descontraídos no palco e recebendo um excelente retorno da platéia em termos de empolgação. Na mesma terça foi reprisado o especial sobre o aniversário da Aperipê FM que trouxe Os Mutantes pela primeira vez a Aracaju. Uma noite memorável, registrada aqui mesmo neste blog pelo nosso colaborador Michael Meneses. Não vi a reprise, mas já tinha visto o programa em sua primeira exibição e é bem legal, com as imagens dos shows (participaram também o Daysleepers e a Naurêa) intercaladas por perguntas dos presentes respondidas pelos músicos, inclusive Sergio Dias.
Na quarta-feira, dia 14, foi ao ar o documentário “Coleção de Viagens espaciais”, que retrata a apresentação da Plástico Lunar no Abril pro rock deste ano, com direito a imagens desde a partida de Aracaju, passando por Campina Grande, onde tocaram na noite anterior, e dos bastidores, onde eles relembram um pouco de sua carreira e discorrem sobre a importância de estar ali, no cast de um dos mais importantes festivais de música do Brasil. Tudo numa conversa informal e divertida, como deve ser. Trata-se de um marco, já que é o primeiro filme do tipo a retratar uma banda sergipana. Belas tomadas do excelente show que eles fizeram no Centro de Convenções de Pernambuco, com direito a alguns trechos das demais atrações da noite, nomes do quilate do Pato Fu, Afrika Bambaataa, Plastique Noir, Vendo 147 e Instituto Mexicano Del Sonido.
À meia noite, no mesmo dia, o “Olha Aí” reprisou o já célebre documentário “Rock Sergipano, esse ilustre desconhecido”, de Werden Tavares (o mesmo diretor do doc. da Plástico). Célebre por ter sido o primeiro e, pelo menos por enquanto, único a ter a pretensão de retratar nossa cena independente como um todo, mesmo que com algumas falhas graves – o metal sergipano, por exemplo, não é sequer mencionado. É como se não existisse, ou não fosse rock. Mas existe, é É rock. Normal que o idealizador não quisesse focar esse estilo, já que está na cara que não é a praia dele, mas não custaria nada pelo menos mencionar sua existência. O hardcore, pelo menos, é bem representado por uma entrevista com Silvio, na Freedom, e trechos de um clipe da Karne Krua e de um ensaio da Words Guerrilla. Babalu, nosso monstro das baquetas, em torno do qual uma verdadeira cena se formou e ficou órfã quando ele se mudou para São Paulo, aparece num depoimento divertido e esclarecedor sobre os primórdios da “geração 2000” do rock sergipano – é hilário ouvir ele dizendo que eles tinham vergonha de ir falar com a galera “das antigas”, até que Rafael da Snooze aparece de surpresa num ensaio deles e quebra o gelo. Ótimas entrevistas também com o próprio Rafael, Deon da lacertae, Jr. e Daniel da Plástico e Henrique Teles da Maria Scombona, dentre outros. Mas lamentei o fato de não ter sido exibida a versão "reloaded”, que Werden fez algum tempo depois adicionando novas imagens e depoimentos justamente para um especial sobre o dia do rock e que eu nunca vi. Também senti a falta de um especial sobre o Rock sertão deste ano, que haviam me dito que seria feito e pensei que fosse ao ar nesta semana.
Outro excelente programa foi o “Cena do Som” com Deon, da Lacertae. Entre uma musica e outra, executada de forma precisa e minimalista ao violão, ele discorre sobre sua trajetória pessoal como pessoa e músico. Muita história pra contar, como a do prêmio que o projeto deles no povoado “Campo do Crioulo”, em Lagarto, ganhou da UNICEF e que foi indevidamente apropriado pela prefeitura Municipal, que não tinha participação nenhuma no trabalho. Falou também do início da banda, da "entrada e saída" de Paulinho, de suas passagens pelas efervescentes cenas de Salvador e Recife nos anos 90, o que rendeu uma decisiva participação na antológica coletânea “Brasil Compacto”, lançada pelo selo “Rock it” de Dado Villa-Lobos, ex-Legião Urbana, na metade da década. Uma verdadeira aula de talento e entrega, de amor à arte. “Artista igual a pedreiro”, já dizia o Macaco Bong ...
A Lamentar também a divulgação da programação, um tanto quanto confusa, o que fez com que eu perdesse, por exemplo, o documentário “Baggio Sedado”, que foi ao ar no domingo e só ficou sabendo quem acessou as redes sociais ou abriu seus e-mails no final de semana e se deparou com a divulgação que os próprios autores fizeram por conta própria. Como nos finais de semana eu dou um descanso do mundo virtual, tomei conhecimento apenas na segunda. Uma pena, não vi ainda direito este filme. Espero que seja reprisado.
Em todo caso, parabéns à Fundação Aperipê pelo grande trabalho realizado.
por Adelvan Kenobi
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