quinta-feira, 8 de julho de 2010

D. E. P. Ezequiel Neves

Morreu ontem, quarta-feira, dia 7 de julho, por volta do meio-dia, o produtor musical Ezequiel Neves. Zeca Neves trabalhava na gravadora Som Livre quando conheceu, através de uma fita cassete, o Barão Vermelho, que tinha Cazuza como vocalista. Ele foi o responsável por convencer o diretor da empresa, João Araújo, pai de Cazuza, a lançar o grupo. Desde então passou trabalhar com o grupo e com Cazuza, e era considerado o “Sexto Barão”. Ele tinha 74 anos.

De acordo com o secretário particular Luiz Pissurno, a causa da morte do produtor foi um tumor na cabeça. Ezequiel estava internado há seis meses na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio. Curiosamente, ontem completam 20 anos da morte de Cazuza. Confira abaixo uma entrevista concedida por Zeca Neves ao jornalista carioca Marcos Bragatto, publicada originalmente na Revista Outra Coisa em outubro de 2007. As informações são do G1.

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Fazendo História - Ezequiel Neves, O exagerado avô do rock

Entrevista feita no apartamento do jornalista, crítico e produtor. Publicada na Revista Outracoisa número 22, de outubro de 2007.

Todos os dias, ele acorda cedo e escuta os discos acumulados ao longo do tempo. Desce a ladeira da Rua Saint Romain, que separa Copacabana de Ipanema para passar umas cinco horas num escritório particular dentro de um restaurante na Praça General Osório - a mesma que abriga a feirinha hippie que já foi freqüentada até por Janis Joplin. Os dias já foram mais movimentados para Ezequiel Neves, mas hoje é isso que o avançar da idade permite: só “meio litro de destilado por dia, tabaco e fumo… O resto é com os médicos”. De aprendiz de ator e crítico de rock a caçador de talentos da gravadora Som Livre, Zeca Jagger tem na conta a descoberta do Barão Vermelho e uma frutífera parceria com Cazuza, o grande poeta do rock nacional dos anos 80. São deles, por exemplo, clássicos como “Codinome Beija-flor”, “Por que a gente é assim” e “Exagerado”, música símbolo de Cazuza, e por que não dizer, do próprio Ezequiel. O “avô do rock” contou histórias do arco da velha, como a da negativa em fazer uma música para Xuxa que resultou num apartamento como presente. Contou sobre o trabalho como traficante em Londres, do pioneirismo no jornalismo musical numa versão carioca da revista “Rolling Stone” - ainda nos anos 70. Isso sem falar na produção de grupos como Made In Brazil e, claro, Barão Vermelho. É fácil divirta-se com o que Ezequiel diz, porque que ele é mesmo/também exagerado.

Como você entrou nessa de jornalismo musical?

Eu fiz muita coisa, mas nunca busquei diploma de nada. Fiz curso de ator, fui ator profissional em São Paulo, fiz teatro universitário em Minas. Sou mineiro de Belo Horizonte, mas como diz Otto Lara Rezende, mineiro que não sai de Minas é porque nasceu com defeito. Comecei a escrever sobre música no “Diário de Minas” em 1962, a convite do Affonso Romano de Sant’Anna.

Sobre o que você escrevia?

Cinema. Depois, passei a ter uma seção de música popular. Mas eu não conhecia música pop, comecei a ouvir com Elvis Presley e um outro rock’n’roller americano, Brother John Sellers, um negro maravilhoso que influenciou o Bob Dylan. Depois passei a ouvir o rock do Elvis e do Bill Halley e mudei para São Paulo para ser ator profissional.

Seu negócio era ser ator…

Era uma coisa pra ver se eu me soltava. Cheguei em São Paulo em 65, com 30 anos, vou fazer 73 em novembro. O Ivan Ângelo, escritor e jornalista, e o Maurício Kubrusly, que era editor de variedades, me convidaram para escrever no “Estadão”. Era para escrever sobre jazz, mas em 68 a música pop entrou com força total. Aí eu me interessei pelo rock de novo, porque o negócio do Elvis foi passageiro, puseram ele no exército, transformaram ele num bombom, foi uma chatice. Eu escrevi numa época maravilhosa, porque tinha Jimi Hendrix, The Doors, Janis Joplin, uma efervescência total, esse negócio me fascinou. Chegou uma hora que eu falei com o Ivan e com o Maurício: “Só dá rock!”. “Então vai e escreve sobre rock!”, e eu meti bronca.

Você chegou a ir para o exterior nesse período?

Fui para na Nova York uma semana depois do Woodstock; passei um mês lá e vi tudo: Crosb, Stills & Nash, Jimi Hendrix, numa boate até pequena, coisas fantásticas. Voltei para o Brasil e continuei em São Paulo.

Você fez carreira no teatro?

Fiz uns cinco ou seis Shakespeares, mas acho uma chatice, fiz porque dava dinheiro. Em Belo Horizonte eu fazia muito Samuel Beckett, que é outro chato, ele fala sobre o nada. Era aquela coisa metida a vanguarda, fazia Beckett pra ninguém. Eu me mudei porque São Paulo tava muito chato. A gente tinha descoberto maconha, ácido lisérgico. Eu estive em Londres, depois dos Estados Unidos, em 70. Foi ótimo porque vi tudo que viria a acontecer, como o Faces, ainda com o Rod Stewart, (Eric) Clapton com Derik And The Dominos, mas eu acho o Clapton um chato. Vi o Emerson, Lake & Palmer, muito Black Sabbath. Mas não era a minha, eu era mais Stones.

Como você bancava essas viagens?

Nova York eu paguei com o meu dinheiro, mas Londres foi uma herança que eu recebi de minha avó. Não pensei duas vezes e fui viver como um londrino, aluguei um quartinho numa rua ótima. Eu vendia muito fumo, levei do Brasil pra consumo, mas vi que tinha levado muito e todo mundo queria. Levei 750 dólares e vivi três meses. O Dé, baixista do Barão, falava: “Zeca, hoje 750 dólares é pra um dia em Londres!”. Mas a vida era muito barata, era uma espécie de casa de repouso lisérgica. Muito bom… Aí eu me mudei pro Rio em 72, porque o Luiz Carlos Maciel foi o editor da edição brasileira da revista “Rolling Stone”.

É verdade que era uma versão pirata da “Rolling Stone” americana?

Não era pirata porque a marca pertencia a dois gringos que compraram os direitos e resolveram fazê-la no Brasil, achando que ia dar muito dinheiro. A Rolling Stone durou um ano, já estreou falida porque o número zero consumiu o dinheiro todo. Mas a gente recebia o material da Rolling Stone americana, e em junho – ela estreou em janeiro de 72 – os gringos suspenderam a remessa do material. Eu falei com os donos da revista: “Olha, eu tô fazendo essa revista, vim para o Rio, mas vocês têm que pelo menos pagar o meu aluguel, senão eu volto para São Paulo”. E eles pagaram. Durante um ano eu aluguei um apartamentinho delicioso na Farme de Amoedo (Ipanema).

A redação era onde?

Em Botafogo, perto de onde hoje é o Plebeu (famoso bar carioca), uma construção de dois andares. Era de uma mulher muito doida que aparecia às vezes para cobrar o aluguel. Foi uma época boa, mas a revista não dava lucro, porque era mal distribuída, e o Maciel era muito doido. Ele pensava: “se essa revista não entra dinheiro, sendo quinzenal como a americana, vamos fazer semanal!”. E o fracasso foi maior ainda.

O que saía de música brasileira?

Gal Costa, Caetano, Chico e Gil. Tinha rock, A Bolha, rock progressivo, Módulo 1000, Som Imaginário… Mas eu continuava mandando matéria para São Paulo, para o “Estadão”, escrevia na “Playboy”, na “Realidade”. Tinha a Som Três, a Pop, depois na revista que o Tárik (de Souza) fundou, “O Rock, a História e a Glória”. Era bonita, muito bem feita, mas uma coisa meio underground. Depois, ela se transformou no “Jornal de Música”, com a Ana Maria Bahiana à frente.

E aquela frase que diz que “rock progressivo é música de penteadeira de bicha”?

Fui eu que inventei. Porque fugia muito, imagina o rock ser metido a erudito, pegar os clássicos? O Emerson, Lake & Palmer pegou os clássicos e destruiu, naquele “Pictures At An Exhibition”, eu vi ao vivo em Londres.

O Made In Brazil foi seu primeiro trabalho como produtor?

Foi, eu não sabia produzir, nunca gostei de mexer com botãozinho, ia pelo feeling. Tinha um engenheiro para operar, e o próprio fundador da banda, o Oswaldo (Vecchione), conhecia bem de estúdio. Com eles eu fiz dois LPs: “Jack, o Estripador” e “Paulicéia Desvairada”. Aí comecei a trabalhar com o Guto Graça Mello, que me chamou para a Som Livre. Eles resolveram não fazer mais cast, e eu saí. Um ano depois, em 81, o Guto me chamou, e em 82 eu descobri o Barão.

Você foi você o primeiro a se interessar pelo Barão Vermelho?

Não sei se eu fui o primeiro, mas fui o mais entusiasta. Eu sou amigo do Leonardo Neto, que hoje é empresário da Marisa (Monte), da Regina Casé, da Adriana Calcanhoto. Nessa época ele era secretário do Nelsinho Motta. Eles tinham o Noites Cariocas (casa de espetáculos crucial para o rock dos anos 80), e um selo chamado Hot, que lançou, da Gangue 90, do Julio Barroso, o ”Perdidos na Selva”. Eles resolveram fazer um “pau de sebo” (coletânea de bandas novas), o rock tava pintando. Aí, falou que eles estavam recebendo muita fita de grupos novos e me pediu para ajudar. Entre essas fitas estava uma do Barão Vermelho. Eu adorei e comecei a fazer escândalo, mostrei a fita para o Guto, mas tinha um problema. O vocalista era filho do João Araújo, o presidente da gravadora!

Você não sabia…

Eu conhecia o Cazuza de praia, mas não sabia que ele cantava e nem que escrevia, muito menos que tinha uma banda. Aí eu ouvi o Barão Vermelho e o Leo falou: “Olha, esse grupo é do Cazuza, filho do João”. E eu disse: “E que problema tem? Ele é ótimo!”. Eu e o Guto ficamos entusiasmados, resolvemos gravar e eu nunca mais larguei o Barão. Quando o Cazuza saiu, eu continuei com a banda, porque achava - e acho até hoje - uma banda espetacular. Frejat e Guto Goffi tiveram muita sorte, são pessoas coerentes, com o pé no chão.

O que você fazia exatamente?

Eu era produtor e andava com eles, era o sexto Barão, o avô do Barão. Eu produzi o primeiro disco, o segundo, o terceiro… Até agora eu produzo. Mas continuei escrevendo também, e escrevia letras com o Cazuza, com o Frejat.

Você fazia letra de música antes ou só passou a fazer com o Barão?

Eu tinha feito letra para o primeiro disco d’O Terço, e com o Vinícius Cantuária. Eu me mantinha escrevendo, continuei vivendo disso até que parei de escrever no “Jornal da Tarde”, fiquei me dedicando ao trabalho na Som Livre e ao Barão.

Como era a sua relação com o Cazuza?

O Cazuza foi uma espécie de neto. Nem era pai, apesar de eu ter a mesma idade do João. Foi uma ligação muito bacana, e eu sinto falta dele até hoje. Eu sabia disso na época, até hoje ninguém escreve feito Cazuza, ele era único, o articulador de relâmpagos, uma coisa muito forte, um grande poeta. Eu não sabia que o Cazuza escrevia.

Talvez nem ele…

Ele brincava, aos berros (imita): “Ah, por que você foi me inventar? Essa coisa chata, agora tenho que ir lá e cantar, a gente poderia ficar aqui batendo papo, jogando conversa fora”. Outro dia mesmo o Rodrigo Pinto (jornalista que está escrevendo a biografia do Barão Vermelho) falou: ”Ué, você tem uma música aqui da qual eu nunca ouvi falar”. Era uma que a (Maria) Bethânia tinha pedido ao Cazuza, e eu cobrei dele: “E a letra da Bethânia?”. Ele disse: “Eu não sei, tô meio bloqueado”. E eu disse: “Desbloqueia, toma quatro versos e desenvolve o resto”. Aí fizemos uma música chamada “Companhia”. A Bethânia teve medo porque era uma glorificação a ela, e quem pegou foi a Zizi Possi. Não aconteceu nada, mas a letra é maravilhosa. Tem um verso que é maravilhoso que fala assim: “É um desperdício comum, dois viver vida de um”.

Vocês normalmente faziam música assim, um juntando frase do outro?

Não, eu fazia… Ele fazia, me mostrava… Em “(Codinome) beija-flor” a gente trabalhou muito, foi em 85. Eu falei: “Ih, essa letra tá muito intelectual…“. Foi ele que começou a fazer e me mostrou, a gente fez umas coisas, uns aconchegos, e a parceria é minha, a música é do Reinaldo Arias. O Cazuza é muito importante até hoje na minha vida, e eu não gosto muito de falar no assunto, é uma cicatriz que não cicatriza. Eu não quero me debruçar sobre isso pra sofrer mais, já foi um calvário ter acompanhado aquela morte anunciada.

E a história desse apartamento?

Foi muito engraçado, porque pediram pra gente fazer uma música para um especial infantil. O Cazuza e eu tomamos uma bebedeira e as seis da manhã ele falou: “A gente não pode fazer música pra criança”. E eu disse: “Realmente, a gente gosta de criança frita, não vamos fazer”. Mas duas semanas depois, imagina quem pediu letra pra gente? A Xuxa! Aí eu falei, “Cazuza, a Xuxa vai ser o sucesso que vai me dar um dinheiro pra eu comprar um apartamentinho”. E ele disse: “Zeca, você já me convenceu que a gente gosta é de criança frita, não se preocupa com o apartamento que eu te dou um”. E me deu esse apartamento.

Que tipo de música você acha que ele estaria fazendo hoje se fosse vivo?

Eu tenho nome de profeta, mas minhas profecias não dão certo. Se o Cazuza estivesse vivo eu não sei o que ele estaria fazendo, mas acho que a gente teria brigado umas 400 vezes e feito as pazes mil vezes.

Como era aquela história das drogas nos anos 70 e 80? A coisa rolava solta mesmo?

Maconha rolava desde 1950, por baixo dos panos. A bossa-nova tem muito de maconha também. No final de 1972 pintou cocaína e o fumo sumiu. Era uma droga cara, eu relutei muito em cair na cocaína porque não tinha dinheiro pra sustentar essa droga, a não ser sendo traficante. Mas eu trafiquei também, fumo e pó. Eu comprava uma quantidade e fazia uma “boutique de Ipanema”. Eu comprava fumo pra duplicar meu salário, ia pra São Paulo, levava mutuca e vendia. Minhas mutucas eram famosas, muito bem servidas, vinham em papel laminado, parecia uns caralhos. A melhor cocaína do mundo eu já cheirei, mas hoje cocaína é uma bobagem, por causa dessas misturas. Eu não cheiro há uns 15 anos. As drogas pintam mesmo, mas eu sou de uma geração do álcool. Fiquei uns oito anos só com fumo e mandrix, que era um sonífero que a gente tomava e não dormia, era uma delícia, uma droga altamente sensual. Aí voltei para o álcool, parei de beber oito anos, foi bom porque meu fígado ficou bom e atualmente tô no álcool de novo. Gosto muito de destilado, uísque, mas agora tô na vodca. Já cheguei a beber uma garrafa de álcool por dia, mas nunca gostei de cachaça. O Cazuza tentou me aplicar de cachaça, mas a minha ressaca de cachaça era um horror. Eu manero porque com 70 anos você não vai ficar bebendo um litro de destilado por dia. Beba ao menos meio litro…

Você acompanha a música que se faz hoje?

Atualmente tem essas cantoras novas, eu acho todas muito chatas, com poucas exceções. Eu gosto muito da Kátia B, da PaulinhaToller, gosto até hoje da Dulce Quental. É bom que eu esqueço o nome, porque pra mim são sempre as mesmas. Tem uma que é um horror, regrava coisas com um ar de quem tá ensinando a cantora que gravou primeiro a cantar. Não gosto nem de Maria Rita. Eu tô ouvindo muito uma cantora nova, uma crioulinha, filha de mãe espanhola, se chama Buika. Ma-ra-vi-lho-sa.

Como você faz pra se manter informado sobre música?

Eu me informo através dos amigos, através do Frejat, de um amigo meu que é jornalista, o Antonio Carlos Miguel (do jornal O Globo), que é meu vizinho. Foi ele que deu a dica para alugar o primeiro apartamento aqui nesse prédio. Eu morava no terceiro andar, mas quando o cara soube que o Cazuza queria comprar, cobrou uma fortuna. Aí eu vim pra esse. Ele adorava freqüentar o outro, a gente fazias festas, reunião, saíamos do Baixo Leblon e vínhamos pra cá beber mais, conversar, jogar conversa fora, ouvir som.

Você continua saindo muito?

Atualmente não tenho saído. Eu tô com um problema de artrose e um problema ocular que eu tô vendo tudo dobrado.

Antes mesmo de beber…

Sabe o que eu falo para os meus médicos? Eu vou continuar queimando maconha, fumando tabaco e bebendo, o resto é com vocês. Agora, o dia em que eu beber e sentir muita dor eu vou parar, ninguém foi feito pra sofrer.

Que importância teve do rock dos anos 80 para a música brasileira?

Eu acho que foi ótimo porque deu uma bela de uma sacudida. Teve uma peneirada, eram cem grupos, os “famosos ninguéns”, mas foi uma coisa bem profícua, porque o que é bom tá aí até hoje: o Paralamas, o Barão - mesmo com os projetos solo do Frejat – estão aí. O Kid Abelha é um herói, fazia pop, continua fazendo pop e está firme. A década de 80 foi muito importante.

Por que o rock saiu da mídia quando chegaram os anos 90?

Eu chamo a indústria fonográfica de pornográfica, agora que ela tá fudida, tá melhor ainda. Se você quer fazer um disco, faz sozinho e depois vende para uma gravadora ou faz independente, tem uns independentes ótimos. O próprio Vanguart, que tá todo mundo adorando. Nos anos 90 começou a pintar muito axé, e isso era um horror, ficou aquela coisa horrível. Mas se tem imbecil pra ouvir… Recebo muito disco, mas agora peço indenização pra ouvir, porque não é possível!

É verdade que naquela época não tinha produtor que soubesse fazer disco de rock?

Tinha gente que sabia, sim. O primeiro do Barão foi instintivo, e o segundo foi meio complicado porque já tinha um outro produtor junto comigo, o Andy Mills, que já tinha trabalhado com o Ritchie e com outras coisas lá fora. Mas o Liminha virou um grande produtor, fez Lulu, Titãs e Barão.

Você gostou do filme do Cazuza (“Cazuza – O tempo não pára”, de 2004”), achou legal o seu papel?

Achei aquele ator excelente (Emílio de Mello), a gente ficou amigo. Os diálogos no filme foram feitos por mim e ele, pra agilizar. Disseram que ele desmunheca muito, e eu falei “Um filme que tem aquela garotada toda, de repente tem que ter uma bicha desmunhecando pras pessoas respirarem”. Porque é um filme que todo mundo entra sabendo que o protagonista vai morrer. Mas gostei muito, a Sandra (Werneck, diretora) é muito sensível e o Walter Carvalho (diretor) também. É meio moralista, porque tem aquela explosão de tudo, mas ele no fundo paga. A história é essa: não é bom ser exagerado, Deus não deixa. E a morte, ao contrário de Renan Calheiros, é insubornável.

Em que você tem trabalhado?

A gente tá escrevendo um livro sobre o Barão Vemelho, uma biografia a seis mãos: Guto Goffi, Rodrigo Pinto e eu. O Rodrigo é um jornalista maravilhoso, que eu conheci como líder do grupo Berro. Eu produzi o grupo junto com o Maurício Barros. Vai chamar “Por Que a Gente é Assim”.

Como é o Ezequiel Neves hoje?

Eu sou um solteirão, fiquei pra titia, o avô do rock. Sempre tem gente aqui em casa. E hoje em dia eu ouço os CDs que eu não tinha tempo de ouvir. Recebia uns 100 LPs por mês. Escrever sobre música é muito chato, você acaba odiando a música ou não ouvindo direito. Agora eu me esbaldo, meus discos são todos organizados em ordem analfabética, quando eu procuro um, acho outro e me encanto. Meu cotidiano é acordar cedo, porque com essa artrose tenho que tomar uns remédios. Eu não tenho saído muito, com esse problema ocular é uma coisa difícil, porque quatro pessoas já é uma multidão, eu fico alucinado. Desço uma e meia, duas horas, tenho um escritório ali no restaurante Fazendola e só saio de lá umas 5 da tarde. Leio jornal, almoço, tomo chope. Eu tomava vinho, mas engordava muito, porque eu sou exagerado, tomava cinco garrafas por dia, aí eu tive que dar um tempo. Tô aí, um velho setentão e muito animado. Ter calor na bacurinha é essencial.

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