terça-feira, 22 de novembro de 2011

Marielle e a Escola de Escândalo

Soube por acaso, navegando na net, que Marielle Loyolla, ex-vocalista da Volkana e da Arte no Escuro, voltou ano passado para Brasilia e gravou 10 musicas com uma nova formação da Escola de Escândalo, legendária banda dos anos 80 que deixou apenas 2 musicas registradas na coletânea "Rumores". As notícias são do início de 2011 e não sei se algo já foi lançado, mas aproveito para dar uma geral na carreira desta importante figura do rock tupiniquim. Com vocês, Marielle Loyolla:

Arte No Escuro: O sucesso de Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial no cenário do rock brasileiro, em meados dos anos 80, levou o rock candango a exportar bandas de maneira rápida. Um dos grupos que se celebrizou nesse período foi o Arte no Escuro.

Herdeiro da tradição gótica de bandas inglesas como Bauhaus e The Cure, o grupo formado em abril de 1985 por Luiz Antônio Alves, o Lui (vocal), Pedro Hyena (baixo – ex-Sociais), Adriano Lívio (guitarra) e Paulo Coelho (bateria), agradava pelo sua estética e clima sombrio. Lui ficou mais famoso pela sua estampa na capa do segundo disco dos Paralamas do Sucesso: O Passo do Lui.

A estréia da banda em palcos brasilienses ocorreu em um cenário conhecido no circuito da Turma da Colina: Departamento de Arquitetura da UnB, cenário de festas e shows de várias bandas da cidade – Capital Inicial e Plebe Rude, inclusive. A apresentação ficou marcada por uma performance digna dos happenings de grupos ingleses: enquanto cantava Beije-me Cowboy, Lui joga sobre si um balde de tinta preta. Surpresa e frisson na platéia. No dia seguinte, os comentários nas rodinhas da capital era da estréia de fogo da banda.

Infelizmente, logo depois desse show, Lui abandona a banda e deixa Brasília. Parte para o Rio, onde continuaria seu trabalho como artista plástico. Segundo Pedro, a banda engataria nessa segunda fase. O vocalista foi substituído por Marielle Loyola (vocais – ex-Escola de Escândalos e, depois, Volkana), em fevereiro de 1986. Em seguida, o grupo – que dividia uma sala de ensaios com o Finis Africae – grava sua primeira demo.

O som cheio de climas, vocais sussurrados, baixos melódicos e guitarras intimistas levou a banda rapidamente a despertar interesse das gravadoras, ávidas por encontrar novas “Legiões Urbanas”. As letras também carregavam em sutilezas, repleta de metáforas e fugindo do lugar-comum dos rocks de protesto. “Nada é verdade absoluta, cada pessoa entende uma coisa”, declarou Pedro Hyena, autor da maioria das letras.

Chegaram a ser rotulados de "dark", um neologismo bobo em voga nas grandes cidades, naquela época. “Isso é só modismo”, atacou Pedro. A fita demo, àquela altura, já tocava diariamente na programação da Rádio Fluminense, no Rio, responsável pelo boom de muitas das bandas de Brasília – dos Paralamas até a Escola de Escândalos. Na seqüência, em 1987, o Arte no Escuro grava um disco pela EMI, lançado no ano seguinte, cujos maiores sucessos foram Beije-me Cowboy e As Rosas. A produção ficou por conta de Gutje Woortmann, da Plebe Rude.

Segundo Pedro, foram vendidas pouco mais de 3,5 mil cópias. O LP hoje é tratado como raridade, sendo disputado em sebos de disco pelo país. A baixa vendagem e o clima de aperto geral na economia levam a EMI a descartar a banda em 1988. “Com o sucesso de vendas alcançado pelas bandas de Brasília nos anos 80, chegamos a receber ofertas para retornar ao estúdio e para apresentações, ofertas que recusamos com dignidade”, disse Pedro.

Dois anos depois, a banda se dissolveria, com Marielle integrando no início dos anos 90 a banda de trash metal Volkana, formada só por mulheres, ao lado de Mila (ex-Detrito Federal).

Volkana: (wikipedia) Banda formada em Brasília, em 1987, por Mila Menezes (baixo), Karla Carneiro (guitarra), Ana (bateria) e Eliane (vocal). Ana e Eliane logo saíram e foram substituídas por Mariele Loyola (vocal) e Débora (bateria), vindas das bandas Detrito Federal e Arte no Escuro. Com essa formação optaram por cantar em inglês, seguindo o exemplo da banda Sepultura. Mudaram-se para São Paulo no ano seguinte e lá gravaram uma demo com duas faixas chamada Thrash Flowers. Graças à essa demo, tornaram-se conhecidas e gravaram seu primeiro LP, First, em 1990. Durante esse período, Débora deixou a banda e foi substituída por Pat que, por sua vez, foi substituída por Sérgio Facci, que participou da gravação do LP. Marielle também deixou a banda e foi substituída por Cláudia França. Posteriormente, Selma Moreira juntou-se à banda como segunda guitarrista. O segundo álbum, Mindtrips, foi gravado em 1994 e, dois anos depois, a banda terminou. Em 2002, a demo é relançada junto com a demo de outra banda feminina, Flammea, em um único LP.

Em 2008, Volkana volta a se apresentar em várias cidades do Brasil com a seguinte formação: Mila Menezes, Marielle Loyola, Renata Lopes e Sergio Facci.

Em 2011, a Volkana contribui com uma canção para a trilha sonora do documentário Brasil Heavy Metal, sendo que Marielle ainda participou junto com outros artistas da gravação da música-tema do filme.

Escola de Escândalo: A banda Escola de Escândalo (nome retirado do clássico literário do autor irlandes Richard Brinsley Sheridan, The School for Scandal) formada em 1983 por Bernardo Mueller e Geraldo "Geruza" Ribeiro, que vinham da Banda XXX, foi uma das grandes promessas e referência de sucesso do rock brasileiro na década de 80. Foram chamados para a formação inicial da Escola o guitarrista Fejão, o baterista Alessandro "Itália" e alguns meses depois, chegava à banda Marielle Loyola como apoio vocal para Bernardo.

Muitos dizem que a banda sofreu uma daquelas distorções do destino, não lhe dando oportunidade para realizar o registro oficial das principais músicas, tornando a banda uma lenda no meio musical.

A Escola de Escândalo teve seu primeiro e único registro sonoro em vinil com distribuição nacional, na coletânea "RUMORES" (Sebbo do Disco/Bsb/84) deixando nele as canções Luzes e Complexos, que foram executadas com destaque nas maiores rádios rock do País da época, como a Rádio Fluminense/RJ e Estação Primeira/Ctba. Foi através da resposta dos ouvintes dessas rádios que a banda foi convidada para muitos shows em todo o país, tendo como destaque a apresentação no programa de Tv Mixto Quente da Rede Globo em 85.

O som da Escola de Escândalo tinha personalidade, e um dos pontos fortes, com certeza, eram as letras, criadas através da realidade juvenil por Bernardo Mueller. Das mágicas mãos do guitarrista Fejão (1965-1996), vinham riffs de heavy metal que se uniam às melodias pop dos vocais, que tinham como base as levadas punk rock do baixo de Geruza e da bateria de Alessandro.

Com a volta de Alessandro à Itália, Antonio "Totoni" Fragoso assume as baquetas da banda e participa da maioria das novas composição da banda. Também passaram pela banda os bateristas Rogério Ribeiro e Eduardo "Balé" Raggi. Em 87 Marielle sai da banda e vai integrar a banda Arte no Escuro e depois a Volkana, que encerra suas atividades na virada dos anos 90.

2010: A VOLTA DA ESCOLA DE ESCÂNDALO

Com a morte do guitarrista Fejão em 96, todas as possibilidades de uma volta da banda foram extintas, mas os ex-integrantes continuaram mantendo contato, principalmente Geraldo e Marielle, que em 2010, num ímpeto de simplesmente "tocar", resolvem realizar um registro das muitas músicas da Escola de Escândalo.

Bernardo Mueller, apoia a realização desse trabalho, mas não deseja voltar aos palcos, então Geraldo e Marielle convidam Totoni pra esse "revival", e chegam à conclusão que para guitarra tinha que ser um "discípulo", grande amigo e parceiro musical de Fejão, Alexandre Parente, guitarrista ao lado de Fejão da Banda de Heavy Metal Fallen Angel por mais de 10 anos.

A Escola de Escândalo iniciou as gravações de um "primeiro" cd em outubro de 2010 com 10 faixas: Caneta Esferográfica, Luzes, Complexos, Grande Vazio, Popularidade, Lavagem Cerebral, 4 Paredes, Más Línguas, Só mais uma canção de soldados e guerras, Celebrações (Arte no Escuro), e deverá estar à diposição em março de 2011.

Escola de Escândalo agora é:

Geraldo Geruza Ribeiro - Baixo
Antonio Totoni Fragoso - Bateria
Alexandre Parente - Voz e guitarra
Marielle Loyola - voz

Entrevista publicada em maio de 2010 no site Rock Brasília:

Você é tida como a musa do rock de Brasília, desde a época em que integrava o Escola de Escândalos. Pode falar um pouco sobre sua saída do Escola e a formação do Arte no Escuro?

Poxa, muito obrigada pelo elogio, pois ser Musa de uma cena tão importante pra todo o País, nossa, é bastante responsabilidade (risos). Muito obrigada mesmo! Bom,minha saída do Escola foi meio confusa, mas o convite no mesmo dia da minha saída do Escola, pra fazer parte de uma banda que até hoje é tida como marco da música gótica no Brasil, foi algo maravilhoso. A Arte no Escuro estava passando pela saída do vocalista Lui, que estava de mudança para o Rio de Janeiro, e era uma banda que eu respeitava demais, pelos músicos e sua qualidade e profundidade musical. No primeiro momento fiquei temerosa, pois assumir o lugar do Lui era muita responsabilidade, mas fizemos uma transposição vocal dele pra mim bem tranquila. Comigo a Arte no Escuro acho que ganhou um perfil mais pop, ou melhor dizendo, mais acessível ao mercado.


Quais as recordações mais marcantes que você tem de Brasília? Como era a cena de rock nos anos 80 e 90? Sente saudade?

Nossaaaa....muita saudade, foi uma fase de pureza de sentimentos, de idéias, de ideais, tudo era tão forte. A vontade de fazer música, de dizer o que sentíamos. Era muito diferente de hoje, quando as bandas fazem música para fazer sucesso, para tocar em rádio, naqueles dias nunca nem se imaginava uma banda como as de Brasília tocando em rádio.
Fazíamos música porque gostávamos de fazer música, sem base nenhuma, sem estudo musical. Era tudo muito de sentimento, de notas que achávamos legais, acho até que essa sinceridade foi o maior motivo do reconhecimento pela mídia e produtores nacionais aos artistas da cidade, pois a sinceridade leva tudo mais longe, dá mais vida! Muita saudade das bagunças com os amigos, dos ensaios no Rádio Center. Parece até coisa de velho né? (risos) Mas só vai entender quem viveu isso!

Depois do Arte veio o thrash metal do Volkana. Conte um pouquinho do fim do Arte e do começo do Volkana e sobre os boatos em torno de uma volta da banda.

Pois é, a Arte foi uma coisa belíssima na minha vida, mas foi tudo muito rápido, pois com menos de um ano de banda nós estávamos dentro de uma multinacional gravando um disco entre os maiores do momento, Legião, Plebe, Paralamas,que eram nossos amigos, e que hoje, quando eu paro pra pensar,caramba,esses caras serão eternos na música nacional. E nós poderíamos ter sido também, mas éramos imaturos, muito novos, e não tínhamos definido muito bem as nossas escolhas. Falo principalmente por mim. Eu tinha saído do Escola, onde fiz um amigo gigante em todos os termos que era o Fejão, que me apresentou um som chamado Heavy Metal. O que eu conhecia do estilo eu achava muito chato, como Led Zeppelin, Deep Purple, coisas do tipo, que eu achava um saco..mas o Fejão me apresentou um outro som, como a primeira demo de uma banda chamada Metallica, caraça, aquilo foi demais, os timbres de guitarra, o vocal (timbre que nunca consegui ter) a bateria com os bumbos dobrados numa velocidade animal. Foi muito demais. E depois veio Anthrax, Mercyfull Fate. Ai tudo mudou dentro de mim. Como eu andava direto com ele, passei a conhecer os amigos dele que tocavam metal, e ai foi. Quando terminei a gravação do disco do Arte no Escuro, a gente já tinha montado a Volkana, mas só de onda, que como as demais bandas de Brasília, tomou corpo rapidamente e foi contratada pelo maior Selo de metal do País daquele momento, que era o Selo Eldorado, onde estávamos ao lado de nomes como Sepultura, Ratos de Porão e Víper. A Volkana é uma banda idolatrada ainda hoje, pois não surgiu nada parecido,nem postura, estilo e pegada. Ali eu me tornei uma profissional, eram todas muito disciplinadas, e acredito que isso foi o que manteve também, o nome da Banda em pé e respeitada até hoje. Encontro meninos de 20 e poucos anos que nos assistiam nos programas infantis, tem o disco até hoje (risos), muito engraçado. Muitos acham que a Volkana é uma banda de São Paulo, pois nos mudado para lá por motivos contratuais, mas sempre fizemos questão de deixar bem claro que éramos uma banda de Brasília e ponto final!! No ano passado fizemos um show depois de 13 anos e foi muito legal. Realizamos essa volta repentina à pedidos do produtor de documentário que deve ser lançado ainda esse ano chamado Heavy Metal Brasil que vai contar as história do estilo no Brasil. Recebemos muitos convites para novos shows, mas ficou difícil devido a distância dos componentes e trabalhos paralelos dos mesmos. A minha saída da Volkana aconteceu devido divergências musicais. Tínhamos um disco lançado na Europa e EUA, mas eu tinha uma opinião que não era muito bem vinda na banda...queria cantar em português pois meu inglês era um lixo, tinha casado a pouco tempo, e havia um problema de doença na minha família em Curitiba, que não permitiriam minha saída do País naquele momento...com certeza eu tinha que me afastar para não atrapalhar o destino delas. Elas fizeram mais um cd com uma nova vocalista que não teve a mesma repercussão do First.

O que te motivou a ir para Curitiba?

Como falei acima, uma pessoa mais do que importante na minha vida, meu irmão, que fez uma participação especial no disco da Volkana, Mariel Loyola, estava com um grave problema de saúde, o que me fazia ir constantemente á Curitiba, minha cidade natal, e com a piora da saúde dele voltei pra cá. Ele faleceu o que me deixou sem ânimo pra qualquer coisa durante quatro ou cinco anos. Então alguns amigos como o Loro Jones,que também era muito amigo do meu irmão, me incentivou a fazer uma banda só pra distrair e pra não perder o amor pela coisa, ai surgiu a Cores D Flores, uma banda legal, mas que não conseguia definir seu estilo e que durou até 2006, pois ai, eu já estava bem apaixonada pelo trabalho em Rádio, pela possibilidade de abrir espaços pra novos talentos, e essa paixão se tornou um amor gigante e eterno em mim

Você foi vocalista da Cores D Flores durante alguns anos. Fale um pouco sobre a banda, as influências e como se deu essa volta aos palcos?

Pois é, hoje já não sou mais vocalista, faço produção e direção musical, incentivo e crio novos espaços para novos talentos, e adoro fazer isso, pois Curitiba é um grande celeiro de músicos talentosos, uma cidade maravilhosa para se viver, tudo ecologicamente correto, tudo muito legal! Sonho em voltar pra Brasília, pois seria o único lugar depois daqui que eu moraria, mas esses meus laços de ternura com a cena local Curitibana é bem forte, e sinto que tenho muito o que fazer por aqui ainda!

Como foi sua incursão no mundo da locução e produção em rádio? Como é o programa, como surgiu?

O Geração Pedreira foi meu primeiro trabalho em rádio em 99 na Rádio Rock 96. O diretor da rádio, Helio Pimentel, conhecia minha história dentro da cena musical nacional e achou interessante usá-lo em um programa de rádio onde poderíamos valorizar a Cena cultural da cidade, e trazer entrevistas e depoimentos de artistas nacionais dentro de um programa. O Nome GERAÇÃO PEDREIRA, em homenagem ao nascimento da Pedreira Paulo Leminski, um dos locais mais lindos pra shows de todo País, que foi idealizada por Helio Pimentel, diretor da rádio e Jaime Lerner, governador do Estado na época. Com o encerramento das atividades da Radio Rock em 2005, e o nascimento da 91Rock em 2006, rolou o convite pra dar continuidade ao trabalho iniciado na Radio Rock com um novo programa, o 91 Cena Independente, com o mesmo perfil voltado à cena nacional e local independente.
Em 2008 recebi um novo convite, agora da Rádio Mundo Livre Fm, do Grupo RPC (afiliada da Rede Globo no Paraná) para iniciar o Projeto Acústico Mundo Livre, um projeto inovador dentro de rádio. A Mundo Livre Fm também é responsável pelo maior Festival do Estado - LUPALUNA -, onde contribuo para a seleção dos artistas locais e nacionais independentes.
Paralelo aos programas de rádio, ainda me dediquei a escrever para revistas especializadas em música na cidade e jornais. Também faço a produção musical do evento ao ar vivo Soho Batel/Mundo Livre Fm, que acontece todo sábado, em uma das mais belas Praças da Cidade, a Praça Espanha.

Qual seu conselho para quem está no caminho árduo do rock independente?

Acho que o caminho, ano após ano é sempre o mesmo: trabalho pesado, dedicação, determinação, criatividade e originalidade, que eu acredito só vem através da sinceridade.
Descobri que, definitivamente, nada cai do céu, tudo vem até vc por merecimento. Plantou, cuidou, nasceu e cresceu...do contrário, morre ainda no chão!!!
Então, se você é afim de fazer música, pra poder viver dela, se imagine um grande empresário iniciando sua primeira mega indústria de, sei lá, macarrão!!
Capriche na receita da massa, use ingredientes especiais (aqueles q só você tem), deixei os amigos de bom gosto provarem, empacote com uma bela embalagem de apresentação, observe o melhor mercado para seu produto e espalhe pelo mundo. Sempre agradecendo muito às críticas positivas, e valorizando muito mais as negativas, pois é delas que você se aperfeiçoa e cresce!

Aproveitando o espaço, se quiserem mandar material de suas bandas pra mim é só enviar e-mail (marieleloyola@hotmail.com), e nos falamos. Estou aqui pra apoiar o som que vem por ai! Beijos a todos, muita paz e sucesso sempre!

Entrevista para o Site Carcasse (data não definida):

Marco inicial do gótico nacional, o ano de 1985 viu os primeiros registros de bandas como o Muzak, de São Paulo, além de fazer da cidade de Brasília uma incubadora de bandas que, além beber das fontes pós-punks inglesas, assimilavam o estilo e a atmosfera sonora de bandas como Cocteau Twins, Bauhaus e Joy Division.

Antes disso, influências do gótico inglês eram notáveis até mesmo em bandas "comerciais" como RPM, mas sempre havia um atenuador, como o contraponto eletrônico ou, no underground, a adição de sonoridades nacionais (vide o experimentalismo de bandas como Black Future, Chance e Fellini).

Então, o que diferenciava a primeira leva pós-punk daquela safra pós-85? Naquele ano, por exemplo, o Finis Africae tocava "Kick in the Eye" num de seus shows e a apresentava como uma canção de "um conjunto de punks góticos ingleses, o Bauhaus". Se São Paulo tinha as galerias de lojas importadoras de discos, Brasília, igualmente privilegiada, tinha nos filhos dos diplomatas pequenos e eficientes focos de difusão cultural. Não espanta, portanto, o grau de acuracidade com que uma banda como o Bauhaus é citada ao vivo. Havia informações abundantes; além disso, havia muita vontade de produzir algo afim, sendo a banda 5 Generais o exemplo cabal da emulação sonora de então.

Tais bandas não eram casos isolados de uma subcultura limitada a "ilhas" urbanas. Havia intenso diálogo, o que se comprova por uma filipeta que naquele ano divulgava justamente uma apresentação com as bandas Finis Africae, Detrito Federal, 5 Generais, A+ e… Arte no Escuro. Quanto à última, que naquela apresentação estreava muitíssimo bem acompanhada, podemos afirmar que sua trajetória configura um "passo além" rumo a uma sonoridade que não mais se via como herdeira de tradições brasileiras, mas como uma legítima encarnação pós-punk, de cariz gótico e intimista.

Fundada naquele mesmo ano, a banda contava com Lui (voz), Pedro Hiena (baixo e letras), Adriano Lívio (bateria) e Paulo Coelho (guitarra). Já em sua primeira apresentação, a banda protagoniza cenas que serviriam de prólogo à sua lenda: ao cantar "Beije-me Callboy", canção sobre o submundo brasiliense com cenas de prostituição e suicídio, o vocalista Lui despeja um recipiente de tinta negra sobre si, num happening até hoje comentado pelos presentes. Musicalmente, a banda já iniciava com uma maturidade invejável, mas os anos seguintes provariam que havia muito ainda a realizar.

Poucos meses após a primeira apresentação, o vocalista Lui deixa a banda e dá lugar à jovem Marielle Loyola, então recém-saída da Escola de Escândalo, onde fazia os vocais de suporte. O talento, a presença e o estilo da nova vocalista serviram como um enorme diferencial naquele momento de efervescência musical, e as rádios passaram a executar algumas faixas da fita de demonstração da banda, como "Beije-me Callboy" e "Na Noite". Em 1987, o Arte no Escuro foi contratado pela EMI e o álbum intitulado Arte no Escuro (1988) seria lançado poucos meses depois, com evidentes amostras do impacto musical e do apelo visual da banda. Ironicamente, comenta-se (no livro Dias de Luta, por exemplo) que a Escola de Escândalo, banda que expulsara Marielle, foi preterida pela gravadora, que preferiu apostar justamente em sua nova e instigante banda.

Após o lançamento do LP, Marielle funda a banda Volkana, de Thrash Metal, mudando-se para São Paulo. O Arte no Escuro então encontra sua dissolução e seu único lançamento de mercado torna-se cada vez mais cobiçado pelos colecionadores. O contrato com a gravadora, aliás, expirou em 2004, o que deixa o trabalho disponível para negociação por outros selos. Uma eventual edição em CD não só serviria para recompor o quebra-cabeça da história do rock nacional, como também daria algo palpável às legiões de novos apreciadores da banda, que se lamentam de só disporem de arquivos digitais, sem algo mais "palpável". Em CD, a banda teve apenas uma canção lançada ("Beije-me Cowboy"), incluída por Charles Gavin (Titãs) na compilação Discoteca Básica: Pop Rock Nacional dos Anos 80, o que é bom, mas ainda é muito pouco.

Muito obrigado por responder a estas perguntas. É uma honra estar em contato com vocês.

Para começar, eu gostaria de falar sobre os anos que antecederam a formação do Arte no Escuro. Brasília era um saudoso celeiro de bandas punks, e vocês integraram as bandas Os Sociais (caso do Pedro), e Escola de Escândalo (caso da Marielle). Como vocês descreveriam esse tempo e as duas bandas cujas histórias se confundem com as suas?

Pedro: Eu e Paulo éramos da "tchurma", como dizia o Renato "Manfredo" Russo, e sempre estávamos envolvidos com o pessoal da Legião, Plebe e Capital. Eles começaram a viajar para o eixo Rio—São Paulo para tocar, e a gente pensava: "se eles conseguiram, por que não tentar?". Anos antes, eu já escrevia letras. "Psicopata", do Capital Inicial, por exemplo, é de minha autoria, e eu tinha um livro cheio delas. Paulo tocava guitarra e eu sempre quis tocar baixo. Os Sociais foi uma das minhas primeiras bandas e, que eu me lembre, só fizemos um show. Eu cantava e escrevia as letras... Todos d'Os Sociais, fora eu, eram filhos de diplomatas, incluindo o Nick, que era alemão. Sempre havia a sombra de que alguém iria deixar a cidade e acho que foi isso o que aconteceu no final. Só não lembro quem partiu... Já ouvi muitos rumores sobre Os Sociais. Eu mesmo não me lembro de nenhuma música e nem do que eu cantava! Tem um mp3 por aí que na verdade foi uma jam session num boteco, eu e um monte de gente, e resolveram dizer que é d'Os Sociais. Pure bullshit! Que eu saiba, ninguém tem algo gravado da época.

Marielle: Bem, na verdade, as lembranças que tenho são as de uma pré-adolescente normal integrando-se a um grupo de pessoas com informações variadas e já criando seus ídolos, que, naquele momento, eram o Renato Russo e o Marcelo Bonfá, nosso galã (risos). O meu primeiro ensaio com o Escola de Escândalo foi engraçado... eles ensaiavam no "closet" da casa do Alessandro "Itália" (o pai dele era embaixador da Itália, acho). Eu cheguei e só conhecia o Itália, e ele foi me apresentando aos outros componentes: Bernardo era o vocalista, irmão mais novo do André X, baixista da Plebe, grande poeta. Geraldo era o baixista, irmão do Loro Jones do Capital, muito boa pessoa e divertido, daí eles me apresentaram o Fejão como um tarado sexual, dizendo que tudo correria bem se eu não chegasse muito perto! (risos) Na minha opinião, ele é um dos maiores guitarristas que esse país já teve, tornando-se um irmãozão... saudade do Nego Véio... Mas o que me assustou mesmo foi a altura dos caras. Acho que o mais baixo deles tinha 1,87 m de altura. Eu, com meu 1,69 m me sentia uma formiguinha ali. Bem, como vocês podem sentir, a nossa convivência sempre foi legal com a turma e tudo era bem divertido... um bando de malucos alegres.

Vocês ingressaram na banda em momentos diferentes. Seria ótimo poder saber um pouco mais sobre o momento em que cada um passou a integrar o Arte no Escuro, o Pedro na formação e a Marielle na substituição do Lui como vocalista. Qual era a "proposta" inicial da banda e como se deu o convite à Marielle?

P: O Arte no Escuro no começo era eu e Paulo Coelho. Eu nem tinha baixo na época e tocava a linha do baixo em uma guitarra. Conhecia o Adriano havia tempos e lembrava que ele tocava bateria. Convidamo-lo e ele aceitou. Com o Lui foi a mesma história: sempre nos encontrávamos no Beirute para tomar uma, e ele tinha interesse em cantar. Acho que ele apareceu ou o convidamos para ver o ensaio e foi isso. Lui é pintor e muito interessado em artes plásticas. Num bate papo, ele comenta sobre um movimento artístico, onde o fotógrafo ou pintor se amarra em arame farpado, sangue saindo, e se pinta e tal. Flagelação por arte. Algo por aí. O nome do movimento era Art in the Dark. Fizemos três ou quatro shows com o Lui nos vocais e parecia que estávamos fazendo um nome. Um belo dia, Lui diz que tinha conseguido transferência de trabalho para o Rio e se vai... Marielle tinha acabado de sair do Escola de Escândalo... éramos fãs do Cocteau Twins; uma voz feminina apelou na época, e pensamos: "por que não?".

M: A minha entrada no Arte no Escuro ocorreu em um momento bem chato pra mim, na verdade, pois eu estava muito triste com minha "expulsão" do Escola de Escândalo pelo Bernardo, após uma apresentação em um programa da Rede Globo chamado Mixto Quente, no qual, das quatro músicas que nós tocamos, foi ao ar justo a que eu cantava, pois na banda eu era só backing vocal, e havia essa música chamada "Complexos" que o Bernardo fez para eu cantar. Nossa, fiquei muito mal com o telefonema dele... e pesou o fato de ele não ter me falado ao vivo, foi pelo telefone... foi punk mesmo. Então, no dia seguinte, o pessoal do Arte no Escuro me ligou dizendo que o Lui estava indo morar no Rio e que eles estavam sem vocalista... nossa, para mim foi tudo de bom, pois eu já conhecia o pessoal da banda e, claro, conhecia o som, pois lá como já te disse todos conheciam todos e todos apoiavam todos. Acho que esse era um grande diferencial do que presenciei depois em vários cenários da música pelo país... a gente podia até xingar, zoar e tudo mais nos shows das outras bandas, mas sempre estava todo mundo lá (risos)!!! Éramos adolescentes felizes!!

Não é raro ouvirmos testemunhos entusiasmados de apresentações ao vivo do Arte no Escuro repletos de cenas antológicas. Dizem que, certa vez, por exemplo, o Lui despejou tinta preta sobre o próprio corpo cantando "Beije-me Callboy". E para vocês, quais foram os momentos "ao vivo" mais memoráveis?

P: Esse "show da tinta", na verdade. Foi o nosso primeiro show... Tivemos muitos shows memoráveis, lembro-me de um no Teatro Galpão, em Brasília, já com a Marielle, chamado "Feira de Música", que acontecia toda segunda-feira. Cada banda tocava duas músicas e era isso. A platéia não hesitava, atirava tomate e o diabo se a banda fosse ruim. Tocamos duas músicas e não atiraram nada; no final, aplaudiram. Acabamos sendo convidados para fazer uma noite especial só do Arte no Escuro. Nossos shows tinham muito clima e energia, coisa que no disco acabou sendo pasteurizada, o que foi uma pena. Na minha opinião, o registro acabou não fazendo justiça ao Arte no Escuro.

M: Putz... na verdade, com o Arte tenho várias recordações legais, o show em Fernando de Noronha... acho que fomos a única banda de rock a tocar lá... meu... o povo gritava muito com a iluminação, eles piraram realmente. O show histórico no Teatro Nacional também, onde fizemos do palco a platéia... foi assim: colocamos arquibancadas no palco e nós, músicos, ficávamos em pequenos tablados individuais. Foi o show de lançamento do disco, muito legal. Na verdade, tínhamos um superempresário, também moleque como a gente na época, mas que sempre soube agilizar e potencializar nossa banda: Luiz Fernando Artigas (Fegê), que hoje é um grande articulador político de Brasília.

Bandas como Gang of Four e Joy Division são muito citadas como influências pelas bandas brasilienses de meados dos anos 80. No caso do Arte no Escuro, vocês acham possível apontar alguns nomes que lhes serviram como referências musicais? Aproveitando o gancho, o título de "Joy" tem alguma relação com o Joy Division?

P: Eu, Paulo e Adriano sempre fomos apaixonados pelo Joy Division. Na época, acho que tivemos influência do Echo & the Bunnymen, Cocteau Twins, The Cure, Siouxsie & The Banshees, The Sisters of Mercy, Magazine e The Smiths, para citar algumas. "Joy" foi feita sem esta intenção, mas acabou tendo todas as marcas do Joy Division... Na verdade, até abrimos alguns shows com ela e nunca pensamos em pôr letra ou gravar.

M: Eu sempre tive uma salada de influências em meu repertório que, acredito, foi muito trabalhado pelas minhas amizades. Sempre fui de circular em várias turmas, então eu ouvia muito Cocteau Twins, The Cult e U2, com o pessoal do Arte, mas o Negreti (Legião) e o Ameba (Plebe) não saiam lá de casa, então eu ouvia muito Dead Kennedys, punk rock e hardcore de verdade e, como o Fejão também ia muito lá em casa, e sempre trazia vídeos e cassetes para a gente ouvir, já viu, né?... aí era metal na cabeça: Metallica, Slayer, Ozzy, Suicidal Tendencies e até o metal farofa!!! (risos) Bem, por aí você vai vendo como as coisas aconteciam, tanto que o Ameba, o Negreti e o Fejão depois montaram uma banda chamada Dentes Quentes, onde eles tocavam Dead Kennedys e um pouco do metal. Já em São Paulo, quando me mudei com a Volkana, conheci o rap... o hip-hop, através do Thaíde e do DJ Hum, que participaram do disco da Volkana... e aí... mais uma paixão... Filtrando tudo isso, tiro todas as sonoridades que tenho em minha alma hoje... a belíssima voz de Elizabeth Fraser, do Cocteau, a simplicidade do Ozzy, a garra do Jello Biafra, o peso do Metallica, a exatidão métrica do hip-hop em algumas coisas e, claro, a paixão pelo Bono... ai, ai... rolou até paixão pelo Bon Jovi e Skid Row, acredita??? Eu trago tudo isso para a Cores D Flores... peso e melodia!

Graças ao excelente site que vocês prepararam, podemos ouvir versões alternativas de várias das canções da banda, além de termos acesso a verdadeiros documentos históricos, entre fotos, filipetas e artigos de época. Como vocês avaliam a repercussão desse material?

P: Não tenho nem idéia de quantas pessoas já entraram no site. Fiz ele sozinho com o material que eu e o Paulo Coelho havíamos guardado. Fora o Paulo, também consultei o Adriano sobre idéias. A intenção nunca foi a de divulgar o Arte no Escuro, mas sim de ter algo para lembrar, um arquivo, nada mais. Daí o material nele. Coloquei tudo que tínhamos achado na época. Daí o "RIP" na main page.

M: Bem massa, né? Pois essa entrevista mesmo só está rolando por causa dessa história que não pode morrer nunca, essa é a história do rock candango e não pode ser esquecida ou ignorada... por isso que me divirto quando alguém compara meu atual trabalho ao da Pitty... adoro o que ela fez no rock nacional, acho ela extremamente talentosa, canta pra caramba e é uma ótima compositora, mas, cara, tem muito jornalista que ignora essa história e quer falar do rock nacional. Acho que informação é importante pra qualquer um, para jornalista então... nem se fala, né??

Excluídos os materiais divulgados no site da banda, existem ainda registros inéditos do Arte no Escuro, como vídeos, composições, clipes?

M: Acho que essa é bem para o Pedro responder, pois eu sempre fui inútil nesse ponto para a banda... era muito moleca aprontona e nem me ligava em organizar nada, aliás, acredito hoje que foi minha imaturidade o que mais atrapalhou o Arte no Escuro... aí, Pedro... foi mal!!! Tanto que hoje na Cores quando faço esse tipo de coisa, lembro-me do imenso acervo que eu poderia ter.

P: Lembro-me de ter visto na TV o show inteiro que fizemos no Teatro Nacional de Brasília, nos bastidores da sala Villa-Lobos. Gravei-o em VHS, e minha ex-mulher fez o favor de gravar em cima Galaxy Rangers para o meu filho, porque não tinha achado outra fita... Não tenho certeza, mas acho que foi a TV Cultura de Brasília a emissora que o veiculou. Com certeza há vídeos de shows que fizemos em Brasília, o problema é achar...

Quanto às canções selecionadas no álbum Arte no Escuro (1988), notamos algumas mudanças em relação às suas versões anteriores. Além de "Beije-me Callboy" ter sido renomeada como "Beije-me Cowboy", um pequeno trecho da letra de "Celebrações" parece ter sido suprimido. Como se deram essas mudanças? Houve alguma interferência da EMI ou tudo fez parte da maturação natural do material?

M: Outra que tem de ser respondida pelo Pedro, pois eu cantava mas não tinha muita participação nas composições, a não ser nas melodias de voz. Lembro-me que "Celebrações" estava muito longa e repetitiva; quanto a "Beije-me Cowboy" eu nem sabia que tinha mudado de nome, só sabia que a intenção dela era a de falar sobre um garoto de programa, mas só. Aliás, no disco do Arte no Escuro tive a minha primeira oportunidade de compor uma letra, o que devo ao Pedro, com quem, com certeza, aprendi muito. Pensando bem, aprendi com os melhores: o Renato (Russo) sempre me dava toques sobre palavras e como usá-las, métrica... o Pedro me fez ler muitos livros legais, além de falar de amor de uma maneira obscura e tão romântica, cantar as letras do Bernardo (Escola de Escândalos) também me ensinou como usar palavras sem nenhuma sonoridade, mas com muitas possibilidades.

P: Só foi maturação do material. No LP, foi burrice não termos gravado "Inocência", pois era uma das nossas melhores músicas em shows. Por incrível que pareça, tanto a EMI como a produção, que foi inexistente, nos deram carta branca no estúdio.

Uma belíssima parceria entre a banda 5 Generais e Marielle ("Outro Trago?") havia sido gravada para a coletânea Outros Rumores, que nunca foi lançada. O Arte no Escuro também participaria dela?

P: Acho que já estávamos em contato com EMI e outros selos na época e não queríamos arriscar lançar algo por um selo pequeno quando gravadoras grandes estavam demonstrando interesse em nós.

M: Essa música, se não me engano, saiu agora, no Rumores II. Recebi a versão remixada e "tá o bicho", aliás, o 5 Generais é outra banda da época muito do cara...mba (risos).

Em 1988, jornais e revistas apontaram influências do pós-punk inglês na sonoridade do Arte no Escuro. A Bizz, por exemplo, apontou um "clima gótico" nas canções da banda e registrou sua recusa ao rótulo "dark". O que vocês diriam sobre tais associações?

P: Na época, negamos, pois era o tal de rótulo, blábláblá de mídia tentando criar polêmica para vender ou pegar a atenção do público: "há um novo bicho pra vendermos, e ele se chama dark"... Acho que estávamos mais para Echo & the Bunnymen que para The Sisters of Mercy.

M: Meu, fomos a primeira banda gótica ou dark do país, não adianta fugir desse rótulo. As letras nos submetiam aos climas "escuros" do amor e da vida. Acho que Álvares de Azevedo gostaria muito de ouvir o Arte no Escuro (risos).

Vocês já chegaram a negociar o relançamento do Arte no Escuro em formato digital? Vocês arriscariam alguma explicação para o inexplicável atraso da gravadora em disponibilizá-lo novamente?

P: Por volta de 1995, lembro-me de ter ouvido falar que a EMI estava interessada em ter-nos no estúdio para gravarmos material novo. Se foi verdade, não sei. Todas as bandas dos anos 80 estavam regravando ou voltando. Eu já estava morando em Londres na época e lembro-me de ter dito a alguém que só voltava para o Brasil se me pagassem U$ 1,000,000.00. Não acho que vão lançar o CD. No final das contas, não vendemos muitas cópias.

M: Eu e o Paulo Coelho até pensamos em tentar um relançamento. Fizemos um contato meia boca e desistimos. Na verdade, uma empresa como a EMI não se interessa pela história ou por registrar documentos com que o rock nacional seja memorizado ou eternizado. Para eles, o que conta é a grana, bufunfa, din-din, o som do produto não importa, mas sim o som da máquina registradora. Ainda bem que existem pessoas como você e esse seu trabalho tão engrandecedor da cena nacional, porque senão a maioria dos jovens ouvintes não teria a oportunidade de saber como começou ou de onde vieram nossas raízes musicais.

Atualmente, existem bandas – como a brasiliense Últimos Versos – que tomam o Arte no Escuro como inspiração e parâmetro musical para seus trabalhos. Como é, para vocês, saber que o Arte no Escuro ainda faz escola?

P: Uau. Nem tinha idéia. Legal. Interessante. Quero ouvir esses carinhas.

M: Pô... eu me sinto extremamente orgulhosa, várias pessoas entram em contato para trocar idéias e passando sempre uma vibe positiva sobre o trabalho do Arte. Em Brasília há também a Morffine, do Phélix do 5 Generais, que também vai pra esse estilo e confessa a influência do Arte. Muito bom... é muito dez ser útil pra alguém (risos).

E quanto ao fim da banda? A que vocês o atribuem?

P: A EMI terminou nosso contrato. "Lambada" virou febre nacional (não estou brincando, de verdade!). Shows ficaram muito difíceis de arrumar. Marielle decidiu cantar em uma banda de heavy-metal e, para ajudar ainda mais, havia a vida. Acho que cansamos de nadar contra a corrente. Amor à musica nunca pagou contas.

M: Bem, eu me sinto bastante culpada, como já assumi anteriormente. Fui irresponsável em vários momentos importantes da banda e sei que a falta de maturidade foi fator derradeiro. A assinatura do contrato do Volkana com a Eldorado também pesou... Eu me apaixonei pelo metal... e quando vi, já era. Sei que magoei pessoas legais com a minha falta de continuidade e loucuras... mas já foi.

Após a dissolução da banda, em quais outras bandas os membros do Arte no Escuro tocaram? Sabemos do Volkana e do Vollume, bandas que contaram com a voz preciosa da Marielle, além do Cores D Flores, sua atual banda. Você poderia comentá-las, Marielle? E quanto ao Pedro, ao Adriano e ao Paulo? Em quais outras bandas tocaram?

P: Eu e Paulo tivemos uma banda que nunca saiu do ensaio ou estúdio. Depois disso, fui convidado e acabei tocando no "new" Detrito Federal por quase um ano. Viajei o Brasil inteiro com eles tocando baixo e acabei escrevendo algumas letras e músicas. Também no Detrito, por uma época, estava o Eduardo "Balé", baterista do Escola de Escândalo. Aqui no Reino Unido, por volta de 96-98 fiz mix de música eletrônica com jazz, ou Breakbeat. Tenho um estúdio no meu laptop e toco baixo, violão e até teclado quando o santo baixa. Que eu saiba, Adriano e Paulo aposentaram as chuteiras em termos de música.

M: Mantenho contato com o Adriano, que conseguiu realizar seu sonho de ser diplomata, o que eu acho muito importante... realizar sonhos... com o Pedro, acho que falei pouquíssimas vezes, pois ele foi para Londres; com o Paulo também falei poucas vezes, mas sei que ele também realizou seu sonho de montar uma empresa de arquitetura. Quanto ao meu destino, fui para o Volkana, que teve uma ótima aceitação do público e da mídia, mas tive de me afastar quando meu irmão ficou doente e veio a falecer (ele era um grande amigo, parceiro... um tudo pra mim, aliás ele até participa do disco do Volkana), voltando pra Curitiba (minha cidade natal), onde minha família precisava de mim naquele momento. Já estava casada com o McCoy, que é um grande guitarrista e que esteve sempre ao meu lado nos quase quatro anos em que me neguei a cantar, convencendo-me a voltar a compor e me agilizar formando a Cores D Flores, após ir a um show do Capital Inicial no qual o Loro Jones e o Dinho me incentivaram muito também a voltar. A banda Vollume, na verdade, foi uma transição da Cores para um som mais pesado, mas sempre foi a Cores, embora com outro nome durante seis meses. Hoje, a Cores D Flores já está se fixando no mercado independente. Já temos três demos lançadas, o Entre Sonhos e Pesadelos, onde exponho as aflições de sonhar, amar e odiar neste planeta, quase uma coletânea dos anos anteriores da banda, contendo versões acústicas em gravações caseiras, mas que pra mim tinham de ser registradas, e naquele momento... coisa de maluco mesmo (risos). Agora estamos finalizando o nosso primeiro CD gravado em estúdio profissional, intitulado Paixão. Nele, temos algumas regravações do Entre Sonhos e Pesadelos, mas lá fica bem mais claro nosso peso, nossa meta musical e nossa melodia, minhas influências, tanto nas letras onde exponho meu respeito aos sentimentos confusos e maléficos do ser humano, e declaro minha Paixão e respeito ao meu público. O CD estará pronto para lançamento em março, e espero, através do seu site, ter a oportunidade de mostrar ao seu grande público esse meu trabalho atual, firmeza??? Também faço a minha parte aqui em Curitiba tentando agilizar uma maior amostragem da cena local através do meu programa na 96 Rádio Rock, o Geração Pedreira e em um site voltado à música paranaense – www.movimentoleitequente.com.br – que, a partir de janeiro, se tornará uma rádio... 24 horas de música paranaense na Web... "é nóis"! (risos)

Nós, entrevistadores, nunca somos capazes de fornecer oportunidades de as bandas expressarem tudo aquilo que seus apreciadores gostariam de ouvir. Por isso, deixo aberto este espaço para que vocês transmitam o que bem desejarem, com toda a liberdade possível. Muitíssimo obrigado pela entrevista!

P: Obrigado pelo interesse e, por favor, se tiverem algo que não está no site do Arte no Escuro, mandem-me que o incluirei, farei um link para o seu site e, claro, incluirei os devidos créditos.

M: Olha só... discordo da sua afirmativa na pergunta. Vocês entrevistadores são os responsáveis pela nossa visibilidade e nossas grandes oportunidades, como esta de estar aqui, de nos aproximarmos mais das pessoas que tanto valem para a gente... os que ouvem nossas canções, nossos corações. Pois para o músico, pelo menos eu penso assim, o mais importante é chegar aos corações através de melodias e poesias. Valeu mesmo, Cid! Conte sempre comigo.

Fontes:

Olímpio Cruz Neto
http://www.rockbrasilia.com.br
Carcasse

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