domingo, 14 de julho de 2013

O Paraíso do rock

Público perfumadíssimo ...
É quase 2014 d.C. Toda a Gália está ocupada pelos romanos sertanejos universitários. Toda não, uma pequena aldeia ainda resiste ao invasor.

Assim adulterada, a lendária introdução dos gibis do Asterix parece cair como uma luva para a cidade de Paraíso do Norte, um enclave de rock’n'roll no meio de uma região dominada por agroboys e pela música sertaneja no norte do Paraná (a cerca de 520 km da capital, Curitiba). Há seis anos, o prefeito, um quarentão inconformado com a falta de opções para o gênero na cidade, com o predomínio das picapes com caixas de som em cima tocando só sertanejo na frente dos bares e dos postos de gasolina, resolveu fazer uma aposta arriscada: organizou um festival que leva para a cidade de 12 mil habitantes bandas alternativas que quase ninguém conhece: Walverdes, Nevilton, Identidade, Superguidis, Cartolas , Relespública, Giovanni Caruso e o Escambau, Zeferina Bomba, Daniel Beleza e os Corações em Fúria.

Wander agradece ao prefeito
Na primeira edição, o público estranhou um pouco: apenas 700 pessoas foram conferir a excentricidade do prefeito. Na segunda, já havia 1,3 mil pessoas, e o público foi crescendo a uma média de 700 pessoas por edição. Shows como os de Wander Wildner, em 2009, o de Matanzao em 2011, o do Cachorro Grande, em 2012, tiraram das tocas todos os camisetas pretas da região.

Como no SWU, o festival oferece espaço em camping para quem vem de longe. O próprio prefeito enche sua casa de hóspedes. O festival quer ser conhecido nacionalmente pela “camaradagem”, dizem moradores, que se esmeram na recepção aos que vêm de fora. No sábado, as bandas todas são recebidas em um grande churrasco (que também implica em algumas jam sessions, pocket shows e apresentações misturadas).

Wander no paraíso.
Em 2009 houve um caso curioso: a banda Zeferina Bomba, de João Pessoa (PB) tocaria em Paraíso. Era, como de hábito, o mês de julho, mas estava mais frio do que de costume: 3 graus Celsius de temperatura. Estava de matar paraibano de frio. E o Ilson Barros, vocalista do Zeferina, desavisado, chegou à cidade só de shorts e camiseta. Os organizadores providenciaram roupas de frio para ele. No meio do show, ele saiu-se com essa: “Vim ao Paraíso do Rock e me deram de comer e me deram de vestir. Adorei este festival”.

Deu tão certo que o prefeito foi reeleito. A oposição, ao contrário do que se pensa, nem chiou muito. “Nem é uma questão de oposição. Existe um preconceito em relação ao rock e roqueiros. Levei muita pancada no início, mas com o crescimento do festival em relação a público e mídia, que têm acompanhado e elogiado o Paraíso do Rock, as críticas foram diminuindo”, diz Carlos Vizzotto, o Beto, um ex-garoto que cresceu ouvindo Led Zeppelin, Stones, Deep Purple, Black Sabbath (e hoje adora rock argentino, bandas como Divididos, Ratones Paranoicos, Ataque 77, El mató a um Policía Motorizado, Norma). Pelas imediações, Vizzotto já é chamado de “Prefeito Rock’n'Roll”.

A coisa foi encorpando e a fama do Paraíso do Rock chegou a outras partes do País. “Eu fui até lá em 2009 porque sou muito fã do Wander Wildner. Acabei conhecendo ele pessoalmente”, comemora o médico gaúcho Francisco Carlos Luciani, que desde então tem por hábito deixar a cidade nessa época do ano e dirigir milhares de quilômetros desde o Rio Grande do Sul até o norte do Paraná para ir ao festival. “É muito legal, nunca me arrependi. Com certeza é algo inusitado, por causa do domínio absoluto da cultura sertaneja naquela região”, analisa Luciani.

O designer Jonas Davanço, da vizinha cidade de Cianorte, é outro habitué do festival. “Acho que o melhor de lá é a dedicação e o modo com que todos tratam os visitantes. E é de verdade, eu já vi pessoas como o Wander Wildner, o Beto Bruno do Cachorro Grande e até o Jimmy do Matanza, os três nada bem humorados no dia a dia, rasgando elogios à cidade e ao festival”, contou Davanço.

O festival sempre tem uma ou outra banda de renome, mas o foco principal está nas bandas menores e num som que não seja ordinário, comum. Demonstra uma insaciável curiosidade pelas novas tendências do rock nacional e viaja frequentemente a todos os cantos do País em busca de novidades. Pode ser de qualquer corrente, desde que seja ousado.

Num mundo de comportamentos padronizados e estandardizados, o Paraíso do Rock parece andar na contramão de tudo. “Quando dormi lá, fiquei hospedado na casa de um dos organizadores, pois na casa do prefeito já não cabia mais gente”, conta Davanço. “No sábado, todo ano rola um churrasco com as bandas, o irmão do prefeito é quem faz. É um dos melhores carneiros que já comi, cerveja gelada e os músicos se revezando em um microfone que fica lá à disposição. Foi lá que vi uma performance do Giovanni Caruso e sua esposa, uma paraguaia, tocando castanholas. Foi sensacional”, celebra o designer.

Fotos de Andye Iore

por Jotabê Medeiros

Combate rock

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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ministry: The Lost Gospels According to Al Jourgensen

Escrito em parceria com o jornalista Jan Wiederhorn, “Ministry: The Lost Gospels According to Al Jourgensen”, autobiografia de Al Jourgensen, líder dos grupos Ministry e Revolting Cocks, traz algumas das histórias mais escabrosas e absurdas que já li. É uma barbaridade atrás da outra.

Jourgensen nasceu em Cuba, em 1958. Seu nome verdadeiro é Alejandro Ramirez Casas. Sua mãe tinha 16 anos e o pai prontamente sumiu. Al veio com a família para Miami, fugindo de Fidel Castro, e acabou em Chicago. Adolescente, começou a tomar gosto por música, drogas e confusão. Obcecado pelo classic rock de Led Zeppelin, ZZ Top e Pink Floyd, virou um vagabundo em tempo integral, matando aulas para fumar maconha e cheirar cola. Fugiu de casa inúmeras vezes e chegou a ser internado em um manicômio, onde recebeu eletrochoques e, segundo o próprio, se esbaldou ao visitar uma ala reservada a jovens ninfomaníacas e perturbadas.

O livro conta a trajetória musical de Jourgensen, desde as bandas amadoras de rock na universidade – onde sobreviveu vendendo cocaína e anfetamina para os colegas – ao início de sua paixão pela música eletrônica na gravadora Wax Trax, de Chicago.

O Ministry, banda que ele fundou no início dos anos 80, começou imitando New Order e Depeche Mode, fazendo um som dançante e acessível, depois deu uma guinada e começou a incorporar guitarras barulhentas às batidas eletrônicas. Foi Al que misturou o som industrial ao thrash metal, tornando o Ministry um sucesso em todo o mundo com álbuns extremos como “The Mind is a Terrible Thing to Taste” e “Psalm 69”, influenciando Nine Inch Nails, Tool, Slipknot, Linkin Park e tantos outros grupos.

Al Jourgensen deveria ter o corpo estudado pela ciência. Perto dele, Lemmy e Keith Richards são exemplos de comedimento. Já sofreu inúmeras overdoses, foi internado pelo menos uma dúzia de vezes, esteve envolvido em incontáveis desastres de carros e motos, e viu, segundo o livro, ao menos dez amigos próximos abraçarem o capeta.

É impressionante a capacidade que ele tem de estar perto da morte. Os companheiros Jeff Ward (Lard) e William Tucker (Ministry) cometeram suicídio; Mike Scaccia e Paul Raven, ambos do Ministry, morreram de ataques cardíacos antes de completaram 50 anos; o amigo e colaborador El Duce (Mentors) morreu atropelado por um trem enquanto fazia saudações nazistas para o condutor. Al estava no palco do Viper Club, em Los Angeles, enquanto River Phoenix morria de overdose na calçada, e fazia um show no clube ao lado de onde o amigo Dimebag Darrell, do Pantera, foi morto a tiros. Isso sem contar as inúmeras groupies que sofreram overdoses e a partida de amigos como Timothy Leary e William Burroughs.

Al teve o dedão do pé amputado depois de usar, por dias, uma bota onde havia deixado uma seringa cheia de heroína. Estava tão anestesiado que nem percebeu que a agulha necrosou seu dedo.

Uma da melhores histórias do livro é sobre Burroughs, com quem Al teve uma longa amizade. Uma vez, no aniversário do escritor beatnik, Al resolveu surpreendê-lo e marcou uma apresentação exclusiva do circo de freaks de Jim Rose, especializado em suspensões, pirecings genitais, e que contava com um “artista” que levantava pesos com os testículos.

Burroughs parecia entediado. “O que foi, Bill, não está gostando?”, perguntou Al. “Isso é coisa de criança”, respondeu Burroughs. “Uma vez, no Marrocos, vi um homem que engolia três serpentes de cores diferentes, daí você escolhia uma cor e ele regurgitava a serpente certa. Aquilo sim era um show!”

Al morou com Timothy Leary por dois anos e foi cobaia de experiências com drogas conduzidas pelo papa do LSD. Na época, Leary vivia confortavelmente na Califórnia, bancado por amigos milionários. “Você sabe que é um sucesso quando as pessoas te pagam apenas para você ser você mesmo”, disse Leary a Al.

O livro tem histórias hilariantes com Madonna (Al cismou que ela cheirava mal e torturou a cantora com insinuações sobre seu odor corporal), Courtney Love (Al e Mike Scaccia passaram uma turnê inteira roubando pacotes de heroína do quarto de Courtney, até que ela, assustada, aceitou fazer sexo com ele), Fred Durst, do Limp Bizkit (Al ganhou uma grana preta para mixar uma música do grupo e disse a Durst que, para cantar igual a ele, Durst precisaria usar seu chapéu de caubói e gravar pelado, o que Durst imediatamente fez) e Ice Cube, a quem Al perseguiu, pelado, no camarim do Lollapalloza.

Isso sem contar lendas medonhas envolvendo sanduíches de peru defumado e o grupo The Cult, a noite em que Al e amigos viraram o trailer do Slayer dentro de um rio congelado, o “rito de iniciação” de um jovem roadie chamado Trent Reznor, Al atirando com uma pistola 22 no chão e obrigando Jello Biafra a dançar para não ser atingido, sexo com uma groupie esquelética e purulenta que, anos depois, Al descobriu ser Marilyn Manson,  Gibby Haynes, do Butthole Surfers, fugindo da polícia e esquecendo de jogar fora o cachimbo de crack que segurava, El Duce tentando agarrar a sexagenária mãe de Al, uma festa de Natal da família Jourgensen onde Al e a filha de 7 anos passaram a noite vendo “Scarface” e sexo grupal envolvendo universitárias, Al, e o septuagenário Timothy Leary.

Sascha Konietzko, do grupo KMFDM, conta que ele e os roadies odiavam tanto Chris Connely, vocalista do Ministry, que se vingavam regravando os samples que Connely usava nas canções. “No último show da turnê, Chris tinha que disparar um sample com a frase ‘Kill, kill, kill! You will not kill!’ (na faixa “Thieves”); nós gravamos no lugar alguém dizendo ‘Por favor, quero um frango assado pra viagem!’, você tinha de ver a cara de Chris quando ele apertou o botão e o público todo ouviu o pedido da galinha. Al achou aquilo hilariante.”

Confesso que fiquei surpreso com as opiniões venais de Al sobre Paul Barker, seu companheiro no Ministry por 17 anos. Barker é descrito como um aproveitador sem talento, que não colaborou em quase nada com a banda. Al diz que ele é quem fazia todo o trabalho no estúdio e que Paul só colhia os louros.

Tive a sorte de ver algumas sessões de mixagem de “Psalm 69”, em 1991, e minha lembrança é bem diferente: os dois pareciam parceiros. Lembro que era Paul, inclusive, que estava na mesa de mixagem, testando efeitos e sugerindo mudanças.

O negócio agora é aguardar o livro de Paul Barker.

por André Barcinsky

Folha

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domingo, 7 de julho de 2013

DILASCERANTE!

Mopho
Sabe aquele momento em que não dá pra segurar e você se pega com os olhos marejados e tomado pela emoção em público, no meio de um show, por causa de uma música? Aconteceu comigo sexta-feira passada, no CHE. O Mopho estava no palco e, com requintes de crueldade, dilacerou nossos corações ao emendar duas de suas mais emocionantes composições: “A Carta”, do primeiro disco, e “Quanto vale um pensamento seu”, do último. Foi foda. As letras me remeteram diretamente à distancia de uma pessoa muito querida e eu não consegui me conter. Espero que ninguém tenha notado, porque eu “tenho que manter a minha fama de mau” ...

Aquele foi apenas um dos pontos altos de uma apresentação perfeita. Durante cerca de duas horas, os alagoanos mataram a saudade do público sergipano com um desfile de grandes canções, algumas delas já verdadeiros clássicos do rock nacional, como “O Amor é Feito de Plástico”, “A Música Que Fiz Pra Você”, “Uma leitura mineral incrível” e “Não mande flores” – esta última com um belo riff de guitarra que remete diretamente ao Led Zeppelin.

Plástico Lunar
A Mopho, no palco, é uma banda concentrada e avessa a grandes firulas ou arroubos perfomáticos. Impõem-se apenas pela qualidade de sua música e pelo nível técnico de seus componentes. Só que na sexta passada a entrega foi tanta que eles se agigantaram de forma impressionante em relação às outras apresentações que eu já havia visto – em Recife, no Abril pro rock, no Rock Sertão, em Nossa Senhora da Glória, e aqui mesmo, em Aracaju. Foi, de longe, o melhor show que vi deles e um dos melhores que já presenciei em toda a minha vida. Em formação “quase original”, estão afiadíssimos. O novo baixista é um monstro! Toca muito. Hélio Pisca (bateria) é perfeito no acompanhamento, assim como Marco Túlio (violões de 6 e 12 cordas e guitarra) e Leonardo Luiz (teclado) – este, de tão concentrado em suas funções, parecia um membro do Kraftwerk! Total “Die Mensch-Maschine“ ...

Necronomicon
Quem mais impressiona, no entanto, é realmente João Paulo, o front-man. Contido, econômico, mas como toca! E como canta! Levando-se em conta que ele é, também, um dos principais compositores, o cara é tão talentoso que beira a genialidade. E tem uma pegada personalíssima, firme porém classuda, na guitarra, qualidade que fica ainda mais evidente quando a banda resolve entregar de bônus para a platéia uma sequencia de covers matadora para encerrar a noite. Começaram resgatando uma pérola setentista, da época em que cantores brasileiros se dedicavam a compor baladas em inglês - "We say goodbye", de Dave McLean - e emendaram com clássicos do rock do naipe de Jimi Hendrix, Led Zeppelin, The Doors e Black Sabbath. Nem precisava: o público já estava pra lá de ganho e tinha acompanhado com devoção todo o repertório autoral. Foi apenas uma pequena catarse para lavar a alma e completar aquela noite perfeita.

pessoas
Perfeita porque, além da mopho, se apresentaram a Plástico Lunar e os também alagoanos da Necronomicon. A Plástico veio acompanhada de seu antigo guitarrista, Rafael Costelo, e de Julico, da Baggios, também ex-integrante. Fez a festa do gargarejo com outra sequencia de composições que já podem constar tranquilamente entre os anais do cancioneiro roqueiro tupiniquim. E Julico faz a diferença: vai ser difícil pros caras substituí-lo à altura! Mas boto fé que conseguem. São talentosos o bastante para isso. Destaque para Odara, aniversariando ...

Já a Necronomicon chegou de mansinho, como quem não quer nada, e sapecou uma surra de riffs de guitarra poderosos e levadas de bateria e baixo desconcertantes no ouvido dos que chegaram cedo para prestigiá-los. Não se arrependeram, a julgar pelo assédio que sofreram depois de sua apresentação: a toda hora vinha alguém parabenizálos, merecidamente, pela perfomance arrasadora. Seu som, calcado no que de melhor foi feito em termos de rock "pesado" nos anos 1970, é ao mesmo tempo simples e elaborado, cheio de variações de andamento e arroubos vocais improvisados. Com direito, inclusive, a um sensacional solo de bateria, aclamado por todos. E uma música nova, executada pela primeira vez naquela noite. Já é uma grande banda, com um grande potencial a ser ainda explorado, tendo em vista que, se comparada à mopho e à plástico, têm um longo caminho a trilhar ...

A vinda da Necronomicon foi uma iniciativa do programa de rock. Agradecemos a todos que acreditaram e prestigiaram o show de abertura. Eles estarão de volta em agosto, quando têm uma apresentação marcada para o dia 17, em Itabaiana.

NÃO PERCA !!!!

a.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Há 20 anos, zooropa ...

Pode um simples disco Pop prever o futuro? Será que um mero compositor de canções radiofônicas tem nível intelectual para, em pouco mais de 40 minutos, discorrer sobre temas que grandes escritores como William Gibson, Anthony Burgess e Charles Bukowski passaram suas vidas versando em dezenas de livros e textos? Isso sim é que é ambição! Isso sim podemos chamar de megalomania!

O ano é 1992 e o U2 está no topo do seu jogo. A turnê ZOO TV estava decolando, lançando um inédito conceito transgressor na relação ‘arte/música’, integrando a tecnologia de ponta da época ao showbizz. Até então, telões eram meros rebatedores de imagem, ampliando o tamanho daqueles homenzinhos na multidão, para que o pobre coitado lá de trás pudesse pelo menos entender o que se passava no palco. Mas a banda e, especialmente, Bono queriam mais. Queriam transformar a experiência toda. E o momento era perfeito. “O conceito do Bono para um show audiovisual era, onde ele pudesse interagir com o que estava passando no telão, com imagens ao vivo e pré-gravadas e misturar tudo isso”, disse Adam na biografia “U2 by U2”. “Nós realmente queríamos fazer algo que nunca tinha sido visto antes, usando TV, texto e imagens. Era um projeto muito grande e caro pra ser posto em prática. Nós nos permitimos ser levados por novas tecnologias”, completa o baterista.

E esse monstrengo começou pequeno e cauteloso em espaços menores para testar todo o processo, que nem eles mesmos sabiam se iria dar certo. Acredite: o primeiro show da turnê em Lakeland, na Flórida, foi ‘somente’ para 15 mil pessoas! Para Edge, “a Zoo TV não era uma apresentação, era um estado de alma”. A banda então foi para a Europa tocar em pequenos ginásios e voltou para a América para levar seu monstro aos estádios. Com o subtítulo de ‘Outside Broadcast’, a turnê se revigorou e ganhou novos contornos fantásticos, os elevando a um patamar jamais visto.

Segundo Paul McGuinnes, o ‘quinto U2; “a Zoo Tv foi entendida mundo afora como uma nova categoria de apresentação. Foi o surgimento do vídeo como um elemento criativo, muito mais do que nós chamávamos de i-mag – magnificação da imagem. Os críticos de arte e de arquitetura estavam escrevendo sobre nós. Era muito engraçado. Psicologicamente, isso elevou o U2 a um grupo de elite que incluía apenas Pink Floyd e The Rolling Stones. Me lembro de assistir a um dos shows com Mick Jagger. Ele se virou para mim e disse, “Isso vai ser como ‘Guerra nas Estrelas’. Se você faz alguma coisa tão grande quanto isso, nós teremos que fazer ainda melhor”. De certa forma ele estava certo, porque a partir daí o público não iria aceitar uma banda em uma caixa preta com um pouco de aço e uma lona sobre as suas cabeças e painéis brancos com algumas imagens ao lado do palco. Essas três produções, Pink Floyd, The Rolling Stones, e acima de tudo, o U2, elevou o nível para todo mundo.

Porém, quando a banda terminou essa parte da turnê e resolveu voltar para a Europa levando um show já encorpado e definido aos estádios de lá, os faniquitos de Bono começaram a tilintar. “Nós estávamos indo para o nosso segundo ano na estrada. Dai surgiu a ideia, ‘Nós vamos ter algum tempo de folga. Ainda temos algumas ideias do último álbum, vamos fazer um EP, talvez umas quatro novas músicas para dar um tempero a mais para próxima fase da turnê. Um item de colecionador. Vai ser legal’”, comenta Edge. “Então nós fomos para o Factory Studio, em Dublin, durante algumas semanas em fevereiro de 1993. Mas, na metade do processo de produção desse material, Bono, um eterno otimista, disse: ‘Se nós vamos ter todo o trabalho de fazer um EP, vamos nos esforçar e ver se conseguimos fazer um álbum completo’. Eu estava lutando na época para dar alguma forma a musica, e não fiquei muito entusiasmado com a ideia no começo. Mas dai vi que era um grande desafio, um pouco impressionante. Conseguiria o U2 fazer um álbum em doze semanas, que era todo o tempo que nós tínhamos, ou nós nos tornamos tão mimados pelos orçamentos sem fim das gravações que nós precisamos de um ano para fazer um álbum?”

Foi nessa imersão em um universo completamente diferente do já haviam experimentado que o ‘estado de espírito’ da ZOO TV os contaminou. Os contaminou não só para desafiarem-se logisticamente, mas também, musicalmente. Porque não tentarem ir onde nunca estiveram? “Nós tínhamos (os produtores) (Brian) Eno (ex-Roxy Music) e Flood (Depeche Mode e Nine Inch Nails), o que já era uma grande ajuda, mas por causa do problema do tempo, nós tínhamos que nos dedicar muito. Não havia nenhuma oportunidade para bagunças ou mesmo segundas opiniões, nós tínhamos que escrever, produzir, gravar e só”, comentou Edge.

E dessa ‘pressa’ nasceu o clima errático de “Zooropa”. O conceito era falar sobre o futuro através do presente, como um álbum conceitual. Imaginar um homem tão maravilhado com esse lugar que estava disposto a renegar tudo o que acreditava. Sobre esse período, Bono comentou; “Foi muito intenso, uma época de muita criatividade. Nós estávamos perdidos no nosso trabalho, na nossa arte e na nossa vida, tudo parecia ter se misturado em apenas uma coisa. As calças de plástico estavam ficando cada vez mais difícil de serem tiradas após os shows”.

Cada faixa não foi realmente pensada para um disco conceitual, porém, tudo acabou se encaixando de forma quase sobrenatural. “Era a nossa chance de criar um mundo ao invés de apenas música, e um mundo lindo”, completa.

Já na abertura, a faixa-título (que é dividida em duas partes: ‘Babel’ é a introdução hipnótica enquanto ‘Zooropa’ começa no mantra da guitarra de Edge, e nasceu em uma passagem de som durante a turnê), já tínhamos uma surpresa. O U2, famoso pelos seus refrões para estádios, começava seu rebento sem um deles. “É o nosso novo manifesto”, disse Bono. A letra: “Eu não tenho nenhuma bússola, eu não tenho mapas, e eu não tenho nenhuma razão para voltar’. “Brian Eno estava na sua ‘área’. O estúdio se tornou um instrumento, um parque de diversões, vários ataques plásticos com seus teclados DX7, várias levantadas de sobrancelha do Larry e do Adam. A faixa de abertura era o equivalente em áudio do visual de “Blade Runner”. Se você fechar os seus olhos, você pode ver o neon, o LED gigantesco advertindo sobre todas as maneiras de efemeridade. Eu queria me livrar do peso que eu estava carregando. Eu queria voar. Tinha muita melancolia a nossa volta. ‘E eu não tenho religião, Eu não sei o que é isso’. Há uma linha no Novo Testamento que diz que o espírito se move e ninguém sabe de onde ele vem ou para onde ele está indo. É como o vento. Eu sempre senti isso sobre a minha fé. A religião geralmente é inimiga de Deus porque ela nega a espontaneidade e a quase anárquica natureza do espírito”.

E é assim, questionando a sua fé, que “Zooropa” começa. E o mais estranho nisso tudo, é que mesmo os fãs mais quadrados compraram a ideia. “Deslizaram sob a superfície das coisas”, como a banda gostava de mencionar. Só dessa vez, a superfície escondia sim muito conteúdo mergulhado em estranheza. Não acredita? Pegue “Babyface”, a segunda faixa. Em uma melodia eletronicamente doce, Bono versa sobre sexo com uma imagem na televisão. Famosa pela religiosidade, em duas canções a banda consegue ir mais longe do que antes, negando a fama religiosa e exaltando o sexo via satélite. Detalhe: antes das Webcams dominarem o mundo.

"Numb”, escolhida pela banda para ser o primeiro single do álbum, é a antítese do que foi escolhida para ser: não tem refrão, paixão, explosão… Nada! Originalmente um demo que sobrou do álbum “Achtung Baby” chamado “Down All The Days” (que recentemente viu a luz do dia no box comemorativo de vinte anos do álbum lançado em 2001) e cantada pelo guitarrista The Edge, a faixa retrata um homem sem vida e sem vontades, totalmente absorto na programação da televisão vinte quatro horas por dia. O sensacional vídeo dirigido por Kevin Godley costurou o conceito audiovisual da banda ao extremo, mostrando Edge olhando nos nossos olhos como um robô saído de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” enquanto a vida acontece a sua volta. “É um retrato cruel do que ele estava sentindo naquele momento e o que muitas pessoas estavam sentindo no mundo sobre a mídia. Ele estava bem nesse meio, mas se tornou uma grande metáfora para a mídia a incapacidade dessa geração de sentir qualquer coisa pelas imagens que você vê.”, comentou Bono.

Depois dessa tríade de abertura, já poderíamos esperar qualquer coisa e o hino “Lemon” só reforça a estranheza. Totalmente cantado em falsete por Bono, a canção versa sobre a memória mais antiga de sua mãe, Iris, morta quando ainda era criança. “Eu tenho poucas lembranças da minha mãe porque o meu pai nunca falava sobre ela depois que ela morreu”, conta ele. “Então foi uma experiência muito estranha receber pelos correios, de um parente muito distante, um filme Super 8 da minha mãe ainda nova, com 24 anos, mais jovem do que eu, participando de um jogo em câmera lenta. Essa linda e jovem garota irlandesa, com uma cintura bem fina, curvilínea e com cabelos negros como de uma cigana. O filme era em cores e parecia extraordinário. Era um casamento, onde ela era a dama de honra vestida em um lindo vestido cor de limão. Eu cantei com a minha voz de ‘Fat Lady’, mas havia uma aspereza na letra. Havia duas coisas acontecendo, memória e perda, o retrato de uma garota em um vestido limão cintilante, que a deixava sexy e alegre e o fato de um homem se separar das coisas que ele ama. Eu realmente senti pelo Edge naquele momento, porque ele teve que se mudar de casa. A sua primeira esposa, Aislinn, era uma garota muito especial e ele era muito próximo da sua família. ‘Lemon’ é sobre deixar ou não deixar a casa”, complementa.

A faixa é uma canção dançante e cíclica. Quase uma homenagem a grande tecnologia que, em 93, prenunciava mudar o mundo. A reciclagem. Quem não se lembra do Doutor Brown usando lixo como combustível em “De Volta Para o Futuro 2”?

“Stay”, construída a partir de uma demo chamada “Sinatra”, é a única coisa “quase” U2 tradicional no álbum. Inspirada pelo filme alemão “Tão Longe, Tão Perto”, de Wim Wenders, continuação de “Asas do Desejo” e mais conhecido por aqui pela refilmagem norte-americana “Cidade dos Anjos”, ela é quase que como um pedaço de céu, porém, cinza. Melancólico, Bono lamenta sobre a distância das coisas. Sobre a impessoalidade que a tecnologia impõe, ao mesmo tempo em que versa sobre anjos caídos, tema central dos filmes. Uma obra prima reverenciada até pela própria banda. “É a principal faixa do álbum”, segundo Edge.

E esse é o lado A. E pensar que era o lado mais fácil do disco. O lado B consegue ser ainda mais difícil que o anterior, porém, com uma angústia quase Joy Division. Pós-Punk e industrial.

Já na abertura com a bluesy “Daddy’s Gonna Pay For Your Crashed Car” (outra que nasceu das jam sessions durante as passagens de som), nos sentimos dentro do palco da ZOO TV. Sob uma introdução sampleada das fanfarras preferidas de Lênin e uma bateria marcial, perfeita para um desfile de soldados marchando, Bono versa sobre a imaturidade de um viciado como um demônio convencendo alguém a pular de um precipício. O mesmo vale para a canção seguinte, “Some Days Are Better Than Others”, com uma linha de baixo matadora de Adam Clayton e uma guitarra que mais parece um zunido do que aquele velho instrumento de seis cordas. Edge está totalmente a vontade com um novo universo nas suas partes. Ele não está ali como um Guitar Hero. Quando aparece, são para intervenções, barulhos dissonantes. A letra é ainda mais cínica: “Alguns dias você se sente um pouco bebê procurando por Jesus e sua mãe. Alguns dias são melhores do que outros”. Na melhor linha Lou Reed.

Durante sete faixas, o narrador desconfia do mundo e o rejeita. Faz amor e fica entorpecido pela televisão. Alcança o cume de sua arrogância e cai de joelhos do seu pedestal e, como um anjo caído, brinca com a fossa dos outros. Chegou então a hora do arrependimento.

Na sua parte final, a temática é autocontida. O personagem que afirmava e questionava agora se mostra arrependido e quer voltar para casa, em uma jornada de autopunição. A tríade “The First Time” (que originalmente se chamava “The Prodigal Son” e foi escrita como um tema soul para Al Green, grande expoente da música negra norte-americana e uma das maiores influências de Bono), “Dirty Day” e “The Wanderer” fecham esse disco com chave de ouro. “The First Time” é uma música muito especial”, explica Bono. “Me parece muito certo que bem no meio de todo esse caos e luzes ofuscantes haveria um momento muito simples, poético. É a história do filho pródigo, mas nela o filho pródigo decide que não irá mais retornar. É sobre perder a sua fé. Eu não tinha perdido a minha fé, mas eu era muito simpatizante com as pessoas que tinham a coragem de não acreditar. Eu vi várias pessoas perto de mim terem experiências ruins com a religião, sendo tão maltratados que eles sentiram que não podiam mais ir lá, o que é uma vergonha.

Já “Dirty Day” é uma música sobre pai e filho. “’It’s a dirty day’ (É um dia sujo), era uma expressão que o meu pai costumava usar e tem muito dele nessa música, mas também foi influenciada por Charles Bukowski, o grande escritor norte-americano e bebedor”, comenta Bono. “O seu apelido era Hank e eu uso essa frase no final da música, ‘O Hank diz que os dias passam como cavalos sobre as colinas’. A música é sobre um sujeito que deixa para trás sua família e que anos depois reencontra o filho abandonado. Não é sobre o meu pai, mas eu uso algumas das atitudes do meu pai nessa música. ‘Eu não conheço você e você não conhece metade disso’. ‘Nenhum sangue é mais grosso do que tinta’. ‘Nada tão simples quanto você pensa’, são todas coisas que o meu pai dizia. ‘Isso não dura o tempo de um beijo’ é outra do meu pai, a forma que ele dispensava alguma coisa que achasse transitória.” Complementa.

Sobre “The Wanderer”, talvez uma das melhores coisas que o U2 fez em todos os tempos, ele comenta; “Eu tive muitas figuras paternas na minha vida. Que lista isso daria! Mas em algum lugar no topo dessa lista tem que estar Johnny Cash, para quem nós escrevemos uma música e o persuadimos a vir e cantá-la conosco, para fechar o álbum, ‘The Wanderer’. Eu escrevi essa letra baseado no livro de Eclesiastes do Velho Testamento, o qual em alguma tradução é chamado de O Pregador. É a história de um intelectual com sede por viagens. O pregador quer encontrar o sentido da vida e para isso ele tenta um pouco de tudo. Ele tenta viajar, tem todas as visões, mas não é nada disso. Ele tenta vinho, mulheres e música, mas não é isso. Tudo, ele diz, é orgulho, orgulho de bobagens, se esforçando atrás do vento”.

A canção, que originalmente se chamava “The Ellis Island” (a ilha onde está a estátua da Liberdade, em Nova York), é uma resposta à pergunta feita no início do disco, na faixa-título. A redenção a danação; “A música é o antídoto para o manifesto de incertezas de Zooropa”, Bono comenta. “Mesmo se o álbum começasse com ‘Eu não tenho uma bússola, eu não tenho um mapa’ – em outras palavras, Eu não sei, mas eu aceito esse estado de incertezas – ‘The Wanderer` apresenta uma solução possível. Em linhas gerais sobre o álbum, a chave é aprender a viver com as incertezas, mesmo que seja preciso permitir que a incerteza seja o seu guia. Eu me lembro de tentar ordenar alguns problemas com as frases da música e o Johnny me interrompendo e dizendo, ‘Não, eu gosto quando o ritmo é irregular. Eu quero fazer o inesperado’. Outra lição de um mestre. Mas escutar a voz de um marinheiro ancião cantando sobre sons eletrônicos era um pouco de justaposição e uma das melhores coisas que nós já fizemos”, finaliza.

A banda se lançou na turnê europeia durante a finalização e o lançamento do disco. Várias faixas foram tocadas ao vivo em um primeiro momento e, outras, somente quando a turnê chegou a Ásia e a Oceania, onde o U2 fez o registro definitivo dessa fase, com a gravação do show em Sidney, na Austrália. No bis, Bono entrava travestido como o personagem MacPhisto, uma brincadeira, misturando o tradicional nome ‘Mac’, muito comum no Reino Unido, com o anjo caído Mefistóles. “Para esse personagem, nós viemos com a ideia de um velho diabo inglês, um pop star com um passado primoroso, retornando regularmente a cada estação a Las Vegas e alegrando qualquer um que escutasse suas histórias dos bons e maus dias”, comenta Bono.

Nesse momento do show, entre a apresentação de “Daddy’s Gonna Pay For Your Crashed Car” e “Lemon”, Bono fazia um melancólico discurso, reclamando de algum tema, ora fútil, ora cheio de segundas intenções e, invariavelmente, ligava ao vivo para um dos citados. Se na primeira parte da turnê, o alvo invariavelmente era a Casa Branca, na fase “Zooropa”, Bono ligou para personagens díspares como Salman Rushdie, Luciano Pavarotti e até políticos com péssimo histórico, como o francês Jean-Marie Le Pen e Alessandra Mussolinni, neta do ditador italiano. Sobre isso, Bono comentou; “Eu liguei para a Alessandra Mussolini, a neta do ditador italiano, que estava começando a se envolver na política e nós tínhamos setenta mil pessoas cantando, ‘Eu apenas liguei para dizer que eu te amo’ na sua secretária eletrônica. Eu liguei para o arcebispo de Canterbury e disse para ele que eu adorava o que ele estava fazendo e que era maravilhoso que a igreja não parecia tomar partido de nada. Isso foi a morte, querido! Durante os nossos shows na Itália, em um momento de performance artística, eu me filmei andando pela praça do Vaticano. Nesse momento o MacPhisto desenvolveu uma maneira de andar mancando, e eu tinha uma bengala e ia enxotando os pássaros, vestido como o diabo, andando pela praça do Vaticano, murmurando ‘Um dia, tudo isso vai ser meu. Ah não, eu esqueci, isso é meu’”, finaliza.

O disco foi extremamente bem recebido pela crítica, apesar das vendas não terem sido tão expressivas para os padrões da banda até então. Muitos chegaram a elegê-lo como um dos melhores do ano e a banda ganhou um Grammy como “Melhor disco alternativo”, o que parece surreal. Praticamente todo o material do disco foi descartado após o término da “ZOO TV”; “Stay” é a única que foi mais regularmente tocada nas turnês subsequentes. “The First Time” apareceu em alguns shows da turnê “Vertigo”, entre 2005 e 2006 e, depois de dezoito anos, “Zooropa” foi finalmente tocada completa, e sua primeira apresentação foi exatamente aqui no Brasil, no segundo show da turnê “360°”, em uma performance tão arrasadora que foi mantida até o final da gira. Infelizmente, a banda não valoriza o disco como deveria; “Eu nunca pensei no Zooropa como algo mais do que um intervalo”, comentou Edge. “Mas um bom intervalo. De longe, o nosso mais interessante.”.

Bono complementa; “Na época eu imaginava Zooropa como um trabalho de gênios. Eu realmente achava que a nossa disciplina pop estava se encaixando na nossa experimentação e esse era o nosso Sgt. Peppers. Eu estava um pouco enganado em relação a isso. A verdade é que a nossa disciplina pop estava nos deixando para baixo. Nós não criamos hits. Nós praticamente não entregamos as músicas. O que seria de Sgt. Peppers sem as músicas pop?”.

A banda ainda manteve o pé na experimentação por mais alguns anos; O projeto “Passengers : Original Soundtracks One”, lançado em 1995, e o controverso álbum “Pop”, de 1997, que junto da sua turnê “Popmart”, quase quebrou a banda. Mas isso fica pra depois.

O que sobra, e o que deve ser sempre lembrado, é esse grande disco, de uma banda que tinha tudo para ser muito mais que produtores de hits radiofônicos. Se existe arte no trabalho do U2, ele foi todo comprimido nesse pequeno, esquisito e torto disco de dez faixas lançado há vinte anos. Uma pena que será esquecido…

NOTA DO BLOG (Adelvan): Por mim, nunca foi - esquecido. Vira e mexe me pego afirmando ser este o meu disco preferido do U2, muito embora goste de todos (ok, o último é fraquinho) e tenha um especial carinho por "The Joshua Tree". Lembro que eles já haviam entortado minha cabeça com "Achtung Baby", do qual eu não havia gostado. Quando vieram com "zooropa" pensei: "fudeu de vez, os caras piraram! Que porra de disco esquisito é esse? E que porra de falsete ridículo é esse de Bono (em Lemon)?". Mas com o tempo fui assimilando, e até hoje "lemon" é uma de minhas músicas favoritas do U2. Voltei a gostar deles e a partir dali com uma admiração renovada, já que, além de uma grande banda pop que lotava estádios, passaram também a ser um grupo que não tinha medo de experimentar e se reinventar. Só agora, com "no line on the horizon" - que ainda é um bom disco, pelo menos na primeira parte, que em vinil seria o lado A - eles parecem estar perdendo o fôlego. Tanto que o próprio Bono já acusou o baque e tem externado o medo de que sua banda se torne, finalmente, irrelevante. Tomara que não aconteça, mas se acontecer, eles podem ficar tranquilos: o legado que deixaram é enorme, imensurável.

por Marcio Guariba


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