quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Batalha do Circo voador

Foi uma verdadeira saga até que eu conseguisse chegar, finalmente, ao Circo Voador, naquela noite de quinta-feira em que o Brasil quase parou. Uma saga bem mais emocionante do que a do “João do Santo Cristo” que vi na tela do Cine Odeon minutos antes – porque real, pulsante, sem maquiagem. Sem Globo Filmes.

Mas consegui. Cheguei e entrei, achando que estaria finalmente seguro. Até certo ponto, sim, mas não foi possível evitar os efeitos colaterais do que acontecia ao redor: a policia caçava impiedosamente não apenas os manifestantes, mas qualquer um que estivesse nas ruas. É como se, em pleno Estado de direito, o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral Filho, tivesse decretado uma espécie de toque de recolher. Com direito a balas de borracha, bombas de gás lacrimogênico e até veículos blindados – chamados pelo povo das favelas de “caveirão”.  O Circo, que é aberto, protegido apenas por uma frágil cerca (que atualmente é revestida por uma lona com uma programação visual sensacional com todas as datas de shows que aconteceram por lá) foi invadido pelas nuvens de gás que, em contato com os olhos e a boca, provocam severas irritações. Desagradável – o que não deixa de ser, ironicamente, apropriado, já que é esse o nome do DVD que estava sendo lançado pela Gangrena Gasosa.

“Quando a gente fala que o clima fica pesado sempre que a Gangrena toca ninguém acredita”, disse Chorão 2 (foi promovido depois da morte do vocalista do Charlie Brown) ao iniciar sua participação naquela que seria uma noite muito especial. Ele era um dos diversos ex-integrantes que abrilhantariam a apresentação. Apresentação que teve que ser interrompida por dez minutos, logo no início, para esperar até que o gás lacrimogênico se dissipasse.

Voltaram com um gás renovado – outro tipo de gás. Aquele que corre nas veias sempre que somos provocados. A raiva, afinal, é um dos principais combustíveis do rock “pauleira”. Paramentados como entidades, como sempre, os caras (e a “mina”) mandavam uma porrada atrás da outra do mais puro e autêntico “Black Metal” brasileiro, o “saravá metal”, gênero do qual eles são os fundadores e, até onde eu saiba, únicos praticantes. Para o delírio dos mais velhos que acompanharam a carreira da banda, ao vivo ou de longe, como no meu caso – era minha primeira vez num show da Gangrena, no Circo Voador e em manifestações de rua violentas – as participações especiais foram se sucedendo: primeiro Paulão, vocalista de uma das formações clássicas, com seu visual “mezzo” rapper “mezzo” “Burzum”, depois o Chorão, Magrão e Cid – os dois últimos desalojando o pequeno grande Renzo, ex-DFC e Zumbi do Mato, da bateria. Magrão com a mão pesadíssima e Cid surpreendentemente competente, com direito a baquetas giradas na mão e stage dive “versão meia idade” ao final.

Foram vários os momentos antológicos. Os mais emocionantes foram aqueles em que o público participou ativamente, como em “Centro do Pica-pau Amarelo”, onde na paradinha para o refrão todos gritavam a plenos pulmões que “EMÍLIA POMBA-GIRA É UMA BONECA DE VODU”. Ou em “A Supervia deseja a todos uma boa viagem”, quando Ângelo e Chorão comandam a massa na invocação do capeta – Chorão, o autor da letra, se orgulha de que esta seja, provavelmente, a música que mais tem o nome de Satanás em toda a história do rock.

Os músicos são muito competentes, com destaque para o vocalista que substituiu Chorão sob o “fiá de Omolu”. Excelente, muito melhor do que o que gravou o show que está registrado no DVD – sim, já é outro! Chega a ser chocante comparar a atual formação da Gangrena com a dos primórdios. Outro nível, definitivamente. Inclusive nas composições: as mais recentes combinam perfeitamente a percussão “candomblezistica” com as palhetadas nervosas e os “blast beats”. Foi, no entanto, emocionante ver os “hits” dos primeiros anos, muito mais toscos, musicalmente falando, sendo interpretados pelos caras que os criaram, além de vê-los “arreando” o despacho em cima da galera – algo que, segundo o Marcos Bragatto, ao lado de quem eu assisti parte do show, ele nunca mais tinha visto. No final, Ângelo decreta: “PAU NO CU DO SERGIO CABRAL, PAU NO CU DO EDUARDO PAES E PAU NO CU DA POLÍCIA”.

O show da Gangrena foi precedido pelo de uma competente banda de Death Metal local, Fórceps, e sucedido por um dos pais sagrados do estilo, o Cannibal Corpse. Que instituíram o inferno sonoro sobre a terra assim que subiram ao palco, com brutalidade e competência, mas também com uma uniformidade de ritmo um tanto quanto maçante – isso dito por alguém que aprecia mas não é exatamente um fã do estilo, evidentemente. Foi um tapa no pé do ouvido atrás do outro, especialmente quando o guitarrista resolvia fazer um de seus raros solos - o som que saía dos amplificadores ficava ensurdecedor.

Imaginei que eles iriam se manifestar a respeito do que acontecia ao redor, mas nem uma palavra. A primeira coisa dita entre as músicas pelo vocalista, do qual ainda nem tínhamos visto o rosto, já que ele não parava de girar a cabeça transformando sua longa cabeleira numa hélice, foi que “pussy” era a coisa que ele mais gostava na vida. Depois, só apresentava algumas músicas, especialmente as mais “clássicas”. No final, dedica a apresentação a Jeff Hanneman, sob a aprovação do público ensandecido que passa a gritar “Slayer!”. “Sem ele, a gente não estaria aqui”. Mais do que justo.

Não vi nenhuma bomba caindo dentro do circo em si, como noticiado em alguns locais, mas parece que um dos proprietários da casa foi alvejado por uma bala de borracha ao tentar fotografar a ação dos “pigs”. Meu camarada Heron, vocalista da banda Uzômi, contou que, ainda lá fora, recebeu uma bomba de gás direto no peito, o que o fez passar muito mal, com ânsias de vômito. Fora isso, ao fim da noite, tudo em paz. Os combates haviam cessado e a madrugada avançava tranqüila. Fui resgatado das ruas por um argentino super gente fina (ou CB, Çangue Bom, em bom carioquês) que me acolheu de forma até comovente, de tão hospitaleira. Especialmente porque mal nos conhecemos, embora tenhamos vários amigos em comum – e eles ou não foram ao show ou não puderam ficar até o final, daí meu “abandono”.

Uma noite para ficar na história do Brasil – e da minha vida.

Fotos: Daniel Croce

texto: Adelvan

SARAVÁ!

#

quarta-feira, 12 de junho de 2013

# 276 - 08/06/2013

saara saara foi um projeto musical criado em 1985 no Rio de Janeiro pelos músicos Servio Tulio (vocal, efeitos sonoros, programação eletrônica) e Raul Rachid (máquinas, teclados, programação). Foi uma das bandas independentes mais tocadas pela radio Fluminese FM, a "maldita", na época. Lançou seu primeiro disco, "sucessos que o mundo esqueceu", apenas em 2003.

Os 5 Generais, de Brasilia, é considerada por muitos a primeira banda gótica nacional. Foi destaque no início dos anos 1980, junto a bandas como Plebe Rude, Escola de Escândalo, Arte no Escuro, Elite Sofisticada.

Já o Kafka foi formado em São Paulo nos anos 1980 por Abrão Levin (vocal e guitarra), Renato Mello (sax e guitarra), Renato R. (baixo) e Paulo Blitter (bateria). Lançaram dois álbuns pelo Selo e loja Baratos Afins, e ainda hoje é possível encontra-los por lá, inclusive uma versão em CD com os dois trabalhos. Clique AQUI para ler uma entrevista com a banda.

O Último Número é de 1985, de cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, e foi batizada com o título de um poema de Augusto dos Anjos. 


Finis Africae, também de Brasilia, nasceu em 1984. Seu nome quer dizer, em latim, “nos limites da África”. Foi inspirado pela leitura do livro "O Nome da Rosa", do escritor italiano Umberto Eco, que dava ao principal mistério de sua saga o nome de Finis Africae. O significado do finis revelava a intenção sonora da banda, que surgiu misturando batida tribal com ritmos negros como o funk e o soul com levada de rock baseada no pós-punk inglês.

A Nervosa, banda de São Paulo, faz um Thrash Metal cru e sem firulas! O site Menina Headbanger fez uma pequena entrevista com a Fernanda Lira, vocalista e baixista, onde ela conta um pouco da trajetória da banda. Confira!


Há quanto tempo você toca contrabaixo e como surgiu a ideia de montar a banda?

Eu tentava arranhar o baixo imitando meu pai desde pequenininha, mas peguei firme mesmo lá pelos 13, 14 anos, e desde então foi uma dedicação ininterrupta, pois passei por três bandas antes da NERVOSA, todas elas formadas apenas por garotas. Não que esse sempre quisesse ser meu foco principal pra divulgar a banda, mas sempre fui uma grande admiradora de bandas parcial ou totalmente integradas por garotas, como Warlock, Chastain, Acid, e principalmente Rock Goddess e Girlschool. Decidi sempre me envolver com bandas com esse foco, porque hoje em dia, creio que é interessante fazer algo 'diferente' dentro do metal, para que a banda se destaque, além de, obviamente, música de qualidade que vem em primeiro lugar. Bandas com mulheres existem em menor quantidade do que bandas com homens, então esse acaba, ainda hoje, sendo um diferencial. Acho que toda banda tem algo que a torne particular, única em relação às outras, no nosso caso, talvez seja esse. Fico feliz de ver MUITAS outras bandas, algumas inclusive BEM mais antigas que nós seguirem por esse caminho! Existem muitas mulheres apaixonadas por metal tanto quanto nós e é legal ver todo mundo expressando essa devoção montando sua própria banda.

Quanto à 'criação' da NERVOSA, a banda já existia desde 2010, mas com outras formações que não haviam dado certo, por isso não houve uma preocupação anteriormente em fazer uma divulgação firme da banda. Mas as meninas, basicamente, queriam outras meninas para fazer um Thrash com pegada e de qualidade! 

Da onde surgiu o nome "Nervosa"?

O nome já havia sido escolhido quando ingressei na banda, mas eu me apaixonei pelo nome pelo mesmo motivo que elas os escolheram: um nome em português, agressivo, porém feminino ao mesmo tempo! Sem contar que é algo simples e muito fácil de memorizar e assimilar. Pelo bem ou pelo mal, quem ler, dificilmente vai esquecer do nome! Hehe! 

Montar uma banda formada somente por mulheres não é algo simples, como foi que você encontrou as demais garotas?

Olha, eu posso dizer com TODA A CERTEZA que é MUITO difícil, porque já tive muitas experiências anteriores.

O legal da NERVOSA é que somos focadas totalmente na música, temos os mesmos ideais de querer fazer a coisa acontecer, deixando de lado as picuinhas que geralmente são problemas em outras bandas de mulheres. Não ligamos para o que a outra veste, não ficamos de picuinha nem fofoquinha, não damos trela para que qualquer bobeira influencie no humor e no foco da banda. Por isso eu amo essas meninas! Eu entrei na banda bem depois de sua criação, já na metade de 2011, e então a banda resolveu investir em compor, fazer shows e se divulgar! A história foi bem interessante. Em janeiro eu tinha acabado de ser expulsa da minha ex-banda e aquilo foi, de início, TÃO traumático pra mim, que eu tinha decidido nunca mais tocar em lugar algum. Não conseguia mais confiar em ninguém e nem acreditar que outras pessoas poderiam me aceitar em uma banda do jeito que sou, do jeito que me visto, do jeito que me comporto, do jeito que me comprometo, o que não aconteceu na minha banda anterior. 

Então um dia, eu tava hiper triste e passei a tarde com meu namorado. A gente resolveu assistir àquele filme sobre a biografia da banda The Runaways. Em um momento, a vocalista da banda, no filme, diz pra guitarrista Joan Jett que gostaria de ter sua vida de volta, porque não aguentava mais a vida do rock. então, a Joan fala pra ela "Bem, ESSA é a minha vida". E naquele momento eu percebi que a minha vida É o metal e que eu não podia desistir do meu sonho por outras pessoas julgarem que eu era irresponsável, que a minha cabeça "tinha parado nos anos 80" e que meu colete com patches as incomodava. Então decidi me revigorar e seguir em frente. Nisso, sempre tive MUITO APOIO ININTERRUPTO dos meus amigos e familiares. Devo muita coisa a eles. MUITA! Passei a procurar meninas interessadas em tocar, mas acreditem - é MUITO difícil! Ainda mais para tocar Thrash Metal, que era meu foco. Quando eu estava quase desistindo, vi a baterista Fernanda Terra postando no Facebook dela algo sobre a banda NERVOSA, banda só com garotas, com influência de Slayer e Sepultura. A primeira coisa que pensei? "Putz, roubaram minha idéia" ! Mas mal sabia eu que elas estavam à procura de baixista e vocalista. 

O André, guitarrista das bandas Nitrominds e Musica Diablo, tinha me indicado pra umas das meninas, e a Fernanda Terra dá aula no mesmo lugar que meu namorado. Então através de indicações elas chegaram até mim, e quando abri o e-mail da guitarrista Prika, ela falava que procurava alguém no baixo que pudesse acompanhá-la "nos seus riffs com influência do Kill 'Em All" do Metallica! Não pensei duas vezes! Como já fazia backing vocals na minha antiga banda, comentei com elas que eu poderia fazer um teste cantando pra ver se eles gostavam, e acabou rolando! Foi incrível encontrar essas meninas. A gente vive falando que a gente, atualmente, é a banda com que todas sonhávamos! Cada uma vê na outra exatamente tudo o que sempre procurou em companheiras de banda e isso é maravilhoso! 

Recentemente houve a saída da guitarrista Karen Ramos. Qual foi o motivo para o desligamento dela da banda e como foi tomar a decisão de seguir como um Power Trio ao invés de arranjar uma guitarrista substituta?
A Karen morava em Curitiba e desde que entrei na banda ela estava pensando em vir pra cá. Sempre apoiamos e fomos muito pacientes com ela, afinal, largar a vida estável em uma cidade para arriscar em outra, não é uma decisão fácil. O tempo foi passando e a dedicação de todas devia aumentar para que acompanhasse o ritmo em que a banda estava seguindo. A distância, infelizmente, interferia MUITO nisso, pois raramente podíamos contar com ela em assuntos emergenciais e em outras questões mais simples de uma banda, como ensaios, por exemplo. Então ela começou a sentir que precisaria vir para cá, pra podermos andar todas no mesmo ritmo. Oferecemos um leque de oportunidades e apoio caso ela viesse para cá, mas ela acabou tomando a decisão de ficar por lá e investir em outros projetos. A saída foi hiper pacífica e mantemos contato normal com ela até hoje. Foi doloroso pra gente e pra ela, é claro, mas todas compreendemos que a distância estava afetando muito a produtividade da banda e aceitamos e respeitamos a decisão dela! Optamos em permanecer como um power trio, pelo fator determinante do entrosamento. Já estávamos acostumadas a fazer muitas coisas somente nós três, e estamos em um nível de entrosamento e amizade incrível e bem nivelado. Portanto, naturalmente, qualquer pessoa que entrasse, se sentiria deslocado e dificilmente acompanharia a gente. Então preferimos seguir adiante dessa maneira e estamos muito confortáveis com isso. Quem já pôde ver ao vivo a formação como um trio alegou ter gostado muito do resultado! Estamos muito felizes e satisfeitas. 

A Nervosa é uma banda relativamente nova e já alcançou uma boa repercussão, fechando parcerias e fazendo vários shows, alguns até junto com bandas importantes da cena do Metal no Brasil e já há shows agendados juntamente com a Artillery, Exumer e Exodus. Como é lidar com tudo isso?

Cara, na verdade isso tudo é resultado de MUITA correria, de verdade. Tudo o que a gente conquista, cada pequenos passo que a gente dá, são resultado de muita correria. a gente sabe que pra chegar em algum lugar, que pra fazer o máximo de pessoas conhecerem nossa música que é feita com tanta paixão e dedicação, vai depender somente de nós mesmas. Se a gente ficasse parada, na nossa, nada teria acontecido. E meu, TUDO o que a gente faz são coisas simples! Demandam tempo, mas são coisas simples, que qualquer banda que tenha sangue nos 'zóio' pra fazer acontecer, pode fazer.

O nosso site, nós mesmas fizemos, nosso logo, nós marcamos os shows, nós fazemos nossa própria divulgação por não ter grana pra assessoria de imprensa e tudo o mais, nós que varamos a noite divulgando links por aí, nós que corremos atrás de amigos e parceiros pra ajudar a gente nesse começo e naturalmente a gente vai vendo o resultado, e cada uma dessas coisas significa MUITO pra gente. A gente lida com tudo isso da melhor maneira possível, porque é o resultado palpável de toda a nossa correria e dedicação!

Quanto ao Artillery, Exumer e Exodus, não vou nem comentar, PORQUE AINDA NÃO ESTOU ACREDITANDOOOOOOOO! hahaha Vai ser demais, me belisco todos os dias pra acreditar no convite que fizeram pra gente tocar com essas bandas, que são enormes influências pra gente. Pra mim é algo surreal ainda, só vou acreditar quando chegar o dia e dermos o nosso melhor em cima do palco! É uma p&*ˆ% de uma responsabilidade, mas lutamos pra conseguir e vamos provar que valeu à pena pra quem acreditou na gente! A chave para conseguir alguma coisa está dentro de você: acredite, se dedique e NUNCA tenha medo.

por Iza Rodrigues
Menina Headbanger

######################### 

Johnny Marr - The Messenger
Morrissey - Such a little thing makes such a big difference
The Smiths - How soon is now (Italian 12 inch version)

Nine Inch Nails - Come Back Hunter

Black Sabbath - Damaged Soul

Nervosa - Invisible opression
Sepultura - Inner self
Korzus - Ties of blood
Violator - Thrash maniacs
Berzerkers - Desperaty

The Flaming Lips - Look... The sun is rising

Frank Zappa - Baby Snakes
Faith No More - Hippie jam song
Melvins - Night goat

Air - Kelly, watch the stars!
Bluer - To the end
Cocteau Twins - Five Ten Fiftyfold
God is an astronaut - Forever lost

Saara Saara - Carta Corrente
Os 5 Generais - Pássaros negros
Kafka - Valsa do medo
O ùltimo Número - Animal sentimental
Finis Africae - Armadilha


#

Tina is a punk rocker

A janela da casa na Freguesia do Ó, zona leste de São Paulo, é a única pista de que ali, naquela rua calma, mora o punk brasileiro, ou boa parte do que o movimento representou. Adesivos de bandas e selos de punk rock colados no vidro fazem com que a reportagem da Tpm pense: “Deve ser aqui”. Quem atende a porta é Tina Ramos, 50 anos, conhecida como Tina Punk (o apelido “Tina” ela ganhou na adolescência, quando tinha o cabelo comprido como o da personagem de Mauricio de Sousa; o nome dela é Rosineide), acompanhada de Ariel Liana, seu marido há mais de 30 anos e vocalista do Restos de Nada, banda icônica do movimento.

Tina é uma mulher de cabelos curtos, unhas pintadas de vermelho, mãe de dois homens – Eric, 28 anos, e Lery, 33 – e se prepara para ser avó.Na casa onde moram dois “punks velhos”, como se autodenominam, estão guardados fanzines, discos, panfletos de show, memorabilia da época em que o movimento que veio da Europa musicando a liberdade estava começando no Brasil. Recentemente, o museu madrilenho Reina Sofía, que fez uma exposição sobre os anos 80 na América Latina, recorreu a Tina e Ariel para conseguir material sobre o punk em São Paulo. 

Mas quem olha o casal pacato de punks maduros não imagina, por mais que a sala seja cheia de quadros ilustrados com caveiras, que Tina era a garota mais temida da capital paulista nos anos 80.

Um por todos

“Não tinha como ser mulherzinha: uma punk tem que ser forte, não pode ter frescura. Quando iam bater nos seus amigos você ia sair correndo e chorar? Não, você ia defender eles”, diz ela lembrando de uma época na qual o movimento usava a violência para protestar contra a ordem das coisas e contra todos os que pertenciam à caretice do mundo e das instituições. Tina, que foi mãe aos 16 anos (do primeiro relacionamento, do qual ficou viúva) casou com Ariel aos 20 e depois teve um filho dele, garante que nunca foi de bater. Mas Ariel conta que as meninas que queriam “andar com os punks” precisavam pedir autorização para ela. “Eu sempre deixava”, diz Tina, que já era punk quando conheceu Ariel, em 82. “A gente bateu o olho e ficou. Aí fomos em um show no Rio e passamos uma semana lá. Depois, fomos viver juntos.” Isso na casa da mãe de Tina. “Ela defendia o punk rock”, conta a filha, que foi criada longe do pai.

Para entender como as brigas estão presentes na história de vida do casal é preciso voltar no tempo e lembrar que nos anos 80 o Brasil ainda vivia em uma ditadura militar e o punk já era visto como um movimento cultural que veio da música, era representado por gente como Iggy Pop e Ramones e se colocava contra o sistema e a favor da reflexão do que representava, afinal, a experiência humana. Mas, mais do que isso, tratava- se de um movimento que estimulava cada um a ser o que era e a não se curvar à ordem. Como qualquer ideologia em busca de espaço e personalidade, no começo as brigas físicas eram constantes: os punks se dividiam em gangues e saíam no braço. “Hoje as pessoas estão muito apáticas”, diz Tina. “A gente lutou por liberdade para que todo mundo ficasse em frente ao computador?”

Ela conta que as primeiras meninas punks participavam das brigas de igual para igual. “Você não ficava de fora só porque era mulher”, lembra. Passar noites na cadeia era corriqueiro. Eles eram bandidos? Não. Eram punks. E ser punk na época era perigoso. “Ser mulher e punk era muito difícil. Você vivia em um país sob ditadura, não podia se agrupar em dois ou três que já tomava geral. E por andar com um visual diferente, de minissaia, corrente, cinta-liga, era tirada de puta o tempo inteiro.” Tina não via motivo para se masculinizar. “Acho que a mulher é [antes de tudo] mulher. Não tem que ser machão só porque é punk. Dá pra ter um visual feminino. Mas na hora de ter atitude tem que ter atitude. Não importa se está de minissaia, de batom. O respeito vinha daí.”


“Mão na cabeça!” 

Tina Punk era uma das poucas meninas do movimento e, com os marmanjos, encarava também as gangues. “Eu era da gangue da Vila Carolina”, diz Ariel. “E a grande briga sempre foi entre os punks do ABC e os punks do subúrbio. Era briga por espaço. E esse espaço era o centro da cidade.” Tina, na época, era respeitada por todas as gangues. Mas as coisas pioraram na metade dos anos 80 com a chegada dos carecas, grupo que propagava ideias neonazistas e o white power, trazendo para a cena os canivetes, os revólveres e a intolerância. “Eles surgiram como uma gangue para acabar com os punks e aos poucos foram ficando ideologicamente de direita, com aquelas ideias horríveis de bater em gay e em nordestino”, diz Tina.

Nessa época, era comum para o casal mudar de endereço para fugir do assédio dos carecas. “O Ariel era um dos líderes do movimento, então era como se a cabeça dele valesse muito. Eles descobriam nosso endereço e começavam a rondar. Quando ficava insuportável, a gente mudava.” Pergunto se ela tinha medo e a resposta é automática: “Nunca tive medo de nada”. Em seguida, conta de uma briga em que se meteu quando estava grávida de oito meses e, num bar no bairro do Bexiga, enfrentou os carecas.

Foi nessa rotina de mudanças que seus filhos cresceram. Como a casa de Tina e Ariel era uma espécie de central punk em São Paulo, os meninos apenas se misturavam à bagunça. “Até hoje eles dizem que os punks eram as melhores babás que uma criança poderia ter”, diverte-se Tina.

Mas lembra dessa época como uma fase difícil. “Nós, meninas, muitas vezes carregávamos as armas porque era mais fácil um cara levar dura.” Mas jura que nunca precisou atirar: “A minha maior arma era a língua”. Tina lembra do dia que em estava com João Gordo no largo São Bento, no centro, e a polícia chegou: “Mão na cabeça!”. Tina respondeu: “Aqui não tem bandido, somos punks. Por que vou pôr a mão na cabeça?”. Os policiais não gostaram, arrancaram o cinto que Gordo usava e ele ficou parado segurando as calças. “Vão levar o cinto? Então quem está roubando são vocês. Me coloca no camburão que vou dar parte de vocês”, disse ela, para desespero de Gordo. Como não parava de falar, os policiais deixaram os dois para lá. “A Tina era a voz ativa. Não era a mais briguenta, mas ela batia boca mesmo”, conta João.

Nos anos 80, depois de amadurecer, o movimento se percebeu como uma ideologia de combate ao sistema que pregava a liberdade como única forma de autoconhecimento. Hoje, para Tina, muitos se venderam para o sistema e traíram o movimento. “O que mais tem é gente que arruma uma mulher careta e o fato de ter sido punk vira uma loucura da juventude”, ri Ariel.

Mas os dois, às vésperas de se tornar avós, ainda são punks. Ariel continua tocando e Tina produz shows e eventos, sempre ligados ao punk. Quando reclamam por não conseguir espaço para shows, falam: “Os políticos não se interessam porque punk não vota”, diz. Mas eles não parecem preocupados com os políticos, apenas em seguir lutando, desta vez sem armas. Tina e Ariel ainda são contra o sistema. E ainda querem mudar o mundo. Punk’s not dead, diz a máxima. O casal é a prova.

por Nina Lemos e Gabriela Sá Pessoa

tpm

#

# 275 - 01/06/2013

No programa do primeiro dia de junho fizemos mais uma homenagem ao eterno "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", dos Beatles - o disco mais importante da história do rock. Desta vez colocando no ar uma regravação lançada em 1992, durante as comemorações dos 25 anos do álbum, pelo grupo Big Daddy 59 - uma banda montada em 1988 em North Hollywood, California, com o objetivo de tocar hits do rock em arranjos no estilo clássico dos anos 1950.

Outro aniversariante é o disco "last Splash", das Breeders. Elas virão ao Brasil executá-lo na íntegra. Vai ser bonito.

A.

##############################################

Megadeth - Supercollider
Alice in chains - The Devil put dinosaurs here

Nightwish - Wishmaster
Warlord - God kill the king
Ghost - SEcular haze
Cathedral - Cats, incense, candles & wine

The Breeders - Divine Hammer (single version)

Plastic People of the universe - Dvacet
Krausberry - Na Hrad
Jiri Schelinger - Jahody Mrazeny
Mnága a Zdorp - Písnicka pro Tebe
Harlej - Poveste ho vejs
- por Juliano Mattos

Tomahawk - Stone letter
Mudhoney - I like it small
Jello Biafra & The Guantánamo School of medicine - The Brown lipstick parade (spit valve brASS mix)
Queens of the stone age - Keep your eyes peeled

Big Daddy - Sgt. Peppers Lonely Hearts Club band
# Whit a little help from my friends
# Lucy in the sky with diamonds
# Getting Better
# She´s leaving home
# Being for the benefit of Mr. Kite
# When I´m sixty four
# Sgt. Peppers (reprise)
# A Day in the life

#

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Necronomicon, por eles mesmos ...

Nelson Rodrigues tinha um conselho para os jovens: "Envelheçam!". Há, realmente, algumas vantagens. Uma delas é poder assistir, vivo (sei lá, de repente existe mesmo vida após a morte e a gente pode acompanhar de lá o que se passa aqui como se fosse uma internet, como foi mostrado naquele filme brasileiro de ficção "científica" espírita, "Nosso Lar") e ao vivo, ao passar dos tempos. Ver as coisas se renovarem, muitas vezes com uma base sólida no que de melhor foi feito no passado mas ao mesmo tempo com uma energia que só a juventude é capaz de proporcionar. É o caso da Necronomicon, novíssima banda alagoana que já se destaca no cenário "alternativo" pela excelencia de sua música e competência de seus músicos. Têm dois discos lançados - o segundo em colorido e glorioso vinil - e fazem um som pesado e "retrô". Saiba mais sobre eles na entrevista exclusiva abaixo:

programa de rock: Como foram as apresentações nesta “minitour” por São Paulo? – onde tocaram, sob quais condições, qual a reação do público, etc.

Thiago Alef: Olha, ficamos bem felizes com a recepção dos paulistas, gostaram bastante, vendemos todo nosso merchan!

Pedro Ivo: As apresentações foram incríveis! Primeiro tocamos no Vale do Anhangabaú, num evento gigantesco com vários palcos organizado pelo pessoal do Fora do Eixo e diversos coletivos da cidade. O Luiz Calanca, da Baratos Afins, ganhou um palco lá e nos colocou pra tocar. Tínhamos acabado de chegar na cidade, não fazíamos ideia de que reação as pessoas teriam conosco, mas tudo deu certo e o público adorou o som, ganhamos muita visibilidade nesse dia.

    Dois dias depois fomos tocar em São Caetano do Sul, uma gig armada pelo pessoal da Topsyturvy (que é uma banda animal, diga-se de passagem). A casa (Cidadão do Mundo) é ótima e tinha uma acústica sensacional. Neste dia conhecemos o Fernando, um cara bem legal que saiu da capital só para nos ver e comprar nosso merchan!

    Uma semana depois tínhamos a noite mais pesada, em que tocaríamos duas vezes: no evento mensal da Galeria Olido com curadoria do Luiz Calanca, o Rock na Vitrine; e numa casa na zona leste chamada Formigueiro, que o Renato Gimenez (Social Chaos, Armagedom) e o Bruno Bonga (Helvetin Viemärit) armaram pra gente. Estávamos com medo do cansaço, mas as duas tocadas foram tão boas que nem sentimos isso! Nota: o Formigueiro é o bar de rock mais legal em que já estive.

    E no fim de semana seguinte a última gig da tour, em Barueri, também via Bruno Bonga. Era nossa despedida, então tocamos feito malucos, improvisando coisas novas durante todas as músicas (eu pelo menos fiz isso haha...). Foi uma noite massa e um encerramento digno para a tour!

   No mais, foi demais dividir o palco com bandas tão diversas e incríveis como As Radioativas, a lendária Armagedom, Doutor Jupter, Bombay Groovy, Topsyturvy, Fábrica de Animais, Qerbero, Cosmo Shock, e mais um monte!

Lillian Lessa: Fizemos 5 apresentações. A primeira delas, a do “Anhangabaú da Feliz Cidade”, tinha vários palcos e um público legal em todos. Tocamos no palco Baratos Afins e fomos super bem recebidos, a galera chegou junto durante o show e comprou nosso merchan no final; começamos a tour com uma energia positiva.

A segunda, em São Caetano do Sul, no “Cidadão do Mundo”, foi em um domingo e não colou muita gente, mas conhecemos um cara bacana que gostou da banda e ainda nos ajudou a pegar o trem na volta pra casa.

No sábado seguinte, tocamos em dois eventos. O primeiro deles foi o “Rock na Vitrine”, um evento que acontece uma vez por mês na Galeria Olido (ao lado da galeria do rock) e tem como curador o Luiz Calanca. Foi legal porque tinha um clima meio de teatro, as pessoas sentadinhas prestando atenção no som, e ainda tinha as pessoas que passavam na rua e nos viam pela vitrine, é bem interessante o ambiente. O público curtiu, teve até um cara que já tinha nos visto no Anhangabaú e foi nos ver de novo; no final vieram conversar com a gente e comprar material, foi massa. O Calanca filmou a banda e disponibilizamos duas faixas no youtube – “Holy Planet Yamoth / The Assassin’s Song”. Nessa mesma noite, seguimos para o “Formigueiro”, que é um bar irado onde sempre rola rock e tem entrada franca, então geralmente cola uma galera lá; tinha muitas meninas e no final vieram trocar ideia comigo, algumas também tinham ou tiveram banda, e é legal ver que estamos conseguindo nos inserir mais na cena.

Para encerrar a tour, tocamos no “Triball” em Barueri na sexta-feira seguinte. O público curtiu e também comprou merchan no final, foi bacana encerrar a tour com praticamente tudo vendido, mas não estamos ricos, longe disso... (risos).

pdrock: Há planos de continuar a circular pelo país? E o exterior, algo em vista?

Thiago Alef: Olha, planos e vontade existem, é muito legal poder mostrar o som para outro público. Devido ao alto custo de uma viagem dessa, temos que planejar tudo com bastante cuidado, mas é uma idéia que não nos sai da cabeça.

Lillian Lessa: Com certeza. Estamos em busca de contatos que possam nos ajudar a fazer tour em outros estados e pretendemos nos organizar para uma viagem maior no próximo ano.

Pedro Ivo: Planos sempre há, mas falta o capital. Queremos ir para inúmeros lugares no Brasil, mas é difícil ganhar ajuda de custo para bancar as viagens no circuito independente, é quase sempre do próprio bolso. Para o exterior, idem: temos planos de ir, mas irá demorar até que arrecademos a grana necessária - embora quem toca fora diz que geralmente se consegue recuperar nas gigs o que foi gasto. Mas por ora apenas o que temos de concreto é uma ida a Sergipe em meados de agosto. (NOTA: OBA!)

pdrock: Quais foram as melhores e piores apresentações da banda até o momento?

Pedro Ivo: As piores foram as primeiras, lá em 2009. O som ainda estava muito verde, tocamos em festas muito ruins e ninguém gostava de nós. E quanto às melhores, elejo 3 por seus significados para a banda: 1- nossa primeira apresentação em Aracaju em 2012, foi quando sentimos pela primeira vez um público caloroso e 100% receptivo; 2- o evento que nós mesmos organizamos em Maceió em agosto de 2012, no qual percebemos que tínhamos um público disposto a ir num evento só por nossa causa em nossa própria cidade; 3- a apresentação no Anhangabaú, que mostrou que aquela SP gigantesca e fria tinha calor humano e nos acolheria.

Lillian Lessa: É difícil escolher as melhores, porque cada lugar tem suas particularidades e se torna especial de forma diferente, tem show que a gente faz tudo certinho e tem outros que a energia do público tá tão legal que eu me empolgo mais e termino errando alguma coisa, é engraçado. Mas a pior apresentação com certeza foi a primeira, pois nessa época o Pedro tocava bateria e as pessoas achavam estranho o baterista cantar. Eu já tocava há 3 anos mas essa era a primeira apresentação da minha primeira banda, então eu estava bem tensa. A maior parte do público ficou do lado de fora, e quem entrou gritava “vão embora”.

pdrock: Como tem sido a recepção e a repercussão ao disco “The Queen of death”? Está dentro das expectativas de vocês?

Pedro Ivo: O disco tem sido sempre bem recebido e comentado, apesar de não termos conseguido nenhuma divulgação "mainstream". A repercussão tem sido baseada no boca-a-boca, mas sempre tem gente nova conhecendo e compartilhando suas impressões conosco.

Lillian Lessa: Eu tô achando muito boa, confesso que superou minhas expectativas. Nosso primeiro disco, “Necronomicon”, teve bons reviews, mas os cds demoraram mais tempo para esgotar no selo, não tínhamos arte legal para a capa e o som tinha outra pegada. Com o "Queen of Death" foi diferente, em torno de 6 meses a primeira prensagem do vinil esgotou e será feita uma segunda prensagem, o que é bastante animador.

pdrock: O disco foi lançado por uma gravadora “gringa” - por conta disso têm recebido algum tipo de contato em especial vindo de quem conheceu a banda no exterior? Demonstram alguma curiosidade pelo local de onde vocês vieram? Afinal, Alagoas não é exatamente um dos estados mais conhecidos do Brasil, especialmente fora do país ...

Pedro Ivo: Lançar na gringa proporcionou que pessoas do mundo todo nos ouvissem. A maioria dos estrangeiros que entram em contato são da Europa: Finlândia, Noruega, Alemanha, Holanda... E nunca falaram nem demonstraram nada sobre de onde viemos: ou não se importam e prestam atenção só na música; ou pra eles o Brasil é tudo uma coisa só.

Thiago Alef: Olha, tem uma história engraçada que ilustra um pouco essa repercussão que estamos tendo de fora. Após um dos shows de São Paulo, um americano residente aqui veio conversar com a gente, por curiosidade perguntei como ele conheceu nosso som, ele nos disse que um amigo da Itália indicou o som pra ele, que por sua vez mostrou para sua esposa paulistana que ficou surpresa por existir esse tipo de som por aqui! haha

Tem um garoto norueguês que vira e mexe solta um vídeo tocando alguma música nossa. São coisas pequenas mas que nos impressionam, ver que nosso som está tão longe e sendo bem recebido, muito legal isso.

Lillian Lessa: Tem algumas pessoas do exterior que mandam mensagens inbox pra nossa fanpage no facebook, tipo “comprei o disco, gostei do som de vocês”. O americano que ouviu a banda por indicação de um amigo da Itália (what?) foi nos ver no Rock na Vitrine e gravou uma entrevista para o seu radio show “Electric Lounge of Aural Ecstasy”. Ele mora em São Paulo mas o programa é transmitido nos EUA, e esse é um tipo de contato que talvez não fosse possível se o disco não tivesse sido lançado por um selo de lá. Quem é de outros estados e conversa um pouco mais com a gente sempre pergunta como é Maceió, como é a cena, rola curiosidade e interesse em conhecer mais bandas daqui.

pdrock: Pois é, já andei muito por aí, mas "a long time ago, in a far away galaxy". Era muito amigo dos caras do Living In The Shit e do Misantropia, mas confesso que hoje em dia estou meio por fora. Como está a situação atual do rock em Alagoas? E como é a relação de vocês com o rock feito aí? Se sentem inseridos no contexto, circulam bem entre as “tribos”?

Thiago Alef:  É complicado como em todos os outros lugares, muita banda boa e poucos lugares para divulgar o som. Infelizmente vivemos em um lugar em que as pessoas preferem assistir alguém cantando música dos outros do que a própria, nada contra covers, eu também os toco. Mas limitar o já restrito espaço musical a isso é um pouco chato. Acho que por conta da repercussão atual do nosso disco, as pessoas estão começando a virar os olhos para nós e estamos bem felizes com isso.

Lillian Lessa: Apesar de não haver qualquer incentivo por parte do governo, as bandas aqui têm persistido e a cena continua, tudo no “faça você mesmo”. As bandas ou coletivos organizam seus próprios eventos e convidam outras bandas para tocar neles. Imagino que em outros estados também seja assim, o rock autoral de qualidade está sempre no underground, é preciso ir à procura se quiser conhecer. Nós temos uma boa relação com o rock feito aqui, já tocamos em eventos com várias bandas e é sempre gratificante poder participar.

Pedro: É isso, o rock aqui segue o mesmo roteiro de todo o país: nenhum incentivo, apoio nulo das casas de show, gente maluca e que acredita no underground correndo e dando tudo de si para que as coisas se movimentem. A "cena" não é grande, então todos se conhecem e, eventualmente, se tornam amigos, independente de "tribos" - até mesmo porque grande parte dos shows reúne bandas de gêneros totalmente distintos, o que dá um ar de "tamo todo mundo no mesmo barco" para a coisa.

pdrock: Quais as outras bandas alagoanas, atuais, do passado, que já acabaram ou que ainda estão na ativa, que, na opinião de vocês, nós não poderíamos deixar de ouvir?

Pedro Ivo:  Hermeto Pascoal, Djavan... Haha, brincadeira. Não, a parte do Hermeto é séria! Morcegos, Mopho, Cheiro de Calcinha, Katty Winne, Baztian, Gatas & Sorvetes, Capona, Azul Manteiga, Marcelo Cabral, Ophicina de Sonhos, Barba de Gato, Morra Tentando, Eek, Misantropia, Cris Braun, Gnose Tequila... Tem inúmeras, com certeza estou esquecendo de muita gente agora, e olha que só falei de quem está na ativa!

Thiago Alef:  falar da "Mopho" é meio chover no molhado, mas é uma parada obrigatória para quem curte uma psicodelia. Gosto muito dos trabalhos da Katty Winne, Messias Elétrico, Banda Eek etc, tem realmente muita coisa boa por aqui!

Lillian: Messias Elétrico, Mopho, Mente Profana, Canela Seca & os Buchos de Candunda, Gatas & Sorvetes, Katty Winne, Baztian, Capona, Morra Tentando, Marcelo Cabral, Morcegos, Autopse e por aí vai... muitas bandas legais, e não vai ser difícil encontrar uma que se encaixe no tipo de som que você esteja procurando.

pdrock: E do Brasil e do mundo, o que vocês mais curtem ouvir? Curtem bandas novas ou ouvem apenas os clássicos? Ou curtem apenas bandas novas que se espelham nos clássicos?

Lillian Lessa: Eu curto os clássicos e as bandas novas. Dos clássicos, o que rola sempre é Beatles, Badfinger, Cream, Blue Cheer, Birtha, Led Zeppelin, Jethro Tull, Yes, Pink Floyd, Renaissance, Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC, Mutantes, Rita Lee, Secos & Molhados, Novos Baianos. Das bandas novas eu me apaixonei pelo Purson, e também Witchcraft, Kadavar e Blood Ceremony.

Pedro Ivo: Eu não tenho estado muito atento ao que se produz hoje em dia não. Não por só curtir velharias, mas é que é do passado que tem vindo o que me toca. Ultimamente tenho ouvido muito Gong, Magma, Mutantes, Sabbath, Cherry Five, Van der Graaf Generator, Damnation, Blue Cheer, etc etc etc. Mas também tocam na vitrola coisas como Kadavar, Orchid, Witchcraft, Gil, Gal, Ben, e os eteceteras continuam...

Thiago: Já eu sou meio maluco quanto a isso, amo os clássicos 60 e 70, mas ultimamente estou ouvindo muita coisa de 2000 pra cá, tenho a curiosidade mórbida de ver no que está se transformando aquele rock que tanto curtimos. De uns tempos pra cá eu venho ouvindo bastante "The Black Keys", gosto da atmosfera crua dos primeiros discos, sou fã incondicional do power trio e da simplicidade implícita nesse formato, mesmo sendo um duo, acho que eles reproduzem bem isso nos primeiros discos. Do Brasil, venho ouvindo muito uma banda conterrânea sua, "The Baggios". Como eu disse anteriormente, sou fã do rock cru e acho eles um dos melhores representantes dessa sonoridade no país. Mas claro que Beatles e Zeppelin são audições obrigatórias, quase que diariamente.

pdrock: Falem-nos da formação musical de vocês – quantos anos vocês têm, e como foram os primeiros contatos com a musica, como começaram a se interessar em tocar, e como concretizaram a coisa – estudaram, são autodidatas ...

Lillian Lessa: Eu tenho 22, Thiago tem 25 e Pedro tem 26. Meu primeiro contato com a música foi ainda criança, ouvindo os discos dos Beatles que a minha irmã tinha. Ela também tinha umas revistinhas que falavam deles, e posters, e toda essa coisa de beatlemania... Meu “laço” com os Beatles permanece até hoje, é nostálgico e novo ao mesmo tempo. Na adolescência vieram diferentes fases: grunge, punk, heavy metal, hard rock e por aí vai... Aos 14 anos eu decidi que queria tocar violão para aprender “about a girl” e outros clássicos do Nirvana. Passaram 3 meses e eu preguiçosa nem sabia segurar o violão, daí minha irmã falou que se eu não aprendesse a tocar iria vendê-lo. Com a ameaça iminente de venda eu consegui aprender alguns acordes através de cifras e tablaturas na internet, além do amigável “Guitar Pro”. No ano seguinte eu comprei minha primeira guitarra e um pequeno amplificador. Tinha dois amigos no colégio que eram super fãs do Black Sabbath, e eu curti logo que conheci. Eles também tocavam guitarra e a gente tocava junto, cada um tocava os pedacinhos que sabia de Snowblind, Paranoid, Iron Man e outras ‘pedras’, era bem legal. No ano seguinte eu mudei para Maceió (sou do interior, de Palmeira dos Índios) e surgiu a Necronomicon.

Pedro Ivo: Comecei com uns 14 anos tocando violão. Tinham violões do meu pai e velhas revistinhas de cifras em casa, daí fui aprendendo desse jeito, com as revistinhas. No ano seguinte já tinha começado uma bandinha para tocar Nirvana e músicas nossas que imitavam Nirvana. Desde então participei de outras bandas e continuei tentando compor coisas novas.

pdrock: Achei bem interessante o conto que acompanha o disco “The Queen of death” – foi uma experiência única, específica para o disco, ou vocês têm mais algum material produzido nessa linha? Existe alguma pretensão literária a ser desenvolvida por algum de vocês? Tipo, lançar um livro, ou publicar os textos na net ...

Pedro Ivo: Tenho algumas ideias aqui e acolá, de contos, quadrinhos, filmes... Mas por enquanto o conto que acompanha o disco é o único que foi finalizado. Pretendo me dedicar mais à criação literária, mas nada muito ambicioso por ora.

Thiago: Foi uma experiência muito legal! Confesso que me foquei mais na parte dos arranjos, o pedro que cuidou de encaixar cada peça no seu lugar. Quanto aos formatos, já temos algumas idéias que acho que em breve sairão do papel, mas por enquanto não podemos falar para manter a surpresa.

pdrock: Qual a impressão que ficou em vocês do público sergipano depois das apresentações que fizeram em Aracaju? Pretendem voltar?

Thiago Alef: Adoramos! Foi uma ótima surpresa, muito legal, o público respondia a cada passagem das músicas, vibrava e surpreendentemente até as cantava! É sempre legal propagar nosso som fora da nossa casa. Claro que queremos voltar!

Pedro Ivo: Tocamos duas vezes em Aracaju, e foram duas das melhores noites de minha vida. Curtimos muito o público, a cena, as bandas, as pessoas, o Programa de Rock... E sim, já estamos planejando uma nova volta!

Lillian: O público sergipano é demais! A primeira apresentação foi bem marcante, porque nunca tínhamos tocado para tanta gente como naquele Grito Rock, e todo mundo tava numa vibe massa curtindo o som. Foi lá que conhecemos a Daniela, que mais tarde nos deu oportunidade de estar em Aracaju novamente, no lançamento do disco da Renegades of Punk e que também foi do caralho. Fiquei com uma impressão boa nesses eventos e pretendemos voltar em breve.

pdrock: Algum plano estratégico em especial para o futuro? Pretendem permanecer no estado natal de vocês ou tentar a sorte em algum grande centro?

Pedro Ivo:  Penso em sair do estado apenas em ocasiões temporárias, como uma tour, caindo na estrada pra valer, mas voltando para casa no fim. Mas não sei, tudo pode acontecer. Temos um plano estratégico para a banda nesses meses antes do fim do ano e para o início de 2014, mas é segredo, ainda não podemos revelar nada (só posso dizer que envolve mais LPs e coisas audiovisuais).

Lillian Lessa: Não acho que mudar para um grande centro seja mais uma necessidade, vejo bandas mais conhecidas continuarem em sua terra natal e organizarem tour algumas vezes por ano. Com a internet é mais fácil fazer contatos.

Thiago: Olha, nos arriscamos em são paulo e tivemos boas surpresas lá. Quem sabe ano que vem nos arriscamos um pouco mais alto? Idéias estão surgindo e convites também, vamos ver. Coisa nova já está começando a nascer, "Queen of Death" nos rendeu ótimos momentos e provavelmente ainda temos uma última surpresa para fazer com ele, antes de iniciar um novo projeto. Nesse momento, estamos dando os primeiros passos para a produção do novo disco, a única coisa que posso adiantar, é que não nos limitaremos apenas ao formato de áudio.

pdrock: É isso! Obrigado pela atenção e fiquem a vontade para qualquer consideração final.

Pedro: Eu que agradeço pela entrevista! Para concluir, um recado para quem estiver lendo: vão para os shows, vejam as bandas da sua cidade ao vivo e comprem o merchan delas! Ah, e escutem o Programa de Rock, claro hehe.

Thiago: Valeu Adelvan, nós que agradecemos o convite, o recado que eu passo é que fiquem de olho na nossa Fan Page que em breve vai ter coisa muito boa saindo por lá! Abraços e até mais!

Lillian: Obrigada pelo convite :)

Ouça AQUI.


#




terça-feira, 4 de junho de 2013

Slayer "Biografado"

Já está disponível, em pré-venda, a segunda edição brasileira do livro "O Reino Sangrento do Slayer". Ampliada, revisada, com novo projeto gráfico (capa dura!) e nova tradução, por Marcelo Viegas - a tradução "capenga" foi o maior defeito apontado nas resenhas da edição anterior.

A nova versão traz ainda um prefácio escrito pelo músico Tor Tauil, do Zumbis do Espaço, além do prefácio da edição inglesa assinado pelos maníacos do Municipal Waste. O livro também apresenta fotos raras do início da banda, cartazes das antigas, registros de backstage, etc. O Reino Sangrento do Slayer é destinado a todos que querem conhecer as histórias que marcaram a trajetória brutal, “sangrenta” e única do Slayer. 

É o primeiro livro sobre a lendária e clássica banda californiana de thrash metal publicado no Brasil. Escrito pelo respeitado jornalista inglês Joel McIver, autor de diversas obras sobre a carreira de artistas como Metallica, Black Sabbath, Tool, Cliff Burton, Randy Rhoads, Glenn Hughes e Machine Head, foi lançado no final de 2012 por aqui pela Edições Ideal.

O modo de escrever de McIver é mais direto que, por exemplo, o texto de Mick Wall, outro escriba inglês que enveredou pelo mercado das biografias. Isso faz com que, em alguns capítulos, tenhamos a sensação que certos assuntos foram tratados de maneira superficial e poderiam ser melhor explorados pelo autor. Isso acontece principalmente no início da obra, quando os primeiros anos do Slayer são abordados. O próprio autor assume isso no prefácio, dizendo que, pela fartura de livros já publicados sobre o Slayer e que focaram nesse período, ele preferiu não ir tão fundo nos primeiros dias da banda. Porém, por se tratar do até agora único livro sobre o grupo publicado no Brasil, essa carência torna-se evidente e um ponto falho.


McIver escreve com grande conhecimento sobre a banda, contando histórias de bastidores, detalhes da relação com outros artistas, desavenças entre os músicos e tudo que envolve um grupo da importância e com a história do Slayer. Além disso, dá a sua opinião pessoal analisando todos os discos faixa a faixa, o que serve como guia para quem nunca ouviu os álbuns do quarteto ou quer escutá-los sob uma nova perspectiva.

Fontes: release e crítica no site "Collectors room"

por Ricardo Seelig

COMPRE AQUI

I.S.B.N.: 9788562885143
Cód. Barras: 9788562885143
Reduzido: 4903666
Acabamento : Encadernado / Encadernado
Altura: 23 cm.
Profundidade: 1,7 cm.
Largura: 16 cm.
Número de Paginas : 368
Tradutor : Marcelo Viegas
Idioma : Português
Edição : 2 / 2013




domingo, 2 de junho de 2013

O Rock de direita

A guinada à direita de Lobão, Roger do Ultraje e mais alguns de seus colegas de geração pode ter deixado muita gente decepcionada (me refiro àqueles que esperavam alguma coisa deles). Como podem roqueiros, com seu estilo de vida, vamos dizer, libertário, virarem direitosos? Como esses caras que mergulharam em sexo, drogas e roquenrol e brigaram com o — vamolá — “sistema” puderam se tornar reacionários depois dos 50?

Eu não tenho certeza da motivação deles (no caso de Lobão, é uma mistura de oportunismo e fanfarronice). Mas é ingenuidade pensar que rockers são automaticamente de esquerda, antiestablishment, revolucionários ou coisa do gênero.

Lobão, Roger e – lembrei de mais um – Leo Jaime não estão sozinhos no mundo em sua paranoia antiesquerdista. Eles fazem parte de uma longa tradição. Mo Tucker, a veterana baterista do Velvet Underground, a banda mais subversiva de todos os tempos, por exemplo, anunciou há poucos anos sua filiação ao ultradireitista Tea Party. “Estou furiosa com a maneira como estamos rumando em direção ao socialismo”, disse. “Eu acho que o plano de Obama é destruir a América por dentro”.
Alice Cooper, um dos pioneiros da união entre rock, teatro e filmes de terror nos anos 70, com sua sexualidade ambígua e suas letras depravadas – virou um evangélico fanático e antiobamista de coração.

Joe Perry, guitarrista do Aerosmith, que fazia com o vocalista Steven Tyler uma dupla apelidada Toxic Twins (dado o grau de ingestão de cocaína), apoiou o republicano John McCain nas eleições de 2008. “Sou republicano desde criança”, afirmou.

Ted Nugent, guitarrista e cantor, vive pedindo a pena de morte para ladrões e estupradores. Já falou que o erro dos EUA no Iraque foi não terem feito “o mesmo que em Nagasaki”. É membro fanático da famigerada NRA, o lobby pró-armas dos Estados Unidos. “Haverá um tempo que os donos de armas serão como Rosa Parks e nos sentaremos na parte da frente de um ônibus”, declarou em sua confusão mental, referindo-se à ativista negra que mudou a história da luta dos direitos civis nos EUA.

Phil Collins prometeu deixar a Inglaterra se o Partido Trabalhista fosse eleito. “Vou me mudar para a Suiça”, avisou. Noel Gallagher, ex-Oasis, aproveitou a deixa: “Vote nos trabalhistas. Se os conservadores forem eleitos, Phil está ameaçando voltar”. Em 76, Eric Clapton, bêbado, fez um discurso num show, apoiando o racista Enoch Powell. “Eu acho que Enoch está certo… Nós devíamos mandar todos eles embora. Joguem os pretos fora! Mantenham a Grã-Bretanha branca!”
Johnny Ramone mandou um “Deus abençoe o presidente Bush” quando sua banda foi incluída no Hall da Fama. “As pessoas são liberais quando jovens, e eu tenho a esperança de que elas mudem quando virem como o mundo é realmente”.

Kid Rock é um apoiador da política externa dos EUA no Iraque, fazendo turnês para levantar o ânimo da tropa. Já Dave Mustaine, vocalista da banda de metal Megadeth, se juntou recentemente ao rei da teoria da conspiração, Alex Jones, para detalhar sua visão sobre o que eles definem Nova Ordem Mundial (o grupo de judeus, negros, terroristas e o diabo que está dominando o planeta).

Agora, ninguém bate Elvis Presley. Em novembro de 1970, Elvis entregou uma carta de seis páginas para o então presidente Nixon, em que expressava sua preocupação com o país, sugerindo que ele podia usar sua posição para acabar com a “cultura da droga, os elementos hippies e os Panteras Negras”. Pediu para ser nomeado agente colaborador do FBI no Departamento de Narcóticos e Drogas Perigosas. “Estive estudando a lavagem cerebral comunista e sei que os Beatles são uma força poderosa contra o espírito americano”, revelou. Presenteou Nixon com um Colt da Segunda Guerra. A foto dos dois é o item mais requisitado da Biblioteca Nacional, à frente da Constituição.

Uma possível diferença entre os nossos roqueiros e os do exterior — além da obra, evidentemente — é que, em geral, os de lá viraram conservadores depois de ganhar, e não perder, dinheiro, relevância e influência. Aqui é o contrário.

(NOTA DO EDITOR (Adelvan) - Acho bizarríssimo, "roqueiros" de direita. Logo o rock, que foi um dos grandes responsáveis, no "front" cultural, pela quebra das barreiras raciais, unindo brancos e negros num mesmo ritmo, já que é filho do casamento entre o blues (negro) e o country, ou Hillbilly (branco) - daí o termo "rockabilly" empregado nos sons mais tradicionais, que remetem aos primordios do estilo. Mas enfim ...

por Kiko Nogueira

DCM

#





sábado, 1 de junho de 2013

Cätärro é do caralho ...

Aconteceu embaixo da ponte Aracaju-Barra, nosso belo elefante branco que atravessa o rio Sergipe ligando o nada a lugar nenhum. Parece a ponte do Brooklin, com a “pequena” diferença que do outro lado não está Manhattan, e sim a Barra dos Coqueiros – mas ops, esqueci que a Barra dos Coqueiros é uma “ilha paradisíaca”, nas palavras de nosso governador do estado. Enfim, a ponte é bonita, especialmente à noite, iluminada, e proporcionou um ótimo pano de fundo para o esporro sonoro do Cätärro. Já conhecia a banda, eles tocaram aqui faz alguns anos e têm um bom disco com um título esperto, “Dance, império, dance” na praça, mas nunca me chamaram a atenção. Achava que faziam um som bacana, bem executado, mas curiosamente o que estragava, a meu ver, eram justamente os vocais de Pedro, meio qualquer nota (?), nada a ver com nada.

Mudei completamente de opinião ontem. Ou eu não tinha prestado atenção direito (são tantas galáxias a serem exploradas) ou os caras melhoraram. Especialmente Pedro, que continua se esgoelando, mas agora com mais “estilo”, digamos assim. Os vocais são criativos e se encaixam perfeitamente no som da banda, que é brutal, preciso, muito bem ensaiado. Isso pra não falar na coisa física em si que, aí sim, é realmente impressionante. O cara se entrega de tal forma ao momento que é até difícil descrever. Espero que saiam logo as fotos que a dupla dinâmica (dentre várias outras) Balde e Marcelinho Hora estavam batendo, para ilustrar o que eu estou tentando por em palavras. Por hora basta dizer que, num determinado momento, parecia que ele ia fazer o tal “quadradinho de oito”. Daí ele mete a mão entre as pernas e segue vociferando ao microfone todo enrolado, feito um tatu bola em perigo. Todo melado de farinha de trigo, que havia sido jogada ao ar minutos antes (carnaval na inferno) e misturada em seu corpo com a água que Ivo Delmondes derramou em sua bunda quando ela se elevava aos céus, imponente.

Antes tivemos o “crust universitário” da Robot Wars, que foi meio morno. Não sei, acho que a acústica não ajudou, o som ficou meio embolado, os vocais meio dispersos e soterrados na massaroca sonora. E também Alex e seus impressionantes e já tradicionais saltos sobre bateristas.

Missão cumprida. Mais uma ação de guerrilha cultural underground bem sucedida. Uma ótima oportunidade para, além de ver e ouvir as bandas, reencontrar novos e velhos amigos, como o grande Cícero Mago, eterno militante do Lado D da música sergipana.

+ Imagens AQUI.

A.