sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Cilibrinas do Éden

(**)No mundo da música, se tornam folclore as histórias de “álbuns perdidos”, discos que foram gravados, mas não foram lançados durante anos, ou mesmo só “vazaram” para o público através de edições piratas. “Smile”, dos Beach Boys, “Cocksucker Blues”, dos Rolling Stones (esse, no caso, apenas um single), “The Ties That Bind”, de Bruce Springsteen & E Street Band, “Tecnicolor”, d’Os Mutantes e “Black Album”, do Prince, são alguns exemplos que nos levam a preciosidade presente neste texto.

Em 1972, Rita Lee estava confusa. Ela já tinha dois discos solos na bagagem que não cortavam o cordão umbilical com Os Mutantes – o primeiro, “Build Up”, de 1970, havia sido produzido por Arnaldo Baptista e Rogério Duprat, e o segundo, “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, de 1972, era um disco d’Os Mutantes creditado a ela – mas havia finalmente deixado a banda (ou, segundo a própria, convidada a se retirar) e não queria aceitar o conselho do diretor da gravadora Phillips, André Midani, de sair em carreira solo.

Rita era amiga de Lucia Turnbull, uma paulistana que, como ela, havia morado dois anos em Londres, e também participado das gravações de “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida” fazendo vocais. Com Lucia, Rita Lee decidiu formar a dupla Cilibrinas do Éden, buscando uma sonoridade calcada em violões e nos doces vocais de ambas, que soavam maravilhosamente bem juntos. “Cilibrina”, na gangue d’Os Mutantes, era a palavra código para maconha.

A dupla negociou um contrato com a gravadora, e logo foi escalada para tocar no mega-show Phono 73, um festival de música realizado no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, entre os dias 10 e 13 de maio de 1973, que reuniu todo o elenco de contratados da Phillips, ou seja, o “crème de la crème” da música brasileira da época (a lista, imensa, trazia Caetano, Chico Buarque, Elis Regina, Jorge Ben, Raul Seixas, Wilson Simonal, Fagner, Erasmo Carlos, Gal Costa, Jards Macalé, Ronnie Von, Odair José e muitos, muitos outros).

E a estreia da Cilibrinas do Éden, numa quinta-feira, 10 de maio, abrindo para Os Mutantes, não poderia ter sido… pior. Com músicas desconhecidas, vaias retumbantes soaram durante a apresentação das moças no Anhembi. Rita sacou ali que o público não aceitaria bem um som tão acústico, e tratou de montar uma banda mais rock n’ roll, afinal, os tempos não estavam para sutilezas. Rita encontrou o Lisergia, grupo do guitarrista Luis Sérgio Carlini e do baixista Lee Marcucci, e partiu para o processo de composição e gravação do álbum d’as Cilibrinas.

O disco deveria se chamar “Tutti Frutti”, e as gravações ocorreram ao vivo em dezembro de 1973, no estúdio Eldorado, em São Paulo, sob coordenação de Liminha, em sua primeira produção. O resultado não agradou André Midani, que preferia muito mais Rita Lee solo do que um novo grupo, e vetou o projeto antes do disco ir para a fábrica. Antonio Bivar, então habitué da corte de Rita, conta que a produção foi caótica, divertida e amadora, e se a gravação não chegou ao mercado, tem como mérito ter servido para formar o que seria o embrião da nova banda de Rita Lee, a Tutti Frutti.

A única música aproveitada das sessões d’As Cilibrinas, e regravada para o LP de estreia de Rita Lee com o Tutti Frutti (“Atrás do Porto Tem uma Cidade”, 1974) foi “Mamãe Natureza”, justamente o primeiro clássico de sua carreira solo. Nesse disco, uma música foi o pivô da saída de Lucia Turnbull da banda: “Menino Bonito” tinha uma levada totalmente a lá Cilibrinas, com duas vozes e violões. Qual não foi a surpresa quando o disco ficou pronto, e à revelia da banda, a produção (de Mazola) apagou a voz de Lucia deixando apenas a de Rita com acompanhamento de pianos e cordas.

O sucesso só viria para Rita Lee e o Tutti Frutti, sem Lucia, no ano seguinte, em outra gravadora (Som Livre), e com outro LP (“Fruto Proibido”, de 1975, produzido por Andy Mills, também produtor de Alice Cooper), mas isso já é outro capítulo. Lucia Turnbull ainda participaria do disco/turnê “Refestança”, de Rita com Gilberto Gil, em 1977, e teria um certo reconhecimento emplacando “Aroma”, disco de 1980 lançado pela EMI-Odeon (e até hoje não relançado em CD).

Como um bom “álbum perdido”, a estreia d’As Cilibrinas do Éden circulou durante anos em fitinhas K7, nas mãos dos fãs mais descolados, e quase foi lançado oficialmente nos anos 2000 pelo pesquisador Marcelo Fróes, que esbarrou em questões financeiras, pois Lucia Turnbull, segundo entrevista ao jornal Folha de São Paulo(ver abaixo), não aceitou a proposta de divisão de valores, alegando que o disco é de uma banda, não só de Rita, e o projeto foi engavetado.

O fato do disco oficial não ter sido lançado não impede que “Tutti Frutti” (ou “Cilibrinas do Éden”, como vem sendo chamado) possa ser encontrado para download, com boa qualidade de som, em blogs de compartilhamento na internet ou mesmo no Youtube tanto quanto ser adquirido em CD e vinil pirata, pois foi lançado em 2010 pelo selo Nosmokerecords, e encontra-se atualmente na segunda tiragem de 500 cópias – o preço em janeiro de 2014 ia de R$ 135 até R$ 400 no site brasileiro Mercado Livre.

Várias músicas do “disco perdido” das Cilibrinas foram reaproveitadas por Rita em trabalhos posteriores. A primeira estrofe toda de “Bad Trip (Ainda Bem)” reapareceu como “Shangri-Lá”, no álbum “Rita Lee“, de 1980 (sem o provocante final: “Tive sim vontade de… dar”). “Gente Fina é Outra Coisa”, com alterações na letra, virou “Locomotivas”, tema da novela homônima da Rede Globo, em 1977. Quando Rita foi gravar sua participação no LP “Erasmo Convida”, de Erasmo Carlos, a música escolhida foi “Minha Fama de Mau”, que também fazia parte do repertório do álbum d’As Cilibrinas.

Em 1981 foi lançada a coletânea “Os Grandes Sucessos de Ritta Lee” (assim mesmo, com dois “tês”), que inexplicavelmente trazia duas músicas daquelas sessões: “Paixão da Minha Existência Atribulada” e “Nessas Alturas dos Acontecimentos” (esse LP atualmente também pode ser encontrado em sites como o Mercado Livre em preços entre R$ 15 e R$ 150). Só quatro faixas não deixaram traços em outras: “E Você Ainda Duvida”, “Festival Divino”, “Vamos Voltar Ao Princípio Porque Lá É O Fim” e a música tema, “Cilibrinas Do Éden”.

(*)Desta vez não teve quem segurasse. Impedido duas vezes de vir à luz, aquele que seria o LP de estreia de Rita Lee fora dos Mutantes ganha sua primeira prensagem 35 anos depois de ter sido gravado. A edição é histórica, caprichada, limitada. E pirata.  

São apenas mil cópias numeradas --500 em CD, outras tantas em luxuoso vinil de 180 gramas. Tudo é inventado: a ilustração psicodélica da capa, o selo "original" da Philips, a quantidade e a ordem das faixas. Chegaram ao preciosismo de reproduzir o número do CGC da gravadora na contracapa.

Até o título do álbum foi trocado. Se tivesse sido lançado quando nasceu, em 1973, ele se chamaria "Tutti-Frutti". Na versão pirata, virou "Cilibrinas do Éden" --nome da dupla que Rita montara com a cantora Lucia Turnbull quando se desligou dos Mutantes, um ano antes de registrar essas faixas.

"Tutti-Frutti" foi gravado ao vivo em dezembro de 1973, no estúdio Eldorado, em São Paulo, sob os olhos de uma pequena plateia. "Foi o primeiro disco que o Liminha produziu", lembra o baixista Lee Marcucci. "A gente era muito novo, estava cheio de gás. Dá para ouvir isso na música que a gente fazia."

"Eu estava louca para ser parte de outra banda, meu negócio não era ser 'front stage'", diz Rita, que na época somava 26 anos. "Preferia que a Lucia fizesse os solos de voz e de guitarra para eu ficar lá atrás só nos 'shubirú dau dau' e nos poucos instrumentos que consegui recuperar dos Mutantes. Tudo o que eu queria era pertencer a uma gangue, dividir a grana igualmente entre todos, dividir as parcerias mesmo que ninguém mais tivesse composto nada."

André Midani, então diretor da gravadora, queria transformar Rita numa estrela e não gostou dessa política coletiva. Interditou o trabalho antes de ele ir à fábrica. "Tutti-Frutti" (nome que batizou também a banda de apoio de Rita Lee) caiu no buraco negro dos porões da gravadora e só foi redescoberto no final dos anos 90 --conforme noticiado pela Folha na ocasião. 


Direitos
 
Uma edição "oficial" chegou aos limites de ser lançada, sob os cuidados do pesquisador Marcelo Froes. "Infelizmente, um dos membros não topou o valor e pleiteou que o disco seria um trabalho de banda, e não um disco solo de Rita Lee, e que os royalties artísticos deveriam ser rateados. Rita não concordou e o assunto ficou enterrado", ele lamenta.
 
O membro em questão é Lucia Turnbull. Hoje, ela afirma que tudo não passou de uma "falha de comunicação". "Propus uma conversa entre as partes para a gente chegar a um ponto em comum, mas nunca mais fui procurada. Não entendi o porquê dessa reação, afinal é natural você fazer um trabalho e ganhar por ele", diz. E enfatiza a importância de o álbum vir à tona de forma oficial: "Tudo é documento. E, mais que is­so, acho esse trabalho um barato. É puro, inocente. Uma fase superlegal do trabalho da Rita e de nós todos".

Ao que tudo indica, a edição pirata foi produzida na Espanha pela obscura gravadora Nosmokerecords. Indícios levam a crer que se trata de uma iniciativa de brasileiros que moram na Europa.
Conseguir um exemplar do álbum não é tão difícil. Eles estão disponíveis em alguns sebos do centro de São Paulo, em sites como Mercado Livre e eBay e de pequenas lojas estrangeiras. Uma cópia em vinil chega a custar salgados R$ 400.

"E esse preço só vai aumentar", garante Alexandre Lopes, do sebo Cel-Som Discos. Ele comprou oito exemplares de uma distribuidora espanhola.

NOTA: Amanhã tem Cilibrinas do Éden no programa de rock
104,9 FM em Aracaju e região
www.aperipe.com.br
19H

** por André Fiori
Scream & Yell
* por Macus Preto
Ilustrada

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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Nuclear Assault em tour de despedida ...

No próximo dia 24 de agosto, o Nuclear Assault subirá a um palco – o do Teatro Odisseia, no Rio de Janeiro –, pela última vez no Brasil. Ícones e pioneiros do trash metal mais extremo, o grupo nova-iorquino está rodando o mundo com a turnê Final Assault, a despedida da banda dos palcos, que passa ainda por Curitiba (dia 21), São Paulo (22), Manaus (23) e Belém (24).

“Existe uma emoção extra conforme as pessoas percebem que esta é a última vez que elas nos verão fazendo nosso thrash”, diz o vocalista John Connelly, em entrevista à Rolling Stone Brasil. Para ele, continuar tocando heavy metal para plateias de todo mundo 30 anos depois do início da banda é surpreendente: “Nunca imaginaria que as pessoas ainda dariam tanta importância à banda.”

O Nuclear Assault lançou o primeiro álbum de estúdio, Game Over, em 1986, abusando de palhetadas furiosas e baterias na velocidade da luz. As músicas eram tão rápidas que mesmo as mais densas não passavam de quatro minutos (algumas não chegavam a 1 minuto). Em seguida, vieram os registros mais conhecidos da banda: Survive (1988) e Handle With Care (1989).

Em 1989, eles chegaram a se apresentar no Brasil, junto ao Sepultura, na finada casa de shows Dama Xoc. “Continuo recordando da primeira vez, em 1989, com o Sepultura, em São Paulo”, conta Connelly. “Os fãs são super intensos e muito dedicados.”

Com músicas como “Critical Mass” e “Brainwashed”, o Nuclear Assault caracterizou-se por tecer críticas ácidas e infames à hipocrisia da sociedade. E, pelo menos segundo Connelly, esta sociedade pouco mudou em 30 anos. “O mundo está mais fodido do que nunca!”, compara.

Nos shows em Curitiba e São Paulo, o Nuclear Assault se apresenta com abertura do Exciter. Da formação clássica, apenas o guitarrista Anthony Bramante não está mais com a banda – sendo substituído por Erik Burke. O prolífico baixista Dan Lilker, que já tocou no Anthrax, segue no grupo, assim como o baterista Glenn Evans, no Nuclear Assault desde 1985.

O mais recente álbum de inéditas do Nuclear Assault, Third World Genocide, saiu em 2005, mas a banda soltou o EP Pounder, no último mês de junho – sendo este o último registro da história do grupo. “Apenas o trash metal old-school raivoso da maneira que deveria ser feito!”, descreve o vocalista.

Abaixo, leia a íntegra da entrevista com John Connelly e, em seguida, mais informações sobre os últimos shows da banda no Brasil. 

“Último álbum. Última turnê. Última chance”, vocês escreveram no Facebook. Como chegaram a essa decisão definitiva?
Nós preferimos fazer alguns shows especiais para encerrar os trabalhos do que ficar fazendo isso para sempre até que isso se tornasse chato. Também é difícil continuar por causa das famílias e trabalho dos dias atuais. 

O que há de mais particular em fazer uma última turnê (se é que há algo)?
Há um sentimento especial no ar. É difícil colocar em palavras, pra ser sincero, Existe uma emoção extra conforme as pessoas percebem que esta é a última vez que elas nos verão fazendo nosso thrash. 

O próximo show de vocês no Brasil será, provavelmente, o ultimo de banda reunida por aqui. O que você lembra dos shows que fez no Brasil? Tem algo de que vão sentir falta?
Vou lembrar-me para sempre do Brasil como um lugar incrível para tocar. Continuo recordando da primeira vez em 1989, com o Sepultura, em São Paulo. Os fãs são super intensos e muito dedicados, por isso é um prazer tocar para eles – e tomar uma com eles também. 

Há 30 anos, se você pudesse olhar para o futuro, imaginaria que faria uma turnê de despedida?
Nunca imaginaria que as pessoas ainda dariam tanta importância à banda, e justamente por isso que é uma honra [fazer a turnê de despedida]. 

O mais recente EP de vocês é uma clara – e poderosa – abordagem do passado, sem preocupações em soar “atualizado”. Isso aconteceu de propósito? Vocês queriam que soassem como um disco antigo?
Com certeza! Sem influências modernas. Apenas o trash metal old-school raivoso da maneira que deveria ser feito! Fico feliz que tenha notado, significa que executamos nossa ideia com sucesso. 

O que você sentiu quando compôs essas músicas? Havia muita nostalgia envolvida?
Sim e não. Sou capaz de evocar o estado de espírito para compor puro trash metal quando a hora chega. Mas é claro que me fez pensar nos dias do passado também 

Vocês eram bem ácidos em criticar a hipocrisia da sociedade nas letras das músicas. Décadas depois, você acha que algo mudou? Como você vê o mundo hoje em dia?
Há! O mundo está mais fodido do que nunca. A boa parte disso é que temos muito do que falar em nossas letras. 

Como veteranos do heavy metal, como você encara o gênero atualmente? Acha que o metal perdeu um pouco da criatividade?
Deve ter caído um degrau no sentido da criatividade devido ao fato de que o gênero está por aí há 30 anos. Mas, mesmo quando as bandas me lembram de bandas mais antigas a elas, significa que o coração deles está no lugar certo, então não me preocupa tanto. Não ouço muita música atualmente, estou bem ocupado tocando metal extremo e isso é suficiente para mim. Prefiro ouvir um Rush ou Black Sabbath. 

por Lucas Brêda
RS Brasil 

Nuclear Assault no Brasil

 Curitiba (PR)
21 de agosto (sexta-feira), às 20h
Music Hall: Rua Eng. Rebouças, 1645
Ingressos: entre R$ 200 e R$ 300 (há meia-entrada) 

São Paulo (SP)
22 de agosto (sábado), às 19h
Clash Club: Rua Barra Funda, 969
Ingressos: entre R$ 240 e R$ 320 (há meia-entrada) 

Manaus (AM)
23 de agosto (domingo), às 18h
Teatro Manauara – Manauara Shopping – Av. Mário Ypiranga, 1300 – Adrianópolis
Ingressos: R$ 240 (há meia entrada) 

Belém (PA)
24 de agosto (segunda-feira), às 22h
Botequim: Avenida Gentil Bittencourt, 1445 – Nazaré
Ingressos: R$ 140 (há meia entrada) 

Rio de Janeiro (RJ)
25 de agosto (terça-feira), às 19h
Teatro Odisseia: Av. Mem de Sá, 66 - Lapa
Ingressos: entre R$ 80 e R$ 100

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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

+ Alec Empire

Infelizmente não poderei ir ao show do Atari Teenage Riot próximo dia 19, em São Paulo. Mas eu e você, que também não vai, podemos colher pelo menos um fruto positivo da nova vinda do grupo ao Brasil, com o renovado interesse da mídia que, aliada à disposição de sempre do vocalista e mentor Alec, tem produzido uma série de entrevistas antológicas. Abaixo, mais uma, desta vez publicada originalmente no site Zona punk ...

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Os alemães do Atari Teenage Riot ajudaram a criar uma nova roupagem para o punk quando o trouxeram à era digital. Esse foi, inclusive, o objetivo de Alec Empire, idealizador, compositor, vocalista e força criativa do trio. A ideia de se expressar por meio de um som nervoso e minimalista tomou corpo e, hoje, 23 anos após sua concepção, transformou-se em uma máquina de beats velozes e discurso contundente.

Quando estava ficando cada vez mais reconhecido, no fim dos anos 1990, o caos sonoro deu lugar a um turbilhão de problemas que culminaram em uma parada de quase dez anos. Mesmo sem produzir material ou fazer shows, a obra do grupo seguiu conquistando novos adeptos. Em 2010, Alec achou por bem retomar as atividades com a antiga parceira Nic Endo e o novo companheiro CX KiDTRONiK. Desde então, o ATR fez barulho com dois discos de estúdios e performances intensas.

Um pouco dessa energia viva criada milimetricamente entre os músicos e um velho computador será mostrada no Brasil em agosto, em uma única apresentação, dia 19, no Cine Jóia, em São Paulo. Aproveitando o gancho da nova passagem pelo país, descolei uma entrevista virtual com Alec Empire. Sempre solicito, ele mostrou-se disposto a responder um catatau de perguntas que vão desde a história da banda até o processo criativo, passando pela luta antifascista e pelo engajamento com o ciberativismo. Tudo isso, na longa transcrição a seguir. 

O Atari Teenage Riot tem uma ligação com o punk, tanto musical quanto liricamente. De onde vem esse interesse por uma sonoridade mais agressiva e por temas contestadores? Vocês estiveram envolvidos com a cena punk da Alemanha antes de começar o ATR?
Alec Empire – Eu divido o mundo da música em duas partes. Uma é só entretenimento, sem nenhum propósito além de vender um produto. É algo baseado no contexto do escapismo, de fugir da realidade. A outra é a música sobre assuntos que interessam às pessoas, que revela verdades e tem significado. Ao invés de tirar o ouvinte da realidade, isso os ajuda a confrontá-la, a lidar com ela e superá-la, a criar um futuro melhor. Quando eu cresci na Berlim ocidental dos anos 1980, a cidade estava dividida pelo muro, uma consequência da Segunda Guerra Mundial. Estávamos em meio a Guerra Fria naquele tempo. O punk era muito politizado, assim como a cena de vanguarda. A ideia de diversão pura não desafiava o ouvinte, era considerada chata. O punk e os primórdios da música eletrônica foram muito importantes porque sua mera existência questionava o status quo. Fomos capazes de expressar nossos sentimentos e ideais de uma forma bem crua e sem filtros, o que mudou a direção da música popular. Sem essa era musical, não teríamos um cenário tão diversificado no mundo hoje em dia.

Berlim é uma cidade com vários squats, como o Kopi, um dos mais conhecidos. Essa cultura de ocupações underground ajudou o ATR durante a carreira ou seu desenvolvimento como artista?
Alec Empire
– Sim, certamente. Esses foram os primeiros locais onde pudemos fazer shows, embora houvesse certa resistência em relação à música eletrônica no começo. Usar um “computador” para programar músicas que uniriam pessoas por meio de objetivos políticos era algo estranho para muitos na época. O computador era considerado uma ferramenta capitalista que substituiria os humanos. Levou um tempo para convencer a galera de que o punk podia ser transportado para a era digital.

Quais bandas você costumava escutar e hoje cita como influência? E fora da música, o que o inspira?
Alec Empire
– Sempre tive um gosto musical bem amplo. O começo do hip hop, de Grandmaster Flash e Africa Bambaataa ao Public Enemy, por exemplo. Teve também o punk dos anos 70, da era CBGB. Dead Boys, Richard Hell, Ramones, Velvet Underground e o Suicide, que foi uma banda chave pra gente, claro. Embora seu som não tenha nos influenciado tanto, eles abriram portas. Eu curtia muito dub dos anos 1970 e ska jamaicano da década de 1960. Além disso, o jazz de nomes como Charlie Parker, Miles Davis e John Coltrane. Compositores como Stockhausen, Bach, Wagner, Schönberg e outros foram muito importantes para mim quando adolescente. Eu ficava um bom tempo ouvindo música clássica. Fora da música, sempre fui interessado em filosofia (Gilles Deleuze, Foucault etc).

Foi natural juntar música eletrônica e hardcore quando o ATR nasceu? E sobre os elementos do rap, por que a ideia de também incorporá-los?
Alec Empire
– A única razão pela qual nós começamos o Atari Teenage Riot foi porque eu queria achar um jeito de transportar o espírito punk para a era digital. Comecei a trabalhar nessa ideia antes de recrutar os outros membros. Não foi fácil, num primeiro momento. Eu não queria apenas combinar dois estilos, queria que o digital hardcore se tornasse uma sonoridade única, um gênero. O ATR foi baseado em um conceito de colagem. Meu objetivo era juntar muitas referências musicais que tinham alguma “energia revolucionária”. Samplear a tecnologia fez isso possível naquela época. Eu continuo acreditando que uma gravação captura muitas informações que são complicadas de se recriar. Por que os músicos tocam de um jeito em um dia e de forma diferente em outro? Executar as notas é fácil, mas há muito mais coisa envolvida no processo.

O ATR sempre levantou a bandeira antinazista, desde os primórdios. É verdade que a banda foi criada justamente para confrontar a idiotice conhecida como neonazismo?
Alec Empire
– Isso mesmo, o Atari Teenage Riot começou a combater a ideologia neozista com música. Naquele tempo, a gente esteve envolvido em várias brigas de rua com neonazis. Em certo ponto, percebi que isso era perda de tempo, que tínhamos de ter conceitos mais firmes. Foi então que me voltei à música e à não violência. O som pode transportar ideias bem embasadas e fortes. Por isso eu optei pela música.

Por que escolher um velho Atari para ser elemento tão importante no estilo de arte que desenvolvem?
Alec Empire
– O computador Atari era o Mac, da Apple, daquele tempo. A diferença é que ele é mais estável em se tratando de MIDI. Acabou virando nossa assinatura sonora e foi por isso que permanecemos usando. Ele é o Stradivari (famoso luthier italiano) do techno-punk.

Poderia nos dizer como as músicas do ATR são criadas? Uma curiosidade: alguém toca guitarra nos discos ou o som do instrumento é sampleado/programado? Já pensaram em adicionar um guitarrista ao vivo?
Alec Empire
– Depende da música. Geralmente, eu mesmo toco guitarra. Mas, obviamente, há outros guitarristas envolvidos. Tom Morello (Rage Against the Machine) e Dino Cazares (Fear Factory), por exemplo, já participaram em músicas nossas. Também fizemos um som com o Slayer. Todas as guitarras devem ser sampleadas, pois elas não têm espaço ao vivo. Talvez mudemos isso em algum ponto, mas gostamos de usar o mínimo de equipamento no palco.

Além da música, algo mais é programado na banda? Digo: você pensa sobre tudo que será executado ou apenas deixa rolar para ver como termina?
Alec Empire
– Tudo é programado. Às vezes, rolam acidentes e são criados sons que acabamos usando mais tarde nas músicas. O Atari Teenage Riot nunca foi um bando de gente curtindo e fazendo jams para ver o que rola. Não é assim que procedemos. Existe um objetivo e corremos atrás dele. Isso vem com a natureza da programação musical. Para criar um beat, primeiro o visualizamos, depois, sentamos e programamos. É um processo bem diferente de uma banda tradicional de rock, na qual os músicos tocam juntos para ver qual é a vibe.

O ATR tem uma mensagem para passar. Então, acredito que seja importante atingir o maior número possível de pessoas. Espalhar a palavra ao máximo! Vocês pensam nisso quando estão criando as composições? A música é elaborada para atingir as massas?
Alec Empire
– Não nos comprometemos com o que você chama de massa. Mas, sim, nós pensamos sobre como simplificar a mensagem. É importante que o ouvinte sinta isso.

Acredita que as pessoas prestam atenção ao recado do ATR?
Alec Empire
– Muitas sim, outras não. É escolha de cada um. As pessoas podem usar nossa música como uma ferramenta, mas isso depende delas. Muitos ativistas políticos e hackers que conheço escutam o Atari Teenage Riot e dizem que são inspirados pela banda. O que é ótimo! O que não queremos é manipular quem nos ouve. Isso é o que o pop faz. Nossa abordagem é diferente.

Lembro-me de escutar o ATR pela primeira vez na segunda metade da década de 1990. Ao menos no Brasil, foi um período no qual a internet começou a ganhar força e ficar mais acessível. Qual a importância da web para a banda divulgar suas ideias? E qual o valor dela para a sociedade como um todo durante os últimos 20 anos?
Alec Empire
– Penso que entramos em uma nova era. Muitas visões que tínhamos sobre a internet e como ela poderia melhorar o mundo – no meu caso, levando mais música para educar as pessoas –, forçando o público na direção de sons mais desafiadores, não se tornaram realidade. Na indústria musical os independentes foram quase aniquilados, enquanto a hierarquia que impede avanços ficou ainda pior.

Enquanto o mundo online ia ganhando espaço, ainda era interessante ter uma boa gravadora. O ATR trabalhou com a Grand Royal, capitaneada pelos Beastie Boys. Isso ajudou vocês a conquistar um público maior? Ficaram amigos dos BB?
Alec Empire
– Depois que Carl Crack morreu nós perdemos contato. A gravadora deles quebrou e nós fomos em direções diferentes. Porém, claro que eles nos ajudaram muito naquela época. Fomos colocados no contexto certo. As pessoas estão erradas quando pensam em nos deixar ao lado de nomes como Nine Inch Nails e similares. Nossas raízes são o hip hop e o techno – que eu vejo como uma evolução do hip hop. Os Beastie Boys nos deram força antes de muita gente saber sobre a gente. Alguns críticos dizem que eles pularam no trem quando ele já estava em movimento, mas isso não é bem verdade. O trem poderia estar se andando, mas penso que quando os BB vieram a bordo, estávamos aptos a aumentar a velocidade.

No fim do século passado, quando o ATR estava em evidência, Hanin Elias deixou a banda. Poucos anos depois, Carl morreu. Pode-se dizer que, após esses acontecimentos, uma parada foi necessária?
Alec Empire
– Hanin deixou a banda várias vezes e pediu para voltar. Ela não é muito confiável. Isso não é algo completamente ruim. Precisamos de músicos imprevisíveis. Os piores são os cachorrinhos de estimação das boy bands. Muitos artistas pop são construídos, não há integridade nem autenticidade, são artistas substituíveis. Aí, óbvio que a música fica comprometida. Acredito que muita gente está frustrada com o pop hoje em dia. Por isso o estilo está encolhendo. Sobre a morte do Carl, foi algo que nos devastou. O cara não estava numa boa há um tempo e, pelo que sabemos, ele não via jeito de melhorar. Ainda não está claro o que aconteceu na noite em que ele morreu no próprio apartamento, em Berlim. Eu e Nic Endo começamos uma banda com meu nome na época, que também contava com Gabe Serbian (The Locust) e Charlie Clouser (ex-Nine Inch Nails). Com morte do Carl nós simplesmente não sentimos que era possível continuar com o ATR. Houve quem dissesse que a banda separou-se, o que não é verdade. O Atari Teenage Riot não é uma banda de rock com membros constantes. Viemos da cena techno underground e operamos mais como um Wu Tang Clan ou algum coletivo hip hop. Apesar disso, a imprensa sempre nos vendeu como uma banda.

Durante o tempo em que o ATR esteve inativo você lançou alguns discos solos e fez interessantes parcerias musicais – uma delas com o rei do noise Merzbow. Da perspectiva artística, como foram esses anos?
Alec Empire
– Sempre lancei mais trabalhos como artista solo do que com o ATR. Durante toda a década de 1990, fiz vários discos. De The Destroyer a todo o trabalho como Mille Plateaux. Eu apenas segui fazendo a minha. Não é porque o ATR parou que eu precisei achar uma alternativa. Apenas fiquei mais apto a tocar projetos que havia construído anteriormente.

Qual foi a motivação para reunir novamente a banda, fazer shows e gravar?
Alec Empire
– Apenas me senti bem. Mais e mais pessoas se tornaram interessadas no Atari Teenage Riot e no significado das músicas. A temática cyperpunk que usávamos nos anos 1990 era ficção científica para muita gente. Mas, e em 2010? Aí, o cenário era outro. Qualquer um tem computador, ou até mesmo um smartphone, e está ativamente online. Então, assuntos como vigilância, libertarianismo e techno-anarquismo ficaram mais fáceis de entender.

O trabalho de retorno foi Is This Hyperreal, primeiro disco em mais de uma década, que contou com o novo colaborador CX KiDTRONiK. Vocês são velhos amigos? A banda ficou satisfeita com o álbum?
Alec Empire
– A gente colaborou com CX antes de o Atari voltar. Essa parceria nos fez pensar ser possível uma nova formação. Novamente, as coisas rolaram no momento certo. Is This Hyperreal é, provavelmente, o disco mais importante do Atari Teenage Riot, pois conectou o grupo a uma nova geração de hackers, ativistas anônimos, Wikileaks e muitos outros. Olhando para trás, o registro realmente se destaca. O vídeo viral para ‘Black Flags’ é um pequeno documentário do ativismo de 2010 e 2011. Acho que o vídeo Live at Fusion 2010 é, disparado, o melhor registro visual do Atari Teenage Riot. Zan Lyons (diretor e músico alemão) filmou o material.

O disco em questão tem o som ‘Codebreaker’, com participação de Steve Aoki, que já colaborou com LMFAO, will.i.am and Iggy Azalea. É, de algum modo, algo parecido com o que fez o Refused recentemente, ao trabalhar com o conterrâneo sueco Shellback, conhecido por seus préstimos ao lado de nomes como Taylor Swift, Pink and Maroon 5. Era a ideia tentar uma aproximação com o pop – ainda que a música seja rápida e raivosa?
Alec Empire
– Em 2010, o selo Dim Mak, do Steve Aoki, foi um bom parceiro para lançar o álbum nos Estados Unidos. Eles foram, provavelmente, os únicos do meio eletrônico a se conectar com o hardcore. Não tão radicalmente quanto o DHR (Digital Hardcore Recordings, selo capitaneado por Alec dedicado às barulheiras eletrônicas), mas nem precisaria ser. Steve ouviu ATR quando era jovem e queríamos trabalhar juntos em uma faixa de hardcore eletrônico. Foi nessa época que o Skrillex abriu para o Atari Teenage Riot em Nova York. Um ano depois o EDM (eletronic dance music) estourou e esses caras, repentinamente, tornaram-se mainstream.

O ATR, principalmente você, sempre apoiou o ativismo hacker. Como parte desse engajamento, em fevereiro de 2015, rolou um discurso no maior congresso hacker do mundo, o 31c3, sobre usar essa cultura como arma. Por que o ciberativismo é tão importante?
Alec Empire
– O ativismo não violento irá trazer mudanças e a ação hacker é peça chave para isso acontecer. Espalhar informação, fazer os governos serem transparentes e criptografia são alguns exemplos.

Como o cidadão comum pode usar a criatividade e a tecnologia em seu próprio benefício?
Alec Empire
– A tecnologia está se movendo muito rápido. Qualquer coisa que eu diga agora pode ser absurda em algumas semanas. A única dica que posso dar é para as pessoas pensarem em como usar as ferramentas modernas, não seguir o hype. Só porque todos seus amigos estão em uma rede social e deixam seus dados pessoais lá, você não precisa fazer isso. Quem controla sua vida é você. E você é responsável pelas ações que realiza.

Falando em ciberativismo, isso me remete ao caso Wikileaks, que parece ter tido um impacto forte no disco novo, Reset (2015), considerando que a cultura da vigilância é tema de algumas letras. Isso procede? Você acredita que a maioria das pessoas tem noção sobre essa invasão de privacidade que vivemos?
Alec Empire
– O álbum principal sobre esse assunto é o Is This Hyperreal. Acredito que as pessoas deveriam saber, a essa altura, sobre o que está em jogo. O problema é que a indústria da música tenta evitar que se fale sobre o assunto. Tem muito a ver com quem detém o poder. Inúmeros músicos ficam em silêncio e isso nos assombrará no futuro. Vivemos um tempo importante, parecido com o do final dos anos 1960, quando a música teve papel fundamental no fim da Guerra do Vietnã. Um músico que não fala verdades tem papel irrelevante.

Edward Snowden denunciou que a agência estadunidense NSA estava espionando o governo brasileiro. Você sabia disso? Na sua opinião, porque grandes nações vigiam países emergentes? Seria parte de um novo modelo de colonialismo ou algo do tipo?
Alec Empire
– Acho que essa é a natureza dos governantes. Sempre foi. Às vezes, não há nem mesmo uma má intenção por trás disso. É uma corrida. Se a tecnologia possibilita atitudes assim, eles a usarão antes que outros utilizem.

Mesmo explorando verdades não muito positivas nas letras de Reset, o álbum parece passar sinais de esperança no futuro. Não sei se a expressão se aplica, mas seria algo menos negativo. Essa visão um tanto otimista é intencional?
Alec Empire
– O futuro está em nossas mãos, mas temos de nos importar com ele. Não apenas reagir.

As partes instrumentais de Reset parecem conduzir o ouvinte por ritmos menos pesados do que em seus outros álbuns, embora a agressividade esteja presente nas faixas. São beats mais acessíveis. É algo como disse Emma Goldman disse: “se eu não posso dançar, não é minha revolução”?
Alec Empire
– As pessoas sempre dançaram com nosso som. Quanto mais o tempo passa, mais elas entendem nossa música. Não pensamos em ser mais acessíveis quando compomos, apenas criamos a música que amamos. Não há rótulos envolvidos, nós controlamos o Atari Teenage Riot e somos livres para fazer o que bem entendermos.

Sendo classificado de digital hardcore – um dos pioneiros do gênero, inclusive –, gostaria de saber como vocês percebem que a comunidade punk reage à postura do ATR hoje em dia e no passado?
Alec Empire
– Realmente não sei. Os punks que ouvem nosso som obviamente gostam, mas existem alguns que simplesmente não curtem música eletrônica e preferem coisas mais tradicionais do estilo. O que é normal.

Já tiveram alguma encrenca por estar tanto tempo alertando sobre o autoritarismo e engajados com algumas verdades? Tipo algum tipo de violência, perseguição política ou censura?
Alec Empire
– Nosso disco Future of War (1997) foi censurado na Alemanha. Desde então, sou tratado como um radical extremista. Quem me conhece e segue o que estou dizendo sabe que não me enquadro nessa categoria. Acho que as autoridades germânicas cometeram um erro nesse caso. Criamos músicas que fazem as pessoas pensar e que nunca manipulou ninguém para agir de forma violenta. Quando os fãs ouvem nosso som eles aprendem a lidar com a raiva. Todos que frequentam shows do ATR sabem disso.

Vemos muitas bandas falar sobre revolução, amaldiçoar o capitalismo e reclamar sobre a situação em que vivemos. Mas, muitas delas apenas na teoria. Como você diria que é possível trazer isso para a vida real e agir contra aquilo nos oprime? Vocês participam de ações diretas?
Alec Empire
– Em primeiro lugar, é preciso pensar antes de agir. Por isso a música é importante. Tocamos em festivais antifascistas e até mesmo em protestos. O ativismo pessoal á algo que não gostamos de nos gabar em público. É um lance que fazemos como cidadãos, e não como artistas. Determine sua própria vida e não deixe ninguém controlar você.

Há um trecho na letra da música ‘Amerika’, do Rammstein, que diz: “coca-cola, sometimes war”. Pode parecer bobo, mas isso me faz pensar sobre como o imperialismo cria distrações para a população enquanto grandes corporações escravizam nossas mentes para pensar de acordo com o que elas querem. Minha pergunta é: o quão importante é usar da visibilidade para fazer as pessoas refletirem sobre o mundo que nos cerca, principalmente no que há de errado no planeta?
Alec Empire
– Penso que todo artista tem a responsabilidade de usar sua voz e fazer as pessoas pensarem. Não creio que há um emburrecimento das massas, no entanto. Permaneça leal a você mesmo e não se comprometa com a audiência. É preciso encontrar o balanço ideal. Claro que queremos novos admiradores, mas, muitas vezes, é preciso fazer o que se acha correto. Não se tornar um escravo do público. Isso geralmente resulta em suicídio, abuso de drogas e outras coisas destrutivas.

Aproveitando o gancho da pergunta anterior: você curte a cena eletrônica/industrial alemã que tem bandas como Rammstein, Wumpscut, Oomph, KMFDM e Die Krupps? Quais artistas da Alemanha recomendaria?
Alec Empire
– Eu curto mais o velho krautrock. Bandas como Neu!, Cluster, Faust e Harmonia. Também recomendaria o new wave alemão dos anos 1980. Tudo de D.A.F a Der Plan.

Se você pudesse apertar o reset e programar um restart na humanidade, como seria?
Alec Empire
– Isso é, às vezes, um mal-entendido. Não usamos a palavra ‘reset’ no sentido de começar tudo novamente após uma bomba atômica. Nossa ideia é de que precisamos focar no futuro ao invés de compreender e se desculpar por conflitos de muitos anos atrás. Reset é um interruptor que todos podemos acionar. Veja o ser humano em primeiro lugar e, então, tente construir um futuro melhor trabalhando em conjunto. Todos devemos ter liberdade.

por Homero Pivotto Jr.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

"[A internet] virou a mais eficaz ferramenta de controle mental de que já se teve notícia". Alec Empire.

O Atari Teenage Riot é uma de minhas bandas preferidas. Quando a gente tem a oportunidade de escrever sobre os artistas que contribuíram para a nossa formação política, é difícil deixar a primeira pessoa de lado. Esta é a segunda vez que tenho a chance de trocar ideia com Alec Empire, o vocalista e ideólogo do grupo de hardcore digital anarquista formado em 1992 em Berlim. A primeira foi há dezessete anos, quando eles tocaram no KVA, em São Paulo, e pude entrevistá-los para um fanzine que tinha. Aquela turnê precedia o terceiro álbum do ATR, 60 Second Wipe Out (1999). Eles estavam em sua melhor forma, e o show foi uma explosão de revolta, tendo como ponto alto a execução de faixas como "Destroy 2000 Years of Culture", "Speed" e "Fuck All". Esta última, com versos agressivos como "Cut all policemen into pieces".

Me lembro de ter perguntado para ele no backstage se a incitação a esse tipo de violência contra os policiais, propondo o combate do fogo com fogo, era mesmo uma forma produtiva de falar de política. E ele retrucou: "Essa gente é o braço armado do sistema, não tem como criar um diálogo positivo com tipos assim". De qualquer forma, o tempo passou, um dos integrantes do ATR, o Carl Crack, morreu no meio de um tratamento psiquiátrico com um monte de remédios fortes no estômago, o Alec se indispôs com a outra vocalista, a Hanin Elias, e o grupo encerrou as atividades em 2001. Foi chato. Mas é sempre melhor quando uma banda acaba no auge de sua produtividade do que na sua própria miséria criativa.

Em 2011, quando eles anunciaram um retorno, com a Nic Endo no posto de Hanin e CX KiDTRONiK no posto de Crack, o espírito de rebeldia que estava rolando, com o lance do WikiLeaks, Anonymous, o ativismo hacker, as manifestações organizadas via internet, o cyber terrorismo naquele contexto foi responsável por inspirar um álbum com um discurso menos "foda-se tudo" e mais elaborado, que lançava em seu título o convite à discussão: Is This Hyperreal?. Uma trilha de protesto alinhada perfeitamente às angústias da era Google. 

Reset, o novo trabalho que o trio vem promover em São Paulo no próximo dia 19, num show que farão no Cine Joia, estica o papo de seu predecessor. E o som, por sua vez, está mais poderoso e radical do que nunca. Puta álbum foda! Se a revolução não será televisionada, ao menos ela já tem o seu pano de fundo musical.

THUMP: E aí Alec. Vamos começar falando do álbum novo de vocês e de como vocês remodelaram o som da banda desde o retorno, com o Is This Hyperreal?. Eu vim para o escritório escutando Reset, e senti o mesmo impacto incendiário de quando conheci vocês com o Delete Yourself. Mas esteticamente, tem algo de novidadeiro na música...
Alec Empire:
O som do Atari Teenage Riot tem um DNA que acredito não ter mudado tanto nesses anos todos. Continuamos uma banda crítica, e um monte de gente continua nos odiando, esse tipo de coisa ainda é igual [risos]. É claro que há diferenças. Se você comparar um álbum como Future of War (1997) com o novo, Reset, são investidas bem distintas. Algo nunca muda, que é aquela energia do ATR, mas as emoções vividas em cada momento da vida que influenciam o som. Future of War é muito mais sombrio, enquanto o Reset... Bem, algumas pessoas acham que tem uma pegada parecida com o primeiro álbum, Delete Yourself (1995), que não é tão niilista, tão destrutivo. Tem uma parcela do nosso público que gosta justamente da nossa faceta destrutiva e, de certa forma, sentiram falta disso, daqueles hinos de rebeldia, enquanto outros fãs odeiam essa fase. O ATR sempre transitou entre essas duas expressões, uma um pouco mais amena, outra bem mais raivosa. Depende de como estamos nos sentindo no momento da produção de cada trabalho. Mas se for pra apontar algo que definitivamente está diferente, diria que nos anos 90 nós estávamos naquela onda jungle/drum and bass e aí acabamos nos cansando desses beats. Eu entendo que tem um monte de gente que pira naquelas coisas que fizemos, mas o foco do ATR nunca teve a pretensão de ficar engessada numa vertente, a nossa identidade na verdade sempre foi resultado de uma mistura de várias coisas, as influências que eu trago do meu projeto solo. As vozes também estão diferentes, mas os vocais sempre foram distintos de um som para outro, sempre experimentamos com isso, gritos de manifestações, de cheerleaders... O que a Nic trouxe para o novo álbum foi um estilo mais discursivo do que gritado.

A Nic tentou imprimir um estilo diferente para evitar comparações com o vocal da Hanin?
Ela não quis absorver o estilo da nossa vocalista anterior. Ao contrário, chegou e disse: "Vou cantar do meu jeito". E é bem isso. Se você escutar aos álbuns solo dela, assim como os outros integrantes, ao longo desse tempo todo, os nossos trabalhos individuais sempre foram bem diferentes. Completamente. Tem gente que nem percebe que são trampos nossos até [risos]. Por exemplo, quando fizemos uma turnê pela América em 2011, foi engraçado porque teve um pessoal que chegou até mim e falou, "Po, gostei da sua entrada no ATR, substituindo aquele cara que morreu" [risos]. Ele falava, "você trouxe uma pegada breakcore, muito bom" [risos]. Mas o que importa é que a galera entenda a essência da proposta, que é o fato de que não somos uma banda de rock nos moldes tradicionais, saca? Quando o ATR começou, a mídia roquista não fazia ideia de como lidar com a filosofia do techno. Eles ficavam confusos com o lance de sermos ao mesmo tempo um coletivo, uma banda, com três vocalistas, que também discotecam, produzem, sampleiam, soltam bases e beats junto de instrumentos... Esse tipo de gente fica confusa quando não consegue rotular as coisas dentro do esquema padrão.

Quando vocês surgiram, pouca gente sacava o que era o "digital hardcore". Basicamente só quem era do underground e já estava familiarizado com isso. A crítica de música e a mídia tradicional, nem sabia como apresentar vocês para o público. Você acha que hoje em dia esse estranhamento já foi superado?Mas você sabe que até a cena hardcore mudou. Se você parar para observar a evolução de vertentes como o breakcore, o digital hardcore, o drum and bass mais pesadão, tudo isso fazia parte de uma cultura de nicho e se encontrava na música do ATR... Depois, o diálogo entre essas vertentes foi se diluindo um pouco, no começo dos anos 2000, embora sempre tenha havido pessoas focadas em preservar o estilo. Mas já não é como nas antigas. Em Berlim, há dez anos um evento de breakcore atraía duas mil pessoas, hoje isso não rola mais. O ATR conseguiu atravessar tudo isso, somos sobreviventes dessa geração. Alguns, dizem que é porque começamos a investir em faixas de bpm mais lento, deixando pra trás aquela fase de "Start The Riot", mas nós sempre fizemos faixas lentas e aceleradas também. A verdade é que sempre vai ter aquela parcela do público da geração antiga do hardcore que vai detestar qualquer coisa nova, dizendo que o nosso auge foi o passado. Esse tipo de clichê. Pode esperar, quando lançarmos o próximo álbum, alguém vai chegar e falar que Reset, o anterior, era melhor. Dá vontade de falar pra esses caras, "Porra, porque você não se acostuma logo com o nosso som?!" [risos]. Não dá pra ficar dando ouvidos a todo mundo que pragueja, o importante é investir naquilo em que você acredita. O que fazemos é 100% o que desejamos, não tem nenhuma preocupação com mercado, opinião de gravadoras, direcionando a nossa criação. Eu mesmo produzo todos os álbuns, quem nos acompanha tem que se ligar nisso.

Acho interessante como vocês constroem a crítica política da banda em torno de termos ligados à tecnologia e à cultura digital. Tudo é bem amarrado. No primeiro álbum, vocês clamavam "Delete-se", e agora chegam com esse discurso de resetar. Qual a retórica por trás da palavra "Reset"? Um recomeço do zero? Destruir tudo e reconstruir?
Entendo o seu ponto, não há uma diferença muito grande no sentido dessas duas palavras. Tipo, Delete Yourself tinha a ver com "apague a sua identidade e faça parte do sistema"... Mas a mensagem da palavra "reset" aqui tem a ver com a ideia de que precisamos tomar cuidado com a influência negativa da tecnologia em nossas vidas, estamos absorvendo as inovações de um jeito nocivo, sabe? Quinze anos atrás, achávamos que a internet era sinônimo de liberação. No fim, virou o oposto, virou a mais eficaz ferramenta de controle mental de que já se teve notícia. Acho que é importante se ligar nisso, não se deixar afundar na armadilha. Esse é o significado por trás do nome do álbum. Precisamos repensar um monte de coisas, tudo o que parecia sinônimo de liberdade e independência virou um negócio frustrante. Veja só a cena musical. Os artistas se libertaram do esquema das majors, porém não dá pra dizer que surgiu com isso uma revigorante e vanguardista produção artística. As massas não estão consumindo as músicas mais espertas e inovadoras, na verdade elas continuam sendo fisgadas pela mesma merda de sempre [risos]. É foda. Toda a esperança que a internet e a comunicação digital trouxeram no final dos anos 90 foram abafadas.

Sim. Talvez seja mesmo uma estratégia muito mais eficiente apostar num controle comportamental que vende uma suposta liberdade de escolhas e opiniões. Ao invés de enjaular todo mundo. Estamos ocupados demais com a manutenção de nossos personagens on-line, afinal...
Acho que isso acontece porque as pessoas não desenvolveram um entendimento político da situação. As pessoas usam ferramentas como o Facebook e Twitter reduzindo da pior forma suas possibilidades. Elas estão apenas alimentando uma máquina sem obter nada recompensador em troca. Vira e mexe ficamos sabendo de histórias de violência surgindo na rede, e isso alcança repercussões enormes... Sei lá, acho que essas plataformas não são exatamente uma maravilha para o diálogo saudável entre as pessoas, sabe... Falta substância. Eles ainda querem nos vender anúncios e nós não temos nada a ganhar com isso.

Você acha que atualmente a música pode mesmo representar um perigo ao sistema?
Eu seria capaz de discursar por horas sobre isso, mas, pra resumir meu pensamento, basta você perceber que as corporações e os políticos ainda temem o poder da música como ferramenta de conscientização e rebelião. Por exemplo, tocamos num festival na Alemanha, e não por coincidência, quando a televisão transmitiu o evento, eles não mostraram o nosso show, não nos entrevistaram, ignoraram totalmente a nossa existência. Já as outras bandas foram promovidas normalmente. Sempre fica aquele clima de temor, tipo "Eles vão dizer algo que não podemos mostrar, precisamos tomar cuidado. Eles são imprevisíveis". Sempre que alguém diz que a música não é uma ameaça ao sistema, eu me lembro dessas coisas. Existe, sim, um cerceamento para que a voz dos artistas que escrevem músicas de protesto não chegue tão longe ou seja esvaziada de sua essência. Eles temem que a música forme um público inteligente, porque senso crítico vai de encontro ao desejo deles, que é o consumo sem noção. As corporações estão no controle da cultura do entretenimento. 

Quando o ATR começou, estava rolando uma movimentação neo nazi na cena da Alemanha que vocês confrontaram. Queria saber se os skinheads ainda têm vez entre a molecada por aí e se, nas antigas, você já foi atacado ou saiu na mão com os caras na rua. Esse tipo de coisa pela qual todo jovem que é diferente já passou nas metrópoles do mundo.
Eu cresci nos anos 80 em Berlim, e durante toda a minha juventude tive que tomar cuidado nas ruas, nos transportes públicos, não dava pra colar em todas os clubs e shows. Semanalmente, às vezes diariamente, eu entrava em confronto com esses skinheads. Mas nos anos 80 eles não eram tão militantes como foram nos anos 90. Já os neo nazis russos sempre foram muito mais militantes. Andavam armados e queriam matar as pessoas. Nos anos 80 era aquela coisa igual dos filmes, as tretas entre gangues de mods e rockabillies. Uma versão meio infantil do negócio [risos]. E então foi se desenvolvendo, vários daqueles caras acabaram virando terroristas, foram responsáveis pelos escândalos de assassinatos de imigrantes na Alemanha. Os mesmos caras com quem eu saía na mão acabaram entrando para o NSU (National Socialist Underground), não sei se você está ligado. E esse pessoal recebia armamento direto do serviço secreto daqui. O esquema todo acabou sendo revelado nos últimos anos. Foi isso mesmo que aconteceu. O governo patrocinou essas mortes. Eles chegavam atirando nas pessoas, bem na cabeça. E a polícia estranhamente nunca encontrava vestígios, era aquela novela toda.

Os primeiros shows do ATR eram perigosos por conta da presença dos skinheads?
Nos primeiros shows do ATR os nazis chegaram a atrapalhar. Na época em que nos apresentávamos em squatts, isso era um grande problema. Mas depois que a banda cresceu, eles nunca mais apareceram. Digo, com tanta frequência. Porque eles sabiam que estariam em menor número. Isso ainda é um problema para as bandas punks na cena. Isso rola mais na parte Leste da Alemanha, embora eles estejam presentes no Oeste também. Infelizmente eles continuam se manifestando e angariando seguidores por aqui. No inverno passado rolou um protesto, inclusive, que atraiu 20 mil pessoas. Isso é assustador. Tem gente que me pergunta por que eu acho que essa tendência está voltando, só que a real é que isso nunca deixou de acontecer, o lance é que a mídia não andava prestando atenção. Só é noticiado quando dá em alguma merda. E tem uma nova geração sendo influenciada por eles. Não existe um empenho do governo em educar as pessoas contra o racismo. Isso é frustrante.

Levando em conta que o ATR ficou dez anos parado, pergunto: quando o Carl Crack morreu, vocês decidiram acabar com a banda ou só queriam dar um tempo até que as emoções se acalmassem? Ou o motivo desse hiato foi sua indisposição com a Hanin?
Depois que o Crack morreu, nós não conseguimos continuar. Foi um baque. Eu já estava tocando meu projeto solo desde 1999, e ele morreu em 2001. Tem gente que confunde porque demos um tempo um pouco antes da morte dele, aí em alguns lugares consta que ele morreu em 99. Nesse meio tempo, a Hanin engravidou e saiu da banda, depois de um show que fizemos na Brixton Academy. Estávamos já desgastados, após anos e anos de turnês incessantes, quando isso aconteceu. Mas a ideia era dar um tempo de um semestre, não de uma década [risos]. O motor foi pifando naturalmente. A Nic assumiu o posto da Hanin até o final daquela turnê. O meu trampo solo estava recebendo um feedback positivo, então acabei me empolgando com isso. Só que antes que pensássemos em retomar a banda, o Crack morreu. Daí juntando com o fato de que eu já não estava me dando bem com a Hanin, resolvemos desencanar. Ela ficava naquelas de sair da banda, depois vinha e pedia pra voltar. Não sei que porra aconteceu, se ela não curtiu a turnê, se ficou de bode do hotel, só sei que ela voltou pra banda e saiu de novo. Estou ligado que as bandas às vezes têm que lidar com essas situações caóticas, mas isso acabou virando algo pessoal, sabe? Ela deu mancada, isso é falta de respeito. 

Mas a Nic chegou a gravar os vocais de 60 Second Wipe Out. Então ela já tinha assumido o posto da Hanin. Dava pra vocês terem voltado antes. Não?
Também entram nisso alguns fatores criativos. Nic e eu queríamos fazer uns sons mais pesados, e o resultado dos meus álbuns solo exibe um pouco dessa vontade. Uma parada curiosa é que em 2010, quando pensamos em voltar, foi justamente a Hanin que veio com a ideia. E eu confesso que não dei muita bola. Para mim o bagulho já era página virada, eu estava fazendo coisas diferentes, produzi um álbum com o Patrick Wolf, remixei umas coisas. E a Hanin ficava dando ideia, falou que de repente seria legal se fizéssemos só um show comemorativo e tal. O contexto era o seguinte: eu tinha um show marcado em Londres, e meu álbum demoraria mais uns três meses para sair na época, então eu propus ao promoter de tocar com o ATR. O promoter concordou, meio reticente. Mas pouco antes disso estava rolando uma crise econômica na Inglaterra e as pessoas passaram a mostrar interesse em discussões políticas novamente. Daí que a Hanin mais uma vez faltou à apresentação... [risos]... Mas acabou que o contexto todo se mostrou revigorante e nós planejamos seguir com esse retorno para uma série de shows de três meses. Achamos que seria só um revival, porém tudo acabou engrenando de tal forma que voltamos pra valer. O mundo estava pegando fogo, e o público demandava o nosso retorno, com um discurso focado nos novos tempos. A eletrônica começava a ser dominada por esse lance da EDM, e um monte de gente ficava pedindo um retorno de verdade, demonstrando uma carência por algo mais substancial. E foi assim que aconteceu. 

Atari Teenage Riot, dia 19 de agosto, em São Paulo
Local: Cine Joia. Praça Carlos Gomes, 82 - Sé.
Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada)
Link para venda dos ingressos: http://www.livepass.com.br/atari-teenage-riot/
Classificação etária: 18 anos


por Eduardo Ribeiro

THUMP

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