quarta-feira, 24 de junho de 2015

Marcelo Nova, uma entrevista (sobre a volta - mais uma - do Camisa de Vênus)

Hoje é difícil imaginar, mas uma música que - à maneira do antigo apresentador televisivo Gil Gomes - falava de um estupro seguido de assassinato já foi hit nas FMs e aposta de gravadora. Era o Camisa de Vênus com Bete Morreu.

Se uma banda hoje em dia lança um som desses, vai tomar pedrada. E muita. Era coisa dos psicodélicos anos 80, em que a liberdade de expressão era muito levada em conta, mesmo que se confundisse às vezes com liberdade de chocar ou de ofender. E em que talvez as pessoas não se assustassem tanto com as coisas, mesmo porque retratar uma realidade (coisa que o jornal faz todo dia) é bem diferente de gostar dela ou querer fazer parte dela. O Camisa também falou sobre playboys imbecis que batiam nas namoradas (Ana Beatriz Jackson), transformou uma piada machista digna de Costinha em música (Sílvia, cuja letra foi inspirada pela peça Dois perdidos numa noite suja, de Plínio Marcos, e cuja melodia chupava Sorrow, rockinho gravado pelos McCoys e por David Bowie). E fez uma espécie de Ouro de tolo (a do Raul Seixas) punk dos anos 80, O adventista, pregando que nem Freud aguentaria mais uma sessão de psicanálise, entre outros temas.

O grupo volta para uma turnê de 35 anos em condições discutíveis. No palco, da formação original, tem só Marcelo Nova (vocal) e Robério Santana (baixo). Karl Hummel (guitarra) e Gustavo Mullem (guitarra solo) andavam envolvidos com uma turnê do grupo sem Nova e foram impedidos pelo vocalista de continuar. O que a volta da banda tem a oferecer (junto com a execução de canções cáusticas e eternamente criticadas pela turma politicamente correta) talvez seja mais a colocação de pulgas em orelhas estratégicas do que o retorno a tempos musicais que não têm mais como voltar.


Como surgiu a possibilidade dessa turnê? Bom, tudo começou com o Airton Valadão (empresário, responsável também pelo retorno do Ira!). Ele me ligou e me disse: "São 35 anos do Camisa de Vênus! Vamos fazer uma turnê?" Cara, eu estava tão desligado dessa data que falei "porra, você tem razão, são 35 anos! Cacete, como eu tô velho!". E aí nós tivemos algumas reuniões. O Robério foi a primeira pessoa que convidei para montar o Camisa de Vênus lá em 1980 e ele achou interessante o convite do Valadão. Tem uma boa parte dessas canções que não canto há muito tempo, até mesmo nos meus shows solo. Eu penso que com 63 anos me dou ao direito de revisitar minha obra, Tenho 18 álbuns gravados de 1983 para cá. Eu e Robério nos divertimos muito ensaiando as músicas, relembrando coisas. Acho que o ideal é que esse show seja uma festa e que a gente se divirta..

Na época você e Robério trabalhavam juntos numa rádio, certo? Não, eu é que trabalhava na rádio Aratu, e ele na TV Aratu. Mas nos conhecemos e descobrimos que rock era algo que tínhamos em comum...O que não é comum é minha formação. Eu fui um menino deslocado, cresci sozinho, sem irmãos para dividir as brincadeiras (em entrevistas, Marcelo disse que tinha só uma irmã 12 anos mais velha, que na época era fã de bossa nova). Eu gostava de ler  e os outros meninos gostavam de jogar bola. Eles gostavam de ir à praia e eu gostava de ficar em casa ouvindo Animals, Rolling Stones, Beatles, e aquelas bandas inglesas dos anos 60. Por outro lado essa relativa introspecção me conduziu para a literatura. Só que isso só veio tomar uma forma consciente quando comecei a escrever meus primeiros textos. Quando comecei a colocar o que tinha para dizer em letras de música. É importante falar que até o Camisa eu não tinha nenhuma experiência musical. 

Nada? Lembro que uma vez vi um documentário antigo sobre o Camisa, disponível no YouTube, em que você dizia mesmo que o critério para escolher gente para tocar no grupo era que não fossem "músicos" na acepção da palavra... Eu não sabia nenhum acorde de guitarra, não sabia tocar guitarra. Isso às vezes era interessante, porque começamos a pegar referências de outras coisas e fui aprendendo a compor. Eu nunca nem tinha subido num palco na vida! A primeira vez foi com o Camisa, numa casa de shows na qual cabiam 800 pessoas e tinha gente do lado de fora que não conseguiu entrar. Essa foi nossa estreia na cena musical. E o nome chamou muita atenção de cara. Me parecia realmente inadequada essa coisa de me cercar de músicos que tivessem uma trajetória formal, ou de me cercar do que havia de melhor tecnologicamente e virtuosisticamente, ainda mais para uma banda chamada Camisa de Vênus. O idealizador da banda não sabia um acorde! E a ideia da música baiana era na época - e é até hoje - exaltar os valores místicos da Bahia, como se tudo tivesse o toque de Midas, de transformar tudo em ouro. Sempre me ressenti de nunca ouvir alguém que viesse antes de mim e dissesse "não, isso não é verdade".

Daí veio Controle total, que só está no primeiro compacto da banda. Isso! E acho que até hoje é o único texto de um artista baiano depreciando a cidade de Salvador do ponto de vista cultural, estético e musical. Isso nos deu uma independência em relação ao modismo, em relação ao que estava sendo feito na época. As coisas começaram a acontecer muito rapidamente em Salvador, porque a banda destoava de tudo que estava sendo feito lá. Ficou uma cisão entre quem adorava e odiava a banda. Para mim foi muito gratificante saber que uma canção de três minutos que eu escrevia era capaz de levar artistas e críticos a discutirem veementemente através das páginas de um jornal. Na época não tinha nem internet, né?

Não tinha nem uma cena punk na Bahia na época, ou de bandas parecidas? Não, nada. O Camisa tinha algumas peculiaridades... Além dessa limitação de não sermos músicos, que no fim das contas virou uma característica, de não ter muito fru-fru. As músicas, a coisa da performance, o grito do "bota pra fuder" que me acompanha até hoje. As pessoas gritam isso pra mim quando eu estou atravessando a rua. E na época tinha as bandas de São Paulo, de Brasília, o rock meio pop do Rio e os "baianos do Camisa de Vênus", que de baianos não tinham nada no sentido literal. Nós éramos sempre os azarões, não tínhamos um grande aparato de produção, de investimento. Ainda por cima, quando lançamos Viva! (1986), ele virou disco de ouro com praticamente todas as músicas censuradas.

Não teve uma história de que você ficou vendo o disco ser apreendido nas lojas e se ofereceu para ser preso? Eu estava numa loja chamada Hi Fi e os censores chegaram na loja e apreenderam os discos do Camisa. Cara, eu só fiquei olhando, né? Eu sendo preso sem ir para a jaula. Mas teve uma hora que cheguei pro cara e falei, em tom irônico: "Não seria mais lógico você me prender? Quem tá no disco sou eu, as coisas que estão dando problemas foram ditas por mim!"

Vi um show do Camisa de Vênus no Circo Voador por volta de 2008 em que você cantou O Adventista e mudou um verso para "eu acredito/no Big Brother Brasil". Atualizou outras letras? Não, não tenho nem esse objetivo. Gosto muito de improvisar e às vezes essas coisas surgem. Em algumas músicas funciona bem e em outras não. E ter que ficar atualizando, revendo... Eu tenho 18 discos gravados. Em 2011 lancei um DVD e um álbum duplo gravado ao vivo. Em 2012 lancei um Blu-Ray. Em 2013 lancei o 12 fêmeas, um disco de músicas inéditas. Nos últimos anos tenho trabalhado incessantemente. Essa possibilidade de voltar a um passado muito distante, se for uma nostalgia, melhor que a gente faça disso uma diversão. Eu já sou avô, cara, tenho uma netinha. Quero é me divertir. Pra você ver: fiz uma turnê ano passado de 25 anos do disco A panela do diabo (gravado em 1989 com Raul Seixas). Não fiz nada quando o disco tinha dez anos, nada com 15, com 20... De repente, 25! Pensei: "Ou eu faço agora, ou só no crematório!". Prefiro agora!

Tem muita coisa que o Camisa fez, como Bete morreu, que soam politicamente incorreta. Não falta um botão de ironia para as pessoas entenderem certas coisas? Bom, a internet trouxe alguns elementos à tona, alguns elementos interessantes... Mas por outro lado virou um tribunal do semianalfabetismo. Com toda essa história de interação de classes tão distintas, de repente você tá é cercado por uma avalanche de frases e de afirmações de gente que possui a verdade na mão e quer enfiá-la pela sua garganta adentro a qualquer custo, com uma virulência impressionante. Esse tipo de atitude, onde porque você tem computador você tem voz, e sua opinião é de importância vital para a sobrevivência do país, sabe? Paralelo a isso, estamos pouco a pouco perdendo o sentido da ironia, o sabor do sarcasmo. Isso desapareceu do convívio social. Ficou uma tacanhice.


E as origens do Camisa. Você é fã do Mott The Hoople. O glam rock foi inspiração da banda? Não, não, minhas influências vieram mais da tradição do rock (nem tanto, já que o Camisa chupou um título de disco do Roxy Music, Viva!, e copiou descaradamente Sorrow, dos MacCoys, gravada por David Bowie, para Silvia). Adoro o Mott, Ian Hunter é um grande compositor, subestimado. Depois me interessou a coisa dos Sex Pistols, do Clash, tinha um imediatismo ali que me interessava. Vi que podia aprender a tocar guitarra, a dar o recado. Nunca fui punk de carteirinha, nos discos do Camisa tinha piano, sax, baladas... Mas parti dali. Ao mesmo tempo que nosso som tinha Johnny Rotten, tinha Walter Franco e Jards Macalé, ou Adelino Moreira, um compositor do qual gosto bastante pelo teor de dramaticidade que ele empregava nas composições.

Aliás, em algum momento o Adelino comentou a versão que vocês fizeram de Negue? Olha, nunca nem soube.


Como está sendo tocar com seu filho no Camisa? Olha, é ótimo. Quando a herança é apenas genética não tem significado. Mas o Drake já demonstrava interesse aos 15, 16 anos, por timbres de guitarra, diferentes formas de abordar um instrumento musical. Essa preocupação que ele demonstrava já me surpreendeu de cara, porque um garoto nessa idade quer é tocar como o Joe Satriani. E aí ele foi evoluindo e aos 17 anos já tocava comigo profissionalmente. Ele até fala: "Porra, pai, tô fodido. Daqui a 20 anos só vou ouvir artista que já morreu!". Ele se interessa por guitarristas como Rory Gallagher, Leslie West e Robin Trower! São nomes que nem fazem parte do panteão, não estamos falando de Jimmy Page e Toni Iommi, que já são mais comuns, entende? E isso vem deixando o papaizinho aqui bem orgulhoso...

Dizem por aí que está vindo uma biografia sua, escrita pelo André Barcinski. É verdade? Eu e Barcinski conversamos sobre isso há bastante tempo. Somos amigos, conversamos até não só sobre essa biografia ou sobre a possibilidade de fazer uma biografia, temos vários outros assuntos... Sempre falamos e sempre adiamos! Nunca foi um trabalho, vamos dizer, prioritário, "vamos agora trabalhar na biografia"...

por Ricardo Schott

aqui, 

#

quinta-feira, 18 de junho de 2015

30 Anos de Sepultura

Era pra ser um bate e volta de perguntas e respostas trocadas por e-mail, só para saber sobre os shows que o Sepultura faz nesse final de semana no Rio de Janeiro e em São Paulo (saiba mais). Mas, dado o cansaço da viagem de volta da turnê dos Estados Unidos – a banda chegou na terça de manhã e nos atendeu à tarde -, a entrevista se converteu em um papo animado por telefone. E aí, o guitarrista Andreas Kisser não se esquivou e falou muito mais do que se imaginava. Tanto que, antes de ser perguntado, entrou no tema recorrente, a sempre comentada reunião da formação clássica do grupo, hipótese cada vez mais descartada, e ainda das agruras da troca de vocalista, há quase 18 anos.

Depois de completar 30 anos, o Sepultura converteu a turnê do último álbum – respire fundo - “The Mediator Between the Head and Hands Must be the Heart”, lançado em 2013, em um giro comemorativo da data. O que significa que, nos shows do próximo final de semana, músicas em geral não incluídas no repertório vão ser tocadas, para a alegria dos fãs das antigas. Andreas garante que ao menos “Bestial Devastation”, faixa-título do split album que o grupo lançou com o Overdose, em 1985, antes de ele próprio entrar na banda, e “From The Past Comes The Storm”, que abre o segundo disco, “Schizophrenia”, de 1987, estão dentro. Completam a formação atual Derrick Green (vocal), Paulo Jr. (baixo) e Eloy Casagrande (bateria).

Na conversa, o guitarrista ainda elenca os cinco momentos mais marcantes desses 30 anos da banda brasileira mais bem sucedida no exterior. Como não pode ficar parado, o papo vai até os dois singles lançados este ano, “Darkside” e “Under My Skin”, e ainda aponta os planos para o futuro, uma vez que, em 2016, um novo álbum deve ser gravado. Pense numa banda, numa história, numa superação e relembre como o Sepultura avança três décadas com muitos casos para contar. Ou, por outra, não pense nada disso. Leia a entrevista abaixo (ou AQUI, na postagem original) e dirija-se automaticamente, como um zumbi, para os shows desse final de semana. 

Rock em Geral: Vocês acabam de chegar do trecho americano da turnê de aniversário de 30 anos. Como têm sido esses shows?
Andreas Kisser: Foi muito bom, fizemos Canadá e Estados Unidos, já fazia três anos que não íamos para lá. Na verdade era para termos feito essa tour há um ano, mas tivemos alguns problemas e acabamos não conseguindo ter os vistos em tempo hábil. E agora finalmente tocamos lá, fazendo turnê ainda pelo último disco e também comemorando os 30 anos da banda. 

REG: Acabou juntando as duas turnês…
Andreas: Esse ano fizemos isso em alguns lugares, como na Rússia. Fizemos 17 shows por lá em março, que foi a mesma coisa, e agora na América do Norte, foi fantástico. É legal tocar nos Estados Unidos porque tem muito músico, muitos amigos e nós revemos muita galera, teve muita gente comparecendo, foi bem positivo, fiquei super satisfeito. 

REG: Você acha que o interesse dos fãs de heavy metal pelo Sepultura no exterior voltou a aumentar nos últimos tempos, após a assinatura do contrato com a Nuclear Blast? Ou nunca houve desinteresse?
Andreas: Não é questão de desinteresse, teve muita ladainha da imprensa, principalmente vindo do Max (Cavalera, vocalista e guitarrista que deixou o grupo em 1996) e da Glória (Cavalera, empresária e esposa Max), muita coisa feita também nos bastidores, uma pressão para fazer reunião. Teve uma época em que até os promotores ficaram em dúvida. Que Sepultura eles estão tentando vender? É o da reunião ou o Sepultura que tá rolando? Tivemos que fazer até um vídeo esclarecendo as coisas, dizendo que não tem nada acontecendo, que era tudo boataria, porque tava atrapalhando o nosso business realmente. Então acho que agora isso deu uma dissipada, tem o Cavalera Conspiracy (uma das bandas de Max, com o baterista Iggor Cavalera, também ex-Sepultura), os caras tão fazendo os projetos deles e tudo o mais, e nós focados no que fazemos. Acho que o último disco foi muito bem aceito, a entrada do Eloy deu um up grade de energia e de possibilidades musicais. O Eloy realmente é um monstro na batera, traz muita possibilidade e o disco foi muito bem aceito, tanto que estamos há quase dois aos fazendo turnê com ele. Acho que a galera tá deixando essa novela de lado e curtindo mais a música mesmo. 

REG: Para os shows desse final de semana, no Rio e em São Paulo, vocês pretendem manter o repertório da turnê americana ou vão tocar músicas mais antigas?
Andreas: Vai ser mais ou menos isso mesmo, vamos dar uma mesclada um pouco maior, tocar um pouco menos do disco novo, sem deixar de fora, mas com mais espaço para coisas que nós dificilmente colocamos, porque é muita música, muito disco para formatar um show. Lógico que temos aquela espinha dorsal com as músicas principais. Já estamos fazendo um show bem diverso, estamos tocando, por exemplo, a “Bestial Devastation”, que dessa formação só o Paulo tinha tocado, no século passado, literalmente (risos), e agora estamos fazendo uma versão muito legal. Tem a “From The Past Comes The Storm”, que abre o “Schizophrenia”, a primeira música que eu escrevi com os caras, e algumas coisas já da época do Derrick que ficaram meio paradas, como a “Mindwar”, a própria “Choke”, “Apes Of God”, “Sepulnation”… É um show bem completo, bem representativo do que o Sepultura fez desde o começo da carreira. 

REG: Alguma chance de entrar “Orgasmatron” (cover do Motörhead) de novo?
Andreas: Ah, certamente, é um dos covers mais especiais da nossa história…
REG: Mas vocês não estavam tocando…

Andreas: De vez em quando tocamos. Depende da galera, eu puxo o riff, vai todo mundo atrás e tocamos. Mas tem também “Polícia” (Titãs), “Bullet the Blue Sky” (U2) que são covers emblemáticos da nossa carreira, e queremos fazer a referência, sim. 

REG: Acabou que o Sacred Reich não vem mais, você sabe por quê?
Andreas: Teve problemas burocráticos, de papelada, deu uma confusão, e quando você perde uns dias, uma semana que seja, o negócio já ferra, é uma coisa muito encaixada. E aí nós estamos querendo trazer os caras mais pra frente, talvez em outubro, com mais alguns shows pelas capitais, mas vamos ver. Seria fantástico trazê-los numa celebração dessas, foi uma banda muito importante no começo da carreira do Sepultura. 

REG: Aqui no Rio o show é no Circo Voador, o que traz à memória outros shows do Sepultura junto com Ratos de Porão e Dorsal Atlântica. Quando você entra no Circo vem à cabeça esse tipo de coisa?
Andreas: Ah, claro, o Circo Voador é fantástico, foi o meu primeiro show com o Sepultura no Rio! Você mencionou o Dorsal, e nesse show tocamos um cover do Black Sabbath, “Symptom Of The Universe”, e o Carlos (Vândalo, vocalista e guitarrista) deu um mosh pit e caiu com o pescoço no chão, foi fantástico! Imagina para mim, entrando numa banda, tocando no Rio pela primeira vez e o Carlos Vândalo dando um mosh pit no seu show? Foi classe A. Fora o Ratos de Porão, junto com o Jello Biafra (ex-líder do Dead Kennedys), em 1992, aquilo foi histórico, maravilhoso! Foi uma das melhores noites da minha vida, foi fantástico! O clima do Rio de Janeiro tava maravilhoso, muito bom. Tem vários outros shows, com o com o Krisiun, na última vez em que estivemos lá…

REG: O Sepultura lançou recentemente dois singles, “Darkside” e “Sepultura Under My Skin” (saiba mais). Eles são parte do material que sobrou do “The Mediator…” ou é coisa nova?
Andreas: É coisa completamente nova, pintou pelas oportunidades. “Darkside” foi uma encomenda dessa editora que lança várias biografias e coisas relacionadas ao rock, e eles queriam um jingle. Escrevemos no estúdio com aquela ideia de uma coisa curta, ficou com um minuto e vinte e ficou legal pra caramba, os caras curtiram. E “Under My Skin” foi uma ideia de fazer essa celebração de 30 anos e de dar uma homenagem aos fãs do Sepultura que fazem uma tatuagem na pele. Nesses últimos 10 anos eu tenho visto muita gente tatuando o Sepultura, a tatuagem explodiu no mundo também. 

REG: Aquele “S” do sepultura fiou muito marcado…
Andreas: Pois é, e tem gente que tatua os nossos rostos na pele, é uma coisa absurda. Isso é uma demonstração de respeito, de carinho e amor pela banda. E quisemos retribuir escrevendo uma música especial para eles, usando as tatuagens deles para fazer a arte do disco. É uma música isolada, representativa mesmo desse momento de 30 anos, lançada só em vinil 7” e em formato digital. Temos tocado ela ao vivo e tem sido muito bem aceita, com a galera já cantando e tudo, e vamos tocar no Brasil. 

REG: Então não tem a nada a ver com um próximo disco?
Andreas: Não, é uma coisa bem isolada. Vamos começar a formatar o disco, eu tenho várias ideias, o Eloy também tem várias, já tem quatro anos que ele tá na banda, já não é tão novo, tá com 24 anos (risos). Vamos começar a formatar esse disco no final do segundo semestre, para começar a trabalhar no ano que vem. 

REG: Você poderia elaborar um “top 5″ de cabeça com grandes momentos da carreira do Sepultura nesses 30 anos?
Andreas: Felizmente, olhando para trás, são vários, é maravilhoso ter uma carreira de 30 anos, olhar pra trás e ver tanta coisa foda que aconteceu e continua acontecendo. Eu acho que o primeiro foi o Rock In Rio de 1991, que foi fundamental para o Brasil começar a aceitar o Sepultura como uma banda que já estava começando a fazer uma carreira internacional. No Brasil tava meio parado e aquele Rock In Rio, lá no Maracanã, foi um marco fantástico para nós, principalmente para abrir as portas da mídia grande aqui no Brasil, foi maravilhoso. O show da Praça Charles Miller também, no Pacaembu, foi um marco (maio de 1991). Gravamos o clipe para “Orgasmatron”, que ganhou o prêmio de melhor clipe da audiência na MTV, e daí fomos para Los Angeles por causa desse clipe. Hoje tem gente que acha que a música é do Sepultura, de tão identificável com a gente. O terceiro é a turnê do “Arise” (disco de 1991), foi a primeira vez que nós fizemos dois anos de turnê quase que ininterruptos, sem parar. Fomos para o mundo inteiro, a primeira vez no Japão, a primeira vez na Austrália, tocamos com o Ozzy Osbourne e Alice In Chains. Tocamos com o Ministry, fizemos os grandes festivais pela primeira vez. Foi um momento de explosão do Sepultura pelo mundo, e dessa turnê tiramos um estilo mais Sepultura de ser, de tirar os elementos da música brasileira, de ficar afastado do Brasil e ver o Brasil de fora, de respeitar mais as músicas, ritmos e melodias que o Brasil tem. A consequência foi o “Chaos A.D.” (disco de 1993), que foi um disco do qual até hoje tocamos mais música do que de qualquer outro disco… 

REG: Mais do que do “Roots” (disco de 1996)?
Andreas: Sim, tem “Refuse/Resist”, “Territory”, “Biotech…”, “Kaiowas”… tem muita música emblemática. O “Chaos A.D.” é a conseqüência de toda essa tour do “Arise”, isso pode ser considerado como um momento marcante, quando o Sepultura deixou de ser comparado ao Slayer - não que nós não gostássemos -, mas aí começamos a ter uma linguagem nossa, uma coisa mais brasileira. Foi o que colocou o Sepultura como uma coisa realmente original. O quarto momento é a saída do Max e a entrada do Derrick, que foi um momento difícil, brutal. O Max saiu no auge do Sepultura, nós já estávamos tocando uma turnê de arenas pela Europa, pelo Japão, no Big Day Out, na Austrália… Noventa e sete ia ser um ano fantástico para o Sepultura, e realmente colocaria o Sepultura em um nível ainda maior. A saída do Max foi muito traumática, foi feita de uma maneira completamente errada, todo mundo envolvido estava muito despreparado para aquilo que estava acontecendo. E a entrada do Derrick foi fundamental, ele tá fazendo 18 anos de banda. 

REG: Durou, né?
Andreas: Porra, o cara trouxe novas possibilidades para a banda, nós não queríamos um clone do Max, nem de vocal nem de visual, e o Derrick veio completamente diferente, com um background diferente. Foi um começo difícil, como todo começo, mas hoje estamos aqui celebrando 30 anos e essa mudança foi crucial para que nós pudéssemos continuar, porque o Max já estava com outra cabeça, querendo outras coisas. Nós realmente começamos a reestruturar toda a carreira da banda a partir daquele momento. E o quinto momento é hoje, os 30 anos, o “Mediator…”, é um dos melhores momentos da nossa carreira. Podemos não estar tocando em arenas pela Europa, mas estamos com uma carreira muito mais consolidada, mais organizada, mais tranquila. Temos uma conexão de banda como nunca antes, estamos muito unidos e fortes no palco e fora dele também. Acho que celebrar 30 anos numa situação dessas é fantástico, não estamos só dependendo do material antigo, o “Mediator…” é muito atual, muito forte e foi muito bem aceito, tanto que estamos fazendo dois anos de turnê pelo disco e voltamos a tocar em Download (festival britânico), vamos fazer o Wacken (Open Air, na Alemanha) pela terceira vez, em agosto, o Brutal Assault (na República Tcheca) de novo, o “Bloodstock”, na Inglaterra… é um momento muito especial e uma boa maneira de comemorar uma data tão forte.


REG: Você falou da saída do Max e de que 1997 seria um ano fantástico em um tom de lamentação…
Andreas: Ah, sem dúvida… 

REG: Olhando agora, de longe, será que não teria sido melhor ter adiado a saída dele para um ou dois anos depois?

Andreas: A questão é que nós mandamos a nossa empresaria embora, né? Nosso contrato com a empresária acabava no dia 16 de dezembro de 1996 e a escolha de sair foi deles. Nós não mandamos o Max embora, queríamos trocar a maneira como estavam sendo geridos os negócios da banda, a relação com a gravadora… Nosso contrato expirou e nós não renovamos, simples assim. Enfim, ele foi embora, virou as costas e nós tivemos que arcar com várias consequências, inclusive no Japão, onde o produtor nos culpa até hoje pela turnê cancelada. Mas nós não tínhamos condição nenhuma de achar outro vocalista, estávamos em um momento muito conturbado, muito difícil, as coisas acontecendo ao mesmo tempo, as boas e as ruins, tudo não liquidificado… 

REG: Foi noticiado em um monte de lugar que a banda tinha acabado…
Andreas: Era o que eles queriam, que a banda acabasse para depois ficar esperando a “reunion”. Mas isso não aconteceu, porque sempre mantivemos a cabeça erguida e olhando para frente sem chorar o leite derramado. A escolha foi dele. Beleza, foi uma escolha lamentável, mas foi feito o que foi feito, levantamos a cabeça e continuamos, e é por isso que estamos aqui ainda. Mas foi um momento marcante na nossa carreira, ao mesmo tempo em que uma porta gigantesca se fechou, outras 10 se abriram, não é só um caminho a ser seguido, são várias possibilidades. Tivemos também a nossa calma, tranquilidade, não queríamos resolver a vida em uma jogada de xeque-mate. 

REG: Devem ter rolado alguns momentos de hesitação também…
Andreas: Total, éramos mais jovens, muita coisa acontecendo, você escuta várias opiniões, fica no meio do furacão. Acho que tivemos tranquilidade, foi importante o Iggor ter ficado com a gente, como um trio. Porque era esse trio que tava segurando a banda ao vivo há muito tempo. O Max, na turnê do “Roots”, estava tocando cada vez menos guitarra, mas não tinha problema nenhum, a química da banda era essa mesmo, o cara da frente que tinha esse carisma e nós três, que segurávamos musicalmente. Essa mudança de o Max ter saído não foi tão traumática, musicalmente. Mas acho que a saída dele foi mesmo a coisa mais difícil da nossa carreira. E foi o que nos deu condição de estar aqui hoje, no melhor momento da banda. Foi uma superação muito difícil, porque um vocalista como o Max é quase impossível de achar. Mas é como eu disse: uma porta se fecha, outras 10 se abrem, você tem que levantar a cabeça e perceber isso.

por Marcos Bragatto

reg

#


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Arquitetando o fim do mundo

“O meio é a mensagem”. Se o Papa Marshall McLuhan estava certo, Alessandro Santana acertou em cheio ao disponibilizar o documentário ‘Karne Krua – Arquitetando o fim do mundo’ (2015) no próprio canal do Youtube. Além de atestar a filiação da Faz o que pode Produtora a certo ideal de independência criativa, essencialmente alheio às noções comercialmente consagradas de produto e mercado, a plataforma eleita para jogar o trabalho na rede ainda agrega um dado sensível ao todo imagético – Quando os recursos importam menos do que o propósito e a disposição para a tarefa abraçada.

Entre as quatro paredes do estúdio, durante os poucos dias de gravação do disco mais recente da banda. A intimidade com os “personagens” e a matéria abordada dispensou inserções, entrevistas e as interferências narrativas de praxe. O processo, somente. Há uma breve sequência em que as imagens ilustram a pedrada reverberando ao fundo, como que orquestradas pela voz gutural do vocalista Sílvio Campos, mas no geral a intenção aparente de um registro puro e simples é seguido ao pé da letra. Cortes secos. Tesoura afiada.

Não é a primeira vez que o realizador se dedica ao documento da música realizada aqui e agora. Sempre bem acompanhado. O documentário ‘Na estrada do tempo’ (2013), por exemplo, segue a banda Plástico Lunar durante três anos. No palco, comendo poeira nas BR’s da vida, e no backstage. Nos dois filmes aqui mencionados, é a cumplicidade evidente entre as partes que explica o sucesso da empreitada. Ao focar a música dos seus tão de perto, sem ceder às tentações da homenagem, Alessandro conta também um pouco da própria história.

Treteiro de marca maior, Alessandro Santana postou em abril uma nota nas redes sociais comunicando o propósito de negar o acesso aos trabalhos da produtora, gradualmente, ao longo dos dias seguintes. “Quem viu, viu. Quem não viu se apresse pra ver. SE QUISER (...). Continuarei fazendo filmes, a diferença é que vocês não vão mais vê-los”. Está no próprio direito. Mas esse doc, com prazo de acesso prestes a expirar, sublinha a mancada.

O DVD está à venda na Freedom Rock Tattoo.

AQUI, no youtube.


#

quarta-feira, 3 de junho de 2015

30 Anos de Karne Krua

ATENÇÃO: Esta será uma porra de uma noite histórica do caralho! Olho Sêco, lendária banda pioneira do cenário punk/HC nacional - e paulistano - estará se apresentando pela primeiríssima vez em solo segipano! Vai ser massa ver o Fabião velho de guerra "de rolê" pelas antigas terras do Cacique Serigy! Porque, além de ser o cara do Olho Seco e um dos primeiros lojistas da galeria do rock de sp, ele era um dos donos da new face, a gravadora que trouxe os discos de todas aquelas bandas finlandesas maravilhosas para o Brasil. Além do mais, será também a noite de lançamento de "Bem Vindos ao fim do mundo", o fodidíssimo novo álbum da Karne Krua, que já está à venda na Freedom Rock Tattoo, na Bigbross Produtora e por aí à fora, por todo o Brasil - e além! - nas melhores lojas e/ou distibuidoras. Em LP. De vinil! 
////// Portanto saiba que se você, por algum acaso, em algum momento de sua vida, sequer pensou em declarar que gosta do estilo - Punk rock/Hard Core - NEM PENSE em perder este show! Caso contrário, favor comparecer à Rua Santa Luzia, 151, no centro de Aracaju, a qualquer dia da semana, no horário comercial, para solicitar ao ilustríssimo senhor Silvio Campos, ex-suburbano, eterno "Imperador do Hard Core", para solicitar a baixa em sua carteirinha de "punk rocker". O processo pode ser feito também no restaurante Om Shanti, com o Sr. Ivo Delmondes ou a Sra. Dani "vegana" - eles se auto-intitulam "renegados", mas acredite, são legítimos herdeiros do império fundado há 30 anos pelo referido Suburbano, no Conjunto Bugio, periferia de Aracaju.


Dia 05 de junho | 21h | Caverna Rock bar
R$ 20 (INGRESSO ANTECIPADO NA Freedom
R$ 25 NA PORTA

Exibição do Documentário "Arquitetando o fim do mundo", de Alessandro Santana

KARNE KRUA
OLHO SECO (SP)
CASCA GROSSA
CESSAR FOGO

Tenho dito.

A.

#