segunda-feira, 30 de maio de 2011

João Gordo, uma entrevista

JOÃO GORDO. Todo mundo que conhece o lendário vocalista do RATOS DE PORÃO sabe das loucuras pelas quais já passou e tudo mais. Mas o tempo voa, e agora, tornou-se um pai de família e tanto. É nesse clima que o músico concedeu uma entrevista por e-mail ao Blog "Som Extremo", em que falou da esposa e filhos, letras de música, o reconhecimento da banda lá fora, seu futuro e o do RDP, entre outros assuntos. É claro que o cara não poderia deixar de lado suas críticas ácidas, brincadeiras e ironias. E a entrevista foi como a música do Ratos: curta, direta e agressiva.

Som Extremo: Como foi a recente turnê pela Europa?
JOÃO GORDO: Foi lindo! Tocar com o Voivod no Barroselas, em Portugal, já valeu o rolê todo!

Som Extremo: Casado e pai de família, o que mudou no seu jeito de compor, e mesmo ver a vida?
JOÃO GORDO: Quando se tem família e filhos sob sua responsabilidade e não se é um canalha, você tem que passar por cima de uma pá de convicções que, a essa altura do campeonato, está cagando e andando. Na minha cabeça de meio século de vida, o que interessa é que meus filhos, eu, minha esposa e meus cachorros tenham uma vida tranquila. Se você nega isso a eles por ideologia barata, é egoísmo e você pode se arrepender amargamente no futuro. Apesar dessa “caretiada” geral, meu modo ácido de ver a vida continua o mesmo.

Som Extremo: Na época do lançamento do álbum “Just Another Crime... in Massacreland”, você disse que “Suposicollor” era sua letra mais forte. Alguma outra já superou essa?
JOÃO GORDO: Tenho muitas letras boas e outras tantas bem idiotas também. Letras como “Testemunhas do Apocalipse”, “Pedofilia Santa”, e as três do SPLIT novo são bem interessantes e mostram bem o “modus operandis” do meu pensar.

Som Extremo: Em 2011, a RDP está fazendo 30 anos. Como será a comemoração?
JOÃO GORDO: Talvez um showzinho de merda qualquer.

Som Extremo: “Guidable” saiu no ano passado. De lá para cá, além do lançamento do DVD “Ao vivo no Circo Voador” e do split com a banda Looking for an Answer, houve mais algum fato que já mereceria estar em um novo capítulo da “Verdadeira História do RATOS DE PORÃO”?
JOÃO GORDO: Nada muito interessante. Bom, o fato de eu ter parado de fumar maconha depois de mais de 30 anos de fumaceira ininterrupta é digno de um novo capitulo no DVD.

Som Extremo: E falando no split, o RDP talvez tenha registrado nele suas músicas mais violentas da carreira, com levadas menos punk e mais crust/hardcore. Concorda? A intenção era só fazer sons porrada, ou tudo saiu naturalmente?
JOÃO GORDO: É tudo muito natural, quase natureba... temos dificuldade para fazer o próximo LP. Queria fazer grind, mas não conseguimos tocar isso.

Som Extremo: O reconhecimento de vocês lá fora, especialmente na Europa, parece ser até maior do que aqui no Brasil. Afinal de contas, a que você acha que isso se deve?
JOÃO GORDO: “Casa de espeto, ferreiro de pau”... somos gigantes em países de língua latina. Portugal é foda. Cantamos na língua deles. Somos deuses. Na Espanha, França, ou na Itália, nego me reconhece na rua. No Leste europeu, puta público foda! No México e América “Latrina” também. Aqui é uma bosta. Temos nossos fãs, mas nego quer nos ver pelas costas... estou acostumado.

Som Extremo: O que vem pela frente com o RDP, além da comemoração das três décadas?
JOÃO GORDO: Sei lá... talvez uma hérnia de disco, um esporão calcâneo ou uma bursite.

Som Extremo: Você faz parte do elenco de “Legendários”. Até que ponto conseguiu levar sua influência como músico para o programa de TV, e vice-versa?
JOÃO GORDO: É como óleo e água: são duas coisas completamente diferentes que não se misturam. Estou lá com a cara de pau mais deslavada do mundo e foda-se. Enquanto estiver fácil e lucrativo, estamos aí. Vamos ver até onde vai isso.

Som Extremo: Sua carreira na TV começou de forma não planejada, mas deu muito certo. Se você não cantasse no RDP e nem fosse apresentador, que profissão acha que teria hoje?
JOÃO GORDO: Talvez teria embarcado dessa, de tão gordo, ou na cracolândia como farrapo humano. Talvez seria PM... quem sabe torneiro mecânico, que é minha profissão. Vai saber.

Som Extremo: Como você se vê daqui uns 20 anos?
JOÃO GORDO: TIOZASSO!!! Será que chego aos 70?????

Som Extremo: Uma tarefa difícil: consegue fazer um top 5 de seus álbuns favoritos?
JOÃO GORDO: SLAYER - REIGN IN BLOOD
RAMONES - ROCKET TO RUSSIA
KISS – DESTROYER
AC/DC - LET THERE BE ROCK
NAPALM DEATH - SCUM

http://www.myspace.com/ratos
http://www.ratosdeporao.com

Fonte: Som Extremo


domingo, 29 de maio de 2011

Get Thrashed: The Story Of Thrash Metal

"Everyone had a good time... Even if they were bleeding"

Nos últimos anos tem sido produzida uma safra de documentários sobre o gênero musical Heavy Metal que prima pela qualidade e notável paixão dos envolvidos, como os mundialmente prestigiados "Metal - A Headbanger's Journey" (2005) e "Global Metal" (2008), ambos criados e dirigidos por Sam Dunn, que é antropólogo e fã do gênero musical. Aqui no Brasil está sendo produzido o "Brasil Heavy Metal", com previsão de lançamento ainda este ano, que conta a história do surgimento e desenvolvimento do estilo no país.

Este "Get Thrashed: The Story Of Thrash Metal" (2006) é outro documentário que se encaixa perfeitamente na descrição do início do texto, sendo considerado um dos melhores registros já realizados em vídeo sobre a cena Metal, mais precisamente acerca do subgênero "Thrash" (bater, sovar, açoitar... em inglês). Ao assistir, percebe-se claramente que foi feito por quem entende, gosta e está inserido na cena, porém, com profissionalismo, devido ao cuidado com que foi feito, ao alto nível de detalhes, acesso às bandas que criaram o estilo, ao tom de admiração, e ao grande acervo de imagens de shows com as bandas clássicas nos anos 80, o que vai agradar em cheio aos apreciadores do estilo. Para quem viveu a época do surgimento - início dos anos 80 - ou até mesmo a quem acompanha desde on anos 90, o sentimento de saudosismo é imediato; e aos mais novos serve para entender melhor este estilo que veio para "levar o Heavy Metal para o próximo nível" em termos de "agressão".

Get Thrashed - que foi co-criado e dirigido por Rick Ernst, que trabalhou no programa Headbangers Ball, da MTV americana; e teve como produtor associado Rat Skates (ex-baterista da banda Overkill) - mostra o surgimento do Thrash, com maior intensidade em San Francisco (EUA), no início dos anos 80. Há destaque ao Metallica, Exodus, Anthrax, Megadeth e Slayer, já que são pioneiros e alcançaram expressiva popularidade. São esclarecidos o desenvolvimento da cena desde o underground até a conquista de arenas e estádios lotados pelo mundo; a fase de declínio nos anos 90 e a nova ascenção com bandas recentes influenciadas pelos primórdios do estilo, como também as bandas clássicas retomando seu lugar e mostrando de uma vez por todas que, ao contrário do que muitos falaram nos anos 90, o Thrash continua forte, influenciador e com milhares de fãs mundo afora. Tanto que as principais bandas, que moldaram o subgênero, continuam na ativa, lançando ótimos álbuns e gozando de fama na comunidade Heavy Metal.

O documentário também aborda particularidades da cena oitentista do Thrash nos EUA, como os poucos clubes que abriam suas portas para os shows; gravadoras que lançaram os primeiros vinis do estilo - Metal Blade e Megaforce -; a rivalidade com a cena Hardcore até a união a partir do Crossover; o repúdio à cena Hard Rock Glam ("poser") de Los Angeles; a caracterização/visual das bandas e apreciadores; o sentimento de irmandade que havia naqueles tempos entre bandas e público; as características das cenas de San Francisco e New York; histórias interessantes dos anos 80 sobre pessoas envolvidas e muito mais. Tudo isso a partir de depoimentos de Lars Ulrich e Kirk Hammett (Metallica), Dave Mustaine e Dave Ellefson (Megadeth), Scott Ian e Frank Bello (Anthrax), Tom Araya e Kerry King (Slayer), Gene Hoglan (Dark Angel), Chuck Billy e Eric Peterson (Testament), Gary Holt (Exodus), John Connelly e Dan Lilker (Nuclear Assault), Katon DePena (Hirax), Bobby Blitz (Overkill) entre outros; de integrantes de bandas novas, como também de produtores, donos de gravadora, promotores de eventos, radialistas, jornalistas etc.

Get Thrashed não se limita aos EUA e leva o telespectador a diversas partes do mundo, mostrando como e onde o estilo se disseminou com mais intensidade. Na Europa, a Alemanha se destaca como sendo a outra grande cena embrionária do Thrash, com bandas como Kreator, Destruction, Sodom e Tankard. Nessa parte vemos as diferenças entre a sonoridade americana e a alemã, contando outra vez com entrevistas de membros das bandas citadas, permeadas por cenas de shows. Também se faz presente a cena do Canadá, com bandas como Voivod, Sacrifice e Razor. O Brasil não foi esquecido, com entrevista com o Sepultura.

O filme foi extremamente bem sucedido, participando de mais de 20 festivais de cinema nos EUA, Alemanha, Grécia e Londres. Recebeu vários prêmios, como "Melhor Documentário", "Melhor Trilha Sonora" e "Melhor Diretor".

O documentário tem 100 minutos e se encontra facilmente para download com legendas em português. Quem quiser mais qualidade de imagem e mais conteúdo, pode adquirir o DVD importado, que possui extras, chegando assim a 193 min.

Apesar de estar me repetindo - é a empolgação que faz isso - Get Thrashed: The Story Of Thrash Metal é altamente recomendável para quem gosta de Metal e principalmente Thrash. O único porém é a inclusão de uma entrevista com um integrante do Slipknot, na qual ele fala como se tivesse feito parte do nascimento do estilo. Primeiro, ele não fez parte e nem tem idade para isso; e segundo, a sua banda não é Thrash. É algo que não faz sentido! Essa para mim é a única falha. De qualquer forma, esse "incidente" não tira o brilho da produção. Então, é só colocar o vídeo para rolar, de preferência com muita cerveja!

por Andson Andrade

sábado, 28 de maio de 2011

Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê ...

Pessoas, na próxima sexta a Aperipê FM estará transmitindo, ao vivo, o Fórum de Forró, então não haverá programa de rock. Dia 10 estarei em São Paulo, portanto também não farei o programa ao vivo (Marcelo Larrosa, sinta-se desde já convidado a ocupar o posto. Sugiro convocar Rosi para auxiliá-lo). A partir do dia 17 começam as transmissões ao vivo do Forrócaju, portanto, ao que tudo indica, só nos encontraremos novamente nas ondas do radio no dia 01 de julho.

Sem desespero, por favor ! Enxugar as lágrimas e bola pra frente ...

Até lá.

A.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

# 189 - 27/05/2011

O programa de rock de hoje abrirá saudando a mais do que breve (e inesperada) reunião no palco dos membros restantes do Pink Floyd, David Gilmour, Roger Waters e Nick Mason, numa apresentação de Waters do início deste mês. Tocaram juntos "Confortably numb", do The Wall. Leia abaixo as impressões de Mason sobre o encontro, em postagem sacada da revista Rolling Stone Brasil.

Teremos também novidades: uma nova de "vol. 3", a sensacional volta do Mopho, seminal banda baladeira/psicodélica de Alagoas, mais The Horrors e Moby, que acaba de lançar um disco intensamente "atmosférico" e "climático". No Drop Loaded, Macaco Bong Ao Vivo. Depois, psicodelismo "made in" Macapá, Amapá, e Aracaju, Sergipe. Atenderemos a um pedido de ouvinte via Facebook e teremos mais um bloco do ouvinte, com novidades da cena "indie" compiladas por Dillner Bansky. Depois de relembrarmos o primeiro disco do DeFalla (que foi tocado na íntegra ontem, em Porto Alegre), encerraremos o programa com a trilha sonora do apocalipse: Slayer, em faixas (relativamente) raras e/ou que não constam de seus discos de estudio: "The Antichrist" num ensaio na casa de Tom Araya, "Criminally Insane" remixada, um "outtake" de "piece by piece", um medley do Exploited e covers do Suicidal Tendencies e do GBH - musicas que não estão no disco de covers de bandas punk/HC deles, "undisputed attitude".

Até mais, às 20:00H, na frequencia 104,9 FM em Aracaju e região.

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Quando o baterista do Pink Floyd, Nick Mason, chegou à O2 Arena, em Londres, na semana passada, não fazia ideia que estava entrando em uma performance de David Gilmour e Roger Waters de "Comfortably Numb", em uma passagem de som para o show de Rogers daquela noite. "Nunca havia sido finalizado direito - tinha sido discutido de talvez tocarmos em Paris, ou algum outro lugar", Mason disse à Rolling Stone EUA. "Então, foi muito bom chegar e ver que [David] estava lá."

Mais tarde, os três membros remanescentes do Pink Floyd se apresentaram juntos no palco (leia aqui) pela segunda vez nos últimos 30 anos e pela primeira desde o show no Live 8, em 2005. "Foi muito bom meio que fazer parte disso e mostrar apoio a Roger. Não que ele realmente precise", Mason diz sobre o show de quinta à noite, durante o qual os três tocaram "Outside the Wall". "Eu acho que é bom ter Roger querendo registrar David e eu como parte disso, de certa forma. Foi meio que uma coisa mútua: foi bom ser reconhecido. Mas também foi muito bom poder apoiar Roger e deixar claro que não o criticamos por ele fazer isso."

Após a passagem de som, os três se sentaram à mesa, no backstage, e comeram um jantar leve. "Estávamos todos um pouco nervosos, porque era um momento pré-show, então não era [uma ocasião] relaxada, 'vamos todos bater papo sobre tudo'. Já que [David] não tocava a faixa tinha muito tempo, ele provavelmente estava preocupado com a tecnologia que o ergue até o topo do muro. É bem assustador lá em cima - já subi uma vez e é uma trajetória longa parede acima."

Em seguida, Mason se recolheu ao seu assento na arena, onde os fãs o cumprimentaram empolgados, e assistiu a The Wall pela primeira vez como espectador. "Foi incrivelmente bom", diz ele. "É uma pena, de certa forma se você pudesse voltar no tempo e ter acesso a esse tipo de tecnologia há 40, 30 anos, teria sido fantástico. Quer dizer, é interessante, porque acho que The Wall foi atualizado. Quando você olha para o cenário do palco e a luz que existe agora, isso dá uma apagada no que costumávamos fazer."

A performance de Gilmour em "Comfortably Numb" aconteceu de forma magnífica. Então, ao fim do show, Waters convidou Gilmour (desta vez com um bandolim) e Mason (com um tamborim) para "Outside the Wall", que tinham pedido que ele tocasse meia hora antes do show. No palco, Waters abraçou Mason e dançou com ele de um lado para o outro. "Ele quase me derrubou", Mason diz. "Achei que ele fosse me jogar para fora do palco."

E foi falada mais alguma coisa no backstage, depois do show? "Você quer dizer, além de 'foda-se você, te odeio'? 'Eu nunca mais quero te ver'? Não."

A notícia da reunião se espalhou como um incêndio online, o que deixa Mason perplexo. "Incrivelmente, são só três caras velhos se juntando por um momento, realmente estranho. Mas, se é disso que as pessoas gostam, então, isso é ótimo." Naturalmente, isso reacendeu a esperança de uma reunião. Gilmour é o único que não aceitou fazer uma reunião com os membros vivos da banda. Mason e Waters disseram que estão dispostos a realizar mais atividades com a banda, após terem se reencontrado para o Live 8, em 2005. "Eu acho que, especialmente neste momento, David tem outros problemas com os quais se preocupar", diz Mason. "Mas, também, as pessoas mudam de quando estão interessadas em fazer algo para quando não estão. Eu acho que vamos ter que esperar quietos e ver se Dave vai, um dia, mudar de ideia. Acredito que haja uma possibilidade, mesmo que seja um outro Live 8."

Não espere, contudo, que o baterista suba mais vezes ao palco durante a passagem de The Wall pela O2 Arena. "Foi uma coisa muito legal de se fazer, mas poderia se tornar um pouco clichê se a gente continuar escalando até o topo daquela parede e se abraçando no palco. Quer dizer, já foi suficiente. Somos ingleses, afinal de contas. A gente não faz muito essa coisa de ficar se abraçando."

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pintocore - Entrevista com a banda paulistana de Hard Core feminino Infect publicada em dezembro de 2008 lá do outro lado do mundo — sim, na revista japonesa Doll. As perguntas foram respondidas pela vocalista Indayara Moyano e pela baterista Estela Homem.

Apesar de a banda ter acabado em 2003, ela continuou tendo muitos admiradores no mundo todo, até por isso o Kenji (o então editor da revista, que infelizmente também fechou as portas depois de quase três décadas em atividade) escreveu ao blogueiro chiveta perguntando se elas estariam dispostas a uma entrevista. Nela, foi dado uma geral na carreira da banda, inclusive falando do pintocore, termo que elas usavam para definir o som!

Entrevista: Indayara Moyano e Estela Homem (Infect)

por Ricardo Tibiu

publicada originalmente (em japonês) na Doll Magazine Nº257 em Dezembro de 2008
Em inglês e português no zine da Karasu Killer Records.

Infectando o mundo!
Algumas bandas mantêm-se em atividade por longos anos e, às vezes, mesmo assim são pouco lembradas. Mas o contrário também acontece, as meninas do Infect, banda oriunda de São Paulo, é um destes casos. Formada em 1998, depois de alguns lançamentos e apenas cinco anos na estrada, em 2003 elas decidiram colocar um ponto final na banda. Apesar disso, o número de admiradores dentro e fora do Brasil não parou de crescer e o recente lançamento do CD Discography (2008), pela 625, ajudou a banda a continuar a infectar o mundo. Conversamos com as fundadoras, a ex-vocalista Indayara Moyano e a ex-baterista Estela Homem, que nos contaram um pouco sobre a história da banda.

O que levou vocês a formarem o Infect e quais eram as principais influências?
Indayara:
Eu já era amiga da Estela, que na época tocava com o Dominatrix, ela passou um tempo na Inglaterra estudando e nos correspondíamos sempre, assim que ela voltou pensamos em montar uma banda, pela falta de bandas femininas na época e também para conseguir expressar nossos pensamentos. E assim a Tatiana, a Bianca e a Juliana também compartilhavam da mesma vontade e idéia. O legal do Infect é que cada uma tem uma influência. Eu posso dizer sobre as minhas, que sempre foram os punks: Olho Seco, Cólera, Lärm, Spitboy, Heresy, Vice Squad, Detestation, Bikini Kill, Ulster, Grinders, Mercenárias, entre outras.
Estela: Nós queríamos ter uma banda de hardcore rápido e gritado. Na época, as bandas de meninas eram todas “leves” – eu costumava chamá-las de “lalalás” – e as meninas simplesmente não tocavam outro tipo de som. Claro que tinha o lado político, a vontade de reclamar, mas a maneira que a gente soava importava muito também. Nossa influências eram: hardcore americano anos 80 (Circle Jerks, SSD, 7 Seconds, Minor Threat etc), bandas do hardcore europeu como Heresy, Lärm, Seein’ Red etc. Punk Rock genérico como Ramones e Clash e muitas outras coisas. Ouvíamos muitos sons variados, bandas antigas e novas. Sempre!

Antes do Infect vocês tocavam em outras bandas?
Indayara:
Eu era vocalista do Menstruação Anárquica quando tinha 15 anos, depois tive outra banda que se chamava Anti S com o pessoal do ABC, minha cidade.
Estela: Eu toquei no Dominatrix, no Butchers’ Orchestra e em outras que não tiveram tanta expressão como essas. A Indayara cantou no Menstruação Anárquica, a Tatiana tocava com o TPM, e depois do Infect teve um milhão de bandas, como: No Violence, I Shot Cyrus, As Mercedes etc. A Bianca e a Juliana nunca tinham tido bandas, mas ambas tocam até hoje.

Vocês costumavam usar o termo “pintocore” pra denominar o som de vocês. Qual seria a melhor definição para a música do Infect?
Indayara:
Essa história do pintocore era uma brincadeira com algumas bandas separatistas da época. O que rolava era espontâneo na minha opinião, vomitar aquilo que não nos agradava, mostrar através das músicas o que queríamos que mudasse.
Estela: Essa mesma! (risos). Como eu coloquei no nosso MySpace: “Angry (punk) Women on a Bad Day”.

O Infect dividiu o palco com várias bandas, além de splits, quais vocês poderiam destacar?
Indayara:
Eu gostei de tocar com o Riistetyt, Ratos de Porão, com o Ariel, do Restos de Nada, com o Cólera e o Discarga que amo até hoje. Foi uma época muito bacana.
Estela: Posso falar por mim, sabe? Eu gostei muito de ter tocado/conhecido o pessoal do What Happens Next?, Catharsis, MDC, Força Macabra e daqui, foi legal tocar com todo mundo. Agora, é claro que existe um “peso”, uma honra, um prazer de ter dividido o palco com os clássicos do punk rock brasileiro mais tradicional, se é que eu posso colocar dessa forma: Ratos de Porão, Cólera, Condutores de Cadáver, Restos de Nada, Invasores de Cérebros etc. Tocamos em diversos festivais punks que eram demais, eu adorava! E tocar com os amigos também era bom. Sempre gostei de fazer show com o Discarga.

Qual o balanço que vocês fazem destes cincos anos em atividade?
Indayara:
O punk é muito forte e sempre vai ser, o hardcore apesar de um pouco elitista também tem se mostrado diferente nos últimos tempos. Eu sou de uma época em que punk era diferente de hardcore para a maioria das pessoas do meio. Eu sempre acreditei que as coisas andam juntas. O punk é o pai do hardcore e, na minha cabeça, não existe separação. Fico feliz de ter feito parte da história.
Estela: Nossa! Foram anos excelentes! Viajamos, lançamos registros — entre EPs, CDs, 7″, 12″, fitas demo –, conhecemos muitas pessoas, tivemos a oportunidade de fazer coisas, de estar em lugares que talvez, sem a banda, nunca tivéssemos feito, visitado, conhecido.

Contem para os japoneses quais foram e são os projetos que vocês tiveram ou têm depois que o Infect acabou.
Indayara:
Eu cantei algumas músicas com o Merda, dei uns gritinhos com Os Pedrero, fiz participação no vinil do Mukeka di Rato com o Vivisick, mas não rolou, depois do Infect não tive coragem de encarar nenhum projeto. Passei a produzir shows e vídeos, sempre penso em voltar, quem sabe daqui alguns anos. Fiz uma participação como atriz/berros no Encarnação do Demônio, o novo filme do Zé do Caixão. O filme é uma mistura gore interessante. Assistam aí!
Estela: Eu estou sem banda, toco com os amigos só por diversão. A Tatiana teve as Mercedes e está sempre com um monte de bandas, nem sei. A Juliana teve/tem o War Inside e ainda tem bandas, mas não sei os nomes. A Bianca toca no Arma Laranja e ouvi dizer que pretende começar um projeto novo. A Indayara não está em banda, mas ela produz muitos shows.

As letras do Infect falavam sobre desigualdade social e continham críticas políticas, assim como ao machismo, à homofobia e até mesmo a algumas atitudes dentro do próprio hardcore. Vocês acham que elas continuam atuais?
Indayara:
Como falei antes, acho que mudou bastante, mas ainda temos algumas raízes preconceituosas dentro de qualquer cena. Acho que estes temas vão ser sempre atuais, as coisas não mudam completamente, o que acontece, na minha opinião, é que quando você joga uma idéia você faz com que as pessoas reflitam e com isso caminhem para uma mudança. Muita coisa ainda tem que mudar, eu acredito que estamos no caminho.
Estela: Acredito que sim. Uma ou outra talvez não faça mais tanto sentido pra nós, porque mudamos, estamos mais velhas e nossos conceitos mudam de acordo com as informações que recebemos. Acho que todo mundo tem um quebra-cabeça pra montar na vida e conforme os anos passam, vamos ganhando mais e mais pecinhas. Acho que existem letras que já não nos tocam tanto, mas com certeza fazem sentido para outra pessoa. Cada um tem um caminho pra trilhar e o que é bom pra você talvez não seja mais bom pra mim e vice-versa.

Apesar de o Brasil ter, proporcionalmente, poucas bandas femininas, algumas, como Mercenárias, Dominatrix, TPM, Infect e Bulimia, persistiram e conseguiram se destacar, conquistando um público fiel e deixando seus nomes na história do punk/underground brasileiro. Quais são as principais dificuldades de uma banda feminina num país machista como o Brasil?
Indayara:
Acho que é o machismo mesmo, os caras olham um bando de garotas querendo tocar e não conseguem dar destaque à verdadeira intenção. Já sofremos com alguns ataques até físicos (risos). A sorte é que a banda já estava preparada para esse tipo de situação e isso nunca abalou nossa intenção que era tocar e dizer “foda-se” mesmo para aquele bando de caras babacas que não entendiam nada sobre atitude punk e se bancavam hardcoreanos.
Estela: Todas que você possa imaginar! A falta de respeito e dúvida vem desde o vendedor na loja de instrumentos musicais até o cara do som do clube, que não te ouve e não faz o que você pede. Tivemos diversos momentos tensos na nossa existência. Já enfrentamos platéias hostis que se sentiam, de alguma forma, ofendidas pelo fato de sermos mulheres, mas claro que encontramos platéias maravilhosas em lugares inusitados também.

A 625 Thrash lançou recentemente um CD com a discografia de vocês, já deu tempo de rolar alguma resposta com relação a isso?
Indayara:
Tem rolado sim, muita gente comentando, inclusive no Japão a Revista Doll!
Estela: Sim! Sim! As pessoas nunca pararam de me escrever. Aliás, tem gente ao redor do mundo que pensa que a banda está na ativa ainda, mesmo eu tendo colocado na capa da discografia “Infect RIP 1998-2003”, as pessoas não se convencem! Desde antes do disco sair as pessoas comentam sobre ele. Teve gente que comprou pela Ebullition e me escreveu pra contar, mas na verdade eles acabaram me dando a notícia do lançamento do disco, porque conseguiram o disco antes de mim! (risos).

O Kenji, da Doll, me disse que no Japão há muita gente que ainda gosta do Infect. A quê, vocês acham, que se deve isso?
Estela:
Não tenho ideia! Não é só por lá. Tem muito americano que me escreve e isso é super pitoresco porque cantávamos em português e os americanos, costumava-se pensar, “só” gostam de bandas que cantam em inglês! Muita gente da Indonésia, da Malásia, da Ásia em geral, curte a banda. Isso é muito legal e muito inusitado também. Porque eles gostam… não sei!
Indayara: Também não sei, sei que quando o Vivisick veio até o Brasil fotografei a tour e fiquei feliz quando o Yuki me disse que conhecia o Infect, foi uma emoção! O Vivisick é uma banda muito foda, os caras são uns amores e adorei conhecê-los. Tenho uma admiração e respeito pela cultura japonesa que vem desde sempre. Não sei explicar, gosto muito da criatividade e do jeito extremo dos japoneses , tudo o que eles fazem é perfeito. Hardcore japonês então é inacreditável.

E o quê vocês conhecem lá do Japão?
Indayara:
Eu conheço os caras do Vivisick! Aproveito para deixar um abraço a estes queridos amigos. Curto também psycho japonês, tipo The Saddle Kick, Spiderz, Cracks, as famosas 5678´s, as histórias de samurais, as gueixas, o mundo maravilhoso e extremo da Yakuza. Bom, eu amo o colorido da comida, a perfeição dos detalhes, tudo é bem delicado e feliz. O Japão me parece um lugar familiar. Aaaaaaah, sem esquecer que o melhor filme gore que assisti, sem dúvida foi o Tetsuo: The Iron Man, obrigada Tsukamoto Shinya, você é hardcore! (risos).
Estela: Conheço mais sobre o Japão que sobre outros países asiáticos. Quando eu era pequena eu estudava numa “escola japonesa”, a maior parte das crianças era formada por filhos da imensa colônia japonesa de São Paulo. Eu acredito que eu tenha muito dos hábitos da colônia devido a isso. Fiquei nessa escola de um a seis anos de idade. Tenho muitos amigos descendentes. Frequento a Liberdade, um bairro tradicional da colônia japonesa em São Paulo. Como comida japonesa no mínimo uma vez por semana, mas não os peixes porque sou vegetariana há 13 anos. Gosto dos filmes, da cultura, enfim, acho que conheço um pouquinho.

Pra encerrar, agradeço a atenção e peço que deixem uma mensagem pros japoneses que ainda curtem vocês!
Indayara:
Arigato, taihem tanoshikatta dessu
Ga suki dessujapan
Issohoni eigani iki mashoo ka – Encarnação do Demônio!
Poxa, valeu por ouvirem o Infect, sou fã de toda a loucura extrema que rola por aí! Beijos!
Estela: Obrigada por gostarem da gente! Fico muito feliz em saber, me sinto honrada! Beijos à todos!

Contato:
www.myspace.com/infectspbrazil

Pink floyd (Ao vivo) – What do you want from me
Roger Waters (Ao Vivo) – Perfect Sense (parts I & II)
David Gilmour (Live in Gdansk) – Fat Old Sun

Mopho – quanto vale um pensamento seu
The Horrors – still life
Moby – Stella Maris

Macaco Bong – noise James (Ao vivo no Sala Especial Loaded)
+ entrevista
(Drop Loaded)

Mini Box Lunar – A Boca
Plástico Lunar – Você vê o sol se por

Infect – Pintocore
L7 – Wargasm

Broken Bells – Meyrin Fields
Battles – ice cream
PJ Harvey – The glorious land
Rome feat. Jack White – Two against one
Rome feat. Norah Jones – Black
(por Dillner “Banksy”)

Defalla – Ferida

Slayer:
# The Antichrist (Rehearsal in Tom Araya´s garage)
# Criminally Insane (remix)
# Piece by piece (outtake)
# Disorder (with Ice T.) (The Exploited medley)
# Memories of tomorrow (Suicidal Tendencies cover)
# Sick Boy (GBH cover)

papaparty

Não me mande flores, pare de bater no interfone/ Não preciso do seu amor/ Pare de me torturar, não ouse me ligar/ Não preciso do seu amor/ Eu não amo você/ Só amo você/ Eu não amo você/ Eu não amo”...

Não Me Mande Flores é até hoje uma das únicas canções de não-amor a tocar no rádio, e também um dos poucos sucessos dos gaúchos do DeFalla. Formada em 1985 por Edu Kc/ 16 anosno vocal e guitarra, Carlo Pianta no baixo e a pioneira Biba Meira na bateria, a melhor anti-banda do Brasil estreou em disco na coletânea Rock Grande do Sul. Em 87, sem Pianta, substituído por Flávio Santos, o Flu, e c/ Castor Daudt na guitarra solo, lançam o primeiro álbum pelo selo Plug, PAPAPARTY, produzido por Renato ‘Barriga’ Brito no estúdio da RCA em São Paulo.

“Era o estúdio onde os Mutantes também tinham gravado”, lembra Edu. “O Barriga vinha dos anos 70, era um doidão que encontrou quatro doidões como ele dispostos a experimentar. Ficamos um mês lá criando, viajando, colocando microfone no banheiro, fazendo samplers, colagens... Melô do Rust James foi composta no estúdio.” As 15 faixas do LP misturavam pós-punk, rap e funk em sons como Alguma Coisa, Idéias Primais e Sodomia – algo que só se veria nos anos 90 por aqui. A intro de Candy, do disco Brick by Brick de Iggy Pop, lançado 3 anos depois, é bem parecida c/ a de Sobre Amanhã.

“Pra nós era natural”, diz. “Não pensávamos estar fazendo algo que ninguém fazia.” Em 88, c/ a mesma formação e pelo mesmo selo, lançam o 2º trabalho, DEFALLA, c/ clássicos como Chinatown e Repelente. É o último disco de estúdio de Biba. C/ a saída dela, Castor assume as baquetas e Marcelo Truda o substitui na guitarra em SCREW YOU, de 89, lançado pela Devil Discos no período em que passaram da psicodelia p/ o hard glam de terceiro mundo. Em 90 sai WE GIVE A SHIT pela Cogumelo Records, a mesma que revelou Sepultura. Fase mais pesada, c/ direito a tattoos, cabelos grandes e cicatrizes.

KINGZOBULLSHIT BACKINFULLEFFECT92 é o auge da experimentação, misturando rock, samba e samplers em sons como Caminha (que Aqui É de Osasco), que vai do hip-hop ao thrash metal, e reinventando sucessos como Sossego de Tim Maia e Satisfaction dos Rolling Stones. A ordem das faixas era diferente do vinil p/ o CD, assim como a mixagem de muitas delas, além de bônus como a eletrônica Freeze... Now Move. Mais um pela Cogumelo, esse disco levou-os a abrir p/ Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers no Hollywood Rock 93, já c/ o guitarrista Marcelo Fornazzier.

Na virada do século estouram nas paradas c/ o hit Popozuda Rock’n’Roll do álbum MIAMI ROCK 2000, surfando a onda do funk carioca graças ao refrão-chiclete: “Vai popozuda/ Requebra legal/ Vai popozuda/ Libera geral”... Sem Flu nem Castor, Edu adota o visual turista no Havaí, apresentando-se em diversos programas de TV apenas de chinelo, bermuda e camisa florida. “Popozuda é completamente AC/DC, se você tirar a batida. Talvez um dia as pessoas entendam que o Miami era um disco de rock.”

Em 2002 nova guinada, c/ roupas de couro estilo sadomasô, sintetizadores flertando c/ big beat e gatas na formação – a batera Paula Nozzari e a guitarrista Syang, ex-P.U.S. – no disco SUPERSTAR. Edu K aposta forte no pastiche. A partir de SODA POP, de 2003, adota o visual proto-emo das bandas de hardcore melódico da Califórnia. Quase emplaca mais um hit, Amanda, piada c/ as músicas de roquinho romântico que vieram depois de Anna Júlia do Los Hermanos.

Influência p/ artistas como Chico Science & Nação Zumbi, Planet Hemp, Pato Fu e Pavilhão 9, o DeFalla passou por altos e baixos, mais baixos do que altos, mas nunca acabou. Depois de incontáveis integrantes – tipo Peu, ex-guitarrista de Pitty, e Rafael Crespo, ex-Planet – o grupo se reuniu ontem no clube Beco 203, em Porto Alegre, em sua formação mais clássica: Edu, Castor, Flu e Biba Meira. Em duas apresentações especialíssimas [às 23h e à 1h30], tocaram exclusivamente as 15 músicas do disco de estréia, que completa 25 anos em 2012.

O set list foi: Ferida - O que É Isso - Sodomia - Papaparty - Grampo - Não Me Mande Flores - Idéias Primais - Sobre Amanhã - Alguma Coisa - Melô do Rust James - Jo Jo - I’m an Universe - Tinha um Guarda na Porta - Trash Man - Gandaia. Edu K comemora. “Tem rolado algo soul-funk pesadão, tipo Sly & The Family Stone”. E aí, vai rolar uma tour? “Não sei se seria por aí, mas tocar essas canções outra vez com eles está sendo demais, mágico, exatamente como era antes. A diferença é que não tenho mais 17 anos.”

por Adolfo Sá
vlb

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Paul McCartney no Rio de Janeiro

Paul McCartney – 23 de Maio de 2011 - Estádio do Engenhão – Rio de Janeiro/RJ

Existem perguntas que sempre nos fazemos, do tipo: Quando vou ganhar na megasena? Quando vou parar de fumar? Quando vamos nos casar? Quando veremos um Beatle? Paul McCartney respondeu esta última para muitos dos seus fãs com menos 21 anos do Rio de Janeiro e que ainda não tinham visto um Beatle ao vivo.

Texto e fotos (exceto a primeira) por Michael Meneses – paraybarecords@hotmail.com

Paul McCartney não fazia apresentações no Rio deste os históricos shows no Maracanã em 1990 que o colocaram no Guinness Book pelas 184 mil pessoas. Tal recorde hoje é impossível de ser batido já que a capacidade do Maracanã diminuiu com o passar dos anos, assim como uma série de mudanças em termos de segurança e conforto em eventos foram criadas no Brasil. Uma delas foram as Áreas Vip ou Pista Premium, uma forma de cobrar mais caro por um ingresso de pista. Um ultraje das pistas vip’s é que ela reduz parte da pista tradicional, com isso menos pessoas podem ir ao show. Prejuízo para a organização? Não, os ingressos vão ter o mesmo valor, tenha ou não mais pagantes.

O evento teve abertura do DJ holandês Afrojack que discotecou versões dos Beatles em variados ritmos, abrindo o set com uma versão da Rita Lee, inclusive. Depois disso teve versões dos Beatles de tudo quanto é estilo, mas faltou rolar um Beatallica. Às 21hs os telões começam a exibir fotos, vídeos, ingressos, cartazes, capas de discos, publicações, cartões postais... Tudo embalado por sons dos Beatles. Foram exatos 30 minutos de pura história do rock e da cultura pop em imagens que mostravam todas as fases do Paul e ainda outros ícones como Rolling Stones, Jim Morrison, Simon & Garfunkel, entre outros. Se apenas esse vídeo saísse em DVD, mesmo sem o show, valeria a compra na versão luxo dessa viagem histórica-psicodélica-cultural-rock-and-roll!

Dessa vez o show não teve seus 13 minutos de atraso, como na performance de domingo. Tudo começou na hora exata e com isso às 21:30 surgia no palco Paul McCartney e banda, e com eles a primeira supressa da noite com a mudança do set list. Todos acreditavam que o set seria o mesmo da noite anterior, a exemplo do que vinha acontecendo recentemente. O fato é que se a primeira apresentação já havia sido mágica, a noite já começava com diferencial ao incluir “Magical Mystery Tour” no lugar de “Hello, Goodbye” que foi a abertura do domingo. “Jet” é a segunda do set e em seguida, antes de All My Loving, Paul conversa com a plateia e avisa, “Esta noite falarei um pouco em português” e na medida do possível Paul foi papeando, brincando e distribuindo simpatia, bom humor e diversão aos 45 mil agraciados de mais uma noite de ingressos esgotados.

O show não pode parar e mais uma mudança no set: sai, “Letting Go” e entra “Coming Up”, que dá uma boa animada no publico. Particularmente não tenho como comparar qual o melhor show entre o de domingo e o de segunda, já que não fui ao show de domingo. Só assisti pela internet e a transmissão no meu PC era tão tosca que tinha horas que parecia um arquivo de Power Point com música. Porém, quem teve o privilegio de ver os dois escolheu a segunda apresentação, talvez pelo fato do Paul McCartney parecer mais a vontade no palco. Ele repetia toda hora: “Tudo bem, Todo Ótimo, tudo Demais. Valeu, Galera...” tudo com sotaque e até bateu no peito pra se assumir carioca.

Os músicos que acompanham Paul McCartney na “Up and Coming Tour” agradaram a todos. A banda é muito mais que meros acompanhantes de palco, cada um tem a sua importancia como mutli-instrumentistas e mandava ver. O batera Abe Laboriel, em especial, não deixou duvidas de que é um desses bons músicos que parece estar sempre tocando por prazer e nunca pela profissão apenas.

Macca anuncia “Here Today”, canção de sua autoria em homenagem ao amigo John Lennon. A música fez com que o estádio ouvisse mais que cantasse, talvez em respeito ao Lennon, fazendo deste o momento o mais silencioso por parte da plateia. Não que o estádio tenha se transformado em um velório, mas foi o momento mas reflexivo da noite. Porem...

Eu participava daquela “oração” pelo Lennon sentado, assim como várias outras pessoas a minha volta, quando de repente surge não se sabe de onde a voz de um vendedor: “Olha a cerveja gelada...” Com todo respeito, sei que o cara estava na batalha, mas anunciar cerveja em uma música em homenagem ao Lennon em meu ponto de vista é uma ABERRAÇÃO! Ao perder a atenção do show com a voz do vendedor, gritei: “PORRA DE CERVEJA!” Meu tom de desabafo, somado ao meu sotaque sergipano que voltou mais forte após a última passagem pelas terras de Sergipe Del Rey, fizeram salvar a música para os que estavam naquele pedaço de arquibancada do Setor Inferior Oeste. Todos riram alto e o clima foi recuperado!

No decorrer do espetáculo já tinha percebido que em alguns momentos um fato histórico na beatlemania, e apresentado como motivo pelo qual os Beatles pararam com os shows. Aos que não sabem os Beatles pararam com os shows, pois o público fazia tanto barulho que a banda não se ouvia. Cheguei a ter essa sensação em: “I´M Looking Through You”, “Black Bird”, e ”Eleanor Rigby”, mas foi em “Something”, que o Paul anunciou como um tributo ao George Harrison, que vivenciei melhor essa sensação de ouvir todo o estádio cantando mais alto que o Paul e banda. Isso foi fascinante, para mim o melhor momento da noite e posso dizer que essa sensação não se tem sempre!

Como “Something”, foi algo de outro mundo, coube a “Band On The Run” nós colocar de volta ao Engenhão Em seguida outra sequencia de Beatles com a animada, “Obla Di Obla Da”. Outros momentos mágicos foram “Paperback Writer” e “A Day In The Life” em seguida Paul volta ao piano para “Let It Be”.

Assistindo a transmissão do show de domingo brinquei no Twitter e Facebook que na hora de Live And Let Die muitos fãs do Guns ‘n’ Roses estavam descobrindo que aquela música não era do Guns! (@paraybarecords : São 23:38 e muitos fãs do #Guns and Roses tomaram conhecimento que Live and Let Die não é 1 música deles e sim do #Paul McCartney #PaulinRio). Mas depois de ter visto o Axl e CIA tocarem aquela música em três shows eu também descobri que aquela música não era do Guns, pois sob a batuta do seu criador Live And Let Die tem muito mais energia, peso e pirotecnia do que a versão do Guns, que também é legal, mas sem a mesma magia, então se “Something”, foi Alguma Coisa do outro mundo, “Live And Let Die” foi o momento mais energético.

“Hey Jude” fecha o set, e como na noite anterior centenas de fãs na pista vip exibiram cartazes escrito "Na Na Na Na's", atitude que emocionou o próprio Paul McCartney, que escreveu uma nota e distribuída à impressa:

“Estar no Rio foi fantástico desde o minuto em que aterrissamos. A multidão diante do hotel esta ensandecida! Eles estavam muito ansiosos e o clima foi crescendo até a hora do os shows. Eu amo o Brasil. Eu amo o fato deles amarem música, é uma nação muito musical. E se eu amo música e eles amam música, então é uma conexão natural. Fãs de todas as idades estavam nos shows. Tinha um enorme grupo de fãs jovens, o que eu adoro, e também seus pais e até avós. O entusiasmo pela minha música foi algo sensacional. Todos nós da banda curtimos esse momento maravilhoso e nós agradecemos aos fãs por tornarem tudo tão empolgante.

Quando tocamos "Hey Jude" e pedi a plateia para cantar "na na na na's", de repente todos mostraram cartazes. Foi muito emocionante porque os fãs tiveram todo este trabalho. Eles poderiam ter apenas vindo ao show e assistido, mas eles se falaram antes para criar este momento tão especial. Ele se conectaram uns com os outros, depois conectaram-se conosco e com a equipe inteira. Todos se sentiram unidos. Foi muito incrível e emocionante ver que as pessoas se importam tanto.”

Depois de uma rápida pausa, “Day Tripper” da início ao primeiro bis, e seguido por “Lady Madonna”. Antes de dar continuidade com “I Saw Her Standing There”, porém, quatro fãs subiram ao palco e receberam autógrafos e abraços do Paul McCartney.

O segundo bis abriu com Paul tocando “Yesterday”, e fechou com chave de ouro com o Heavy-Metal-beatle “Helter Skelter”, e por fim “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e “The End”. Em seguida uma chuva de papéis verde e amarelo picados foi jogada no povo e a brisa local se encarregou de levar esses papeis para fora do estádio (catei uns pra mim na porta do Engenhão ao lado da estatua do Garrincha).

Já com a banda nos camarins, Macca ainda andava pelo palco se despedindo de uma plateia extasiada. Mas pior do que o “tudo o que é bom dura pouco”, e o “tudo o que é ótimo dura menos ainda”: os 30 minutos do vídeo inicial somados as 2h35 minutos de shows “acabaram”. Acabaram “entre aspas”, pois duvido que os momentos vividos no Engenhão nos dias 22 e 23 de Maio de 2011 não ficaram perpetuados na memoria das 90 mil pessoas que estiveram naqueles shows, a exemplo daqueles que estiveram no Maracanã em 1990 ou em algum momento da Beatlemania, afinal essas ocasiões rendem histórias para a vida toda!

Michael Meneses: É a soma de um pai paraibano de João Pessoa com uma mãe sergipana de Itabaiana. Ele é o cara do Selo Parayba Records! Torcedor do Campo Grande A.C no RJ, Itabaiana/SE no Brasil e Flamengo no Universo. É fotografo e jornalista, tem fotos e textos publicados em varias revistas, sites e jornais, além de ter um orgulho da PORRA em colaborar sempre que pode com o PROGRAMA DE ROCK da Rádio Aperipê FM!

SET LIST PAUL MCCARTNEY - Rio de Janeiro - 23 de maio 2011
Magical Mystery Tour
Jet
All My Loving
Coming Up
Got To Get You Into My Life
Sing The Changes
Let Me Roll It/Foxy Lady
Long And Winding Road
1985
Let Em In
I´M Looking Through You
And I Love Her
Black Bird
Here Today
Dance Tonight
Mrs Vandebilt
Eleanor Rigby
Something
Band On The Run
Obla Di Obla Da
Back In The Ussr
I Gotta Feeling
Paperback Writer
A Day In The Life
Let It Be
Live And Let Die
Hey Jude

Primeiro Bis:
Day Tripper
Lady Madonna
I Saw Her Standing There:

Segundo Bis:
Yesterday
Helter Skelter
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band/The End

SET LIST PAUL MCCARTNEY - Rio de Janeiro 22 de maio 2011

Hello, Goodbye
Jet
All My Loving
Letting Go
Drive My Car
Sing the Changes
Let Me Roll It/Foxy Lady
The Long and Winding Road
1985
Let ‘Em In
I’ve Just Seen a Face
And I Love Her
Blackbird
Here Today
Dance Tonight
Mrs Vandebilt
Eleanor Rigby
Something
Band on the Run
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Back in the U.S.S.R.
I’ve Got a Feeling
Paperback Writer
A Day In The Life/Give Peace A Chance
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude

Primeiro Bis:
Day Tripper
Lady Madonna
Get Back

Segundo Bis:
Yesterday
Helter Skelter
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band/The End




segunda-feira, 23 de maio de 2011

Estamos todos bem

A banda alagoana que despejou altas doses de psicodelia na música brasileira volta à cena em sua formação (quase) original.

| ELEXSANDRA MORONE - Editora de Cultura da Gazeta de Alagoas

Fonte: Gazeta de Alagoas

Havia um componente de drama, e a atmosfera era de conflito permanente. No palco, o Mopho liberava altas doses de música orgânica em ebulição contínua, uma combinação fatal para ouvidos aguçados e de certa inclinação hippie. Revestida do mais fino verniz pop, nas mãos daquele combo de guitarra, baixo, bateria e teclado a canção ganhava cor e volume, além de um fiel séquito de fãs. Com clássicos como Não Mande Flores e A Geladeira, a banda que surgiu como ‘a novidade psicodélica’ da virada do século teve tudo para dar seus giros pelo mundo, mas viu a década passar na paralela enquanto o pau quebrava nas internas.

Bombástico nas apresentações ao vivo, o grupo cuja formação original trazia o baterista Hélio Pisca, o tecladista Leonardo Luiz, o guitarrista João Paulo e o baixista Júnior Bocão tinha problemas, e a tensão desse relacionamento permeava os shows de um modo bastante particular. Mesmo após a saída de Leonardo – primeiro substituído por Marcelo Mascaro, depois por Daniel Meira, ambos nas cordas –, as arestas não pareciam ter sido aparadas. Nesse compasso o Mopho atravessaria os três anos seguintes ao lançamento de seu disco de estreia, preso à rota de colisão que culminaria na saída de Bocão e Pisca, em fins de 2003.

Eu prefiro as curvas...

Não é difícil encontrar artistas que, diante de um conflito pessoal, passam a trabalhar mais com o fígado do que com a razão. Compositores, escritores, artistas plásticos, poetas e dramaturgos, entre tantos outros, experimentam (com mais frequência do que se imagina) sentimentos pouco nobres como raiva, ressentimento e rancor em seu ofício. O filósofo romeno Cioran (1911-1995), por exemplo, afirmava só ter vontade de escrever se tomado pela mais pungente dor. Para ele, tratava-se de uma espécie de acerto de contas consigo mesmo, com os outros e com o seu tempo.
E se por um lado essa ‘opção’ é tida por simplista, por outro nos faz travar um contato necessário com regiões pouco iluminadas da alma humana. Há quem aprecie o trajeto mais acidentado. No mundo da música, então, são inúmeras as formações que vivem às turras. O grande desafio, ao que parece, é estabelecer um equilíbrio possível nas relações. Oxigenado e com um tecladista afinado com sua proposta musical, o Mopho recomeça agora seu caminhar. Caçula do grupo, Dinho Zampier, 30, fala com tranquilidade sobre o momento. “Convivo musicalmente com o João Paulo há uns sete anos. Sempre tocamos juntos, tanto com o Mopho quanto com outros projetos. Com o Pisca e o Bocão é maravilhoso também”, observa.

BATE-PRONTO

Perguntamos a Hélio Pisca e a Júnior Bocão quais seriam os três momentos mais marcantes da história da banda. Confira!
PISCA
“O lançamento do primeiro disco, a separação da banda (não lembro se em 2002 ou 2003) e o nosso reencontro (como Mopho) em 2008”.
BOCÃO
“Sem dúvida que participar de grandes eventos é muito marcante, Porão do Rock e Festival de Inverno de Garanhuns foram dois shows inesquecíveis. Mas os momentos mais marcantes na minha opinião foram os vividos no sítio do produtor Luiz Calanca, situado em São Roque, interior de São Paulo. Lá experimentamos um internato criativo muito interessante, ficamos quase um mês entre shows, entrevistas e muita criação. Por lá compus quase todas as canções do CD A Terra é Nossa Casa Flutuante, que lancei em 2004”.

Com belas canções, banda faz seu ‘grande retorno’ - Opinião

É melhor ser alegre que ser triste, escreveu o poeta Vinicius de Moraes, sem esquecer de avisar que “pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza”. No terceiro disco da carreira, o Mopho equilibra momentos de alegria com aquela melancolia necessária de cada dia, e o faz com verdade e competência. De volta à vibe do início, o trio (João Paulo, Hélio Pisca e Júnior Bocão) parece ter encontrado na figura de Dinho Zampier o ‘elo perdido’ na busca pelo entrosamento de outrora. E as participações especiais apenas deixam a bolachinha ainda mais azeitada.
Vol. 3 abre com Dani Rabiscou (Bocão), uma canção de violões pronunciados e alta vocação radiofônica. Diferente de tudo o que o Mopho da primeira formação fizera no disco de estreia, em 2000, a canção curiosamente remete à atmosfera musical de então, em boa medida devido ao arranjo de guitarra, preciso e cheio de vigor. Arejada, oxigena os caminhos para o tour de force sentimental que vem a seguir, Quanto Vale um Pensamento Seu, de João Paulo, Melina Pedrosa e Wado – que gravou vocais na faixa. “Estou ficando farto do amor/ Tudo acaba em lágrimas de sangue”, canta João Paulo ao dissecar dores de amores em meio ao diálogo viajandão encampado por baixo, bateria e teclados.
Singela, em As Marias (Bocão) há uma certa ingenuidade a indicar os caminhos, e todos os instrumentos trabalham de modo a acentuar esse ‘sentido’ – bem resolvida, a canção é perfeita para ouvir numa ensolarada manhã de sábado. De Hélio Pisca, Pessoas São de Vidro reflete os questionamentos filosófico-musicais do baterista. Impregnada de psicodelia, além de seu andamento peculiar, expande o traçado do som ao se desdobrar numa espécie de prólogo.
Imersa num clima de ‘saloon’, Prelúdio (Pisca/Bocão) tem nos arranjos de piano e clarinete (a cargo de Billy Magno) sua força-motriz; graciosa, fornece o ânimo necessário à entrada na segunda metade do álbum. Na sequência, o lamento de Você Sabe Muito Bem (João Paulo) invade os ouvidos com guitarrinhas cintilantes e arranjos vocais primorosos, qualidade que também pode ser destacada em Caleidoscópio, de Bocão. Com participação de Marco Túlio Souza no violão 12 cordas, a faixa evidencia o casamento perfeito entre os vocais de João Paulo e Bocão.
Parceria bem-humorada de Bocão e Paulinho Pessoa (ex-Xique Baratinho), A Malvada se beneficia igualmente dessa ‘união vocal’, destacando-se ainda mais com a contribuição de Dinho Zampier. Penúltima faixa do registro, Produto Ordinário Popular (Bocão) ironiza os tempos de ‘mais do mesmo’ e oferece os últimos momentos de maestria pop antes do mergulho progressivo que é O Infinito, assinada pelo trio Pisca, Bocão e João Paulo. Um grand finale, além de um grande retorno. Definitivamente, a química ainda funciona. |EM

SERVIÇO
O quê: show de lançamento de Vol. 3, terceiro disco do Mopho
Onde e quando: no Teatro Deodoro (pç. Deodoro, s/n, Centro), no dia 24 de maio, às 20h30
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) – plateia, frisas e camarotes; R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) – mezanino
Pontos de venda: Freaks (Maceió Shopping) e Cuscuzeria Café (Ponta Verde)
Informações: 9106-2665

SERVIÇO
Disco: Vol. 3
Banda: Mopho
Distribuição: Pisces Records
Preço: R$ 20, em média
Onde comprar: www.piscesrecords.com.br


# 188 - 20/05/2011

Semana passada fez um ano da morte de Ronnie James Dio, então nada mais justo que começar o programa de rock com uma das maiores (senão a maior) vozes do Heavy Metal de todos os tempos - mas sem cantar Heavy Metal. Fugindo do óbvio, como sempre, o pdrock trouxe Dio em um de seus primeiros projetos musicais, Ronnie Dio and the prophets, e com o Elf, a banda que projetou sua carreira, já que foi graças ao seu trabalho nela que ele foi convidado a integrar o Rainbow por Richie Blackmore.

No bloco de novidades, musica inedita e exclusiva do Trimorfia, promissora banda nova daqui mesmo, de Aracaju, e mais novas do Morbid Angel, do Sepultura, do Arctic Monkeys e do The Gathering. Thee Oh Sees foi uma dica de Maicon Stooge* editor do blog "Canço! I Hate rock and roll". Já o plastique noir, aqui com a segunda faixa de seu novo disco, é uma das favoritas da casa, ever. Depois de um bloquinho tocando coisas recentes "pero no mucho"(de 2008/2009) de três ícones do "guitar sound" (eu ouço os discos, e toco, não apenas baixo, ouço uma vez e esqueço), dois Blocos de ouvintes: o primeiro recheado de barulho e energia Hard Core produzido por Silvio Campos, da Karne Krua ( e da Maquina Blues, Logorreia, Words Guerrilla, Casca Grossa, Sublevação ...). O segundo foi feito por minha amiga Catarina Cristo**, pernambucana radicada em Sergipe que se inspirou no livro que está lendo, a auto-biografia de Patti Smith.

É isso. Até próxima sexta, na frequencia 104,9 FM, às 20:00, em Aracaju.

A.

* * *

* “Block Of Ice”, a música, está no disco "The Master's Bedroom Is Worth Spending a Night In" de 2008, do Thee Oh Sees. Neste mesmo ano eles lançaram "Thee Hounds of Foggy Notion", album gravado ao vivo praticamente nas ruas de San Fancisco e em lugares variados, todo documentando em um DVD que mesclou bem imagens belíssimas e musicas bem mais melodiosas do que de costume. Um Thee Oh Sees bem mais intimista, trabalhando cuidadosas melodias em uma sonoridade mais suave - isso foi possível - e fazendo uso de alguns instrumentos inusitados e muitos efeitos de sonoridade quase fantasmagórica, além do sempre companheiro REVERB. Tem inclusive uma versão mais Light de Block Of Ice que foi gravada ao por do sol em uma praia de Frisco, aqui vai o link do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=VVL3mEwBhBI

por Maicon “stooge”

** Fiz uma listinha de cinco músicas inspirada no livro "Só Garotos", a autobiografia de Patti Smith sobre o relacionamento dela com Robert Mappletorphe, seu namorado nos primeiros anos de Nova York antes dela virar poeta e gravar disco e antes dele virar fotógrafo.

No livro ela mostra que não tinha pretensão de fazer musica mas estava sempre rodeada de músicos, era apaixonada por música e o rock acabou sendo o melhor "veículo" para sua poesia. Ela conta como era fã de Bob Dylan e como foi o dia em que ele foi a um recital dela. Como ficou abalada com a morte de Brian Jones. Como a energia de Jim Morrisson afetava e influenciava todo mundo naquela época. Como a Factory de Andy Wahrol, de onde o Velvet Undergound saiu, era o centro do mundo de Nova York naqueles anos. Isso tudo mais as duras experiências de Patti Smith e a sina de artista dela resultaram em Horses, o disco que é apontado como uma das sementes do punk.

Catarina Cristo

# # #

Ronnie Dio & The Prophets – Love pains
Elf – Hoochie Coochie lady

Trimorfia – Running in circles
Morbid Angel – Existo Vulgoré
Sepultura – Kairos
Arctic Monkeys – She´s thunderstorms
The Gathering – Heroes for ghosts

Violins:
# Forasteiros
# Nossos embrulhos
(Drop Loaded)

Thee Oh! Sees – Block of ice
plastique noir – fugitive dawn

Albert Hammond jr. – Bargain of a century
Dinosaur jr. – pieces
Sonic Youth – poison Arrow

Letal Charge – Evidências sinistras da extinção da raça humana
Warcry – When comes the end
Ulcerrhoea – concrete world
Downset – Agains the spirits
Groinchurn – generic
(por Silvio Campos)

Patti Smith – Gloria
The Rolling Stones – Under my thumb
Bob Dylan – Tombstone blues
The Doors – LA Woman
The Velvet Undergound – Sweet jane
(por Catarina Cristo)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Entrevista com plastique noir

Faz tempo que não leio mais revistas de Heavy Metal (já fui assinante da Rock Brigade, nos anos oitenta), mas sempre folheio nas bancas. Numa destas "passadas de olho", certa feita, vi que a Roadie Crew estava lançando uma coletânea virtual dedicada ao gótico/dark brasileiro. Legal, nem sabia que existia uma cena gótica no Brasil para além do “gothic metal”, geralmente chato e repetitivo. Baixei o disco e uma banda, em especial, me chamou a atenção: plastique noir, de Fortaleza, Ceará. Em termos estritamente estilísticos não traziam nada de novo – era um som derivativo que emulava tudo o que de melhor foi feito na área nos anos de 1980, especialmente - mas se destacavam pela competência na composição e na execução da música presente na compilação, “Those Who walk by the night”. Fui atrás de mais material da banda e confirmei minha primeira impressão: havia realmente algo de especial ali. Tornei-me fã ao ponto de viajar para vê-los, em Recife, no Abril pro rock, e em Salvador. São também muito bons Ao Vivo, tanto que estão conseguindo furar o bloqueio que os deixava naturalmente confinados ao gueto e tocando em vários festivais alternativos Brasil afora, alguns bastante conceituados, como o próprio Abril pro rock.

O plastique noir acaba de lançar seu segundo disco, “Affects”*, o que me fez pensar que era o momento oportuno para uma entrevista com os caras. O resultado, respondido por Airton S., o vocalista, você confere logo abaixo ...

* “Affects”, o novo disco do plastique noir, é mais homogêneo e mais bem gravado que o anterior, “Dead pop”, de 2008. O baixo “cavucadão” de Daniel e as linhas de guitarra cortantes (com um pouco de peso e distorção em alguns momentos) de Marcio Mazela, somados às programações precisas e o vocal soturno de Airton S., passeiam por composições bem acabadas feitas por encomenda para animar “festas estranhas com gente esquisita”. Os teclados, gravados por convidados, também se destacam, criando belos climas em praticamente todas as faixas. Não há nenhum grande destaque: o disco começa muito bem, com a bela “Rose of Flesh And Blood”, e segue no mesmo nível até o fim, oscilando entre passagens abertamente sombrias, embora quase sempre dançantes, e o escracho de letras como a de “Mazela takes a walk”, que foca o comportamento excêntrico de seu já legendário guitarrista.

Grande lançamento! Corra atrás!

por Adelvan

* * *

Programa de Rock – De vez em quando vejo críticas ao trabalho do Plastique Noir chamando-o de “datado” num tom pejorativo, como se música tivesse prazo de validade ou tivesse que se guiar, necessariamente, pelas tendências da moda. Como a banda encara este tipo de questionamento? Há uma preocupação especial em se “atualizar” ou vocês simplesmente ligam o bom e velho botão “foda-se” e estão pouco se lixando se o tipo de som que fazem os empurrará, inevitavelmente, a um gueto?

Airton S – A questão é que o Plastique Noir nasceu como som de gueto e, até certo ponto, exatamente para ser som de gueto. A gente tem tentado se desvincular disso pra que a coisa não fique chata demais de ser feita, isso pra nós mesmos. Eu, Mäzela e Danyel escutamos som pra caralho, que vai desde Aldo Sena até black metal. No começo formamos a banda para que ela fosse estritamente gótica, mas hoje a gente percebe que esse coisa negra da música está presente em vários estilos e sempre foi nosso playground preferido. Dá pra encontrar referências interessantes no drama do tango, no samba escapista do Cartola, no piano de Beethoven e por aí vai. Se isso vai forçar uma identificação de nosso som com o público gótico, melhor! É uma massa numerosa, isso nos proporciona contatos e principalmente amigos. Quando a gente chega em São Paulo e Brasília, pra citar duas cidades em que tocamos com frequência, já saimos do avião direto para caírmos na palhaçada com os amigos! Vamos tomar umas, pôr o papo em dia, farrear e rir bastante. Mas claro que é sempre bom dar atenção ao universo fora do gótico também, se quisermos que nosso som tenha sempre uma sobrevida. O que era só diversão a princípio está chegando a um patamar de trabalho que gera uma responsabilidade de que nosso som se apresente da maneira mais profissional possível. E, para que ele se mantenha assim, é importante que busquemos diálogo com outras cenas, outros palcos, outras opiniões. Acho que se trata tudo de um grande esforço de equilíbrio.

Programa de Rock – Por falar em gueto, é possível escapar dele mesmo se mantendo fiel a uma proposta específica, sem se render a “misturebas” oportunistas? Vocês se sentem parte de um “gueto”? Em caso de resposta positiva, sentem-se bem, aconchegados, dentro dele?

Airton S – Acho que o Plastique Noir é também música de gueto, mas não só isso. Em cidades como Fortaleza e Recife, é comum de se ver uma parte do público de nosso show que não está vestida de preto. É minoria, mas rola. Não temos problema com a palavra “gótico”, que dá nome ao gueto de que estamos falando. E o que temos percebido, principalmente com o novo álbum, é que até mesmo os góticos tem encarado de coração aberto algumas licenças estilísticas a que nos permitimos nesse trabalho mais recente.

Programa de Rock – Existe uma cena dark/gótica estruturada e atuante atualmente no Brasil? Se existe, qual o seu real tamanho, onde ela é mais forte, e como ela dialoga, se é que dialoga, com o cenário independente em geral?

Airton S – Existe e está em fase de maturação, talvez mais perto de um profissionalismo que nunca houve antes. Algumas cidades e regiões tem cenas mais fortes e profissionais, como é o caso de Salvador, Brasília e principalmente São Paulo, que tem uma agenda semanal repleta de eventos simultâneos. Semestralmente rola lá o Projeto Ferro Velho, que traz sempre um grande nome mundial do estilo com a abertura obrigatória de uma banda nacional, o que favorece um intercâmbio inestimável em termos promocionais e de troca de know-how entre países. Existe até mesmo um festival nacional, o Woodgothic, que já conta com três edições e é organizado por uma das bandas mais prestigiadas do Brasil hoje, o Escarlatina Obsessiva. Rola bianualmente no alto da serra mineira, em São Thomé das Letras. A DDK, no Rio, põe brincando umas 500 cabeças pra dento da festa. Nada disso existia até dez anos atrás e olha que as primeiras bandas e eventos góticos no país datam de meados dos anos 80. Ou seja, nos últimos anos tá rolando um “boom” bem grande. Tivemos sorte de iniciar nossas atividades no meio disso tudo. Ou talvez não tenha sido coincidência, talvez o momento tenha favorecido nossa banda e nossa cena assim com tantas outras, com a expansão da internet, barateamento da produção musical etc. Agora, diálogo com o independente fora do gótico, acho que praticamente inexiste. Algumas bandas do selo em que estamos agora, a Wave Records, tem obtido vaga nos festivais de maior renome, mas não é sempre que rola.

Programa de Rock – Senti no “Affects”, o novo disco do Plastique Noir, uma maior homogeneidade nas composições, ao contrário do primeiro disco que, como é de praxe em estréias de bandas que atuam já algum tempo no cenário, funcionou mais como um apanhado de músicas que vêm sendo buriladas ao longo do tempo. Como foi o processo de composição do disco, as musicas são todas novas ou houve alguma retomada de trabalhos antigos nunca antes lançados?

Airton S – É tudo novo. O único reaproveitamento foi a faixa-tributo, “Never Look For People Like Us”, que era do Max e resgatamos do fundo do baú pra homenageá-lo. Todas as novas foram surgindo aos poucos, entre um ensaio e outro durante a tour do Dead Pop que durou, ainda que fragmentadamente, uns três anos e rodou boa parte do país. De volta à Fortaleza, vimos que tínhamos composto quase 20 músicas ao final do processo, muito embora durante ele nós já tínhamos uma noção de qual ia entrar na track list final e qual não ia. Ok, até que ainda chegou a rolar uma discussão por essa ou aquela faixa, no sentido de incluir ou limar, mas tentamos formar um consenso e acho que deu certo. Foi interessante trabalhar dessa forma - refiro-me a essa coisa de “criar um disco do nada”. Eu nunca tinha feito isso e talvez tenha sido o que justamente trouxe a coesão que você percebeu. Agora, não sabemos muito bem o que fazer com as sobras. Tem umas coisas que eu particularmente acho bem legais ali. No começo dos contatos com nosso novo selo, até rolou uma pilha mútua de fazer uma versão de luxo com disco extra, mas isso ficou inviável porque nossa verba pra gravar tinha acabado e daí resolvemos garantir o álbum full que já tínhamos em mãos. Talvez essa versão deluxe possa sair ainda. Não sei. Agora ninguém está mais pensando muito nisso, estamos tentando promover o que já tem.

Programa de Rock – Vocês ainda compõem pensando num álbum fechado, com um conceito, mesmo que vago e flexível, amarrando as faixas, ou vão compondo ao longo do tempo e apenas juntam o resultado?

Airton S – Um pouco dos dois. É que, nisso de compor ao longo do tempo sem neuras, coincidentemente ou não as músicas acabaram se mostrando “entrosadas” entre si, por si próprias, sem que tivéssemos que forçar a barra conceitualmente. Digo, conceito havia, mas não deu quase nenhum trabalho perceber depois que o material obtido se encaixava quase completamente nele.

Programa de Rock – Ainda existe espaço para o conceito de álbum, uma coleção de musicas representativas de um momento de uma banda embaladas por uma capa, contracapa e encarte? O Plastique Noir acredita que este conceito vai sobreviver? Em caso positivo, como conseguem resistir à tentação da urgência de nossos tempos hiperconectados para não lançar as musicas aos pedaços na net antes do resultado final acabado?

Airton S – Veja bem, nossa média de idade na banda é de 29 anos, mais ou menos. Não somos tão jovens. Alcançamos o vinil, tínhamos centenas de K7 em casa, já rebobinamos muitas delas na base do giro de caneta (risos) e só agora estamos tendo contato com o MP3, que foi o grande culpado por essa fragmentação no consumo de música. Eu, Danyel e Mäzela ainda trazemos um pouco dessa “cultura de álbum” nos nossos perfis musicais. E por uma questão igualmente cronológica, boa parte da imprensa musical também, já que os mais novos no meio têm o quê, 20 e poucos anos? Esse pessoal ainda leva a sério o formato de álbum assim como nós e é por isso mesmo que não rola conosco essa ansiedade de liberar material de qualquer forma. Penso ainda que, como prensar disco continua sendo uma parada cara e trabalhosa, o fato de a banda ter encontrado alguém que faça isso por elas, leia-se selo, ou mesmo ela ter reunido recursos para fazer por si mesma, denota que atingiu um nível legal de profissionalismo e por isso merece atenção do mercado e dos fãs.

Programa de Rock – O suporte físico ainda é realmente necessário? Pensam em, algum dia, lançar seus trabalhos apenas via internet? Como vocês administram este equilíbrio entre uma coisa e outra, o novo e o velho estilo de se “vender” música? Há espaço para os dois?

Airton S – Por enquanto, sim. E talvez mais ainda no nosso caso, já que somos freqüentemente identificados com uma cultura urbana como a gótica. Gente assim tem seus próprios hábitos de consumo, seus fetiches e seu mercado simbólico interno. Assim como punks, straight-edges, bangers etc, os góticos ainda valorizam o item material colecionável. Agora, como já falei antes, tudo é uma questão de equilíbrio. Também não faz sentido nego ser anacrônico e fazer vista grossa pro ambiente virtual. Tanto é que nossas músicas também são comercializadas em formato de download. Pra não falar no vazamento pirata, que nós nem achamos tão danoso assim. Haja vista o nosso primeiro álbum, cuja permissão de lançar free foi exigida por nós junto ao nosso selo na época. Era nossa estréia, queríamos aparecer legal. Já no caso do Affects, não sentimos a necessidade de tentar forçar uma interferência na maneira como o Alex da Wave acha melhor trabalhar, até porque confiamos demais na competência do cara em termos de distribuição.

Programa de Rock – Como é a relação da banda com os selos que lançam seus discos?

Airton S – A Pisces foi o primeiro selo em que entramos. O Ulysses é um cara muito gente boa, apesar de meio viajandão (risos). É foda conseguir falar com o cara, por exemplo. Mas o apoio que ele nos deu e continua dando é inestimável. Começamos a nos falar em 2007 e ele sempre se mostrou um cara muito honesto e sobretudo apaixonado pelo que faz. Quando resolvemos mandar o Affects pra Wave, não rolou nenhum tipo de mal-estar, até porque o Alex é quem distribui o Dead Pop, adquirido junto à própria Pisces. Inclusive aproveito pra avisar que esse disco já já vai acabar e quem não adquiriu, falou, um abraço. Não creio que ele vai voltar logo aos catálogos. Já sobre o trabalho com a Wave, sei lá, parece que foi um passo natural fechar com o selo. O Alex atua na cena gótica desde os anos 80, é figura carimbada nos principais eventos internacionais do estilo, tem contatos quentes, enfim, não tinha como não ser do jeito que está sendo. Botamos fé demais no trampo dele, musical inclusive. Eu e o Mazela já éramos fãs do 3 Cold Men antes mesmo de formar o Plastique (risos).

Programa de Rock – Vinil: há algum fetiche em especial da banda por este suporte ? Há alguma demanda dos fãs por lançamentos neste formato do Plastique Noir?

Airton S – Não sei, mas acho que deve existir. Confesso que a gente nunca pensou muito nisso até então. O Rafael, nosso produtor, às vezes bate nessa tecla. James, nosso amigo que toca no Facada, também de vez em quando tenta instigar a gente, falando das vantagens da prensagem em vinil, na questão do volume de cópias… Quem sabe um dia?

Programa de Rock – Como tem sido a divulgação de “Affects” no Brasil e no mundo, há algum plano em em ação neste sentido?

Airton S – Bom, felizmente a demanda por shows tá rolando sem que tenhamos a necessidade de sequer correr atrás deles. Algumas datas fora de Fortaleza foram fechadas e algumas até já foram cumpridas com sucesso. O pessoal parece estar curtindo bastante o disco. O promocional tem sido feito pela gente, por meio de nossa onipresença quase constante nas redes sociais e aqui cabem agradecimentos ao Rafael, em parceria com o Alex, que está colocando o disco nas lojas de São Paulo e da Europa, neste último acaso através da distro alemã Nova Media. O lançamento será em São Paulo também, numa festa do Via Underground. O Alex cuida mais da promoção no meio gótico e a gente está tentando colocar o disco evidente no meio independente nacional em geral, aproveitando os contatos que já fizemos em nossas passagens pelos festivais da Abrafin e eventos do Fora do Eixo.

Programa de Rock – A agenda de shows de vocês, como está? Tenho visto que a banda tem conseguido se inserir na agenda de festivais independentes e, com isto, se apresentado para um público mais amplo. Isto é fruto de um esforço em especial da banda neste sentido ou os convites vieram de forma “espontânea”? Pretendem seguir por este caminho? E como tem sido a recepção do público dos festivais à proposta do Plastique Noir?

Airton S – Olha, é meio que as duas coisas. Por aqui em Fortaleza a gente sempre foi alinhado com o coletivo local, a Rede Cem e daí eles nos servem de ponte pras curadorias. Mas acredito que nosso som acabe agradando, nego não ia pôr uma banda no line-up do festival dele que custou 90 mil pra acontecer, se houvesse o risco de, com a inclusão da tal banda, o negócio ficar feio. E o resultado acaba sendo bacana pros dois lados. A gente tem levado um público pros festivais que dificilmente iria pra ver as outras bandas. Nisso, acabam curtindo algo que não conheciam. E de forma semelhante, a gente acaba fisgando uma ou outra pessoa que estava ali, assistindo, sem botar muita fé na gente. Estamos tentando dar prosseguimento a essa via de trabalho. Esse ano já fizemos o Tendencies, em Palmas, e o resultado foi ótimo, travamos um contato amigável massa com a cena rockabilly de Curitiba por exemplo, que estava lá e de repente pode pintar algo disso…

Programa de Rock – Há uma faixa tributo a um antigo integrante da banda, falecido, no disco. Falem-nos um pouco de quem se tratava e qual foi sua contribuição para a construção da sonoridade do Plastique Noir.

Airton S – O Max integrou a banda desde o seu inicio até a metade de 2008, tendo definido muito de nossa identidade melódica e chegando a gravar o Dead Pop. Ele tocou na banda que pioneirizou esse estilo mais pós-punk gótico em Fortaleza, o Rebel Rockets, nos anos 90. A banda já estava extinta quando o convidamos a assumir os synths no Plastique Noir. O cara cativou todo mundo logo de cara com seu jeito amável de ser, sem falar em sua puta bagagem musical, quase enciclopédica. A chegada dele à formação foi, sem dúvida, o marco final para que nos sentíssemos prontos pra começar, como banda de verdade. Tinha ainda o folclore derivado de sua profissão como agente funerário (risos), era divertido mencionar isso em entrevistas. Infelizmente o cara foi se ocupando demais com atividades paralelas e teve que deixar a banda. Digo, deixou mesmo: ele não foi expulso e também nunca pediu pra sair. Foi estranho… simplesmente ele parou de comparecer a ensaios, shows… daí a gente ia se virando. Hoje, interpretamos essa atitude como uma maneira que ele encontrou de evitar de falar em saída por não querer de fato sair. Nosso contato foi ficando cada vez mais esparso desde então, sempre tínhamos notícias de sua vida por meio de um primo dele que é muito amigo nosso, quase irmão dele. Foi um choque quando recebemos a notícia de seu falecimento devido a complicações de saúde. Ele já estava há muitos dias em coma e o fato ocorreu quando estávamos numa reunião de amigos em razão do aniversário do Mäzela, que acabou sendo atingido de forma violenta naquele que era seu dia. O disco estava para começar a ser gravado, já tínhamos o material inteiro pronto. Somos caras bastante céticos, mas gostamos de pensar que ele estava presente posteriormente no processo, ajudando nem que fosse a partir da idéia que sua pessoa representa nos nossos corações de forma inspiradora.

Programa de Rock – Aproveitando o “gancho”: façam-nos um resumo do que tem sido a experiência da existência da banda até agora: os acontecimentos mais marcantes, as maiores dificuldades, as maiores alegrias …

Airton S – Cara, esse começo da minha resposta vai soar clichê, mas é foda: a gente passou por muita coisa nesses 5 anos. Eu juro que não consigo mais repassar minha vida durante esse tempo dissociando-a da banda. Acho que a melhor coisa que ficou são os amigos. As viagens sempre foram e são cansativas, mas eu diria sem pensar muito que elas são o melhor da festa. E é o que mais marca. E olha que eu não gosto de fazer show, meu lance é estúdio. A gente se divertiu muito por aí. Conhecemos gente de toda parte, vivemos momentos engraçados, encontramos freaks de toda espécie. A parte ruim, acho que foram os desentendimentos. A gente já brigou muito, de vez em quando ainda brigamos, aliás. Já fiquei sem falar com o Mäzela por semanas, já “rompi” até mesmo com o Babuê, que é uma moça (risos). Tivemos momentos em que tínhamos grana pra caramba pra investir nas nossas coisas, situações em que nos sentimos rockstars por causa de bobagens como, sei lá, estarmos pela primeira vez em um puta hotel aguardando a hora do show. Sabe, essa coisa meio de moleque sonhador? “Caralho, fodeu, estamos bombando!” (risos) Meio ridículo até… Ou ainda, estarmos ao lado de bandas gringas fodonas, na mesma van… Encontramos o Afrika Bambaataa no backstage do Abril Pro Rock, uma lenda viva, tocamos na mesma noite, o cara mó figuraça, divertidão, tirando sarro do Mäzela bêbado… Assim como também já rolaram momentos em que estávamos quebrados, sem ter nem o que comer esperando o ônibus de volta pra Fortaleza, bebendo cachaça e tocando violão na rodoviária pra passar o tempo. Já rolou de sermos saudados pessoalmente por jornalistas de certa envergadura e de sermos difamados e acusados levianamente por pseudo-produtor de evento. Sua primeira pergunta foi sobre “gueto”, tem um jornalista que você deve saber a quem me refiro, vive batendo verbalmente na gente… Mas é isso. Tudo faz parte e nós fazemos parte de tudo isso.

Programa de Rock – E para o futuro, há planos, metas ou é navegar ao sabor dos ventos?

Airton S – A gente nunca faz planos a longo prazo. Engraçado estar respondedo a essa entrevista logo agora, porque ontem mesmo eu estava tomando umas cervejas com o Babuê e começamos a retomar os planos pra shows no exterior, mas não convém divulgar nada ainda. O que dá pra adiantar é que já tem coisa concreta a esse respeito, mais detalhes em breve. Vamos tentar fazer as cidades que ainda não fizemos, principalmente na região sul. O norte já começamos a desbravar recentemente em Palmas, mas é a maior região do país, ainda tem muito lugar lá pra se ver e nos ver. Interrompemos quase que totalmente os shows durante os três meses de gravação e produção e agora queremos tocar bastante, o máximo, onde der e em quaisquer condições, desde que não seja muito inviável em termos de aparelhagem e deslocamento. Queremos corrigir algumas falhas nossas, como a escassez de merchandising. Gente de toda parte fica enchendo nosso saco por camisas, bottons, etc, e estão certos em vir encher. Vamos tentar tocar nos festivais em que ainda não tocamos e buscar mais visibilidade no geral, aproveitando que estamos com assunto novo. No caso, o álbum.

Programa de Rock – Espaço aberto para considerações finais.

Airton S – A gente queria agradecer de todo o coração por esse seu espaço e principalmente pela divulgação do trampo de bandas independentes como a nossa, que normalmente tem muita dificuldade pra produzir e circular dignamente. Muito obrigado por preencher essa lacuna preciosa. Somos muito a fim de tocar em Sergipe, quem sabe um dia. Abração pra todos que fazem seu programa e que o acompanham também!

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