quarta-feira, 18 de novembro de 2015

30 Anos de “Psychocandy”

Nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi “Psychocandy”, o primeiro disco do Jesus And Mary Chain. Foi mais ou menos na época do lançamento, ainda na década de 80 do século passado – acho que 1986. Eu tinha meus 15, 16 anos no máximo, e estava começando a mergulhar nesse universo vasto e, para mim, desconhecido, do rock and roll, pelo qual eu me interessei vendo o primeiro rock in rio na TV. A revista Bizz chegava lá na minha cidade – Itabaiana, 50 km de Aracaju, Sergipe – e serviu como guia. Foi em suas páginas que li sobre aquele grupo de escoceses malucos que só se vestiam de preto e estavam sempre com os cabelos desgrenhados. Estavam causando furor com shows ensurdecedores de 15 minutos nos quais tocavam de costas para o público...

Um amigo tinha o tal disco e eu fui lá na casa dele ouvir. Primeiro foi o estranhamento com a faixa de abertura, “Just like honey”: etérea, sussurrada, com uma gravação abafada e guitarras cortantes, mas nada demais, em termos de agressão sonora. A partir do momento em que a agulha chegou aos sulcos da musica seguinte, no entanto, foi um choque! Aquilo era algo realmente novo, mesmo para meus ouvidos já acostumados com Metallica, Slayer e Megadeth. Era muito, muito barulhento, mas ao mesmo tempo era doce, melódico. Pop, num certo sentido. Um doce psicótico – poucas vezes o título traduziu tão bem a sonoridade de um disco.

Não tinha, na época, bagagem musical suficiente para enquadrar mentalmente o que me entrava pelos ouvidos, mas hoje sei que se tratava de uma espécie de continuação do que vinha sido feito naquela década por bandas como The Cure e Echo And The Bunnymen, com seu pop "esquisitão", temperado com influências do radicalismo undeground do Velvet - especialmente do segundo álbum, "White Light/White Heat" - e do punk rock safra 77, de Sex Pistols e afins. “Psychocandy” é, na verdade, uma daquelas obras que inauguram um novo estilo, para o qual os críticos têm que se desdobrar para criar um rótulo – “shoegaze”, no caso. Um rótulo que, na verdade, só foi criado algum tempo depois, quando a atitude e a atmosfera sonora daquele álbum seminal foi lapidada por bandas como My Bloody Valentine, Ride e Slowdive.

Eu virei fã de grindcore, mas “psychocandy” segue sendo o disco mais barulhento que eu conheço – sim, mais que “From slavement to obliteration” ou as “peel sessions” do Napalm Death! É o único que eu não consigo ouvir inteiro no volume ao qual estou acostumado: chega um momento em que os ouvidos começam a doer ... 

É tipo uma serra elétrica lubrificada com mel. 

E é lindo!

A

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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

DoSol 2015

Soubesse eu que meu ídolo e amado Adelvan Kenobi me concederia a honra de ocupar este nobre espaço com minhas impressões sobre o que vi no Festival DoSol no último fim de semana em Natal/RN, certamente eu teria ativado meu botão ‘repórter’ e teria pelo menos levado um bloquinho com caneta para facilitar essa tarefa hercúlea que tenho agora.

Porque é uma coisa de louco aquilo. Uma maratona inacreditável uma média de 30 bandas por dia se revezando, às vezes ao mesmo tempo, entre 4 palcos, espalhados por galpões em uma rua fechada na área portuária de Natal. O rock começa cedo, às 16h, e segue até a madrugada. No sábado, 07/11, terminou mais de 4h da manhã, com o show lotadaço do novo fenômeno “indie universitário” Figueiroas. Eu não sei de onde a galera tirou energia pra dançar lambada àquela hora naquele calor. Eu estava em frangalhos.

Skabong
Mas comecemos do começo...

Sábado – 07/11/2015 - Resolvi ir pro DoSol porque tive a chance de viajar junto com a galera da Skabong, aqui de Aracaju, que foi escalada pra tocar. Saímos na sexta à noite e chegamos no sábado. Portanto, perdemos a primeira noite do festival. Uma pena. Perdi o show do Cigarettes que eu posso dizer que há décadas que queria muito ver. Mas tudo bem.

No sábado, a maratona começava cedo e o Skabong(SE) era logo a segunda banda da programação. Tocaram ainda de tarde, pra uma plateia não muito numerosa, mas atenta, e fizeram o melhor show que puderam. Coeso, redondo e cheio de energia. A galera reagiu bem. Sou suspeita, mas gostei muito.

Moloko Drive
Depois disso, o que se segue é uma avalanche de shows que são um teste pra memória estética e pra dignidade física de uma roqueira desleixada e com problemas de saúde, como eu. Uma das primeiras bandas que eu lembro de ter chamado minha atenção foi o Moloko Drive(RN). Show bacana, maduro, composições instigantes. Impossível não relacionar o som deles ao estilo stoner do QOTSA, mas isso não chega a ser um problema. Gosto muito desse tipo de som. Me pegou de cheio. Acabaram de lançar disco pelo selo Mudernage.

Não vou listar os shows de um em um porque simplesmente não consigo me lembrar e/ou não prestei atenção. Então, faço a seguir uma seleção baseada na minha memória afetiva. Se lembro é porque curti. Ou quase isso.

Carne Doce
Próxima da lista que me capturou os sentidos foi uma banda de Goiânia chamada Carne Doce. Daquelas que você passa pra dar “um saque” e se pega dizendo “UAU”. Impossível não me conquistar a mistura de vocal feminino com um toque Elizabeth Frasier cantando em bom português e levadas viajantes a la Tortoise ou Hurtmold, pra ficar nas referências nacionais. Tudo muito bom, gostoso de ouvir, sem afetação, sincero. Certamente está no meu top 5.

Em seguida um show que eu há muito espero pra ver ao vivo. Acho que conheço o The Automatics(RN) há tanto tempo quanto conheço o Snooze (guitar band aqui de Aracaju que fez parte da minha vida por longos 13 anos), ou seja o tempo que devo ter nessa vida de indie rock. Como eu imaginava, não me decepcionaram. Guitar noise arrastado da melhor qualidade, fazendo jus a seus 14 anos de estrada. Showzaço.

The Automatics
Lembro de, ao menos, duas pessoas cantando no meu ouvido: ‘não perca o show da Marrero(SP)’. Fui lá conferir. Rock de macho, até nas caras e bocas do vocalista. Como diz na descrição do soundcloud deles: “Uma banda com raiva.” Hehehehe, deu pra perceber. Mais daquela pegada stoner, que apareceu muito pelo festival. Não estou reclamando. Gostei, só não entendi porque eles tocaram de novo no domingo.

Aláfia foi realmente um diferencial em meio a tanto rock raivoso. Outro daqueles momentos ‘UAU’. Fazem um groove sensacional, flertando com sonoridades da black music setentista, funk, rythm’n’blues, soul e por aí vai... A vocalista maravilhosa tem uma baita voz e ótima presença de palco. Me ganhou muito. Estão lançando o segundo CD, Corpura. Fodástico. Recomendo muito.

Thiago Petit
Do show do Thiago Pethit eu me lembro de ter tentando entrar pra dar aquele saque. Estava lotadaço e o público estava ensandecido. Bem na hora que eu chego, sobe um(a) fã no palco e tasca um beijo de língua na boca do cara. Nossa! Que susto. Já gostei. Nunca tinha sacado o som dele, mea culpa. Vou chover no molhado aqui se disser que o som do maluco é bacana. E o show? É insano. Prefiro me guardar pra outra vez que eu tiver visto só ele em outra oportunidade.

A essa altura eu já nem enxergava as pessoas direito e já tinha falado com umas três pessoas estranhas achando que eram gente conhecida. Estava perdida, tentando entender como eu tinha me perdido da minha carona quando me deparei com o show do novo “mito universitário”.

Figueroas "Lambada quente"
“Fofinha, fofinha, fofinha...” (Gosto de pensar que essa música é pra mim, hahaha). Figueiroas Lambada Quente! Mais de 3h da madrugada e aqueles roqueiros ainda tinha energia pra dançar lambada quente... não, infernal (calor da porra, hein, Natal?!).

O que eu entendo que rola ali é o seguinte: Dinho Zampier, meu brother alagoano de outros carnavais, é o talento musical que garante a precisão daquela estética que sai redonda, gorda, cheia de improvisos legais, enquanto isso o “Figueiroas” arrasa no personagem, dança mesmo, canta mesmo, se entrega. E a galera se entrega junto. Funciona demais. Fica constrangedor estar perto do palco e não se balançar ao menos. É sincero aquilo que rola ali. Não é apenas humor. Aquela música e aquela energia estão rolando ali de verdade. O público entende isso. Acho válido. Mas eu não sei dançar lambada.

Boys Bad News
Domingo – 08/11 - No domingo, uma outra banda tipo stoner sexy guitar rock fez um dos primeiros shows que eu consigo lembrar: Boys Bad News , do Maranhão. Nada muito inovador, mas foram bem no palco, pegada instigante, conquistaram o público, eu inclusa.

Provavelmente a que mais impressionou nesse dia, e não foi só a mim, foi a AK-47 (RN). O vocalista, Juão Nin, que também é ator, abriu o show com uma performance do lado de fora do galpão saindo de dentro de uma daquelas máquinas de fazer cimento em construção civil, gritando “índio viado, índio tóxico, índio trans”!

Dava pra entender uma sugestão de ativismo gay e ambiental aí, que logo se confirmou nas letras das músicas. Da betoneira ao palco, aquele homenzarrão imenso (e lindo!) soltou uma voz poderosíssima acompanhado por uma banda não menos de peso que deixou a mim e aos presentes de queixo no chão.

AK-47
O som da AK-47 é pesado, rasgado, gritado, ou “visceral”, como eles se descrevem na biografia do facebook. Aqui e acolá, há um flerte com batidas tribais. Bateria e percussão são bem pronunciadas, e as guitarras, óbvio, bem altas e com muita distorção. Difícil não associar ao que ficou conhecido como Nu Metal, mas o rótulo é pouco (como são todos) pra enquadrá-los. O disco novo, Anêmola, está disponível pra download na página da banda. Tem que conferir.

Seguem-se mais dois shows de rock de responsa altamente recomendáveis. Monster Coyote é uma banda nervosíssima de Mossoró, interior desértico do RN. Fazem uma mistura de metal stoner pesadíssimo. Cacete, porrada, pauleira. Basicamente isso. Gostei muito.

Water Rats
Os curitibanos do Water Rats mandam um punk de primeiríssima, meio setentão, ótimos vocais, ótimos riffs, impossível ficar parado. A galera tem bastante estrada e interage super bem com o público. Fizeram um show muito instigante.

Os gringos da DOT LEGACY parecem ter agradado geral. Eu devo ter escutado meio atravessada. Achei som de gringo fazendo gringuice. Franceses com cabelo crespo, pulando alto e fazendo careta devem fazer um sucesso por lá. Pra mim, de cara já é um ponto a menos. Ainda mais quando eu ouço, nem que seja um indício de tentativa, da famigerada experimentação, ou “mistura de ritmos”. Ah não! De novo isso? Quantos a gente num já viu desses por aqui né? Desculpaí. Curti não. Altamente esquecível.

Mad Monkees
Em um dado momento do domingo, Levi Marques (vocalista da Skabong) me chama pra ver o que tá rolando no palco “estúdio Petrobrás” – na verdade um container, do lado de fora dos galpões. Ele diz, meio chocado: “Você tem que ver isso!”

Era a banda Mad Monkees , do Ceará. E o que chamava a atenção era o baterista super mega feeling virtuose dando um show à parte. Comentei: “Lembrei do Babalu”. Entendedores entenderão. Banda foda e baterista mais ainda. Vale dar um saque no trabalho dos caras.

O show do DEAD FISH OFICIAL conseguiu provocar um fenômeno: esvaziou completamente todos os outros ambientes do festival. Estava TODO MUNDO lá. Hardcore nunca foi totalmente minha praia e eu nunca tinha animado pra ver um show desses caras, mas já que tava no bolo e pelo precinho fui lá conferir. Sim, um ótimo show, como eu imaginei. Público pirando, festival de mosh, bonito de ver e tal. Mas continua não sendo o tipo de som que me instiga. E em um festival como esse, eu, sinceramente, prefiro dar atenção às bandas que eu sei que não vou ter outra chance de ver. Me parece meio lógico.

Girlie Hell
Quase terminando a noite, sobem ao palco as roqueiras, super roqueiras, com muita pose de roqueiras, da Girlie Hell (GO). Não gosto da afetação que vejo em algumas bandas da safra goiana recente. Parecem, quase todas, muito preocupadas em ter a famosa “atitude roquenrol”. Torço um pouco o nariz quando vejo esse excesso (não são as primeiras), mas curti o som das meninas mesmo assim. Rockão clássico, composições legais, bom vocal. Se investirem mais na música e menos na pose tem futuro.

O ultimíssimo show que eu vi, esse eu lembro bem, foi dos cariocas da Confronto. Banda de metal hardcore respeitada, com 14 anos nas costas, suas letras de resistência dos oprimidos vieram bem a calhar pra encerrar essa imersão roquística nos lembrando bem de onde nós, roqueiros velhos e resistentes, viemos e porque continuamos fiéis a essa merda toda, mesmo sem ganhar nenhum tostão.

Texto: Maíra Ezequiel

Fotos: Rafael Passos

Juão Nin, vocalista do Ak-47, mitando no domingo


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Morrissey, uma entrevista ...

Há uma espécie de penumbra de azar que parece perseguir Steven Patrick Morrissey nos últimos anos. Internações às pressas, tratamento contra um câncer, um disco de inéditas deixado de lado pela gravadora. Aos 56 anos, o ex-vocalista do Smiths luta para se manter na música, embora já não saiba mais por quanto tempo permanecerá nos palcos. A turnê que chegará ao Brasil a partir de 17 de novembro, e terá ainda mais três datas (outra em São Paulo, dia 21; no Rio de Janeiro, dia 24; e Brasília, dia 29), pode muito bem ser a última em um bom período de tempo. Em entrevista ao Estado, por e-mail (forma como ele há tempos costuma preferir se comunicar com jornalistas), Moz diz não ver razão para permanecer na estrada se não há novas músicas para apresentar.

World Peace Is None of Your Business, o mais recente disco de inéditas, lançado em julho de 2014, saiu após cinco anos desde Years of Refusal e uma briga intensa de Moz por um contrato com uma gravadora. Ele, ícone de qualquer adolescente que tenha tido o coração partido e encontrado alívio ao mergulhar nos versos dele com o Smiths durante os anos 1980, encontrou dificuldade em chegar a um contrato vantajoso — e se recusava a lançar o álbum de maneira independente.

Encontrou o que desejava com a Harvest, selo indie que integra a major Universal Music, mas a relação com a empresa foi conturbada. Morrissey reclamou que foi deixado de lado. "Abandonaram o álbum depois de uma semana de lançamento", escreveu ele na entrevista. E foi direto em críticas ao presidente da companhia, Steve Barnett, do melhor jeito Morrissey de ser. "Espero que ele engasgue ao comer uma bisteca", disse o vegetariano. "Sem novas músicas, não há mais sentido para turnês. Meus shows sempre foram um grande sucesso, mas os grandes selos somente estão interessados em vencedores de reality shows musicais e cantores que não desafiam ninguém."

Nos últimos dois anos, Morrissey desmarcou outras apresentações por razões diversas. A última turnê pelo Brasil, marcada para 2013, foi cancelada por "motivos pessoais". O inglês havia sido internado por intoxicação alimentar no Peru. Uma gripe obrigou-o a desistir de shows pela Europa em 2014 e, mais recentemente, ele revelou, em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, que passou por várias intervenções cirúrgicas para retirada de tecidos cancerígenos. "Se eu morrer, morri", brincou, na época.

Morrissey está ferido — e com a cabeleira rala, segundo ele revelou, por causa da medicação contra o câncer -, mas ainda é afiado como sempre: "(Me reunir ao Smiths para o Hall da Fama do Rock) é algo tão inimaginável quanto assumir que eu me juntaria ao Led Zeppelin". O que, cá entre nós, é um alívio dos grandes.

Você passou por alguns problemas de saúde nos dois últimos anos, ocasionando alguns cancelamentos de turnê. Os fãs ficaram bastante preocupados. Como você está se sentindo agora?
Morrissey — Estou extremamente bem, mas sob o efeito de vários medicamentos. O que, obviamente, causa mais dano do que a própria doença! Mas não é algo que seja preocupante. Perdi muito cabelo por causa da medicação, mas o qual é o problema disso, certo?

Em sua apresentação mais recente antes dessa entrevista, em Cesena, na Itália, no dia 8 de outubro, você escolheu executar seis músicas do disco mais novo, do ano passado. Como essas músicas estão funcionando ao lado das clássicas?
Morrissey — As novas canções são mais populares do que as antigas. Nós tivemos garotos de 14, 15 e 16 anos na plateia. Eles estavam ali por causa de World Peace Is None Of Your Business. E isso é gratificante.

Há um ano, entrevistei Joe Perry, guitarrista do Aerosmith, e, no papo, ele questionava a importância de se lançar um novo disco, com novas canções, para um artista com tanto tempo na indústria e tantos hits, como ele e sua banda. Disse que os fãs só querem os clássicos. Isso foi algo que mantive na cabeça. Para um artista com tempo de estrada e músicas que são sucessos já garantidos, qual é a importância real ainda de compor canções e mostrá-las ao vivo?
Morrissey — Acho que é importante pelo senso de progresso, entende? Porque, de outra forma, se você permanecer com o mesmo material, pode parecer que sua fonte secou. Você vai parecer um esqueleto em uma cadeira de balanço.

Então, para você, até que ponto um artista deve seguir o desejo dos fãs pelas músicas mais clássicas, ou antigas? Há um limite?
Morrissey — Sim, existe um limite! Se você se deixar ser levado pelo público, você não passa de um fantoche de pano. Existe um equilíbrio muito sensível aí.

Vamos falar sobre o processo criativo de World Peace Is None of Your Business? Cinco anos depois de Years of Refusal, qual foi o ponto de partida, o primeiro conceito para esse disco?
Morrissey — Acredito ter sido o que se tornou conhecido como a Primavera Árabe. A palavra ‘primavera’ foi usada para determinar um novo começo, e a revolta do povo egípcio deu início a uma fascinante ebulição de eventos muito positivos ao redor do globo. As pessoas não precisam mais de um governo hostil para falar por elas. Continua ocorrendo na Síria, onde as pessoas buscam ver além do governo corrupto. A maior parte das coisas que sentimos não se reflete nos governantes que, supostamente, deveriam representar nossas vontades. Eles foram eleitos com a promessa de nos ajudar.

Pelo o que eu me lembro, você não ficou satisfeito com a forma que a gravadora Harvest trabalhou no seu disco. Li que você estava desapontado com a maneira como eles promoveram o álbum inédito. Como o marketing na indústria fonográfica mudou com o passar desses anos? Acha que cantores pop atuais seriam capazes de atingirem o mesmo sucesso nos anos 1980?
Morrissey — A gravadora simplesmente abandonou o disco depois da primeira semana de vendas! Eles não o promoveram e, mesmo assim, o álbum chegou ao segundo lugar das paradas no Reino Unido e no 14.º nos Estados Unidos. Ainda assim, eles não ajudaram. O selo tinha medo porque o disco era muito forte, muito combativo. E é uma grande tragédia, porque o álbum é muito poderoso. Mesmo que o chefe do selo, Seve Barnett, tenha dito que o disco era uma obra-prima, foi evidente que ele não sabia o que fazer com ele. O selo só sabe lidar e trabalhar com músicas que são sem graça. Hoje, o marketing é que dita as regras na música. Sucesso é comprado e, consequentemente, a música mundial está nesse estado moribundo graças a pessoas como Steve Barnett.

World Peace Is None of Your Business é um álbum poderoso nesse caráter combativo. Acredita que ele conseguiria ir mais longe se a gravadora tivesse trabalhado nele? O quão longe estamos falando?
Morrissey — Acho que não há dúvidas de que o disco explodiria em todas as partes do mundo, porque ele dialoga com absolutamente tudo o que ocorreu entre 2014 e 2015. E o faz de uma forma que ninguém mais fez. Estou surpreso pelo fato de Steve Barnett não ter sido demitido. Ele sempre será lembrado por ter enterrado World Peace is None of Your Business. E espero que ele engasgue ao comer uma bisteca.

Li no site True To You, que é uma espécie de site oficial seu, que não haverá mais shows no Reino Unido, já que não há planos para novos lançamentos musicais. Essa ideia ainda está de pé? E ela se estende para o resto do mundo? Seria essa a última turnê até o próximo acordo com uma gravadora e o lançamento de um novo disco?
Morrissey — Nós já fizemos muitos shows, especialmente no Reino Unido, mas sem novas músicas, não há mais sentido para isso. As turnês sempre foram um grande sucesso, mas os grandes selos somente estão interessados em vencedores de reality shows musicais e cantores que não desafiam a mente de ninguém.

Seus dois livros, uma autobiografia e o recente List of the Lost, tiveram bons números de venda. Você se considera um escritor?
Morrissey — Eu sou quem eu sou por causa da música. E isso se mantém dessa maneira mesmo que eu apenas cante no banho, e não mais para milhares de pessoas. Cantar é a realização mais pessoal que já experimentei.

No começo deste mês, o Smiths foi novamente indicado como um dos nomes possíveis para entrar no Hall da Fama do Rock and Roll Você já pensou sobre o que vai acontecer se a banda foi indicada?
Morrissey — Eu enfim tenho uma boa vida. Digo, hoje eu tenho uma vida melhor e mais bem-sucedida do que dos tempos que estive com o Smiths. Então, eu não entendo porque poderia haver alguma razão para eu ser sugado de volta para aquilo. É algo tão inimaginável quanto assumir que eu me juntaria ao Led Zeppelin.

NOTA: Sábado tem Morrissey no programa de rock - "me conte uma novidade", você deve estar pensando ...

19H, 104,9 FM em Aracaju e região
www.aperipe.com.br

Fonte: BEM PARANÁ
Sem crédito de autoria

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