sexta-feira, 26 de agosto de 2011

# 195 - 26/08/2011


Hoje o programa de rock se despede das noites de sexta-feira: a partir do dia 03 de setembro passamos a ir ao ar aos sábados, sempre às 18:00. Desta vez, esperamos todos, sem muitas interrupções - a mudança foi motivada pela necessidade de evitar os choques de horário com as constantes transmissões de eventos o vivo pela Aperipê FM.

Na programação musical de hoje à noite seguimos com o hábito de não esquecer os bons discos lançados recentemente: colocaremos no ar mais uma de "Vol. 3", do Mopho, e mais uma das 3 músicas novas que Morrissey lançou recentemnte no programa de Janice Long, da BBC de Londres. Representando o front local, a faixa de abertura de "nature", excelente EP lançado há pouco pela Road to joy, e "O retorno de Saturno", da Nantes. "Alvorada", o disco de onde foi retirado este "quase hit", é um dos que estão disponíveis para download gratuito nos links que você encontra na coluna ao lado, aqui mesmo, neste blog.

Fechando a noite, dois especiais: Hasil Adkins, pioneiro das "one man bands", tem sua carreira radiografada via Maringá, Paraná, através de nosso colaborador Andhye Iore. Já o Camisa de Vênus marca presença em homenagem aos 60 anos recém completos de seu ex-lider e vocalista, Marcelo Nova.

See you later, alligators !!!!

Até sábado, dia 03.

###########

Morrissey – People are the same everywhere
The Smiths – Some girls are bigger than others

Melvins – The kicking Machine
Motorhead – English rose
Wolfmother – pyramid
Black Mountain – wucan

Guachass – Dirty Harry
Motosierra – Life in Hell
-> Drop Loaded

Mopho – Dani Rabiscou
The Dead Lover´s Twisted Heart – All Night long
Suíte Super Luxo – Ad Hoc
Plástico Lunar – Sua casa é o seu paletó
Continental Combo – Homem retalho

Nantes - O retorno de Saturno
Road to joy - wildflower

Especial Hasil Adkins:
por Andhye Iore

" Chicken walk "
" No more hot dogs "
" Ugly woman "
" You´re gonna miss me "
" She Said "
" Truly Ruly "

Camisa de Vênus:
“ Farinha do desprezo ”
“ Bete morreu ”
“ Lena ”
“ Hoje ”
“ O Adventista ”



Werden, esse ilustre conhecido

Werden Tavares, 30, é um publicitário “do rock”. Mas ao invés de ficar só nos headphones, em solitárias andanças atrás de discos novos pela internet, o Werden resolveu convergir seus interesses e virar documentarista de música. Amante do audiovisual e músico, o Werden já gravou quatro documentários, sendo um deles intitulado “Rock Sergipano: esse ilustre desconhecido” – produto do seu trabalho de conclusão de curso. Em entrevista, esse estudioso da música sergipana fala da qualidade do som feito aqui na terrinha, e do cenário musical que vem se configurando com a ousadia da ‘nova geração’.

e-Sergipe – Como você começou a fazer documentário? E de que forma surgiu o desejo de falar do rock sergipano?

Werden – As coisas foram acontecendo naturalmente. Na verdade, eu sempre tive banda (ex-‘Os Verdes’, e atual carreira solo) e andei com os caras do rock daqui. Nessa época eu estava prestes a me formar em Publicidade e, como gostava muito do audiovisual, acabei unindo o útil ao agradável: vídeo-documentário, rock e o gosto pela música. A partir disso eu não parei mais. Sempre que surgia algo referente ao rock sergipano para fazer, nós criávamos algo especial lá na *Aperipê: assim surgiu o ‘Especial Aperipê Rock Sergipano’. Logo depois, eu acompanhei a banda ‘Plástico Lunar’ numa mini-turnê pelo Nordeste. Na ocasião, eu preparei o documentário ‘Coleção de Viagens Espaciais’, este que é o nome de um dos CD’s da Banda. Já o último que eu fiz foi o ‘Music From Sergipe’, que tratava de algo de música sergipana de uma forma mais geral, buscando falar de outros estilos fora do rock.

*O publicitário compôs a equipe da emissora de TV sergipana por quatro anos.

e- Sob o seu ponto de vista de documentarista, quais os elementos do rock sergipano que contam a história da identidade local?

W- Existe identidade no rock sergipano, e explico o motivo. O rock daqui é mais abrangente do que em outros lugares. Lá fora você tem uma cena dividida em nichos, tipo o reggae, o rock, o punk rock, o que não acontece aqui. Nós juntamos tudo e criamos um som singular. Exemplos disso são as composições de bandas como ‘Reação’, ‘Plástico Lunar’ e ‘Naurêa’. São estilos diferentes, mas com a pitada do rock. E além da identidade das bandas, tem o fato de os músicos tocarem em várias bandas diferentes. O Léo, tecladista da ‘Plástico Lunar’, por exemplo, toca comigo, com a Naurêa, na ‘Banda dos Corações Partidos’ e até na Orquestra Sanfônica. São cinco coisas totalmente diferentes e que, a princípio, não tem nada a ver, mas que no fundo compartilham em essência sergipana. Como Sergipe é um estado pequeno, onde todos se conhecem, acaba tendo uma confluência de produção entre as bandas.

e - … e a que se deve essa confluência?

W- Talvez por não terem tanto poder econômico, essas bandas se ajudam. Vou citar um exemplo de união: No Manguebeat, o DJ Dolores*, que também é designer, combinou de fazer a capa do disco da galera. O produtor Paulo André produzia os shows do pessoal. Ou seja, independente dos estilos, esse espírito de cooperativismo também funciona por aqui. Há alguns dias, houve um show da banda sergipana Cabedal para a despedida do baixista deles, onde o vocalista da Naurêa Alex Sant’anna e o da Maria Scombona, Henrique Telles, fizeram participações para ajudar a atrair público. Outra explicação para essa interação é o fato de termos poucos lugares para tocar. E quando tem, precisa-se de vários tipos de públicos. Nós trabalhamos juntos, numa sinergia só. A necessidade faz a união, e acaba criando uma identidade.

*Helder Aragão – o DJ Dolores – além de ser DJ, é designer.

e- Depois do lançamento do primeiro CD, vimos a grande aceitação que a banda sergipana ‘The Baggios’ está tendo no cenário nacional e internacional, emplacando boas resenhas em vários blogs. Pra você, em que nível a The Baggios carrega essa identidade sergipana?

W- Pra mim a The Baggios é uma das bandas mais completas da cena independente nacional, por isso há tanta repercussão com o lançamento do álbum. Os traços de sergipanidade da banda estão no sotaque de *Julico e em alguns elementos instrumentais que eles incluem de forma sutil. Regionalismos à parte, existe uma assinatura característica no som da ‘Baggios’, o que dá a eles uma cara cosmopolita. São influencias do grunge, do blues, do rock inglês…talvez essa mistura de coisas universalize o som da banda e o tempero regional seja a assinatura.

*Júlio Andrade é o vocalista da The Baggios, e é natural do município de São Cristóvão – cidade histórica, localizada na Grande Aracaju.

e- Com relação ao lançamento de trabalhos novos e autorais, que também estão sendo elogiados, a o que você atribui esse movimento?

W- Manter uma banda em Aracaju requer um grande esforço. A ‘Road to Joy’, por exemplo, é formada por músicos que não utilizam o som como fonte principal de renda. Eles tocam por prazer, essencialmente, e estavam há muito tempo gravando, tiveram tempo para apurar o som e fazer uma música com muita qualidade. Com a ‘Nantes’ foi o mesmo processo. Tocaram, participaram de shows e turnês até chegar o momento de gravar o disco. Gravaram com calma, semelhante a Road to Joy, e o resultado também foi muito bom. Se você toca e tem um material de qualidade, a tendência é o sucesso.

e- Você citou qualidade. Fora a música em si, as pessoas que trabalham na criação, produção e divulgação da música são mais especializadas hoje em dia? Isso favorece o crescimento da música sergipana?

W- Com certeza. Obviamente que não há ninguém que foque apenas na produção. Muitos também são músicos e que trabalham de forma múltipla e diversificada. As capas de CD das bandas sergipanas atualmente são muito boas, e esse é um aspecto importante, pois a capa, o encarte e todo o material visual são o caminho para levar alguém a ouvir um som. O *Paulo André me disse uma vez que ele recebe muitos CDs e materiais de bandas do Brasil inteiro. Para selecionar, a primeira triagem se dá no material visual. Se for feio, ele já descarta. Com exceções, logicamente. O seu material artístico é um produto para o público. E o primeiro passo é ser bonito. Hoje, o nosso produto é de qualidade, as músicas são boas e o material é bem planejado.

*Paulo André é produtor do festival Abril Pro Rock, que acontece anualmente em Recife (PE).

e- Com essa ‘profissionalização’, em que nível as melhores bandas daqui já se consolidaram nacionalmente?

W- A ‘Plástico Lunar’, hoje, é uma das maiores bandas do país. Ela foi uma das bandas mais desejadas em festivais pelo Brasil inteiro, a exemplo do Goiânia Noise e Bananada, ambos em Goiânia, e do Psicodália, que acontece sempre na região sul. A The Baggios é a mesma coisa, e a prova disso é que ela será lançada pela gravadora Deckdisc, do Rafael Ramos, o cara que lançou Raimundos e Mamonas Assassinas. O Rafael pirou quando escutou The Baggios.

e- Conta pra nós um pouco da experiência de ter acompanhado o Plástico Lunar ao festival Psicodália para a gravação do documentário ‘Coleção de Viagens Espaciais’. Como é o processo de conceber um documentário sobre música?

W- A ideia do ‘Coleção de Viagens Espaciais’ nasceu, na verdade, durante a viagem com a Plástico Lunar ao Psicodália. Lá eu confirmei o que eu já supunha, que eles são uma das bandas mais cultuadas no meio independente nacional e que precisavam de uma divulgação maior e um material mais consistente. Quando eles me disseram que iam fazer uma tour pelo NE e que incluía o Abril Pro Rock (maior festival independente do Brasil) eu pensei que era a hora certa para esse registro. O vídeo mostra uma banda de rock viajando pelo Nordeste até a “meca do Rock nacional”: o ABP. Acabou sendo mais que um registro simples de rock tour.

Além dos elementos comuns de roteiro, as coisas que foram surgindo na viagem foram dando o tom do documentário. Impossível viajar com o pessoal da Plástico Lunar, que são meus amigos há mais de 10 anos, e não colocar as piadas e as coisas engraçadas que acontecem nas viagens.

e- A internet ajuda muito a divulgação das bandas menores, que estão começando agora, mas quem faz música quer tocar ao vivo. Na sua opinião, o que falta para as bandas menores quebrarem a barreira territorial de Sergipe e fazerem mais shows pelo Brasil?

W- Primeiramente, falta um circuito de shows aqui mesmo. Tirando o *Coverama, o último grande festival que houve aqui foi o “Nada pode parar o Rock”, realizado por mim em 2006, que trouxe bandas de fora e também contou com as bandas daqui de Sergipe. Apesar do ótimo trabalho do Rock Sertão, em Glória, nós precisamos de algo no eixo da capital, Aracaju, e pra isso precisamos de iniciativo e união. Além disso, os circuitos e festivais proporcionariam às bandas maior rentabilidade para gravar CD e se projetarem pra fora. Eles poderiam viver disso. Nós precisamos também de mais lugares pra tocar, mais casas de show.

*Festival sergipano que premia a melhor banda cover.

Fonte: e-sergipe

Esporro


Em um carnaval sem dinheiro, nem nada pra fazer, coloquei o 486 na penteadeira da minha mãe, tostei sem ar condicionado com os 40 graus do verão carioca e durante quatro dias praticamente escrevi um livro. Saí colocando na telinha as histórias que vi e vivi intensamente no começo dos anos 90 no rock underground do Rio de Janeiro como guitarrista do Soutien Xiita. Tempos de guitarras altas, pessoas peladas, loucuras e muito barulho. 'Esporro', meu terceiro livro, é sobre as esperanças da juventude, cair na estrada, tocar, compor e viver o sonho do rock com alguns amigos.

As fotos foram surgindo das gavetas de várias casas, os flyers e cartazes perderam a poeira e os ácaros e foi todo mundo para o vidro do scanner. De lá para as páginas do livro sob a diagramação e capa de Flávio Flock, que viveu com a mesma intensidade os palcos toscos da cidade como baixista do Poindexter. Ansiedades simples como ver que o cabelo cresceu mais um pouco, que a primeira nota do seu conjunto saiu num fanzine ou, pasmem, no Globo ou na Bizz (ou seria Showbizz?).

Quem viveu o sonho do rock vai se ver nas roubadas do livro, outros vão se lembrar de shows que foram. Você pode estar em qualquer cidade do mundo, mas o rock, os palcos imundos, o equipamento ruim, a cerveja e sentar na calçada de madrugada para esperar o primeiro ônibus, serão sempre iguais.

Quem é Leonardo Panço?

E por que não responder em primeira pessoa? Comecei a tocar em 88, tive algumas bandas até 91, mas acho que começou mais pra valer em 92 com o Soutien Xiita. Foi quando eu comecei a ter alguma vaga noção do que estava fazendo. Gravamos demos e um disco. Depois com o Jason de 97 a 2011, durante 14 anos fiz quase 100 shows no nordeste, mais de 100 na Europa em três turnês gringas, gravei quatro discos, vários lados b, faixas saíram em coletâneas, lancei três discos no exterior, sendo um em LP (uau). Foram vários clipes, centenas de outros shows pelo Brasil até minha saída em janeiro passado.

Fiz fanzines desde 91, colaborei em revistas, jornais, isso mesmo antes de entrar para a faculdade. Oficialmente sou jornalista desde 98, mas já o era muito antes disso. Fundei a Tamborete Entertainment em 97, lancei CDs de muitos artistas, meus três livros, o DVD do Verbase e por aí vai.

Em 2008/2009 passei por um monte de cidades com o lançamento do segundo livro 'Caras dessa idade já não leem manuais'. Nessa época o lêem ainda usava chapéuzinho. É muito comum nos Estados Unidos os escritores fazerem turnês promocionais. Mestres do punk rock como Jello Biafra, Henry Rollins e Michael Board fazem. Resolvi fazer também. E agora no final de 2011 inicio minha segunda gira de lançamento, agora do 'Esporro'. E desta vez não lanço o livro sozinho. Comigo o selo Subfolk de João Pessoa e o selo Bons Costumes da Editora Jovens Escribas, de Natal. Lindo demais. Parcerias, energias conjuntas, muitas datas, esforços concomitantes.

Nos vemos em alguma cidade ainda este ano ou em 2012, afinal o Brasil é bem grande e a viagem não termina agora.

por Leonardo Panço

Foto: Mauro Pimentel

facebook/esporro

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Barely legal

Sim, meus amigos: o tempo não para. Frances Bean Cobain, a filha do mais famoso suicida e da mais polêmica esposa da história do rock, está fazendo 19 anos hoje. Ela nasceu em Los Angeles, Califórnia, no dia 18 de agosto de 1992. Michael Stipe, do REM, e a atriz Drew Barrymore, são seus padrinhos de batismo. Viu o pai pela última vez no dia 01 de abril de 1994, ao visitá-lo no Exodus Recovery Center, uma clínica para reabilitação de dependentes químicos.

De lá pra cá, tem se estranhado com a mãe, que não é mesmo flor que se cheire - em 2008 ela bancou uma festa de dezesseis anos para Frances na célebre casa de espetáculos “House of Blues”, de Los Angeles, com o tema “suicídio” - RIP Childhood, infância, descanse em paz. Foi um escândalo, como quase tudo que tem o dedo de Courtney. Por estas e outras, nos últimos anos como menor sua filha viveu com a tia e a avó.

Frances Bean aparece pouco na media. Deu ao todo, até hoje, apenas 5 entrevistas, além de ter feito alguns ensaios fotográficos. O mais célebre deles, clicado pelo estilista Hedi Slimane, veio à luz há pouco e a mostrou ainda herdeira da beleza de seus pais, embora bem mais magra e tatuada, ao estilo “heroin chic” – com uma silhueta espectral, punk e esquálida. Numa das fotos, lembra muito Amy Winehouse. Um mal presságio? Espero que não.

Frances tem se arriscado também pelas artes plásticas: expôs na galeria La Luz de Jesus, templo da arte experimental-proletária da Califórnia, uma mostra de desenhos doentios singelamente intitulada “Scumfuck”. Seu traço minimalista lembra o do pai, que também desenhava – é dele a capa do disco “incesticide”, do Nirvana.

por Adelvan

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

TECLAS PRETAS

Esta é pra quem sempre se pergunta o que anda fazendo o ex-vocalista dos Dead Billies ...

A exemplo de tantos outros, mais um dos grandes talentos do rock baiano bateu asas e voou para morar em São Paulo. Desde julho, o cantor Glauber Guimarães (ex-Dead Billies), está residindo em uma casa no bairro de Moema.

Antes de ir embora, porém, compilou todas as gravações do seu projeto Teclas Pretas, que toca com o guitarrista e produtor Jorge Solovera, intitulou 2005-2011 e lançou na internet para download gratuito – tanto para fechar um ciclo, como para servir de cartão de visitas em São Paulo.

“Procurei compilar as músicas que fiz com Solovera e mais uma da primeira formação, O Ataque das Pessoas Marionetes, por que gosto muito dela e queria incluir algo dessa fase, que tinha Heitor Dantas, Tadeu Mascarenhas e Ricardo The Flash Alves”, detalha.

“Mas é basicamente uma compilação da minha parceria com Solovera, de 2009 para cá, mais alguma coisa inédita, como Ópera Sabonete”, diz.

Elogiado publicamente por Caetano Veloso em sua coluna no jornal O Globo (republicada por A TARDE aos domingos), Glauber diz que a Teclas Pretas continua: “Vamos continuar produzindo. Ele grava as partes dele aí em Salvador e eu aqui”, garante.

“Temos repertório para mais um disco inteiro, coisas bem legais que vamos fazendo no mesmo esquema, aos poucos, agora através da net”.

Glauber não diz exatamente o que motivou sua partida da cidade natal, mas justifica: “Foi uma decisão de vida, mesmo. Chega em um ponto que a gente tem que vir pra cá. Uma hora ia acontecer. Pra mim foi bem natural, até pela minha relação com a cidade, não digo nem com a cena rock. Mas é uma pena que a gente tenha que sair daí”, lamenta o músico.

No que botou o pé no chão em SP, Glauber já saiu correndo, fazendo contatos e firmando uma parceria com outro músico baiano, Murilo Goodgroves.

“Temos as mesmas referências e fizemos duas músicas falando de São Paulo e de ser forasteiro por aqui. Devemos lançar até o fim do ano”, promete.

Um outro projeto que deve rolar em breve é “um show de covers dos anos 1960, com violão, acordeom, violino, uma coisa meio beatnik, de café mesmo”, planeja. Enquanto isso, vale baixar o álbum 2005-2011 e se comunicar com o cara. “Meu QG é o Facebook. Podem procurar Glauber Guimarães”, convida.

www.teclaspretas.blogspot.com

por Franchico

rock loco

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Marcelo Nova, 60 Anos

Houve um breve período, no final da década de 80, em que os meios de comunicação pareciam estar testando os limites da liberdade de expressão recém conquistada com o fim da censura imposta pelo golpe militar de 1964. Por conta disto, havia uma verdadeira proliferação de músicas e imagens com teor explícito, algumas de evidente mau gosto, tanto no rádio quanto na televisão. Foi nesta época que “Silvia”, um libelo machista/sexista composto “nas coxas” pelo grupo baiano Camisa de Vênus num ensaio e incluído em seu disco “Viva! Ao Vivo”, registro de um show no Caiçara Music Hall de Santos, São Paulo, virou “hit”. Não esqueço da imagem de minha mãe limpando a casa enquanto a voz poderosa de Marcelo Nova bradava no rádio “pois eu vi você com a mão no pau do vizinho! Ô Silvia, piranha! Ô Sua puta!”. “E pode?” – era só isso que vinha à minha cabeça.

Fiquei sabendo que podia. Na verdade não podia, mas haviam pessoas “abusadas” que gostavam de ir de encontro às convenções e fazer as coisas sem se importar se seus atos se encaixavam nos padrãos aceitáveis pela sociedade. O pessoal do Camisa de Vênus fazia parte desta turma, e eu resolvi que queria ser um deles.

Virei um “roqueiro”, um rebelde – o que foi uma mudança e tanto, já que até pouco tempo antes era um moleque carola que tirava 10 nas aulas de catecismo e ficava pegando no pé de minha irmã porque ela chegava tarde demais em casa. “Viva!”, o disco Ao Vivo do Camisa de Vênus, se tornou a aquisição número um de uma coleção que, de lá pra cá, nunca parou de crescer. Me espelhava, especialmente, no vocalista, Marcelo Nova, sempre polêmico e sem papas na língua, mesmo que, por pura ignorância e ingenuidade, não conseguisse reconhecer suas contradições, como o fato de viver criticando o então emergente rock nacional por copiar descaradamente o que era feito “na gringa”, sendo que ele mesmo praticamente xerocou “that´s entertainment”, do The Jam, em “passatempo”, e o refrão de “gimme shelter”, dos Stones, em “Só o fim”. O pessoal da Bizz tentou me alertar, mas não teve jeito: na minha cabecinha de fã era tudo intriga daqueles críticos frustrados. Meu ídolo era foda, deveria estar certo.

Não estava. Como todo mundo que fala demais, Marcelo Nova fala (e faz) muita besteira. Mas não deixa de continuar sendo um cara importante não só para minha formação musical, como para a própria história do rock brasileiro. Como não respeitar, afinal, um cara que emprestou sua guitarra para Chuck Berry tocar na primeira vez em que ele esteve no Brasil, em 1993? Que mandou a toda-poderosa Som Livre, braço radiofônico da Rede Globo, literalmente tomar no cu, quando eles insistiram para que mudassem o nome da banda ? “Vamos mudar para “capa de pica”, foi sua resposta. Um cara cuja banda lançou o primeiro álbum duplo do rock nacional, praticando um evidente e proposital suicídio comercial, justamente quando estava no auge de sua carreira, fazendo sucesso em todo o Brasil com “Simca Chambord”, “Deus me dê grana” e a já citada “só o fim”, a mais tocada nas rádios daquele ano de 1986. Depois lançou-se em carreira solo e antecipou a moda dos discos acústicos com “blackout”. Antes, ajudou a dar um último suspiro de vida artística ao ídolo-mor Raul Seixas, então em total ostracismo, gravando com ele o disco “A Panela do Diabo”. Foi acusado, injustamente, de oportunista, mas oportunistas foram os que gravaram musicas e discos em tributo a Raul depois de sua morte quando não davam a mínima para ele enquanto era vivo.

Sim, eu ainda admiro Marcelo Nova, mesmo depois de episódios como a “pataquada” que foi sua única passagem por Aracaju em carreira solo. Foi num projeto chamado “Acorde”, ao lado da Karne Krua, no Mercado Central, há aproximadamente 6, 7 anos. Veio sem guitarrista. Improvisou com Fabio, conhecido na cena local e fã de longa data do Camisa de Vênus, um arremedo de show que só não foi um fracasso total porque o cara é, no final das contas, um frontman do caralho! Já tinha tido a oportunidade de conferir este fato “in loco” nos anos 90, quando ele passou por aqui com uma turnê que reunia o Camisa em formação “quase” original, com Karl, Robério e Gustavo tocando juntos com Marcelo pela primeira vez desde 1987.

Hoje, 16 de agosto de 2011, Marcelo Nova faz 60 anos. Para comemorar, está lançando “Hoje no Bolshoi”, DVD gravado Ao vivo em Goiânia que será também o primeiro lançamento em formato Blu-ray do rock nacional.

Meus parabéns.

Por Adelvan

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(Wikipédia) Marcelo Drummond Nova (Salvador, 16 de agosto de 1951) é um cantor e compositor brasileiro. Foi vocalista da banda baiana Camisa de Vênus, desde o início dos anos 1980 até o seu primeiro final em 1987. Em 1988 iniciou sua carreira solo tendo gravado, no ano seguinte, um LP ao lado de Raul Seixas, intitulado A Panela do Diabo. Em 1995, reuniu-se com o Camisa de Vênus e lançou mais dois álbuns, sendo um ao vivo e outro de estúdio. Em 1998 retomou a sua carreira solo.

Reúne-se esporadicamente com o Camisa de Vênus e seu último trabalho de estúdio é o álbum O Galope do Tempo de 2005. É conhecido, principalmente, pelas músicas Bete Morreu, Eu não Matei Joana D'Arc, Simca Chambord e Só o Fim, com o Camisa de Vênus, e Pastor João e a Igreja Invisível e Carpinteiro do Universo, com Raul Seixas.

Marcelo Nova nasceu e cresceu em Salvador. Na infância era muito tímido e concentrava todas as suas horas livres em ouvir música. Ficava tardes e tardes inteiras apenas ouvindo música e prestando atenção aos detalhes, aos instrumentos e ao modo pelo qual eles eram tocados nos vários discos.[1] Foi nessa época que teve o primeiro contato com o rock and roll, quando pediu que seu pai lhe comprasse um disco de Little Richard, chamado Here's Little Richard.[1] Aos 14 anos viu Raulzito e os Panteras tocarem ao vivo, o que o fez perceber que era possível fazer o estilo de música que ele gostava aqui no Brasil.

Na adolescência e início da fase adulta trabalhou com seu pai, que tinha uma clínica de fisioterapia, fazendo pedigrafia.[1] Trabalhou também vendendo seguros antes de montar uma loja de discos chamada Néctar, em meados dos anos 70.[1] Com a loja, Marcelo consegue um emprego em uma rádio de Salvador, a Aratu FM, passando a ser responsável por um programa, chamado Rock Special, e pela programação da rádio.

Com o programa, Marcelo Nova torna-se conhecido fora da Bahia por pessoas do Rio e de São Paulo ligadas a gravadoras que lhe chamavam para dar opinião sobre vários discos que eles recebiam das matrizes e não tinham a menor ideia do que se tratava e de como comercializar.

No início dos anos 80, Marcelo Nova vende o ponto da loja e, com o dinheiro, faz uma viagem para Nova Iorque onde toma contato com o movimento punk. Percebe que, com o conhecimento musical que ele tinha adquirido - aliado à filosofia punk do "faça você mesmo", poderia montar uma banda e fazer música mesmo sem grandes virtuosismos.

Ao voltar de viagem, chama um amigo que tinha conhecido na TV Aratu, Robério Santana, para formar uma banda que tocasse rock and roll e punk rock. A banda foi formada ainda em 1980 e, após o lançamento de um compacto, ficam famosos na Bahia, o que lhes abre as portas para que gravem um álbum A banda duraria sete anos e lançaria, nesse primeiro período, quatro álbuns de estúdio e um ao vivo, ficando conhecida no Brasil inteiro e chegando a vender mais de 300 mil cópias do disco "Correndo o Risco".

O Camisa de Vênus voltaria a se reunir em 1995, lançando mais dois álbuns, um ao vivo e outro de estúdio. Após novo fim, em 1997, se reuniriam esporadicamente nos próximos anos. Atualmente encontra-se em atividade com Eduardo Scott (ex-Gonorréia) substituindo Marcelo Nova nos vocais.

Após o último álbum da primeira formação do Camisa de Vênus, Marcelo Nova juntou músicos para formar uma banda de apoio para a sua carreira solo. A primeira formação da Envergadura Moral, como foi chamada, contava com Gustavo Mullem nas guitarras, João Chaves (o Johnny Boy) nos teclados, Carlos Alberto Calasans no baixo e o veterano Franklin Paolilo na bateria.

Após ensaios e apresentações, a banda entra em estúdio e grava o primeiro disco, Marcelo Nova e a Envergadura Moral, lançado em 1988. O álbum é composto de baladas, sendo mais intimista do que os trabalhos anteriores com o Camisa de Vênus.[4] Conta, ainda, com um cover de E Nós aqui Forrumbando, que foi renomeada para A Gente é sem Vergonha, tendo a participação de Genival Lacerda.

Em 1984, durante um show do Camisa de Vênus no Circo Voador, o grupo foi avisado que Raul Seixas viria para assisti-los e queria conhecê-los. O que acabou acontecendo foi uma festa com o Camisa de Vênus, mais Raul Seixas, tocando covers de clássicos do rock para quem compareceu ao show.

A partir daí, Marcelo Nova e Raul Seixas tornam-se grandes amigos. Em 1989 decidem gravar um disco juntos e saem em turnê, realizando 50 shows.[3] Mais tarde naquele ano seria lançado o segundo álbum da carreira solo de Marcelo Nova, A Panela do Diabo, que viria a ser o último disco gravado por Raul Seixas, lançado dois dias antes da sua morte.[6] Depois deste disco, Marcelo Nova foi tido por muitos como o sucessor de Raul Seixas,[7] título do qual ele nunca gostou e que sempre contestou.

No início dos anos 90, Marcelo Nova estava em turnê quando o presidente Fernando Collor confiscou as cadernetas de poupança de todo mundo. Os shows que ele tinha marcado foram cancelados.[3] Ele resolveu, então, pegar um violão e sair com mais um músico, sem nenhum instrumento elétrico, fazendo uma turnê acústica, o que trouxe a ideia de fazer um álbum inteiro com essa sonoridade.[3] Em 1991, saía o disco Blackout, primeiro disco integralmente acústico da história do rock nacional, que marca a entrada de André Christovam, substituindo Gustavo Mullem, nos violões da banda Envergadura Moral.

No álbum seguinte, em 1994, Marcelo pegou a sonoridade acústica e inverteu-a completamente, produzindo um disco com muita guitarra e muito peso.[3] O álbum recebeu o nome de A Sessão sem Fim e traz na guitarra o veterano Luis Sérgio Carlini, que ganhou fama como guitarrista da banda de Rita Lee dos anos 70, o Tutti Frutti.

Após a volta do Camisa de Vênus, em 1998, Marcelo Nova resolve gravar um disco só com releituras de músicas de sua carreira, experimentando novos arranjos. A ideia surgiu quando ele viu uma ultra-sonografia de um feto e ocorreu-lhe que ele pulsava num ritmo exato, não tinha futuro, nem passado, era um ponto de luz.[11] Assim, gravou o disco Eu Vi o Futuro, Baby. Ele É Passado com apenas um músico (o multi-instrumentista Johnny Boy) que, com a exceção do próprio Marcelo Nova em uma das faixas, tocou todos os instrumentos. Este é o último álbum de Marcelo a sair por uma grande gravadora, a extinta Abril Music.

No ano seguinte, Marcelo Nova lança dois álbuns ao vivo a partir de dois shows selecionados por um fã, Luís Augusto Conde.[12] São eles o Grampeado em Público - Volume I e Grampeado em Público - Volume II que saíram pelo selo independente Baratos Afins e foram distribuídos apenas nos shows que Marcelo Nova realizou pelo país, tendo vendido cerca de 6 mil cópias.

Em 2001 sai a caixa tripla Tijolo na Vidraça, na qual o artista faz um apanhado da sua carreira contando com músicas antigas remasterizadas, releituras e inéditas. Depois de um tempo excursionando pelo país, Marcelo solta, em 2003, uma coletânea com grandes sucessos de sua carreira, tanto solo como com o Camisa de Vênus, chamada Em Ponto de Bala.

No ano de 2005, após 13 anos compondo e criando o conceito, sai seu último álbum de inéditas, O Galope do Tempo. O álbum possui características existencialistas, indo do nascimento à morte.

CAMISA DE VÊNUS

Revista Bizz, Ed. 03 – outubro de 1985

"Cheguei, painho." Quem avisa é o guitarrista Karl Franz Hummel. Apesar do nome, ele é baiano - assim como os outros quatro integrantes do Camisade Vênus.
A banda foi parida há três anos no sítio Birita, km 7 de uma estrada qualquer do interior da Bahia. Robério era desenhista-publicitário; Marcelo, radialista; e Gustavo, bancário. Aldo tocava bateria numa igreja e "Karl vendia pulseiras, levantava ao meio-dia... um vagabundo", completa Marcelo.
Com uma formação musical vinda da pilha de discos que tinham em casa e dos superoito de shows gravados por Marcelo - quando ele "esbarrou" em Nova York - acharam por bem fazer um rock temperado com azeite-de-dendê. Alguma coisa com punch suficiente para tirar as pessoas "da letargia de verão". Marcelo ainda acrescenta: "De janeiro a março aquela terra parece Malibu".
Da Bahia, o último estouro musical que vem à cabeça é o Tropicalismo. Depois disso, só Novos Baianos e Raul Seixas - década de 70 -, num momento em que, conta Marcelo, "Elis Regina e Chico Buarque faziam passeata contra a guitarra elétrica". E agora o Camisa de Vênus.
Obstáculos no início de carreira? Obviamente. Primeiro pelo nome, depois por estarem afastados do eixo São Paulo-Rio. Fora o fato da mídia ter armado uma reputação punk para a banda.
E punks eles não são. Isso porque no último disco, além da formação-base de palco (duas guitarras, baixo, bateria e vocal), incluíram teclados, percussão, violino e saxofone. E Marcelo completa: "Temos 365 influências. Camisa de Vênus não tem paralelo lá fora. Não se parece com nenhuma banda".
Não mesmo. Lembra tudo. Basta ouvir o disco para perceber que passam pelo heavy - mas como tradição do solo de guitarra -, bebem do punk inglês da década de 70 e chegam até o reggae. Desatrelados de qualquer movimento, aceitam apenas um: "O da maré, que enche e vaza", diz Marcelo.
O punk fica por conta de uma iniciativa musical que dispensa virtuosismos, nas letras carrregadas de urbanismo e pornografia, e num vocal narrativo, pontuado a gargarejos.
Apesar dos anos de estrada, foram ignorados todo esse tempo pela imprensa. Hoje eles lotam qualquer espaço. Quem garante o sucesso é o público, que este ano jogou para primeiro escalão do Ibope a música "Eu não matei Joana D´Arc".
A glória não assusta. Novamente Marcelo: "Não seguimos nenhuma estratégica. Se uma dona-de-casa gosta do nosso som é porque se identifica com ele".

Nem panos quentes, nem papas na língua

BIZZ - Que tal começar por um balanço de carreira? Vocês surgiram numa época(82) em que o cenário estava tomando pela Blitz. Como foi chegar nesse cenário com uma proposta como a do Camisa de Vênus?
Gustavo -Não mudou muita coisa não, viu. Tem muita Blitz e Rádio Taxi por aí.
Karl - Não estamos muito preocupados com o Cenário, e Sim com o Camisa e com o que a gente faz.
Marcelo - Não foi difícil, foi fácil. Se é que foi realmente difícil. se a gente observa por esse ângulo de cenário, o que acontecia na Bahia em 82 era uma reciclagem do tropicalismo, e Moraes Moreira. Pepeu Gomes. Baby Consuelo. Caetano, Gil, Bethânia, Gal. E. tanto sonoramente como no texto, o Camisa é diferente de todos estes exemplos. O fato de a gente ter vindo para São Paulo e Rio de Janeiro foi mais uma conseqüencia do que a gente já tinha feito em Salvador. Quando a Blitz gravou ´batata frita, eu sei que vou me amar, essas coisas o Camisa já era sucesso cm Salvador com ´´Meu Primo Zé´´. que tocava em tudo quanto era rádio FM. Só que a veiculação era limitada a uma cidade. Não tinha o poder de penetração que há em São Paulo e Rio de Janeiro.

BIZZ - Façam um balanço do que vocês pretendiam e o que vocês conquistaram.
Marcelo - Gravamos um compacto em Salvador num estúdio pequenininho de oito canais. Aí a música começou a tocar e começamos a nos apresentar para casas cheias, tocamos para vinte mil pessoas no Farol da Barra. E aí pintou o lance de gravar um LP. que a princípio seria pela Fermata. Viemos para São Paulo para isso e. quando estávamos no estúdio, uma pessoa entrou. ouviu e propôs para o Toninho (o contato da gravadora) que o disco poderia sair pela Som Livre. Como realmente acabou acontecendo. Só que depois de três meses que o disco saiu houve um problema interno lá deles.. Queriam que o nome da banda fosse mudado por razões que sei lá... Era imoral, indecente, ia dificultar a penetração na mídia etc. ... E se fossemos bons cordeiros, bons cabritos, em compensação eles dariam para a gente o sistema de mídia da Globo inteira. Não aceitamos essas pressões e pedimos as contas. Na época foi duro pra caramba. Custou vários almoços de hamhúrgueres. vários jantares de cheese-salada.
Karl - Morada na Boca do Lixo.
Marcelo - Só que hoje. quatro anos depois. a gente olha para trás e vê que foi a decisão mais acertada que poderíamos ter tomado. Porque durante este tempo aprendemos que nossa decisão é mais importante até que a vontade de qualquer pessoa. Ficamos um ano e meio sem conseguir gravar, e o segundo LP veio pela RGE que. por mais paradoxal que pareça é do mesmo dono da Som Livre. E. quando ´´Joana D´Arc" virou hit de rádio e invadiu a tal da mídia e a banda vendeu lO0 mil LPs. fomos convidados para fazer Chacrinha... E com o mesmo nome. Porque aí a falsa moral caiu por terra. O que era indecente passou a ser sarcástico. Sabe, aquela mentalidade: ´´Esse nome é bom, é sarcástico, vende 100 mil cópias e a gente vai ganhar dinheiro".
Karl - E a coisa mais engraçada é que quando a RGE resolveu relançar o primeiro LP. que tinha sido encostado pela Som Livre, o disco veio com um selinho dizendo: "Incluindo ´Bete Morreu´". E essa música escandalizava todo mundo da gravadora por causa da letra violentaram Bete, espancaram Bete, ela nem se mexeu, Bete morreu".

BIZZ - Quais foram os indicadores que fizeram vocês sentir que a coisa ia acontecer, que vocês iam ser uma banda de sucesso?
Marcelo - Acho que foi quando "Joana D´Arc" se tomou um hit. Este foi o ponto, porque veiculou o Camisa nacionalmente.

BIZZ - E depois de "Joana D´Arc"?
Karl - Depois disso a gente resolveu adotar São Paulo.
Marcelo - Inclusive porque a gente sentiu que a linguagem do Camisa tinha muito mais a ver com uma cidade urbana. O drive de São Paulo contribuiu e o público também.

BIZZ - E por que São Paulo?
Karl - A gente saía de madrugada na av. São João, via aqueles anúncios de neon, aquela fumaça. Já estava todo mundo de saco cheio de menina com cabelo de Elba Ramalho, biquíni fio-dental de Ipanema, entende"? Uma coisa vulgar pra caramba. Chega a se tomar desagradável de tão vulgar que é. E hoje, um ano depois que estamos morando aqui, ninguém está pensando em sair para canto algum.
Marcelo - Somos baialistas agora.

BIZZ - Como?
Marcelo - Baianos que moram em São Paulo.

BIZZ - Falem um pouco do novo disco.
Marcelo - Viva ainda é o novo disco. Viva foi uma decisão da gente de gravar um disco para os fãs, talvez até como uma maneira de reconhecimento por eles terem colocado a gente onde estamos hoje. E ele é a cara do Camisa no palco, que é o nosso habitat natural, é onde o Camisa é. Adoramos estúdios, procuramos esmerilhar aqui dentro. Mas o Camisa é, indiscutivelmente, uma banda de palco, até pela participação do público, que é tão importante quanto a nossa. E isso está registrado nesse LP.

BIZZ - Mas tinha o fato de vocês estarem devendo, por contrato, um LP para a RGE.
Karl - Mas poderia ter sido um disco de estúdio!
Marcelo - E tinha chegado o momento de fazer um disco ao vivo Aliás, parece que depois que a gente fez um disco ao vivo estão saindo outros discos ao vivo também (risos).

BIZZ - Como por exemplo?
Marcelo - Eu tenho ouvido... Saiu RPM, Caetano...

BIZZ - E do novo, novo disco, este que vocês estão gravando aqui.
Marcelo - Estamos começando ainda. Inaugurando este estúdio.

BIZZ - Então falem das diferenças entre este e os outros LPs.
Karl - Está ligado à própria evolução dentro do nosso trabalho. Somos cinco, seis com o Petê (empresário). Trabalhamos há quase cinco anos juntos. E a integração da banda, a sonoridade das guitarras, as idéias... está tudo melhor. Não moramos mais na Boca do Lixo, não dividimos apartamento. Acho que as mudanças têm a ver muito com nossa mudança de vida.
Marcelo - Se você observar o primeiro LP, ele é um pau só do começo ao fim.
Karl - O segundo já vem com um melhor tratamento de estúdio.
Marcelo - Além da diversificação rítmica. Tem reggae, rap, balada... O terceiro já é ao vivo. E esse novo disco é como eu falei: estamos começando agora e só temos as bases prontas.

BIZZ - Na época em que formaram a banda, vocês fizeram uma versão de "Negue", além de outras músicas que têm elementos da MPB. Como a MPB entrou no trabalho de vocês?
Karl - O objetivo de ´Negue" era dilacerar... O Marcelo queria conseguir ser mais dramático que Maria Bethânia cantando. E acho que ele conseguiu.
Marcelo - Se o Camisa tem um texto, vamos dizer, sério, como é o caso de "Metástase", ele também tem um lado super sacana. que é o lado de "Silvia", "Negue"... do deboche... Não somos cinco intelectuais tentando fazer som dos Smiths, Cure, U2, enfim, que tenha similar lá fora. O Camisa pode ser uma banda ótima ou uma porcaria de banda, mas ela tem características próprias. Não parece com absolutamente ninguém. Tem identidade. E, também, o Camisa sempre foi misturado. Aldo, por exemplo, gosta do U2. Gustavo de heavy metal, do Rush. -. Karl gosta de Pete Townshend, Lou Reed. . - Quer dizer, essa coisa de mesclar sonoridade sempre acompanhou a gente. E o fato de a MPB ter vindo misturado também está incluído nisso. E da admiração que todos nós temos por Raul Seixas. Tanto que nesse LP vamos fazer uma regravação de uma música dele.

BIZZ - Qual?
Karl - Não sabemos ainda. Tem duas ou três. Não decidimos.
Marcelo - Inclusive quando a gente leu na BIZZ, onde Raul dizia que ele não gostava de ninguém. só do Camisa de Vênus, porque era a única banda que não se permitia fazer esse joguinho das Globos da vida, ficamos super orgulhosos. O velho ídolo dizendo que nós somos os melhores.

BIZZ - Vocês disseram uma vez que o único rock brasileiro que prestava era o que vinha de Brasília e da Bahia.
Marcelo - Na verdade o lance era chamar atenção para o fato de que não só no Rio e São Paulo as coisas aconteciam. Essa linguagem que parece estar concentrada especificamente no Rio - linguagem para criança de 10 anos de idade. E uma brincadeira. Grupo de faixa etária entre 20 e 30 anos, às vezes até mais de 30. cantando musiquinha com letra de Menudo para garotinho de 10, 12 anos curtir. Mas. por outro lado, como o Camisa está sozinho, não estamos integrados a nenhum movimento de rock. nosso lance sempre foi à parte, cada um faça o que quiser. Já rasgamos nosso contracheque faz tempo! Raríssimas bandas eu paro para ouvir e dizer: gostei. Gosto de Replicantes. Acho que eles têm uma coisa de desenho animado do rock que eles passam e acho isso super legal. E do Capital Inicial. Os textos do Renato Russo eu gosto muito. Acho que o Legião não encontrou ainda a sonoridade deles. Mas acho que têm competência para encontrar. No primeiro disco a coisa ficou meio U2 agora está meio Smiths...
Gustavo - Gosto também do Clemente, dos Inocentes.
Marcelo - E do Lobão. Se o Raul é um gênio, Lobão é febril - 42" de febre o tempo todo. Nesse ponto acho até que a gente se identifica um pouco - no lance de não ser sócio de clube nenhum. Outro dia uma revista veio me convidar para fazer uma entrevista. Chamava HV. Éramos eu, Arnaldo, Renato Russo. Paulo Ricardo. Herbert Vianna... Liguei para lá. agradeci a lembrança do meu nome e disse: Primeiro. querida, eu não tenho saco para discutir constituinte do rock com ninguém!". Sim, porque juntar esse pessoal. você acha que é para o quê? "E. segundo", disse ainda. "eu já passei dos 30. Não faço parte da jovem-guarda!"

BIZZ - Em que ponto vocês acham que o público se identifica com vocês para que fizesse o Camisa estourar?
Marcelo - Acho que a honestidade que a gente passa na expressão, na postura. Acho que isso foi importante no Camisa e as pessoas ouviram, assimilaram e acreditaram. E pensaram: "Não importa que eles não apareçam toda semana no Chacrinha. Não importa que eles não apareçam no Fantástico toda hora. A gente acredita". É por aí.

BIZZ - Mas há bandas que têm essa característica de honestidade e não conseguiram tanto sucesso como vocês?
Marcelo - É talento!

BIZZ - Mas vocês atingem uma faixa que ainda está contaminada por deficiência educacional típica de um país subdesenvolvido, expressa, principalmente, em letras como "Silvia " e Bete Morreu - estupro, homem que pega no pau para bater na mulher e coisas do tipo?
Marcelo - Durante o show, que dura em média duas horas, rola praticamente o repertório inteiro do Camisa, sem distinção do sério, sacana.,. Mas existe um outro aspecto: as músicas do Camisa que atingiram maior execução de rádio não são as que têm unia conotação política, social etc... Agora, isso cabe aos programadores de rádio. Existe essa tendência da mídia em tocar o que parece ser mais engraçado ou o que tenha uma assimilação maior. Ninguém quer tocar no rádio, por exemplo. "Batalhões de Estranhos", que diz: "Observe e informe aos homens de uniforme. Eles chegam por via aérea, sentinelas de nossa miséria". Porque essa música fizemos na época da ditadura militar. Era muito mais interessante para a rádio, para não correr o risco de ficar visada por sei lá quem eles imaginam que possa estar observando... Então tocavam Joana D´Arc´´. Essa distinção é feita pela mídia. Para a gente tem os dois lados da coisa. E nunca nos preocupamos em dar ênfase àquele lado ou não.

BIZZ - O que vem a mente quando vocês ouvem a palavra política?
Gustavo -Cachorrada! Troca de interesses! Qual o político sério neste país? Não conheço nenhum. Vai nascer ainda.
Marcelo - O problema é que a face política do país é a mesma há décadas! Hoje o nosso presidente José Sarney se diz porta-voz de uma Nova República. Se nós não tivermos a memória muito curta, a gente vai ver que há dois anos este mesmo personagem era presidente do partido do governo, dos militares! E está muito engraçado. Um outdoor de Paulo Maluf metendo paranóia na cabeça da população: que precisa de segurança, que assassino tem de ir para campo de concentração. Quer dizer: isso é o quê´? É a paranóia de um povo subdesenvolvido culturalmente também. Então parece que a solução é a repressão, é a paranóia. é a porrada. Vai ter Rota rodando 24 horas por dia, todo mundo de metralhadora na mão. E essa é a base de uma campanha eleitoral para governador do maior Estado do país. E isso é tenebroso! Todo mundo sabe. O que aconteceu com o Abi-Ackel, pelo amor de Deus´? Contrabandista, provado. Ele está em cana? Está na detenção´?
Gustavo - E o próprio Figueiredo! Ele foi exilado´?
Marcelo - A saída de Figueiredo do poder foi dando uma banana para o povo. Esse é o nível político que se vê no país. E eu acho até que Maluf vai ganhar! Então, de repente. a gente tem de parar e dizer: "Cada povo tem o presidente. governo que merece". Mas, também. acho que a gente (povo) é muito ingênuo. Ingênuo demais.

Cabra cega

"Bad Life", PiL
Robério - É Madonna.
Marcelo - Banda do Exército... (depois que entra o vocal) Esse é bom pra caramba. Mr, John Lydon. E PiL é uma das melhores coisas que rolam por aí. Trocou a coroa de rei dos punks para se tornar um artista sem compromisso com ninguém a não ser com si próprio. É um karma da porra ser rei dos punks. É o melhor! Faço coleção de camisetas do PiL.

"Malandragem Dá um Tempo", Bezerra da Silva
Aldo - Bezerra da Silva.
Marcelo - Matou ,porque era batuqueiro de afoxé. E aquela história da coerência - ele é coerente com o que faz. Se existissem dois Bezerra da Silva não existiria Lulu Santos. Mora no morro e faz o que é de lá.
Gustavo - Seja o que for, nem pagando eu ouço. Não suporto.
Marcelo - Não vou comprar para levar para casa e ouvir. Saco é ter 30 anos e dizer que "lá em casa continua o mesmo problema", como fazem muitas bandas por ai... "Vou apertar mas não vou acender" é genial. Se só tivesse rock ia ser tão chato! A gente ia fazer samba, pagode.

"Windswept", Bryan Ferry
Marcelo - Isso é profundo (irônico).
Gustavo - Aí eu gosto. Não sei nem quem está cantando, mas gosto da música.
Karl - Não gosto disso.
Aldo - Lembra Bryan Ferry.
Marcelo – É Bryan Ferry mesmo. Não é um cara que me bata. Manolo Otero demais. Nota 1 .5 para ele.
Karl - Topete era com Elvis Presley.
Marcelo - Ele deveria trabalhar na Fiorucci em vez de ficar empatando o tempo com a gente.
Robério - Parece musiquinha erótica do La Licorne.
Marcelo - Pelo menos ele tem uma certa história do Roxy Music.

"Flores Astrais", RPM
Marcelo - É ao vivo, mas não é o Camisa.
Karl - Para mim é de estúdio, com palmas.
Robério - "Isso é uma gravação.
Marcelo - O RPM é uma boa banda tecno-pop. E a única no gênero no Brasil que tem um texto decente. Essa música era dos Secos e Molhados, se não me engano.
Karl - Era do João Ricardo.
Marcelo - Eles fazem bem o que se propõem a fazer. Esse disco não parece ao vivo.
Karl - Disco ao vivo gravado em Los Angeles!

"The Antichrist", Slayer
Gustavo - Gosto de rock progressivo
Marcelo - Pode ser Black Sabbath, Metallica, Quiet Riot... É heavy. Não tem muito o que falar disso - é heavy.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Murillo, da Nucleador: Depoimento de um "thrasher".

Ganhei meu primeiro violão de meu pai aos 13 anos, um kashima daqueles que eram vendidos no Gbarbosa (super mercado). Nunca fiz aula de guitarra nem teoria musical. Comecei a tentar aprender os primeiros acordes graças a uma revistinha de cifras do Raimundos, daquelas que se compra em banca de revista. Sonhava em poder tocar músicas do Titãs. Ouvia aqueles acordes lindos do Acústico MTV deles e achava o máximo. Almejava aquilo. Chegava do colégio e já ia treinar violão, umas 5 horas ou mais ao dia, dormia com o violão do lado.

Enfim, aprendi a tocar. Comprei uma camisa do Nirvana e uma guitarra fuleira e montei uma banda aos catorze anos. Na época tava fissurado pelo hardcore melódico. Bandas como NOFX, Pennywise, Dead Fish mostradas pelo meu amigo Luigi e por Paulo Baiano me fizeram querer ter uma banda nessa linha. Montei a NO EAT FISH com os amiguinhos do colégio. Ousava a compor, ousava a escrever letras. Toquei no Espaço Emes aos 15 anos, aquilo pra mim foi muito radical, mas mais radical ainda foi tocar no antigo Espaço Moquifo junto com o Dead Fish, quando eles tocaram aqui em Aracaju pela segunda vez. Toquei com as duas bandas que tinha na época, NO EAT FISH e PARANÓICOS (que posteriormente viraria a PRO-X). Foi um dos grandes momentos de minha adolescência. Você sabe quando o momento é marcante quando você sente uns arrepios na nuca e os pelinhos dos seus braços se eriçam.

Gravei meu primeiro material quando tocava com a PARANÓICOS. Gravamos na casa de um cara chamado Rafael Findans, que tocava baixo na banda de hardcore melódico, Shifty. Gravação caseira, home studio, e ficou até legal. Não me lembro de nenhuma outra banda de hardcore melódico que lançou um material aqui em Aracaju, fora a Fluster. Fizemos muitos shows, me diverti a beça! Mais tarde a banda mudou o nome para PRO-X, sugestão minha, e chamanos Paulo Baiano pra cantar na banda. Aquele mesmo Paulo de antes, o cara mais velho de minha infância que me mostrava sons, foda! Nessa fase eu compus muito, escrevi muito. Devia parecer um maluco na escola, pois sempre estava escrevendo algo, a todo o momento. Escrever se tornou vício.

Saindo da adolescência ousei tocar death metal e grind core. Som de macho. Reconheço que não fazia idéia do que estava fazendo. Compus músicas com os olhos fechados. Cuspi palavras pesadas no papel e pra minha surpresa, ficou do caralho. Nasceu a INRIsório. Montei essa banda com aquele cara que outrora tinha gravado meu primeiro cd, Rafael Findans. A gente evoluiu musicalmente pra caralho, pois o som que faziamos sempre estava a um passo a frente de nós, nos impulsionando a ficarmos mais e mais técnicos até que finalmente tudo fez sentido, o som fez todo o sentido. Gravamos com Alex, meu ex companheiro de guitarra, um EP e um Split com uma banda carioca, e esse Split foi prensado e lançado internacionalmente. Deve ter até no Japão, sério. Pra um músico, mesmo amador, isso é uma puta conquista.

Já macaco velho do hardcore e do metal, ousei a montar minha primeira banda na qual sabia perfeitamente o que estava fazendo, a NUCLEADOR. Thrash Metal da pesada. Hardcore Crossover. Coisa de roqueiro doido! Com essa eu compus com facilidade e velocidade a mil, pra sair fumaça das cordas mesmo. Nas letras deixei de ser ingênuo e lírico. Fui pro lado da ficção alá Stephen King. Falei sobre filmes de terror, sobre aliens, sobre cerveja, sobre junkie friendship, sobre boceta! Em menos de oito meses de banda formada, gravamos outra vez um EP com Alex. Ficou fudido, fudido pra caralho! Sou muito autocrítico nas coisas que faço, mas esse material eu paguei muito pau, fiquei orgulhoso de mim mesmo e de meus companheiros de banda. Até hoje escuto e xingo um “puta que pariu”. Depois de lançado o EP, fomos chamados pra fazer uma turnê no sudeste, um dos meus sonhos mais juvenis. Fomos! Foi do caralho e Rafael Findans estava lá com a gente fazendo papel de roadie.

Eis que agora, agosto de 2011, acabo de chegar da casa de Rafael Findans. Aquele mesmo cara que eu gravei meu primeiro material com a Paranóicos e que depois de quase, sei lá, oito anos, tava lá novamente sentado no mesmo quarto gravando as guitarras do segundo material da Nucleador. Gravei, fiquei exausto e ficou do caralho. Jaja vamos lançar o EP que deverá se chamar Toxic United. Vai ter em sua maior essência aquela pitada salgada de amizade e boas risadas que uma cidade pequena como Aracaju me oferece.

por Murillo Viana

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dalí, de Salvador ...

Hoje não tem programa de rock. Na próxima sexta, também não. Mais uma vez, por conta de transmissões Ao Vivo da Aperipê FM. Surreal, não ? Desestimulante, eu diria. Reivindiquei à direção da radio um novo dia e horário para o programa que se choque menos com estas transmissões. Terei uma reunião segunda para discutir isso. Manterei-os informado.

A.

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Ouvidos atentos. A partir desta quinta-feira, os amantes da música brasileira vão poder curtir a segunda etapa do Conexão Vivo sintonizados nas emissoras da Associação das Rádios Públicas do Brasil (Arpub). Entre os dias 11 e 13 de agosto, Salvador recebe 55 atrações – destaques da cena musical brasileira e personagens cativos na programação da Aperipê FM (104.9), que transmitirá boletins diários a respeito do evento, sempre a partir das 20 horas. O Conexão Vivo acontece desde 2009, sempre com o intuito de conectar artistas e realçar a riqueza da nossa cultura.

Embora reconheça nas apresentações dos artistas o seu ponto alto, o programa do Conexão Vivo é mais abrangente, e aborda elementos fundamentais na cadeia da produção musical brasileira. Em 2011, o festival incentiva 150 projetos selecionados por edital em sete estados dos país, e promove a realização de espetáculos, oficinas, debates e seminários, além de fomentar projetos de gravação de CDs e DVDs, circulação de artistas e turnês, apoio a estúdios, programas de TV e rádio.

O Conexão Vivo é um evento multimídia, transmitido por diversos veículos de comunicação no momento exato em que os shows acontecem. É o que explica o responsável pelos projetos especiais da Aperipê, Léo Levi. “Ao mesmo tempo em que os shows acontecem, nós transmitimos tudo automaticamente pela internet e pelas rádios que são associadas da Arpub em todo o Brasil. A transmissão é realizada por funcionários da Arpub de todo o país, utilizando várias linguagens com um único foco: transmitir o vento da melhor forma e mais rápida possível”.

Juntar o que há de novo na música brasileira com artistas consagrados em uma amplo intercâmbio é um dos objetivos do Conexão Vivo. “O Conexão trás a nova safra da música brasileira, juntando a nova cena com a antiga, uma troca artística de grande relevância, com grande público, unindo o novo e o velho”, finaliza Léo Levi.

Fonte: www.aperipe.com.br

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O movimento de renovação da música popular brasileira, que não passa pelas rádios comerciais e se materializa nos caminhos alternativos do ativismo independente (internet, festivais), pode ser parcialmente vislumbrado em Salvador a partir desta quinta-feira, na segunda edição baiana do Conexão Vivo, festival gratuito que vai até domingo, na Praça Wilson Lins.

O negócio é grande: no total, serão 55 atrações de oito estados (de quatro regiões, só o Sul ficou de fora) em quatro dias de som na caixa.

A denominação “festival”, contudo, pode soar inexata para o evento. Maurílio Kuru Lima, coordenador nacional do Conexão Vivo, esclarece que o projeto não é festival, e sim, uma “plataforma de incentivo”.

“(O CV) é uma turma gigante se lançando. É uma rede de trabalho, e não um evento. Este evento serve para mostrar a força dessa rede”, afirma.

“Não existe nenhum outro programa de incentivo à produção e à circulação de música articulado dessa forma, com essa dimensão. O Conexão Vivo é o (programa) de maior envergadura, sem dúvida”, acrescenta Kuru, sem medo de errar.

Totalmente dentro do espírito da época, o Conexão Vivo funciona à base de editais e do trabalho colaborativo, a partir de uma comunidade virtual (www.conexaovivo.com.br), no qual os artistas se cadastram e postam seus trabalhos e novidades.

Os projetos contemplados abrangem shows, festivais independentes, gravação de CDs e DVDs, produção de videoclipes, programas de rádio, oficinas e seminários.

Em 2010, o CV, no mesmo local, reuniu 40 mil pessoas nos quatro dias do evento – número bastante significativo de interessados para uma cidade, que, a se julgar pelo baixo nível do que é veiculado na grande mídia, só tem ouvidos para o popularesco caricato, de gosto duvidoso.

“Ficamos muito surpresos com a acolhida dos baianos para um show aberto de artistas que, ou estão em início de carreira, ou não foram devidamente reconhecidos”, admira-se Kuru.

"Conseguimos fazer uma programação inteira sem qualquer tipo de atração mais apelativa, ou popularesca, eu diria", reitera Kuru.

"E o publico respondeu tão bem a essa proposta! O que prova que é possivel, sim, fazer atividade cultural com inteligência, sem precisar apelar. O baiano é inteligente e essas açõs são a prova, de você ter um festival inteiro com atrações que não estão massificadas no rádio, mas mesmo assim, o público responde muito bem", reflete.

“Desta forma, a programação abrange desde artistas com um ou dois anos de atividades até grandes estrelas com até 50 anos de carreira. Nomes importantes como Elza Soares e Marku Ribas, por exemplo”, cita.

A principal característica dos shows do Conexão Vivo é a mesma que norteia a plataforma de incentivo do projeto: o trabalho coletivo, em colaboração. Assim, dos 27 shows na programação, apenas três bandas / artistas farão shows “solo”, sem contar com convidados.

São eles: Gaby Amarantos (a “Beyoncèe do Pará”, como é conhecida) e Lenine, fechando a sexta-feira, e A Cor do Som, encerrando o sábado. Todos os outros serão no esquema “Fulano convida Sicrano”.

“O Conexão no nome do projeto não é de brincadeira”, reitera Kuru. “Colocamos duas coisas diferentes, mas que conseguem dialogar, em cima do palco. Coisas que você só vai ver ali. Aí misturamos Geronimo com alguém do Norte do País (a cantora paraense Iva Rothe) e é aquilo ali”, exemplifica.

“É verdade, vou dar uma canja no show dessa moça”, confirma Geronimo, que confessa que ainda não conhecia Iva Rothe. “Mas recebi uma música dela e achei muito interessante. E ela disse que canta uma música minha”, conta.

Kuru observa que os festivais de música costumam ser organizados por segmentação, mas o Conexão Vivo vai na contramão disso. “Misturamos tudo no caldo da música brasileira, que é plural e diversa por que bebe do regional e dialoga com o internacional. Por isso é uma das músicas mais fortes do mundo”, acredita o organizador.

Outro dado interessante é que o festival não tem um curador oficial. “A grade foi montada de forma colaborativa, a proposta é horizontalizar o processo. Em vez de ter um curador, criamos uma lista de discussão e tudo é debatido de forma compartilhada. Aí vai juntando (os artistas). Pegamos os que já são patrocinados pela Vivo e os aproximamos de outros com interesses comuns”, explica.

Os espectadores na Praça Wilson Lins poderão testemunhar encontros interessantísimos, como o que juntará, no domingo, a baiana Manuela Rodrigues (leia mais dela na página 8) com o paulista Romulo Fróes. “Fiquei feliz (com o convite), por que é tão difícil tocar fora de São Paulo”, celebra Romulo.

“Ainda que não seja com minha banda, mas é uma oportunidade grandiosa. Vou tocar a música-título do disco da Manuela (Uma Outra Qualquer Por Aí) e mais uma ou duas do meu repertório, que vou ensaiar com a banda dela”, adianta.

Veteranos do CV (conectados desde 2006), a banda mineira Porcas Borboletas também deve protagonizar um belo encontro, com o Titã Paulo Miklos, na quinta-feira. “Curto muito esse lance de colaboração”, afirma Enzo Banzo, vocalista do PB.

“Somos de Uberlândia, e em 2005, quando a gente estava começando, nos inscrevemos, fomos classificados, e em 2006, entramos para a rede de artistas patrocinados”, relata. “Nós crescemos com o projeto. Já fizemos esse formato de show com Arnaldo Antunes, Otto, Arrigo e Paulo Barnabé”, enumera.

Outro encontro curioso será o que vai reunir a cantora mineira Erika Machado com os baianos do duo Dois Em Um e Rebeca Matta. “Foi um convite massa, ficamos super felizes”, disse Luisão Pereira, do Dois Em Um.

“Temos pontos em comum (com Erika), uma certa estética de simplicidade. E nosso próximo disco (previsto para 2012) sai pelo Conexão“ , revela.

Quem sobe ao palco duas vezes é o grande Armandinho Macedo. A primeira é na quinta-feira, com o violonista Gilvan de Oliveira. E a segunda, sem convidados, com a antológica banda A Cor do Som. “Conheci o Gilvan por que fui convidado dele no CV de Belo Horizonte, dois meses atrás. E tive o prazer de conhecer um grande músico”, conta Armandinho.

Com A Cor do Som, o show será basicamente de hits: “Não tem coisa nova ainda. O show vai ser o trabalho já conhecido do grande público”, adianta.

De volta à estrada desde 2005, A Cor do Som está conquistando uma nova geração de público. “Tem sido muito bom voltar a tocar com a Cor do Som, eu vejo uma galera jovem animada, cantando nossas músicas de 30 anos atrás. Aí a gente vê que nosso som ainda tá vivo, é atual”, comemora.

Conexão Vivo / 55 atrações musicais / De quinta-feira a domingo / Praça Wilson Lins (antigo Clube Português), Pituba / às 18h30 (quinta a sábado) e 17 horas (domingo) / Gratuito

por Franchico

Rock Loco

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Atrações

11/08 – quinta-feira – às 18h30

Juliana Sinimbú (PA) convida Felipe Cordeiro (PA)

Black Sonora (MG) convida Di Melo (PE)

Juarez Maciel (MG) e Grupo Muda (MG) convidam Edgard Scandurra (SP)

Marku Ribas (MG) convida Zérró Santos

Gilvan de Oliveira (MG) convida Armandinho (BA)

Porcas Borboletas (MG) convida Paulo Miklos (SP)

Ortinho (PE) convida Pepeu Gomes (BA)

12/08 – sexta-feira – às 18h30

Babilak Bah (PB) convida Chico Correa (PB)

Iva Rothe (PA) convida Gerônimo Santana (BA)

Três na Folia - Cláudia Cunha, Manuela Rodrigues e Sandra Simões (BA)

Márcia Castro (BA) convida Mariella Santiago (BA), Mariana Aydar (SP) e Mayra Andrade (Cabo Verde)

Pedro Morais (MG) convida Maglore

Gaby Amarantos (PA)

Lenine (PE)

13/08 – sábado – às 18h30

Sertanília (BA) convida Nego Henrique (PE) e Emerson Calado (PE)

Família de Rua na Estrada (MG) apresenta Duelo de MC´s (MG)

Alisson Menezes e a Catrupia (BA) convidam Paulo Monarco (MT) e Maviael Melo (BA)

Érika Machado (MG) convida Rebeca Matta (BA)

Senta a Pua! (MG) convida Elza Soares (RJ) e Eduardo Neves (RJ)

Samba do Compositor (MG) convida Mariene de Castro (BA)

A Cor do Som (BA)


terça-feira, 9 de agosto de 2011

I Want my ...

Nem quero mais. Desisti. Há muito tempo já coloquei em minha cabeça que a MTV que eu conheci, e era sensacional, não existe mais, e não voltará. Os tempos eram outros, afinal ...

Era o início da década de 1990 e eu já era um "roqueiro" inveterado faz tempo. Mas eu morava (moro) em Sergipe. Pior (ou melhor, vai saber, depende do ponto de vista): conheci o rock em Itabaiana, INTERIOR de Sergipe. Isso, nos anos 80, significava não saber praticamente nada sobre seus ídolos. Significava, principalmente, nunca tê-los visto "em movimento", em imagens de vídeos (Ao vivo, então, nem pensar). Por isso fiquei tão fascinado quando, ao viajar para São Paulo em 1991 (para de lá ir à "cidade maravilhosa" ver a segunda edição do Rock In Rio), tive meu primeiro contato com a então embrionária MTV Brasil. Só saí de lá com alguns clipes gravados do "Fúria Metal", apresentado por Gastão Moreira, em VHS. Era lindo poder ver finalmente, em imagens de boa qualidade (de vez em quando a gente conseguia algo, mas era sempre pra lá de sofrível), judas Priest, Faith No More, Anthrax, Megadeth, Metallica, Slayer ...

De volta à terrinha, por um tempo ficou só a saudade, até que a emissora liberou seu sinal para as parabólicas. Aí foi uma festa: como em minha casa não tinha antena, ia na de um amigo e esperava, pacientemente, até que seus pais acabassem de ver o Fantástico para, finalmente, sintonizarmos aquele canal abençoado que trazia até nós, naquele cantinho esquecido do mundo, video clipes dos Pixis, Sonic Youth, Smiths, Cure, bandas que já conhecíamos de discos e matérias e fotos de revistas, bem como novos e fascinantes grupos como Smashing Pumpkins, Screaming Trees, Soundgarden, Teenage Fanclube e Alice in Chains, dentre outros.

Esta época coincidiu com o estouro mundial do grunge e a consequente projeção do cenário alternativo na grande mídia. Foi fascinante. Não me esqueço da primeira vez em que ouvi falar do Nirvana, justamente pela boca deste meu amigo que tinha antena parabólica em casa: ele me disse que estava passando direto um clipe de uma banda nova que era sensacional. Me descreveu as imagens da torcida organizada anarquista numa quadra de basquete empoeirada e eu fiquei curiosíssimo. Esperei até o domingo, dia em que assistíamos juntos o excelente programa "121 minutos", precursor do mais conhecido "Lado B", na época apresentado por Luiz "Thunbderbird", e pirei! No dia seguinte encomendei o disco, "nevermind", e uma camiseta do Nirvana à Loja Wop Bop, de São Paulo. Antes mesmo do petardo chegar pelo correio dei de cara com pilhas dele à venda nas Mesblas e Lojas Americanas da vida, mas foi uma boa compra: calhou da minha cópia ser da primeira prensagem, com uma contracapa diferente, e eu fui, provavelmente, a primeira pessoa em Aracaju a ostentar com orgulho uma camiseta daquela banda nova da qual todos, logo logo, estariam gostando.

Houve um hiato durante o qual fiquei longe da emissora porque o sinal foi cortado das parabólicas. Ficava sabendo das novidades apenas pelas revistas, como da vez em que uma VJ gostosinha, a Cuca, foi capa da Bizz. Mas felizmente sempre haviam amigos que tinham TV por assinatura e com eles eu pegava emprestado fitas VHS com clipes gravados, ou ia assitir aos programas ao vivo - a bola da vez eram os irmãos Snoozers, Rafael e Fabinho, na casa dos quais eu ia de vez em quando, também aos domingos à noite, para assitir ao Lado B do "reverendo" Fábio Massari.

Só voltei a ter um contato mais direto com a MTV no final dos anos 90, quando meus pais assinaram um pacote de TV a cabo, na época ainda novidade em Aracaju. Cheguei a tempo de pegar a última fase decente da emissora, antes de abrirem para o axé e para Sandy & Júnior e a coisa degringolar de vez - o canal era uma espécie de "brinquedinho" luxuoso de Victor Civita Neto , o Titi, filho do dono (e o dono era ninguém menos que o Grupo Abril, um dos maiores conglomerados midiáticos do país), até o dia em que seu pai o chamou à razão e decretou que aquilo alí tinha que parar de dar prejuizo ou seria simplesmente fechado. Foi a época (virada do milênio) em que o rock flertou com mais intensidade com a música eletrônica e, por conta disso, haviam excelentes video clipes do Prodigy, Chemical Brothers, Atari Teenage Riot, Tricky e Portishead. Havia também o "britpop": o oasis era o novo guns and roses, sempre em altíssima rotação. Tudo isso convivendo em harmonia com os programas segmentados de sempre que traziam até nós o "bom e velho" rock alternativo guitarreiro e barulhento, além do punk e do metal, sempre com espaços cativos na programação.

Mas depois da "chamada na xinxa" do papai mão aberta, o sonho acabou. Começaram demitindo os bons e colocando rostinhos bonitos (alguns nem tanto, já que Kid Vinil comandou um Lado B reformulado por algum tempo) para substituí-los, até acabar de vez com os programas e, pasmem, com a própria predominancia dos video clipes e, consequentemente, da música, no canal que continuou se chamando, agora ironicamente, "music television".

Esta matéria foi motivada pelo fato de que a MTV americana, a matriz, acaba de completar 30 anos. Quase ninguém soprou nenhuma velinha. Dando lucro ou não, o fato é que ela, hoje, não tem mais a mesma relevância - pra ninguém! O mundo é outro, como dizia no início. Graças, principalmente, à internet. Eu, particularmente, nem sei mais o que rola na programação da subsidiária brasileira, nem tenho vontade de saber. Mas ficam as boas lembranças (e alguma coisa ainda guardada em velhas fitas VHS que miraculosamente escaparam do mofo) não apenas dos clipes, mas das vinhetas, quase sempre excelentes, de programas como o "Liquid Televison", "Aeon Flux" e "The Maxx", das campanhas ousadas de combate à AIDS e de chamados à razão, como na época em que eles colocavam no ar vários minutos de tela escura com a inscrição "desligue a televisão e vá ler um livro".

Um tempo bom que não volta nunca mais.

MTV GET OFF THE AIR! NOW !

por Adelvan

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Lemmy

Lemmy fica na dele no canto do bar, bebendo e jogando. Você pode ir lá e pedir pra tirar uma foto que ele deixa, contanto que você o deixe terminar seu jogo primeiro.

Lemmy gosta muito de games, parece ser seu passatempo preferido. No filme homônimo dirigido por Greg Olliver e Wes Orshoski é o que ele aparece fazendo por mais tempo. Mas podemos vê-lo também sendo entrevistado por diversas emissoras de rádio e televisão, conversando com amigos como o ator Billy Bob Thornton, participando de um episódio da série “Californication” e tocando – em estúdio, com Dave Grohl, numa gravação do clássico natalino “Run, Rudolph, run”, e ao vivo, com o Metallica e com o Motorhead, evidentemente.

Lemmy surpreendeu seu filho ao declarar pela primeira vez, para as câmeras do documentário, que ele era a coisa mais importante de sua vida. Este foi o momento mais emocionante de toda a projeção. O segundo melhor momento, na minha humilde opinião, foi o depoimento de uma guitarrista de uma banda que excursionou com o Motorhead. Ela conta que ficou balançada na ocasião, o que causou uma série crise de ciúmes em seu marido, até então fã # 01 da lendária banda de Mr. Kilmister. Ele morreu algum tempo depois, e entre seus pertences ela encontrou uma carta de Lemmy na qual a lenda do rock dizia que ele não precisava se preocupar com nada, pois ele e sua mulher eram apenas amigos e ela não perdia uma oportunidade de declarar o quanto amava seu marido.

Em todo caso, Lemmy comeu as mulheres de 3 de seus ex-companheiros do Hawkwind depois que ele foi expulso da banda. Foi uma vingança, embora ele confesse que já estava comendo uma delas antes do episódio propriamente dito. Não demonstrou arrependimento, parece ter convicção de que eles mereceram.

Por falar em mulheres, ele corrige os números: não foram duas mil, apenas mil, o que, supostamente, seria pouco, dada a sua idade e o fato de que nunca fora casado. E nunca se casou, segundo seu filho, porque carregou por toda a vida o trauma de encontrar seu grande amor morta por uma overdose de heroína na banheira de sua casa.

Lemmy acha que os Beatles foram a maior banda de rock de todos os tempos e que o estilo foi criado por Elvis, Little Richards e Jerry Lee Lewis. Eu acrescentaria Chuck Berry, mas ok. Lemmy falou, ta falado.

Ozzy acha que foi o Motorhead, e não o Black Sabbath, que criou o Heavy Metal.

Scott Ian do Anthrax ficou chocado com os shortinhos curtos usados por Lemmy num dia de calor.

Dave Grohl quer mais que Keith Richards e os demais sobreviventes dos anos 60 se fodam, pois eles não são nada se comparados a Lemmy.

Dee Snyder, Tom Morello, Peter Hook, Slash, os caras do Metallica e mais meio mundo de gente importante do mundo do rock adora Lemmy

Kat Von D. quer dar para Lemmy. Deve ter dado.

Lemmy é foda.

por Adelvan

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Play Fast Or Don´t 2011

Depois de faltar ao Play Fast Or Don't (PFOD) no ano passado, este ano tive a oportunidade de ir ao festival, pela terceira vez, depois de 2008 e 2009. Cheguei a Praga no dia 7 de Julho com perspectivas totalmente diferentes das outras 7 vezes que vim à capital checa. Desta vez, não vim para passar férias e viajar. Vim para estudar através do Programa Erasmus, graças ao qual poderei redigir a minha tese de mestrado durante 1 ano. Mas os estudos só começarão em Outubro, e vim em Julho para não perder alguns festivais e concertos. Também não tinha mais paciência para viver em Portugal...

Cheguei no primeiro dia do Obscene Extreme. Até dava para ir, mas o cansaço e o stress da burocracia relativa à residência universitária não me deixaram com muita vontade. Também teria que ir sozinho e não estava muito entusiasmado. Para o PFOD o cenário era diferente. Além de já estar acomodado e com toda a papelada inerente aos estudos resolvida, pude, como bom brasileiro, encontrar algumas pessoas em Praga para ir acompanhado ao festival. Na véspera também descobri que um amigo de Portugal, o Kikas, também viria. Eu já tinha saudades de falar português. Alguns dias antes havia ido a um show de bandas SXE no clube 007 Strahov, em Praga. Fui com uma nova amiga que fiz em Praga, uma francesa chamada Marlene que também vive por aqui por adorar esta cidade. Lá conheci o pessoal da banda paulista Positive Youth - em tour europeia -, gente muito fina. Sobretudo o vocalista Edi, com quem troquei muita ideia sobre muitas coisas, incluindo o movimento straight edge. Ao contrário de muita gente - inclusive os meus amigos punks e crusties de Portugal -, tenho muito respeito pelo straight edge, embora não faça parte do movimento. O Edi está preparando um documentário sobre o movimento SXE brasileiro e pretende voltar à Europa para o distribuir. Aliás, ao saber que eu era de Aracaju ele logo disse ter conhecido a banda Triste Fim de Rosilene e seus membros. Mundo pequeno!

A viagem de Praga para Hradec Králové, cidade onde tem lugar o PFOD, durou quase duas horas de trem. Fui acompanhado por vários checos. Alguns deles conhecera em Praga num show, outros não conhecia. Estava sentado no meio deles mas parecia estar sozinho, porque passaram a viagem todo conversando em checo e por muitas vezes olhei para mim próprio com medo de ter me tornado invisível. Na verdade combinei com um rapaz chamado Kamil e sua amiga cujo nome não sei escrever, mas é algo parecido com Kristie. O Kamil me assegurara que eu tinha lugar para dormir em sua tenda, então não precisava me preocupar com isso. Apenas precisava comprar um saco-cama. Ah! Ao acordar, nesse dia, percebi que havia contraído gripe. Uma gripe de verdade, não um simples resfriado. Tinha febre, a garganta inflamada e o nariz ardendo! O corpo estava todo dolorido e até foi bom eles terem passado a viagem toda conversando entre eles em checo, porque eu não tinha condições de me esforçar numa conversa.

Chegamos em Hradec Kralové lá pelas 15.00. Da estação de trem para o aeroporto - célebre recinto de festivais na cidade -, eram uns 20 minutos de ônibus. Entramos todos sem pagar mesmo. Só havia punks e crusties e nenhum fiscal ousaria entrar no ônibus para passar multa. Chegamos ao aeroporto 20 minutos antes da primeira banda começar a tocar. A banda em questão era Adacta (Eslováquia). Entretanto, encontrei o Kikas, entreguei dois sanduíches vegetarianos que comprara perto da estação, ajudei a montar a tenda, e fui para dentro do bunker para ver Adacta tocar. Gosto muito desta banda, por causa dela fiz o Kamil me prometer que não iríamos chegar ao festival atrasados! Foi legal, mas a primeira banda é sempre para ir colocando as pessoas dentro do ambiente, não agita muito. Havia pouca gente assistindo. A minha gripe me torturava...e mais uma vez o som do festival não era digno do cartaz apresentado. Não se distinguia nada, apenas um ruído grave e a batida da bateria. Os solinhos de guitarra não eram ouvidos, os acordes eram quase imperceptíveis. O vocal era a única coisa que se ouvia bem. Todas as bandas tinham 30 minutos de apresentação - com exceção de MOB 47 (40 minutos) no primeiro dia e Extinction of Mankind (40 minutos) e Hellshock (1 hora) no segundo -, com 15 minutos de intervalo entre cada banda. Ao todo, foram 12 bandas no primeiro dia e 17 no segundo.

Adacta acabou sem eu perceber o que estavam tocando. Poderiam me dizer que era qualquer outra banda que eu teria acreditado. Talvez o problema seja a acústica do bunker e não o responsável pela mesa de som. O local é emblemático e tem a atmosfera perfeita para um festival de crust, mas se a acústica não ajuda, o melhor é encontrar outro lugar. Chega a dar raiva mesmo quando se está vendo uma banda e tentando entre cada acorde perceber, sem sucesso, qual música está sendo tocada. Terei que esperar para ver Adacta noutra oportunidade.

Depois veio Fatal Nunchaku (França). Não vi. Assim como Last Legion Alive (Bélgica). Estava demasiado doente para permanecer o tempo todo em pé curtindo shows. Decidi que só veria as bandas que mais gostava, e mesmo assim não sabia se teria condições. Tomei antibióticos para a garganta e não podia beber cerveja. Passei o festival inteiro sem beber nada. Só havia bebido duas cervejas logo na chegada, mas a partir da quarta banda, See You In Hell, não bebi mais nada. Passar dois dias num festival sem poder beber é foda. Mas pior do que não poder beber foi estar naquele estado deplorável, sem vontade de falar com ninguém, com o corpo pedindo para deitar e dormir.

Mas resisti! See You In Hell é uma banda checa de Brno muito energética. Foi a segunda vez que os vi ao vivo e gosto muito! Aconselho! Inclusive já fizeram uma tour brasileira, em 2009. Na banda há membros da extinta Mrtvá Budoucnost (traduzindo, Futuro Morto), uma antiga banda crust checa. A plateia já estava um pouco mais preenchida e delirou de vez quando Lycanthrophy começou a atuar. Para quem não conhece, trata-se de uma banda checa de grindcore/powerviolence muito adorada pelo som e talvez sobretudo pela sua vocalista, Zdisha, por quem todos no festival estavam apaixonados. Quando a bando começou a tocar só se via marmanjos pertos do palco tirando fotos e babando enquanto fitavam a moça. Eu era um deles, admito! E o meu amigo Kikas talvez seja o que esteja mais enfeitiçado por ela. Na verdade Zdisha é muito bonita, tem cabelos pretos e dreadlocks enormes, e usa umas mini-saias bem sugestivas. O namorado dela deve sofrer um pouco nesses festivais. Enquanto a banda tocava, a marmanjada não saía de perto do palco e não parava de tirar fotos dela. Eu até tentei disfarçar tirando fotos dos outros membros da banda, mas era óbvio que o que eu queria mesmo era espreitar por debaixo da mini-saia dela.

E já que toquei no assunto, aqui abro espaço para uma observação: mais do que nos anos anteriores - talvez por estar etilicamente alegre e incluído nos círculos de conversa que se formam -, desta vez, por estar doente, passei a maior parte do tempo observando comportamentos e percebi que a cena crust/grind não está de forma alguma livre de estrelismos e de gente tentando atingir determinados status. E a aparência, o visual, que à priori parece remeter à recusa às modas, acaba por tornar-se ela própria uma moda e uma forma de atingir status. Para alguém que vive no Brasil e nunca frequentou festivais assim talvez seja inconcebível, mas a verdade é que o PFOD todos os anos é tomado por uma pequena multidão de crusties com dreadlocks enormes, alguns abaixo da cintura, e roupas pretas, novas ou velhas, cheias de patches e pins de bandas de crust e grind, muita gente tentando ostentar algo ou chamar a atenção tentando dizer "olha, eu tenho o visual mais radical". Há dezenas de moças de beleza acentuada - viva a República Checa! - com suas dreadlocks loiras ou ruivas e mini-saias curtas mostrando as longas pernas. Quase todas acompanhadas por namorados como se esses as tivessem pondo para desfilar perante os olhares alheios enquanto se gabam. Como o Kikas disse, a maior parte deve ser irreconhecível na vida normal fora dos festivais. Mas eu nem quero formular nenhuma crítica. Fica apenas a evidência da observação e não me alongarei mais nesse assunto. Mas que há elitismo, isso há! Inclusive na postura de algumas bandas e algumas distros.

Entretanto, a essa altura já chovia bastante e o tempo esfriara muito. Não tenho muita sorte quando vou a festivais na República Checa, sempre faz mau tempo. Fazia frio mesmo, parecia começo de Primavera ou final de Outono. A chuva era implacável e assim continuou até ao fim do festival.

Voltando às apresentações, aconselho a ouvirem Lycanthrophy. É ultra-mega-rápido! Quem gosta do gênero vai delirar. O vocal às vezes torna-se meio irritante, mas depois de olhar para uma foto da vocalista transforma-se nalgo bem agradável ...

Após a banda de grind checa foi a vez de Distress, banda crust da Rússia. Não é uma banda diferente das outras, mas é legal. Tive a oportunidade de vê-los novamente dois dias depois em Praga no 007 Strahov, já com o som decente. Bem legal! Sobretudo por ser da Rússia. Não chegam muitas bandas de lá e essa é bastante ativa.

A banda a seguir foi Mesrine (Canadá). Não vi e sequer sei do que se trata. Precisava descansar para o que se sucederia, Lobotomia, banda oitentista lendária de São Paulo. Hardcore Thrash puro e muito carismático. O carisma é o que definitivamente distingue as bandas brasileiras das bandas europeias. Muitas vezes assisto a apresentações totalmente robotizadas, como se fosse um ensaio, sem nenhuma interação com o público. Lobotomia tem uma presença de palco impressionante e conquistaram rapidamente o público que a essa altura já lotava totalmente o bunker. Para mim, foi a melhor apresentação do festival e uma das melhores que já vi ao vivo. Eu só lamentava estar tão doente e não poder acabar-me no mosh e no stage diving. Me contentei, meio aborrecido, num cantinho perto do palco, com a máquina fotográfica numa mão enquanto dava socos no ar com a outra.

Não estar doente foi o que faltou para a apresentação de Lobotomia ter sido perfeita! O vocalista parece o Jello Biafra pelo teatro que faz e que é um show à parte! E tudo o que dizia era em português mesmo, porque não sabe falar inglês. O pessoal não entendia nada mas aplaudia, e eu me divertia com a situação. O guitarrista também tem uma presença de palco incrível. Adorei!

Amanhã (06/08/2011), virão tocar em Praga como parte da tour europeia que estão fazendo. Lá estarei! Além de serem impecáveis no palco, também são gente finíssima, estive muito tempo conversando com eles e me tornei ainda mais fã depois de conhecê-los pessoalmente. Certamente amanhã beberemos muitas cervejas juntos.

Depois de Lobotomia era a vez de outra banda lendária, MOB 47. Mas àquela altura eu já não me aguentava de pé e fui dormir para tentar estar um pouco menos morto no dia seguinte, para ver algumas das 17 bandas que tocariam. Além de MOB 47, também perdi Chiens (França), The Atrocity Exhibit (Reino Unido) e Hellisheaven (Polônia). Vira MOB 47 no Obscene Extreme há dois anos, então não fiquei muito chateado. Fui para a tenda e apaguei, mesmo com todo o barulho de música eletrônica e hip hop que vinha de uma das barracas de comida vegetariana.

No dia seguinte, ao acordar ao lado dos dois amigos checos dentro da tenda, veio a desilusão: nem a gripe nem o tempo tinham melhorado. Continuava chovendo e fazendo muito frio, e eu continuava num estado lastimável, com febre e garganta inflamada. Era quase meio dia, e a primeira banda, Fear of Extinction (Rep. Checa), iria começar em instantes. Assisti à apresentação mais para me abrigar da chuva do que por vontade de ver a banda mesmo. Encontrei um lugar para sentar ao lado da mesa de som improvisada e fiquei por lá mesmo, enquanto How Long? (Rep. Checa), Mundo Gecko (Israel), Senata Fox (Croácia), Cancer Spreading (Itália), Sheeva Yoga (Rep. Checa) e Scorched Earth (Suécia) se apresentaram, sem que a chuva desse trégua lá fora. O pessoal das distros não estavam muito contentes, pois com a chuva pouca gente se arriscava a vasculhar as bancas para comprar material. Gostei de Senata Fox, fastcore politizado e competente. Estava na expectativa de ver Sheeva Yoga, uma banda que conhecia há tempos, mas não gostei muito. Nas gravações é mais legal, e parece que eles mudaram de estilo, passaram de fastcore psicodélico experimental a powerviolence.

No intervalo entre as bandas eu tentava me aventurar lá fora, e num desses passeios conheci o pessoal de Lobotomia. Encontrar brasileiros por aqui é sempre uma festa. Troquei muita ideia com os caras. O Frauda, ex-Ratos de Porão, é baixista da banda. Já são todos quarentões mesmo. Estavam reclamando do tempo, mas estavam gostando muito do festival e disseram que o pessoal na Rep. Checa é muito louco. Comprei uma camisa deles. Foi a única coisa que comprei no festival, apesar da tentação das inúmeras bandas de distros e das promoções que faziam. Se numa a gente encontrava 5 camisas por 20€ (em Praga uma camisa custa este preço), noutra era 3 LPs a 4€ (em Praga paga-se entre 15 e 20€ por 1), etc. E havia, como sempre, muito, mas muito material. Algumas das principais distros de crust da Europa estavam lá. E dentre essas distros todas encontrei dois brasileiros residentes em Londres vendendo seu material. Até calcinha fio-dental com logo de bandas eles vendiam!

Eis que finalmente começa a série de bandas que particularmente eu queria ver. A primeira foi Idiots Parade (Eslováquia), fastcore com a minha amiga Petra nos vocais. Ela também é uma espécie de musa da cena. É uma banda bem legal para quem gosta de música violenta e rápida ao extremo, e pelo que vejo, vão ganhando cada vez mais projeção. A gripe continuava implacável, mas eu já me aventurava perto do palco para ir pelo menos tirando umas fotos e dar soquinhos no ar. Com o mau tempo lá fora, o bunker permanecera o dia todo lotado e o mosh era bastante agitado. Idiots Parade fez o público delirar, foi uma das melhores bandas do festival.

A banda a seguir era Visions of War, antiga e emblemática banda crust belga na linha Doom que eu queria muito ver. Foi uma desilusão! Os caras, já bem velhos, estavam podres de bêbados e mal se aguentavam de pé no palco. Um dos vocalistas caiu várias vezes e numa delas levou parte da bateria consigo, tendo sido necessário interromper a apresentação para remontar a bateria.

Não gostei e sou chato mesmo; quando uma banda toca num festival grande internacional, cheio de gente que vem de outros países para os ver, deveriam demonstrar um pouco de respeito e tocar em condições. A apresentação de Visions of War foi ridícula e teria sido melhor se tivessem dito "pessoal, desculpem mas abusamos das drogas antes e agora não conseguimos tocar". Por se tratar de uma banda antiga com membros na casa dos 40 e 50 anos, deveriam perceber isso. Os dois vocalistas nem conseguiam berrar no tempo certo e várias vezes os dois guitarristas se desligaram um do outro. Uma decepção!

Depois foi a vez dos italianos Guida, metal crust bem tocado, talvez muito lento e cheio de virtuosismos, mas eu até gosto dessas coisas. O som e a acústica, embora tivessem melhor do que no primeiro dia, não ajudaram nada e foi quase tudo imperceptível. Guida é formada por pessoal da famosa distro AgiPunx. É meia-dúzia de indivíduos que tocam em trocentas bandas diferentes. No dia seguinte pude vê-los novamente no 007 Strahov.

Depois veio Totalickers, de Barcelona. As bandas catalãs são algo à parte, praticamente podemos dizer que há um nicho dentro do crust chamado "crust de Barcelona". Todas as bandas de lá soam iguais, fazem um som rápido, pesado, mas também melódico com passagens bem grudentas. Por haver tantas bandas parecidas, a relação com elas é meio amor/ódio. Ou gostamos muito, ou detestamos. Totalickers toca bem, deram um show legal, levantaram o público, mas são iguais a milhões de bandas da cena crust/d-beat de Barcelona.

Eu já não me aguentava mais e àquela altura já me sentia uma espécie de mártir por estar ali (a pouca quantidade de fotos tiradas também deveu-se ao meu estado). Até que, finalmente, sobem ao palco os lendários Agathocles com seu mincecore. Sobre eles não há muito o que dizer. Após o suicídio do antigo baixista, continuaram na ativa e seus shows continuam sendo crus, simples e super energéticos e politizados. Há bandas que fazem muita encenação e não conseguem passar a intensidade que Agathocles passa de forma tão simples. Um trio demolidor, que durante 30/40 minutos detonou uma série de clássicos do grindcore mundial para todo mundo delirar e pedir por mais. Parece ser um daqueles casos em que podemos dizer que quanto mais velhos, melhores.

Após Agathocles, encontro o Kamil, que me vem informar que está indo embora com sua amiga para não perderem o último trem para Praga. Com o frio e chuva, não queriam dormir na tenda novamente. Ou eu ia embora com eles, ou teria que arranjar outro lugar para dormir. Embora eu não iria, obviamente. Estava doente mas queria ver Hellshock, era o único show que estavam dando na Europa. Tive que retirar as minhas coisas, fechar o saco-cama e pedir para o meu amigo Kikas - amigo do organizador e por isso alojado junto com as bandas -, para me arranjar lugar onde poderia passar a noite.

Em seguida foi a vez de outra banda histórica, Extinction of Mankind (Reino Unido), que pela segunda vez vi no PFOD. A minha vontade era de sair dali e sentar nalgum lugar para descansar antes do show de Hellshock, mas se saísse provavelmente não conseguiria retornar, porque o bunker estava apinhado de gente e eu não tinha forças para passar no meio de todo mundo. Estive meio com a cabeça na lua enquanto tocavam, confinado num canto, sentado, quase apagando, mas pela intensidade do mosh, certamente agradaram. Eram 21:00h quando começaram a tocar, e eu estava ali, doente, desde às 12:00. Queria guardar as minhas últimas energias para Hellshock, banda de crust metalizado da famosa cena de Portland (EUA), prolífera no gênero. Assim como em Barcelona, Portland também tem um nicho próprio dentro do crust. As minhas duas bandas de crust favoritas são de lá (Tragedy e Guided Cradle, que apesar de ser originalmente de Praga, está instalada em Portland há 3 anos).

Vira Hellshock em Portugal há 6 anos atrás e já ali tinham uma boa presença ao vivo, com um som mais trabalhado do que o habitual. Mas evoluíram ainda mais. Aconselho a ouvirem o álbum They Wait For You Still (2009), o último disco até então do grupo. Bem, a verdade é que eu não imaginava que Hellshock havia se tornado numa banda tão grande dentro da cena. Em Portugal tocaram para meia-dúzia de gatos pingados e nunca ouvi falarem neles como sendo uma referência. Mas no PFOD percebi logo. A maior parte das pessoas estava ali por causa deles. Quando começaram a tocar instalou-se o caos dentro do bunker e eu estava doente e cada vez mais espremido, mas continuava dando socos no ar. O repertório da banda resume-se ao álbum referido e ao Only The Dead Know The End Of Wat (2004). O grande clássico da banda é a música Olympus, típico stenchcore, sujo e metálico, com passagens lentas e melódicas revezando com riffs rápidos e mais thrash. A novidade da banda é a presença de Ethan, vocalista e guitarrista de Guided Cradle, como segundo guitarrista. Tocaram durante uma hora e levaram o público ao delírio. Para mim, Lobotomia foi melhor e tem mais presença de palco, mas valeu a pena esperar por Hellshock e não ter ido embora.

No fim da apresentação de Hellshock não aguentei mais e pedi para o Kikas me levar para o local arranjado. Era um quarto enorme com dezenas de camas (típico alojamento militar dentro do aeroporto). Foi um bom negócio: saí da tenda molhada para dormir numa cama quentinha junto com as bandas. Entrei no quarto e aterrei no quentinho, com cobertor e travesseiro. O quarto estava vazio, volta e meia aparecia alguns membros de bandas para cheirar coca e depois saíam, com medo de fazer barulho para não me acordar, embora eu estivesse meio acordado. Por fim, o Kamil comunicou-me que havia se enganado no horário dos trens e que afinal teria que esperar na estação. Conclusão: poderia ter ficado até ao fim.

Perdi as três últimas bandas do festival, Looking For An Answer (Espanha), Summon The Crows (Noruega) e Aguirre (França). No dia seguinte, de manhã, levanto-me, despeço-me do Kikas, que estava na cama ao meu lado e havia roubado o meu cobertor e travesseiro, despeço-me do pessoal de Lobotmia que andava por ali meio perdido, e parto sozinho para a estação de trem. No caminho, consigo infiltrar-me num grupo que estava esperando ônibus numa paragem perto do aeroporto e com eles consegui carona não até à estação, mas até meio do caminho, e dali segui com dois malucos da Nova Zelândia, um rapaz e uma moça. Ela pegaria o voo para Londres naquela noite, enquanto ele havia sido roubado e estava sem documentos e dinheiro, só trazia consigo a roupa do corpo, mas não se mostrava nem um pouco chateado por causa disso. Disse que passaria a noite algures em Praga e no dia seguinte trataria da situação. Conversamos muito no trem, mas o inglês deles é foda, quando falam muito rápido e com aquele sotaque neozelandês não dá para entender patavinas. Nos despedimos na estação de trem em Praga e cada um seguiu o seu rumo.

À noite, continuei teimando em desafiar a gripe e fui ao After PFOD Party, no 007 Strahov. Como já havia dito, vi Distress e Guida novamente, além de Aguirre, Summon The Crows e Scorched Earth. Encontrei o Kikas e mais dois portugueses, além dos dois brasileiros da distro. Finalmente pude beber cerveja! Os brasileiros iriam regressar a Londres e estavam loucos para despachar o material que trouxeram. Combinei de ir com eles no dia seguinte a uma loja em Praga para tentar vender o material. Então passei uma tarde com os dois paulistas, gente boa. Primeiro fomos à loja e conseguimos vender algumas camisas. Eu ganhei deles uma camisa de CRASS como bônus pela ajudinha. Embora a minha intenção fosse pagar por ela, não me deixaram. Depois fomos beber cerveja e comer uns petiscos num dos meus bares favoritos, o Atmosphere. Nesse mesmo dia, à noite, encontrei-me com duas estudantes estrangeiras em Praga, uma russa, outra holandesa, e fomos fumar shisha até altas horas da madrugada. A caminho de casa, no elétrico, encontrei 4 neo-nazistas. Eu estava com um patch no casaco com os dizeres "Good Night White Pride", e com a imagem de um nazista sendo espancado por um anti-fascista. Eles viram e logo percebi que teria problemas. A minha sorte foi que o vagão estava cheio de gente e eles não poderiam fazer nada na frente das pessoas. Saí numa paragem para pegar um ônibus (a linha estava interrompida para ser reparada), eles saíram junto e se aproximaram. Então, como é típico nessas horas de tensão, surge-me a ideia de fingir que não sabia de nada. Aproximei-me deles e perguntei, em tom amigável: "Ei, pessoal, vocês sabem se é aqui mesmo que posso pegar o ônibus para Kubánské náměstí?". A resposta foi positiva, mas depois colaram os olhos de vez no meu patch e começaram as hostilidades. Nunca chegaram a me tocar, pareciam meio receosos, mas foi por pouco! Eu estava com a minha câmera e naquela altura só pensava que ser espancado não era o pior que me poderia acontecer, já ficar sem a câmera...

No final, e apesar de pegar o mesmo transporte que eles novamente, consegui sair ileso - o ônibus estava cheio. Saíram em paragens antes da minha, o que me fez respirar aliviado. Foi a primeira vez que encontrei neo-nazistas em Praga. Espero que seja a última, mas para prevenir, o melhor é não usar roupas com mensagens políticas quando estou sozinho de madrugada. Ainda nessa noite, enquanto dormia, alguém entrou no meu quarto - esquecera de trancar a porta. Eu estava paranóico por causa do encontro com os nazistas e só pensava "são eles, me seguiram até aqui", mas ao correr até à porta enquanto o invasor fugia dizendo "sorry, sorry", percebi que provavelmente se tratava de um estudante bêbado.

Juliano Mattos, o autor deste "review", é brasileiro, paulistano de nascimento e sergipano de coração. Vive na Europa, atualmente em Praga, República Checa. Além de Imigrante tupiniquim na Europa, se define também como "geógrafo de formação, boêmio por opção, fotógrafo e músico amador, andarilho empenhado em desvendar o mundo, colecionador de cartões postais, amante do ócio filosófico, observador da sociedade, amigo do futuro, inimigo do passado, vivendo entre o tédio do velho burgo nortenho do Porto (Portugal) e as aventuras boêmias, culturais, libertinas e etílicas de Praga (República Checa)."

Fonte: Erro Crasso