“
Não me mande flores, pare de bater no interfone/ Não preciso do seu amor/ Pare de me torturar, não ouse me ligar/ Não preciso do seu amor/ Eu não amo você/ Só amo você/ Eu não amo você/ Eu não amo”...
Não Me Mande Flores é até hoje uma das únicas canções de
não-amor a tocar no rádio, e também um dos poucos sucessos dos gaúchos do
DeFalla. Formada em 1985 por
Edu K – c/ 16 anos
– no vocal e guitarra,
Carlo Pianta no baixo e a pioneira
Biba Meira na bateria, a melhor
anti-banda do Brasil estreou em disco na coletânea
Rock Grande do Sul. Em 87, sem Pianta, substituído por
Flávio Santos, o
Flu, e c/
Castor Daudt na guitarra solo, lançam o primeiro álbum pelo selo Plug,
PAPAPARTY, produzido por
Renato ‘Barriga’ Brito no estúdio da RCA em São Paulo.
“Era o estúdio onde os Mutantes também tinham gravado”, lembra Edu. “O Barriga vinha dos anos 70, era um doidão que encontrou quatro doidões como ele dispostos a experimentar. Ficamos um mês lá criando, viajando, colocando microfone no banheiro, fazendo samplers, colagens... Melô do Rust James foi composta no estúdio.” As 15 faixas do LP misturavam pós-punk, rap e funk em sons como Alguma Coisa, Idéias Primais e Sodomia – algo que só se veria nos anos 90 por aqui. A intro de Candy, do disco Brick by Brick de Iggy Pop, lançado 3 anos depois, é bem parecida c/ a de Sobre Amanhã.
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“Pra nós era natural”, diz. “Não pensávamos estar fazendo algo que ninguém fazia.” Em 88, c/ a mesma formação e pelo mesmo selo, lançam o 2º trabalho, DEFALLA, c/ clássicos como Chinatown e Repelente. É o último disco de estúdio de Biba. C/ a saída dela, Castor assume as baquetas e Marcelo Truda o substitui na guitarra em SCREW YOU, de 89, lançado pela Devil Discos no período em que passaram da psicodelia p/ o hard glam de terceiro mundo. Em 90 sai WE GIVE A SHIT pela Cogumelo Records, a mesma que revelou Sepultura. Fase mais pesada, c/ direito a tattoos, cabelos grandes e cicatrizes.
KINGZOBULLSHIT BACKINFULLEFFECT92 é o auge da experimentação, misturando rock, samba e samplers em sons como Caminha (que Aqui É de Osasco), que vai do hip-hop ao thrash metal, e reinventando sucessos como Sossego de Tim Maia e
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Satisfaction dos Rolling Stones. A ordem das faixas era diferente do vinil p/ o CD, assim como a mixagem de muitas delas, além de bônus como a eletrônica Freeze... Now Move. Mais um pela Cogumelo, esse disco levou-os a abrir p/ Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers no Hollywood Rock 93, já c/ o guitarrista Marcelo Fornazzier.
Na virada do século estouram nas paradas c/ o hit Popozuda Rock’n’Roll do álbum MIAMI ROCK 2000, surfando a onda do funk carioca graças ao refrão-chiclete: “Vai popozuda/ Requebra legal/ Vai popozuda/ Libera geral”... Sem Flu nem Castor, Edu adota o visual turista no Havaí, apresentando-se em diversos programas de TV apenas de chinelo, bermuda e camisa florida. “Popozuda é completamente AC/DC, se você tirar a batida. Talvez um dia as pessoas entendam que o Miami era um disco de rock.”
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Em 2002 nova guinada, c/ roupas de couro estilo sadomasô, sintetizadores flertando c/ big beat e gatas na formação – a batera Paula Nozzari e a guitarrista Syang, ex-P.U.S. – no disco SUPERSTAR. Edu K aposta forte no pastiche. A partir de SODA POP, de 2003, adota o visual proto-emo das bandas de hardcore melódico da Califórnia. Quase emplaca mais um hit, Amanda, piada c/ as músicas de roquinho romântico que vieram depois de Anna Júlia do Los Hermanos.
Influência p/ artistas como Chico Science & Nação Zumbi, Planet Hemp, Pato Fu e Pavilhão 9, o DeFalla passou por altos e baixos, mais baixos do que altos, mas nunca acabou. Depois de incontáveis integrantes – tipo Peu, ex-guitarrista de Pitty, e Rafael Crespo, ex-Planet – o grupo se reuniu ontem no clube Beco 203, em Porto Alegre, em sua formação mais clássica: Edu, Castor, Flu e Biba Meira. Em duas apresentações especialíssimas [às 23h e à 1h30], tocaram exclusivamente as 15 músicas do disco de estréia, que completa 25 anos em 2012.
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O set list foi: Ferida - O que É Isso - Sodomia - Papaparty - Grampo - Não Me Mande Flores - Idéias Primais - Sobre Amanhã - Alguma Coisa - Melô do Rust James - Jo Jo - I’m an Universe - Tinha um Guarda na Porta - Trash Man - Gandaia. Edu K comemora. “Tem rolado algo soul-funk pesadão, tipo Sly & The Family Stone”. E aí, vai rolar uma tour? “Não sei se seria por aí, mas tocar essas canções outra vez com eles está sendo demais, mágico, exatamente como era antes. A diferença é que não tenho mais 17 anos.”
por Adolfo Sá
vlb
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