quinta-feira, 15 de julho de 2010

He´s the fucking prince of darkness ...

Raul Seixas, em visionária sacada, disse em uma canção que “o diabo é o pai do rock“. Ozzy Osbourne, não é segredo para ninguém, é o auto-proclamado Prince of Fuckin‘ Darkness (Príncipe da Porra das Trevas, com o perdão da linguagem chula). Donde se conclui que Ozzy é o verdadeiro pai do rock!

Brincadeiras a parte, o alucinado (e sim, genial) cantor de heavy metal, hoje aos 62 anos – mais do que bem vividos – está na ordem do dia mais uma vez. De uma tacada só, chegaram às megastores sua autobiografia, Eu sou Ozzy (Benvirá) e seu novo álbum de músicas inéditas, Scream.

Ora, mas em se tratando de quem se trata – Ozzy – um livro de memórias é um baita de um contrasenso. Uma frase dele mesmo, famosa desde os anos 1980, já avisava: “Se eu conseguisse me lembrar de tudo o que vivi nos anos 70, eu poderia escrever um puta livro“.

Bom, o livro finalmente chegou. E mesmo com os buracos abertos em sua memória – sem contar no juízo – pelo consumo em quantidades industriais de álcool, fumos variados, pós brancos, pílulas multicoloridas e micropontos psicodélicos – além das cabeças de pombo e morcego –, as memórias de Ozzy, renderam um “puta livro“. Pelo menos para os fãs.

Para se entender o fenômeno Ozzy Osbourne é preciso, antes de tudo, compreender de onde ele veio. Nascido John Michael Osbourne em 1948, em Aston – distrito da deprimente cidade industrial de Birmingham – ou melhor, nas ruínas que sobraram após os bombardeios da 2ª Guerra Mundial, sua atividade preferida na infância era fuçar os escombros das casas destruídas, em busca de cacarecos que servissem de brinquedo.

A vida em Aston não oferecia muitas possibilidades. “Eu era do tipo de garoto que sempre queria se divertir e não havia muito a fazer em Aston. Só o céu cinzento, pubs nas esquinas e pessoas que pareciam doentes de tanto trabalhar como animais na linha de montagem“, lembra ele, na autobiografia.

O inconformismo com a falta de perspectivas no futuro o perturbava terrivelmente: “Naqueles dias, a mentalidade dos trabalhadores era assim: receber o mínimo de educação, conseguir um treinamento, conseguir um emprego de merda e aceitar com orgulho. (...) Seu emprego de merda era tudo. Muitas pessoas em Birmingham nunca se aposentavam. Só caíam mortas no chão da fábrica“, escreve.

Na juventude não conseguia passar muito tempo nos empregos que seus pais lhe arrumavam. Um dia, finalmente encontrou um emprego de que gostava, abatendo bois e porcos em um matadouro local.

Após uma briga em que quase rachou o crânio de um colega, foi demitido. Iniciou então uma breve carreira de ladrão, furtando lojas locais. Logo foi preso. Depois que seu pai se recusou a pagar sua fiança, “curtiu“ três meses na cadeia.

O período na penitenciária de Winson Green, “o buraco mais violento, fedido e degradado que já tinha visto“, foi um baque para Ozzy, então com 18 anos. Foi salvo pela pela beatlemania, tornando-se um fanático por rock ‘n‘ roll e blues de raiz norte-americanos. Foi aí que decidiu que seria cantor.

Após algum tempo, conseguiu juntar-se a Tony Iommi (guitarra), Terry Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria). Tony, um ex-colega de Ozzy dos tempos da escola, tocava guitarra desde criança. Depois de um acidente com a prensa de uma fábrica, perdeu as pontas dos dedos médio e anular.

Com a ajuda de dedais confeccionados por ele mesmo, Tony desenvolveu sua técnica e som característicos – em tons graves, sinistros. Junte-se a isso o mau humor próprio de uma juventude condenada a apodrecer nas linhas de montagem de uma fábrica em uma miserável economia de pós-guerra – nada mais distante do florido ideário hippie da época, que aliás, Ozzy detestava – e estavam plantadas as sementes que deram origem à uma das mais extraordinárias, seminais e geniais bandas de rock de todos os tempos: Black Sabbath.

Salvo uma possibilidade muito remota de engano, foram os seis primeiros álbuns do Black Sabbath, lançados entre os anos de 1970 e 1975, que criaram e formataram, de maneira definitiva, o que hoje se conhece como “heavy metal“, em sua safra mais pura e legítima.

Pois é, foi Ozzy e sua trupe de cabeludos bigodudos. A "culpa" é toda deles. “Se existe algum pai do metal, esse é Ozzy“, afirma, categoricamente, uma autoridade local (Nota: de Salvador, Bahia) do gênero, Sérgio Ballof, líder da banda Headhunter DC. “Para mim, (Ozzy) é o criador do heavy metal. Uma legitima lenda viva e um ícone. Foram Ozzy e Tony que começaram a difundir o lado obscuro do rock em um som verdadeiramente pesado“, diz.

Depois de oito álbuns com o Sabbath e quase dez anos de loucura na estrada com os companheiros de banda, Ozzy foi, um belo dia, demitido. “Me mandar embora por estar drogado foi uma merda hipócrita. Estávamos todos loucos. Se você está drogado eu também, e você me manda embora por que eu estou drogado, que merda é essa? Por que eu estou ligeiramente mais drogado do que você?“, ironiza Ozzy no livro.

Sua vingança, contudo, foi, como diria Bento Carneiro, ”maligrina”. Depois de montar uma super banda com músicos de primeira linha, fez tanto – ou até mais – sucesso comercial do que com o Black Sabbath.

”Toda a indumentária do metal, os estereótipos – ele já era tudo isso, independente de marketing”, lembra o jornalista e cantor de heavy metal Leonardo Leão, que já viu dois shows de Ozzy. ”O cara entra no palco parecendo o Mestre Yoda. É todo encurvado, com dificuldade de andar. Mas quando pega o microfone fica super ágil, vira um menino. E tem um carisma fenomenal”, descreve.

Outro que esteve frente a frente com o Príncipe das Trevas foi o jornalista Marcos Bragatto (do site Rock Em Geral), durante uma coletiva em 2008: ”Ozzy é super profissional. Apesar de idade avançada, ele atura todos os perrengues de ser um astro pop. E coletiva sabe como é, tem sempre um mané que faz a velha pergunta do morcego e tal, mas ele foi super gentil”, elogia.

”Você sentia na sala a energia de uma personalidade única, a do cara que inventou o heavy metal, a camisa preta, a cruz invertida, tudo que tem no gênero. Ele foi o cara”, conclui.

A autobiografia de Ozzy Osbourne é, com o perdão do chiste, uma diversão dos diabos. Sua prosa é tão franca, direta, bem-humorada e sem rodeios que a impressão que passa ao leitor foi que alguém simplesmente sentou com o cantor numa mesa, ligou o gravador, disse “Fala, Ozzy!“ e depois transcreveu tudo – depois de decifrar seu balbuciar trêmulo, claro.

Essa dura tarefa coube a um certo Chris Ayres, citado por Ozzy na lista de agradecimentos ao final do livro como “meu coautor“, apesar de não estar devidamente creditado na capa.

Também está aqui, finalmente, a versão dele para todos os episódios polêmicos de sua vida: a demissão do Sabbath, a cabeça do pombo, a cabeça do morcego, a morte de Randy Rhoads, o alcoolismo em último grau, a tentativa de homicídio contra a esposa Sharon, os processos, as prisões, o reality show na MTV - tudo o que os fãs gostariam de saber enfim. Nennhum assunto foi evitado

Com a fluência de um contador de “causos“, Ozzy faz o leitor rir e se admirar, página após página, com sua trajetória de excessos e loucuras. É uma história de triunfo e redenção, com muita graça - contra toda a loucura.

Eu sou ozzy / Ozzy Osbourne / Tradução: Marcelo Barbão / 416 p. / R$ 39,90 / Benvirá

Fonte: Rock Loco

por Franchico

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Ozzy Osbourne carrega a imagem de satanista e de um sujeito que passava grande parte de seu tempo drogado. O primeiro veio de uma piada utilizada no formulário de imigração quando ele e sua banda, Black Sabbath, foram aos Estados Unidos pela primeira vez. O segundo era realmente verdade.

Esses são alguns do detalhes de sua vida revelados na biografia "Eu Sou OZZY". Desde a infância em Birmingham, quando não se ajustava em nenhum grupo e não suportava a escola por conta de uma dislexia que não o deixava ler, até sua vida novamente tumultuada após a participação no programa "The Osbournes".

Na década de 1960, a expectativa para um jovem na Inglaterra era conseguir um emprego em uma fábrica e tentar mantê-lo para o resto da vida. O problema era que John, nome de nascimento de Ozzy, não queria esta perspectiva de vida. Foi por acaso que começou uma banda, por acaso que começou a cantar e por sorte que conseguiram fazer sucesso.

E o mundo sexo, drogas e rock'n'roll só surgiu para o líder do Black Sabbath quando eles conseguiram fazer sucesso nos Estados Unidos. Como ele mesmo diz em seu livro, "O Black Sabbath era uma banda para os caras. Jogavam garrafas e bitucas de cigarro na gente, não sutiãs".

Não é estranho que experiências estranhas com fãs tenham acontecido logo que as encontraram. Leia trecho abaixo sobre a "festa" que os roqueiros fizeram no hotel em que se hospedaram:

*

Nenhum de nós podia acreditar como o álbum Black Sabbath estava indo bem nos Estados Unidos. Era uma loucura. A Warner Bros, nossa gravadora norte-americana, estava tão feliz que disseram que atrasariam o lançamento de Paranoid até janeiro do ano seguinte.

Estávamos fazendo shows grandes em todos os lugares em que tocávamos, até conseguíamos algumas groupies.

Nossa primeira experiência realmente louca com groupies aconteceu num Holiday Inn, em algum lugar da Califórinia. Em geral, Patrick Meehan nos colocava nos lugares mais vagabundos; não era incomum os quatro dividirem um único quarto num motel pulguento na periferia da cidade, a cinco dólares a noite. Assim, um Holiday Inn era luxuoso para nossos padrões: meu quarto tinha banheira, chuveiro, telefone e TV. Tinha até um colchão d'água - que era o máximo naqueles dias. Eu adorava essas coisas; na verdade, era como dormir num pneu flutuando no meio do oceano.

Bom, estávamos nesse Holiday Inn e eu tinha acabado de conversar com Thelma ao telefone quando alguém bate na porta. Abro e há uma linda garota usando uma minissaia.

- Ozzy? - ela pergunta. - O show foi incrível. Podemos conversar? Ela entra, tira o vestido, trepamos e dá o fora antes de eu perguntar seu nome.

Cinco minutos depois, outra batida na porta. Estou pensando: Ela provavelmente deixou algo no quarto. Levanto para atender. Mas é outra garota.

- Ozzy? - ela diz. - O show foi incrível. Podemos conversar?

Tira o vestido, abaixa minha calça e depois de cinco minutos da minha bunda pelada subindo e descendo em cima dela, enquanto flutuávamos nessa cama de água, rolou um "Legal te conhecer", "Até mais" e lá foi ela.

Esses Holiday Inn são mágicos pra cacete, pensei. E mais uma batida na porta.

Dá pra imaginar o que aconteceu em seguida.

Eu trepei com três garotas naquela noite. Três. Sem nem sair do quarto do hotel. Para ser honesto, já estava meio pedindo arrego nessa última. Precisei usar o tanque de reserva.

No final, decidi descobrir de onde essas groupies estavam vindo. Fui até o bar, mas estava completamente vazio. Aí perguntei ao cara da recepção: "Onde está todo mundo?". Ele respondeu: "Seus amigos britânicos? Tente a piscina." Aí eu fui até a piscina na cobertura e quando as portas se abriram não pude acreditar nos meus olhos. Era como em Calígula ali: dúzias das garotas mais lindas que se podia imaginar, todas completamente nuas, sexo oral e ménages acontecendo por todos os lados. Acendi um baseado, sentei-me numa cadeira reclinável entre duas lésbicas e comecei a cantar "Deus Abençoe a América".

Fonte: Livraria da Folha

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