Fonte: Spleen e Charutos
Aos que não possuem contato com o universo criativo que povoa os subterrâneos da cidade, o entusiasmo insistente dessa página pode parecer exagerado. Afinal de contas, o sol nasce todo dia, e as pedras do calçadão continuam no mesmo lugar. Quem não tiver medo do escuro, contudo, possui uma nova oportunidade de vislumbrar o monstro com os próprios olhos. Esta semana, os moleques da banda The Baggios realizam o lançamento do single “O azar me consome”, na festa que conta com o nervosismo da banda The Renegades of Punk e acolhe os convidados paraibanos da Zeferina Bomba. Eu dei um saque no disquinho. O assombro é garantido.
A essa altura do campeonato, os Baggios não precisam provar mais nada. O trabalho registrado na demo The Baggios (2007) e no EP Hard Times (2009), além da pegada Mississipi presente nas aparições do duo formado por Julio Andrade (guitarra e voz) e Gabriel Perninha (bateria), são mais do que suficientes para legitimar as conquistas acumuladas nesse curto espaço de tempo. Como demonstra a nova empreitada, no entanto, os caras estão cientes de que ainda há muita estrada para andar.
Julico, por exemplo, sempre manifestou certa preocupação com o hiato que distanciava o registro de seu trabalho da sonoridade que a banda alcança durante as apresentações. A opinião generalizada era de que as gravações ficavam devendo muito ao show. Problema diagnosticado, restava dispensar a atenção necessária para encontrar a solução.
“Nós gravamos a parte instrumental da demo numa sessão de 2 horas, ao vivão, com equipamento bem razoável. Na época, o resultado até que me agradou, só que hoje eu me sinto muito mais exigente com timbres de bateria, guitarra e voz do que antes. Eu cansei de ouvir de uma galera que éramos bem melhores ao vivo. Minha intenção com o disco que está sendo finalizado é que ele soe mais pesado, que se aproxime mais do que apresentamos ao vivo. Claro que em gravação a gente se empolga e ousa colocar alguns elementos a mais, como é o caso dos metais e teclados, mas fomos bem econômicos e cuidadosos para não comprometer a música”.
A julgar pelo que ouvi, os meninos podem deitar a cabeça no travesseiro sem qualquer apreensão. Eles merecem o sono dos justos. Formado por três canções que ficaram de fora do disco mencionado, “O azar me consome” é, paradoxalmente, o registro mais apurado da Baggios, e também o que traduz de maneira mais visceral a energia da banda.
Os Baggios nunca foram tão roqueiros. “Canção dos velhos tempos” possui o tratamento blueseiro que a gente espera do duo, com guitarras folk e slides oportunos, além da flauta de Igor Cortês, que empresta certa sofisticação à composição, mas parece que o norte dessa nova safra de composições de Julico está mais relacionada a experiências que transformam a tradição inaugurada no sul dos Estados Unidos a seu modo do que com o purismo que conduz aos primeiros blueseiros.
A faixa que empresta nome ao single, por exemplo, não conta com mais do que um riff furioso e uma melodia primitiva, daquelas que a gente berra com gosto, para aprisionar nossa atenção. Não é preciso mais do que isso.
É necessário mencionar que, além de servir de pretexto para a noitada, o single vai ser lançado de maneira virtual em meio mundo de sites especializados. Não existe desculpa, portanto, para a manutenção da ignorância.
Toda a sorte do mundo para os Baggios.
Serviço:
Local: Capitão Cook
Data: 23 de julho
Hora: 22 horas
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