Na segunda parte do programa, Lou Reed em dois tempos: “Pale blue eyes”, do Velvet Underground (valeu a lembrança, Priscila), e “Iced Honey”, uma das faixas mais “redondas”, quase pop, de “Lulu”, seu disco experimental com os veteranos do thrash metal do Metallica. Na sequencia, rock sergipano: "pare e repare", mais uma do celebrado disco da The Baggios; “sem grana” (com participação de Silvio, da Karne Krua), espécie de “hit” do rock alternativo sergipano dos anos 80 resgatado pela Crove Horrorshow em uma faixa inédita e exclusiva de um disco que já está gravado, dá uma geral na carreira da banda e tem previsão de lançamento para o ano que vem. Fechando o bloco, “100km com 1 sapato”, faixa-título da célebre primeira demo da banda lagartense lacertae, em nova versão do Cinemerne, projeto de Paulinho, o primeiro vocalista da banda, que eu reencontrei recentemente em Lagarto fazendo uma apresentação minimalista numa edição do “Ajuntatudo”, uma espécie de reunião cultural onde a juventude da cidade aproveita para beber, recitar poesias, tocar e ouvir musica.
Fechando o programa, um blocão “tapa-buraco” (a Reffer desmarcou uma entrevista) retirado a fórceps de nossos arquivos, com destaque para a Sublevação, banda histórica de hardcore que está para renascer das cinzas – vão tocar no próximo sábado em Nossa Senhora do Socorro depois de aproximadamente 5 anos parados. Estarei lá.
por Adelvan
Abaixo, uma belíssima resenha do disco do Cinemerne cometida por Patativa Moog no blog de sua banda, Madalena Moog.
Uma audição falada para o EP “Coisas belas e sujas”, do projeto Cinemerne
É um domingo, 13:20, e eu estou ouvindo, pela primeira vez – e praticamente em primeira-mão –, o EP “Coisas belas e sujas”, do projeto Cinemerne, encabeçado (e quase todo tocado e produzido) pelo sergipano (da cidade de Lagarto) e multi-instrumentista Paulo Henrique, ex-Lacertae (que ainda está na ativa). Nele, também Léo Airplane (tecladista da Plástico Lunar) põe sua assinatura, tocando vários instrumentos, fazendo arranjos e coproduzindo. Os dois são os culpados pelo resultado final. Cinemerne é o nome que, na língua dos utopianos (leia A Utopia, de Thomas Moore), significa “festa inicial”, celebrada nos primeiros e últimos dias dos meses lunares no ano revolucionário-solar.
É um domingo de ressaca, depois de uma sexta de estradas cruzadas e um sábado alcoolizado, e um resfriado mal vindo.
É um domingo e eu penso que, para falar sobre este trabalho incrivelmente bom do Paulinho, como os amigos mais próximos o chamam, eu precisava estar com a cabeça no lugar, e corpo também. Mas caio em mim e, “não!”, penso, “é justamente o contrário!” Por isso, continuo. Mas, antes, tenho que falar do sábado, que foi quando o amigo Jesuíno André me presenteou com um exemplar do referido EP.
“Pata, o Paulinho é um artista maravilhoso; e depois de muito tempo sem gravar alguma coisa voltou àtiva com este trabalho. Dá uma sacada e diz o que você achou.” Ele dizia, enquanto a gente deixava a tarde passar pela orla de Cabo Branco, entre uma cerveja, um ensopado de camarão e umas doses generosas de cachaça Serra Limpa.
E eis aqui o que eu acho:
As 5 canções de “Coisas belas e sujas” – nome de uma delas e também de um filme do diretor britânico Stephen Frears, lançado em 2010 – soam monocromáticas, monocórdicas e, por incrível que pareça, não deixam “a peteca cair”, mas mantêm-se como um enorme discurso poético-gritado, psicodélico-pirado, às vezes raivoso, às vezes delicioso, como no começo da música que dá nome ao projeto: “Uma flor se espreguiça ao sol, / Uma formiga carrega um grão. / Uma pobre mulher se sente só. / Um doente novamente se sente são. / E esses dias são tão tristes.” Trata-se, para quem sabe ouvir, de uma cadência experimental que, no que é possível, foge aos modelos estabelecidos, como fórmula para... Ouça-o inteiro, Helena; ouça-o inteiro.
Quem conhece P.H., sabe que que ele também já esteve assim: como a flor, a formiga, a mulher solitária, e o doente que fica bom. “Paulinho esteve ausente muito tempo, Pata; meio perdido em [...], e ele diz que foi a música que o salvou, lhe mantendo são...” São palavras de Jesuíno, falando de um amigo a outro amigo, sem juízos e sem clichês impressionantes, e a música aí, no meio da gente, no meio das conversas. Sim! Um bom delírio, às vezes, pode nos salvar da piração absoluta! E elas são muitas, e manifestam-se de muitas maneiras. E é por isso que, observando músicas e letras, começo a perceber que, sim – e somente o autor poderá dizer o contrário –, há muito da história de vida deste artista incrível, desse cara incrivelmente talentoso, mostrando seu mundo, suas referências, sua pródiga imaginação que voa mundo afora (China, Rússia, Atlântida, Índia, Alexandria, etc...), seus gostos pelo surrealismo multicolorido de Van Gogh, pela tensão imagética de Stephen Frears, que parece plastificar e amarrar todas as demais referências, como se, a não ser pela imaginação, não fosse coisa boa sair lá fora, onde está, o tempo todo “chovendo querosene”, e onde há “um idiota cantando na chuva... [e] esse aí sou eu...”, e que, por isso, e para ele, “hoje, no Circo, [poderá ser] o fim do mundo”. Quase todas as letras têm esse tom hora melancólico, hora sombrio, descrevendo imagens cinzentas (como o céu enegrecido pelos corvos que, na capa, desabam sobre o dourado trigal das/nas cores de Van Gogh), como quando se diz de “uma alma que sente suja”, ou “esse vazio que tanto insiste, como a solidão na vida deu um monge”, e, não por fim, quando é mencionada “uma criança que nunca sorriu”...
Não, não; melhor não! Melhor voltar atrás, fantasiar outros campos, pensar que “hoje não estou demente / [pensar que] a luz brilha no quarto / Vermelho sol poente / [pensar que] a tristeza tem fim / [pensar que] o dia sorri pra mim”. Sim, apesar de tudo, e por ser uma via catártica, a música, mesmo a mais triste e dolorosa, pode expurgar medos e raivas, desencantos e frustrações. A arte é, sim – e a música é sua mais acabada manifestação –, a grande saída contra o trágico que impera no mundo. E P. H. sabe disso, e sabe bem; e faz coro com os poetas gregos, e com Schopenhauer, e com Nietzsche, e com tantos outros que souberam ver o céu encarvoado de corvos famintos e, acima deles, um sol solitário... e sua luz. A arte é um escape do trágico!
Hoje é domingo, e agora são 14:20, e esta é a terceira vez que coloco o EP para tocar enquanto escrevo sobre ele, e estou resfriado, e sem almoço... e a fome vem me dizer que é hora de comer.
Talvez eu pudesse, noutra hora, reescrever tudo o que disse aqui, de modo mais cuidadoso e criterioso. Seja como for, e até aqui, esta foi uma fiel tentativa de descrever a minha primeira impressão sobre o “Coisas belas...”, e ela foi boa, e eu não costumo ouvir algo tantas vezes seguidamente, e gostar do mesmo jeito, seguidamente. Enfim... é apenas uma crítica, e bem pessoal. Bom mesmo é que você, Helena, ouça e tenha as suas próprias impressões. Por hora, vou ali no Hiper da Lagoa comprar algo que sirva de almoço, antes que chegue “a tempestade [que] está perto”, e enquanto “o dia sorri pra mim”. Talvez, depois, como disse, eu mude tudo o que escrevi aqui; talvez não – que é o mais provável.
E lá me vou, assim, cantarolando com voz gutural e simulando uma roda de pogo com os meus outros Eus: “Uma jaula dentro da cabeça! Todos têm medo que escureça! / E gira. E gira o mundo. Nobre vagabundo. / Hoje no circo! O fim do mundo!...”
(P.M.)
www.myspace.com/CINEMERNE
www.soundcloud.com/cinemerne
Se você perguntar a um crítico musical qual o grupo que mais influenciou o rock pós-1970, prepare-se para uma surpresa. Não são os Beatles, nem os Rolling Stones, nem qualquer outro figurão. Nove entre dez especialistas responderão instantaneamente: Velvet Underground.
Fruto do encontro entre o instinto “rocker” suburbano de Lou Reed e a formação erudita do galês John Cale em 1965, o VU é um dos poucos nomes do rock que realmente merece o pomposo status de “lenda”. A primeira razão para isso é a sua música – parte folk, parte atonal, parte barulho e extremamente intensa – e as letras de Reed, crônicas que passeiam pelo cotidiano da perversão e pela perversão do cotidiano.
Entre os temas prediletos, drogas pesadas (como em Heroin, Waiting for my Man, White Light/White Heat e Sister Ray), devassidão (Venus in Furs) e qualquer outra coisa que horrorizasse simultaneamente o establishment e a contracultura paz-e-amor.
A combinação de letra e música foi descrita na época como “o resultado do casamento secreto entre Bob Dylan e o marquês de Sade”. Faltou citar Lautreamont e as experiências eruditas de John Cage, de quem John Cale se considerava discípulo.
Outra razão para o mito: o Velvet foi o primeiro grupo de rock da história que encanou de fazer “grande arte” – e fez. Teve um papel fundamental na Exploding Plastic Inevitable, trupe multimídia chefiada pelo papa pop e mentor do grupo, Andy Warhol. Além do Velvet tocando ao vivo (e extremamente alto), os shows do E.P.I. incluíam apresentação de filmes, projeção de slides, iluminação psicodélica e dançarinos – e tudo acontecia ao mesmo tempo.
Um ataque aos sentidos sem nenhum precedente, cujo objetivo era, segundo Warhol, “não deixar nada para a imaginação”. Finalmente, há a imagem da banda. Reed, Cale, a diva germânica Nico (que só participou do primeiro disco), o guitarrista Sterling Morrison e a baterista unissex Maureen “Mo” Tucker fundaram um modelito imortal. Até hoje tem garoto por aí afetando o look roupa-preta-óculos-escuros-eternos-botinha-bico-fino-atitude-arrogante.
Se você é fã de artistas dos anos 80 como Nick Cave, Cure e Jesus and Mary Chain, conhecer o Velvet é indispensável. Os vinis básicos são os dois primeiros: The Velvet Underground and Nico (o “disco da banana”, absolutamente clássico) e White Light/White Heat. Eles fizeram outros LPs muito bons, mas a mágica se desfez em 1968, quando John Cale deixou o grupo. Vinte anos se passariam até que Cale e Reed trabalharem juntos novamente, em “Songs for Drella”, LP em homenagem a Andy Warhol.
Este texto foi publicado no mês do Rock in Rio 2, em janeiro de 1991. Songs for Drella, o último grande disco de Lou Reed, já tem duas décadas, portanto. Coroca, ele agora se dedica a um trabalho conjunto com o Metallica. Seu professor Andy Warhol felizmente morreu sem ver sua profecia hiper-realizada em pesadelo: todo mundo famoso por quinze segundos.
Este Rock in Rio de 2011, como todos os outros, escalou muitos dinossauros e umas poucas novidades, a maior parte das quais serão esquecidas. Como nenhuma outra edição, apostou no seguro, no entretenimento puro, no produto formatadinho para toda a família e sem risco para os patrocinadores. Rock, o conceito, exige algum elemento de perigo, e mais, de fascínio com o perigo - o que o Velvet Underground intuiu e encapsulou brilhantemente.
Tivemos um Pop in Rio. Boa festa para quem festejou, boa música ocasionalmente, bons negócios para todos. Este texto foi originalmente publicado na revista Playboy, que na época encomendou a diversos jornalistas artigos apresentando as bandas mais importantes do rock.
Escolhi o Velvet, porque acreditava que entretenimento e arte têm utilidades diversas, e que minha função fundamental era separar o fácil do difícil, o automático do refletido, e o bom do ótimo. De preferência, sem soar pomposo; sem medo de dar a cara para bater; e com ambiguidade. Os resultados do meu esforço são públicos e diminutos. Mas vinte anos depois, sigo a mesma estrela...
por André Forastieri
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Madame Saatan - Até o fim
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- por Augusto Andrade
The Velvet Undergound - Pale Blue eyes ( Closet mix )
Metallica & Lou Reed - Iced Honey
The Baggios - Pare e repare
Crove Horrorshow - Sem grana
Cinemerne - 100km com 1 sapato
Rótulo – compre aqui o seu
Reffer – Shift
Sublevação – Tempo sinistro
Motorhead – Loui loui
Decomposed God – Decomposed God
Anti-Nowhere League – I Hate people
Soundgarden – Fell on Black days
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