quinta-feira, 7 de julho de 2011

É coisa nossa.

Julico, no Facebook, sugeriu que a gente parasse de choramingar e ele está certo, mas é mais forte do que eu, então tenho que comentar, mais uma vez, esta injustiça: amanhã a Praça São Francisco, em São Cristóvão, receberá oficialmente o título de Patrimonio Histórica da Humanidade, concedido pela UNESCO, com a presença da Excelentíssima Senhora Ministra da Cultura Anna de Holanda. Segundo material promocional divulgado pela Secult, "grupos folclóricos, bandas filarmônicas e a Orquesta Sanfônica de Aracaju representarão a diversidade cultural do estado neste evento". Diversidade cultural, é bom frisar. Então porque diabos a The Baggios, provavelmente a banda de rock sergipana com maior projeção nacional no momento, que nasceu em São Cristóvão e vive cantando as coisas da cidade em suas músicas, não foi chamada para se apresentar ? "Mistérios da meia noite", já dizia aquele cara de voz cavernosa lá da Paraíba. Mas não tem nada não: fazendo juz ao clássico lema "faça você mesmo" que tem impulsionado as cenas roqueiras mundo afora, The Baggios lançará seu primeiro disco amanhã, na Casa Rua da Cultura, em Aracaju. Estarei lá e depois conto como foi.

Abaixo, uma entrevista com o cabra conduzida por nosso parceiro Rian Santos para o Jornal do Dia:

Sete anos dando murro em ponta de faca não foi suficiente para arrefecer o ânimo dos meninos. Calejado e casca dura, o frontman Julio Andrade pode até ter desanimado em algum momento, mas nunca abriu mão de usufruir da vida à sua maneira – as pontas dos dedos esfoladas na guitarra; o berro comendo solto, madrugada a dentro. A perseverança acaba de frutificar no primeiro disco da Baggios – Uma experiência sensorial comparável somente com uma aparição dos caras nos Cooks e festivais da vida. Esta semana, Júlio Andrade (guitarra) e Gabriel Perninha (bateria) convidam a galera para comemorar o rebento e voltam a fazer barulho para alegria da gente. Era a deixa que esse diário precisava para rasgar seda e jogar confete num dos nomes mais talentosos da música independente de nossos dias.

Jornal do Dia – Antes de mais nada, vocês ficaram satisfeitos com o resultado do disco? E a reação da galera?

Julico – Em se tratando das gravações, não tenho do que reclamar. Acho que se eu bulinasse mais nele, o disco ganharia outro rumo ou eu estaria vagando pelas ruas de São Cristóvão, cheio de pindobas amarrada nas pernas. Até agora, a reação das pessoas tem me deixado mais contente ainda. Todos chegam falando bem da arte gráfica, das composições e da qualidade das gravações. Não tenho do que reclamar, isso tem abastecido ainda mais minha alma.

JD – Os registros anteriores pecavam por não conseguir reproduzir a energia dos shows (exceção feita ao single O azar me consome). Nesse primeiro disco, entretanto, parece que vocês finalmente conseguiram alcançar o equilíbrio necessário para traduzir o som que arrasta a galera pros Cooks da vida dentro do estúdio. O que foi que mudou nesse meio tempo?

Julico – Eu sempre busquei isso. Queria que nossa energia de show fosse nítida nas gravações. Finalmente, chegamos nesse resultado, mas demorou um pouco, precisou que justássemos alguns cachês, investíssemos numa viajem para São Paulo, e que a gente finalmente encarasse a tarefa de gravar boa parte do disco ao vivo e torrar uma graninha num bom estúdio.

O que mudou dos EPs pra cá foi que estamos com os ouvidos mais afiados, calejados, estamos mais chatos e sabendo o que queremos de verdade. Agora, temos uma direção a seguir. Além disso, conseguimos ganhar algum dinheiro nesse tempo. Maturidade também conta, afinal são sete anos de Baggios.

JD – O que a banda espera conseguir com o disco em mãos? Em outras palavras, qual o destino da Baggios daqui pra frente?

Julico – Cara, espero que a gente toque ainda mais em festivais, mais turnês, resenhas em blogs, clipes bem produzidos, revistas e afins. Estou apostando nesse trabalho. Suamos bastante para ver esse “filhinho” nascer. Quando abri a primeira caixa, veio um arrepio e uma frase na cabeça: “agora sim, temos um disco para distribuir sem medo nas mãos de qualquer produtor”. Meu filhinho me deixou mais otimista.

JD – Ao longo dos sete anos de atividade da banda, muita coisa aconteceu em nossa cena. Como vocês comparam o cenário que encontraram quando se atreveram a meter as caras pra mostrar o que aprontavam lá em São Cristóvão e o quadro que observam hoje, depois de comer a poeira de tanta estrada com a viola nas costas?

Julico – Guardo ótimas recordações da era “ATPN”, sinto falta daquilo. Queria realmente ter uma banda naquela época. Tudo aquilo que aconteceu entre 2000 e 2003 me colocou muita pilha pra montar minha primeira banda. Eu tinha muita secura de subir naquele palco. Também me ligava muito na Casa Laranja. Infelizmente, só consegui tocar na ATPN em 2007, nem sei que fim teve aquele espaço foderoso…

Acho que em termos de bandas, estamos bem representados. Existe um ceninha acontecendo. O problema é: Tem muita banda – bandas ótimas, por sinal. Poderia citar pelo menos seis das quais sou fã – pra pouco espaço. Falta lugar pra tocar. Pelo que me recordo, na época em que eu não passava de um simples expectador dava pra escolher entre Tequila, Cachaçaria, ATPN, Casa Laranja e Malibú para tocar. Isso, pra não mencionar o picos dos quais eu só ouvia falar. Hoje em dia temos somente o velho de guerra, Capitão Cook (ai, ai, se não fosse ele… O que seria de nós?).

Ah! Já estava esquecendo! Precisamos urgentemente de um festival independente! Já me divertir pra carálio nos PUNKAS.

JD – Qual a importância dessas andanças? Como elas interferem no processo criativo da banda?

Julico – Acho que desde quando toquei na minha primeira banda, em 2001, só quis compor, tocar com uma turma legal, viajar por aí, matando minha secura, e quem sabe fazer parte de uma cena. Se eu fosse seguir o ritmo dessas mudanças, estaria muito mais frustrado, desistiria de tocar há um tempão. Eu escolhi viver tocando Rock n’ Roll, e o sonho só está começando. Não deixo de me preocupar com a cena local, mas não me prendo a isso. Deixo rolar, e torço pra que toda essa turma que eu gosto tanto não seja fraca a ponto de se afastar dos próprios sonhos, e não acabem com suas bandas de maneira prematura, como já aconteceu tantas vezes.

JD – Os Baggios já cogitaram tentar a sorte no sul maravilha, mudar de mala e cuia pra ver se fazem a cabeça daquele povo acostumado com o frio? Com a propalada implosão das fronteiras pela tecnologia, essa aproximação com os grandes centros urbanos continua tão necessária quanto já foi um dia?

Julico – Cara, isso tudo é ilusão no meu ponto de vista. Eu posso muito bem ir lá passar um mês, fazer vários shows, e voltar pra minha pacata São Cristóvão respirando ar fresco. Não tenho essa moral (R$), nem coragem de encarar morar numa São Paulo da vida, por enquanto não. Eu estou ligado que tudo acontece por lá, facilita em algumas coisas, mas é uma aventura pela qual não quero passar no momento. Não estou psicologicamente preparado pra um passo tão grande (sorrindo).

JD – Pra terminar de maneira bem safada, quando sai o primeiro DVD da Baggios?

Julico – Está nos planos viu! Vivo pensando nessa possibilidade. Quem sabe em 2012, na Praça São Francisco, São Cristóvão, Sergipe, cheia de gente dançando e cantando nossas músicas… Peraí… Deixa eu acordar…

riansantos@jornaldodiase.com.br

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