Uma aula de rock and roll - Tudo já começa "na cara", de sopetão: são os Mamutes e sua "Dama de branco" dizendo sem rodeios ou firulas a que vieram, "no fio da navalha". Grande som, velha conhecida, já lançada no single do ano passado. A segunda faixa, "Eu e minha guitarra", começa apenas com um riff cru e cadenciado - uma cadência que acompanha a música até o final, quando ela engata um ritmo mais rápido e culmina num "Foda-se" gritado por Kal em Alto e Bom som. "Cabeça de Mamute" já é mais forte, com um refrão marcante. "Vinha eu pela 13 a mais de 100", declama Kal na letra de "Eletrokarma". A "13", imagino, é a praia 13 de julho, bairro de Aracaju. É bom ver nossas bandas de rock cantando nossas coisas, o dia-a-dia na cidade. Assim como precisamos nos ver mais nos cinemas, precisamos também nos reconhecer nas letras de nossas canções. O riff da música, pra variar, é ótimo, sinuoso e marcante. A marcação de Odara e Morcego segue precisa. Chamo aqui a atenção para a mixagem do disco, que nesta faixa em especial se mostra perfeita. "Noturna", a faixa seguinte, é outra velha conhecida do single lançado ano passado, e é perfeita em sua melodia poderosa conduzida pelo vocal a cada dia melhor lapidado de Kal Di Leon. Brilhante trabalho de guitarra de Rick Maia, com harmonias nitidamente influenciadas por mestres como o Thin Lizzy. A musica já seria perfeita assim mesmo, seca, mas não: os caras tiveram a manha de incluir sopros e castanholas no arranjo, o que deixou tudo ainda mais exuberante. Contrariando um das máximas do rock and roll, neste caso, menos não foi mais.
"Olho azul" tem, em sua introdução, um daqueles gritos rasgados típicos do hard rock "glam" dos anos 80 - estariam os mamutes "farofando" o som ? Nada disso, o "rasgo" ficou ok, sem afetação, eu estava apenas brincando. A musica segue numa cadencia legal e tem uma ótima melodia que culmina em um excelente refrão. Redondinha, perfeita, e com mais guitarras dobradas a la Thin Lizzy/NWOBHM. Os ecos do Heavy metal se tornam explícitos na faixa seguinte, "olhos de cobra", que começa num clima meio opressivo e segue com a guitarra acompanhando o vocal numa melodia que lembra os bons tempos do Black Sabbath com Ozzy. A (ótima) influência do Sabbath segue até o final, com a musica mudando de andamento e passando por um trecho instumental "viajante" para então voltar ao ritmo inicial, numa dinâmica típica do supergrupo de Toni Iommy. Tudo sem sinal de plágio, já que a musica em si não lembra nenhuma do Sabbath em especial. É apenas a boa, velha e sadia fonte de inspiração da qual, afinal, todos bebem - e ela nunca se esgota.
Aí vem o que se anunciava, pelo menos para mim, como o momento mais perigoso do disco: "Fora de controle", um verdadeiro hino dos Mamutes, em novo andamento. Ficou boa e, como eles bem disseram numa entrevista no programa de rock, perfeitamente integrada ao clima do disco. Nada traumático, claro, os caras não estragaram, como eu cheguei a temer, uma de suas melhores composições, nem de longe. Mas mesmo assim, na primeira ouvida, ainda prefiro a versão do EP. Velhos hábitos são difíceis de mudar.
Na reta final do percurso, "te deixando o meu bye bye", um "rockão", também previamente lançado via single. Poderia inclusive ter finalizado o disco com aquele eco no fim, mas tem mais: gemidos e mais sopros introduzem "tudo no seu tempo", a "saideira". Letra lasciva, Vocal malicioso de Kal, uma bela levada de baixo e um andamento mais suingado. Fechou com chave de ouro.
Certamente um dos melhores petardos já lançados por estas plagas. Um atestado de maturidade e, ao mesmo tempo, fidelidade às origens da cena rock sergipana.
ROCK AND ROLL ! Na veia e na artéria!
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por Adelvan
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