segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sobre fanzines, programa de rock, aperipê fm, cultura e informação.



perguntou: Michael Meneses - http://www.flickr.com/people/michaelmeneses
respondeu: Adelvan

1 - Como surgiu seu contato com o rock? - Surgiu principalmente através da tela da Globo, no primeiro rock in rio de 1985. Tinha 14 anos e ali foi que fui começar a entender mesmo o que era rock, e a me interessar pelo assunto. Posteriormente me aprofundei lendo e colecionando as revistas Bizz e Rock Brigade – principalmente a Bizz, sempre fui eclético dentro do universo do rock e o xiitismo metaleiro da Rock Brigade só me interessou num primeiro momento. Em resumo, sou da geração Rock in rio/Revista Bizz. Se morasse no Rio na época seria da geração Fliminense FM, também, certamente.

2 - Você foi um dos primeiros zineiros de Sergipe, isso em meados dos anos 80, em uma época que só em filme e literatura de ficção imaginava se a Internet. Como você teve a idéia de fazer um Zine mesmo morando no interior do estado (Itabaiana/SE)? - A primeira idéia foi bem espontânea, tanto que eu nem sabia o que era um fanzine, fiz uma espécie de “apostila” contando a historia de minhas bandas de rock favoritas para distribuir entre os amigos, pois tinha ciumes de minha coleção de revistas e não emprestava. Só depois, quando meu zine, que eu não sabia que era um zine, chegou ás mãos dos donos da Distúrbios Sonoros, loja de discos especializada em rock da época, e que faziam um programa de radio na Atalaia FM chamado Rock Revolution (no qual eu conheci muita coisa que só tinha lido sobre nas revistas), eu recebi um pacote cheio de fanzines e panfletos punk de Silvio da Karne Krua e fiquei sabendo que havia toda uma rede de informação em torno daquilo. Foi bem interessante, me influenciou muito. Depois, já morando em Aracaju, editei meu zine que ficou mais conhecido, o “Escarro Napalm” (hoje em versão blog), através do qual fiz contatos e amizades por todo o Brasil – algumas duram até hoje.

3 - Como você poderia narrar a historia do rock em Sergipe? Você ainda pensa em escrever um livro sobre o rock Sergipano?(Fale sobre as principais bandas sergipanas de todos os tempos) - Eu escrevi uma vez uma matéria para o extinto zine carioca “Bodega” contando como foi o primeiro show a que fui em minha vida. Gostei e tive a idéia de dar continuidade à história, sob o título de “Dossiê Rock Sergipano”. Parei em algum ponto do início dos anos 90, porque me perdi e não sabia mais do que já tinha falado, até que descobri um comandozinho milagroso no Word chamado Control L em que você pode pesquisar palavras no texto (sério, não sabia que existia isso, sou um semianalfabeto em termos de informática) e recentemente comecei a retomar aos poucos o texto, já avançando anos 90 adentro – uma década que foi bastante rica no underground aqui, bem mais que os pioneiros anos 80. Os anos 90 pra mim foram ótimos, pois foi quando me envolvi mais diretamente com o rock, fazia o fanzine, viajava, via grandes festivais (rock in rio II, vários Hollywood rock), tive uma loja especializada (que comprei de Sylvio, a Lokaos), fazia um programa de radio em Itabaiana onde tocava o que quisesse – cheguei a tocar “canção de amor” dos Cabeloduro, a música com a letra mais escrota que eu já ouvi. Enfim, foi divertido. Tinha a aura “heróica” ainda dos anos 80, mas com uma maior riqueza de informação e sem essa confusão que impera hoje em dia. Acho que estamos, todos nós, no mundo inteiro, sofrendo por excesso de informação. Os anos 2000 foram muito confusos – ou vai ver eu é que tou ficando velho, mas acho até que sou dos que se adaptam bem às novas tecnologias. Só não sou obcecado por novidades tecnológicas, como todo mundo hoje em dia parece ser. Twitter, Facebook, iPad, kindle, essa tralha toda, por exemplo, nunca me interessou - O orkut e o MSN já suprem satisfatoriamente todas as minhas necessidades, então pra que eu vou ter que aprender a usar uma nova plataforma, só porque é a novidade do momento ? Claro que também não sou totalmente avesso a novidades, experimentei o facebook e o twitter, cheguei à conclusão que não precisava deles e abandonei. Acho o orkut (e uso o antigo, o novo é muito confuso e cheio de informações inúteis) bem melhor que o Facebook, não sei como o google não conseguiu convencer o mundo disso. Já dentre as maiores bandas de rock de Sergipe eu diria que as pioneiras e mais representativas dos principais estilos são a Karne Krua, a Snooze e a Warlord (no momento parada). Mas nos últimos anos têm aparecido bandas excelentes, como a Plástico Lunar, The Baggios, Nucleador, Berzerkers, Inrisório, The Renegades of punk e muitas, muitas outras.

4 - Como foi o convite para apresentar e produzir o Programa de Rock na Aperipê FM? - Foi bem simples – o diretor lá da FM me convidou pra fazer um programa de rock com Fabio do Snooze e eu aceitei. Aliás escolher o nome do programa foi bem fácil também, como deve ter percebido ...

5 - Como você faz a produção do programa, como é feita a escolha das músicas e das noticias veiculadas no Programa de Rock? - Notícias são poucas. Faço um apanhado dos shows que andam rolando pelo estado e divulgo no ar. É a “Agenda rock”. Notícias e resenhas de shows e discos deixo mais para o blog do programa. A escolha das musicas é parte baseada em meu gosto pessoal, parte com uma intenção mais didática, tipo, de vez em quando toco coisas que nem curto tanto mas que tem importância para a Historia do rock. Tem um espaço aberto para os ouvintes participarem também, o “Bloco do ouvinte”, que eu acho importante justamente para que o programa não fique tão centrado no meu gosto pessoal – apesar de meu gosto ser BEM eclético, vai de Cocteau Twins a Extreme Noise Terror. O programa é de rock, não se prende a nenhum estilo específico, dentro do universo do rock toco de tudo – ou quase, já que coisas como emocore e nu metal eu nunca programei, nem pretendo programar. No máximo uma do Korn num especial de natal.

6 – A Aperipê FM é uma rádio publica. O rock sempre foi um estilo musical de contestação política, cultural, religiosa... Existem normas de conduta por parte da rádio na seleção das musicas ou noticias veiculadas no seu programa ou tudo funciona na base da liberdade de expressão com bom senso por ambas as partes? - Liberdade total. Só não pode falar palavrão – na verdade ninguém nunca me disse que não podia, mas meu bom senso diz que é melhor evitar. Só teve uma vez que um papo lá com um entrevistado, “Homem Brasa” ( www.vivalabrasa.blogspot.com ) tava caminhando muito para o lado da apologia à maconha, já que ele é um maconheiro convicto e inclusive amigo do Capitão Presença em pessoa, em que o diretor da radio ligou pedindo pra “maneirar”.

7 - No ano passado o Programa de Rock foi indicado ao premio de melhor programa de rádio ou rádio rock do Brasil pela Revista Dynamite. Como você viu esse fato? - Vi com surpresa, já que divulgo o programa mais por aqui mesmo, e apenas via internet. Fiquei muito feliz com essa indicação e com o fato de não termos ficado em último na votação – ficamos num honroso penúltimo lugar. Para um programa feito no menor estado do país, de forma voluntária e praticamente sem recursos de marketing, acho que foi um feito e tanto.

8 - Alem dessa indicação, quais foram os pontos altos do programa...(entrevistas, sorteios, apoios...)? - Entrevistar o Ronaldo Chorão, meu ídolo e amigo, ao vivo, foi bem legal. Um programa especial que eu fiz no dia do rock eu acho que ficou bem bacana também, me impus o desafio de contar a historia do rock em 90 minutos de música e acho que, modéstia a parte, em saí muito bem. Os especiais só com rock sergipano acho bem importantes também – nunca imaginei que iria ter a oportunidade de fazer um programa de 2 horas no radio tocando só rock sergipano. Fizemos vários, e faremos mais, já que estamos inseridos no projeto "sergipanidade" da Fundação Aperipê. Fico feliz também com o apoio que pessoas como você, Michael, têm dado ao programa - temos alguns ouvintes cariocas fiéis graças à divulgação que você faz por aí.

9 - A visibilidade do Programa pelo Brasil afora fez com que a Fundação Aperipê estudasse uma versão televisiva do Programa de Rock e um piloto chegou a ser gravado. Qual a possibilidade desse programa ir ao AR de fato? - Acho que nenhuma. O episódio piloto, que não foi ao ar, pode ser visto no youtube.

10 - Recentemente a TV e Rádios Aperipê voltam a ser transmitidas pela internet. Alem é claro do Programa de Rock, quais outros programas você recomenda aos internautas do mundo inteiro como forma de conhecer e usufruir da cultura do estado de Sergipe? - Tem o Clube do Jazz, às quartas, 20:00h, que é muito bom. O sonora, todo dia às 14:00h, é legal também. E o "Encruzilhada", totalmente dedicado ao Blues, todo domingo às 22:00h. No geral é uma boa radio, de longe a melhor por aqui e creio que uma das melhores do Brasil - soube inclusive que tem sido citada como modelo e referência para as demais rádios públicas do país pelo próprio Ministro da Cultura.

11 – Na sua opinião o que falta para o Rock e para cultura sergipana em geral ser reconhecida de forma justa no Brasil? - Não sei. Mais empenho das bandas, talvez – mas ta rolando esse empenho, aos poucos, bandas como The Baggios, Plástico Lunar e, numa seara mais pop, Alapada, começam a aparecer na TV em rede nacional e em Festivais Brasil afora. A questão é que Sergipe é o menor estado da federação e fica localizado numa região historicamente marginalizada, longe do alcance da grande mídia, ou "longe demais das capitais", como dizia o grande filósofo Humberto Gessinger, então é natural que as coisas sejam mais difíceis de acontecer por aqui, em termos de visibilidade. Mas o importante é não ficar "sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar".

12 – Deixe sua mensagem final? - “Keep on rocking in the free world”

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