terça-feira, 29 de junho de 2010

Mark Lanegan: Comitê - São Paulo/SP



Mark Lanegan é um homem tácito. Vocalista da banda mais injustiçada do Grunge - importante movimento musical criado em Seattle, no início dos anos 90, capitaneado por Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden -, o Screaming Trees jamais emplacou na MTV americana e nas college radios como as bandas supracitadas, porém o status cult alcançado após quase 18 anos do lançamento do aclamado álbum "Sweet Oblivion" justifica o retorno ao Brasil do 'frontman' e líder, Mark Lanegan.

Dono de uma voz grave e inconfundível, o calado e misantropo Lanegan subiu ao palco em São Paulo, nessa quinta-feira, dia 24 de junho, para uma apresentação intimista, acompanhado do violonista Dave Rosser.

Sem qualquer introdução a luz é apagada, a cortina é aberta e o show é iniciado com "When Your Number isn't Up", canção do álbum "Bubblegun", de 2004. Para essa turnê, o repertório é basicamente as canções dos seus álbuns solos, com algumas músicas de suas diversas parcerias e uma ou outra pincelada na discografia de sua banda original.

"One Way Street", "No Easy Action" e "Miracle" embalam a seqüência de canções rápidas e diretas. É interessante a postura de Lanegan durante o show, pouquíssima interação com a platéia, mas sem soar arrogante ou pretensioso. Simplesmente ele é assim, e o público parece compreender a postura linear e franca do vocalista.

As melodias são muito bonitas, delicadas e bem arranjadas por Rosner, que ocasionalmente faz backing vocals. A temática das letras é pautada nos conflitos pessoais do vocalista e abrange temas como amor e esperança em "Bell Black Ocean", vulnerabilidade humana em "The River Rise", uso de drogas e romance não correspondido em "One Hundred Days".

Um ponto alto da apresentação é "Traveller", uma das duas músicas do Screaming Trees, juntamente com "Where the Twain Shall Meet", que Lanegan revisita nessa noite. "Julia Dream", cover do Pink Floyd, é bastante saudade pela platéia.

O show está prestes a terminar quando os primeiros acordes de "Hangin Tree" são tocados e levam a casa abaixo. Aliás, a parceria entre Mark Lanegan e Queens of Stone Age é muito frutífera e vem de longa data. Antes mesmo da banda ser montada, Josh Hommes, vocalista, guitarrista e líder da banda, excursionou como músico de apoio durante a turnê de "Dust", a última dos Screaming Trees. A amizade de Hommes e Lenagan é tanta que ele participou de todos os CDs do Queens of Stone Age, seja como membro efetivo da banda ou artista convidado.

Mark agradece o público com um singelo 'Thank You very much', desce do palco escoltado por dois seguranças, passa por entre a platéia, e deixa o local do show pela entrada principal, causando surpresa e estupefação perante a galera presente.

A impressão final é que o público esperava ouvir mais músicas do Screaming Trees, principalmente os sucessos que apresentaram a banda ao mundo nos anos 90. Hanna Santiago era uma das fãs saudosas desse tempo. Após viajar 300 km de Araraquara a São Paulo só para ver o ídolo, mostrou-se um pouco decepcionada. "Gostaria de ter ouvido "Nearly Lost You" e "Dollar Bill". Uma pena que ele não tocou as minhas músicas favoritas, mas só pela oportunidade de vê-lo ao vivo e tão perto, valeu a aventura", disse a estudante.

Mark Lanegan continua o mesmo. Esquisitão e calado, porém um poeta genial, muito à frente de seu tempo e dono de um legado que o tempo não irá apagar. Dos melhores shows do ano, senão o melhor. Mark Lanegan é (quase) Deus.

por Felipe Almeida
TDM

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