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Redson, do Cólera, no auto de sua experiência como frontman da principal instituição do underground brasileiro, nos fala sobre os planos da sua banda para este ano e faz uma reflexão sobre sua trajetória e a do underground nacional, trajetórias que se confundem e se misturam em vários momentos.
1) Em primeiro lugar, gostaria que você nos dissesse qual a diferença entre o Redson de 1979 e o Redson de hoje.
Redson: Em 79 eu tinha 16, hoje tenho 47, mas com uma parcela de 16 ainda preservada. Aprendi a tocar um pouco e gosto de ver como eu era elétrico e empolgado nos anos 70. Aquela pulsação me trouxe até aqui!
2) Fale um pouco sobre o processo de composição do novo disco, data prevista de lançamento, nome, sonoridade, produção, participações e etc.
Redson: O álbum se chamará “ACORDE! ACORDE! ACORDE!, e terá uma sonoridade com pitadas de HC, metal e uma ópera composta por 5 faixas, sendo uma delas, a já conhecida ÓPERA DO CAOS. Estamos lapidando o material e sairá pela Deck Disc ainda em 2010.
3) Como você avalia a atual cena punk/hardcore brasileira? Gosta de alguma banda em especial?
Redson: Bem, vou fazer uma recapitulação breve, desde que comecei a tocar rock; em 1973 e 74, eu via uma cena de rock nacional com poucas bandas, a maioria era de mainstream e haviam poucos show de rock. Os jovens roqueiros dos anos 70, em sua maioria, seguiam o padrão geral dos brasileiros, ou seja, só era bom o som que vinha do “estrangeiro”. Com o surgimento do punk rock, bandas de são Paulo cantando em português, letras próprias e arranjos com cara local. Esta postura foi responsável pela quebra de barreiras para o som feito aqui. De lá pra cá, só houve a intensificação do “faça você mesmo”. Se nos anos 70 as bandas eram de São Paulo, atualmente elas surgem como coelhos, de norte a sul do pais. Nas grandes cidades e também nas pequenas, tem bandas, shows, centros de cultura. Avalio, então, focando a importância desta evolução da cultura alternativa tupiniquim. Bandas que posso citar da atualidade:Zeferina Bomba, Sociedade sem Hino, sem esquecer que muitas bandas antigas estão atuando em grande estilo:Ação Direta, Devotos, DZK, 88Não, Karne Krua, Confronto...
4) Assim como você, também nasci e passei boa parte da minha vida na periferia da zona sul da São Paulo. Qual sua visão sobre a cena cultural da região? Gosta de Racionais?
Redson: A carência de informação e de acesso em geral, faz de regiões como o Capão Redondo, permancerem na situação de subdesenvolvido. Gosto de algumas do Racionais.
5) Na sua opinião, qual é o melhor disco do Cólera? E o pior?
Redson: Em questão de sons, não tenho nenhum que eu não curta ou que seja melhor que outro. Mas em questão de qualidade, cito o que ficou mais “zoado” o Mundo Mecânico (os outros álbuns que tem gravação fraca, não apresentam propostas de sonoridade que tentamos no Mundo Mecânico. O resultado do estúdio decepcionou com a sonoridade). Já, melhor tecnicamente pra mim, estão empatados o “Deixe a Terra em Paz!” e o “Primeiros Sintomas”.
6) O Cólera já esteve duas vezes na Europa, e foi a primeira banda punk brasileira a excursionar por aquelas bandas, algo que muitos nem imaginam. Quais as diferenças entre o cenário underground europeu e o brasileiro?
Redson: O padrão de vida europeu já difere e muito do nosso. A cena de lá tem um histórico de auto-estima e infra estrutura bem mais acima do que o brasileiro. Alguns squats possuem hoje, infra de SESC (mas com aparência de centro cultural..hehehe). As pessoas engajadas na cena, em sua maioria, são bem informadas; sabem muito sobre a história do nosso país, tanto em questão de underground, como de Amazônia, lutas ativistas. Eles valorizam muito as bandas como Cólera, que construíram uma história sem muitos recursos por aqui e ainda, abriram caminho mundo afora para o som do faça você mesmo tupiniquim.
7) Você também participou na fundação de outra banda seminal em nosso cenário, o Olho Seco. Conte-nos um pouco sobre sua época no Olho Seco.
Redson: Era de certa forma divertido, bolar arranjos que as vezes era tiração; como "QUE VERGONHA" e ver o Fabião incluir letra e virar um som legal e oficial. Até mesmo ser regravado. Eu gostava muito de tocar na banda e dos arranjos que fazia na época, aliás, todos gostavam. O Olho Seco surgiu somente para gravar no Grito Suburbano e acabar, mas o som, a idéia, eram tão marcantes que a banda perdurou história adentro, ou melhor, afrente. Eu só sai da banda quando a idéia foi mudar o som de HC para crossover.
8) O Cólera sempre abordou a questão ambiental em suas letras, em alguns discos até mesmo de uma maneira mais enfática como foi o caso do Verde, Não Devaste (1989) e do Deixe a Terra em Paz (2004). Você é afiliado ou simpatizante de alguma organização/ong de defesa ambiental ou age de maneira isolada para preservar o ambiente?
Redson: Essa questão é para mim, a mesma coisa que perguntar sobre política. Acho que essas posturas temos que ter no dia a dia, esteja filiado a grupos organizados, partidos ou o que for, vale aquela frase:”não adianta ir a igreja rezar e fazer tudo errado!” Na época do Verde, estive no CEACOM que foi o grande contribuidor do material que consta no zine encarte que vinha no LP (hoje parte do encarte do CD = ilustrações e textos).
9) O Cólera está no cast da Deck Disc? Se sim, o que motivou a saída de Devil?
Redson: Não saímos da Devil, hehehe. Somamos mais uma parceria, a Deck, que vai lançar um álbum do Cólera, o ACORDE ACORDE ACORDE.
10) Esse será o primeiro disco com a formação clássica da banda em 23 anos (o último foi o EP É natal!!? de 1987). Podemos esperar uma sonoridade um pouco mais próxima do "Pela Paz Em Todo O Mundo"?
Redson: Não. O álbum tem uma pegada de um pouco de cada época, com boa influencia de metal e também pegadas atuais. Tem uma ópera formada por 5 musicas. Poucos solos. Alguns vocais com timbres novos e outros do jeito antigo.
11) Como você administra a relação banda/família com seu irmão Pierre?
Redson: É sussa. Sabendo separar os assuntos, dá para fazer muita coisa junto.
12) Todos sabemos que é inviável viver do underground brasileiro unicamente. Gostaria que você falasse sobre as ocupações da cada um fora da banda.
Redson: O Pierre trabalha firme numa corretora de grãos; soja. O Val também tem emprego fixo. Eu, vivo de música atualmente; dou aula de canto, faço produção de áudio (preparar e gravar a banda em estúdio); e também trabalho com 3 bandas, o Cólera, o Combat Rock, que toca The Clash e rock nacional dos anos 80, e a mais recente, Sex Pistols cover.
13) Ping-Pong:
Rock: boa saída para a liberdade
Drogas: veículos potentes, se não pilotas, não entre
João Gordo: amigo Internet: "faca de 2 legumes", o que vale é a intenção por trás da faca.
Emo: tional
Dinheiro: "faca de 2 legumes"
São Paulo: megacrazybigcity, and Ilike it!!!
Cólera: amor incondiocional
14) Espaço livre. Diga o que quiser.
Redson: Faça você mesmo, faça pra entender!!!
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Por Willian Alves
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