Como se não fosse o suficiente, Biafra ainda arranjou tempo entre suas atividades musicais para se candidatar a cargos políticos nas ocasiões da eleição a prefeito de São Francisco em 1979 e mais tarde, para presidente dos Estados Unidos no ano de 2000 pelo Partido Verde.
Em 1992, o vocalista participou de uma jam session no extinto Aeroanta junto aos músicos João Gordo e Jão [Ratos de Porão], Igor Cavalera e Andreas Kisser [Sepultura] no lançamento do livro Barulho de André Barcinsky. E em novembro de 2010, Jello visitará o Brasil novamente, desta vez com seu novo projeto JELLO BIAFRA & THE GUANTANAMO SCHOOL OF MEDICINE que inclui ex-músicos de grupos da Rollins Band, Butthole Surfers e Victims Family.
A turnê passa pela Argentina e no Brasil, estão confirmadas duas apresentações no Hangar 110 [uma junto ao Ratos de Porão e outra com o Flicts] e outra no Rio de Janeiro no Teatro Odisséia, totalizando 5 apresentações na América do Sul.
Datas:
03/ Nov./ 4a-Feira – El Sotano – Rosário – Argentina
04/ Nov./ 5a-Feira – Teatro Colegiales – Buenos Aires – Argentina
05/ Nov./ 6a-Feira – Hangar 110 – São Paulo – Brasil com Ratos de Porão
Ingressos: http://www.ticketbrasil.com.br/ingressos/jello-biafra-and-guantanamo-school-of-medicine-hangar.html
06/ Nov./ Sábado – Hangar 110 – São Paulo – Brasil com Flicts
Ingressos: http://www.ticketbrasil.com.br/ingressos/jello-biafra-and-guantanamo-school-of-medicine-no-hangar-110-em-sp-06-09.html
09/ Nov./ Domingo – Teatro Odisséia - Rio de Janeiro – Brasil
Ingressos: http://www.ticketbrasil.com.br/ingressos/jello-biafra-teatro-odisseia.html
Realização: Hangar 110 e Highlight Sounds
Apoio: Revista Tribo Skate, Funtime e Sick Mind
www.myspace.com/jellobiafraandthegsm
BIOGRAFIA
Lá se vão 20 e poucos anos desde que o Dead Kennedys - o maior fruto da mente do lendário vocalista Jello Biafra - se debandou oficialmente. Desde então, Biafra tem se mantido ativo e construiu uma carreira baseada em palestras intercaladas com diversas colaborações junto aos mais comprometidos e respeitados nomes da música underground. Gravar álbuns com projetos e sair em turnê junto a nomes como Melvins, No Means No, DOA, Mojo Nixon e LARD [junto a Al Jorgensen do Ministry], entre outros, o ajudou a manter seu hardcore como uma verdadeira arma política e sua mensagem afiada. Mas com a falta de uma banda à qual ele pudesse chamar de sua, estas colaborações geralmente acabavam durando pouco e deixavam Biafra com toneladas de músicas que dificilmente veriam a luz do dia.
Inspirado pelo show de aniversário de 60 anos de Iggy Pop no Warfield em São Francisco, Biafra passou a planejar algo para o sua festa de aniversário de 50 anos e finalmente decidiu que era hora de começar sua própria banda. Dez anos antes, ele já havia tentado a mesma coisa com o guitarrista Ralph Spight [Victims Family, Freak Accident, Hellworms] e o baterista Jon Weiss [Sharkbait, Horsey]. Eles também já haviam trabalhado junto ao baixista Billy Gould [Faith No More, Brujeria], que estava cotado para se unir ao grupo. Após ensaiar por um mês, o quarteto conhecido como Jello Biafra and The Axis Of Merry Evildoers subiu ao palco em dois shows com ingressos esgotados no Great American Music Hall em São Francisco e logo em seguida, passou os próximos 9 meses ensaiando para a gravação de um álbum.
Antes de entrar no estúdio, o guitarrista Kimo Ball [Freak Accident, Carneyball Johnson, Mol Triffid, Griddle] foi recrutado, resultando em um ataque de guitarras duplas, o que acabou levando a sonoridade do grupo a novos e barulhentos patamares. O quinteto, agora conhecido como JELLO BIAFRA AND THE GUANTANAMO SCHOOL OF MEDICINE, começou a gravar as faixas do álbum The Audacity of Hype [Alternative Tentacles] lançado na 2a metade de 2009. Para a produção e trabalhos de engenharia de som, Biafra se juntou ao velho amigo, sócio-conspirador e lendário produtor de hip hop Matt Kelley [Hieroglyphics, Tupac, Digital Underground, Victims Family], para comandar as gravações nos estúdios Prairie Sun Recording em Cotati, Califórnia e no Hyde Street Studios em São Francisco.
O projeto mantém parte da sonoridade caótica do Dead Kennedys adicionada a uma dose saudável do proto-punk característico de Detroit misturado com camadas de guitarras sônicas e barulhentas e o estilo industrial que o baterista Weiss possui de realizar percussões com incursões de metal. Os assuntos abordados no álbum vão desde a lavagem cerebral anti-Iraque que os poderosos de Washington enfiam guela abaixo dos americanos comuns, passando pela crítica a uma polícia que foge de seu legítimo compromisso de proteger o cidadão e a guerra de classes contra os menos favorecidos. Biafra também propõe à geração Barack Obama, ao seu próprio estilo ácido e crítico, que as mudanças reais acontecem quando a agitação vem de baixo e não de ações glamourosas vindas de cima.
Mesmo após tanto tempo, Jello Biafra lança um álbum que solidifica e expande sua visão livre de concessões e atualizada com os dias atuais, junto a um grupo poderoso que promete ser uma máquina viva e aterrorizante em qualquer palco que venha a atuar e que agora, traz o baixista Andrew Weiss [Rollins Band, Ween, Butthole Surfers] ocupando o posto de baixista, já que Billy Gould teve de retornar recentemente ao Faith No MoreApós mais de três décadas em que o punk resgatou a simplicidade do rock’n’roll, reinventou a rebeldia e subdividiu-se em diversas correntes, poucos são os protagonistas originais que permanecem relevantes.
Jello Biafra, 52 anos de idade, é o maior deles. Inteligente, ácido, politizado. Liderou uma das mais influentes bandas do gênero, fundou um selo que lançou mais de 400 álbuns, proferiu palestras, militou na política, gravou discos de “spoken word” e assinou discos com gente do naipe de Al Jourgensen, D.O.A., Nomeansno, The Melvins e até o country freak Mojo Nixon.
A integridade de Jello e sua obra de alto impacto dão um significado adulto ao que se denomina punk. A capacidade de se reinventar, sendo o cronista ácido de sempre, esmaece o revisionismo dos punks da primeira geração e passa a limpo a apropriação indébita do termo pelos oportunistas de hoje.
Após 18 anos, Jello Biafra volta ao Brasil. A primeira visita deu-se por conta do lançamento do livro Barulho, de André Barcinski, e rendeu duas performances tão rápidas quanto históricas. A primeira em São Paulo, no extinto Aeroanta, ao lado de RDP e Sepultura. A segunda no Rio, onde realizou uma jam com o power combo francês Mano Negra, liderado pelo futuro trovador global Manu Chao.
Nesse fim de semana, Jello desembarca por aqui com sua primeira banda fixa desde o fim dos Dead Kennedys – no já longíquo ano de 1986. A Guantanamo School of Medicine é uma banda de alto calibre e com a qual o vocalista gravou o exuberante e poderoso The Audicity of Hype.
Dentro do devido contexto, os shows que nos aguardam têm a carga de importância para serem lembrados por muitos anos.
A Rock Press, por intermédio da Highlight Sounds e Alternative Tentacles, conversou com exclusividade com Jello Biafra alguns dias antes de sua viagem para o Brasil.
De sua casa, em San Francisco, Biafra conversou com nossa reportagem por aproximadamente 40 minutos. A qualidade da ligação oscilou entre o ruim e o péssimo, ainda que, com a boa vontade de Jello, tenhamos feito nada menos que três telefonemas para tentar sanar o problema.
O que você lê a seguir é a transcrição da espinha dorsal dessa conversa com um artista e pensador que possui, de fato, o dom da palavra.
Mas nossa equipe já está providenciando uma correção digital no áudio original da entrevista para que possamos, em breve, publicar o papo na íntegra e com a transcrição ipsis litteris como exige, e merece, o entrevistado.
Abaixo, alguns trechos da entrevista:
Você tem alguma observação sobre o crescimento da esquerda na América do Sul?
Tudo que eu sei é que parece estar melhor do que estava antes. A expectativa pelo trabalho do Lula foi mais ou menos o que aconteceu com o Obama. Não vou dizer que sei tanto assim sobre os resultados, porque estou distante do dia-a-dia, mas vejo que o Brasil se alinhou comercialmente com um grupo de países, como China, Índia e outros. E agora pode tomar certas decisões por si mesmo sem tanta interferência da OMC. Dane-se isso! E eu gosto dessa postura.
Ouvi dizer que quando você esteve aqui em 1992, não estava imaginando que iria ter que se apresentar ao vivo. Estive presente e me recordo de ver Paul Barker, baixista do Lard e Ministry, vendo o show encostado no amplificador. Mas você cantou 3 músicas. O que, de fato, aconteceu?
O autor de um livro, que veio aos EUA e entrevistou o Ministry e o Cramps, me convidou para ir ao Brasil no lançamento para autografar alguns exemplares. E que me levaria na Amazônia e outras coisas mais. Mas não foi nada disso que aconteceu e…
…e você foi pego de surpresa descobrindo que todos estavam esperando que você se apresentasse?
Totalmente! Mas ainda acabei indo ao Rio de Janeiro, pois justamente naquela época estava acontecendo aquele evento ambiental, Rio Summit, não se como se chama no Brasil…
Foi a ECO92.
Certo, ECO92. E lá estavam todas aquelas autoridades importantes. Achei que eu deveria participar. Me lembro que voei no mesmo avião de vários deles. As coisas que ouvi na época, sobre as corporações pegarem o gene de um animal e usarem para que o quisessem me levou a escrever “Biotech is Godzilla” que o Sepultura acabou gravando.
CLIQUE AQUI PARA LER A ENTREVISTA COMPLETA
por Eduardo Abreu
Jello Biafra, ex-líder do Dead Kennedys, vem ao Brasil mostrar The Audicity of Hype, disco de sua nova banda, The Guantanamo School of Medicine, e fala sobre idade, política e um curioso encontro no Rio de Janeiro, em 1992
Por Jardel Sebba
1 - O que acha que soa diferente nesse primeiro álbum com a The Guantanamo Schhol of medicine dos demais trabalhos que você já fez ?
Eu não analiso as coisas dessa forma, eu simplesmente as faço. Se algumas pessoas pensam que canções desse novo disco soam como Dead Kennedys, não vou fugir da comparação, escrevi boa parte das canções da banda. Acho que tenho um estilo de compor que acrescenta psicodelia ao som, o que resulta em algo que não é tão comum em bandas punk.
2 - Depois de tantos anos na estrada, você se sente diferente quando senta para escrever uma canção hoje?
Sou um animal político a qualquer tempo. Escrevo sobre o que acredito que é interessante e importante. Claro, há algo pessoal na música, mas não quero desperdiçar boas canções com coisas que não gosto de ouvir em outros artistas. Eu tento atacar o sistema por ângulos diferentes das outras pessoas. Quando produzo um álbum estou mais interessado em sentimento, impacto, vibração do que ter todas as notas de um instrumento perfeitamente bem tocadas.
3 - Aos 52 anos, você se sente velho no meio do punk rock?
Às vezes acho engraçado quando olho para trás e penso o número de shows no underground nos quais eu era a pessoa mais velha na plateia. Algumas vezes 15, 20 anos mais velho! Mas isso é uma coisa boa. Nunca deixei de ser um fá de música, gosto do lado selvagem do rock’n’roll, o que me leva, claro, ao punk rock. Acho que a questão principal sobre idade é que hoje preciso me exercitar mais entre os shows, para que possa fazer o que faço no palco.
4 - Incomoda ser tratado com reverência no meio do punk rock, um lugar não muito apropriado para culto a ícones?
Acho que trabalhei duro o bastante e arrisquei bastante o meu pescoço para esperar que hoje seja tratado com algum respeito. Essa coisa de ícone vai e volta, nos primeiros anos isso não era comum, qualquer pessoa que tinha um papel importante no palco não podia agir como uma estrela fora dele. Começou a mudar mais tarde, com o punk mais comercial, quando todo mundo queria que seus amigos curtissem sua música logo nos primeiros shows e media sua popularidade pelo apoio de companhias de skate, de tênis ou de cervejas. Era a maneira deles acharem que estavam sendo bem sucedidos como artistas, o que eu sempre achei que cheirava muito mal.
5 - Você se candidatou a prefeito de São Francisco no fim dos anos 1970. Já pensou de verdade em se candidatar a presidente, e qual seria sua primeira medida, uma vez eleito?
Eu fui candidato a presidente, um pouco pelo menos, em 2000, quando o pessoal da convenção de Nova York do Partido Verde me chamou para ser candidato ao lado de Ralph Nader, e eles nem perguntaram se era filiado o partido. Eu era, por sorte. Mas não concorri de verdade, primeiro porque não tive tempo, depois porque não queria competir com Nader, eu era eleitor dele. Mas achei que era uma boa ideia deixar meu nome nas primárias de alguns estados, as pessoas que me conheciam mas não conheciam o Nader nem o Partido Verde poderiam ter um estímulo a mais para sair de casa, se registrar e votar. Acho que a primeira coisa que faria seria chamar os militares no Iraque e no Afeganistão imediatamente de volta. Outro ato imediato seria usar o poder presidencial para reduzir ou tirar da cadeia todos os que estão condenados por uso de drogas. O problema é que o presidente só pode fazer isso com prisioneiros federais, e a maioria das pessoas presas com maconha e afins são prisioneiros estaduais, logo eu teria de convencer os governadores a fazer o mesmo. Também seria bastante tentador virar as costas para a Nafta e mandar um “foda-se” para a Organização Mundial do Comércio de uma vez por todas.
6 - Você consegue se manter distante da grande música comercial que domina o mercado americano? Sabe, por exemplo, quem são e o que fazem Lady Gaga e Justin Bieber?
Não se esqueça que eu sou um grande fã de música, é meu único vício, especialmente os vinis. Quem me viu na minha viagem ao Brasil lembra como fiquei louco nas lojas de discos do Rio e de São Paulo. Ao mesmo tempo, não vejo muito sentido em perder meu tempo com a cultura pop comercial quando posso prestar atenção em algo interessante, ou fazer música ou arte por minha conta. Sempre fui assim, há dúzias de programas famosos de TV daqui que eu nunca vi. Na minha adolescência, por que eu ficaria vendo “As Panteras” se podia ir ao meu quarto ouvir os Stooges? Eu me divorciei da música mainstream e do rádio comercial quando tinha 13 anos de idade. Foi quando comecei a comprar meus discos e me encher de rádios que tocava muito Eagles e pouco Black Sabbath.
7 - Reza a lenda que a primeira vez que você e o ex-governador da Califórnia Jerry Brown, pintado como um fascista por você em um dos clássicos do Dead Kennedys, “California Über Alles”, se encontraram foi durante a Rio-92, aqui no Brasil. Todo mundo teria ficado em pànico quando percebeu que vocês estavam no mesmo lugar, ma no fim vocês se cumprimentaram e foi tudo bem. Foi isso mesmo que aconteceu?
A gente não se cumprimentou, mas de fato a primeira vez que estivemos num mesmo ambiente foi num restaurante no Rio de Janeiro, mas cada um na sua mesa. Mas estive com Brown algumas vezes depois disso. Ele passou por fases bem diferentes. Virou um radical de esquerda na época da eleição de Bill Clinton, envolvido com questões ambientais, com as quais eu também estava envolvido, e nessa época nos encontramos algumas vezes. Uma pelo menos foi engraçada, houve um jantar na casa dele para o qual eu fui arrastado pelo Michael Moore, e uma das pessoas da equipe dele falou: “Eu toquei um disco seu para o Jerry hoje de manhã“, no que eu pensei: “Ai, que merda…” (risos)
8 - Ele não deve ter curtido ouvir “California Über Alles“…
Mas lembre-se que todas aquelas teorias dessa música, do Brown ser um novo fascista, caíram por terra quando Ronald Reagan foi eleito. Foi quando percebi que Reagan e sua turma eram uma ameaça muito maior que Brown. Acredite ou não, Brown vai concorrer para governador da Califórnia novamente.
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ResponderExcluir- David