segunda-feira, 8 de novembro de 2010

# 168 - 05/11/2010


Mais que um “movimento” com ramificações políticas e/ou comportamentais em torno de uma “tribo” específica, o termo “grunge” é uma denominação genérica para as bandas de rock baseadas em Seattle que tinham forte influencia de Metal, do punk rock e do rock alternativo. Seu maior expoente foi o Nirvana, que já chegou a ser descrito como um meio termo entre os Beatles e o Black Sabbath e era identificado, principalmente antes do surgimento do “rótulo” em questão, com a cena independente das então chamadas “guitar bands”, especialmente o Sonic Youth, de quem eram amigos e que obteve uma maior projeção internacional na esteira do sucesso do trio liderado por Kurt Cobain, e o Pixies, que eles confessadamente tentaram emular em seu maior hit, “smells like teen spirit”. O Nirvana foi precedido pelo Green River, que pode ser considerado o útero onde foi gestado o “grunge”, já que de sua formação faziam parte Mark Arm, Jeff Ament e Stone Gossard. Os dois últimos fizeram parte posteriormente do Mother Love Bone, cujo som se caracterizava por ser uma mistura do peso e da levada do heavy metal e hard rock dos anos 1970 (de bandas como Led Zeppelin, Deep Purple e Aerosmith) com a melodia e a energia punk de Stooges e MC5. Dessa matriz sonora surgiria o estilo musical que dominou as paradas de sucesso de todo o mundo na primeira metade dos anos 90 com nomes como o Soundgarden, Alice In Chains e Pearl Jam, este último fundado por Gossard e Ament. Correndo por fora, havia o Screaming Trees, composto pelos amigos Mark Lanegan, Van Conner e Gary Lee Conner e vindos de Ellensburg, cidade próxima de Seattle, e o Mudhoney, de Mark Arm, em atividade até hoje.

Toda esta impressionante movimentação que levou o chamado “rock alternativo” ao mainstrean foi capitaneada pela gravadora Sub Pop, fundada en 1979 em Olympia, estado de Washington, por Bruce Pavitt, como um fanzine local especializado em rock alternativo batizado inicialmente como “subterranean pop”. Já na segunda edição a publicação passou a usar o nome que a tornaria célebre. Alternou edições de sua revista com fitas K-7 que continham compilações de bandas diversas da cena independente local. Foram publicadas nove edições ao todo: seis revistas e três fitas. Com o tempo, o fanzine parou de ser produzido e a empresa se concentrou na distribuição das fitas. Como não houve retorno financeiro, a publicação da Sub Pop passou a se resumir a uma coluna na The Rocket, revista de Seattle. Em 1986, Pavitt se mudou para a capital do estado e lançou o EP-compilação “Sub Pop 100” (onde há uma faixa do Sonic Youth). No ano seguinte grava o primeiro trabalho com uma banda exclusiva, o EP “Dry as a Bone”, do Green River. Também em 1987 Kim Thayil, do Soundgarden, o apresenta a Jonathan Poneman e os dois criam, enfim, o selo Sub Pop Records, cujo primeiro lançamento foi o EP “Screaming Life”, do Soundgarden. Seu maior sucesso comercial, no entanto, seria “Bleach”, primeiro álbum do Nirvana. O prestígio da grife era tamanho que o grupo exigiu que a marca da gravadora underground que os descobriu fosse impressa em seus discos posteriores, lançados pela gigante do mercado fononográfico Geffen. Com o fim da “era grunge” o selo de Pavitt (que deixou a gravadora em 1996) e Ponneman foi perdendo projeção, mas existe até hoje – e não sem antes lançar, em 1994, o primeiro disco do Sunny Day Real State, também de Seattle, um dos pilares a partir do qual se formou o que hoje se conhece como “emocore”.

A revolução provocada no dial das rádios e na programação da MTV pelo grunge foi tamanha que por um momento chegou-se a crer que o “mainstrean” havia se rendido, finalmente, ao “underground”, e passaria a ser povoado, dali pra frente, por musicas de qualidade e com conteúdo e não pastiche feito apenas para vender discos. Ledo engano. Como costuma acontecer em qualquer processo “revolucionário”, com o tempo a essência foi se diluindo e começaram a aparecer versões mais palatáveis às grandes massas, com nomes como Silverchair, Stone Temple Pilots (estes melhoraram com o passar do tempo, mas começaram como uma emulação diluída de clichês do grunge), Bush e Creed. Um processo de degradação que foi se acentuando à medida que os maiores ídolos da época iam sucumbindo à falta de estímulo e a problemas pessoais potencializados pelo uso excessivo de drogas. O suicídio de Kurt Cobain e a morte de Layne Stanley, vocalista do Alice In Chains, foram revezes difíceis de ser superados. A pá de cal foi colocada, no entanto, quando da dissolução do Soundgarden, em 1997. O Pearl Jam seguiu em frente, mas já como uma entidade à parte, enquanto as paradas de sucesso, na segunda metade da década, eram tomadas pelo “brit pop” de Oasis e Blur, pelo “punk pop” de Green Day e Offspring e pelo “New Metal” de Korn e “associados”.

O programa de rock da última sexta-feira prestou tributo a este último grande “movimento” do rock em sua abertura, com alguns dos maiores “hits” do Mudhoney, Soundgarden, Alice in Chains e Screaming Trees. Na sequencia, um novo “hype”alternativo, cortesia dos comparsas do Loaded E-zine em mais uma colaboração semanal exclusiva, e sons das três bandas que protagonizarão, logo mais à noite, mais uma “Noite Fora do Eixo”, na Rua da Cultura, os sergipanos da Mamutes, os pernambucanos d´A Banda de Joseph Tourton e os argentinos do Falsos Conejos.

A segunda metade do programa foi inteiramente dedicada à coletânea “Brazilian Guitar Fuzz Bananas”, um sensacional resgate de gravações obscuras de bandas psicodélicas brasileiras dos anos 60 e 70 que veiculamos na íntegra, em todo o esplendor e vigor criativo de suas 16 faixas.

See you later, alligators.

por Adelvan

* * *

Coletânea reúne faixas raras dos primórdios lisérgicos do rock brasileiro

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Illustrada

A bateria é quase sempre acelerada. Os vocais variam entre o etéreo e o esganiçado. O som das guitarras é distorcido. As letras, escritas sob puro delírio surrealista.

Primeiro lançamento do selo americano Tropicalia in Furs, a coletânea "Brazilian Guitar Fuzz Bananas" recolhe, em CD simples ou vinil duplo, 16 faixas da fase mais psicodélica do rock nacional. Raríssimo, o material é uma espécie de elo perdido da nossa história musical. Jamais foi reeditado por aqui. E, ironicamente, volta à tona em edição estrangeira.

As gravações foram feitas entre 1967 e 1976 e editadas originalmente em compactos. Já pelos nomes das bandas selecionadas --Loyce e os Gnomos e Tony e o Som Colorido, por exemplo-- pode-se ter ideia do teor lisérgico do som que faziam. Os títulos das músicas dão mais pistas: "LSD - Lindo Sonho Delirante", "As Turbinas Estão Ligadas", "Som Imaginário de Jimi Hendrix" etc.

A garimpagem de todo esse material foi feita pelo brasileiro Joel Stone, 38. Paulista, ele se mudou para Nova York há 12 anos e hoje é dono da loja de discos Tropicalia in Furs, no East Village. Joel conta que passou cerca de 4 anos para conseguir todos esses compactos. Em barganhas, chegou a trocar um único disco por 300 LPs americanos de funk e soul.

"Depois que consegui todos, fiz uma pesquisa sobre cada um e descobri que quase ninguém conhecia o que eu tinha, incluindo colecionadores", diz. "A partir daí, o que eu estava fazendo começou a fazer sentido." Como não conseguiu localizar todos os envolvidos nas gravações, Joel fez um esquema de "caderneta de poupança", em que reserva direitos autorais dos artistas que não foram encontrados.

LSD - "Lindo sonho delirante, hoje eu quero viajar, yeah, yeah/ Onde está o meu castelo?/ Meu tapete voador?" Parceira do cantor Fábio e do produtor musical Carlos Imperial, a faixa "Lindo Sonho Delirante" simboliza o que Joel quis reunir no disco. A música rouba a ideia de "Lucy in the Sky with Diamonds", dos Beatles, em que as iniciais do título resultam no termo LSD, o ácido mais famoso daquela geração.

"O pessoal do rock gostava dos alucinógenos", diz o cantor Tony Bizarro, 62, que está no disco com a faixa "O Carona". "A gente, do soul, preferia um 'baurets' [maconha], só queria fumar unzinho." "Tomava LSD quem queria se libertar", emenda o roqueiro Serguei, 76, intérprete da malucona "Ouriço". "Hoje em dia, as bandas de rock não estão atendendo nesse sentido. Os beatniks de agora são os emos", diz. "A revolução que a gente fez, da qual sou um dos únicos que restam, era outra coisa."

Músico ligado ao jazz, Célio Balona caiu na bacia dos psicodélicos por acaso. Seu "Tema de Batman" era uma brincadeira para os filhos. Disse aos meninos que era amigo do personagem dos quadrinhos e, para provar, criou sua própria versão para a música que tocava na série de TV --que soa um tanto lisérgica aos ouvidos adultos. "Fiz as vozes todas, os arranjos, interpretei o Batman e os marcianos", lembra.

Intérprete de "Cinturão de Fogo", Marisa Rossi, 60, afirma que foi a chegada de Roberto Carlos que modificou a relação dos músicos com a psicodelia. "Quando ele veio com a jovem guarda, a coisa amenizou. Era bom menino e não queria falar de drogas."

* * *

Mudhoney – Suck you dry
Soundgarden – Fell on Black days
Alice In Chains – Heaven Beside you
Screaming Trees – Dollar Bill

Homemade Blockbuster – Sweet boys sweet girls
Homemade Blockbuster – Dance Moves
(Drop Loaded)

Mamutes – Te deixando o meu bye bye
Falsos Conejos – Estrobos
A Banda de Joseph Tourton – 16 minutos

Célio Balona – Tema do Batman
Loyce e os Gnomes – Era uma nota de
The Youngsters – I wanna be your man
Serguei – Ouriço

Fabio – Lindo sonho delirante
Tony e o som colorido – o carona
14 Bis – God save the Queen
Banda de 7 léguas – Dia de chuva

Ton & Sergio – Vou sair do cativeiro
Ely – As turbinas estão ligadas
Com os Falcões Reais – Ele século xx
Marisa Rossi – Cinturão de fogo

Piry – Herói moderno
Marc Rybell – the lantern
The pops – som imaginário
Loyce e os gnomes – que é isso?

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