terça-feira, 23 de novembro de 2010

Paul McCartney no Brasil


As 64 mil pessoas que se apinharam no Morumbi, domingo, em São Paulo, não têm do que reclamar. Saíram do estádio depois de ter visto Paul McCartney cantar as músicas de suas vidas, com a simpatia de quem é o amigo mais próximo de cada uma delas. E vai ver que é mesmo. O músico conversou o tempo todo com a plateia num português lido de última hora que continha expressões como “E aí, galera?”, ‘Tudo bem, paulistas?” e “Vocês estão gostando?”, com o “s” carregado típico dos cariocas. Em cerca de 2h45 Paul tocou basicamente o mesmo repertório da “Up And Coming Tour” (idêntico ao do show de Porto Alegre), totalizando nada menos que 34 músicas.

Turnês de rock, em geral, são assim. Tudo certinho e programado de tal forma que cada fã já sabia mais ou menos que música viria a seguir. Só a reação do público e a emoção que resulta da interação com o artista é que não aparece dimensionada friamente no roteiro. Por isso foi possível ver um cascudo Paul McCartney, 68, nos telões gigantes com os olhos cheios d’água em mais de uma oportunidade. Não só nos momentos óbvios, em que ele homenageia os ex-companheiros dos Beatles John Lennon e George Harrison, já falecidos, com “Here Today” e “Something”, respectivamente. Acontece em trechos distintos da noite, em “Let It Be”, na parte final; “Long And Winding Road”, na primeira vez em que Paul senta ao piano; e em “Hey Jude”, a bisavó das baladas, que encerra a primeira parte, num drama daqueles.

O show de Paul McCartney foge do que comumente se vê em turnês de artistas consagrados. Estão lá os telões centrais e laterais (um de cada lado), mas a banda é enxuta. Não há, por exemplo, naipe de metais, backing vocals ou outros músicos de apoio. Tudo se resolve entre os experientes guitarristas Rusty Anderson e Brain Ray, que junto com Paul se revezam em solos e parte rítmica, o versátil tecladista Paul Wix Wickens e baterista e figuraça Abe Laboriel, também dançarino nas horas vagas. Todos cantam e fazem coros relevantes em várias músicas. A parte visual é econômica. Afora os fogos de “Live And Let Die” (há algo de Guns N’Roses ali) e tímidos jatos de confete verde e amarelo no final, não há efeitos especiais.

Isso porque o Show de Paul McCartney é baseado – repita-se - num apanhado de canções excepcionais. Se não são músicas colantes, pertencem a uma espécie de inconsciente coletivo musical sem fronteiras. Não é qualquer música que faz 64 mil pessoas suspirarem simultaneamente ao serem simplesmente anunciadas, como “Hey Jude” e “And I Love Her”. Imaginem ao serem executadas num volume de som alto e encorpado. Não por acaso quase toda canção do repertório é cantarolada do início ao fim, muitas vezes com setores diferentes do estádio se empenhando uns mais que os outros. Quando Paul dá a deixa, então, é mais um momento de marejar os olhos. Foi assim em “Mrs. Vanderbilt”, com um atraente “ô-ê-ô-ê”; em “Olba Di Obla Da”, que enlouquece a platéia; e em “A Day In The Life”, emendada com “Give Peace a Chance”, com todo mundo segurando balões brancos, num dos momentos mais bonitos da noite.

O repertório, no entanto, parece não seguir qualquer lógica conceitual. É uma música boa atrás da outra e ponto final. No afã de interagir com o público, Paul conversa muito entre todas elas na parte inicial, o que, se encanta pela leveza e simpatia, quebra um pouco a sequência do espetáculo. Na segunda metade da noite, até pela inclusão de verdadeiros blockbusters da música pop, o ritmo é outro. Embora a palavra Beatles pareça ilustrar a testa de cada um no meio do público, músicas da carreira solo ou do Wings também agradam geral. “Band On The Run”, quase um tema progressivo, por exemplo, levanta o Morumbi com um ímpeto inesperado. A energia foi tanta que até a chuva anunciada pelo serviço meteorológico se dissipou pelos ares.

O desfecho vem com a banda voltando ao palco com bandeiras do Brasil e do Reino Unido, e com “Day Tripper”, a tataravó do hard rock, que levanta o público como poucas músicas de maior apelo conseguiram. O final do primeiro bis é com “Get Back”, em total ritmo de festa. No segundo bis, Paul vem só com o violão para “Yesterday”, a música mais regravada em todos os tempos, e depois lança a senha para “Helter Skelter” derrubar os fãs depois de duas horas: “Vocês querem rock?” - na saída o próprio McCartney leva um tombo daqueles ao deixar o palco. Mas ninguém arredou o pé até ver e ouvir, ao vivo, a faixa-título do álbum mais importante do mundo, executada por quem estava lá. “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band” fecha uma noite na qual se passaram mais de 40 anos.

por Marcos Bragatto

REG

Set list completo:

1- Jet
2- All My Loving
3- Letting Go
4- Drive My Car
5- Highway
6- Let Me Roll It
7- Long And Winding Road
8- 1985
9- Let Me In/Foxy Lady
10- My Love
11- I´Ve Just Seen A Face
12- And I Love Her
13- Blackbird
14- Here Today
15- Dance Tonight
16- Mrs Vanderbilt
17- Eleanor Rigby
18- Something
19- Sing The Changes
20- Band On The Run
21- Obla Di Obla Da
22- Back In The USSR
23- I’ve Got Feeling
24- Paperback Writter
25- A Day In The Life/Give Peace a Chance
26- Let It Be
27- Live And Let Die
28- Hey Jude
Bis
29- Day Tripper
30- Lady Madonna
31- Get Back
Bis
32- Yesterday
33- Helter Skelter
34- Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band/The End

Um comentário:

  1. EU ESTAVA LÁ - parte II
    Lá pro meio de uma balada (hey jude, talvez) chega um doidão berrando: "IT'S ROCK AND ROOOLL, VEIO
    ESSES CARAS INVENTARAM ESSA PORRA!!"
    (...)
    Acho que por alguns minutos ele jurava estar num show dos Beatles hehe

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