
O renovado Smashing Pumpkins salva uma noite fadada a decepções no Planeta Terra; Billy Corgan toca com os dentes, esmerilha a guitarra nas caixas e assume de vez sua face mais pesada e voltada para o rock de verdade.
por Marcos BragattoREG

Não parecia que seria assim, de início, com a recepção fria causada por “The Fellowship” – há milhões de músicas melhores para uma abertura -, mas logo a coisa engrenou. “Today”, o primeiro sucesso a ser tocado, foi a senha para que o rock de verdade, ausente até então no afamado parque de diversões, tomasse conta do lugar. Já em “Astral Planes”, uma das novas que a banda vem jogando na web, o guitarrista Jeff Schroeder desanda a aplicar solos e ofusca – vejam vocês – o próprio Corgan. A música, aparentemente inofensiva e cadenciada, cativa por belos e discretos riffs, numa prova de que não é preciso a canção ser consagrada para arrebatar o ouvinte, basta ser boa e ter os ingredientes certos.
Billy Corgan não deixaria barato. Já na seguinte, “Ava Adore”, protagonizou um duelo daqueles com Schroeder, como se iniciasse ali uma virada de jogo para mostrar – com vantagem – quem é o dono da boca. Dali em diante, ele tocou com os dentes, esmerilhou a guitarra nas caixas próximas à plateia (só não a destruiu porque teve humildade em gol), distorceu cada acorde e finalizou um improvável solo de bateria (numa noite indie) com citações a “Moby Dick”, do Led Zeppelin, antes de o gongo (!) à Emerson, Lake And Palmer ser percutido cinco vezes. Tá bom pra vocês? O prodígio batera Mike Byrne, 20 aninhos, oriundo da desconhecida banda Moses, Smell The Roses, mostrou ter sido a escolha certa que contribui para o processo de renovação do Smashing Pumpkins.
Ainda que mantenha um temperamento irritadiço, Billy Corgan, 43, amadureceu muito. Nos últimos tempos, tem assumido abertamente suas influências de bandas como Black Sabbath e Rush, entre outras, coisa inimaginável no nicho do alternativo, onde a banda surgiu. E mostra isso, ao vivo, como um rocker de verdade, como se fosse ele um de seus próprios ícones. De comunicação em geral meramente protocolar com a plateia, Corgan até que se soltou, ao apresentar a banda e se autodenominar “Billy Ronaldinho”, numa referência ao centroavante de careca idêntica à dele. Teve bom humor para chamar “Spangled” de música triste, cutucando de forma sutil a apatia do Pavement no show anterior.
A primeira parte do set teve ainda a inesquecível “Bullet With Butterfly Wings” e outras “das antigas” incluídas foram “Tonight, Tonight”, que encerrou a primeira parte do show, e “Cherub Rock”. Poderia ter mais (“Disarm”, claro), mas como reclamar de uma hora e quarenta minutos de um show que salvou uma noite, até então, fadada a decepções? Nem mesmo o cansaço generalizado na alta madrugada retira da apresentação a pecha de redentora.
Set list completo (a conferir):
1- The Fellowship
2- Lonely is the name
3- Today
4- Astral Planes
5- Ava Adore
6- Song For a Son
7- Bullet With Butterfly Wings
8- Tarantula
9- United States
10- Splangled
11- Drown
12- Shame
13- Cherub Rock
14- Zero
15- Stand Inside Your Love
16– Tonight, Tonight
Bis
17- Heavy Metal Machine
Nenhum comentário:
Postar um comentário