Nos anos 80, nove entre dez capas de discos do efervescente rock nacional eram dele. Até onde contou, foram 308, de grupos como RPM, Lulu Santos, Legião Urbana, Barão Vermelho, Ira!, Titãs, Capital Inicial, Kiko Zambianchi. Alguns dos mais belos ensaios sobre samba já feitos lhe renderam duas indicações ao prêmio Abril e duas ao prêmio Funarte de Fotografia, quando foi finalista em 1998 com o ensaio "A velha guarda do samba". Um milhão de negativos guardados em 28 anos de profissão renderão um livro, "Música". Esse é Rui Mendes, um dos maiores expoentes entre os fotógrafos de música do Brasil.
Apesar de ter cursado fotografia no Fort Vancouver Junior College, em Vancouver, Canadá, em 1978, a carreira profissional de Rui começou em 1980, quando cursava jornalismo na ECA, Escola de Comunicação e Artes da USP. Como ele mesmo diz, "estava no lugar certo, na hora certa". Paulo Ricardo, futuro vocalista do RPM, era colega de classe de Rui. E ele e Kiko Zambianchi freqüentavam uma república com amigas em comum.
A primeira conquista profissional aconteceu quando Rui fotografou as bandas Ratos de Porão, Ira! e Mercenárias para a revista Pipoca Moderna, egressa da revista Pop. A publicação fechou antes de saírem as fotos,, mas elas serviram a uma causa maior: pagar os shows da "Festa do Gato Morto", comemoração pela vitória da chapa Picaretas, fundada por Rui, para as eleições do centro acadêmico da ECA.
Em 1982, no processo de democratização do Brasil, vencer a tradicional chapa Libelu foi um marco. Além de Rui, outros nomes promissores como William Bonner, Paulo Ricardo e Cláudio Tognolli também participavam da chapa. Rui fez jornalismo, cinema e política.
A incursão pelo mundo do rock rendeu encontros memoráveis, como o que teve com Raul Seixas: "quando eu cheguei para o ensaio, ele me disse que só poderia ser fotografado após tomar o café da manhã: duas garrafas de cerveja". Sua capa de disco preferida é a "Música calma para pessoas nervosas", do Ira!. As mais famosas, as do RPM, que venderam milhões de cópias.
O consistente trabalho de Rui sobre o samba lhe trouxe boas surpresas. Entre 1999 e 2004, em um trabalho sobre o Carnaval, principalmente de rua, encontrou no centro do Rio de Janeiro manifestações preciosas. "Umas delas, chamada Clóvis ou Bate-bola, existe desde 1872. Com roupas muito ricas, e sem som, os foliões enchem as ruas da Cinelândia, só para arranjar confusão. Eles disputam quem tem a roupa mais legal. É meio barra pesada, mas divertido, e ninguém sabe que existe".
De José Serra a Paulo Autran, o excelente retratista guarda histórias de figura célebres, como Oscar Niemeyer. "Eu estava fotografando Niemeyer e ele não tirava a mão do queixo. Quando pedi para ele me deixar fotografar seu rosto, ele me respondeu: 'velho não mostra a cara'".
Rui, que trabalha em publicações como Exame, VIP, Rolling Stone, Marie Claire, Veja, e desde 1993 dirige e fotografa clipes musicais de bandas como Racionais MC´s, Charlie Brown Junior e Mundo Livre S.A, é um profissional raro, ótimo laboratorista e profundo conhecedor da técnica. E comenta o advento das tecnologias como o programa photoshop e as máquinas digitais: "Hoje mudou só o instrumento, há muitas diferenças entre o digital e o analógico. Mas se você é ruim, é ruim em todas as formas de fazer foto. O bom fotógrafo, quando manipula essas técnicas, ainda está criando".
Por Ana Luiza Moulatlet
Fonte: Portal IMPRENSA
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QUEM | Rui Mendes.
ONDE | São Paulo.
PORQUE | Quem acompanha a fotografia do rock nacional, da música brasileira, desde o começo da década de 1990, deve conhecer Rui Mendes. Se não conhece o nome, conhece a sua estética e os seus retratos. Revistas de música como a Bizz (depois Showbizz), capas de disco e, depois, videoclipes, tiveram em Rui Mendes um dos mais influentes fotógrafos. Retratista de primeira, Rui estampa as suas fotos em capas de revistas, campanhas publicitárias e editoriais. Particularmente, fui extremamente influenciado por Rui. Tinha assinatura da Bizz e era fã das suas fotos.
Currículo fornecido pelo fotógrafo:
Rui Mendes cursou fotografia no Fort Vancouver Junior College, em Vancouver, WA, nos anos de 1978/79. Em 1980, ingressou na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo onde fundou o grupo anarquista “Os Picaretas”. De 84 a 86 foi articulista no caderno de informática na seção “Fotografe sem Mistério” da Folha de São Paulo. Nesta época começou a fotografar capas de disco do incipiente movimento roqueiro dos anos 80. RPM, Lulu Santos, Camisa de Vênus, Legião Urbana, Barão Vermelho, Ira!, Titãs, Capital Inicial, Kiko Zambianchi, Inocentes, Ultraje a Rigor, Ratos de Porão, Sepultura, Skank e tantos outros foram clicados por Rui. Hoje trabalha para diversas publicações do mercado editorial como as revistas Vogue, Casa Vogue, Vogue RG, Trip, Natura, Mitsubishi, Gol, V, Época Negócios, Galileu e TPM entre tantas outras. Sempre na confecção de retratos, que já lhe proporcionaram sete indicações ao Prêmio Abril e duas indicações ao Prêmio Funarte de Fotografia, do qual foi finalista, em 98, pelo trabalho “A Velha Guarda do Samba”.
Dirigiu e fotografou videoclips como os de Chico Science e Nação Zumbi, Syang, Charlie Brown Jr., Virgulóides, Viper, Negritude Jr., Racionais MC’s, Rodox, Arnaldo Bastista, Sonic Junior, PR.5, Léo Jaime, Daniel Belleza e Mundo Livre S.A., que foi indicado a melhor clip do ano no MTV Awards de 1998. Em 1995 começou a trabalhar no mercado de filmes publicitários como diretor de fotografia, na Chroma Filmes, ao lado do diretor Carlos Mendes, participando da produção de comerciais de clientes como Banco do Brasil, BCP, Fiat entre outros. Em 2000 ganhou a medalha de bronze com a campanha da Companhia das Letras, feita pela Almap, no festival de mídia impressa em Cannes. Seus últimos trabalhos na publicidade foram anúncios para o Grupo VR, GVT, MASH, Natura, Rede TV e a campanha mundial de Emirates para a linha Dubai/Brasil. Em 2007 desenhou a luz da peça teatral “Elogio do Crime” do grupo “Teatro de Alvenaria” e dirigida por Luciana Barone. Ultimamente vem desenvolvendo trabalhos com os grafiteiros de São Paulo e um livro de seus retratos sobre música.
EXPOSIÇÕES:
“Roqueiros” (Individual/1992) – Foto Lee Galeria – SP.
“Os Heróis do Samba” (Individual / 2002) – Pinacoteca do Estado de São Paulo – SP
“Os Heróis do Samba” (Individual / 2002) – Secretaria de Cultura de Santo André – SP.
“A Imagem do Som do Rock Pop Nacional” (Coletiva / 2003) – Paço Imperial – RJ
“Entrudo” (Individual / nov 2003 a fev 2004) – Museu Nacional de Belas Artes – RJ.
“Entrudo” (Individual/jan 2005 a abril 2005) – Pinacoteca Do Estado de São Paulo – SP.
“Atropelo”(em parceria com o grafiteiro Jey/abril 2006 a junho de 2006) – Galeria Grafiteria – SP
OLHA, VÊ Como você começou a fotografar?
RUI MENDES Comecei com 16 anos fazendo aulas de fotografia em Vancouver, Washington no ano de 1978…
OLHA, VÊ Você criou uma certa “estética” em casos como a revista Bizz (depois Showbizz) e em centenas de capas de disco. Isso foi intencional?
RUI MENDES Eu estava inserido no movimento, então era tudo muito natural…
OLHA, VÊ Nas suas produções editoriais, a liberdade era total?
RUI MENDES Sempre fui um pouco “rebelde”. Nunca levei muito em conta os briefings. Procuro me informar a respeito do sujeito e não ter uma idéia pré concebida. Jornalista dificilmente dá bons palpites em relação a imagem e diretor de arte bom, no nosso mercado, dá para contar nos dedos…eheheh…
OLHA, VÊ Você tem uma capa de disco e revista que você prefira ou poderia colocar como as mais expressivas de sua carreira?
RUI MENDES Gosto muito da capa que fiz pro Ira! junto com meu parceiro Zé Carratu: “Música Calma Para Pessoas Nervosas”. A capa da revista Rolling Stone com o Rodrigo Santoro gosto pela simplicidade…
OLHA, VÊ O nome Rui Mendes sempre foi muito ligado ao Rock dos anos 80 e 90. Você era (é) roqueiro?
RUI MENDES Sempre fui eclético e sempre ouvi Stones, Beatles, Led, TRex e companhia, mas nunca deixei de ouvir a boa MPB.
OLHA, VÊ E a ligação com o samba, como começou?
RUI MENDES Sou de família baiana… Que me desculpe o pessoal de São Paulo pra baixo, mas o nordestino e muito mais rico musicalmente. Meu pai era fã de carteirinha de Clara Nunes. Cresci ouvindo Noel, Cartola e Chico Buarque…Aí um belo dia a Bizz me mandou fotografar Carlos Cachaça…
OLHA, VÊ Dando uma olhada na sua carreira, podemos afirmar, que você é um dos mais expressivos “retratistas” do Brasil. O que é fundamental para fazer um belo retrato/portrait?
RUI MENDES Treino… Fotografar é prática como qualquer outro ofício. Depois de 29 anos como profissional você adquiri certas manhas que simplificam seu trabalho…Eu por exemplo acho que um bom retrato você consegue nos primeiros cinco minutos…
OLHA, VÊ Hoje, o que lhe atrai fotografar ou ainda pensa em fazer?
RUI MENDES Estou terminando meu livro sobre música… Depois farei um só de retratos… Estou fazendo um trabalho em lightpainting com meus parceiros, Jey e Zé Carratu para uma próxima exposição… Sou um retratista e não canso de fazer retratos… O que mais me instiga é fotografar na rua…
OLHA, VÊ E os videoclipes? Foi natural a passagem para a imagem em movimento?
RUI MENDES Sempre quiz fazer cinema e acho natural um fotógrafo fazer cinema… Se não tivesse adoecido estaria filmando muito mais…
OLHA, VÊ O que lhe chama atenção na fotografia atualmente? Fotógrafos, publicações, etc. E a Fotografia Brasileira?
RUI MENDES No geral nossa fotografia sempre teve ótimo nível…Tem muita gente boa em todas as áreas…Cássio Vasconcellos tem um trabalho genial e no retrato Kiko Ferriti tem se destacado…
OLHA, VÊ Em 1996, fiz um workshop com você chamado “O Potencial Criativo” na Clínica Fotográfica (SP). Lembro que você tinha uma forte relação com o laboratório, com a qualidade da iluminação e todos os detalhes envolvidos na produção de uma imagem. E hoje, qual a sua relação com o digital?
RUI MENDES Estou no digital há um ano e meio… Resisti bastante não por preconceito e sim por economia… Hoje já estou adaptado e passo horas na frente do Photoshop… Acho saudável este perpétuo apredizado… O Photoshop é uma ferramenta genial
Fonte: OLHA/VÊ
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