quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Paul Speckmann, uma entrevista

Um dos maiores representantes do death metal mundial aportou no Brasil, pela primeira vez, no inicio do ano para uma extensa turnê. Apesar de conturbada, a passagem pelo país rendeu boas apresentações e serviu para matar a vontade tanto de fãs antigos quanto novos. Dois meses após o fim da tour, mais um petardo chegou às lojas sob o nome The Human Machine, mostrando uma banda experiente e afiada. Confira o que o líder Paul Speckmann tem a dizer sobre a passagem pelo Brasil, o disco novo, política e mais.

Fonte: Rockonnection
por Denis Augusto
foto: divulgação


O Master lançou um novo álbum no início deste ano, The Human Machine, contendo 10 faixas matadoras. Como ambos os fãs e meios de comunicação o têm recebido até o momento?
Surpreendentemente, tanto os críticos quanto os fãs estão gostando muito deste CD. Eu me coloco em apuros toda vez que escrevo e lanço um novo CD, como todo artista, e simplesmente espero pelo melhor. Por outro lado, isso não garante as vendas de álbuns. É realmente muito cedo para prever como as vendas serão, pois foi lançado apenas no final de abril nos EUA e no final de maio na Europa. Eu realmente espero que o álbum venda, para que possamos continuar com a Pulverised Records. Eles nos têm dado grande apoio e o departamento de promoção está fazendo um trabalho fenomenal aqui na Europa e no exterior.

Está satisfeito com a sonoridade em geral? Você teria mudado algo se pudesse?
Bem, na verdade, o som geral está ótimo, mas o engenheiro de som do Shaark Studios me disse que eles devem ter re-masterizado antes de liberá-lo, porque o som original do baixo tinha mais ataque e um timbre mais grave. Mas esta não é a primeira gravadora que fez alterações no último minuto, sem informar a mim ou a banda. O mesmo aconteceu no álbum Slaves to Society. Executivos de gravadoras normalmente pensam que sabem mais do que a banda. Pelo menos esta é a experiência que eu tive ao longo dos anos de luta. Estas coisas têm acontecido ao longo da minha carreira. O melhor exemplo foi quando o nosso debut foi mixado com o Scott Burns no Morrissound Studios, na Flórida. Ele trigou e mixou o disco sem nenhum envolvimento por parte da banda. Claro que a Nuclear Blast adorou o CD, mas poucos sabem que scott deixou de fora vários solos de guitarra, bem como algumas introduções de bateria. No Seventh Day fizemos algumas mixagens juntos e Scott disse que o baixo soava muito alto no som do seu carro e eu tive que aceitar sua análise já que ele é o profissional. Voltamos para casa e ele mixou por mais alguns dias sozinho e no final ficou pouco – ou nenhum – baixo para ser exato. Hoje em dia eu e os caras da banda discutimos a mixagem à medida em que avançamos. Procuramos o melhor som possível que o estúdio tem para oferecer. Muitas bandas hoje em dia deixam tudo na mão do pessoal dos estúdios ultramodernos e acabam soando como algo genérico, na levada de grupos de sucesso ou da moda.

Sei que você vai estar ocupado em turnê pela Europa em setembro. Quanto do The Human Machine você vai tocar ao vivo?
Tocamos algumas faixas ao vivo, mas a realidade da situação é que o Master tem muitos álbuns e temos que reproduzir faixas da maioria deles, e depois de uma hora e 20 minutos as pessoas tendem a adormecer em shows – especialmente quando se é a banda principal, que vem depois de 4 ou 5 bandas de abertura. A turnê em setembro é realmente bastante pequena se comparada com os cerca de 50 shows que já fizemos durante 2010. Ainda temos muitas datas na planilha.

No início deste ano você saiu em uma longa turnê pelo Brasil, pela primeira vez. O que achou do público lá?
Tivemos algumas audiências muito boas em muitas cidades em todo o país. O calor era infernal às vezes, mas o público fez valer a pena, para mim pessoalmente. Estes dois shows; 20/02 - São Paulo/SP - 350 pessoas e 21/02 - Otacílio Costa/SC - 1200 pessoas foram meus favoritos da turnê, com certeza. Os fãs eram enérgicos e fanáticos. Tivemos uma ótima experiência no Brasil e quero fazer isso de novo, mas em melhores condições. Foi difícil encarar as muitas horas de condução para cumprir o prazo para os próximos três shows. Os dias de folga foram difíceis, por vezes, especialmente para os outros membros da banda, pois eles estavam acostumados a viajar com o tourbus na Europa e desta vez nós estávamos com uma van. Por outro lado, quando visitei a América do Sul e Central pela primeira vez em ‘98, viajamos por transporte público regular e isso foi muito pior. Pelo menos tivemos uma van e um motorista para esta jornada de seis semanas.

No quinto dia desta turnê, porém, houve uma tragédia onde dois membros do After Death, banda de Londres que estava viajando com vocês, morreram afogados em uma praia brasileira. Como isso afetou a estrutura da turnê e você, como pessoa?
A morte afeta as pessoas de maneiras diferentes. Claro que fui afetado pela tragédia. Tive uma sensação estranha quando conheci os caras em Londres. Sem dúvida, eles eram caras legais, mas também pareciam muito jovens para mim, pelo menos, muito mais jovens do que eu era na minha primeira turnê. Mas você também tem que ver que as pessoas hoje estão crescendo muito mais rápido e que esta foi apenas a minha opinião. Tenho que guardar a história toda para o meu livro, mas vou dizer que a tragédia colocou uma nuvem escura sobre a turnê, mas nós continuamos porque Tim e Leon teriam gostado desta maneira e a parte mais difícil para mim foi dizer adeus para o resto dos membros, quando saímos do hotel para o show na noite seguinte. Foi uma situação estranha, para dizer o mínimo, mas para mim, tragédias seguiram-me durante toda a minha vida e eu tenho uma espécie de bloqueio mental que me ajuda a lidar com essas coisas. Perdi a maioria dos meus parentes muito cedo, incluindo os meus pais, e por isso acabei construindo uma tolerância contra a emoção e aprendi a mantê-la trancada dentro de mim. Soltei minhas frustrações e ansiedades após a tragédia no palco e falei sobre os caras em várias noites e dedicamos várias músicas para os membros perdidos. A coisa que mais me incomodou foi que essa era a primeira turnê deles e os caras tiveram que ir para casa sem os seus amigos e lidar com o fato por um bom tempo, já que os pais não tinham seguro para os rapazes e demorou para os corpos serem transportados do Brasil para a Inglaterra. Digo a nível pessoal que tragédias têm me dado, muitas vezes, motivação para continuar a luta com a minha música e tenho o prazer de dizer que o After Death mudou seu nome para Death Remains e estão fazendo shows com novos membros.

Na minha opinião, a formação atual do Master parece ser a melhor que você conseguiu juntar até hoje. Você vê o trio Speckmann/Nejezchleba/Pradlovsky como algo especial? Além disso, já que Pradlovsky toca em outras bandas, há chances de mais álbuns serem gravados pelos mesmos três músicos?
A banda vai continuar com essa formação para os próximos anos. Somos como membros de uma família e nada vai mudar. Claro, Pradlovsky está muito ocupado tocando bateria com diversas outras bandas em toda a República Checa, mas ele está sempre disposto a percorrer a Europa com o Master, uma ou duas vezes por ano, e em algumas ocasiões eu tenho outro baterista eslovaco, chamado Peter Bajci, para preencher a vaga quando necessário. Quanto aos EUA, eu também tenho uma formação especial composta por Alex Bouks e Jim Roe, respectivamente do Incantation e Goreaphobia. Vamos gravar um novo CD no ano que vem, provavelmente pela Pulverised Records se eles ainda quiserem trabalhar com a banda. O tempo dirá.

Você está vivendo na República Tcheca por alguns anos. Sendo americano, como as pessoas te recebem em seu país?
Tenho vivido aqui pelos últimos cinco anos e a aceitação não é um problema. É claro que às vezes eu tenho que tirar uma foto, dar um autógrafo ou beber uma cerveja com as pessoas, mas isso é Metal. Gosto muito de viver neste país. As coisas estão um pouco mais tranqüilas na República Tcheca, mais do que qualquer outro lugar no mundo hoje em dia, com certeza. Fazemos poucos shows locais já que viver aqui me faz normal aos olhos do público. Quando vim para cá pela primeira vez, em ’92, o sentimento era completamente diferente sendo um estrangeiro; hoje sou como um tcheco de certa forma. Serei sempre americano, mas escolhi viver aqui onde a liberdade ainda existe.

Você diria que eles têm uma mentalidade mais aberta do que nos EUA?
Sim. Há respeito pela arte e cultura do povo tcheco, assim como a música de todos os gêneros em sua plenitude. No verão, há sempre concertos e shows públicos, festas privadas etc. A polícia não está interessada na minha aparência. Eles passam batido por mim no centro da cidade. Afinal, nem todos os cabeludos são criminosos!

Além disso, você diria que os europeus diferem consideravelmente dos americanos no que diz respeito ao interesse por política?
Não, em todos os lugares apóiam esse bando de políticos corruptos em todos os países do mundo. Mesmo na Europa, os políticos, reis e rainhas são ‘da realeza’. Esses criminosos ditam o modo como as pessoas devem viver em qualquer sociedade. Sempre digo "poder ao povo, e não poder sobre o povo". Está na hora de uma revolta de algum tipo para jogar esses bandidos para baixo.

Na última vez que entrevistei você, o Obama tinha acabado de ser eleito. Como você diria que ele está se portando em comparação ao seu antecessor?
Definitivamente, uma pergunta sem resposta já que ele é tão corrupto quanto o Bush. Apenas a cor da pele mudou. O Obama fala de mudanças, mas ainda aguardo ver uma mudança real. Os ricos nos Estados Unidos estão ficando mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Esta será a queda da humanidade um dia. À medida em que as guerras continuam no Oriente Médio, as pessoas morrem em seus próprios quintais.

Quanto o download ilegal de música via internet te incomoda?
As pessoas dizem que isso torna a banda maior, com uma audiência mais extensa, mas para mim isso é simplesmente um roubo. Artistas que estão no underground, como eu, sofrem com esses piratas. Mas como a situação pode ser regulamentada? Não há dúvidas que bandas de maior sucesso não se importam, porque eles são ricos. Luto para sobreviver, como qualquer pessoa. Esta é a razão pela qual eu estou em turnê tão constantemente hoje em dia, e também vendendo merchandise para outras bandas. Tenho que sobreviver também.

Você tem uma TV? Que tipo de programas você assiste?
Eu raramente assisto TV, já que é tudo em língua Tcheca e eu realmente não consigo entender muito dessa linguagem difícil.

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