Por Ricardo Seelig | Em 13/08/10
fonte: Whiplash
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Profundo conhecedor do heavy metal, pesquisador e colecionador do estilo, Ian Christe lançou em 2003 o livro "Sound of the Beast: The Complete Headbanging History of Heavy Metal", que acaba de ganhar uma muito bem-vinda edição brasileira. Já traduzida para onze línguas, aqui em nosso país a obra ganhou o título de "Heavy Metal: A História Completa" – e faz jus a essa expressão.
As 480 páginas do livro passam a limpo a trajetória da música pesada, desde o seu início até os dias atuais. Christe aponta - acertadamente por sinal – o lançamento do primeiro álbum do Black Sabbath, em 13 de fevereiro de 1970, como o marco zero do estilo, e seu texto parte desse ponto. É nítida a paixão do escritor pelo metal, e isso transparece claramente em suas palavras, dando um ar épico, mágico e fantasioso para cada página.
Organizado em vinte capítulos (mais prólogo e epílogo), "Heavy Metal: A História Completa" é uma obra extremamente didática, que explica detalhadamente o surgimento do metal e de seus inúmeros subgêneros, e em como cada fato de sua história influenciou os músicos e os fãs, levando a novos caminhos sonoros que criaram, consequentemente, novas tendências musicais.
A parte dedicada aos primeiros anos do heavy metal é particularmente elucidativa, citando nominalmente os artistas que definiram as bases do estilo e que, muitas vezes, acabam sendo ignorados por ouvintes mais novos. Ir atrás de bandas como Flower Travellin´ Band, Blue Oyster Cult, Captain Beyond, Bang e outras – além das obrigatórias Deep Purple e Led Zeppelin – leva ao conhecimento de ótimos discos muitas vezes relegados a um plano secundário, e tornam o entendimento da evolução do gênero muito mais fácil e eficaz para o ouvinte.
A clareza do texto de Christe torna óbvia a compreensão do quanto as bandas da New Wave of British Heavy Metal, ao afastarem-se das influências de blues tão evidentes nos pioneiros do metal (como o próprio Black Sabbath) e substituí-las pelas harmonias e melodias de grupos como Wishbone Ash e Thin Lizzy deram ao gênero uma de suas características mais marcantes: o duelo faiscante de guitarras inventivas e inspiradas, traduzido em linhas melódicas volumosas e grudentas.
O embate entre as bandas glam de Los Angeles e a cena thrash da Bay Area é outro momento de destaque. Ian Christe reconhece a devida importância histórica de grupos como Quiet Riot, Motley Crue, Dokken, Ratt e outros, responsáveis não apenas por levar o som pesado para a grande massa, já que alcançaram vendas gigantescas e se tornaram figuras habituais nas paradas da Billboard, mas também por viabilizar o formato da MTV, já que a emissora cresceu e se consolidou com uma programação baseada, em sua grande maioria, em vídeos desses grupos.
Do outro lado da história, o enorme sucesso das bandas glam alimentou uma reação em massa na vizinha San Francisco, onde grupos influenciados por Venom, Motorhead e pela NWOBHM começaram a desenvolver um som mais agressivo aliado a uma imagem que era a antítese do visual glam – ao invés de roupas colantes e multicoloridas, as bandas da Bay Area vestiam-se com o trio básico tênis-jeans-camiseta. Liderados pelo Metallica, esses grupos fizeram nascer um dos mais influentes e duradouros subgêneros do metal, o thrash metal.
O livro também prova que a queda de popularidade das bandas glam no início da década de noventa, ao contrário do conceito que é vendido por grande parte da mídia especializada brasileira, não foi causada pelo surgimento do grunge, mas sim pelos excessos - tanto estéticos quanto comportamentais – das próprias bandas. Esse fator, aliado à sólida reputação conquistada pelo Metallica e a posterior explosão comercial proporcionada pelo "Black Album", colocou a pá de cal que acabou enterrando a cena de Los Angeles. Qualquer movimento que viesse depois seria adotado pela mídia - calhou de ser o grunge, mas poderia ser qualquer outro.
A polêmica cena black metal norueguesa do início dos anos noventa rende um dos melhores capítulos da obra. Christe contextualiza a relação dos noruegueses com a religião, e explica como o Cristianismo foi imposto no país há mais de mil anos atrás, gerando um descontentamento histórico em toda a população. As bandas de black metal do país, que foram responsáveis por discos fantásticos que influenciaram profundamente o estilo, também foram personagens de atividades polêmicas como a queima de igrejas históricas, ataques a homossexuais e diversas ações controversas que alcançaram o seu auge com o assassinato de Euronymous, líder e guitarrista do Mayhem, em agosto de 1993. Todos esses acontecimentos são contados com clareza por Christe, em um dos capítulos mais esclarecedores de "Heavy Metal: A História Completa".
Dois aspectos do texto de Ian Christe merecem uma crítica. O primeiro é o foco exageradamente centrado no Metallica em detrimento a outras bandas fundamentais do som pesado. É claro que o grupo de James Hetfield tem importância seminal no gênero, mas em alguns trechos o destaque é tanto que temos a impressão de estar lendo uma biografia da banda.
O outro é o fato de Christe ignorar totalmente alguns subgêneros e nomes importantes na história do som pesado. Isso acontece de forma mais evidente com três bandas: Dream Theater, Stratovarius e Gamma Ray. Toda a cena prog metal não é citada no livro, o mesmo acontecendo com os grupos de metal melódico. Independente de gosto pessoal, uma obra que ostenta o subtítulo "The Complete Headbanging History of Heavy Metal" não pode cometer um deslize como esse.
Ian Christe também faz inúmeras listas durante todo o livro, apontando os discos mais representativos de praticamente todos os segmentos da música pesada. Essas listas acabam servindo como guias para quem quer conhecer cada subgênero do metal, e tem grande valia para os leitores.
"Heavy Metal: A História Completa" é um livro fundamental para qualquer headbanger. A trajetória do gênero musical que tanto amamos é contada nos mínimos detalhes, em uma leitura extremamente prazerosa para todo fã de música pesada. Enfim, um livro recomendadíssimo, e que documenta o impacto e a força que o heavy metal teve - e continua tendo - na sociedade.
Na minha opoião esse livro não é escrito para os leitores brasileiros e sim para os americanos e europeus.
ResponderExcluirEsse livro é cheio de juízos de valor o que é um absurdo para quem se diz um fazedor de "História".
Enfim o livro vale a pena no seguinte sentido que é você compreender como é que o heavy metal se desenvolveu nos seus países de origem e se expraiou para o mundo.