terça-feira, 10 de agosto de 2010

Clube dos Patifes em noite "fora do eixo"

Não é fácil traduzir uma canção. Não é fácil desenhar as sugestões sussurradas por um conjunto de acordes. É preciso a atenção dos criminosos e a ternura das amantes satisfeitas para conquistar o segredo adormecido na superfície prateada de um disco. Largue a afetação, cuide do afeto, e boa sorte. Se você encontrar a saída do labirinto, será dono de um tesouro impalpável, “a linda melodia do mais sincero blues”.

Esta semana, o Clube de Patifes nos visita em nova empreitada do Circuito Fora do Eixo. Eu conversei com Pablues, vocalista do quarteto baiano, para conhecer as expectativas da banda. A conversa foi divertida, mas completamente desnecessária. Tudo o que eu precisava saber estava registrado no disco “Com um pouco mais de alma”. Blues clássico, duro como pedra, digno dos fantasmas que vagam pelos bares mais vagabundos do Mississipi.

A impressão que o Clube de Patifes nos transmite é que o blues continua sendo coisa de fodido. Não importa se por vezes o desfile de personagens degenerados ensaiam uns passinhos de rock’n roll. Eles vestem um terno puído, bebem café amargo, derrubam os ombros vencidos pela chuva, o coração encharcado de amores mal resolvidos. Eles insistem no sonho de um dia blue…

Os músicos do Clube de Patifes não foram os primeiros, e certamente não serão os últimos, a perceber a simpatia existente entre o blues e o repente. Eles deixam isso claro logo na introdução do disco, quando os chiados nostálgicos de um vinil se misturam ao aboio pontuado por um uma guitarra acústica, filha orgulhosa da tradição. Há ainda a divertida “Bule Bule”, que nos transporta para o mercado, o meio da feira, para qualquer lugar freqüentado pelos poetas populares, que gastam a voz envelhecida em troca de uns tostões. É como se eles fizessem questão de realçar a semelhança. É como se eles lembrassem a si mesmos que é impossível ignorar tamanha identificação.

Os caras podem até buscar o sol, como afirmam em uma de suas composições, mas a noite, a hora em que o lobo sai para caçar, é a verdadeira sede do Clube de Patifes. É no escuro que Pablues (voz e gaita), Paulo de Tarso (Bateria), Joe Bass (baixo) e Stephen Ulrich (Guitarra) mostram as veias abertas, em escalas de acordes maiores e solos bem costurados. Tragos, esquinas escuras, tostões furados… Talvez eu esteja enganado, mas desconfio que seja essa a verdadeira face do que os faz viver.

riansantos@jornaldodiase.com.br

II Noite Fora do Eixo – Com Clube de Patifes, Urublues e Anéis de Vento

Local: Cultiva (Rodovia José Sarney, em frente ao Oca Bar)
Data: 14 de agosto
Hora: 22 horas

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