Já dizia Caetano que atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Coube ao Tio Maneco, novo “point” alternativo da cidade, a tarefa de reunir a zumbizada disposta a passar longe da folia soteromomesca regada a dinheiro publico do grande empresário Fabieira Olivano. Aliás, mais que um empresário (é fácil ser um empresário bem-sucedido tendo as tetas do estado eternamente à sua disposição), um verdadeiro filantropo, já que, de acordo com a já célebre matéria publicada pelo jornal Correio Braziliense, o coitadinho não consegue ter lucro, apenas cobrir os custos da empreitada.
Enfim, o fato é que, em pleno Pré-Caju, supostamente a maior previa carnavalesca do Brasil, o Tio Maneco Botequices teve a excelente idéia de bolar uma “Rota de fuga” com três noites regadas ao que de melhor existe na cena “roqueira” da cidade: Julico da Baggios, Snooze e Plástico Lunar.
Aportei por lá na segunda noite para ver os snoozers. Não estava lotado, mas também estava longe de estar vazio. Ambiente agradável, bons petiscos (a batata rústica, temperada a ervas finas, é obrigatória), bom som e, evidentemente, boa banda, em mais uma noite inspirada. Clássicos de composição própria mesclados a ícones do cancioneiro indie, como “Bulldog skin” do Guided By Voices, “100%” do Sonic Youth e “Wave of mutilation” do Pixies, esta com direito a uma menção honrosa ao “exilado” Bruno Aragão. O show foi grande e ótimo, tendo sido brevemente interrompido apenas pela chegada pra lá de inoportuna da Policia ambiental, o que chega a ser inacreditável, já que os edifícios da 13 de julho, naquele momento, deviam estar prestes a vir abaixo com as vibrações sonoras dos verdadeiros tanques de guerra sônica baianos que por lá desfilavam. A Capitania de Sergipe Del Rey, ao que tudo indica, ainda tem dono.
Na noite seguinte haveria uma opção para paladares auditivos diferenciados: um show de punk rock e metal com os mossoroenses do Lei do Cão tocando ao lado dos locais Nucleador, Rotten Horror e Robot Wars – esta última debutando em casa. Foi cancelado, mas para que a vinda dos caras não passasse em branco, transformaram a idéia num ensaio aberto no Centurion Estúdio, do camarada Todynho. Idéia de maluco, evidentemente, já que o estúdio é minúsculo e cabe muito pouca gente, mas que deu pra lá de certo, como muitas idéias de maluco deram ontem, hoje e sempre.
Perdi a Rotten Horror, a primeira a se apresentar, mas cheguei a tempo de ver a tão esperada estréia em terras sergipanas (já tocaram em Salvador) da novíssima Robot Wars, duo crust/grind composto por Silvio Gomes na guitarra e vocal e Ivo Delmondes na bateria. É pesado, rápido e, acima de tudo, intenso. E a guitarra de Silvio é muito bonita. Tão bonita quanto o baixo do baixista da Lei do Cão, que veio a seguir. Grande banda, daqueles “crossover” caindo mais para o hardcore, tipo DRI ou Cryptic Slaughter. O clima estava tão “astral” que até eu, macaco velho meio cansado de guerra, caí no “pogo” – ou “slam dancing”, ou clube da luta, ou o que seja. Destaque para os moshs “ao contrário”, de baixo pra cima, comandados pelo pessoal de Mossoró que veio acompanhando a matilha.
Já estava tudo de muito bom tamanho, quando tive uma agradável surpresa: a Nucleador parece ter encontrado, finalmente, um vocalista pra chamar de seu! Levi Marques, da Trimorfia e do projeto Glossolalia, assumiu o microfone e se encaixou como uma luva – lembro que minha patroinha tinha comentado, num show da Trimorfia, que sua voz cairia bem numa banda de metal, e é verdade. Além da voz, o cara ainda entrega, de brinde, uma excelente perfomance com direito a longos cabelos esvoaçantes – cabelos cheirosos que eu não cheirei, mas flagrei a chilena que tinha vindo à cidade dar uma aula de culinária vegana no Om Shanti cheirando e aprovando. Fecharam a noite com chave de ouro, com direito a um cover de “Beneath the Wheel”, do DRI, para o delírio do que restou da multidão que compareceu ao recinto.
Não foi nenhuma multidão, evidentemente, nem poderia ser. Mas é muito melhor estar num lugar com alguns gatos pingados que estão ali para realmente curtir a noite prestigiando quem se esforça pra fazer algo neste deserto cultural dominado pelo mau gosto do que presenciar o espetáculo deprimente que tem se repetido em quase todas as noites de show no Capitão Cook, com as bandas tocando pra quase ninguém lá dentro e uma verdadeira multidão alimentando o comercio informal que se formou lá fora.
Enquanto isso, no “corredor da folia” ...
Foto tosca e texto "gonzo" por Adelvan
Abaixo, fotos de Michael Meneses
Enfim, o fato é que, em pleno Pré-Caju, supostamente a maior previa carnavalesca do Brasil, o Tio Maneco Botequices teve a excelente idéia de bolar uma “Rota de fuga” com três noites regadas ao que de melhor existe na cena “roqueira” da cidade: Julico da Baggios, Snooze e Plástico Lunar.
Aportei por lá na segunda noite para ver os snoozers. Não estava lotado, mas também estava longe de estar vazio. Ambiente agradável, bons petiscos (a batata rústica, temperada a ervas finas, é obrigatória), bom som e, evidentemente, boa banda, em mais uma noite inspirada. Clássicos de composição própria mesclados a ícones do cancioneiro indie, como “Bulldog skin” do Guided By Voices, “100%” do Sonic Youth e “Wave of mutilation” do Pixies, esta com direito a uma menção honrosa ao “exilado” Bruno Aragão. O show foi grande e ótimo, tendo sido brevemente interrompido apenas pela chegada pra lá de inoportuna da Policia ambiental, o que chega a ser inacreditável, já que os edifícios da 13 de julho, naquele momento, deviam estar prestes a vir abaixo com as vibrações sonoras dos verdadeiros tanques de guerra sônica baianos que por lá desfilavam. A Capitania de Sergipe Del Rey, ao que tudo indica, ainda tem dono.
Na noite seguinte haveria uma opção para paladares auditivos diferenciados: um show de punk rock e metal com os mossoroenses do Lei do Cão tocando ao lado dos locais Nucleador, Rotten Horror e Robot Wars – esta última debutando em casa. Foi cancelado, mas para que a vinda dos caras não passasse em branco, transformaram a idéia num ensaio aberto no Centurion Estúdio, do camarada Todynho. Idéia de maluco, evidentemente, já que o estúdio é minúsculo e cabe muito pouca gente, mas que deu pra lá de certo, como muitas idéias de maluco deram ontem, hoje e sempre.
Perdi a Rotten Horror, a primeira a se apresentar, mas cheguei a tempo de ver a tão esperada estréia em terras sergipanas (já tocaram em Salvador) da novíssima Robot Wars, duo crust/grind composto por Silvio Gomes na guitarra e vocal e Ivo Delmondes na bateria. É pesado, rápido e, acima de tudo, intenso. E a guitarra de Silvio é muito bonita. Tão bonita quanto o baixo do baixista da Lei do Cão, que veio a seguir. Grande banda, daqueles “crossover” caindo mais para o hardcore, tipo DRI ou Cryptic Slaughter. O clima estava tão “astral” que até eu, macaco velho meio cansado de guerra, caí no “pogo” – ou “slam dancing”, ou clube da luta, ou o que seja. Destaque para os moshs “ao contrário”, de baixo pra cima, comandados pelo pessoal de Mossoró que veio acompanhando a matilha.
Já estava tudo de muito bom tamanho, quando tive uma agradável surpresa: a Nucleador parece ter encontrado, finalmente, um vocalista pra chamar de seu! Levi Marques, da Trimorfia e do projeto Glossolalia, assumiu o microfone e se encaixou como uma luva – lembro que minha patroinha tinha comentado, num show da Trimorfia, que sua voz cairia bem numa banda de metal, e é verdade. Além da voz, o cara ainda entrega, de brinde, uma excelente perfomance com direito a longos cabelos esvoaçantes – cabelos cheirosos que eu não cheirei, mas flagrei a chilena que tinha vindo à cidade dar uma aula de culinária vegana no Om Shanti cheirando e aprovando. Fecharam a noite com chave de ouro, com direito a um cover de “Beneath the Wheel”, do DRI, para o delírio do que restou da multidão que compareceu ao recinto.
Não foi nenhuma multidão, evidentemente, nem poderia ser. Mas é muito melhor estar num lugar com alguns gatos pingados que estão ali para realmente curtir a noite prestigiando quem se esforça pra fazer algo neste deserto cultural dominado pelo mau gosto do que presenciar o espetáculo deprimente que tem se repetido em quase todas as noites de show no Capitão Cook, com as bandas tocando pra quase ninguém lá dentro e uma verdadeira multidão alimentando o comercio informal que se formou lá fora.
Enquanto isso, no “corredor da folia” ...
Foto tosca e texto "gonzo" por Adelvan
Abaixo, fotos de Michael Meneses
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Fala galera, to de passagem pela cidade e só ouço falar de precaju. Onde a galera do bom e velho rock se reune?
ResponderExcluirÓtima resenha, como sempre! Foi irado mesmo. Independente da quantidade de pessoas e de não ser um show propriamente dito, foi divertido pra caralho, e é isso que conta. Ah, e valeu pela parte que me toca, man!
ResponderExcluirMinha guitarra é muito bonita, mas tem um problema: só faz barulho rs. Bela resenha Adelvan, e realmente foi uma noite muito bacana. Aracaju ta precisando de uns eventos com esse clima, pouca gente mas sempre intenso, proveitoso e com pessoas realmente interessadas em participar/ver. Abraços
ResponderExcluirAnônimo, a galera do rock costuma se reunir na FREEDOM, loja especializada no gênero. Fica na Rua Santa Luzia, 151 - centro - próximo à Catedral Metropolitana. Na mesma rua, se tiver de rango, passe no Om Shanti, restaurante vegano pilotado pelo casal mais "rocker" da cidade.
ResponderExcluirAdelvan, ótimo texto! como sempre mandando ver nas criticas a aristocracia sergipana....Cara vou publicar no site www.rockvolume.com a sua resenha. As pessoas precisam ler isso, blz?Valew cara!
ResponderExcluirValeu Fabrizio. Citando fonte e autoria, pode reproduzir à vontade.
ResponderExcluirótima resenha, como sempre.
ResponderExcluirMurillo Viana
Com certeza foi show de bola!
ResponderExcluirEu ainda não conheço o Tio Maneco Botequices(falha minha!)
Saí dai de Aracaju bem a tempo,graças a Deus!Não tive o desprazer de escutar aquela famigerada barulheira no pré caju.
Texto exelente como sempre Adelvan.Parabéns!