- Eu ficava me escondendo pela casa, compondo as músicas em segredo. Não queria a intervenção de Jack nesse início, até porque só sei compor quando estou absolutamente sozinha. Quando ele descobriu o que eu andava fazendo, disse algo como "Por que diabos você estava escondendo isso de mim? Deixa de ser boba e vamos gravar" - conta a modelo-cantora, em entrevista por telefone, imitando a voz brava de Jack.
Karen veio dos subúrbios de Manchester, cidade industrial no norte da Inglaterra. Nos corredores da escola, ouvia PJ Harvey e Nick Cave solitária, já que os colegas curtiam pouca coisa além de Blur e Oasis em meados dos anos 90. Alta, magra e de pele bem branca, fazia o tipo esquisitona. Atraiu sua cota de bullying, mas soube se virar. "The ghost who walks" ("o fantasma que anda") é um apelido cruel da época de ensino médio que, falsamente ignorado na adolescência, voltou martelando a cabeça de Karen quando ela criou os riffs da música-título.
- Eu já queria ser cantora na época da escola, mas achava que era um sonho impossível. A chance de virar modelo foi a oportunidade que apareceu para eu sair da minha cidade e rodar o mundo. Então, eu a agarrei com força - conta.
A moça tinha 16 anos quando foi descoberta por uma agência e, desde então, trabalhou com alguns dos principais fotógrafos de moda, como Mario Testino e Bruce Weber. Karen também andou quilômetros em passarelas defendendo criações de Marc Jacobs, Alexander McQueen, Dolce & GaBbana e outras grifes badaladas. Ganhou status de supermodelo, mas a vontade de cantar continuava pedindo vez, e a britânica entrou para a Citizens Band, uma trupe nova-iorquina que faz covers em clima de cabaré.
Casamento no Rio Amazonas
A deixa para gravar um disco autoral, no entanto, veio com a mudança para Nashville. A cidade no Sul dos EUA, centro da cultura country, recebeu Karen e Jack logo depois que eles se casaram, numa cerimônia celebrada no leito do Rio Amazonas, em 2005, quando Jack veio com a dupla White Stripes ao Brasil e se apresentou em Manaus.
- Ouço compositores como Gram Parsons e Neil Young há muito tempo. A cultura americana do blues e do country é uma influência forte para mim. Nem saberia dizer desde quando - garante ela.
O casamento e os dois filhos em anos consecutivos geraram a pausa de que a modelo Karen precisava para dar espaço à cantora. Também foi ótimo ter um estúdio muito bem equipado dentro de casa, assim como a ajuda do maridão com fama de midas musical. Além do celebradíssimo e extinto duo White Stripes, Jack comanda as excelentes bandas Raconteurs e Dead Weather. Durante a entrevista, Karen disse que se sentiu intimidada pelo talento da sua cara-metade, mas encarou a experiência como aprendizado.
- Ficava intimidada com ele do meu lado no estúdio, mas por que não aproveitar a minha proximidade com Jack para tornar meu álbum melhor? No início, fiquei nervosa, mas o processo foi muito divertido e inspirador - descreve. - Muita gente não vê com bons olhos uma modelo que grava um CD produzido pelo marido músico. Mas não perco tempo pensando nisso.
Lançado lá fora no início de 2010, o resultado dessa parceria é um disco muito elogiado por veículos como a BBC de Londres e a revista americana "Spin", que chegou a compará-la a Nancy Sinatra. No percurso das 12 faixas, a voz delicada de Karen procura uma textura meio dark, moldando músicas que falam de amores finitos em tom de luto, como "Stolen roses" e "Lunasa". Órgãos e teclados lamurientos ajudam a criar o clima.
- No estúdio, Jack sabia exatamente que instrumentos usar pra chegar a esse tom um pouco dark que eu estava procurando - elogia a cantora, antes de deixar claro que o tal estúdio não está a sua inteira disposição. - Jack está sempre gravando alguma coisa. Tem vários projetos. Se entrar lá, é para trabalhar sério.
p. Escarro Napalm Unauthorized Reproductions inc.
por William Helal Filho
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The Who - Sodding about
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