terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Rota de fuga ...

Já dizia Caetano que atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Coube ao Tio Maneco, novo “point” alternativo da cidade, a tarefa de reunir a zumbizada disposta a passar longe da folia soteromomesca regada a dinheiro publico do grande empresário Fabieira Olivano. Aliás, mais que um empresário (é fácil ser um empresário bem-sucedido tendo as tetas do estado eternamente à sua disposição), um verdadeiro filantropo, já que, de acordo com a já célebre matéria publicada pelo jornal Correio Braziliense, o coitadinho não consegue ter lucro, apenas cobrir os custos da empreitada.

Enfim, o fato é que, em pleno Pré-Caju, supostamente a maior previa carnavalesca do Brasil, o Tio Maneco Botequices teve a excelente idéia de bolar uma “Rota de fuga” com três noites regadas ao que de melhor existe na cena “roqueira” da cidade: Julico da Baggios, Snooze e Plástico Lunar.

Aportei por lá na segunda noite para ver os snoozers. Não estava lotado, mas também estava longe de estar vazio. Ambiente agradável, bons petiscos (a batata rústica, temperada a ervas finas, é obrigatória), bom som e, evidentemente, boa banda, em mais uma noite inspirada. Clássicos de composição própria mesclados a ícones do cancioneiro indie, como “Bulldog skin” do Guided By Voices, “100%” do Sonic Youth e “Wave of mutilation” do Pixies, esta com direito a uma menção honrosa ao “exilado” Bruno Aragão. O show foi grande e ótimo, tendo sido brevemente interrompido apenas pela chegada pra lá de inoportuna da Policia ambiental, o que chega a ser inacreditável, já que os edifícios da 13 de julho, naquele momento, deviam estar prestes a vir abaixo com as vibrações sonoras dos verdadeiros tanques de guerra sônica baianos que por lá desfilavam. A Capitania de Sergipe Del Rey, ao que tudo indica, ainda tem dono.

Na noite seguinte haveria uma opção para paladares auditivos diferenciados: um show de punk rock e metal com os mossoroenses do Lei do Cão tocando ao lado dos locais Nucleador, Rotten Horror e Robot Wars – esta última debutando em casa. Foi cancelado, mas para que a vinda dos caras não passasse em branco, transformaram a idéia num ensaio aberto no Centurion Estúdio, do camarada Todynho. Idéia de maluco, evidentemente, já que o estúdio é minúsculo e cabe muito pouca gente, mas que deu pra lá de certo, como muitas idéias de maluco deram ontem, hoje e sempre.

Perdi a Rotten Horror, a primeira a se apresentar, mas cheguei a tempo de ver a tão esperada estréia em terras sergipanas (já tocaram em Salvador) da novíssima Robot Wars, duo crust/grind composto por Silvio Gomes na guitarra e vocal e Ivo Delmondes na bateria. É pesado, rápido e, acima de tudo, intenso. E a guitarra de Silvio é muito bonita. Tão bonita quanto o baixo do baixista da Lei do Cão, que veio a seguir. Grande banda, daqueles “crossover” caindo mais para o hardcore, tipo DRI ou Cryptic Slaughter. O clima estava tão “astral” que até eu, macaco velho meio cansado de guerra, caí no “pogo” – ou “slam dancing”, ou clube da luta, ou o que seja. Destaque para os moshs “ao contrário”, de baixo pra cima, comandados pelo pessoal de Mossoró que veio acompanhando a matilha.

Já estava tudo de muito bom tamanho, quando tive uma agradável surpresa: a Nucleador parece ter encontrado, finalmente, um vocalista pra chamar de seu! Levi Marques, da Trimorfia e do projeto Glossolalia, assumiu o microfone e se encaixou como uma luva – lembro que minha patroinha tinha comentado, num show da Trimorfia, que sua voz cairia bem numa banda de metal, e é verdade. Além da voz, o cara ainda entrega, de brinde, uma excelente perfomance com direito a longos cabelos esvoaçantes – cabelos cheirosos que eu não cheirei, mas flagrei a chilena que tinha vindo à cidade dar uma aula de culinária vegana no Om Shanti cheirando e aprovando. Fecharam a noite com chave de ouro, com direito a um cover de “Beneath the Wheel”, do DRI, para o delírio do que restou da multidão que compareceu ao recinto.

Não foi nenhuma multidão, evidentemente, nem poderia ser. Mas é muito melhor estar num lugar com alguns gatos pingados que estão ali para realmente curtir a noite prestigiando quem se esforça pra fazer algo neste deserto cultural dominado pelo mau gosto do que presenciar o espetáculo deprimente que tem se repetido em quase todas as noites de show no Capitão Cook, com as bandas tocando pra quase ninguém lá dentro e uma verdadeira multidão alimentando o comercio informal que se formou lá fora.

Enquanto isso, no “corredor da folia” ...

Foto tosca e texto "gonzo" por Adelvan

Abaixo, fotos de Michael Meneses

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8 comentários:

  1. Fala galera, to de passagem pela cidade e só ouço falar de precaju. Onde a galera do bom e velho rock se reune?

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  2. Ótima resenha, como sempre! Foi irado mesmo. Independente da quantidade de pessoas e de não ser um show propriamente dito, foi divertido pra caralho, e é isso que conta. Ah, e valeu pela parte que me toca, man!

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  3. Minha guitarra é muito bonita, mas tem um problema: só faz barulho rs. Bela resenha Adelvan, e realmente foi uma noite muito bacana. Aracaju ta precisando de uns eventos com esse clima, pouca gente mas sempre intenso, proveitoso e com pessoas realmente interessadas em participar/ver. Abraços

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  4. Anônimo, a galera do rock costuma se reunir na FREEDOM, loja especializada no gênero. Fica na Rua Santa Luzia, 151 - centro - próximo à Catedral Metropolitana. Na mesma rua, se tiver de rango, passe no Om Shanti, restaurante vegano pilotado pelo casal mais "rocker" da cidade.

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  5. Adelvan, ótimo texto! como sempre mandando ver nas criticas a aristocracia sergipana....Cara vou publicar no site www.rockvolume.com a sua resenha. As pessoas precisam ler isso, blz?Valew cara!

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  6. Valeu Fabrizio. Citando fonte e autoria, pode reproduzir à vontade.

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  7. ótima resenha, como sempre.

    Murillo Viana

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  8. Com certeza foi show de bola!
    Eu ainda não conheço o Tio Maneco Botequices(falha minha!)
    Saí dai de Aracaju bem a tempo,graças a Deus!Não tive o desprazer de escutar aquela famigerada barulheira no pré caju.
    Texto exelente como sempre Adelvan.Parabéns!

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