terça-feira, 26 de abril de 2011

10 Anos sem Joey Ramone

"Me sentava com Dee Dee na esquina em frente ao Queens Boulevard e bebia, insultava as pessoas e coisa e tal. Foi quando fui expulso da minha casa. Minha mãe me disse que era pro meu próprio bem.”

Peraí, PARA TUDO ! Dia 15 fez 10 anos da morte de Joey Ramone ! Num mundo perfeito, teria sido feriado planetário e JAMAIS uma data como esta teria passado em branco, mas ok, confesso que me passei. Deveria ter feito um programa de rock inteiro só tocando Ramones! O Abril pro rock, onde eu estava naquela noite (15/04/2011) deveria ter sido dedicado aos Ramones! Todas as bandas, mesma as mais "metaleiras", deveriam ter sido obrigadas por contrato a incluir uma musica deles em seu repertório. Mas como eu não sou ditador do mundo, antes tarde do que nunca, para registrar a data, reproduzo um excelente post do Viva La Brasa assinado por Adolfo Sá e Michael Menezes:

( Viva La Brasa ) Jeffrey Hyman tinha 2 metros de altura, mas não foi seu tamanho que o tornou um dos maiores ícones da cidade de Nova York. Mais conhecido como Joey, ele revolucionou os rumos da música e influenciou o comportamento dos jovens ao lado de Johnny, Dee Dee, Tommy, Marky, Richie e C.J., a família Ramones, do Queens.

Quando começaram a banda não conseguiam tocar os sons que curtiam, então compuseram sua primeira canção logo no primeiro ensaio, I Don’t Wanna Walk Around with You. Em seguida vieram I Don’t Wanna Get Involved with You, I Don’t Wanna Be Learned, I Don’t Wanna Be Tamed e I Don’t Wanna Go Down to the Basement.

Niilistas. A primeira canção dos caras a não ter “eu não quero” no título foi Now I Wanna Sniff Some Glue, “agora eu quero cheirar cola”. Gravaram um disco em 1975 c/ 14 faixas curtas e sujas que reunidas não duravam nem meia hora. Criaram o punk rock, lideraram a cena do CBGB – que contava c/ Blondie, Television, Talking Heads, The Cramps e Patti Smith – e germinaram o movimento na Inglaterra – após se apresentarem em Londres em 76 surgiram Sex Pistols e The Clash.

O resto é História. Foram 14 álbuns de estúdio em pouco mais de 20 anos de carreira, sempre fiéis aos 3 acordes e à batida acelerada. Os Ramones entraram p/ o Rock and Roll Hall of Fame, receberam o Grammy Life Achievement Award e participaram até dos Simpsons [maior de todas as honrarias], sem nunca deixar de ser o que eram em 74: punks.

Joey Ramone morreu em 15 de abril de 2001, aos 49 anos, vítima de um câncer linfático contra o qual lutou ao longo de 7 anos. Sua doença foi o motivo p/ o fim da banda em 96. Ele ainda gravou um disco solo – DON’T WORRY ABOUT ME – e produziu a banda The Independents e um disco de Phil Spector. Coincidência ou fatalidade, Dee Dee morreu 1 ano depois, em 05 de junho de 2002, aos 51, e Johnny em 15 de setembro de 2004, aos 55.

É como se só tivesse sobrado o Ringo Starr dos Beatles. O batera Marky tocou até em Aracaju c/ sua banda The Intruders, e o baixista CJ lidera a Bad Chopper. Joey fez 2.263 apresentações c/ os Ramones em todos os cantos do planeta – 15 delas no Sul e Sudeste do Brasil. “O som deles incentivou centenas de desajustados sociais a montar bandas”, define o jornalista Eduardo Almeida.

Eu nunca fui num show dos Ramones. Mas Michael Meneses estava presente nas 3 vezes em que tocaram no Rio de Janeiro: 1992, 94 e 96. “Sou tricampeão de Ramones no Rio!” Fotógrafo carioca suburbano, filho de nordestinos e fundador do selo Parayba Records, Michael ‘Ramone’ conta c/ exclusividade p/ o Viva La Brasa como conseguiu entrar – e sair vivo – nas 3 gigs. Gabba Gabba Hey!

“1, 2, 3, 4...
Os meus primeiros contatos com os Ramones aconteceram ainda em Aracaju, na saudosa loja Walmir Foto Som. Estava analisando bandas e capas de discos em companhia do falecido Bruxo quando ele falou ao observar o LP RAMONES MANIA: ‘Não gosto de Ramones, acho muito rock and roll’... Fiquei me questionando qual era o problema de uma banda de ROCK ser ‘rock and roll’? Isso ocorreu no final dos anos 80, tinha uns 13 ou 14 anos. Outra coisa que me deixava intrigado era o fato dos Ramones serem uma banda PUNK, e eu tinha uma imagem preconceituosa de que todo punk tinha que usar moicano ou cabelo curto e todo heavy tinha que ser cabeludo. Então me perguntava como uma banda podia ser punk e usar cabelo e visual heavy? Por incrível que pareça, não lembro de ter visto um único punk de Aracaju ouvindo Ramones, Sex Pistols ou The Clash... Ouvíamos muito punk nacional ou as bandas sergipanas – Karne Krua, Logorréia, Manikômio – e também sons gringos porém ainda no underground – como Napalm Death e D.R.I. – até pela influências thrash metal da época. Uma curiosidade dos punks é que por mais que achassem metal chato, alguns curtiam Guns’n’Roses e ouvíamos ‘Sweet Child O' Mine’, ‘Patience’ etc. na Praça da Catedral em fitas K7 ao fim da tarde... Ouvir Guns naquela época não era nenhum pecado.

ROCK AND ROLL RADIO - 1991

Em 1991 voltei a morar no Rio de Janeiro por conta do Rock in Rio II e ainda no primeiro semestre do ano os Ramones quase vieram ao Rio, mas o show não aconteceu. A primeira banda que vi tocando Ramones foi a Volkana com ‘Pet Sematary’ na turnê com Ratos de Porão que teve dois shows em julho no Circo Voador (a Bizz resenhou e eu apareço de costas na foto). Na ocasião RDP tocou ‘Commando’. O Hollywood Rock 1992 trouxe o Skid Row, uma banda que gosto até hoje, mas sem o entusiasmo dos anos 90. Tinha lido, ouvido ou visto em algum lugar que eles tocavam ‘Psycho Therapy’ com o baixista no vocal. Fui ao festival sabendo que o show calaria a boca de quem achava que a banda era apenas de baladinhas de amor. ‘Psycho Therapy’ sacudiu a Apoteose, tenho o áudio da música no Hollywood Rock em K7 e MP3, e costumo pensar que talvez, não fosse o Skid Row, eu não gostasse de Ramones. Heresia? Prefiro ser fiel em minhas palavras...

SOU CAMPEÃO [GÁS IN RIO] - CANECÃO 1992
O ano de 1992 foi uma maravilha de shows no Brasil, a meu ver depois daquele ano entramos definitivamente na rota das turnês internacionais. Aquilo tudo era demais pra mim, dois anos antes passava 6 meses esperando shows de bandas sergipanas, e de repente assistia shows internacionais direto. Citando só alguns, tivemos: Hollywood Rock com Living Colour, Extreme, Skid Row... depois shows com Kreator, Jello Biafra com Ratos de Porão, além dos shows nacionais acontecendo no Circo Voador, Garage Art Cult, Caverna II, Bar do Paulinho, Bar Sem Destino, e em outros picos da cidade. Tivemos os históricos primeiros shows do Black Sabbath no país, menos de um mês depois teve Iron Maiden no Maracanãzinho, uns 10 dias depois teve a volta do Skid Row ao Brasil e até o Sepultura fez seu primeiro show no Canecão.

A essa altura eu já era fã dos Ramones, aí foi anunciado que eles voltariam ao Brasil e dessa vez com show no Rio. O sucesso do filme Cemitério Maldito ajudou bastante na popularidade da banda, além de ter publico garantido por conta dos fãs. Na época o país era um caos, a batata do presidente Collor assava e a inflação na casa do caralho. Vejo a garotada de hoje achando que tudo tem que ser BAIXADO e reclamando ao pagar por show, comprar um CD, mas essa garotada que em 1992 usava chupetinha, não sabe o quanto era difícil ir a shows ou comprar discos com toda aquela inflação, é só olhar para trás e ver que tudo hoje é mais acessível.

Minha namorada da época tinha uns 16 anos, nos dias de hoje qualquer jovem viaja de um estado para outro sem autorização dos pais, mas em 1992 não era assim, e nem era qualquer mãe que deixava uma filha com 16 ir de Realengo (Zona Oeste) ao Canecão em Botafogo (Zona Sul) para um show punk, ainda mais na companhia do namorado, ou seja, minha ex-namorada só iria ao show comigo se sua irmã mais velha fosse também, a exemplo do que aconteceu no Skid Row no Maracanãzinho, onde sobrou pra mim pagar ingressos para as duas – na verdade paguei para ex, emprestei pra irmã e nunca fui ressarcido, mas isso faz parte. Alguns dias antes da esperada apresentação dos Ramones, vi que ficaria inviável com aquela inflação pagar mais que um ingresso e falei que não teria como pagar para elas. Para ter ideia da inflação em 92, os ingressos para os shows do Black Sabbath custaram 35 mil cruzeiros, menos de um mês depois o Iron Maiden custava uns 45 mil, uns 10 dias depois, Skid Row 55 mil, já o ingresso de pista do Ramones custou 60 mil cruzeiros. Enfim, a namorada me deu um pé na bunda, não tenho certeza se por esse motivo ou não, mas o fato é que eu fui ao show no maior bode! Rsrs...

Vamos ao show: a clássica intro começou a soar e certamente muita gente foi às lagrimas, fico arrepiado só de lembrar, o Canecão era uma festa! O set foi idêntico ao do LOCO LIVE, o álbum ao vivo em Barcelona, com modificações que ocorreram na segunda parte do show. Tudo corria tranqüilo e animado, e o ambiente ajudava, afinal o Canecão é um dos espaços culturais mais legais do Rio de Janeiro, funciona que é uma beleza para eventos de qualquer estilo musical, inclusive o Ronaldo Bôscoli foi feliz ao dizer: ‘Nessa casa se escreve a história da música popular brasileira’. A frase é mais que justa ao Canecão, seja MPB, rock, samba, pop, jazz... Não importa, ali tudo soa bem. Eu até tava xavecando uma garota que conheci no show, porém...

Fazia uns 5 anos que ouvia falar de carecas & skinheads. Em Aracaju, dos meus 13 aos 15 anos, tinha o maior medo de cruzar com eles na rua*, afinal eles eram mais velhos, maiores, mais fortes e sempre em maior número. O que lia nas revistas e/ou cartas de fanzineiros e o que via na TV só me dava mais medo, em especial pela porrada distribuída pela carecada no show do Motörhead em 1989 no Maracanãzinho e exibido pela TV Manchete. Até esse show eu raramente tinha contato com eles. Mas eles resolveram bater ponto pra fazer merda em show dos Ramones, souberam direitinho como estragar a noite, sabiam como estragar o prazer e quando tudo parecia a mais completa diversão, eles surgiram na pista. Inicialmente abriram uma roda e ficavam pogando aparentemente de forma normal, porém começaram agredir a todos ou corriam em direção ao pessoal da frente e se jogavam – quem estava na grade era esmagado.

Eram mais ou menos uns quinze carecas que, segundo disseram, saíram da baixada fluminense e do ABC paulista. Entre eles havia duas garotas que me deixaram chocado, pois desde quando comecei a andar com a cena rock da Zona Oeste, em especial no Largo de Bangu (o ponto de encontro rock das noites de domingo), elas estavam lá, eram amigas de punks e heavies, embora tivessem mais ligação com os punks. Achei aquilo maior traição, e se não fosse a merda que aconteceu nesse show, talvez elas estivessem armando uma emboscada pra galera de Bangu. Uma delas veio em minha direção, e deu um soco na boca da menina que estava xavecando, deu tempo de puxar a menina, e o soco pegou de raspão nos lábios, chegou a aparecer um leve filete de sangue, mas nada grave. Depois, não demorou e uma fumaça começou a sair do público, mais ou menos em frente de onde eu estava, inicialmente imaginei que fosse gelo seco (‘santa ingenuidade, Batman’), mas bastou minha garganta, boca, nariz, pele começarem a arder para falar para a garota: ‘Isso é gás lacrimogênio!’...

Nunca tinha sentido o cheiro desse gás, mas algo em mim falou que era e saí puxando a garota. Todo o Canecão era um caos, gente correndo para todos os lados, não adiantava fugir pelo lado convencional, resolvi sair pelo setor das mesas (o mais caro do Canecão). Tentei subir pelo local onde funcionava a mesa de som, mas o técnico me olhou assustado e disse: ‘Por aqui não!’, dei um passo ao lado, subi e ajudei a tal garota a subir, buscamos proteção perto da saída do Canecão respirando e ouvindo os Ramones tocarem varias músicas até pararem. Anos depois soube que no momento dessa confusão, o Renato Russo entrava no Canecão, olhou o caos e na mesma hora foi embora de táxi. Passaram-se longos minutos, os efeitos do gás continuavam e a garota pra lá de nervosa preocupada com suas amigas, que com a confusão se separaram, e falava que não iria ao show do Napalm Death que estava cogitado para acontecer no Garage até o final do ano (mas não rolou) alegando medo dos carecas. Coube a mim tentar a acalmá-la.

Uns 40 minutos depois o show voltou, mas a festa tinha estragado para alguns. Parecia um jogo de futebol encerrado depois de alguma fatalidade e que a volta acontece apenas para cumprir tabela. O sossego inicial do show tinha ido embora junto com a carecada que havia sido presa, não sabíamos se ainda tinha carecas em meio às três mil pessoas e isso deixava o clima tenso. E vale mencionar que um público desses no Canecão é casa cheia. Com aquela bagunça, quem havia comprado mesa vip perdeu! Muita gente aproveitou o caos e com medo de ir para pista, subiu nas mesas. Lembro da dona da mesa onde eu subi com a garota se lamentando que tinha pago caro pela mesa. Era perigoso até ficar em pé nessas mesas, imaginem uma mesa para seis com umas oito pessoas em pé nelas, a mesa envergava, pensei que partiria ao meio.

Aos poucos, o show voltou a ser enérgico! O que se viu por parte dos Ramones foi lindo, e todo o Canecão curtiu. Em relação ao set list, só nessa segunda etapa do show aconteceram algumas mudanças em relação ao LOCO LIVE. Outra coisa tosca que ainda veio a acontecer naquela ‘Noite-Mondo-Bizarro’ foi uma fã subindo no palco e se jogando e abraçando o Johnny Ramone, que tocava distraidamente e tomou um bom susto – sua reação foi empurrá-la com a guitarra, ela caiu de bunda no palco, foi levada por um técnico e ainda deu pra ver o Johnny gritando algo para garota.

O show chegou ao fim e com ele outro medo, pois havia a suspeita de que os carecas estavam do lado de fora à espreita, o que não aconteceu. A menina se despediu de mim com aquele papo de ‘Você salvou minha vida’... Seja como for não dei nenhum beijo nela! Rsrs...

Do Canecão à minha casa são dois ônibus, no segundo ônibus (260 - Pça.XV x Vila Valqueiro) ocorreu um fato engraçado, mas que na época me deixou puto. Na altura do Meier na Zona Norte, entrou um homossexual (sem homofobia ok?) pedindo trocados aos passageiros, uma garota que parecia voltar da faculdade deu, ele agradeceu e começou a falar algo como: ‘Boa noite, senhores passageiros, quero agradecer a doação da nossa amiga e em retribuição vou cantar para vocês!’... Olhei para o lado e pensei: ‘Puts, fudeu!’... O cara seguiu viagem cantando ‘To Be with You’ do Mr.Big, só cantava o refrão, às vezes traduzia a letra, justificando que alguns poderiam não saber inglês. Falou que conheceu a música num baile no Cassino Bangu, desceu uns 20 minutos depois em Cascadura e vários passageiros vibraram por ele descer.

Na manhã seguinte só o jornal sensacionalista A Noticia deu uma nota pequena sobre a bomba, já os telejornais e rádios adoram noticiar que uma bomba de gás lacrimogênio foi acionada em um show de rock, deu até no programa do Casseta & Planeta, que falou que o PC Farias era o líder dos carecas! Rsrs... Contudo gostei de ouvir a locutora Mônika Venerabile da FLU FM comentar o fato por volta das 18h. Ela não teve pena, desceu o pau nos carecas que saíram de SP para bagunçar um show que os cariocas pagaram basicamente em dólar pra ver, o texto dela misturava revolta e decepção e me deu muito orgulho.

SOU BICAMPEÃO [MELHOR SHOW] - CIRCO VOADOR 1994
Durante muito tempo ouviu-se falar da tal bomba no Canecão, ou melhor, até hoje me perguntam: ‘Você foi no show da bomba?’... A essa altura era já era um ‘ramonesmaníaco’, a banda foi uma das que mais ouvi entre os anos de 1993 e 95. LOCO LIVE foi segundo CD que tive na vida juntamente com um Aerosmith que comprei nas Americanas em seus primeiros saldões de CDs. Também comprei o vídeo pirata do show no canecão. Foi aí que começaram a divulgar uma turnê do Ramones com Sepultura, mas ficou a questão: onde seria esse show no Rio? Começaram a falar que o show seria no Estádio de Remo da Lagoa, mas com o Sepultura no auge, Ramones idem, o show ficaria caro! Por fim o show aconteceu no Circo Voador sem o Sepultura.

O Show... Show não, espetáculo! Primeiramente nunca vi o Circo Voador daquele jeito, existia segurança de todas as formas, grades por todos os lados, dentro e fora do Circo, e até no teto tinha proteção. No caso do teto a proteção consistia em muita graxa espalhada nas barras do Circo, evitando a tradição de alguns mais exaltados em se pendurarem nas grades e/ou irem andando por elas, com a graxa não seria possível isso. O show aconteceu no dia em que completava um ano que uma outra ex-namorada tinha me dado um pé na bunda. Rsrs...

Abrindo a noite, o Little Quail and the Mad Birds, que na época tinha um hit tudo a ver com o show, ‘1,2,3,4’... Deu um gás, ops!, deu uma esquentada na galera. Como o medo de dar algo errado ainda imperava, preferi ficar na arquibancada que parecia Maracanã em dia de clássico, maior cabeçada.

Ramones inicia o show, no set list basicamente o de sempre, porém com alguns covers do ACID EATERS. Ainda no início um engraçadinho tentou arrumar uma briga, mas a segurança agiu rápido e com originalidade, estavam à paisana no meio do público e ao que notei vestiam camisas estilos havaianas. Funcionou.

Mesmo estando em pé na aquibancada agitei o show todo, a carga emocional que vivenciava naquele momento era tão grande que chorei em ‘Bonzo Goes to Bitburg’. Existiu um Michael Meneses até aquela música e outro Michael após ela. E curti muito o estilo CJ Ramone de tocar/cantar. Tudo funcionou na noite, não conheço uma só pessoa que foi naquele show que prefira os outros shows do Rio! O clima foi perfeito, sem falar que ficou provado que o Circo Voador era o melhor lugar para os Ramones tocarem no Rio, pois não existe nenhum outro espaço que tivesse a cara deles como o Circo. Toda a tradição de shows punks da casa ao longo de 12 anos estava impregnada naquele palco e coube ao Ramones colocar sua marca no lendário território do rock carioca. Pena que fazia pouco mais de um mês que a Fluminense FM [94.9 Mhz] estava fora do ar, tinha dado lugar à Jovem Pan.

Entre o Circo e Fundição Progresso, basicamente embaixo dos Arcos da Lapa, uma Kombi vendia posters do Ramones por 1 real (ou algo assim). Tinha tanta gente querendo poster que a situação ficou sem controle. Um amigo me contou que depois que tudo se normalizou ele foi no cara da Kombi e mentiu dizendo algo como: ‘Já lhe dei o dinheiro, mas na confusão você acabou não me dando o poster’... Em seguida ele recebeu um poster! Voltei pra casa com o espírito renovado, mas com o pescoço doendo de tanto bater cabeça. Pelo menos ninguém cantou Mr.Big no ônibus.

O TRICAMPEONATO [SALVO POR 3 REAIS] - METROPOLITAN 1996
Em 96 os Ramones voltaram ao Brasil para dizer ¡ADIOS AMIGOS!... Nascia no Rio de Janeiro a geração Rádio Cidade, uma garotada influenciada que acreditava que o Ramones era uma banda de 3 músicas – ‘Pet Sematary’, ‘Poison Heart’ e uma tal de ‘Hey Ho, Let's Go’ (eles achavam que o nome da música era esse) – e que tocavam o tema do Homem-Aranha! A rádio tocava essas músicas de forma exaustiva e o resultado foi uma nova geração de eternos fãs e fãs de momento lotando o Metropolitan na Barra da Tijuca, uma casa bem maior que o Canecão e o Circo Voador juntos.

Por outro lado o Rio vivia o auge da consolidação de uma nova cena rock altenativa, com revistas, programas em rádios comunitárias, zines, selos, bandas pipocavam na cidade... De lamentável apenas a ausência da FLU FM. Essa cena ficou conhecida como os ‘órfãos da Maldita’.

Quase não fui nesse show por falta de grana, já que em 1996 basicamente não trabalhei. Tudo para me dedicar aos estudos fotográficos. O pouco $$ que recebia era para comprar material fotográfico (filmes e papel, revelações etc.)... A lógica era que não fosse ao show, porém tinha o peso que era a última turnê, eu estava gostando mais da banda e tudo levava a crer que seria um show ainda melhor por conta do local, do palco e do som, o que tecnicamente faria desse show melhor que o do Circo Voador, mas só tecnicamente, pois a magia do Circo para um show dos Ramones foi insuperável. Enfim, estava sem dinheiro mas resolvi ir catando as moedas...

No dia do show fui à casa de um primo. Faltavam uns três reais para o ingresso e ao chegar lá uma amiga me perguntou se iria ao show, respondi: ‘Não sei, faltam três reais, e não tenho de onde tirar’... R$ 3 na época valia muito mais que hoje. Essa garota, que aliás tem seus vínculos com Sergipe, falou que iria interar pra mim! ‘Oba! Morderam a isca, irei ver Ramones mais uma vez’. Rsrs...

Em parte, o único problema era que entre as pessoas que iriam ao show com a gente estava um amigo que morava no bairro mas trabalhava em Volta Redonda, uma cidade do sul fluminense, já eram 18h, o show tinha previsão de inicio às 21:30. Claro que chegamos atrasados e ainda tive que comprar meu ingresso, entrei na segunda ou terceira música, num primeiro momento tentei ficar mais perto do palco mas acabei desistindo, me senti sufocado no meio da geração Rádio Cidade, achava aquele povo pop-rock demais e recuei. Resolvi ficar atrás, assistir mais o show e não agitar no meio das dezenas de ‘roqueiros gerados pela rádio dos doidinhos’.** Parei perto da minha amiga que pagou a diferença do ingresso e do seu namorado, um cara que esperou uns 10 anos para ver os Ramones ao vivo. Só que o casal estava brigando e ficaram assim o tempo todo, ou seja, eles não viram nada, pagaram para brigar no Metropolitan.

O show foi uma ‘Carta de Despedida com Final Feliz’. De longe o maior público dos Ramones no Rio, podia não existir o clima de ‘primeira vez’ do Canecão e o clima de ‘rock and roll’ do Circo Voador nunca vai se fazer presente no Metropolitan, hoje Citibank Hall. O show não foi ruim, muito pelo contrário, novamente foi excelente e entrou pra história para muitos novos ‘doidinhos’. Felizes os que descobriram que: ‘Hey Ho, Let's Go’ não é nome de música e que vieram a conhecer a vasta discografia do Ramones, que contém muitos sons além dos que a Rádio Cidade empurrava.

Ao término do show o casal parou de brigar, juntamos o povo de Marechal Hermes e voltamos para casa de forma tosca, não que tivesse aparecido novamente o cara cantando Mr.Big, mas alguém teve a ideia de pegarmos um ônibus que deixava na Sulacap, um bairro relativamente perto do nosso, porém se fazia preciso pegar outro ônibus que podia demorar ou não pra passar, e com isso voltamos a pé pra casa. Caminhamos uns 40 minutos até chegar. Depois dessa noite nunca mais vi um músico dos Ramones ao vivo.

UMA NOVA HISTÓRIA - 2011

Tomei conhecimento do falecimento do Joey Ramone no domingo da páscoa de 2001, ao fazer uso de uma nova mania, a internet, e receber a notícia via ICQ. Hoje, trabalhando com a Parayba Recs., já vendi LPs da banda e os CDs solos dos músicos.

Em maio estarei no show do Paul McCartney. Segundo reza a lenda, o Beatle inspirou o nome ‘Ramones’, pois no início de carreira Paul autografava como Paul Ramone. Mas isso confirmo aos leitores do Viva La Brasa se o Paul me der um autógrafo!

Namastê!

NOTAS
* Na época da Copa do Mundo de 90, fui ameaçado duas vezes por carecas em Aracaju. Eles tinham uma banda e ensaiavam no Conj. Santa Tereza, onde eu morava.
**Forma como a Rádio Cidade se dirigia aos seus ouvintes, a tal nova geração do rock carioca.”

MICHAEL MENESES é a soma de um pai paraibano de João Pessoa com uma mãe sergipana de Itabaiana. Torcedor do Campo Grande A.C. no RJ, Itabaiana/SE no Brasil e Flamengo no Universo. Fotógrafo e jornalista, tem trabalhos publicados em várias revistas, sites e jornais, além de ter um orgulho da PORRA em colaborar sempre que pode com o Programa de Rock da Rádio Aperipê FM de Sergipe.

3 comentários:

  1. Os Ramones sempre foram uma banda muito superestimada. E hoje parece existir uma cobrança para que todo mundo goste deles mesmo achando o som fraquinho e chato. A bem da verdade o Ramones sempre foi uma banda descartável e pop. As músicas deles são muito acessíveis e muito simples demais. Prefiro ouvir hard'n'heavy rock dos anos 80 que é muito melhor, pelo menos as bandas sabiam tocar. Quem gosta de Ramones são esses cervejeiros babacas como os caras do Muzzarelas que se acham os donos do rock, os mais entendidos. Eu não curto Ramones mas nem que me pagassem pra ouvir.

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  2. kkkkkk, esse anõnimo metendo o pau nos Ramones não sabe nada de música, é muita comédia.

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