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O show começou mesmo (para mim) com a banda seguinte, Violator, de Brasilia. "A noite vai ser boa", diria Cladio Zoli. Espécie de Nuclear Assault tardio (antes tarde do que nunca) tupiniquim, os caras são muito, muito, muito bons de palco. Compensam com gloria e galhardia sua principal deficiência, a falta de músicas REALMENTE marcantes no repertório, com uma energia insana e um astral muito legal, além de muita competencia na execução. E são muito simpáticos: o baixista/vocalista fala o tempo todo entre uma musica e outra e não fica chato, muito pelo contrário: tem um carisma de moleque roqueiro doido porém "do bem", bem intencionado, que contagia a todos. Até quando fala contra "essas igrejas de merda que querem ocupar nosso espaço, fodam-se, foda-se o white metal" ele fala, não
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Voltei a dar atenção ao que rolava nos palcos com a apresentação do Musica Diablo já começada. Grande banda, pesada, precisa, técnica, "metalica" e blah blah blah. Os caras mandam muito bem no instrumental, mas também falta composição e ... vocalista. Não tem jeito, não consigo gostar de Derrick Green como vocalista. É muito "feijão com arroz", sem personalidade. Qualquer um com um mínimo de potencia vocal e disposição para se esgoelar por algumas horas faz o que ele faz. Chega a ser incrível saber que ele ocupa há tanto tempo o posto na principal banda de metal brasileira, uma das maiores do mundo. Isso sem falar do papo furado em português capenga cheio de gírias paulistanas entre uma musica e outra. Não foi um show ruim, longe disso, mas não foi nada comparado ao que viria a seguir ...
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Corta pro telão: Imagens belíssimas e coloridas, produzidas pelo coletivo goiano "Bicicleta sem freio", ilustram a narração: "Petrobras apresenta: Abril pro rock 2011. E agora, diretamente dos Estados Unidos, The Misfits!". Denecessário dizer que a turba ensdandecida (que por sinal compareceu em peso, o Chevrolet Hall estava lotado, uma coisa bonita de se ver) veio abaixo. As cortinas se moveram ao som de um pianinho tenebroso e voila: lá estavaM eles, um dos mais matadores "power trios" em atividade na face da terra, neste momento. Na verdade o trio foi tão "power" que todo mundo (sei que não foi apenas eu, pelos comentários que ouvi depois) ficou meio atordoado, sem saber direito o que estava acontecendo. Uma música emendada na outra em velocidade acelerada (e olha que as versões originais já são bem rapidinhas) com o "Big Boss" Jerry Only dividindo os vocais com Dez Cadena, o guitarrista. Ficava até difcil identificar o que eles estavam tocando, algo que só ficou mais claro quando Only anunciou o primeiro grande clássico da noite, "Astro zombies", com um daqueles tradiconais "ÔÔÔ" feitos sob encomenda para serem acompanhados pelo público. E o publico acompanhou e participou, e muito !
A primeira pequena "pausa" serviu para que Cadena perguntasse se alguém ali conhecia uma banda chamada Black Flagg. Ele explica que iriam tocar "six pack" e a dedica "for you. Yes, you!", apontando para alguém na plateia. Os telões não focalizaram o felizardo, mas creio que deveria ser alguém com alguma camiseta de sua antiga banda. O Misfits toca como trio desde 2001, o que não impediu algumas "atravessadas", possivelmente motivadas por algum problema de equalização no início do show, quando a caixa da bateria estava muito alta e os vocais praticamente inaudíveis.
Os clássicos foram se sucedendo e o publico assimilando e enlouquecendo. Tudo muito acelerado, um verdadeiro rolo compressor. Só foi possivel respirar em "Helena", uma "quase" balada, mas o pau voltou a comer logo em seguida. "Dig up her bones" ficou quase irreconhecível devido à velocidade em que foi tocada mas o refrão, como não poderia deixar de ser, foi cantado a plenos pulmões por todos. Até eu, que estava exausto, consegui esboçar um sorriso mais entusiasmado e levantar o braço em sinal de aprovação. Only não parava nem para se refrescar ou trocar o chiclete que ele mastigava o tempo inteiro: havia um carinha agachado dedicado, aparentemente, unicamente a satisfazer estas suas "necessidades", espocando umas bolinhas de gelo (ou seria água ensacada?) nos "spikes" de sua jaqueta ou entregando outra goma de mascar ao menor sinal do "mestre". Por falar em jaqueta o visual de Jerry Only é, por sinal, uma atração a parte, um verdadeiro ícone de uma determinada subcultura pop norte-americana, com aquele topete escorrido despencando entre os olhos e culminando no nariz. Guitarrista e baterista, por outro lado, foram mais "comedidos": o primeiro ostentava uma face esbranquiçada entre os longos cabelos esvoaçantes enquanto o segundo "apenas" desenhou dentes enormes em seu maxilar, numa operação simples porém com um resultado excelente. O cara ficou parecendo um monstro pré-histórico.
O show "terminou" mas o bis não demorou. Veio com “We Are 138" e, surpresa, outra do Black Flagg, "rise above", que foi acompanhada pela maioria do publico, uma surpresa maior ainda para mim, que não sabia que a clássica banda underground californiana era tão popular. Fechando os trabalhos e para acabar de vez com tudo, o mundo inclusive, "Die Die, my darling". Puta que pariu, uma verdadeira aula de punk rock numa unica canção: curtinha, com refrão certeiro e batida martelada e minimalista. Fim de festa, cortinas fechadas, pianinho sinistro de volta aos auto-falantes e a volta pra casa com energias renovadas.
O Misfits conseguiu um grande feito em 1995: voltaram depois de 12 anos paralisados por um pendenga judicial envovendo Only e Danzig em torno dos direitos do nome da banda e fizeram um sucesso ainda maior, embalados por uma formação matadora que contava com o excepcional vocalista Michale Graves ( que, veja só, nunca tinha ouvido falar dos Misfits, apenas soube do teste por um amigo e foi lá "pra ver qual era") em clipes sensacionais veiculados à exaustão pela MTV. Na verdade experimentaram um sucesso que nunca haviam tido antes, mas tudo viria abaixo no ano 2000, quando Graves e o baterista Dr. Chud deixaram a banda sem nenhuma explicação aparente. A porca torceu o rabo de vez quando Doyle, o irmão de Jerry, também o abandonou às vésperas da turnê comemorativa dos 25 anos - aqui o motivo parece ter sido uma briga devido a suas aparicções em shows do Danzig tocando clássicos do Misfits. Mas quem tem moral, tem: o baixista remanescente não entregou os pontos e chamou dois ex-membros do Black Flagg, Cadena e Robo, para escudá-lo, e segue fazendo tours mundo afora até hoje. Também gravou e excursionou com Marky Ramone na bateria durante o "project 195o", um álbum de covers de musicas da "década de ouro"do rock and roll. Na tour, que deve ter sido antológica, além das musicas gravadas para o disco, clássicos do repertório de ambas as bandas, Misfits e Ramones.
UMA CURIOSIDADE: Em 27 de fevereiro de 1996 foi lançado um box set contendo quatro CDs com todas as músicas gravadas pela formação clássica do Misfits. Os CDs vinham num caixão e foram feitas poucas unidades. Atualmente esta fora de catálogo. Detalhe: eu tenho este box, comprei baratíssimo numa loja do Rio de Janeiro em 1998, e estou contando isto aqui unica e exclusivamente para te fazer inveja.
OUTRA CURIOSIDADE: Jerry Only é cristão assumido e, aparentemente, praticante. Chegou a ter, inclusive, um projeto gospel com o irmão na época em que o Misfits estava parado, o "Kryst the conqueror".
* A BR 101 está sendo duplicada e isto causa um transtorno imenso, pois além da tradicional dificuldade de trafegar por lá por conta do intenso movimento de veículos de carga, há as obras, que atrapalham, e muito. Mas que valerão a pena, a julgar pelo delicia que é deslizar pelo tapete que já está ponto. A lamentar, apenas, este monumental erro histórico da politica econômica de nosso país, que prioriza o tranporte rodoviário em detrimento do ferroviário, mais econômico e eficiente para paises de dimensões continentais.
** Há o English Dogs, da Inglaterra, que é anterior e já misturava punk rock com Heavy metal, mas aí a discussão vai longe e, infelizmente, ninguém lê textos muito longos na internet.
por Adelvan Kenobi
bela resenha, como sempre. e tu perdeu sim a Cangaço, boa banda. A mistura de regional que eles fazem é aquela atmosfera sertaneja macábra, você pensa em Lampião arrancando a cabeça de alguém.
ResponderExcluirO Facada foi a infelicidade de sua VIDA não ter visto, só digo isso.
E faltou Beneath the Wheel no repertório do DxRxIx.
Foi o melhor Festival que já fui. Gostei de todas as bandas mas as melhores de todas, sem sombra de dúvidas foi: FACADA, VIOLATOR e DRI. Misfits foi muito bom também mas não superei essas três.
Que venha o SLAYER!
*superou
ResponderExcluirSobre o Cangaço: www.myspace.com/cangacometal
ResponderExcluirE o Facada foi brutalidade pura!!!
Abraço
Murillo, o DRI tocou sim Beneath the Wheel e por sinal tá aqui o video
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=QFOanIe0hOw
Realmente, eles tocaram "Beneath the Wheel", lembro bem. o set list que reproduzi estava errado. Já deletei.
ResponderExcluirChris, o repertório que me referi foi o que Adelvan copiou do site e não o do show do DRI. Eu tava lá e sei que eles tocando Beneath the Wheel, hehe.
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