segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pitty por Adolfo Sá ...


"recordar é viver" - “Tem várias personas morando dentro de mim – o anjo, o diabo, a pombagira. Cada um tem a sua hora e, juntas, fazem eu me sentir completa.”

Fui apresentado a Priscila Novaes Leone em 1996, na redação da Mtv em Salvador [BA]. Eu editava um fanzine chamado Cabrunco em Aracaju [SE], e ela fazia parte de uma banda chamada Inkoma.

Mais conhecida como Pitty, hoje Priscila é uma cantora de sucesso que, aos 32 anos, já lançou 3 álbuns solo e ganhou 5 discos de ouro, 2 de platina, os principais prêmios do VMB e Multishow, e até indicações ao Grammy Latino.

Bem antes de fazer o rock’n’roll existencial que ouvimos em Máscara, Equalize, Teto de Vidro, Memórias e Déja Vu, hits de ADMIRÁVEL CHIP NOVO, ANACRÔNICO e CHIAROSCURO – lançados pela Deckdisc, do produtor Rafael Ramos – ela já praticava um hardcore nervoso no vil & violento underground baiano.

Não é à toa que ficou tão à vontade posando p/ fotos sensuais no ensaio de capa da edição de estréia da versão brasileira da revista INKED, lançada em julho. “O cenário é talvez o mais pé sujo dos hotéis de São Paulo”, escreve a repórter Carine Savietto na matéria de 10 páginas que disseca a história das “mais de 10, menos de 20” tatuagens que Pitty tem espalhadas em seu corpinho de 1m60.

“Show!”, diverte-se a roqueira-modelo no hotel barato.

Quando a conheci, Priscila era uma ninfeta de 18 anos que gritava contra o sistema em shows onde a maioria do público era de punks, e o pogo quase sempre descambava p/ a briga. Ela já tinha mais tattoos do que eu tenho hoje. O visual louco era uma defesa externa p/ a menina doce de personalidade forte e madura p/ a idade, como ficava expresso na demo Pilha Pura de 96:

“Quando eu vejo as coisas erradas no jornal e na TV/ Eu penso em fazer algo e eu não sei bem o quê/ Se você acha que pode vir a se tornar palmatória do mundo/ Isso não vai adiantar/ Cê tá ligado que sozinho não vai dar pra acontecer/ É que o problema na verdade é bem maior do que você/ Conscientização e principalmente união/ Não passe pelo mundo sendo só mais um/ Cuzãããããoo...”

Berrava que era uma beleza.

“Haha, o namorado dela deve ouvir altos gritos no pé da orelha”, zoava Marcos ‘Bola’, guitarrista da Dinky-Dau [e mais tarde da Sangria e Magajanes Muertos], um dos meus melhores amigos. Foi através do toca-fitas do carro dele que conheci a Inkoma.

O som da banda não saía dos meus ouvidos, nem a vocalista da minha cabeça. Assim que nos conhecemos, o santo bateu e iniciamos uma parceria – eu arrumava desculpas p/ ir lá e ela me visitava de vez em quando.

Comemoramos meu aniversário de 21 anos num bar sinistro estilo candomblé em SSA, e em AJU eu a levei p/ ver Trainspotting no cinema e um show do Mundo Livre S/A, que rendeu uma resenha na última edição do Cabrunco – escrita por ELA:

“E não é que eu fui mesmo? Me joguei na estrada com destino a Aracaju pra passar o feriadão, dar um saque num campeonato de skate, divulgar a cena soteropolitana e, claro, ver o show da Mundo Livre S/A. De novo. É o terceiro que eu vejo em menos de seis meses, e é sempre uma festa. Em Aracaju não foi diferente.

O show aconteceu num pico recém-inaugurado na cidade, o Little Hell. O espaço é super-legal, com capacidade para mais ou menos trezentas pessoas. É uma pena que não tenham comparecido ao local nem cinqüenta. Culpa de uma divulgação inoperante e deficiente ou da suposta ‘frágil’ cena sergipana? Mistérios do bom e velho underground. [...]”

O texto continua por mais 2 parágrafos, mas é impressionante como continua atual – a cena melhorou um pouco, não muito. Já a Pitty, quanta diferença. Em 99, quando a reencontrei, ela tocava bateria num projeto paralelo, Shes, banda punk só de garotas bonitas e tatuadas. Em 2000, gravou o único álbum da Inkoma, INFLUIR, e em 2002/03 mudou-se p/ o RJ, em seguida SP. O resto é história.

Hoje estou casado c/ a Gil, e ela c/ o baterista do NX-Zero. A última vez que a vi foi na minha despedida de solteiro em 2008 – nos encontramos na mesma noite no show do Mudhoney e numa boate da Barra, totalmente ao acaso. Mas foi estranho, agora ela é uma celebridade, todos os olhos a acompanham, não me senti muito à vontade.

“Cada um pensa o que quer. Isso é liberdade de expressão, sacou?” Essas duas frases são da entrevista que fiz c/ a Priscila na primeira vez em que ela esteve aqui, publicada no nº 8 do zine.

Na mesma edição – a derradeira do Cabrunco – o apresentador do Programa de Rock da 104.9 FM, Adelvan Kenobi, na época zineiro e dono da loja Lokaos, assina uma resenha dos shows de lançamento da coletânea UMDABAHIA que não me deixa mentir:

“A banda que eu mais queria ver era a Inkoma, ultra-recomendada por Adolfo Sá. Bem, Adolfo não é exatamente um expert em hardcore, e eu desconfiava que a babação dele tinha endereço certo, mas desta vez ele acertou na mosca. A banda (eu disse a banda) é realmente do caralho! A vocalista Pitty também é, mas o fato é que eles têm a postura ideal diante da música (‘hardcore é diversão’), com letras que são excelentes crônicas sobre a vida urbana – ou seja, universais.”

Mas peraí, que papo esse que eu não sou “expert em hardcore”? E meus discos do RxDxPx, Black Flag, Bad Brains, Dead Kennedys? E meu vinil original do Sex Pistols [que tá c/ um amigo que mudou p/ Salvador – mais bem guardado c/ ele do que comigo]? Mas que puto! Heheh... Tudo bem, mesmo que eu não sacasse nada de HC, teria aprendido por osmose na curta mas intensa convivência que tive c/ a Pitty.

Termino a entrevista perguntando que nota ela dava a si mesma:

- Porra, Adolfo! (risos) Que nota pra mim?! Porra, 10! Vou dizer o quê? (mais risos) Sou legal, sou gente boa. Nem ronco! (risos novamente) E você, que nota dá pra mim?

- Você é uma guria legal. Vale um 10.

Fonte: VLB

3 comentários:

  1. valeu, adelvan.
    gostei do título e das fotos.
    resta saber se ela tb gostou.
    I hope so. abx@

    ResponderExcluir
  2. Nota DEZ para o nx ZERO que ta comendo gostoso.

    ResponderExcluir
  3. "eu arrumava desculpas p/ ir lá e ela me visitava de vez em quando..." uhum, entendemos! ahahaha!
    Mas que bacana ler sobre o antesda fama da Pitty, cara!
    Te fotos?

    ResponderExcluir