terça-feira, 18 de maio de 2010

Ska em Aracaju

O programa de rock sempre valorizou a diversidade, por isso saúda o surgimento daquela que é, provavelmente, a primeira banda do estado a se dedicar ao ska*, ritmo jamaicano eminentemente festivo que deu origem ao reggae e que há tempos flerta com o rock e, especialmente, o punk rock. A Friendship na verdade não é uma banda nova, existe desde 2001, porém só recentemente começaram a encarar a brincadeira de forma mais, digamos, profissional (“séria” não seria uma palavra adequada, porque os caras são muito escrachados). Na última sexta-feira eles lançaram seu mais novo EP, “get out of my wave”, no Espaço cultiva, com as presenças dos sergipanos da Rótulo e do The Renegades of punk e um convidado especial, a dad fucked and the mad skunks, outra banda de ska, só que de Maceió.

Cheguei tarde “pero no mucho”, perdi apenas o Renegades, que verei em outra ocasião em breve, assim espero, e por um bom tempo. Vi pela primeira vez um show da Rótulo, banda de Hardcore local que segue a linha do Dead Fish, Garage Fuzz e demais “medalhões” do gênero. Boa banda, com um bom trabalho de guitarras, belas melodias e uma pegada firme na cozinha. O vocalista é bem “empolgado”, parece acreditar mesmo no que fala em suas letras, o que é bem importante para o tipo de som que fazem. Fala bastante entre uma musica e outra, muitas vezes com um discurso um tanto quanto ingênuo, mas é sempre bom saber que ainda existe quem acredite em utopias – no final das contas, são essas pessoas que impulsionam o mundo para frente. Como dizia Chaplin, “sejamos realistas, exijamos o impossível”. Ou “não sabia que era impossível, foi lá e fez”, assim falou Jean Cocteau (não sei se foi ele mesmo, pesquisei agora mesmo na net, mas que é uma puta frase, é). A Rótulo parece seguir esses sábios conselhos, a julgar pela extensa turnê que acabam de fazer pelo nordeste.

A banda de Maceió veio a seguir. Fazem um som com influência do HC californiano, mas com uma ênfase maior no ska. Gosto disso. Gosto MUITO de ska, pra mim é o tipo de música ideal para festa, e o show deles não deixou de ser isso mesmo, uma festa. Os poucos “rude boys” presentes (uns 2 ou 3 trajados a rigor) pareciam se divertir bastante, especialmente em covers de clássicos como “A Message for you Rudy” do Specials e “Take on me” do A-ha, que ficou perfeita em ritmo de ska. Ainda estão meio verdes, carecem de um melhor entrosamento no palco, mas foi um show ok.

Entrosamento, atualmente, é o que não falta para a Friendship. Os caras evoluíram muito (na verdade nem lembro mais quando foi a última vez que vi um show deles, muito provavelmente justamente porque não me chamou muito a atenção) e estão mandando muito bem num skacore na medida certa entre peso, distorção e suingue. E são uns “fuleiros”, no bom sentido da palavra (é, existe bom sentido pra isso, sim), me agradecendo toda hora no microfone por ter tocado o som deles no rádio – porra velho, faz isso não, eu sou tímido, hehehe. Não têm nada o que agradecer. Todas as faixas do EP deles têm potencial para ser hit e, pelo menos no programa de rock, elas serão. Não fiquei até o final porque estava cansado, era sexta-feira e eu tinha saído do trabalho pro programa (que não é trabalho) e de lá quase que diretamente para o show, então precisava dormir. Mas gostei muito do que vi, e espero que a Friendship seja mais lembrada pelos que produzem shows por aqui, para que tenhamos mais oportunidades de participar dessa verdadeira farra ao vivo.

Foi uma noite bacana, e diferente. A cena sergipana tem crescido em tamanho e qualidade, mas ainda é um tanto quanto restrita a alguns gêneros, precisaria ganhar também em diversidade. Nunca houve, por exemplo, uma banda rockabilly (ou psychobilly) por aqui, o que é uma pena. Nem é tanto um problema específico de Aracaju, mas da cena nordestina em geral. Fico na torcida para que isso mude, e dando minha modesta contribuição para a mudança, tocando de tudo (ou quase) no programa de rock.

A.

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(Wikipedia): *Ska é um gênero musical que teve sua origem na Jamaica no final da década de 50, combinando elementos caribenhos como o mento e o calipso e estadunidenses como o jazz, jump blues e rhythm and blues. Foi o precursor do rocksteady e do reggae. Suas letras trazem sinais de insatisfação, abordando temas como marginalidade, discriminação, vida dura da classe trabalhadora e, acima de tudo, diversão em harmonia.

As origens do ska remontam o final dos anos 50 quando, após a Segunda Guerra Mundial, os jamaicanos compraram começaram a ouvir amis e mais rádio. Os produtores mais importantes da Jamaica, Duke Reid e Clement "Coxsone" Dodd, viajavam assiduamente aos Estados Unidos em busca de novos discos gravados por lá. Entre os dois existia uma feroz concorrência, já que ambos eram donos de sound systems, que eram caminhões equipados com microfones e alto-falantes, usados para fazer festas na rua. A rivalidade chegou ao ponto de um mandar sabotadores (dancehall crashers) à festa que o outro organizava.

Esse sistema de som criado por Duke Reid, Clement Dodd e Prince Buster foi feito para atender à demanda da música americana. Artistas de R&B bastante ouvidos nos anos de 1950 eram Fats Domino (rock'n'roll) e Louis Jordan (jump blues, rock'n'roll), entre outros. Foi o jump blues a primeira explosão comercial do R&B nos anos de 1940 através de Louis Jordan, antes ainda do rótulo rhythm and blues (R&B) ser criado por Jerry Wexler em 1948. O jump blues é conhecido como o antigo rock'n'roll, e os elementos de jazz presentes no ska se devem também à ele, já que o estilo era uma fusão de blues, boogie woogie e big band do swing (uma forte variante do jazz).

Quando o R&B e jump blues sairam de moda nos Estados Unidos, houve uma importação massiva de discos para a Jamaica, obrigando os produtores locais a buscar uma solução, já que as bolachas que eles traziam deixaram de ser "raridade". A solução do problema foi produzir suas próprias gravações com músicos locais, ou seja, versões próprias do R&B.

Essas versões podem ser consideradas as primeiras formas do ska. A peculiaridade do estilo se deve também à fusão entre os estilos americanos e os estilos caribenhos, como o mento da Jamaica e o calipso de Trinidad & Tobago. As primeiras gravações de ska podem ser encontradas em "Boogie in My Bones" (1958), "Drinkin' Whiskey" (1959), "Boogie Rock" (1960), "Aitken's Boogie" (1960) de Laurel Aitken, e em "Oh Carolina" (1960) de Folkes Brothers, um grupo de mento. A canção "Oh Carolina" foi produzida por Prince Buster. Outra gravação pioneira foi "Please Don't Let Me Go" (1959) de Owen Gray. Nesse período Derrick Morgan e Duke Reid gravaram canções como "Lover Boy" e "Oh My". Prince Buster em 1962 lançou a "They Got To Come".

Há várias versões de como inventou-se o ska. A mais conhecida é a que tem Cecil Campbell (Prince Buster) como protagonista e conta que ele pediu ao seu amigo Jah Jerry (que mais tarde tocaria nos The Skatalites) que compassasse o ritmo do R&B, fato que deu como resultado o famoso som de guitarra que todos conhecemos. O autor da palavra ska foi o baixista Cluet Jonhson, que saudava todos os seus amigos dizendo "Hey Skavoovee". Além disso, a pronúncia da palavra assemelha-se ao ritmo da guitarra.

Outra que é uma das primeiras canções de ska gravada foi "Easy Snappin", do pianista Theophilus Beckford, em 1959, ano correspondente à primeira tiragem produzida por Coxsone no Federal Studios. A banda que acompanhou o pianista era formada, entre outros, pelo já mencionado Cluet Jonhson e Roland Alphonso, que depois faria parte dos Skatalites. O maior sucesso de toda a história do ska foi "My Boy Lollipop", de Millie Small, adaptada ao estilo por Ernest Ranglin. A versão era cantada por Barbye Gaye e vendeu 7 milhões de cópias ao redor do mundo, possibilitando ao ska espalhar-se por vários países.

O Skatalites foi uma das primeiras bandas do gênero. Foi formada oficialmente em 1964, fazendo sua primeira apresentação em um festival no Hit-Hat Club. Após o festival, a banda gravou seu primeiro álbum, “Ska Authentic”, e começou a viajar pelo país fazendo shows acompanhando diferentes cantores, dentre os quais Jackie Opel, Lord Tanamo e Laurel Aitken.

Depois do sucesso da cantora Millie Small com "My Boy Lollipop", realizou-se um festival para a televisão estadounidense intitulado This is Ska, onde tocaram ao vivo os Maytals, Jimmy Cliff, Monty Morris, entre outros. A banda acompanhante era Byron Lee & The Dragonaires, não porque tocava melhor que os Skatalites, mas porque estes últimos eram rastafaris e sua aparência não era desejada para o público americano. Em 1964, os Skatalities conseguem por no top ten britânico a música "Man in the Street".

Além dos Skatalites, dentro e fora da Jamaica, também destacavam-se:

Owen Gray, pioneiro a gravar um álbum de ska, "Owen Gray Sings (1961)". Seu primeiro compacto simples, “Please Don't Let Me Go” (1959), foi uma das primeiras canções gravadas do gênero. Também foi o primeiro a gravar um disco de ska na Inglaterra, “Darling Patrícia”, acompanhado por Carlos Malcom and his Afro-Jamaican Rhytms.

Derrick Morgan, conhecido em sua época por suas loucuras, escreveu uma canção, "Foward March", na qual descrevia o otimismo geral da Jamaica ao haver obtido a independência em 1962. No ápice de sua carreira manteve uma guerra midiática com Prince Buster, já que este gravou uma música insultando-o. Derrick respondeu-lhe e assim seguiram com uma sequência de canções um contra o outro. Na verdade, os dois eram muito amigos e tudo havia sido uma estupenda campanha publicitária, que terminou com um festival onde cantaram os dois diante de uma multidão descontrolada.

Laurel Aitken, nascido em Cuba, emigrou com sua família para a Jamaica quando ainda não havia completado doze anos. Sua carreira começou no fim dos anos 50 e seu repertório ia desde o boogie até o calipso, passando pelo R&B. No início dos anos 60 foi apelidado de The Godfather of Ska (o padrinho do ska) já que o single "Litle Sheila"/"Boogie in my Bones" foi o primeiro sucesso do gênero a se manter no primeiro lugar das paradas por onze semanas. Mudou-se para a Inglaterra, onde fundou a comunidade jamaicana em Brixton. São destacáveis seus trabalhos na época do rocksteady e posteriormente do skinhead reggae, depois deste desaparecer por um tempo. Laurel faleceu em 2005, de enfarto.

Prince Buster trabalhava na soundsystem de Coxsone e abandonou-a para montar a sua própria, que se chamou The Voice of the People. Tinha os melhores sons, mas nunca conseguiu superar a concorrência de Duke Reid. Mais tarde passou a trabalhar numa estação de rádio chamada RJR e lançou-se como produtor e posteriormente como cantor. As letras de suas músicas refletem o modo de ver a vida pelos olhos de um “rude boy”.

The Wailling Wailers, formado por Peter Tosh, Bunny Wailer e Bob Marley, gravaram seu primeiro single em 1962, com o título "Judge Not". Isto graças a Jimmy Cliff, amigo de Bob Marley, que o apresentou a Leslie Kong, um dos produtores mais importantes da Jamaica. A música com a qual eles chegaram à fama foi "Simmer Down", onde a banda acompanhante era The Skatalites.

Ska no Brasil: Os primeiros passos do ska no Brasil remontam à época da Jovem Guarda, com a releitura de sucessos jamaicanos por nomes como Renato e seus Blue Caps e Wanderléia. Contudo, poucos se davam conta do que aquilo se tratava.

Nos anos 80, o ritmo começa a ter uma maior divulgação - principalmente graças aos Paralamas do Sucesso, que sempre apostaram muito no ritmo, em especial nos álbuns Selvagem? e O Passo do Lui. Entre as bandas de rock nacional que faziam sucesso na época surgiu o Kongo, que realmente podia se proclamar uma banda de ska. O grupo teve CD produzido por Bi Ribeiro, baixista do Paralamas, e "Biquíni Defunto" chegou a ter boa execução na rádio, mas a banda não conseguiu construir uma carreira realmente de sucesso, perdeu visibilidade e passou por longos períodos de recesso, apesar de ainda continuar na ativa.

Apenas no fim dos anos 90 surgiu uma leva de bandas nacionais que conseguiu algum espaço. A Paradoxx lançou a coletânea Ska Brasil, com nomes como Skamoondongos e Mr. Rude. O Skuba teve dois CDs lançados e chegou a conseguir boa execução de suas músicas nas rádios e na MTV. Também os cariocas Los Djangos lançaram CD pela WEA e, assim como o Kongo, foram produzidos por um integrante dos Paralamas, o baterista João Barone.

Porém, esta nova onda do ska não conseguiu seguir adiante. O Skuba acabou, o Djangos passaram um tempo parado antes de retornar fazendo um som com outras influências e nenhuma outra banda conseguiu ir em frente com sucesso. Atualmente, novas bandas de ska continuam procurando espaço no underground em todo o Brasil, em sua maioria influenciadas por bandas do ritmo mais tradicional e suas variantes mais próximas, como o King´s Tone (Curitiba), e da terceira onda do ska internacional. Entre elas, podem-se citar Móveis Coloniais de Acaju, E a Vaca foi pro Brejo, Bois de Gerião, Coquetel Acapulco, La Bamba, Maleducados, Firebug, Sapo Banjo, Skambo, Lucky Ska Walker, El Cabong, Walligator, Caravana2k, Zé Oito e Radio Ska, Aniska, Satélites na Babilônia, entre outras.

Apesar do ska não ter se consolidado como um ritmo conhecido no país - a bem da verdade, a maioria das pessoas simplesmente não sabe do que se trata - boa parte das bandas de pop rock nacional de sucesso têm algum ska entre seus hits. Paralamas do Sucesso, Skank, Ultraje a Rigor, Titãs, Kid Abelha, Los Hermanos, Capital Inicial, Charlie Brown Jr. - todas já passearam pelo estilo em algum momento. Até mesmo o Legião Urbana gravou um ska ("Depois do Começo", do álbum Que país é Esse?). O primeiro álbum dos Engenheiros do Hawaii, Longe Demais das Capitais de 1986, também lembra muito o ska. No punk rock, bandas como o Inocentes, foram das primeiras a tocar ska no brasil ("Não Acordem a Cidade" de 1981, que foi gravada no álbum Pânico em SP de 1986).

O chamado “Ska punk”, aliás, é um gênero musical de fusão que combine o ska com o punk rock, e faz parte da terceira onda do ska. Suas características podem variar devido ao contraste entre os dois estilos. Bandas mais voltadas ao punk geralmente apresentam tempo mais rápido, distorção de guitarra, interlúdios do punk, vocal anasalado e/ou gritado. Por outro lado, estilos mais voltados ao ska geralmente apresentam uma instrumentação mais técnica e um vocal mais limpo. A instrumentação básica inclui guitarra, baixo, bateria, saxofone, trombone, trompete e órgão.

O ska e o punk rock foram combinados pela primeira vez durante o movimento Two tone no final da década de 1970 com bandas como The Specials, The Selecter e The Beat. A fusão dos gêneros cresceu na década seguinte durante a terceira onda ska e atingiu o auge de sua popularidade no final da década de 1990, nos Estados Unidos, tendo com uma das principais bandas o Sublime, que por sua vez foi bastante influenciado pelo Voodoo Glow Skulls. Na Europa os espanhóis do Ska-P, apesar de cantar somente em sua língua natal, atingiu grandes audiências na França, Alemanha e Itália.

Várias bandas de ska punk atingiram sucesso comercial. The Mighty Mighty Bosstones apareceram no filme Clueless, e seu álbum Let's Face It (1997) alcançou o disco de platina. Save Ferris apareceu no filme 10 Things I Hate About You. O sucesso avançou pela primeira década dos anos 2000 para bandas como No Doubt (ganhadora de Grammy) e Less Than Jake.

2 comentários:

  1. Excelente resenha!!!!

    Só acho que a Dad Fucked não faz um ska original, acho que eles estão ainda muito na linha do ska califórniano, que flerta demais com hardcore melódico e punkrock. E gosto também dessa vertente que o ska tomou.

    E a Friendship puta que pariu!!!Que banda foda!!!!!Animados pra caralho e com uma qualidade sonora muito além do que se costuma ver no underground nordestino.

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