segunda-feira, 17 de maio de 2010

There´s a raimbow in the dark ...



( Whiplash ) : Wendy Dio, esposa e manager de Ronnie James Dio (DIO, HEAVEN & HELL, Black Sabbath, RAINBOW), enviou o seguinte comunicado ao BLABBERMOUTH. NET.

Hoje meu coração se despedaçou, Ronnie faleceu às 7:45 da manhã de hoje, domingo, 16 de maio de 2010. Muitos, muitos amigos e familiares puderam estar presente para se despedir antes que ele partisse. Ronnie sabia o quanto todos o amavam. Agradecemos o amor e apoio que vocês nos deram.

Por favor, nos dêem alguns dias de privacidade para lidarmos com esta terrível perda.

Por favor, saibam que ele amava a todos e sua música viverá para sempre.

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( Wikipedia ) : Ronnie James Dio, nome artístico de Ronald James Padavona (Portsmouth, 10 de julho de 1942 — Houston, 16 de maio de 2010) foi um vocalista de heavy metal. Ficou famoso por cantar em bandas como Rainbow e Black Sabbath.

Ronald adotou o sobrenome "Dio" em homenagem a um mafioso italiano, Johhny Dio. Ainda na escola, formou com colegas a banda Vegas Kings que, após mudar de nome várias vezes (sendo chamada de Ronnie and the Rumbles, Ronnie and the Redcaps, Ronnie Dio and the Prophets, The Eletric Elves e The Elves), finalmente tornou-se conhecida como ELF.

Em meados dos anos 70 foi chamado para cantar no Rainbow de Ritchie Blackmore (ex-Deep Purple), onde gravou quatro álbuns. Após deixar o Rainbow, foi convidado pelo guitarrista Tony Iommi para ocupar o posto de vocalista no Black Sabbath, permanecendo com a banda até 1983.

No mesmo ano, lança um álbum solo, Holy Diver. Nele estão Vinny Appice, que também tinha saído do Sabbath e acompanhou Dio, seu antigo companheiro de Rainbow Jimmy Bain e o guitarrista Vivian Campbell (atual Def Leppard). Holy Diver foi muito bem aceito e deixou clássicos como a faixa-título, "Stand Up and Shout", "Don’t Talk to Strangers" e a mais famosa "Rainbow in the Dark".

Embalado com o sucesso, Dio solta mais um álbum em 1984 chamado The Last in Line. Também muito bem aceito pelo público e pela crítica, trazia a mesma fórmula de Holy Diver. Foi este álbum que levou a banda a uma enorme turnê mundial seguida do seu primeiro vídeo oficial. Os músicos são os mesmos do trabalho anterior, com adição do tecladista Claude Schenell.

Em 1985 lança Sacred Heart, cuja turnê rendeu um vídeo ao vivo, Sacred Heart Live.

Em 1986 sai um EP ao vivo chamado Intermission com seis músicas. Destacam-se "King of Rock and Roll", "We Rock" e "Rainbow in the Dark", além de uma faixa inédita de estúdio, "Time To Burn", apresentando o novo guitarrista Craig Goldie, que substituiu Vivian Campbell durante a turnê de Sacred Heart.

Em 1987 é lançado Dream Evil, e Dio só volta a aparecer em 1990 com Lock up the Wolves. A formação da banda é totalmente diferente das passadas. Os músicos são Rowan Robertson (guitarra), Simon Wright (bateria), Teddy Cook (baixo) e Jens Johansson (teclados).

Em 1992 Dio volta ao Black Sabbath e grava mais um álbum chamado Dehumanizer. Neste mesmo ano sai uma coletânea intitulada Diamonds The Best Of com vários clássicos da banda Dio.

No ano seguinte, lança Strange Highways, seguindo a mesma linha de Dehumanizer. Em 1996 sai Angry Machines, com uma banda composta por Tracy G (guitarra), Jeff Pilson (baixo) e Vinny Appice (bateria).

Vieram ao Brasil para tocar junto com Bruce Dickinson, Jason Bonham Band e Scorpions no final de 1997. Neste mesmo ano saiu uma coletânea chamada Anthology. Em 1998 sai um CD duplo ao vivo chamado Dio’s Inferno - The Last in Live, que traz clássicos como, "Holy Diver", "Don’t Talk to Strangers", "The Last in Line", e "The Mob Rules" (homônima do disco do Black Sabbath), "Mistreated" (do Deep Purple) e "Catch the Rainbow" (do Rainbow) entre outras. Algo relativo à volta do Rainbow havia sido mencionado mas com a morte do baterista Cozy Powell, a notícia permaneceu apenas como boato.

Em 2000 lança Magica, um álbum conceitual que traz de volta o estilo clássico de Dio de compor, com letras sobre magia, dragões e bruxas. Sua banda contou com a volta do magnífico Craig Goldie (guitarra), o seu fiel escudeiro Jimmy Bain (baixo), Simon Wright (bateria) e Scott Waren (teclados). No final de 2001 Goldy decide deixar a banda alegando problemas familiares e para seu lugar é recrutado o guitarrista Doug Aldrich. Com novo line up, Dio entra em estúdio e em 2002 sai Killing the Dragon, que procurou repetir a mesma formula do anterior porém com um pouco mais de rapidez e peso.

Em 2003 é lançado seu primeiro DVD oficial, Evil Or Divine e, em 2004, o último trabalho de estúdio, Master Of The Moon, que contou com o seguinte line-up: Ronnie James Dio no vocal, Craig Goldy na guitarra, Jeff Pilson no baixo, Simon Wright na bateria e Scott Warren nos teclados - no entanto, quem ocupou o posto de baixista na turnê foi Rudy Sarzo.

Em 15 de julho de 2006 Dio voltou ao Brasil, desta vez trazendo a tour Holy Diver Live em comemoração aos 23 anos de lançamento de seu clássico primeiro álbum solo.

Em 2007 reuniu-se com os antigos companheiros de Black Sabbath, Tony Iommi, Geezer Butler e Vinny Appice, para excursionarem na promoção do álbum Black Sabbath - The Dio Years. Neste álbum estão grandes clássicos como "Neon Knights", "Die Young", "Falling Off The Edge Of The World", "The Mob Rules" e três músicas novas compostas especialmente para este disco: "The Devil Cried", "Ear in the Wall" e "Shadow of the Wind". Para promover a coletânea, os quatro se reuniram sob o nome Heaven and Hell para uma turnê mundial de um ano. Um dos shows em Nova Iorque é gravado e lançado sob o nome de Live From Radio City Music Hall, dando uma "geral" em toda a discografia de Dio com o Black Sabbath. Em 2008, é lançado um box set com toda a discografia do vocalista à frente do Black Sabbath, chamado The Rules Of Hell, e os músicos anunciam que entrariam em estúdio para gravar um novo álbum. Batizado "The Devil You Know", foi lançado em abril de 2009.

Em 25 de novembro de 2009, Wendy, sua esposa e empresária, anunciou que ele havia sido diagnosticado com câncer de estômago:

"Ronnie foi diagnosticado num estágio inicial de câncer de estômago. Estamos iniciando o tratamento imediatamente na Mayo Clinic. Após Ronnie matar este dragão, ele estará de volta aos palcos, aos quais ele pertence, fazendo o que ele mais ama, cantando para os seus fãs. Vida longa ao rock and roll, vida longa a Ronnie James Dio. Obrigada a todos os amigos e fãs de todas as partes do mundo que enviaram mensagens de boas melhoras. Isto realmente tem nos ajudado a manter nosso espírito forte."
—Wendy

Em março de 2010, Wendy publicou uma atualização online sobre sua condição:

"Ronnie fez sua sétima sessão de quimioterapia, outra tomografia computadorizada e outra endoscopia, e os resultados são bons — o tumor principal tem encolhido consideravelmente, e nossas visitas à clínica em Houston são agora a cada 3 semanas, e não mais a cada 2 semanas."
—Wendy

Em 4 de maio de 2010, o Heaven and Hell anunciou que eles estavam cancelando todas as apresentações que ocorreriam no verão por causa da condição de saúde de Dio.

Dio morreu às 7:45 da manhã (horário local) de 16 de maio de 2010, de acordo com as fontes oficiais.

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Ronnie James Dio, O Deus ridículo do rock

O americano Ronald James Padavona, mama mia, gravou seu primeiro compacto em 1958. Durante dezessete anos todas suas bandas foram um fracasso. Ele não desistiu. Nem se achou.

Em 1975 finalmente a sorte piscou: Ronnie, já Ronnie James Dio, caiu nas graças de um guitarrista talentoso e sorumbático, Ritchie Blackmore, que estava cheio de sua banda, o Deep Purple. Blackmore começou outra banda, Rainbow, e chamou Dio para ser o cantor.

Mas foi só quatro anos depois, aos 38 anos, que Ronnie encontraria sua verdadeira vocação: bardo do sobrenatural. Não era vocação. Foi uma oportunidade de mercado. Que apareceu quando ele entrou para o Black Sabbath, clássica formação do metal britânico que levou do satanismo para o rock e, bem, criou o principal veio do Heavy Metal.

Dentro ou fora do Sabbath, Dio passou a protagonizar operetas tronitruantes, o que ele fez até ontem, quando morreu aos 67 anos.

É esquisitíssimo escrever isso. Tem sentido um roqueiro de 67 anos? Agora tem. Muitos morreram jovens - há quem diga que os melhores; só digo que eles não tiveram tempo de pisar na bola. Mas muitos estão por aí, em estados variados de saúde ou putrefação.

Agora, tem sentido um roqueiro de 67 anos que canta sobre o eterno combate entre o bem e o mal, em canções repletas de dragões assustadores, cavernas assombradas, magos impolutos etc.? Hm, bem, não.

Esse mundo de fantasia pseudocelta estilo Senhor dos Anéis/RPG/Harry Potter é coisa de pré-adolescente. Que muita gente carrega no coração pelo resto da vida, com carinho. Por que não? Quem sou eu para falar dos outros, se leio gibi de super-herói até hoje?

Mas Batman terá para sempre trinta e poucos anos, e seus intérpretes no cinema, idem. Em algumas décadas teremos uma nova versão holográfica, perfumada e introjetada diretamente nos nossos cerebelos de O Senhor dos Anéis, com novos - e jovens! - atores interpretando Frodo e cia (ou, quem sabe, nem existirão mais atores e teremos intérpretes 100% virtuais; depois de Avatar, não é de duvidar).

Ronnie, ao contrário, sempre parece com o Gollum. Mas envelheceu mal - foi ficando careca, encarquilhado e sempre cantando sobre satanás e seus asseclas. É muito fácil ver o quão ridículo Dio era.

Mas, valente, ele nunca temeu o ridículo. Excursionando novamente com os parceiros do Black Sabbath sob o novo nome de Heaven and Hell, parecia compreender que é possível ser um ogro patético para uns e ícone da integridade para outros.

Vi o Sabbath com Dio muitos anos atrás. Foi horrível. Minha banda era outra, anterior, o Sabbath de Changes e Paranoid, com Ozzy Osbourne antes dele ser “Ozzy Osbourne”, clichê de roqueiro velho, rico e bêbado.

Dio estrela minha coleção de discos em outra fase, quando sua cor ainda não era o negro, mas os blues. Ronnie James Dio, décadas de fracasso, feio como a necessidade, exato exemplo do que é mas ridículo no rock, sabia o que era ser mal-tratado.

por André Forastieri
do Blog

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O Heavy Metal está de luto. O vocalista Ronnie James Dio (Ronald James Padavona) morreu na manhã deste domingo (16 de maio), aos 67 anos, após perder a luta contra um câncer estomacal.

A morte de Dio, que ficou mundialmente famoso por cantar em bandas como ELF, Rainbow, Black Sabbath e Heaven & Hell, foi confirmada por sua esposa e empresária, Wendy Dio. "Hoje meu coração está partido, Ronnie morreu às 7h45. Muitos amigos e familiares puderam dizer adeus antes dele morrer pacificamente", postou Wendy no site oficial de Dio (ronniejamesdio.com).

No mesmo comunicado, a esposa de Dio diz que ele sabia o tanto que todos o amavam e agradece o apoio desde que o vocalista soube da doença, em novembro de 2009. "Por favor nos deem alguns dias de privacidade para lidarmos com essa terrível perda. Por favor saibam que ele os amava e sua música vai viver para sempre", finalizou Wendy Dio.

MINHA CONEXÃO COM DIO - Quando peguei aquela nova edição do fanzine do fã-clube de Heavy Metal Rock Brigade, em meados de 1984, pensei: "Que legal, o Dio ficou entre os primeiros na votação dos melhores do ano. Acho que vou escrever para ele pedindo uma foto autografada." A ingenuidade do ato de um fã, que começou a ouvir Heavy Metal justamente por causa do Black Sabbath, falou mais alto.

Estudava inglês e redigi a carta em uma folha de caderno mesmo. Depois daquela tentativa de contato com a revista francesa Enfer, sem sucesso, no fundo tinha esperança de obter resposta de Dio, mas sabia que seria quase impossível. Afinal, nem a banda Dio ou o Black Sabbath haviam tocado no Brasil. Apenas Ozzy Osbourne estava confirmado para tocar por aqui pela primeira vez, no "Rock In Rio", realizado em janeiro de 1985. Fui ao correio do centro de São Paulo e mandei a carta endereçada a Wendy Dio, esposa e empresária do vocalista.

Quase na mesma época, a extinta revista SOMTRÊS veio com uma promoção, sorteando cópias do álbum de estreia do Dio, "Holy Diver". Mais uma vez, fui em frente. Recortei o selinho no canto do anúncio da promoção e mandei a carta. A esperança era a mesma de receber a resposta do Dio. Havia, mas era pequena...

O tempo passou e quando quase nem lembrava que havia enviado tal carta, minha mãe deu um grito: "Ricardo, o carteiro deixou um evelopão aqui em seu nome!". Desci correndo e quando abri era o "Holy Diver". Foi a primeira vez que escrevi para uma promoção. E ganhei!... E era do Dio!...

Passado algum tempo, mais uma vez ouvi o berro: "Ricardoooooo!". Bem, se houvesse uma competição de quem grita meu nome mais alto, minha mãe certamente ganharia até do Dio, Rob Halford, Bruce Dickinson, Geoff Tate, Glenn Hughes, Ian Gillan...

Era do correio. Carta do exterior. Não lembrava mais da carta ao Dio, mas quando vi o remetente Niji Productions Inc., aquele rosto carrancudo deu lugar a um enorme sorriso, com a boca ficando maior que a do Coringa, do Batman... Abri-a em menos de 5 segundos e lá estava a foto autografada com os dizeres: "Magic, from Ronnie James Dio". Só pensei comigo: "Consegui!".

A remetente, Sheila, que era responsável pelo Dio Fan Club, ainda escreveu que ficara contente por saber que Dio tinha se saído bem nos charts brasileiros. À época que recebi a carta, escrita em 25 de junho de 1984, a banda Dio estava perto de lançar seu segundo álbum, "The Last in Line", que saiu oficialmente em 13 de julho e se tornou meu preferido, ao lado de "Holy Diver".

E qual não foi a minha surpresa quando o programa "Fantástico" (TV Globo) exibiu com exclusividade o clipe da faixa título, "The Last in Line". O marketing para o primeiro "Rock In Rio" estava forte em relação ao Heavy Metal. Lembro que estávamos na casa de meus avós paternos, o Professor Sóter e a Dona Carmen, como costumávamos fazer aos domingos. Saíamos de lá quase sempre um pouco depois dos "Gols do Fantástico", que eu, meu irmão, o "Seu" Batalha, meu Tio Bosco e o Professor Sóter, não perdíamos. Imagine o espanto quando o apresentador Cid Moreira, com seu conhecido vozeirão, anunciou: "Agora, o musical do ex-cantor do grupo inglês Black Sabbath: Dio". Meu irmão Frederico e eu ficamos paralisados, hipnotizados, enquanto o Professor Sóter, quase "pescando" em sua grande poltrona reclinável favorita, não entendeu nada.

Anos depois, já trabalhando pela revista Roadie Crew, tive o privilégio de entrevistar Ronnie James Dio em algumas ocasiões, além de Tony Iommi, Ozzy e Vinny Appice. Consegui, inclusive, não perder totalmente o lado romântico de fã e com ele fiz questão de pedir mais autógrafos e fotos, como a mais recente, na nova passagem do Black Sabbath pelo Brasil. Tudo bem, do Heaven & Hell ...

por Ricardo Batalha*


ARQUIVO: ENTREVISTA

Se alguém disser que admira o vocalista Ronald James Padavona, talvez você não se dê conta de que a pessoa estará se referindo a um dos maiores astros do Rock e do Heavy Metal de todos os tempos: Ronnie James Dio. O norte-americano, que passou pelas bandas The Vegas Kings, Ronnie and the Rumblers, Ronnie and the Redcaps, Ronnie & The Prophets, The Electric Elves, The Elves, ELF, Rainbow, Black Sabbath, Dio e Heaven & Hell, fala nesta coletânea de entrevistas que fiz para a revista Roadie Crew sobre alguns pontos de sua carreira e algumas curiosidades.

Quando e por que Ronald James Padavona adotou o nome artístico de Ronnie James Dio?
Dio: Quando estava no Rainbow, gravando o primeiro álbum da banda, Ritchie me perguntou se eu tinha um nome no meio, ao invés de Ronnie Dio. Disse que sim e passei a adotar Ronnie James Dio. Mas quando tinha uns dez anos de idade e já estava com uma banda, claro que não era profissional, achava que meu sobrenome era muito longo e resolvi pegar Dio, que também é uma palavra em italiano, assim como é meu sobrenome. Só que eu não fazia a menor ideia de que aquilo significava Deus em italiano, pois havia copiado de um membro da máfia, que também se chamava Ronnie Dio. Aí, tempos depois, vieram me falar que eu estava me intitulando Deus. Só que não sou e nunca serei, não tenho nada a ver com isso, é apenas o nome (risos).

Você nunca teve aulas de canto, mas mesmo assim se tornou um dos mestres com seu talento para cantar e possui uma carreira respeitável. Como é viver apenas da música?
Dio: Tenho sorte por ter conseguido viver somente da música e sempre busquei isso minha vida toda. Nunca pensei que pudesse sobreviver financeiramente vivendo da música, mas não foi o dinheiro que me levou a optar por esta carreira e sim a paixão em estar com uma banda tocando para pessoas que gostam do que você faz. Quando comecei, sabia que esta seria minha profissão, mas não fiquei sentado pensando que um dia ia fazer isto. Simplesmente comecei e fui em frente. Sou um afortunado por conseguir fazer o que mais queria na vida, pois muita gente trabalha duro a vida toda em um emprego que odeia. Fui abençoado com o talento e também por ter uma grande quantidade de fãs que querem me ver.

Quando está em turnê, você gosta e tem o costume de examinar o local e fazer o 'soundcheck antes de entrar no palco para fazer o show?
Dio: Claro. Na maioria das vezes, fazemos um detalhado soundcheck. Isto também depende da qualidade do equipamento que você tem disponível em cada casa de shows. Às vezes, não é o apropriado e por isso a equipe leva mais tempo para deixá-lo ajustado.

Como é para você ter a "Ronnie Dio Way" na cidade em que cresceu, Cortland (EUA)?
Dio: É muito legal e mais ainda para os meus pais. Achei extraordinário que colocaram o meu nome naquela rua na cidade que nasci e cresci. Acho até estranho ver meu nome lá, mesmo depois de tantos prêmios que recebi durante minha carreira. Cada um que ganhei tem um sabor especial, mas este da rua é ainda maior.

Um de seus trabalhos favoritos é o Heaven And Hell, do Black Sabbath, mas sempre achei que você preferisse o Rainbow musicalmente, já que sempre faz questão de tocar muitas músicas nos shows com o Dio e cita a palavra "rainbow" nas suas músicas...
Dio: Não, o Heaven And Hell ainda é o meu preferido! E por diversas razões: primeiro, musicalmente, e depois pelos problemas que o Black Sabbath tinha passado e estava precisando voltar com tudo, pois fazia três ou quatro anos que a banda não fazia sucesso. Eu me senti gratificado por poder recolocar a banda no patamar que merecia estar com o Heaven And Hell. O Rainbow é completamente diferente, pois é um tipo de música que vem da cabeça de Ritchie Blackmore. No Sabbath nós todos trabalhamos juntos e a banda tinha uma sonoridade mais simples e que até me facilitava as coisas, na realidade. Criar melodias naquele padrão mais simples era até melhor para mim como vocalista, entende? E sempre gostei de compor e criar com o Sabbath, porque é mais pesado que o Rainbow e era mesmo isso que queria fazer!

Falando agora sobre o começo do Dio, quando você e o baterista Vinny Appice deixaram o Black Sabbath, em outubro de 1982, como chegaram aos outros músicos para a criação do grupo? Quando você sentiu que deveria seguir em carreira solo com o Dio?
Dio: Quando a minha saída do Black Sabbath foi confirmada, e o mesmo já tinha acontecido quando deixei o Rainbow - ambos grupos que sentia que ainda poderia contribuir muito mais, só que não tive escolha e não saí por opção minha -, decidi que seria hora de fazer algo próprio. Não queria mais que outros controlassem a minha vida. Musicalmente, sabia que estava maduro o suficiente para compor boas músicas. Claro que foi importante tocar com Ritchie (Blackmore) e Tony (Iommi), mas queria poder controlar as minhas ações. Vinny e eu saímos ao mesmo tempo do Sabbath e ele concordou comigo que deveríamos criar algo novo. Eu o conhecia bem e, além do mais, havia o fato de ele ser um ótimo músico. Então nós saímos em busca de um baixista e um guitarrista. Fomos para a Inglaterra e acabamos encontrando com Jimmy Bain e foi por intermédio dele que chegamos ao Vivian Campbell. Nos reunimos em um estúdio em Londres e tudo saiu muito bem, pois nos entrosamos logo de início. Vinny curtia tocar com Jimmy e, apesar de jovem, Vivian já era um brilhante guitarrista.

Quais foram as primeiras composições criadas para o Dio?
Dio: Holy Diver e Don't Talk To Strangers. Já tinha feito estas composições e mostrei-as para Vinny, Jimmy e Vivian assim que formamos o Dio. A partir dali as coisas foram saindo da melhor forma possível. Enfim, um momento mágico.

Você se lembra dos trabalhos e das gravações para o Holy Diver?
Dio: Nós trabalhamos arduamente para lançar um bom álbum. A experiência foi bem autoral, pois fizemos tudo do jeito que queríamos e que achávamos que iria funcionar. Aprendemos bastante coisa naquela produção, inclusive com nossos erros, alguns os quais até ríamos depois. Mas os acertos foram maiores. Veja, por exemplo, o som da bateria... Nós construímos uma sala gigante e ela parece que foi gravada ao vivo! Usamos também para o The Last In Line e isso funcionou bem para o kit da bateria de Vinny Appice. As outras coisas foram aqueles negócios de banda mesmo, com todos dando o máximo nos ensaios e na criação em si. Holy Diver não foi um álbum feito em meio a festas ou eventos paralelos. Foram coisas de trabalho, com toda aquela interação momentânea e espontânea que ocorre entre músicos que estão gravando.

Existe alguma música feita nas sessões de Holy Diver que foi deixada de lado?
Dio: Sim, há uma música, mas ela sequer foi finalizada. Apenas a deixamos de lado e eu a odiava tanto que certo dia cheguei ao ponto de destruir aquela fita. Mas nós nunca fomos de gravar algo a mais, somente quando éramos obrigados, como para o Japão, que sempre pede algum bônus. As músicas que gravamos em todos os álbuns foram aquelas que trabalhamos em cima.

E como foi para você - que carregava o peso de ser um ex-Rainbow e um ex-Black Sabbath - sentir uma resposta tão positiva e rápida para músicas como Stand Up And Shout, Holy Diver, Don't Talk To Strangers e Rainbow In The Dark?
Dio: Acho que as músicas falam por si. Elas têm qualidade e o álbum todo é bom. Mas claro que fiquei surpreso com aquela receptividade instantânea dos fãs. Eu realmente não esperava por uma resposta tão rápida e forte. Fiquei muito contente e confiante.

Como surgiu a ideia de tocar o álbum Holy Diver na íntegra e lançá-lo em CD e DVD (Holy Diver Live)?
Dio: A sugestão partiu de nosso agente na Inglaterra, que tinha pensado que poderia ser uma coisa bem interessante tocar o álbum inteiro ao vivo. O Deep Purple tinha feito isto com o Machine Head, o Queensrÿche com o Operation: Mindcrime e outras bandas também realizaram shows destacando um disco inteiro. Desta forma, senti que o projeto deveria ser levado adiante, ainda mais porque o Holy Diver é muito popular e por isso que, ao invés de tocá-lo somente na Inglaterra, acabamos por fazer uma turnê inteira com este apelo em cima do Holy Diver. A ideia sempre me pareceu legal e acredito que os fãs também aprovaram, especialmente porque muitas daquelas músicas não eram tocadas havia bastante tempo.

As apresentações da turnê "Holy Diver Live" trouxeram boas lembranças de seu passado, do início da carreira com a banda Dio?
Dio: Sim! Tudo foi especial, ainda mais porque o Holy Diver foi o primeiro álbum e o que obteve grande reconhecimento para a banda Dio. E não são apenas algumas poucas músicas boas, o disco inteiro é falado e por isso a receptividade dos fãs nos shows foi altamente empolgante para todos. Muitas pessoas nunca tinham nos visto tocando algumas daquelas composições, enquanto outros não as viam ao vivo fazia muito tempo, há mais de vinte anos... A reação foi muito boa, acredito que não somente pelo Holy Diver, mas também porque o set tinha duração de cerca de duas horas e meia, com outras coisas do Dio, do Rainbow e do Black Sabbath.

A arte da capa de Holy Diver apresenta um personagem que acabou virando mascote para o Dio. A ideia inicial era mesmo esta?
Dio: No começo seria apenas mais uma figura que faria parte de um todo na arte da capa. Queríamos mesmo ter uma pessoa e um outro personagem, além de um logotipo bem chamativo e que pudesse cativar de alguma forma os fãs de Metal. Com o tempo as pessoas passaram a se interessar mais e aquele personagem acabou se tornando a mascote, com "vida própria", um nome e sendo parte do Dio.

Por que deram o nome de Murray para a mascote?
Dio: 'Murray, the monster'... Achei que soaria mais monstruoso e, além disso, seria engraçado chamar de Murray aquela figura malvada...

Ainda sobre isto, o dragão que fazia parte do cenário na turnê do álbum Sacred Heart e era um dos pontos altos do show foi chamado de Denzil...
Dio: Na verdade, todo mundo o chama assim, mas seu nome é 'Dean, the dragon'. Por alguma razão, outra pessoa começou a falar que ele era o Denzil e aí pegou, mas o correto é Dean.

Já que estamos falando sobre curiosidades, muitos também dizem que o logotipo do Dio quer dizer Devil. Qual a sua opinião a respeito disso?
Dio: Não tem nada a ver e não foi intencional. Se você olhar de cabeça para baixo até pode parecer que é, mas não estudamos uma fórmula para que nosso logo fosse visto assim, com duplo sentido. Alguém, um dia, resolveu virar de ponta cabeça, ficou analisando e achou que Dio poderia querer dizer “Devil”, mas não tivemos nenhuma intenção de fazer isto.

E sobre o sinal com os dedos - fechando a mão parcialmente e mostrando o dedo indicador e o mindinho -, que tanto caracteriza o Heavy Metal, você se lembra quando começou a fazê-lo?
Dio: É sempre bom ter alguma coisa que você pode repetir várias vezes e as pessoas aceitam. No meu caso, foi porque a minha avó era italiana e usava o 'Maloik', que a protegia contra o olho do mal ('evil eye'). Quando eu era criança, a via usá-lo com freqüência e, assim, desde a fase do Rainbow, comecei a fazer o sinal. Não foram tantas vezes, mas usei-o. Só que no Sabbath, quando eu queria fazer uma figuração de algo mais malvado, fazia o símbolo do 'evil eye' com as mãos. As coisas foram indo e em certo ponto as pessoas já até esperavam que eu fizesse aquele sinal para que eles repetissem e isso acabou se tornando algo mundial.

Este sinal tem conexão com o Egito antigo, onde o chamavam de 'evil eye sign' (o sinal do olho do mal), mas existe alguma ligação com a música Evil Eyes, do álbum The Last In Line, mesmo porque naquele álbum ainda consta a faixa Egypt (The Chains Are On)?
Dio: Entendo sua explanação, mas, com relação àquela música, apenas achei que o título Evil Eye seria interessante. Não fui tão a fundo e ela não tem esta ligação. Não foi nada além de um bom nome. Ela foi escrita a partir de algum filme, não me lembro direito. E a compus até certo ponto bem rápido, já que precisávamos apresentar uma nova música que tivesse certa conexão entre o Holy Diver e o The Last In Line e esta ficou perfeita.

A banda Dio iniciou a "Dream Evil World Tour” tocando em Irvine/CA (EUA), em um evento chamado "Children Of The Night", mas o que pode falar a respeito do projeto de mesmo nome, também chamado de "Hear’n’Aid 2"?
Dio: Será o mesmo projeto beneficente com um álbum nos mesmos moldes do Hear'n'Aid, que fizemos em 1985, para a instituição "Rock Relief For Africa". Teremos uma música completa, de longa duração, com muitos músicos convidados e envolvidos, com diversos vocalistas, como Bruce Dickinson, e também guitarristas. O resto do álbum terá material inédito de outras bandas, como Doro, por exemplo, que já confirmou sua participação. No começo do ano que vem com certeza ele começará a ser produzido.

Você acredita que terá tempo para trabalhar na segunda parte do "Hear 'N' Aid"?
Dio: Para mim é uma certeza que farei, mas ainda não tive tempo suficiente para efetivamente começar os trabalhos. Todo mundo está com a agenda abarrotada e, além disso, não vou compor algo de baixa qualidade, um lixo desprezível só para dizer que a segunda parte foi lançada.

Considerando que você já tocou ao lado de muitos músicos de renome, quem você gostaria de ressuscitar para integrar um novo projeto "Hear 'N' Aid"?
Dio: Sempre declarei em minhas entrevistas que o único músico que gostaria de dividir o palco e tocar junto seria o Jimi Hendrix.


RAIO-X - RONNIE JAMES DIO:
Nome: Ronald James Padavona
Data de nascimento: 10 de julho de 1942
Data de morte: 16 de maio de 2010
Local de nascimento: Portsmouth, New Hampshire (EUA)
Cidade onde cresceu: Cortland
Ascendência: Italiana
Primeiros instrumentos: Trompete e contrabaixo
Esporte praticado na infância: Baseball
Heavy Metal ou Rock And Roll?: "Heavy Metal para mim, mas é tudo parte do Rock And Roll..."
The Vegas Kings (1957): "O começo"
Ronnie And The Rumblers (1957-1958): "Começando a ficar malvado"
Ronnie And The Redcaps (1958): "Cabeças-de-vento"
Ronnie Dio & The Prophets (1961-1967): "Cabeças-de-vento em dobro"
The Electric Elves (1967-1972): "Excelente material"
ELF (1972-1975): "O real começo do que acabei me tornando"
Butterfly Ball And The Grasshopper’s Feast: "Divertido de fazer, ainda mais por ter Roger Glover"
Rainbow ou Black Sabbath?: "Difícil. Não dá para comparar opostos"
Niji Productions: "Minha vida, cuida dos meus problemas e dirige minha carreira"
Dehumanizer ou Mob Rules?: "Dehumanizer"
Ronald Padavona: "Apenas um cara normal, que vive como todo mundo"

* Ricardo Batalha é Editor-chefe da revista Roadie Crew. Atua também na Brasil Music Press, Rádio Shock Box, Programa Stay Heavy e Sleevers Rock Channel.

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