terça-feira, 12 de maio de 2009

DEP - Fabio Leopoldino, do Second Come

Second Come, do Rio de Janeiro, era uma banda cultuado no meio alternativo brasileiro durante a primeira metade dos anos 90. Infelizmente Fábio Leopoldino, 46 anos, ex-vocalista e guitarrista da banda e também do Stellar e do Polystyrene, morreu ontem, 11 de maio de 2009, de infarto fulminante, às três da tarde, na cidade de Valença (RJ). Segundo F. Kraus, ex-baixista do Second Come, ele sequer chegou a receber atendimento médico. Apenas pediu à mãe que ficasse ao lado dele. O Site do selo Midsummer Madness, em sua homenagem, disponibilizou seus dois discos + uma fita demo para download. Clique aqui para acessar.

Abaixo, uma mensagem do amigo e antigo baixista do Second Come:

Estranho isso, mas neste momento, realmente não sei o que faço.

Acabei de receber uma notícia extremamente triste e a única frase que me veio foi o nome desta música.

Hoje, lá pelas três da tarde, faleceu o Fábio Leopoldino. Fábio L., como na época do Second.
Segundo informações de um amigo comum, que foi avisado pela mãe do Fábio, ele teve um infarto e não chegou sequer a receber socorro. Apenas pediu a mãe que ficasse com ele. Poético, como foram suas composições.

Durante alguns anos, após o final do Second Come, fiquei sem falar com ele.
Vários foram os "motivos" que me levaram a acreditar que eu estava certo.
E vários foram os motivos que me levaram a acreditar, depois, que estava errado.
Quando voltamos a conversar foi ótimo. E libertador.

Mas agora não valem mais as palavras.

Apenas peço que os que o conheciam, pessoalmente ou por suas músicas, desenhos, contos, etc. lembrem dele agora de uma forma boa, com aquele pensamento bom que poucas vezes temos na vida. E que essa luz o ajude nesta passagem.

--
F. Kraus

Um pouco mais sobre Second come:

Elogiados por Dave Grohl, (na época baterista do Nirvana; atualmente líder do Foo Fighters), Fabio Leopoldino (guitarra/voz), Fernando Kamache (guitarra), Francisco Kraus (baixo/vocal) e Kadu (bateria) já voltavam seus olhos para o mercado externo: pretendiam viajar para os EUA e estavam armando a distribuição na Europa através do selo Wiija (Inglaterra). E não estavam nem aí para quem criticava o fato deles cantarem em inglês: "As pessoas lá fora têm visto as letras e achado bem escritas. Caetano e Gil já fizeram músicas em inglês, na Itália cantam em inglês, na Alemanha também...", diz Kraus. "Acho que na composição do nosso som não influencia muito o fato da gente ser do Brasil. Na verdade, a gente está no meio do oceano", observa o vocalista Fabio.

A escolha do Second Come para inaugurar o catálogo do selo Rock It! (de Dado Villa-Lobos da Legião Urbana e André X da Plebe Rude) não poderia ser mais coerente. "Na nossa loja a gente vende fitas trazidas pelos grupos e as do Second Come acabavam sempre, só não vendiam mais porque eles eram preguiçosos e levavam poucas fitas", conta André X. Ainda assim, a dupla teve jogo de cintura suficiente para viabilizar a produção de You a custos mínimos (o disco foi gravado em apenas 72 horas no estúdio Mega (24 canais), em regime de co-produção). "A coisa toda funcionou como um mutirão - a bateria de um, o videoclip de outro... A fita master, o Dado conseguiu debaixo dos panos com a EMI-Odeon, como se fosse para o Legião, diz André. Um dos destaques do disco é versão feita para "Justify My Love" da Madonna.

(www.lagrimapsicodelica.blogspot.com)

(www.tramavirtual.com.br)

Formado em 1990 e dissolvido em 1994, o Second Come mostrou em dois discos e algumas fitas demo, como fazer um mix quase perfeito entre distorção e melodia.
Com guitarras que alternavam o peso e a suavidade, vocais melódicos que por vezes pareciam estar flutuando sobre a música e uma base de baixo e bateria forte e marcada, o Second Come foi uma das mais importantes bandas da cena "underground"
carioca, enquanto durou...

( http://www.geocities.com/SoHo/Easel/8723/second.html )

SECOND COME
Vindo de novo
Marcus Marçal

O Second Come, banda indie cultuada dos 90, voltou informalmente à ativa no final de 99. O grupo se reuniu apenas pelo prazer de levar um som, mas as feridas que levaram à dissolução do quarteto não foram cicatrizadas, já que a banda voltou desfalcada de Fábio Leopoldino - ex-frontman do Second. "Isso aqui é realidade virtual", ironiza o guitarrista Fernando Kamache, agora dividindo os vocais com o baixista Francisco Kraus. Aliados ao novo guitarrista Marcelo Pires (ex-Terrible Head Cream) e a Kadu El Diablo - baterista da banda na época do primeiro álbum, You (93), os dois vêm fazendo algumas apresentações pelo circuito alternativo carioca.

Apesar de não confirmar retorno definitivo, o Second Come preparou algum material novo para as apresentações. Mas o pretexto da reunião é a divulgação da compilação das três demos da banda pelo Midsummer Madness e a possibilidade do lançamento de uma coletânea com o melhor dos dois álbuns pela Rock It!. Em razão da imparcialidade jornalística, o AnoZero falou com os músicos remanescentes, Francisco e Fernando, e também com Fábio Leopoldino - tido como o pivô da separação.

A Volta - Os músicos não confirmam nem desmentem a volta do grupo em definitivo. Mas o quarteto vêm ensaiando para shows e nessas sessões algum material novo foi preparado. O responsável pela reunião é Rodrigo Lariú, que vem fazendo a intermediação entre a Rock It! e a banda para o lançamento de uma coletânea com o melhor dos dois discos lançados pela gravadora carioca. Lariú também pretende compilar em CD as três demotapes do Second Come, assumindo uma posição de empresário informal.

Francisco confirma: "Para mim, a banda já havia acabado. Essa volta só rolou porque o Rodrigo organizou um festival pra comemorar o aniversário do Midsummer Madness. Ele me perguntou o que eu achava de um show do Second Come e eu falei que não tocava mais, só se fosse por diversão. Então eu disse que só tocaria se o Fábio não participasse", declarou.

Segundo os remanescentes, agora impera um clima de amizade. Kamache ressalta essa necessidade: "Mesmo com o fim do grupo, eu e o Francisco continuamos amigos. E pra você fazer parte de uma banda, você tem que ser amigo das pessoas", disse. Francisco complementa o raciocínio do amigo: "O Kadu saiu antes do segundo disco porque já não agüentava mais. Tanto é verdade, que ele voltou a tocar com a gente. Eu nunca vou ganhar dinheiro com o tipo de música que eu faço, então tem que rolar um clima legal", conclui.

Fábio Leopoldino chegou a chamar atenção no circuito alternativo com outros projetos, mas não faz objeção quando indagado ao relançamento do material do Second e a um improvável convite para participar de algum show: "Eu só espero que o ECAD pague a minha grana (rindo). Eu não tenho mais ligação nenhuma com o grupo, mas não vejo problema se eles quiserem levar a coisa à frente. Se eles me chamassem, eu até poderia ir. Para mim, funcionaria como um trabalho. Eu não sou de ficar relembrando coisas, prefiro deixar isso para a velhice", alfineta. Foi em razão de divergências entre os integrantes que o Second Come encerrou prematuramente as atividades, em 94. O fim da banda foi pouco abordado pela imprensa e se confunde com antigas diferenças entre os músicos. Leia abaixo um pouco da trajetória do quarteto.

Culto Alternativo - Voltando ao passado: o início do Second Come coincide com o fim de outra banda. Formada em 89, das cinzas do Eterno Grito - grupo que chegou a lançar um LP independente pela Toc Discos, o Second foi rapidamente angariando um público fiel e o respeito da imprensa musical. Fábio lembra: "A mudança de direcionamento foi um salto. O Eterno Grito era infantil musicalmente. Era como se eu fizesse música sem o escutar o que estava fazendo", define. O grupo anterior seguia a cartilha do BRock vigente na época e havia explorado suas possibilidades musicais antes do término oficial e o nascimento de um novo projeto: o Second Come.

Três demos lançadas e várias apresentações concorridas transformaram o grupo numa unamidade underground, o que chamou a atenção de Dado Villa Lobos e André Müeller - que viabilizavam transformar sua loja de discos em gravadora. Quando o projeto dos "brasilienses" ganhou forma, o Second Come marcou a estréia do selo.

O primeiro álbum, You, tinha uma capa horrenda e foi gravado "nas coxas", como informa o próprio site da Rock It!. O Second Come era contemporâneo à explosão da cena grunge - uma conjunção de fatores que foi positiva, em virtude das referências sonoras semelhantes às daquela turma. O lançamento de You coincidiu com a vinda do Nirvana ao Brasil, em janeiro de 93. Na ocasião, os integrantes do trio de Seattle demonstraram apreço pelo som do quarteto, principalmente o baterista Dave Grohl. Tempos depois, ele citaria numa entrevista o nome duas bandas indies cariocas da época como boas lembranças de sua estadia tupiniquim: o Second Come e a co-irmã Dash.

I Feel Like (I Don't Know What I'm Doing) - A boa repercussão do disco catalisou um processo que culminaria no fim do grupo. Além de Grohl, o jornalista britânico Everett True também teceria elogios ao grupo. Segundo os os remanescentes, a bem-aventurança do álbum criou uma situação na qual o ego do vocalista Fábio foi inflado. Fernando comenta a situação: "Eu me lembro da época em que eu cheguei a ensaiar uma vez para um show do Eterno Grito. Na época, o Fábio só tocava guitarra e a postura dele como pessoa era diferente. Acho que essa coisa ganhou uma proporção maior do que devia porque o Second Come começou a fazer um certo burburinho. As pessoas gostaram da banda e o Fábio achou que era por ele ser maravilhoso", alfineta.

Francisco complementa: "O Fábio era outra pessoa, totalmente diferente. Ele até tinha umas babaquices, mas isso era coisa da personalidade dele. Só que a coisa foi aumentando e eu acho que era até por outras questões, problemas pessoais dele. O dia em que o Fábio se resolver, ele vai ficar numa boa", disse.

Fábio discorda da posição dos ex-companheiros e dá sua versão da história: "Eu acho esse papo engraçado porque se fala isso de todo mundo. Mas a questão é que a banda estava aparecendo bem e eu não sabia o que estava fazendo. Era apenas uma experiência e eu acho que as pessoas fazem muito barulho por nada", completa.

E foram as divergências entre os integrantes que tornaram memorável a passagem do Second Come pelo circuito alternativo. You era uma cruza entre a sonoridade cáustica que se convencionou como grunge e o melhor do rock inglês safra-80. Para muitos apreciadores, a essência do grupo está ali.

Superfriends & Enemies - As diferenças pessoais e musicais ocasionariam o fim do Second Come pouco após o lançamento do segundo álbum, Superkids, Superdrugs, Supergod and Strangers, um disco subestimado até pelo público indie. A banda faria menos de dez shows para promovê-lo - na verdade, muito pouco em se tratando de um grupo com aura cult no circuito alternativo.

Apesar dos remanescentes ressaltarem que as relações pessoais já estavam há muito desgastadas, hoje, mais de cinco anos depois, pessoas próximas ao grupo acham bobagem eleger um judas nessa jogada e se mantêm imparciais quanto à questão. Fábio concorda e chama atenção para o aspecto musical: "O primeiro disco tinha mais a ver com a banda toda, mas no segundo eu tentei fugir do grunge e dirigir as coisas um pouco mais. Mas pra agradar o pessoal, eu concordei com a entrada de algumas músicas que não gostava e isso acabou fugindo do conceito que havia delineado para o álbum. Por isso, eu digo que o grupo acabou por questões musicais", enfatiza.

Apesar disso, o baixista Francisco se mantém intransigente quanto à figura do ex-frontman do Second: "A banda não prosseguiu porque as relações pessoais estavam num ponto em que não dava mais pra continuar e o motivo dessa desandada em âmbito pessoal tem nome: Fábio Leopoldino. Eu o conheço desde 85 e não tinha mais culhão para aturá-lo", continua. Fernando chega ao ponto de se culpar por ter colaborado com a situação: "Parte da culpa nessa história é minha. Eu nunca falei pro cara: 'Cai na real'. Eu nunca podei o Fábio porque o achava maduro o suficiente para lidar com isso", resigna-se.

Ainda assim, o ex-vocalista reitera sua posição, não concordando com a alcunha de ególatra: "Se fosse por ego, eu teria saído antes. Tinha a minha turma e eles escutavam outras coisas. O que nos uniu foi o grunge, que acabou sendo o eixo da banda", conclui.

Fever Trip - Ambas as partes são divergentes até no que se refere ao último show da banda: "O nosso último show foi no Columbia, em São Paulo. A gente tocou e na volta ficamos quatro horas e meia sentados no carro, sem que nenhum abrisse a boca pra falar com o outro. Deixamos o Fábio em casa e ninguém mais se falou. Assim acabou a banda", lembra Fernando. Para enfatizar ainda mais os desentendimentos que rondavam o quarteto naquele período, Fábio diz não saber desse fatídico show: "Não lembro de ter tocado no Columbia. A gente tava armando um show lá, mas eu sai antes", disse. Entretanto, um consenso geral entre pessoas próximas data que o fim do grupo se deu quando Fábio declarou em entrevista à MTV que o Second Come havia acabado. Paralelamente, Francisco também já havia decidido deixar a banda. "Foi basicamente tudo ao mesmo tempo", lembrou Fernando.

Projetos - Aos fãs resta esperar os relançamentos ou então curtir os novos trabalhos dos integrantes do Second. Fernando Kamache atualmente toca com o Lunik 9, banda de rock básico cantado em português que possui CD-demo na praça. Com o nascimento de seu filho, o baixista Francisco Kraus deu uma parada com o Terrible Head Cream, mas promete retomar com os trabalhos em breve. Vale ressaltar a participação de Marcelo, o novo integrante do Second Come, neste projeto.

Por sua vez, Fábio Leopoldino concatena suas aspirações musicais em três projetos desde que saiu do Stellar, por razões pessoais. O principal é o Polystyrene, no qual toca todos os instrumentos - exceção feita às programações de bateria a cargo de Johann Heyss. Um CD intitulado Fair City está programado e deve contar com algumas participações especiais. Ele ainda tem fôlego para concentrar esforços no Eldorado - com participação de Dodô (PELVs) - e no Gone, grupo bissexto em que divide os vocais com Simone (ex-Dash e atualmente no Autoramas) e Johann Heyss.

( http://www.geocities.com/CollegePark/Hall/3340/second7.html )

SECOND COME
Por Marcus Marçal
Bílis

Em razão do festival "algumas pessoas tentam te fuder de novo", comemorando o décimo aniversário do selo/fanzine midsummer madness, o Second Come, cultuada banda do cenário alternativo, renasceu apenas para um show. Entretanto, as feridas que levaram a dissolução da banda ainda não foram cicatrizadas, já que a banda se apresentou desfalcada de Fábio Leopoldino ex-cantor e guitarrista do Second. Desavenças a parte, o show foi memorável, em parte pela satisfação nos rostos dos músicos. "Eu só estou nessa por diversão", diria o baixista-vocalista Francisco Kraus logo após a apresentação. Foi com ele e seu amigo Fernando Kamache, guitarrista que levamos um papo. Divirta-se!

1999 - Por que o Fábio não participou desse show na Bunker? Ainda rola alguma animosidade entre vocês?
Francisco - Vou te falar uma coisa: O Fábio não participou desse show porque ele não participa da banda. Só isso. A banda acabou em 94 e eu saí da banda porque eu já não agüentava mais um determinado clima que rolava. A banda pra mim já havia acabado. Esse show só rolou porque o Rodrigo organizou um festival pra comemorar o aniversário do Midsummer Madness. Ele perguntou o que a gente achava e eu falei que não tocava mais porque eu só tocava pra me divertir. Então eu disse a ele que a única coisa que eu achava que deveria rolar era a seguinte: Se vai rolasse um show do Second Come, eu tocaria menos com o Fábio. Isso responde a sua pergunta?

1999 - Então isso foi mesmo uma imposição da parte de vocês?
Francisco - Não, não foi uma imposição. Mas eu acho que ele também não gostaria de fazer. Não era uma coisa unilateral.
Fernando - É mútuo.
Francisco - É entre nós e ele. É uma outra coisa. Ele tem a vida dele, as formas dele, as loucuras dele, os problemas dele.... e nós temos os nossos. Eu acho que é outro caminho.

1999 - Vocês começaram a divulgar o lançamento dessa compilação pelo Midsummer Madness, então quer dizer que não existe a menor possibilidade dele participar de algum show?
Francisco - Comigo, com o Fernando e com o Cadu e eu acho difícil. Mas eu acho que ele pode fazer um Second Come dele. Não tem um Pink Floyd do David Gilmour e outro do Roger Waters? Não tem o Renaissance da Annie Haslam e outro do Michael Dumpform? Então poderiam existir dois Second Come, mas eu acho que ele não precisa disso. O Fábio é um bom compositor, é um cara legal. Além do mais, eu acho que ele tem a banda dele e não quer saber mais nada do Second Come. Então, a gente também não quer saber mais dele.

1999 - Então quer dizer que o Second Come acabou em virtude de problemas entre o Fábio e a banda?
Francisco - Sabe o que aconteceu? Eu particularmente nunca fiz entrevista depois que a banda acabou e isso é um negócio meio chato pra gente ficar falando. A banda acabou porque tinha que acabar. Eu já tocava com o Fábio desde 85-86. Então eu não tinha mais culhão pra aturar o Fábio. É que nem marido e mulher: chega uma hora em que a linha que divide o amor e o ódio é tênue. E não rolava mais nem beijinho na boca (irônico). O ódio era muito maior. A gente não aguentava mais se olhar.
Fernando - Na época, o nosso baterista já não era mais o Cadu. Era o Rayson. E pra você ter uma idéia, a gente não brigou. Isso não existiu. A gente simplesmente voltou de um show e ninguém se ligou mais. Acabou, mas eu continuei amigo do Francisco...
Francisco - Eu liguei pra ele dizendo que havia saído da banda, porque no clima que tava não dava mais. Eu não ganho dinheiro com isso, eu tinha o meu trabalho, as minhas coisas, a vida que eu queria levar e não tava aí pra me aporrinhar com viadagem. Aí eu saí da banda. Foi por aí. O Fábio já tocava na Drivellers e depois ele foi tocar com um outro pessoal no Stellarblast. Eu acho que é por aí, não tem nada a ver. Acabou.
Fernando - Foi basicamente tudo ao mesmo tempo.
Francisco - Quando eu falei que iria sair da banda...
Fernando -...o Fábio já tinha dado uma entrevista, não sei pra quem, dizendo que também não queria mais tocar. Da minha parte, já fazia um mês que eu não ligava mais pra ninguém. Pra você ter uma idéia do que rolou: a gente fez um show, na volta ficamos 4 horas e meia sentados no carro e nenhum abria a boca pra falar com o outro.
Francisco - Viu só que coisa linda (irônico)?
Fernando - Eu me lembro disso como se fosse ontem. A gente tava no meu carro, eu deixei o cara lá em Niterói, depois deixei todo mundo em casa. Falei: "Beleza, tchau!"
Francisco - Pois é. Nós fomos até lá e deixamos o cara na casa dele, em Niterói. E por causa disso, o pessoal fala que a banda é niteroiense. Só porque ele é de lá.
Fernando - Começa por aí, nós não somos de Niterói (rindo).
Francisco - Depois de deixarmos o cara em casa, a gente veio conversando e tudo. Só que eu não tinha mais saco, a realidade é essa.

1999 - Então o tal "último show" que vocês fizeram no Circo já era uma despedida?
Francisco - O último show não foi no Circo e sim, em São Paulo.
Fernando - Foi no Columbia. O show do Circo foi só o último no Rio. Na minha concepção, pra você ter uma banda é primordial que você seja amigo das pessoas.
Francisco - Tem o seguinte: eu não ganho dinheiro com isso. Quem acha isso, tá maluco. Ganha dinheiro quem conta piada. Tem até um pessoal aí que se você for procurar, você vai achar. O pessoal que conta uma piada, conta duas, três..... e aí lança 3, 4 discos contando a mesma piada. Ela até perde a graça, mas isso dá dinheiro. E a gente não está afim de fazer esse tipo de coisa, nem nunca estivemos. Eu gosto de fazer a coisa pra me divertir, eu ganho dinheiro com outra coisa. E se eu estiver afim de ganhar dinheiro com música, então vai ter que ser de outra forma. Então quer dizer que eu nunca vou ganhar dinheiro com música porque eu nunca vou fazer outro som a não o que eu faço. Por isso é que tem que rolar um clima legal para se ter uma banda. A gente entrou no estúdio pra ensaiar a convite do Rodrigo e a gente só se divertiu, cara. Foi muito engraçado. A gente errava, acertava.... mas tava bom. Não tinha ego pra gente pisa! r: "Olha, não se mexe muito no palco senão você pode pisar no meu ego (irônico)!" Não tinha esse tipo de coisa. Nesse show, acabou a luz no meio do show e ninguém ficou de mau humor. É uma brincadeira. São pessoas apenas tentando se divertir uma coisa que não rolava antes.

1999 - Quais são as maiores vantagens e desvantagens de fazer parte de uma banda cult alternativa?
Francisco - A vantagem é você poder fazer as coisas na hora em que você quer e do jeito que você quer. A desvantagem é que você não tem grana. Só isso.
Fernando - Não precisa ser cult ou não ser cult. É só você não querer fazer a coisa apenas pra ganhar dinheiro, que você entra na mesma categoria que a gente.
Francisco - Eu não vou ficar contando piada ou ficar falando coisas como "pau no c* de não sei o que" ou "vou comer o c* dela" ou "pega na manivela", esse tipo de coisa, e com isso chegar ao Rock In Rio porque isso não me interessa.
Fernando - A gente nunca tentou ser cult, mas a gente acabou virando isso.
Francisco - Se a banda chegou a algum lugar, ela chegou por chegar. Poderia até ser que algumas pessoas estudassem uma estratégia de marketing porque a banda tivesse alguma coisa cult ou algo assim, mas eu te falo com franqueza que isso não rolou comigo ou com o Fernando. E com o Cadu, menos ainda. O mesmo eu posso falar do Marcelo, que agora tá tocando com a gente. Eu sei disso porque eu tocava com ele numa outra banda (Terrible Head Cream) que era hiper-legal porque a gente tocava só pra se divertir. A gente só parou porque nasceu o meu filho e eu não tinha mais tempo.

1999 - Eu tenho aqui uma pergunta que vocês podem ignorá-la, caso não queiram responder. Vocês curtem o trabalho do Fábio posterior ao Second Come?
Francisco - Cara, eu vejo relevância em qualquer coisa. Vejo isso até no "É o Tchan", até no trabalho solo do Leonardo (irônico). Agora se é bom ou ruim, isso é vago. Cada um tem o direito de fazer o que quiser. E com relação ao trabalho dele, eu posso te dizer que não é uma coisa que vá comprar um CD ou vá ouvir.
Fernando - Eu jamais vou escutar uma banda que não tem baixo. E olha que eu sou um guitarrista.
Francisco - Eu até ouço, o Doors era legal.
Fernando - Entendo, mas pelo menos tinha alguém desempenhando o papel do baixo.

1999 - Vocês fariam um número razoável de shows, em função do possível lançamento da compilação dos dois CDs e também das fitas ou a coisa rolou só para esse show?
Francisco - Cara, a banda não existe mais.
Fernando - Isso aqui é realidade virtual.
Francisco - Como eu te disse, isso aqui foi uma festa que o Rodrigo fez e chamou a gente pra tocar. Ele está fazendo uma fita e está lançando as coisas porque ele acha legal. E a gente achou uns materiais, demos para ele e tudo mais... Não vou dizer que não seria legal se rolasse outro show. Como eu te falei, foi muito legal o clima nessas duas semanas de preparação para esse show. Eu não me sentia bem há três anos dentro do Second Come. Mesmo com dois discos lançados e o caralho, eu nunca me senti tão bem quanto nessas três ou quatro semanas em que a gente ensaiou para esse show. Isso sem levar em conta o show. Quer dizer que, se pintar alguma coisa, pode ser que a gente venha a fazer. Mas eu acho que a cena, o momento atual não está pro nosso tipo de som. Volto a falar: a gente pode fazer um show, mas não há pretensão nenhuma em retorno de banda ou fazer show pra divulgar isso ou aquilo. Se rolar, será só pela diversão. Divulgar o que? Para quem? Então a gente só faz porque a gente gosta e se as pessoas também gostam, ótimo elas vão vir e se divertir. Nós vamos rever pessoas, vai ser engraçado, aquela coisa. Fora isso, nada além.

1999 - Vou perguntar isso pelo fato de vocês terem sido uma banda da Rock It!. Algumas pessoas pejorativamente consideram a Rock It! como apenas um hobby do Dado Villa-Lobos, vocês acham que isso procede?
Francisco - Cara, se isso for um hobby, é do tipo que eu gostaria de ter.
Fernando - Eu nunca tive reclamações maiores quanto ao Dado. Ele é um cara que sempre me tratou 100% bem. Pra te falar a verdade, são 110%. Ele é um cara totalmente tranqüilo.
Francisco - Ele é legal pra cacete.
Fernando - Pois é. De todos os caras que eu conheci do chamado "mainstream", ele é o cara mais humilde, mais gente boa. Eu nunca tive problema nenhum com ele.

© 1999

Um comentário:

  1. Excelente estas resenhas e entrevistas!

    Eu e meu namorado Celso Madruga (o Celso Silva Ferreira da banda Alma da Noite, ex-Motel Barato) simplesmente A-MA-MOS o Second Come.

    Essa banda devia ter ganhado o mundo!!!!!

    Parabéns ao escriba pelo EXCELENTE trabalho!
    Abraços Fraternos
    Celso Madruga e Danilo Belfort

    ResponderExcluir