O sotaque, aliás, foi uma das principais pautas da entrevista coletiva que se seguiu, o que nos leva a questionar o porque deste estranhamento com o jeito sergipano de falar aqui mesmo, em Sergipe! A única explicação plausível remete à baixa auto-estima de nosso povo, que faz com que boa parte de nossos artistas, radialistas e comunicadores em geral tentem esconder suas origens com maneirismos “sulistas” no falar e no cantar. Algo que, para a alegria de todos e felicidade geral da nação serigy, creio que está mudando – um dos participantes via net, falando de São Paulo, fez uma observação perfeita: o sergipano parece ficar deslumbrado consigo mesmo ao se ver frente a frente com obras de qualidade feitas por gente que não esconde suas origens.
O bate-papo seguiu fluindo com desenvoltura, entre uma e outra apresentação ao vivo de musicas do disco - que eu não ouvi ainda por inteiro, mas cuja arte de capa e encarte está deslumbrante. Dentre outros assuntos, foi discutida a viabilidade mercadológica deste tipo de lançamento, numa midia dada como morta por alguns desavisados, nos dias de hoje - algo destinado, obviamente, a colecionadores - ; a hesitação de Henrique diante do tamanho da empreitada (“Rafael, vamos desistir, é muito caro!” “Teles, já era, vamos nessa”); a concepção musical do álbum, gravado ao vivo e sem overdubs; a evolução do som da banda depois de sua junção com o Ferraro Trio, hoje mais próxima ao rock justamente pelo teor “enxuto” dos arranjos e, principalmente, o fato de que a produção acabou destacando o talento de Henrique Teles como letrista e vocalista, mesmo numa sonoridade mais “roqueira”, que costuma colocar a voz na mesma amplitude dos demais instrumentos.
A Maria Scombona existe desde 1992. Eu me lembro de Silvio, da Karne Krua (que, por sinal, foi homenageado na noite do lançamento), me falando, numa época ainda pré-mangue beat, de um artista novo que estava aparecendo com a proposta de juntar o rock à musica regional, tendo como referência o que Alceu Valença (ídolo confesso de Henrique Teles), Zé Ramalho, Lula Côrtes e outros faziam nos anos 70. Mas a banda, segundo eles mesmos, só “aconteceu” de fato dez anos depois, com o lançamento de seu primeiro disco, “grão”, em 2002. De lá pra cá só tem crescido, sendo presença constante nos principais eventos culturais do estado e se apresentando em palcos importantes da cena musical brasileira, como o Festival de Verão de Salvador, o Festival de Inverno de Garanhuns e o Projeto Prata da Casa do Sesc Pompéia, em São Paulo.
No segundo álbum, ‘Mais de Um... Nós’, de 2007, já fica evidente a preocupação estética da banda, que apresenta uma arte primorosa de capa e encarte para emoldurar seu trabalho. Por esta época eles se lançaram em projetos de grande reconhecimento e alcance social e cultural, como o “Mundo rock interior”, através do qual percorreram 10 cidades sergipanas dividindo o palco com artistas locais e revertendo a renda dos shows para instituições filantrópicas, e o “Circuito Escolar Maria Scombona”, na capital, onde fizeram diversos “workshops” e oficinas de musica para estudantes de escolas públicas. Isso pra não falar das antológicas apresentações da série “Maria Scombona convida”, no Capitão Cook.
“ unnu ”, o disco, já está à venda e pode ser adquirido com a própria banda aqui ou em um dos vários pontos de venda da cidade, dentre eles a Freedom, única loja especializada no gênero (rock!) em Aracaju.
A Freedom fica na Rua Santa Luzia, 151, no centro, próximo à Catedral.
Eu recomendo. Maria Scombona é “gente que faz”.
Adelvan
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