quinta-feira, 8 de março de 2012

unnu

Maria Scombona lançou “oficialmente” na última terça-feira, dia 06 de março de 2012, seu terceiro disco, "unnu" - em vinil, CD, CDr, mp3 para download e, breve, fita cassete! Foi num evento informal e descontraído promovido no auditório do SESC Centro para convidados, notadamente pessoas da imprensa, músicos e chegados da banda. Com direito a pocket show e participações ao Vivo, via internet, de pessoas que fizeram parte da produção do álbum, dentre elas o representante da fábrica que prensou o vinil, Clênio Lemos, falando da Republica checa. Entre um e outro gole de vinho ele narrou sua saga em busca de parceiros para a empreitada de fazer ressurgir a cultura do vinil no Brasil, algo que, na Europa, nunca desapareceu. Provocado, deu também sua opinião sobre a banda, que ele não conhecia e o surpreendeu – fez, inclusive, um interessante paralelo com o trabalho do pernambucano Lenine, algo no qual eu nunca tinha pensado (é sempre interessante uma opinião de quem vê “de fora”), pela pegada “bluesy” condimentada com regionalismo mas, principalmente, pelo sotaque.

O sotaque, aliás, foi uma das principais pautas da entrevista coletiva que se seguiu, o que nos leva a questionar o porque deste estranhamento com o jeito sergipano de falar aqui mesmo, em Sergipe! A única explicação plausível remete à baixa auto-estima de nosso povo, que faz com que boa parte de nossos artistas, radialistas e comunicadores em geral tentem esconder suas origens com maneirismos “sulistas” no falar e no cantar. Algo que, para a alegria de todos e felicidade geral da nação serigy, creio que está mudando – um dos participantes via net, falando de São Paulo, fez uma observação perfeita: o sergipano parece ficar deslumbrado consigo mesmo ao se ver frente a frente com obras de qualidade feitas por gente que não esconde suas origens.

O bate-papo seguiu fluindo com desenvoltura, entre uma e outra apresentação ao vivo de musicas do disco - que eu não ouvi ainda por inteiro, mas cuja arte de capa e encarte está deslumbrante. Dentre outros assuntos, foi discutida a viabilidade mercadológica deste tipo de lançamento, numa midia dada como morta por alguns desavisados, nos dias de hoje - algo destinado, obviamente, a colecionadores - ; a hesitação de Henrique diante do tamanho da empreitada (“Rafael, vamos desistir, é muito caro!” “Teles, já era, vamos nessa”); a concepção musical do álbum, gravado ao vivo e sem overdubs; a evolução do som da banda depois de sua junção com o Ferraro Trio, hoje mais próxima ao rock justamente pelo teor “enxuto” dos arranjos e, principalmente, o fato de que a produção acabou destacando o talento de Henrique Teles como letrista e vocalista, mesmo numa sonoridade mais “roqueira”, que costuma colocar a voz na mesma amplitude dos demais instrumentos.

A Maria Scombona existe desde 1992. Eu me lembro de Silvio, da Karne Krua (que, por sinal, foi homenageado na noite do lançamento), me falando, numa época ainda pré-mangue beat, de um artista novo que estava aparecendo com a proposta de juntar o rock à musica regional, tendo como referência o que Alceu Valença (ídolo confesso de Henrique Teles), Zé Ramalho, Lula Côrtes e outros faziam nos anos 70. Mas a banda, segundo eles mesmos, só “aconteceu” de fato dez anos depois, com o lançamento de seu primeiro disco, “grão”, em 2002. De lá pra cá só tem crescido, sendo presença constante nos principais eventos culturais do estado e se apresentando em palcos importantes da cena musical brasileira, como o Festival de Verão de Salvador, o Festival de Inverno de Garanhuns e o Projeto Prata da Casa do Sesc Pompéia, em São Paulo.

No segundo álbum, ‘Mais de Um... Nós’, de 2007, já fica evidente a preocupação estética da banda, que apresenta uma arte primorosa de capa e encarte para emoldurar seu trabalho. Por esta época eles se lançaram em projetos de grande reconhecimento e alcance social e cultural, como o “Mundo rock interior”, através do qual percorreram 10 cidades sergipanas dividindo o palco com artistas locais e revertendo a renda dos shows para instituições filantrópicas, e o “Circuito Escolar Maria Scombona”, na capital, onde fizeram diversos “workshops” e oficinas de musica para estudantes de escolas públicas. Isso pra não falar das antológicas apresentações da série “Maria Scombona convida”, no Capitão Cook.

“ unnu ”, o disco, já está à venda e pode ser adquirido com a própria banda aqui ou em um dos vários pontos de venda da cidade, dentre eles a Freedom, única loja especializada no gênero (rock!) em Aracaju.

A Freedom fica na Rua Santa Luzia, 151, no centro, próximo à Catedral.

Eu recomendo. Maria Scombona é “gente que faz”.

Adelvan

Nenhum comentário:

Postar um comentário