O primeiro show de Paul McCartney na capital pernambucana acontecerá no Estádio José do Rego Maciel (Estádio do Arruda). As informações sobre ingressos serão divulgadas em uma entrevista coletiva de imprensa na próxima sexta, 23. Desta vez, o ex-beatle vem ao Brasil com a turnê On the Run, que deve ter faixas do último disco solo do músico, Kisses on the Bottom. Ele também fará um show em Florianópolis, em 25 de abril.
É o terceiro ano consecutivo de McCartney no país. Ele veio em 2010 e 2011 com a turnê Up and Coming, com shows em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Ontem & Hoje: Durante o tempo em que você levou para ler isto, Paul McCartney acabou de compor uma nova música. O que motiva um beatle à beira dos 70 anos?
No caminho para o trabalho nesta manhã, Paul McCartney teve de esperar algumas pessoas em um cruzamento de faixas para pedestres. Estavam em grupos, de câmeras na mão, bloqueando uma rua ladeada por árvores em Londres. Enquanto McCartney esperava pacientemente em seu carro, nenhum deles olhou na direção dele – os turistas estavam ocupados demais tirando fotos de si mesmos atravessando a famosa Abbey Road. “Já aconteceu comigo algumas vezes”, conta McCartney mais tarde, rindo. “É um momento do qual gosto muito. Há uma metáfora boa e forte ali. Só que há muitas metáforas na minha vida – não as procuro. A vida de um beatle é cheia de metáforas.” Resistindo à tentação de sair do carro e posar com os fãs, ele vai direto para um lugar sagrado, embora com um cheiro distinto de mofo: o Estúdio 2 da Abbey Road.
“Bem-vindo ao meu mundo”, diz McCartney, atravessando as portas duplas nos fundos de uma sala que se parece com um ginásio, com teto alto e retangular. Ele está mastigando um chiclete. “Antigo e moderno. Toda vez que venho aqui, relembro toda a história. É aqui onde tudo aconteceu.”
Os Beatles gravaram a maioria de suas músicas, de “Love Me Do” a “The End”, neste espaço no porão de paredes brancas e nada glamoroso – e foram aprovados em seu teste inicial para a EMI aqui, há quase 50 anos. Apesar de alguns relativamente novos isoladores acústicos e um relógio diferente, pouca coisa mudou. Em um canto, McCartney gritava “Um, dois, três, quatro!” para começar “I Saw Her Standing There”; em outro, martelou um acorde em mi maior em um dos muitos pianos ouvidos no final de “A Day in the Life”. Agora, sem nenhum motivo em particular, ele está tocando bateria. Poucos momentos depois de sua chegada, McCartney corre até o instrumento, pega um par de baquetas e toca algumas batidas rápidas, com bastante chimbau. Soa notavelmente parecida com os Beatles – ou pelo menos com o Wings. Ele aponta para a escada no canto, que leva à sala de controle com janela onde George Martin e os engenheiros trabalhavam. “Era onde os adultos viviam”, diz. “Aquela escada era muito icônica, ficou gravada na memória como um sonho.”
É um dia no final de janeiro e venta muito, mas, mantendo sua eterna juventude aos 69 anos, Paul não está usando uma jaqueta – só um colete preto North Face sobre uma camisa jeans bem passada e enfiada para dentro do jeans escuro. Nos pés, tênis pretos com uma faixa branca: se uma cena de multidão de Os Reis do Iê-Iê-Iê irromper, ele estará pronto para correr. Seu sempre fabuloso cabelo está mais desgrenhado do que de costume e ele parece um pouco pálido hoje – está trabalhando demais. “Isto me traz tantas lembranças que você não imagina”, conta McCartney. “É inacreditável.” Ele aponta para um canto no fundo. “John em pé ali cantando ‘Girl’. ” Ele canta o gancho, imitando a inspiração de Lennon e uma tragada forte em um baseado. “As pessoas acharam que era aquilo – não era! Só gostávamos do sibilar do som. Todas as histórias lendárias que foram criadas não são verdadeiras. Vi um programa sobre os Beatles outro dia, e nos primeiros cinco minutos houve quatro erros. É por isso que não sabemos quem foi Shakespeare, ou o que realmente aconteceu na Batalha de Hastings.”
Como o incidente do cruzamento da Abbey Road sugere, uma sombra mítica de quatro cabeças às vezes ameaça obscurecer Paul McCartney, um ser vivo real – recém-casado, quase bilionário, vegetariano convicto, pai de uma menina de 8 anos (e de quatro adultos), artista que não envelhece e faz shows de três horas, compositor e músico de gravações freneticamente ativo, compositor de balés e sinfonias, cavaleiro do reino. Com seu novo álbum, Kisses on the Bottom, McCartney adiciona “intérprete de standards” à lista – o trabalho é uma coletânea jazzística de músicas pré-rock, com dois novos originais de McCartney. Ele adiou este disco durante anos, em parte porque outras pessoas – de Ringo Starr, em 1970, a Harry Nilsson, em 1973, e Rod Stewart no que parece ser os últimos mil anos – sempre faziam algo semelhante. Também ficou hesitante em reforçar sua imagem dominante de mero baladeiro sentimental, o suposto oposto ao roqueiro cru de John Lennon. “Superei isso”, afirma McCartney. “Se as pessoas ainda não conhecem meu outro lado, é tarde demais.” Mesmo assim, Kisses é algo único. Uma semana antes do lançamento, McCartney já está trabalhando em um novo disco de rock. Até agora, tocou todos os instrumentos sozinho. Baixo, guitarras, teclados e a bateria montada no Estúdio 2 são seus. “O plano era fazer o que estou fazendo agora, que é começar quase imediatamente outro álbum de estúdio para que as pessoas não pensem que acabou, que agora estou no jazz.”
Você continua lendo esta matéria na edição 66 da revista Rolling Stone Brasil, já nas bancas.
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