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Sim, eu sei, eu sou eclético. Mas acabei desistindo do Kraftwerk por medo de que fosse um show muito curto, já que eles viriam como banda de abertura do Radiohead. E também porque Florian Schneider, até então um dos dois últimos remanescentes da formação original, tinha acabado de
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Ao contrário da Via Funchal, onde o Slayer tocou e eu, para chegar lá, peguei um ônibus que parecia que não ia chegar nunca (por causa disso perdi a apresentação na porta do Test), o Espaço das Américas fica num local de fácil acesso, ao lado da Estação Barra Funda do Metrô. Tão fácil que me dei ao luxo de ir lá um dia antes pegar meus ingressos, comprados via net. Estava em reforma, o local - terminavam de montar a marquise da fachada. Mal sabia eu que nessa reforma, ao que parece, esqueceram de instalar um sistema de ar-condicionado que desse conta da multidão que compareceria no dia seguinte ...
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Tinha esperança de que 20:00, a hora marcada para o início do show, seria a hora da atração principal (foi assim com o Iron Maiden), mas ledo engano: às 8 da noite quem surgiu por trás das cortinas foi a tal da Kristeen Young. Bem vestida (gostei do figurino), bonitinha, mas ordinária! O grande mistério da noite era o porque de Morrissey ter escalado para a abertura de sua "south american tour" aquele refugo de Bjork misturado ao que de pior existe em Nina Hagen, Kate Bush e Cindy Lauper! Se existe algo de aproveitável no repertório da moçoila, pra mim, passou batido. Péssimas composições interpretadas numa perfomance esquizofrenica que não empolgou ninguém. E olha que o público até que foi educado, aplaudindo ao final de cada "música". Ok, não era nenhuma ovação, claro, mas eram aplausos, ora! E ela, também educadamente, agradecia, para logo em seguida voltar a martelar um teclado ou se dirigir sozinha ao centro do palco, na frente de uma imensa tela que projetava seu nome, e soltar mais alguns trinados irritantes ao som de batidas pré-programadas. Corajosa - e cara de pau ...
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Ele olha para as palmas de suas mãos, solta um "olá, Sampa" e a banda começa a executar os primeiros acordes de "First of the gang to die", logo emendada com a ótima "you have killed me", do excelente e subestimado penúltimo disco, "ringleader of the tormentors". Melhor impossivel. A emoção toma conta de todos e eu sinto a presença, mesmo que apenas em meus pensamentos, de um grande e velho amigo que me apresentou aos Smiths ainda nos anos 80. Eu era um típico moleque adolescente deslumbrado com a descoberta do rock "pauleira", do Heavy Metal, e não entendi muito bem a proposta daquela banda que para mim soava, paradoxalmente, muito bem, mas de forma esquisita. Sentia que ali havia algo especial, afinal eram muitos os que, assim como aquele meu amigo, alegavam ter sua vida sido salva por aquelas canções. "The band that saved your life", literalmente falando. Não era pra mim naquele momento, mas assim que minha mente foi se abrindo para novas possibilidades, novos sons, batidas e pulsações, os Smiths passaram a ser uma de minhas bandas favoritas, e segue sendo até hoje. Nunca me canso de ouvir - eles e o Black Sabbath. Eu sei, eu sou eclético ...
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O show segue em frente com "Speedway", do seminal "Vauxhall and I ", e "you´re the one for me, Fatty", a única de "your arsenal", meu disco favorito, que muitos consideram fraquinha, mas eu gosto muito. A esta altura parece que o fervor emanado do publico contagiou o bardo e ele parece genuinamente feliz por estar ali, coisa que ele tenta a todo custo demonstrar, mas de forma um tanto quanto desajeitada - não esqueçamos que ele é herdeiro de uma "shyness that is criminally vulgar". Num dado momento ele declara estar tão feliz que nem sabia o que fazer. Cantar, ora! E ganhar presentes - a moça das flores não conseguiu dar o seu, mas o rapaz do vinil dos NY Dolls (a princípio confundido com Ramones) sim. E passar seus recados - porque não? Acho justo. Lembrou da passagem do Príncipe Harry pelo Brasil e nos exortou a não entregar nosso suado dinheiro a eles, a monarquia britânica, comparando-a a ditaduras - "no more dictatorships". Emendou com "Meat is murder", certamente o momento mais dramático e, para muitos, anticlimático, da noite. Não concordo. A letra, a melodia e as imagens explícitas mostradas no telão convidam à reflexão, e talvez seja isto que incomode tanto a tantos que se manifestaram contrários a um suposto panfletarismo "de mal gosto" em resenhas e comentários pela net. Não sou vegetariano, mas se um dia me tornar um, esta música será, certamente, uma das principais responsáveis.
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Também lentíssima é "I know it´s over", do clássico "The queen is dead", dos Smiths. Particularmente preferia outra de andamento parecido e letra igualmente desesperada, "I Know It's Gonna Happen Someday", mas ok, não estou reclamando - seria ridículo. "Oh Mother, I can feel The soil falling over my head", cantamos todos a plenos pulmões. Mas nada se comparou ao grande momento da noite, quando ele disse que "agora que já nos conhecemos melhor, podemos chegar até aqui": "There´s a light that never goes out", provavelmente a letra de musica mais romântica já escrita. Nem sei muito bem como descrever o que aconteceu naquela hora, pois tudo o que eu disser vai soar clichê. Só quem tava lá mesmo pra saber. Arrepiante.
O show vai chegando ao final e novos grandes sons se sucedem, dentre eles "I’m Throwing My Arms Around Paris", single de "years of refusal", o último disco, que é bom, mas inferior aos dois anteriores. Nova catarse com "How soon is now", talvez minha música favorita dos smiths, e é isso. Ele volta para o bis com a bandeira do Brasil enrolada na cintura, formando uma espécie de saia, e canta apenas mais uma, a apropriada "One Day Goodbye Will Be Farewell". Sacode a bandeira, se enrola nela, coloca-a na cara e diz que nos ama. Parece sincero - até por que Morrissey não costuma ter muito pudor em demonstrar insatisfação, que o digam os argentinos, que, segundo relatos, o pegaram macambuzio e de mal humor.
Missão cumprida, saldo pra lá de positivo. Pra não dizer que tudo isso é coisa de fã deslumbrado e cego (embora seja isso mesmo), posso afirmar que o único momento que eu achei realmente exagerado, tolo e gratuito, no show, foi aquele em que ele abre a camisa feito um Clark Kent revelando-se o superman, enxuga com ela seu suor e a joga para a platéia. Mas note bem: o exagero, pra mim, foi apenas o jogo de cena de enxugar o suor. O resto tá perdoado.
Porque ele é Morrissey. Ele pode.
As fotos, de Stephan Solon, foram tiradas do site omelete.
texto por Adelvan Kenobi
Veja tudo aqui.
O Set list:
1- First Of The Gang To Die
2- You Have Killed Me
3- Black Cloud
4- When Last I Spoke To Carol
5- Alma Matters
6- Still Ill
7- Everyday Is Like Sunday
8- Speedway
9- You’re The One For Me, Fatty
10- I Will See You In Far Off Places
11- Meat Is Murder
12- Ouija Board, Ouija Board
13- I Know It’s Over
14- Let Me Kiss You
15- There Is A Light That Never Goes Out
16- I’m Throwing My Arms Around Paris
17- Please, Please, Please Let Me Get What I Want
18- How Soon Is Now?
Bis
19- One Day Goodbye Will Be Farewell
Concordo com tudo, menos que "speedway" é fraca. Musicão da porra, letra foda, uma das minhas favoritas! Mas, por outro lado, é muito louco ver como as pessoas reagem de maneiras distintas às canções, como uma musica super especial para uma pessoa pode ser quase invisivel para outra. Enfim, isso é assunto para uma próxima pizza (se for aqui) ou um pastel de caranguejo no Amanda, se for aí!
ResponderExcluirabs, camarada!
Me confundi, "speedway" é realmente ótima. Valeu o toque, Viegas, corrigi lá no texto.
ResponderExcluirO nome do "rocker" que você não identificou é Vince Taylor, foi este aqui o video que rolou no telão: http://www.youtube.com/watch?v=GneoizCBddY
ResponderExcluirVince Taylor é o "rocker' não identificado
ResponderExcluircom uma bonita jaqueta de couro"
e a "mulher gritando desesperadamente"
é a drag queen americana Lypsinka.
opa caras, valeu pelas informações.
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